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Joel 2.

28-29
26/05/1996
Prédica: Joel 2.28-29
Leituras: Atos 2.1-21 e João 20.19-23
Autor: Werner Kiefer
Data Litúrgica: Domingo de Pentecostes
Data da Pregação: 26/05/1996

1. Introdução
O profeta Joel, cujo nome significa Javé é Deus, é filho de Petuel (1.1), que quer dizer
Deus liberta. As atividades proféticas de Joel se desenrolaram em Jerusalém e arredores.
A sua atividade profética está relacionada com o templo (2.1). A provável data da sua
atuação é o ano de 515, após o exílio.
O profeta Joel possui penetrante senso de observação da natureza, descrevendo os seus
fenômenos com vivacidade e simpatia. Em 1.4,11-12 descreve com detalhes as espécies
de gafanhotos e os estragos em meio às plantações.
O livro de Joel tem a forma de salmo de lamentação, seguido de um oráculo de Javé,
com promessas de consolação. Alguns exegetas denominam o livro de liturgia de
penitência. Livrar-se dos gafanhotos é submeter-se ao arrendimento — para tanto, todos
são convocados para um grande jejum e demonstração de arrependimento (1.13).
O conteúdo da profecia pode ser dividido em duas partes. Chama a atenção o fato de
que na Bíblia, na tradução de Almeida, na Bíblia de Jerusalém e outras há distinção
quanto à numeração dos capítulos. O texto em apreciação, na Bíblia de Jerusalém, está
no cap. 3.1-2. Seguimos, neste estudo, a numeração conforme Almeida.
a) 1.1-2.27: A praga dos gafanhotos e as suas consequências: carestia, interrupção dos
sacrifícios no templo de Jerusalém.
b) 2.28-3.21: O dia de Javé e a promessa escatológica.
A profecia de Joel começa com a descrição da praga dos gafanhotos, que provocou
grande destruição, fenômeno este nunca presenciado. Os gafanhotos chegam como um
exército invasor, não possuem rei, mas marcham em bandos e devoram tudo o que
acham pela frente. Eles são como uma aliança maldita, que vem unida para devorar a
plantação, não fazendo distinção. A perda da safra é total. Diante do caos, Joel apela
para um jejum popular, convocando toda a população: operários, beberrões, sacerdotes,
povo (1.2,5,9,11). Os ministros e sacerdotes vão passar fome (1.13). Os próprios
sacrifícios vão ser cortados, porque não há mais o que oferecer.
Joel entende que os fenômenos da natureza são dirigidos por Deus. Pragas e secas são
juízos divinos. Prosperidade é bênção do Senhor, resposta de Deus à oração e ao
arrependimento. Porém a análise social que nós fazemos não leva a esta compreensão, a
qual não pode ser aplicada desta maneira em nossa fala profética como Igreja de Jesus
Cristo. Há muita prosperidade produzida às custas da exploração do povo humilde e do
operariado. A própria natureza geme, sofre com a ganância do ser humano.
2. O Texto
O texto de Jl 2.28-29 encontra-se no início da segunda parte do livro. Inicia com o
derramamento do Espírito Santo, que é o último dos grandes feitos de Deus antes do
juízo final.
A vinda do Espírito Santo é a preparação, em que Deus reveste as suas criaturas com o
poder do seu Espírito, para o enfrentamento do juízo final.
V. 28: O derramamento do Espírito será sobre toda a carne. Em Is 40.5 toda a carne
significa a humanidade inteira. Joel destaca dizendo que o Espírito será derramado
sobre todas as classes de pessoas de Israel: filhos, velhos, jovens. Estes irão profetizar,
sonhar, terão visões. Joel destaca a ação do Espírito naquelas pessoas que ainda não
fazem parte do mundo do trabalho e da produção e naquelas que já foram excluídas: as
pessoas de idade.
