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Kistemaker
As Parábolas de JESUS
Diretoria Executiva:
Diretor-Presidente:
Editor: Cláudio Marra
Diretor-Comercial:
Revisão:
Arte:
Composição:
Dezembro de 1992
Valter Graciano Martins
Editor
PREFÁCIO
Simon J. Kistemaker
1980
ABREVIATURAS
Livro da Bíblia
Gn Jr Lc
Êx Lm Jo
Lv Ez At
Nm Dn Rm
Dt Os 1,2 Co
Js Jl Gl
Jz Am Ef
Rt Ob Fp
1,2 Sm Jn Cl
1,2 Rs Mq 1,2 Ts
1,2 Cr Na 1,2 Tm
Ed Hc Tt
Ne Sf Fm
Et Ag Hb
Jó Zc
Introdução
Formas
Composição
3
A. M. Hunter, The Parables Then and Now (London: Westminster Press, 1971), p. 12.
A arte de elaborar e contar parábolas, demonstrada por Jesus, não
encontra paralelo na literatura. Mas bem semelhantes às parábolas de
Jesus são aquelas dos antigos rabinos dos dois primeiros séculos da era
cristã. Essas parábolas eram apresentadas, comumente, com uma
pergunta: ―Uma parábola: A que se assemelha?‖ Nessas parábolas,
também, o artifício literário da tríade e a ênfase final eram usados. Por
exemplo:
Propósito
4 I. Epstein, cd., ―Seder Zeraim Berakoth 13a‖, in The Babylonian Talmud (London:
Soncino Press, 1948); p.73.
5
Hauck, TDNT, V:758. J. Jeremias, na oitava edição de seu Die Gleichnisse Jesu
(Göttingen:Vandenhoeck & Ruprecht, 1970), p. 8, faz notar que as parábo1as de Jesus
podem ter contribuído para o desenvolvimento do gênero literário das parábolas dos
rabinos.
de justiça, os fariseus e os coletores de impostos. Ele compreendeu a
pobreza de Lázaro, embora fosse convidado para jantar com os ricos.
Suas parábolas retratam a vida de homens, mulheres e crianças; o pobre
e o rico; os que são marginalizados e os que são exaltados. Pelo seu
conhecimento da amplitude da vida humana, ele era capaz de ministrar
a todas as camadas sociais. Ele falava a linguagem do povo e seus
ensinamentos eram adequados ao nível daqueles que o ouviam. Jesus
usava parábolas para tornar sua linguagem acessível ao povo, para
ensinar às multidões a Palavra de Deus, para chamar seus ouvintes ao
arrependimento e à fé, para desafiar os que criam a transformar
palavras em atos e para exortar seus seguidores a permanecerem
atentos.
Isso significa que Jesus, que foi enviado por Deus para proclamar
a redenção dos homens caídos e pecadores, esconde essa mensagem
através de parábolas incompreensíveis? As parábolas são, então, um tipo
de enigma compreendido apenas pelos iniciados?
6 J. Jeremias. The Parables of Jesus (New York: Scribner, 1063), pp. 13.18, sustenta
que essas palavras de Jesus foram deslocadas e pertencem a Outro escrito; devem ser
interpretadas sem relação com o contexto de Marcos 4. De acordo com Jeremias, o
escritor inseriu passagem proveniente de outra tradição, por causa do sentido comum
da palavra parábola, que ele afirma significar, originalmente, enigma. Jeremias atribui,
assim, dois sentidos à palavra parábola, em Marcos 4. O primeiro significando parábola
autêntica, e o segundo, enigma. As regras da exegese, no entanto, não apóiam a
interpretação de Jeremias, pois, a menos que o evangelista revele um significado
diferente para uma palavra do texto, essa deve conservar o mesmo sentido através de
toda a passagem.
recebem a mensagem das parábolas, porque pertencem à família de
Jesus (Mc 3.35). Os que tentam destruir Jesus (Mc 3.6) não conhecem a
salvação, por causa da dureza de seus corações. É uma questão de fé e
descrença. Os que acreditam ouvem as parábolas e as recebem com fé e
entendimento, mesmo que a completa compreensão venha, apenas,
gradualmente. Os incrédulos rejeitam as parábolas porque elas são
estranhas à sua maneira de pensar7. Recusam-se a perceber e entender
a verdade de Deus. Assim, por causa de seus olhos cegos e seus ouvidos
surdos, privam a si mesmos da salvação proclamada por Jesus, e trazem
sobre si mesmos o julgamento de Deus.
Interpretação
7 W. L.ane, The Gospel According to Mark (Grande Rapids: Eerdmans, 1974), p. 158;
W. Hendriksen, Gospel of Mark (Grand Rapids: Baker llook House, 1975), p. 145; H. N.
Ridderbos, The Coming of the Kingdom (Philadelphia: Presbyterian & Reformed, 1962),
p.124.
8
. C.E.B. Cranfield, ―St. Mark 4.1-34‘, Scot IT 4(1951): 407. . C.E.B. Cranfield, ―St.
Mark 4.1-34‘, Scot IT 4(1951): 407.
9
Lane, Mark, p.160.
tolas deixaram de fornecer luz e se encaminharam para a noite do
mundo. O óleo é o ensinamento da Palavra e os vendedores de óleo são
os mestres. O preço que eles cobram pelo óleo é a perseverança. A meia-
noite é a hora do descuido imprudente. O grande clamor ouvido vem dos
anjos que despertam todos os homens. o noivo é Cristo que vem para
encontrar a noiva, a igreja. Assim Orígenes interpretou a parábola.
(1960): 273-87; R. E. Brown, ―Parable and Allegory Reconsidered‖, NTS 5 (1962): 36-45.
13 C.H. Dodd, The Parables of the Kingdon (London, Nesbit and Co., 1935), p. 26.
passavam a fazer parte da história daquela época. Para Jesus, de acordo
com Dodd, o reino significava o governo de Deus exemplificado em seu
próprio ministério. Portanto, as parábolas ensinadas por Jesus devem
ser entendidas como diretamente relacionadas com a efetiva situação do
governo de Deus na terra.
Princípios
222, afirma: ‗Não tenho absolutamente interesse, nem mesmo na Pessoa do Jesus
histórico‖.
18 J. D. Crossan, em ―The Good Samaritan‖ Towards a Generic Definition of Parable‘,
Semeia 2 (1974): 101, parece indicar que é mais importante para uma proposição ser
interessante que ser verdadeira.
da área entre Jerusalém e Jericó; e com o conceito judaico de boa
vizinhança. Observando o contexto histórico da parábola, o intérprete
apreende a razão por que Jesus contou essa história e compreende a
lição que Jesus procurou transmitir através da parábola19.
Classificação
Mateus 5.13 ―Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido,
como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado
fora, ser pisado pelos homens‖.
Marcos 9.50 ―Bom á o sal; mas se o sal vier a tornar-se insípido, como
lhe restaurar o sabor? Tende sal em vós mesmos, e paz uns com os
outros‖.
O que se pode fazer com o sal insípido? Não serve para nada. Os
fazendeiros não querem esse produto químico em suas terras, pois, no
estado bruto, prejudica as plantas. Jogar esse resíduo na pilha de
estrume também não resolve, pois, comumente, o esterco é espalhado na
terra, como fertilizante. A única coisa que se pode fazer com o sal
insípido é lançá-lo fora onde será pisado24. Se o sal perder sua
propriedade básica e deixar de ser salgado25, não se poderá mais
22
Dt 29.22,23; Jz 9.45; Jó 39.6; SI 107.34; Jr 17.6; Sf 2.9.
23 Jeremias, Parables, p. 169; J. H. Marshall, The Gospel of Luke (Grand Rapids:
Eerdmans,1978), p. 596; Hauck, TDNT, 1.229.
24 E. P. Deatrick, em ―Salt, Sou, Savior‖, 13A 25 (1962): 47, citando Lamsa, menciona
que no moderno Israel ―o sal insípido é espalhado em terraços cobertos com terra. Por
causa do sal, a terra endurece. Os terraços são, então, usados como áreas de lazer e de
brincadeiras de crianças‖.
