Você está na página 1de 2

Deixai as crianças virem - Já sei, vai dizer que o carro é meu...

- Acho que você deveria ter sido mais cuidadosa,


Era uma vez uma linda moça. Ela estava só isso.
sozinha e fazia uma longa viagem em sua - O que nós vamos fazer agora?
picape. Ia tranqüila pela estrada quando avistou - Nós? Eu não tenho nada com isso...
ao longe um rapaz no acostamento. Ele estava
pedindo carona justamente na direção em que E eles ficaram neste dilema: continuavam ou não
ela ia. Diminuiu a velocidade a ponto de com a criança? Não era uma escolha simples. Se
perceber que ele era bastante atraente. Ele continuassem com a criança, teriam de cuidar
sorriu ao perceber que ela estava parando: dela e isso não estava nos planos de viajem deles.
Ela nem sequer cabia no carro, que possuía
- Me dá uma carona? somente dois lugares. Além disso, a criança surgiu
- Você também vai para lá? sem avisar, sem pedir licença. Como é que agora
- Sim! os dois teriam de sacrificar todo o resto por
- Pode entrar! alguém que nem sequer viram o rosto?

E eles prosseguiram a viagem juntos. Por outro lado, se a tirassem do carro sobre
Começaram a conversar sobre muitas coisas. aquela ponte, fatalmente a criança morreria.
Estavam realmente desfrutando bastante da Seja por cair de lá de cima, seja por ser
presença um do outro. Percebiam que se atropelada por outro veículo; não haveria como
entendiam muito bem. Os dois eram só sorrisos. a criança sobreviver depois de ser abandonada
sobre a ponte. Deixá-la no meio da ponte
A estrada estava tranqüila e a viagem deles significava matar a criança.
seguia sem problemas, quando começaram a
atravessar uma ponte. Não era uma ponte Outra solução seria atravessar toda a ponte,
qualquer pois era muitíssimo longa e alta. Não parar o carro e tentar encontrar outro casal que
era possível ver o fundo do vale de dentro do quisesse cuidar dela. Eles sabiam que existiam
carro e mal se vislumbrava a outra margem, de muitos casais que sonhavam em ter uma criança
tão distante lá na frente. como aquela e não conseguiam. Assim, eles
seguiriam a sua viagem a dois sem precisarem
Foi quando ela a viu. matar ninguém. Porém, isto tem um custo para
eles que teriam de levar a criança até o fim
Num relance, a criança cruzou pelo seu espelho daquela ponte.
retrovisor andando pela caçamba da picape. A
moça quis olhar para trás, mas estava dirigindo. Com esta estória tento ilustrar de maneira muito
Voltou-se para o rapaz e disse: simplificada o que hoje acontece no Brasil com
tantas crianças. As crianças sempre são
- Tem uma criança conosco! concebidas de um relacionamento entre um
- Como assim? homem e uma mulher. Todavia, nem sempre
- Estou dizendo, tem uma criança ali atrás! este casal acolhe a criança como deveria: seja
- Mas não estou vendo nada! por dificuldades de relacionamento; inexistência
- Ela deve ter se abaixado! mesma de qualquer relacionamento; limitações
- Tem certeza? econômicas; falta de maturidade; falta de um
- Como foi que ela subiu? lar ou mesmo pela falta absoluta de abertura a
- Isto eu que te pergunto, o carro é seu! uma nova vida pela qual são os responsáveis.
- Não sei! São muitas histórias, mas não sabemos quantas
- Como não sabe? terminam com a criança sendo jogada de cima
- Eu não sei como nem quando ela subiu aí! da ponte, ou seja, abortada voluntariamente.
- Você já não estava com ela antes de eu entrar?
- Não! Isto é crime no Brasil. Porém, ainda não foi
- Tem certeza? classificado como crime hediondo. Falta muito o
- Talvez tenha sido justo quando parei e você que ser feito no âmbito legal mas já se pode ver
entrou... uma luz no final da ponte: O Estatuto do
- Talvez, mas isso não prova nada. Nascituro (a criança que ainda vai nascer)
- O que você quer que eu faça? Projeto de Lei 478/2007 está em tramitação na
- Eu é que vou saber? Câmara dos Deputados. Seu texto na íntegra
pode ser encontrado no site
http://www.camara.gov.br/sileg/integras/747985. interrogar-nos, com grande lucidez e coragem,