O Espírito Santo aparece muitas vezes sendo concedido a reis, profetas, sacerdotes, para
a realização de grandes tarefas no reino de Deus: Moisés e os anciãos (Nm 11), Josué
(Nm 27.18), Elias e Eliseu (2 Rs 2.9,15). Em Joel Deus capacita a toda a criação,
derramando o seu Espírito sobre toda a gente, independentemente de atribuições, raça,
posição social e, sobretudo, idade.
O Espírito que Deus vai derramar sobre o seu povo é a força divina que cria e mantém
em vida os seres; Gn 1.2; Jó 33.4: O Espírito de Deus me fez e o sopro do todo-
poderoso me dá vida.
Às pessoas frágeis, humildes, Deus concede o poder do Espírito, humilhando os
opressores — faraó (Gn 41.38). A ação de Deus através do Espírito se mostra na
profecia (Nm 11.25s.; l Sm 10.10; 2 Sm 23.2; Is 42). Profetizar significa pronunciar
discursos extáticos (l Sm 10.10), proclamar a mensagem divina, instruindo e
admoestando, predizendo o futuro a partir da situação do presente. A ação do Espírito é
intermediada por pessoas; estas são envolvidas com os propósitos divinos e assim
proclamam e vivem a vontade de Deus no mundo.
Deus comunica os seus projetos também através de sonhos: (in 28.12; 20.3; Nm 12.6.
As visões também estavam presentes como meio de comunicação profética,
principalmente após o exílio: l Sm 3. Iss.; Dn 8.1; Os 12; /c 1.
V.29: A ação do Espírito Santo revoluciona e mexe com a distinção que a sociedade faz
entre os viventes. No mundo se fazem constantes distinções: servos e livres. Jeremias
combate esta diferenciação (Jr 34.8-22). Mas, mesmo assim, nas comunidades os servos
eram considerados como membros de segunda categoria. Através do derramamento do
Espírito, Deus colocará os servos junto com os israelitas livres. Os servos-escravos
também receberão os dons proféticos, vão sonhar, ter visões, anunciar as mensagens de
Deus no mundo. A ação do Espírito rompe com os muros e barreiras construídas no
mundo dos homens e mulheres.
O texto em apreciação faz parte do auge da profecia de Joel. O derramamento do
Espírito irá transformar a situação em todo o planeta. O advento do Espírito fará crescer
a vegetação destruída pelos gafanhotos. Árvores frutíferas darão novamente os seus
frutos. As pessoas poderão sorrir novamente junto com a natureza. Deus não se
esqueceu do seu povo. Mas este o ignorou. Deus não tarda em mostrar a sua
misericórdia, revelando o seu poder criador em meio à destruição.
3. Reflexões
Os textos de leitura — At 2.1-21 e Jo 20.19-23 — nos dão a unidade quanto ao tema
para a pregação deste dia: Pentecostes. A temática e a ação do Espírito Santo e as suas
consequências.
O Espírito Santo é a força, o poder de Deus, é o hálito vital. É o poder que ressuscita a
vida caída, desnorteada, humilhada. Numa pessoa faminta não há o hálito vital. O
Espírito somente volta depois dela ter comido e bebido (Jz 15.19; l Sm 30.12).
Deus se revelou inicialmente através do seu Espírito na criação de céus c terra e tudo o
que neles existe. Depois Deus tornou carne o seu Espírito em seu Filho Jesus Cristo em
meio ao mundo. Jesus revelou a glória do Deus criador, ensinando, revelando o projeto
do reino de Deus, fazendo curas e milagres. E a ação do Espírito de Deus encarnado em
Jesus Cristo. Porém houve rejeição quanto ao programa do Reino. Pessoas atacaram as
obras de Jesus. Eis aí o pecado contra o Espírito Santo. Fariseus, autoridades do templo,
não admitiram e não confessaram que Jesus é o Filho de Deus. A elite dominante no
tempo de Jesus não reconheceu que ele veio a nós e inaugurou para sempre o seu reino
no mundo.