25 O verbo em Mateus 5.13 e Lucas 13.34 para ―tomar-te insípido‖ é môrainein, que
tem o sentido original de ―fazer tolice‖, na voz ativa, e ―fazer-se de tolo‖, na voz passiva.
recuperá-la.
―Tende sal em vós mesmos, e paz uns com os outros‖, diz Jesus
(Mc 9.50). Ele exorta seus seguidores a usar dotes espirituais para
promover a paz26, primeiro em casa, e depois com os outros. Porque os
cristãos não têm sido capazes de viver em paz entre si mesmos, têm
perdido sua eficiência no mundo.
Mateus 7.24-27 ―Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as
pratica, será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa
sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os
ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque
fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas
palavras e não as pratica, será comparado a um homem insensato, que
edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios,
sopraram os ventos e deram com ímpeto contra a casa, e ela desabou,
sendo grande a sua ruma‖.
Lucas 6.47-49 ―Todo aquele que vem a mim e ouve as minhas palavras e
as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. E semelhante a um
homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o
alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra
aquela casa, e não a pôde abalar, por ter sido bem construída. Mas o
que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma
casa sobre a terra sem alicerces, e arrojando-se o rio contra ela, logo
desabou; e aconteceu que foi grande a ruína daquela casa‖.
28Jeremias, Parables, p. 27. As casas gregas eram, muitas vezes, construídas com
porões (= alicerces), o que não era comum na Palestina.
O prudente ouve atentamente e direciona sua vida de acordo com
as palavras de Jesus. Aquele que ouve as palavras de Jesus e não as
pratica se arruinará completamente. Não gasta tempo cavando e
assentando seu alicerce. Sua casa fica pronta logo e é temporariamente
adequada às suas necessidades, mas quando a adversidade chega como
um furacão, a casa que não tem Jesus como fundamento tomba, e sua
ruína é completa.
Aplicação
Paralelos
Conclusão
Lucas 8.4-8 ―Afluindo uma grande multidão e vindo ter com ele gente de
todas as cidades, disse Jesus por parábola: Eis que o semeador saiu a
semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada, e
as aves do céu a comeram. Outra caiu sobre a pedra; e, tendo crescido,
secou por falta de umidade. Outra caiu no meio dos espinhos; e estes, ao
crescerem com ela, a sufocaram. Outra, afinal, caiu em boa terra;
cresceu e produziu a cento por um. Dizendo isto, clamou: Quem tem
ouvidos para ouvir, ouça‖.
Composição
Propósito
41 F. E Bruce, Second Thoughts on the Dead Sea Scrolls (London: Paternoster Presa,
1956), p. 101.
42 B. Van Elderen, ―lhe Purpose of the Parables According to Matthew 13.10-17‖, em
553. J. R. Kirkland rejeita essa explicação e afirma que pessoas esclarecidas e eruditas
v&m a verdade escondida nas parábolas, mas os menos inteligentes e menos
perspicazes, não. Veja seu ‗Thc Earliest Understanding of Jesus‘ Use of Parables: Mark
IV 10-12 in Context‖, Novt 19(1977): 13. A proposição de Kirkland desaparece diante
da oração de Jesus: ―Graças te dou, 6 Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste
estas cousas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.‖ (Mt 11.25).
44 Kirkland, ―Earliest Understanding‖, pp. 16-20.
uma compreensão espiritual desses ensinamentos, os oráculos do Velho
Testamento perdem o seu significado. Assim, mesmo que eles (os judeus)
vejam, não vêem; ainda que ouçam, não ouvem e não entendem (Mt
13.13).
Todos os evangelistas citam as palavras de Isaías 6.9,10 —De
sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías:
68): 192, conclui que a parábola e sua interpretaç5o caminham juntas como a mão e a
luva. ―Se a parábola — na forma como a conhecemos — veio de Jesus, também sua
interpretação‖. Veja C. F. D. Moule, ―Mark 4.1-20. Yet once more‖, Neotestamentica et
Semitica (1969): 95 -113.
receberam tua lei não a guardaram; não observaram os teus
mandamentos. Não que o fruto da lei tenha perecido; isto é
impossível, pois tu és a lei. Os que a receberam pereceram,
porque deixaram de guardar a boa semente, que neles foi
semeada48.
Aplicação
48 New English Bible, lhe Apoctypha (Oxford Cambridge: Oxford and Cambridge
Universtity Prcss. 1970).
49 Gerhardsson, ―Parable of the Sower‖, p. 187.
50 C. H. Dodd, lhe Parables of the Kingdom (London: Nesbjt and Co., 1935), p. 182.
51 Gerhardsson, ―Parable of lhe Sower‖, p. 175.
Mateus, bem como Lucas, apresentam a palavra coração. ―Vem o
maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração‖ (13.19). A Palavra
de Deus alcança o coração daquele que a ouve, mas antes que a Palavra
possa produzir qualquer efeito, o maligno (Mateus), Satanás (Marcos), ou
o diabo (Lucas) vem e a arrebata. Na parábola, os pássaros descem à
beira do caminho e devoram os grãos. Diz Marcos: ―São estes os da beira
do caminho, onde a palavra é semeada; e, enquanto a ouvem, logo vem
Satanás e tira a palavra semeada neles‖ (4.15). Poderíamos dizer: ―entra-
lhes por um ouvido e sai pelo outro‖. Algumas pessoas ouvem
polidamente o evangelho, e só. O evangelho não tem valor para elas, pois
seus corações são endurecidos como os caminhos pisados, à beira das
plantações. Ignoram completamente o resumo da lei de Deus: ―Amarás o
Senhor teu Deus de todo o teu coração...‖ (Mt 22.37).
53 The Gospel of Thomas, trans. B. M. Metzger, Citação 9, afirma o seguinte: ‗Jesus Eis
que o semeador saiu para semear, encheu sua mão e semeou (a semente). Algumas
(sementes) caíram no caminho. Os pássaros vieram e as apanharam. Outras caíram
apresenta uma ordem ascendente de a trinta, a sessenta e a cem por
um‖. Lucas, na parábola propriamente dita, apenas cita que ―produziu a
cem por um‖, mas na interpretação, diz: ―A que caiu na boa terra são os
que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes
frutificam com perseverança‖ (8.15). Onde Lucas usa ―retêm‖, Marcos
usa ―recebem‖ e Mateus ―compreende‖.
sobre as rochas e não lançaram raízes para a terra nem espigas para o céu. E outras
caíram entre espinhos. Eles abafaram as sementes e os vermes as comeram. E outras
caíram em boa terra, e lançaram bom fruto para o céu. Produziram sessenta por um e
cento e vinte um‖. É óbvio que o escritor do Evangelho de Tomé fundiu a parábola do
semeador num molde gnóstico. A razão porque o escrito conclui a parábola com ―cento
e vinte por um‖ pode muito bem ter sido pelo fato de que ele acreditava ser o número
12 o número‘ perfeição. Veja H. Montefiore e H. E. W. Turner, Thomas and the
Evangelists (London: SCM Presa, 1962), p. 48.
54 20. Kingsbury, Parables of Jesus, p. 62.
5. A Semente Germinando Secretamente
Composição
55
Veja-se, por exemplo, Marcos 4.2, 10, 13 e 33, onde o plural ‗parábolas‘ é usado
consistentemente.
56
Lane, Mark, p. 149.Ridderbos, em Coming of lhe Kingdom, p. 142, é de opinião que
Marcos escolheu essas três parábolas para ensinar ―o significado positivo da demora do
julgamento‖.
57
Quando Marcos escreve que a terra ―por si mesma‖ produz o grão ele não quer dizer
que o solo produz a colheita sem a provisão de Deus, mas que a ajuda do fazendeiro
não é necessária no processo de germinação do grão. W. Michaelis, Die Gleichnjsse
natureza.
Interpretação
Jesu (Hamburg: FurcheVerlag, 1956), p. 38. Além disso, a ênfase na produção do grão
não deve ser colocada sobre o solo, nem na própria semente. R. Stuhlmann
―Bcobachtungen zu Markus IV. 26- 29‖, NTS 19 (1972-73): 156.