pdf. É importante que as questões legais, acerca da cultura da vida que reina hoje entre
jurídicas e constitucionais sejam tratadas pelos os indivíduos cristãos, as famílias, os grupos e as
especialistas. Mas gostaríamos que se ocupassem comunidades das nossas Dioceses. Com igual
em reconhecer o óbvio o mais rápido possível: clareza e decisão, teremos de individuar os
que protejam o nascituro como o ser humano passos que somos chamados a dar para servir a
mais indefeso; que reconheçam que seu corpo é vida na plenitude da sua verdade.” (Evangelium
um outro corpo diferente de sua mãe e que Vitae N.º 95)
possuem direitos individuais inalienáveis.
Não foi em vão que Jesus pediu:
Relevantes também são as discussões teológicas “Deixai as crianças virem a mim. Não as
que tentam interpretar o pensamento de Deus e impeçais, porque a pessoas assim é que pertence
dar a conhecer o seu desígnio sobre a criação e o o Reino de Deus.” (Marcos 10, 14)
valor intrínseco da vida humana.
Jesus tem uma grande predileção pelas crianças.
Infrutífera é certa discussão pseudo-científica que Em sua vida terrena, Ele que era só amor, foi
quer dizer quando ou onde uma criança passa a muito duro com aqueles pelos quais as crianças
ser o que ela é desde a fecundação do óvulo pelo fossem escandalizadas e levadas ao erro,
espermatozóide: uma criança. Pseudo-ciência amaldiçoando-os sem dó:
que quer se arvorar em proprietária da vida
destruindo, descartando ou congelando seres “Mas todo o que fizer cair no pecado a um
humanos indefesos. Que a verdadeira Ciência destes pequeninos que crêem em mim, melhor
explique que o embrião, o feto e o recém- lhe fora que uma pedra de moinho lhe fosse
nascido são a mesma pessoa em épocas posta ao pescoço e o lançassem ao mar!”
diferentes de seu desenvolvimento. E que por (Marcos 9,42)
isso, não pode ser covardemente sacrificado seja
por quais motivos forem. O que diria o Mestre sobre os que por puro
egoísmo privam os seus pequeninos da própria
Está provado pela infeliz experiência dos países vida? Que diria Cristo sobre os que permitem,
que legalizaram o aborto que isto representa um aprovam, consentem, incentivam e praticam o
retrocesso profundo na consciência coletiva do assassinato covarde das criancinhas?
bem e do mal. Uma sociedade que se fecha aos
pequeninos não se renova. Uma sociedade que Constatando o horror de tantas mortes de
mata os inocentes mais indefesos, está inocentes e tanto desrespeito à vida em nosso
moralmente podre por dentro. Um país que joga país, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
seus bebês no lixo jamais será feliz. do Brasil) nos convida a comemorar Semana
Nacional da Vida no início de outubro e no dia 8
Nas palavras de João Paulo II: o Dia do Nascituro.
“Quando se procuram as raízes mais profundas
da luta entre a « cultura da vida » e a « cultura A Igreja no Brasil, nossa mãe e mestra, quer nos
da morte », não podemos deter-nos na noção fazer entender que ninguém pode dispor da vida
perversa de liberdade (...) o eclipse do sentido de de seu próximo. Que nesta semana pela vida
Deus e do homem, típico de um contexto social e reafirmemos o seu imenso valor e que Deus não
cultural dominado pelo secularismo que, com os tenha mais que perguntar à nossa sociedade
seus tentáculos invasivos, não deixa às vezes de como perguntou a Caim que matara o próprio
pôr à prova as próprias comunidades cristãs.” irmão:
(Evangelium Vitae N.º 21)
“Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão
Continuando, o saudoso papa nos alerta que: clama da terra até Mim” (Gn 4, 10).
“Tem-se de começar por renovar a cultura da
vida no seio das próprias comunidades cristãs. Mauro Ottoboni
Muitas vezes os crentes, mesmo até os que
participam ativamente na vida eclesial, caem
numa espécie de dissociação entre a fé cristã e as
suas exigências éticas a propósito da vida,
chegando assim ao subjetivismo moral e a certos
comportamentos inaceitáveis. Devemos, pois,

Você também pode gostar