No mundo onde há o faminto, rejeição do reino de Deus, elite dominante que explora e
mata com salário mínimo, entregando o país aos ricos do mundo, este mesmo Deus
intervém novamente. Deus concede o que há de mais precioso no seu reino e o confia ao
seu povo: o Espírito Santo. Jesus foi morto, padeceu sob as autoridades. Porém Deus
vem agora com o seu Espírito, que não poderá ser aprisionado pelo poder do mundo. É
o Espírito Santo que cria o povo de Deus, a Igreja, inspira a viver e agir conforme a
vontade de Deus no mundo.
O sopro de Jesus (Jo 20.22) remete-nos àquilo que Javé fez quando criou o ser humano
(Gn 2.7). É o sopro de criação, que agora é ratificado através da obra de Cristo com os
discípulos. É o sopro da vida (Javé), que agora é derramado sobre os discípulos, fazendo
surgir a Igreja, que será o corpo de Cristo visível no mundo.
Páscoa e Pentecostes eram festas agrícolas muito antigas em Israel e se tornaram festas
religiosas. A Páscoa, assim, relembrava a saída do Egito e, em Pentecostes, celebrava-se
a ocasião em que Moisés recebera o Decálogo das mãos de Deus; falava-se que a sua
entrega acontecera acompanhada de relâmpagos e trovões. A história de Pentecostes
retoma os aspectos da natureza, com a presença do vento e do fogo. Pentecostes é agora
a nova aliança, a nova lei: o Espírito Santo. A lei é o Espírito Santo (Lucas). E a ação do
Espírito Santo nos leva a confessar que Jesus Cristo é o Senhor (Paulo).
O Espírito Santo transforma a criação de Deus. É o poder com o qual Deus intervém e
está presente na sua criação. É o poder que restabelece a natureza, as plantas, faz
sonhar, ter visões, quebra barreiras entre os viventes, cria a Igreja e envia este povo para
a missão. O Espírito Santo antecede e prepara o povo de Deus para que os cristãos
sejam chamas de fogo acesas que brilhem e dêem vida em meio à criação de Deus que
geme e sofre.
4. Celebração
A celebração de Pentecostes, por si só, é algo alegre, contagiante, que mexe com a
comunidade. Onde Deus age, algo acontece, há movimentação. Os apóstolos receberam
o impulso para a missão. O profeta Joel anuncia a transformação que haverá na natureza
e em todas as pessoas. O agir do Espírito cria mudança e renovação. O que nada mais é,
volta a ser novamente. O que foi abatido, humilhado, rejeitado, será reintegrado. Haverá
novas criaturas (2 Co 5.17).
Na celebração se poderá trabalhar com elementos que simbolizam o poder do Espírito
Santo. Poderá acontecer algo bem alegre e festivo neste culto. Para tanto seguem-se
duas sugestões:
1) Providenciar um braseiro-gengiscan com brasas acesas e colocá-lo no altar. Somente
na pregação se deve fazer menção ao braseiro. Na destruição da natureza, na
discriminação social, Deus vem com o seu Espírito, transforma, cria um mundo novo —
reino de Deus. O mundo está como brasas apagadas, atiradas pelos cantos, estão se
desmanchando. É necessário recolhê-las e colocá-las no braseiro para que sejam calor,
luz. Lugar das brasas é no braseiro. Permanecendo fora, morrem. É na comunhão que
experimentamos o Espírito Santo (At 2).
2) Pentecostes lembra o aniversário da Igreja. Além do braseiro com fogo no altar,
podemos colocar ali um grande bolo de Pentecostes, com as respectivas cores, como
enfeite. Podem-se fazer chamas como enfeite sobre o bolo. O culto poderá terminar
assim em festa. Canta-se um hino alegre ou até um Parabéns a você, todos se
cumprimentam, se dão um abraço. Você está de aniversário. Nós somos a Igreja de
Jesus Cristo. Não esqueçam de trazer um cafezinho, chazinho. E se alguém passar pela
rua, enxergar a fumaça e o bolo na Igreja, a alegria do povo reunido, e fizer acusações
de que estão bêbados, os Pedros que se levantem e dêem seu testemunho de fé, que
falem do ser Igreja de Jesus Cristo.

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