58 Jülicher, Gleichnisreden, 2: 540.
59 Há paralelos na literatura apostólica, inclusive 1 Clemente 23.4: ―Ó insensatos:
Comparai-vos a uma árvore. Tomai uma videira, por exemplo: ela primeiro espalha
suas folhas, então o botão e a flor, e Somente após, primeiro a uva verde e então a
madura.‖ Apostolic Fathers, vol.2 ed. R. M. Grant e H. H. Graham (Camden. N. J.:
Thomas Nelson & Sons, 1965), p. 48. Ver também, II Clemente 11.3, e o Evangelho de
Tomé, Citação 21.
60 H. B. Swete, The Gospel According lo St. Mark (L.ondon: Macmillan & Co., 1909), p.
85.
61 Para uma classificação abrangente dessas interpretações, veja C. E. B. Cranfield:
Mateus 13.24-30 ―Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus
é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo;
mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio
no meio do trigo e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto,
apareceu também o joio. Então, vindo os servos do dono da casa, lhe
disseram: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde
vem, pois, o joio? Ele, porém, lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas
os servos lhe perguntaram: Queres que vamos e arranquemos o joio?
Não! Replicou ele, para que, ao separar o joio, não arranqueis também
com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da
colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para
ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro‖.
O Campo do Fazendeiro
Interpretação
Aplicação
76 Com agradecimentos a Hunter, Parables, p. 48, que parece ter um estoque infindável
de verses, poemas e ditados.
77 Calvin, Harmony of the Evangelists, 2:120.
alegria; Crisóstomo dizia que o óleo significava a ajuda dada aos
necessitados; e Orígenes considerava o óleo como sendo a palavra de
ensinamento78.
78Numerosos exemplos são encontrados nas séries, Works of lhe Father, coletados por
Tomás de Aquino. Veja Coomentary on the Four Gospels, 1, Si. Matthew (Oxford: n. p.
1842).
7. O Grão de Mostarda
Mateus 13.31,32 ―Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus
é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou
no seu campo; o qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e,
crescida, é maior do que as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as
aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos‖.
A Semeadura e o Crescimento
mostarda e do fermento estão separadas. Elas têm o mesmo estilo (com ligeiras
variações) dos relates canônicos. Vejam-se Citações 20 e 96.
todavia, pode usar a mesma introdução, mas na redação retratar uma
perspectiva da Casa Branca, inteiramente diferente.
O Cumprimento
84 É possível que os dois evangelistas tenham acrescentado essa explicação como ajuda
ao leitor.
85 J. W. Wevers, Ezekiel (Greenwood, 5. C.: Attic Press, 1969), p. 139. C. L. Feinberg,
em The Prophecy of Ezekiel (Chicago: Mood Press, 1969), p. 97, diz que os versículos
finais de Ezequiel 17 ‗sem dúvida, apresentam uma profecia messiânica‖. Veja,
também, D. M. G. Stalker, Ezekiel (London: 5. C. M. Presa, 1968), p. 154; J. B. Taylor,
Ezekiel (Downers Grove, III:Inter Varsity Presa, 1969), p. 146; e, J. Mánek, Und
Brachte Frucht (Stuttgart: Calwer, 1977), p. 28.
86 Os estudiosos hesitam em se referir à planta da mostarda como uma árvore. Veja R.
W. Funk: ―The Looking-Glass Tree is for the Birds‖, lnterp 27 (1973): 5. No entanto, ela
alcança uma altura de mais ou menos três metros. A linguagem popular descrevia o
fenômeno do crescimento da mostarda, naqueles dias, como ―uma árvore‖.
abrigo oferecidos pelo reino de Deus. Os ramos da árvore devem
continuar a crescer e a se estender até àquelas regiões que ainda
precisam do evangelho para que multidões possam encontrar refúgio e
descanso87. E quando o evangelho do reino de Deus tiver sido pregado a
todas as nações do mundo, então o fim virá (Mt 24.14) e a árvore terá
alcançado sua plenitude.
89 Para uma descrição mais minuciosa, veja-se C. L. Mitton, ―Leaven‖, Expt T84(1973),
339-43.
90 R. C. H. Lenski, Interpretation of St. Matthew‘s Gospel (Columbus: Lutheran Book
ed.), 2: 122. R. W. Funk, em ―I3eyond Criticism in Quest of Literacy: The Parable of the
Leaven‖, Interp 25 (1971) entende o numero três escatologicamente e escreve: ―Três
medidas de farinha apontam para o poder sacramental do Reino para a ocasião festiva
de uma epifania‖, p. 163. Devemos acentuar, no entanto, o poder e não o significado da
farinha ou do número três.
sabedoria e do conhecimento estão ocultos‖ (Cl 2.3). O seguidor de Cristo
torna o ensinamento das Escrituras de especial relevância em todos os
lugares. ―Está claro para todo aquele que tiver olhos para ver, que o
―fermento‖ do poder de Cristo, nos corações e nas vidas dos homens e
em todas as esferas humanas, tem exercido, de milhares de maneiras,
uma influência completa. E essa influência ainda continua92‖. Quem tem
ouvidos para ouvir, ouça.
O que, precisamente, queria Jesus dizer com a expressão ―reino
dos céus‖? É um sinônimo de igreja? O povo de Deus, individual e
coletivamente, confessa o nome de Jesus Cristo como seu Salvador.
Juntos constituem a igreja. Nessa igreja recebem dons e poderes que se
tornam capazes de guardar cuidadosamente a lei de Deus, proclamar
universalmente o evangelho da salvação e promover efetivamente o
governo de Deus93. A igreja, então, é constituída de cristãos que
praticam os ensinamentos de Cristo em todas as esferas da vida. Assim
procedendo, promovem o reino de Deus, no qual o governo de Cristo é
aceito. Resumindo, cada área da vida influenciada pelo ensinamento de
Cristo (o fermento) pertence ao reino.
10. A Pérola
Composição
95E. A. Armstrong, The Gospel Parables (New York: Sheed and Ward, 1967), p. 154.
96Não devemos pôr em dúvida a moral daquele homem, pois não sabemos como eram
as leis de propriedade, nos dias de Jesus. A parábola não dá ênfase à conduta ética do
homem que encontrou o tesouro. Para um estudo mais detalhado, veja-se J. D. M.
Derrett, Law in the New Testament (London: Longman and Todd, 1970), pp. 1-16.
custe o que ajuntou em toda a sua vida. Os dois, literalmente, vendem
tudo o que têm para conseguir o tesouro e a pérola.
Aplicação
Mateus 13.47-50 ―O reino dos céus é ainda semelhante a uma rede que,
lançada ao mar, recolhe peixes de toda espécie. E, quando já está cheia,
os pescadores arrastam-na para a praia e, assentados, escolhem os bons
para os cestos e os ruins deitam fora. Assim será na consumação do
século: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e os
lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes‖.
A Pesca
Consulte, também, Dalman, Arbeit und Sitte, 4: 351, que faz referência a vinte e quatro
espécies.
Embora houvesse várias maneiras de pescar, nos dias de Jesus,
um dos mais eficientes era o uso do arrastão. Esse tipo de rede tinha
dois metros de largura e perto de cem metros de comprimento. Tinha
cortiça na parte superior para mantê-la à tona e pesos na parte inferior,
para mantê-la ao fundo. Às vezes, os pescadores fixavam uma das
extremidades da rede na praia, enquanto um barco puxava a outra
ponta pelo lago, fazendo uma curva e trazendo a rede de volta à praia.
Outras vezes, saíam dois barcos da praia, formando um semicírculo com
a rede; juntos, os homens a puxavam para apanhar os peixes e juntá-los
nos barcos. O uso do arrastão exigia a força de seis homens ou mais.
Enquanto uns remavam, outros lançavam ou puxavam a rede e outros
ainda batiam na água para guiar os peixes para a rede105.
Explicação
107Por exemplo, Lenski, em Matthew‘s Gospel, p. 547, diz que ―a rede é o Evangelho‖.
108Em um curto e interessante estudo, J. Mánek, ―Fishers of Men‖, NovT 2 (1958):
13841, mostra que há inimizade entre o mar e Deus (Ap 21.1). ―Porque o mar é lugar
de revolta contra Deus, ele não pode participar do mundo novo, no futuro. Ele passará
juntamente com outros poderes demoníacos, como está demonstrado na visão do novo
céu e da nova terra, em Ap. XXI.1‖, p. 139. Os pescadores de homens, portanto, os
resgatarão de um ambiente hostil a Deus.
separarão do povo de Deus, e os lançarão no fogo ardente reservado para
eles.
O que a parábola ensina? Diz aos seguidores de Jesus: vão à sua
tarefa diária de testemunhar aos outros, onde quer que estejam; tragam-
nos para a igreja; façam com que se lembrem sempre da necessidade da
fé e do arrependimento; que eles estejam atentos para o dia do juízo,
quando, então, a separação entre o ímpio e o justo acontecerá.
109 Veja W. F. Albright e C. S. Mann, Matthew (New York: Doubteday, 1971), p. cxliv.
12. O Credor Incompassivo
A História
Mas a resposta de Jesus é: ―Não te digo que até sete vezes, mas até
setenta vezes sete‖. Jesus multiplica os dois números, sete e dez —
números que simbolizam a perfeição — e acrescenta um outro sete: Ele
quer dizer, não sete vezes, mas setenta vezes — sete vezes; isto é, a
perfeição vezes a perfeição e mais a perfeição110. Ele indica a idéia de
infinito. A misericórdia de Deus é tão grande que não pode ser medida;
você, Pedro, deve também mostrar misericórdia a seu próximo.
110 A frase pode também ser traduzida como ―setenta vezes sete‖. Veja-se, Gn 4.24.
111 Quando um monarca oriental convocava seus secretários do tesouro, deixava de
lado os oficiais menores. Etc se encontrava com os oficiais do alto escalão do serviço
público. Veja-se K H. Rengstorf, TDNT 11; 266 que destaca que a palavra servo é a
forma lingüística usual para a relação de sujeição ao rei, nas despóticas monarquias do
antigo oriente.
112 H. O. Liddell e R. Scott, A Greek English Lexicon (Oxford: Clarendon Presa, 1968), p.
adiamento. Prometia pagar tudo dentro de um ano. Desse modo, o dinheiro devido
renderia juros ao rei. Na realidade, o débito (=daneion) que o rei perdeu era um
empréstimo. Derrett, Law in the New Testament, pp. 39-40.
115 Para um estudo simétrico da parábola, veja-se F. H. Breukelman, ‗Eine Erklárung
A Lição
por causa da lei de Deus, mas pelo egoísmo e avareza do homem. Os profetas do Velho
Testamento pregavam a justiça, baseados, constantemente na lei. Veja-se A. H. Leitch,
―Righteousness‖, em ZPEB, 5:108.
121 Linnemann, Parables, pp. 111-13; Hunter, Parables, p. 69.
piedade e paciência. Apenas o julgamento permanecerá‖ (2 Esdras 7.33,
34 NEB).
Aplicação
Como Jesus mostrou a Pedro que ele devia perdoar o seu próximo,
vezes sem fim? Ele contou a história de um homem cujo débito era
esmagadoramente grande e que implorou piedade quando a justiça foi
aplicada. Seu senhor cancelou a dívida e mostrou infinita misericórdia.
O homem foi posto em liberdade e pôde conservar sua mulher, filhos e
tudo quanto possuía122. Estava isento de sua dívida.
122 ―A lei judaica apenas permitia a venda de um israelita cm caso de roubo, se o ladrão
não pudesse devolver o que tinha roubado; a venda da esposa era terminantemente
proibida sob a jurisdição dos judeus; conseqüentemente, o rei e seus ‗servos‘
representam os gentios‖. Jeremias, Parables, p. 211. Ver, também, SB, 1: 798. Mas a
parábola não se refere ao povo judeu, e, portanto, a lei judaica não se aplica. Veja-se
Derrett, Law in the New Testament, p. 38.
123 R. S. Wallace, Many Things in Parables (New York: Harper and Brothers, 1955), p.
171.
a justiça mesmo que rigorosa124. Mas o homem tinha sido perdoado de
uma dívida enorme, e agora encontrava um companheiro que, devendo-
lhe uma ninharia, pedia misericórdia. Ele perdoaria?
O Trabalho e os Trabalhadores
SB, 1:830.
130 Um denário era um pagamento justo por um dia de trabalho e suficiente para
As Horas e os Pagamentos
132 Os relógios não eram usados; o dia era dividido em horas a partir do nascer do sol,
muito embora o dia judeu comece ao pôr-do-sol. Veja-se Jeremias, Parables, p. 136, nº
21. Derrett, ―Workers in lhe Vineyard‖, p. 56.
133 A frase introdutória, entretanto, é apenas um ponto de partida. Ridderbos, Coming
of the Kingdom, p. 141. O dono da vinha é a figura central da parábola e sua palavra e
seus atos ilustram o significado do reino.
vezes a fim de contratar novos trabalhadores? O esperado seria que ele
fizesse uma estimativa cuidadosa de quantos trabalhadores seriam
necessários para cumprir a tarefa, antes que viesse a noite. Mas, não
devemos aplicar a lógica ocidental a uma história que provém da cultura
oriental. A lei da procura e da oferta foi, sem dúvida, observada. Além
disso, trabalhadores contratados mais tarde, no dia, chegavam à vinha
descansados e com energia para gastar. O empregador obtinha um bom
retorno dos trabalhadores que trabalhavam energicamente durante meio
dia ou menos.
134A regra dos rabinos era que um homem empregado por hora, para uma tarefa, devia
receber seu salário todos os dias. Veja-se Baba Mezia III a e Nezikin I, em Babylonian
Talmud, (Boston: Bennet, n.d.), p. 633. Veja-se, também, SB, 1:832. Pagando antes os
trabalhadores contratados por último, e dando a eles um salário igual, o proprietário
evitou possíveis pechinchas, que lhe tomariam tempo considerável. Veja-se DerretI,
―Workers in the Vineyard‘, p. 63.
horas receberam um denário135! Eles estão contentes, alegres e cheios de
gratidão. Sabem que o dono da vinha é não apenas digno de confiança e
honesto, mas, também, um homem generoso. Todos os trabalhadores
contratados no decorrer do dia recebem o mesmo pagamento e testificam
a bondade e a generosidade do empregador.
135 Durante o reinado do rei Agripa II, por volta de 60 A.D., os claustros do lado oriental
do templo de Jerusalém foram construídos com a ajuda de cerca de 18.000
trabalhadores. O tesoureiro do templo e seus cooperadores decidiram pagara cada
operário o salário de um dia todo, mesmo que trabalhasse apenas durante uma hora.
Veja-se Josephus, Antiquities 20:219-20; Derreti, ―Workers in the Vineyard‘, p. 63.
136 A palavra hetaire aparece três vezes no Novo Testamento: 1) na parábola dos
trabalhadores da vinha (Mt 20.13); 2) na parábola das bodas, quando o rei se dirige ao
convidado que não se apresenta vestido para as bodas (Mt 22.12); 3) no relato da prisão
de Jesus no Getsêmani, quando Jesus diz: ―Amigo, para que vieste?‖ (Mt 26.50). De
acordo com K. H. Rengstorf, TDNT II:701, o termo ―sempre denota uma relação de
obrigação mútua entre aquele que fala e o que ouve, a qual foi desprezada e
escarnecida pelo ouvinte‖.
exata merecida137. Ele é acusado por sua generosidade. ―Ou são maus os
teus olhos porque eu sou bom?‖, ele pergunta. Com essa última
pergunta, o empregador põe à mostra a falsidade dos empregados
desapontados. Ele demonstrara bondade e gentileza enquanto eles
mostraram inveja a avareza. Eles permanecem cegos à bondade do
proprietário até que a máscara que escondia seu descontentamento é
removida pela questão: ―Ou são maus os teus olhos porque eu sou
bom?‖.
Assim é o reino dos céus, diz Jesus. Porque Deus é tão bom,
triunfa o princípio da graça. No mundo, o conceito é o de que aquele que
trabalha mais recebe mais138. Isso é justo. Mas, no reino de Deus, os
princípios do mérito e da capacidade são postos de lado para que a graça
prevaleça.
Graça
137 C. L. Mitton, Expounding lhe Parables, VII. lhe Workers in lhe Vineyard (Mateus
20.1-6), Expt 77 (1966): 308.
138 Os cidadãos do reino dos céus devem conhecer plenamente os princípios operantes
Aplicação
140T. W. Manson, lhe Sayings of Jesus (London: SCM Presa, 1950), p. 220.
141Os paralelos dos Evangelhos de Mateus e Marcos são idênticos exceto no fato de que
em Mateus a parábola dos trabalhadores na vinha é acrescentada como uma ilustração
da expressão: ―Porém, muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros‖ (Mt
19.30; 20.16; Mc 10.31). Em Locas 13.30, a expressão também ocorre, embora em
contexto inteiramente diferente.
serão últimos‖.
142 A. H. McNeile, The Gospel Accordíng to St. Matthew (London: McMillan and Co.,
1915), p. 285.
143 As versões bíblicas atribuem Mateus 20.16 a Jesus. O texto não é parte da
observação feita pelo dono da vinha, mas é uma conclusão repetida por Jesus como
seqüência de Mateus 19.30. O NEB, entretanto, não apresenta o versículo como
citação, e por isso se conclui que ele é o fecho dado por Mateus à parábola. Jeremias,
em Parables, p. 36, chega a sugerir que ―deixemos de lado o versículo 16‖. Por outro
lado, Morison, em SÉ. Matthew, p. 356, e Derrett, em ―Workers in lhe Vineyard‖, p. 51,
sustentam que as palavras de Mateus 20.16 são a aplicação da parábola feita por
Jesus mesmo. Falta clareza ao argumento de que Jesus não proferiu as palavras do
versículo 16. Ele não é convincente.
144 Os pais da igreja primitiva se entregavam a interpretações fantasiosas. Irineu, por
Esta parábola nunca será aceita por aqueles que querem impor à
salvação regras e estipulações feitas pelos homens. No reino dos céus,
como as Escrituras ensinam, não existe a burocracia humana. A graça
de Deus é plena e livre para todo aquele que venha a ele pela fé. E todos
os que são vasos de sua graça proclamam com o salmista:
147J.M. Derrett, ―The Parables of the Two Sons‖, Studia Theologica 25 (1971); 109-16,
também publicada em Studies in the New Testament, 1:76-84, segue Jülicher,
Gleichnisreden, 2:367. Derrett destaca que o primeiro filho era o mais velho e deveria
ser o sucessor do pai. ―Um filho mais velho pode muito bem ter mais interesse na
forma que na substância‖. (Studies p. 81).
pai, respondeu apenas: ―Não quero‖148. Ele errou em não se dirigir
respeitosamente ao pai, chamando-o de senhor, e nem procurou uma
desculpa para sua má vontade.
O pai teve que se dirigir ao segundo filho, com o mesmo pedido, a
fim de ter o trabalho feito na vinha149. Esse filho, na polida maneira
oriental, dirigiu-se ao pai corretamente, e disse: ―Sim, senhor‖.
Entretanto, não foi. Prometeu ao pai um dia todo de trabalho. Era uma
promessa que não pretendia cumprir.
Interpretação
148
A evidência textual, em relação à sua leitura varia. Tecnicamente há três variações.
(a) De acordo com o Códice Sinaítico e outros manuscritos, o primeiro filho disse não,
mas se arrependeu; o segundo disse sim, mas não foi. Essa é a leitura em traduções
tais como AV, RSV e NIV. (b) De acordo com o Códice do Vaticano e outros
manuscritos, o primeiro filho diz sim, mas não vai; o segundo diz não, mas se
arrepende. Quem faz a vontade do Pai? A resposta varia: ―o último dos dois‖, ―o
último‖, ―o segundo‖. Traduções incluindo NASB, NAB e NEB, seguem o Códice do
Vaticano. (c) O assim chamado texto Ocidental segue a ordem do Códice Sinaítico,
com exceção da resposta à questão: ―Qual dos dois fez a vontade do Pai?‖, que é ―o
último‖. Isto significa que o filho que disse sim, mas não foi, cumpriu o pedido do pai.
Absurdo. A escolha fica, portanto, entre (a) ou (b). Veja J. R. Michaels, ―The Parable of
the Regretful Son‖, HTR 61 (1968): 15-26. A ordem não afeta o sentido da parábola.
Consulte-se Metzger, Textual Commentary, pp. 55-56.
149 Metzger, em Textual Commentary, p. 56, indica que a comissão do Novo
Testamento Grego das Sociedades Bíblicas Unidas optou pela ordem seguida pelo
Códice Sinaítico. Para substanciar essa escolha Metzger escreve: ―Poderíamos
argumentar que se o primeiro filho tivesse obedecido, não havia razão para chamar o
segundo‖.
23.5-7). São aqueles que não praticam o que pregam. João Batista veio
a eles, mostrando-lhes o caminho da justiça. Ouviram suas palavras,
mas não creram nelas. Simplesmente o ignoraram. Viram, no entanto,
que os publicanos aceitaram a mensagem de João e foram batizados.
Não obstante, rejeitaram o propósito de Deus para si mesmos,
recusando-se a serem batizados por João (Lc 7.30).
A História
150
Evangelho de Tomé, Citação 65: ―Ele disse: ‗Um homem bom tinha uma vinha.
Entregou-a a arrendatários para que a cultivassem e ele pudesse receber deles os seus
frutos. Ele enviou seu servo para que os arrendatários lhe entregassem o fruto da
vinha. Eles o agarraram (e) espancaram; um pouco mais e o teriam matado. O servo
foi (e) contou tudo a seu senhor. Seu senhor disse: Talvez ele não os conhecesse.
Enviou outro servo; os lavradores maus, também, o espancaram. Então, o dono da
vinha, agarraram-no (e) o mataram. Quem tem ouvido, ouça‘. De modo interessante, o
Evangelho de Tomé. Citação 66, continua. ―Jesus disse: Mostrai-me a pedra que os
construtores rejeitaram. Ela é a pedra angular‖.
O projeto todo era uma aventura financeira para o fazendeiro. Ele
plantou novas videiras num solo ainda não testado. Arrendou a vinha a
lavradores, mas teria que esperar durante quatro anos até que as
videiras começassem a produzir. Durante esse período, ele teria que
sustentar os lavradores, comprar adubo e suprimentos para a vinha, e
esperar que o quinto ano lhe trouxesse algum lucro151. Um novo
vinhedo não era, portanto, um empreendimento que trouxesse retorno
financeiro imediato; era, antes, uma promessa de resultados
permanentes que beneficiariam sucessivas gerações.
151
Derrett, Law in the New Testament, p. 290.
152
Onde Marcos e Lucas, vem como o Evangelho de Tomé falam de um servo, Mateus
usa o plural. De acordo com Mateus, numerosos servos são enviados, e são
espancados, apedrejados e mortos. Essa pode ser uma tentativa deliberada de Mateus
de ligar a parábola ensinada por Jesus à história eclesiástica de Israel. Um toque de
alegria está presente, embora não em relação à pessoa do filho: J. A. T. Robinson. ―The
Parable of the Wicked Husbandman: A Test of Synoptic Relationships‖, NTS 21 (1975);
451. 1 Rs 18.13; 2 Cr 24.21; Mt 23.37; Lc 13.34; At 7:52; 1 Ts 2.15; e Hb 11.37,
tornam evidente que alguns profetas foram mortos e apedrejados até a morte.
153
Porque o texto afirma explicitamente que o servo foi receber ―dos frutos da vinha‖
(Mc 12.2; Lc 20.10), presumindo que o proprietário enviou o servo quando as uvas
estavam prontas para serem colhidas.
154
Alguns estudiosos vêem um paralelo entre a dominação estrangeira de vastos
territórios da Galiléia, antes e durante o tempo do ministério de Jesus e o proprietário
retratado na parábola. Dodd, Parables p. 125; Jeremias, Parable, p. 74; M. Hengel,
―Das Gleichnis von den Weingartner Mc 12.1-12 ins Lichte der Zenonpapyri und der
rabbinische Gleichnisse‖, ZNM 59(1968); 11-25; J. E. e R. R. Newell, ―The Parable of
the Wicked Tenantes‖, NovT 14 (1972): 226-37. No entanto, a parábola não indica de
modo algum que os arrendatários fossem oprimidos por um dono de terras
estrangeiro. Ao contrário, os lavradores e não o proprietário são chamados de
malvados (kakous), Mt 21.41. Consulte-se SB, 1:871.
para si mesmos, o lucro total, talvez como recompensa pelos anos de
labuta e cuidado dispensados à vinha, antes que viesse a colheita. Ao
mandarem o servo de volta, espancado, e de mãos vazias, os
arrendatários não deixaram dúvidas quanto à sua intenção de reter o
total do lucro da safra.
O significado
158
Derrett, Law in the New Testament, pp. 300-4. Os arrendatários podiam mesmo
citar Dt 20.6, para a própria justificação: ―Qual o homem que plantou uma vinha e
ainda não a desfrutou? Vá, torne-se para sua casa, para que não morra na peleja e
outrem a desfrute...‖.
159
Ambos Mateus e Lucas afirmam que os lavradores atiraram o filho para fora da
vinha e, então, o mataram. Marcos inverte a ordem, dizendo que primeiro o mataram
e, então, o lançaram fora da vinha.
O povo judeu sabia esse cântico de cor; eles o haviam aprendido
no culto da sinagoga onde era cantado de tempos em tempos160.
Sabiam, também, o seu final:
160 E. Werner, The Secret Bridge (New York: Columbia University Press, 1959), p. 140.
161 Dodd, Parables, p. 131: Hengel, ―Gleichnis‖, p. 37. Jeremias, em Parables, pp. 72-
73, observa que, embora Jesus falasse profeticamente de si mesmo, ―o significado
messiânico do filho podia não ser admitido pela maior parte dos seus ouvintes‖.
162
Lane, Mark, p. 419.
163
Não fica claro, no texto, que seriam os outros arrendatário. Jeremias, Parables, p.
76, com base em uma das bem-aventuranças: ―Bem-aventurados os mansos, porque
herdarão a terra‖. (Mt 5.5), afirma que os ―outros‖ são os pobres. A lógica dessa
afirmativa não é muito convincente. Um argumento a ser usado talvez seja o uso da
palavra ―povo‖ (=ethnos), em Mt 21.43, com referência aos gentios.
prosélitos que cantavam as palavras do salmo diante dos portões do
templo. Um coro dos peregrinos cantava a parte do salmo que fala da
pedra, a pedra angular (Sl 118.22-25)164. Referindo-se a esse salmo
familiar, e especialmente aos versículos a respeito da pedra rejeitada,
Jesus perguntou aos ouvintes se nunca tinham lido nas Escrituras:
Teologia
164
A. Weiser, The Psalms (Philadelphia: Westminster Press, 1962), p. 724.
165
Embora a citação (118.22) seja repetida em At 4.11 e 1 Pe 2.7, não há razão para se
aceitar que a igreja tenha acrescentado estas palavras à parábola dos lavradores
maus.
166
Jeremias, TDNT, 1:792. A pedra rejeitada se referia a Abraão, Davi ou ao Messias,
de acordo com os rabinos. Os construtores eram descritos como os mestres da Lei.
SBI: 875-76.
167
M. Black, em ―The Christological Use of the Old Testament in the New Testament‖
NTS 18 (1971-72): 13, chama a atenção para a interpretação messiânica da pedra e,
conseqüentemente, fala da pedra e do filho rejeitados.
aparentemente, faz alusão às duas divisões de profetas – os antigos e os
últimos profetas. Ele não adianta qualquer pormenor a respeito do filho
do dono da vinha. Marcos e Lucas, no entanto, o chamam de ―filho
amado‖, que traz a conotação de único filho168. A expressão ―filho
amado‖ foi usada, também, por ocasião do batismo de Jesus e em sua
transfiguração. Marcos escreve que o dono de terras enviou seu filho
por último. A palavra último ressoa claramente nos primeiros versículos
da Epístola aos Hebreus: ―Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes,
e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos
falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo
qual também fez o universo‖. (Hb 1.1,2).
Além disso, enquanto Marcos diz que o filho foi morto dentro da
vinha, Mateus e Lucas escrevem que os lavradores maus apanharam o
filho, atiraram-no fora da vinha e, então, o mataram. Fica implícito que
os arrendatários deixaram o corpo ali, de modo que os que por lá
estivessem, o enterrassem. Uma vez mais, o leitor ouve o eco na
Epístola aos Hebreus: ―Por isso foi que também Jesus, para santificar o
povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta” (Hb 13.12).
Se a parábola terminasse com a morte do filho e com a ida do
proprietário à vinha, o sacrifício da vida do filho teria sido
desnecessária. O proprietário poderia ter ido até à vinha imediatamente
após seus servos terem sido maltratados. A exaltação do filho não teria
sido retratada, então, pela parábola da vinha. Mas, através da figura da
rejeição, Jesus liga o Salmo 118 à parábola e a citação do Salmo revela
que a pedra rejeitada é destinado o lugar mais importante entre todas
as outras pedras da construção. O Senhor exaltou a pedra principal.
168
Gn 22.2; Mt 3.17; Mc 1.11; Lc 3.22; 2 Pe 1.17.
169
A evidência textual parece se tornar mais forte pela inclusão de Mt 21.44 que pela
sua omissão. É possível, naturalmente, olhar o versículo como sendo uma
interpolação de Lc 20.18. Não obstante, ―a antigüidade da leitura e sua importância
na tradição do texto‖ devem ser vistas como fatores decisivos para sua conservação.
Metzger, em A Textual Commentary, p. 58, não obstante, sugere que o versículo pode
ser um acréscimo ao texto.
170
Outras referências à pedra são encontradas em: Is 28.16; Dn 2.34,44,45; At 4.11;
Rm 9.33; Ef 2.20; e 1 Pe 2.6.
O propósito da parábola e a citação do Salmo não escaparam aos
líderes religiosos. Todos os três evangelistas relatam que
―compreenderam que contra eles proferia esta parábola‖. Eles, de fato,
seriam esmagados pelo Filho que tinham rejeitado, mas a quem Deus
tinha exaltado.
Aplicação
171
The Belgic Confession, artigo 27.
16. As Bodas
Mateus 22.1-14 ―De novo, entrou Jesus a falar por parábolas, dizendo-
lhes: O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de
seu filho. Então, enviou os seus servos a chamar os convidados para as
bodas; mas estes não quiseram vir. Enviou ainda outros servos, com
esta ordem: Dizei aos convidados: Eis que já preparei o meu banquete;
os meus bois e cevados já foram abatidos, e tudo está pronto; vinde
para as bodas. Eles, porém, não se importaram e se foram, um para o
seu campo, outro para o seu negócio; e os outros, agarrando os servos,
os maltrataram e mataram. O rei ficou irado e, enviando as suas tropas,
exterminou aqueles assassinos e lhes incendiou a cidade. Então, disse
aos seus servos: Está pronta a festa, mas os convidados não eram
dignos. Ide, pois, para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para
as bodas a quantos encontrardes. E, saindo aqueles servos pelas
estradas, reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e a sala do
banquete ficou repleta de convidados. Entrando, porém, o rei para ver
os que estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste
nupcial e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial?
E ele emudeceu. Então, ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e
mãos e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de
dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos‖.
A parábola
Explicação
Thomas More ter-se recusado a assistir à coroação da Rainha Ana Bolena, em 1534.
176 Alguns escritores consideram que este detalhe, bem como alguns outros, vão além
dos limites do exagero oriental. Veja-se, por exemplo, Armstrong, Parables, p. 103;
Oesterley, Parables, p. 123; Linnemann, Parables, p.94; e Jeremias, Parables, p. 68.
Entretanto, K. H. Rengstorf, cm ―Die Stadt der Mõrder (Ml 22.7), Judentum,
Urchristentum, Kirche, Festschrift honoring J. Jeremias (Berlin: Tõpelmann, 1960),
pp. 106-29, acumulou uma coleção de incidentes, nos quais mensageiros enviados por
reis eram escarnecidos ou mortos.
Jesus está contando a história de Israel, e seus ouvintes
entendem que ele se refere aos profetas enviados por Deus, com a
mensagem urgente de arrependimento. Mas Israel, em vez de aceitar o
chamado de Deus e se arrepender, trata de maneira vergonhosa os
profetas, e mata alguns deles (Mt 23.35)177. Jesus rememora a seus
ouvintes a página negra do livro de sua história. Os fariseus, mestres da
lei, sacerdotes e anciãos compreendem que ele está se referindo a eles.
as sujas que significam luto. Veja-se, também, Jeremias, Parables, p. 187; SB 1: 878-
79.
183 Jeremias Parables, p. 187.
184 Ap 3.4,5,18 e 19.8. No último versículo, o escritor acrescenta a explicação de que o
Deus não se compraz com a morte do perverso; ele quer que ele
viva (Ez 18.23; 33.11). O desejo amoroso de Deus é que ―nenhum
pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento‖ (2 Pe 3.9). Mas,
se o homem faz saber que não sente necessidade de Jesus, ele, assim,
recusa a justiça dispensada por ele. Ele tem que se arrepender, dando-
se conta de que não tem merecimento algum para chegar à presença de
Deus, e que necessita das vestes de justiça que Jesus provê. Um
coração ―compungido e contrito‖ (SI 51.17) é necessário para que se
queira aceitar, prontamente, essa vestidura.
189 Lõw, Die Flora der Juden, 1.240, destaca que a palavra verão (grego = theros) em
hebraico pode ter ocasionado um jogo de palavras: gayis (= verão; fruto do verão) e
ges (= fim da vida; tempo do castigo final). Veja-se, também, 1. Dupont, ‗La parable du
figuier qui bourgeonnne (MCXIII, 28,29 ei. par.)‖, RB 75(1968): 542, que se refere à
profecia de Amós 8.1,2, na qual o cesto de frutos de verão tem significado escatológico.
190 Dupont, ―Parble fu figuier‖, p. 532. As palavras ―assim também‖ dão a impressão
do Senhor que está vindo como Juiz e Redentor. ―Sede vós também pacientes, e
fortalecei os vossos corações, pois a vinda do Senhor está próxima. Eis que o juiz está
às portas‖. (Tg 5.8,9) Notem-se as palavras do Apocalipse: ―Eis que estou à porta, e
bato‖ (3.20). Mänek, Frucht,p.34.
situado onde não deve estar...‖ (Mt 24.15; Mc 13.14; Lc 21.20).
Inegavelmente, as palavras ―estas coisas‖ ou ―todas estas coisas‖ devem
referir-se às predições delineadas anteriormente, no discurso. Os
discípulos de Jesus perguntaram: ―Dize-nos quando sucederão estas
coisas‖ (Mc 13.4). O sermão todo a respeito do final dos tempos (Mc
13.5-23 e paralelos), especialmente a parte sobre o cerco de Jerusalém
e o aparecimento de falsos profetas, está resumido na expressão: ―estas
coisas ,ou todas estas coisas193‖. A expressão se refere, também, ao
―abominável da desolação‖ que foi profetizado que viria ao templo de
Jerusalém. ―Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos,
sabei que está próxima a sua devastação‖ (Lc 21.20).
193 Lane, Mark, p. 448; C. B. Cousar, ―Eschatology and Mark‘s Tbeologia Crucis, A
Critical Analysius of Mark 13‖, lnterp 24 (1970): 325; G.R. I3easley — Murray, A
Commentary on Mark Thirteen (London, New York: Macmillan, 1957), p. 97.
194 As interpretações variam quanto ao significado da expressão ―esta geração‖: a) O
povo judeu dos dias de Jesus. Beasley — Murray, Commentary p. 100; b) O povo
judeu como uma raça. Hendriksen, Matthew, p. 868; e) A humanidade em geral
(Jerônimo); d) Os fiéis na igreja. A. L. Moore, The Parousia in the New Testament,
(Leiden; Brill, 1966), pp. 131 -32.
195 E. E. Ellis, The Gospel of Luke (The Century Bible) (London: Nelson, 1966), pp.
199 O imperativo da segunda pessoa plural da voz ativa é usado aqui e no versículo
paralelo de Mateus 24.42.
200 ―Ausentando-se‖ ( = apodemos) não significa, necessariamente, partir para um país
distante. Pode querer dizer, simplesmente, sair da província, como, por exemplo, da
Galiléia e Decapolis.
sabem quando o senhor voltará, ―se à tarde, se à meia-noite, se ao
cantar do galo, se pela manhã‖. Lucas apresenta uma lista semelhante
de períodos de tempo. ―Quer ele venha na segunda vigília, quer na
terceira, bem-aventurados serão eles, se assim os achar‖. Marcos adota
o costume romano de dividir a noite em quatro vigílias, cada uma com
três horas de duração201. Lucas, no entanto, divide a noite em três
vigílias202.
Marcos 13.33-37
201 SB, 1:688. Em At 12.4, Lucas registra, fielmente, as vigílias romanas: ―quatro
escoltas de quatro soldados cada uma‖, guardavam Pedro durante a noite. Veja-se,
também, Mt 14.25 e Mc 6.48, onde é narrado que Jesus caminhou sobre o Mar da
Galiléia durante a quarta vigília da noite.
202 Dodd, Parables, p. 162.
203 O acréscimo de ―e orai‖ talvez derive de Mc 14.38. É mais fácil explicar a inserção
Lucas 12.35-39
Ele se veste para o serviço, seus servos tomam lugar à mesa e ele
crise‘. A categoria inclui parábolas tais como a dos servos vigilantes, a do ladrão à
noite, a do servo fiel e do infiel, e a das dez virgens. Embora a observação seja correta,
as assim chamadas parábolas da crise não podem ser limitadas à morte de Jesus.
Elas focalizam, também, a segunda vinda. Morris, Luke, p. 216; 1. H. Marshall,
Eschatology and The Parables (London: Tyndale Press, 1973), pp. 34,35.
os serve212. Sem dúvida, o fato contraria o costume normal tão bem
descrito na parábola sobre a recompensa do servo (Lc 17.7-10).
Entretanto, essa inversão de papéis está plenamente de acordo com o
ensino e a conduta de Jesus. Ele ensinou o papel do servo muito
claramente, no cenáculo, quando lavou os pés de seus discípulos213.
Resumindo, dentro do contexto da parábola dos servos vigilantes, Jesus
faz uma referência velada a si mesmo.
Uma vez mais, os servos que haviam esperado seu senhor voltar
são elogiados. Os servos cumpriram o que deles era esperado: aguardar
a volta de seu senhor. Assim também, a todos os crentes, não apenas
aos discípulos de Jesus, é recomendado que permaneçam prontos,
atentos e aguardando a volta do seu Senhor. Se estiverem vestidos e
prontos para o serviço, com suas lâmpadas acesas e fulgurantes na
noite escura, o Senhor, quando vier, não negará sua recompensa.
Mateus 24.42.44 ―Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o
vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que
hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua
casa. Por isso, ficai também vós apercebidos; porque, à hora em que
não cuidais, o Filho do Homem virá‖.
Lucas 12. 39-40 ―Sabei, porém, isto: se o pai de família soubesse a que
hora havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa.
Ficai também vós apercebidos, porque, à hora em que não cuidais, o
Filho do Homem virá‖.
214 O Evangelho de Tomé registra a parábola do ladrão em duas de suas citações, mas
não tem aplicação cristológica: ―Portanto eu vos digo: Se o dono da casa sabe quando
vem o ladrão ele estará vigiando antes que venha (e) não deixará que arrombe a casa
de seu reino para levar os seus bens. Mas vós deveis estar alertas contra o mundo;
cingi vossos lombos com grande poder, para que nenhum ladrão possa achar um
modo de chegar até vós‖ (Citação 21b). ―Jesus disse: Bem-aventurado é o homem que
sabe em que parte (da noite) virá o ladrão, para que se levante e ajunte seu.., e cinja
seu lombo antes que venham‖ (citação 103).
215 Alguns estudiosos afirmam que a expressão ‗Filho do homem‖ não pode ser
original, mas que deve ter sido introduzida pela igreja cristã primitiva. Jeremias,
Parables, pp. 50,51; Manek, Frucht, p. 66; 6. Schneider, Parusiegleichnisse im Lukas-
Evangelium (Stuttgart: 1975), p. 22. Entretanto, ―a predição da vinda do Filho do
homem é uma parte consistente do ensino de Jesus...‖ Marshall, Luke, p. 534. Veja-se
R. Maddox, ―The Function of the Son of Man‖, NTS 15(1968-9); 51.
216 Jeremias, Parables, p. 50, é de opinião que os discípulos não precisavam ser
advertidos. A parábola, então, se aplica à igreja primitiva, para advertir o povo quanto
ao julgamento que está para vir. Marshall, em Eschatology, p. 35, questiona
seriamente esta opinião.
O que a parábola ensina? Nos dias que precedem a vinda do
Senhor, muitas pessoas vivem ignorando totalmente o julgamento
iminente. Sua vinda acontecerá sem aviso. O inesperado do
acontecimento para os que não estão atentos pode ser comparado ao
momento imprevisto quando um ladrão chega para arrombar e roubar.
Aqueles que se preparam e estão prontos não serão surpreendidos
quando o tempo do retorno de Jesus chegar.
20. O Servo Fiel e Prudente
A parábola do servo fiel está entre aquelas nas quais Jesus ensina
a necessidade da vigilância. Além de enfatizar a vigilância, Jesus,
também, reforça a característica da fidelidade. Em resumo, a parábola
se refere a um servo que recebe a responsabilidade de administrar a
casa, na ausência de seu senhor. Se ele provar ser fiel e prudente, o
senhor o recompensará generosamente ao regressar. Mas, se for
preguiçoso, indigno e descuidado, o senhor voltará quando não estiver
sendo esperado e lhe infligirá severa punição.
O Servo Fiel
217 Jeremias, Parables, p. 99, considera Lc 12.41 como uma ―situação criada‖, embora
seu ―uso lingüístico mostre que se achava na fonte de Locas‖. No entanto, por causa
da referência aos discípulos (Lc 12.22) como os que ouviam diretamente a Jesus, não é
possível rejeitar o caráter histórico da pergunta de Pedro (Lc 12.41).
218 A expressão ―esta parábola‖ não deve ser tomada literalmente como se referindo
O Servo Infiel
autoridade na casa de seu senhor (Lc 12.42); b) um oficial público coletor de rendas
(Rm 16.23); c) um administrador (Lc 16.1), SB, 11:219.
entrega a excessos de comida e bebida220.
Interpretação
220 Na parábola do servo fiel e do infiel ecoa a história de Aicão. Veja-se R. H. Charles,
Apocrypha and Pseudepigrapha (Oxford: Clarendon Press, 1977), 2: 715.
221 Bauer, et al, Lexicon, p. 200, admite o significado de ―punir com a maior
severidade‖.
222 O. Betz, em ―The Dichotomized Servant and the End of Judas Iscariot‖, RQ 5(1964):
46, se refere a 1QS2:16,17: ―Deus ‗separará‘ o hipócrita pela maldade, de modo que
será extirpado do meio de todos os filhos da Luz; ... ele terá a parte que lhe cabe no
meio daqueles excomungados para sempre.‖ O verbo dichotomein e a frase tithenai
meros tinos são hapax legomena, no Novo Testamento, são, portanto, passíveis de
várias interpretações. Consulte ieremias, Parables, p. 57 nº 30, 31.
223 Salmos 37.9a, 22b, 34b, 38b.
224 O uso de amem, característico de Jesus, em Mateus 24.47, é alethos, em Lc 12.44.
Mateus, guiado pelo Espírito Santo, se recordou de tudo que Jesus lhe
havia dito (Jo 14.26). Lucas confiou nas informações que lhe foram
dadas pelas testemunhas oculares e pelos ministros da Palavra (Lc
1.2)225. Os dois escritores foram inspirados pelo Espírito Santo, quando
escreveram seus Evangelhos, embora cada um reflita seu próprio estilo
e propósito. Como judeu, Mateus procurou trazer o evangelho aos
judeus seus contemporâneos. Lucas, helenista, escreveu seu Evangelho
para aqueles que, naqueles dias, falavam grego.
225 Os dois evangelistas podem ter tido acesso a uma fonte comum, quando
escreveram seus Evangelhos. É possível, também, que Locas tenha consultado o
Evangelho de Mateus, quando escreveu o seu. W. C. Allen, The Gospel According to St.
Matthew (ICC) (Edinburgh: T&T Clark, 1922), p. 262.
226 Michel, TDNT, V:150.
227 A palavra é usada treze vezes no Evangelho de Mateus (6:2,5,16; 7.5; 15.7; 22.18;
Pedro (Lc 12.41), aplicam a parábola de Lucas aos apóstolos. Mas, esta interpretação
significaria que a parábola tem pouco ou nenhum significado em relação aos cristãos.
Enquanto Mateus conclui a parábola com a expressão conhecida:
―ali haverá choro e ranger de dentes‖ (Mt 24.51)230, Lucas termina a
seqüência das três parábolas sobre a vigilância (o porteiro, o ladrão e o
servo fiel e prudente) com palavras conclusivas de Jesus, registradas
apenas por Lucas:
230A expressão é registrada seis vezes por Mateus e uma vez por Lucas (Mt 8.12;
13.42,50; 22.13; 24.51; 25.30; e Lc 13.28).
21. As Dez Virgens
Mateus 25.1-13 ―Então, o reino dos céus será semelhante a dez virgens
que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo.
Cinco dentre elas eram néscias, e cinco, prudentes. As néscias, ao
tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; no entanto, as
prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas. E,
tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram. Mas, à
meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro! Então,
se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas. E
as néscias disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as
nossas lâmpadas estão-se apagando. Mas as prudentes responderam:
Não, para que não nos falte a nós e a vós outras! Ide, antes, aos que o
vendem e comprai-o. E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as
que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e fechou-se a
porta. Mais tarde, chegaram as virgens néscias, clamando: Senhor,
senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que
não vos conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora‖.
As Bodas
231 P. Trutza, ―Marriage‖, ZPEB, pp. 4, 96, indica que ―os rabinos fixavam doze anos,
como a idade mínima para as meninas se casarem e treze para os meninos.
232 ―As damas de honra cercavam a noiva, toda de branco, e eram, usualmente, dez.‖
Daniel. Rops, Daily Life in Palestina of the Time of Christ (London: 1962), p. 124. Do
suas melhores amigas e da mesma idade que ela.
mesmo modo J. A. Findlay, Jesus and his parables (London: Epsworth Press, 1951),
pp. 111-112, se refere às dez damas vistas por ele numa cidade da Galiléia, a caminho
da casa da noiva, para fazer-lhe companhia enquanto esperava a chegada do noivo.
233 Jeremias, ―Lampades:, ZNW 55 (1964): 199.
234 A evidência textual para a inclusão das palavras, ―e a noiva‖, no final do primeiro
Israel, quando a noiva é trazida da casa de seu pai à de seu marido, durante a noite.
Ela é precedida por um cortejo que carrega dez tochas feitas de varas às quais são
atados recipientes de bronze, onde trapos ensopados de óleo são acesos e usados para
iluminar o caminho.
suficiente para mantê-las acesas, especialmente se fosse esperado que
as damas de honra apresentassem sua dança, à luz das tochas, na
chegada.
Conditions in a Palestinian Village (Helsingfors: 1931), pp. 132-55. ―Se o preço pela
noiva já tivesse sido pago, as bodas podiam se realizar a qualquer tempo; podia
acontecer que o fechamento do contrato fosse adiado até ao dia do casamento, mas,
em qualquer caso, o noivo não podia levar a noiva antes que tudo estivesse
estabelecido‖, p. 155.
241 No Novo Testamento, o sentido de ―pôr em ordem, preparar‖, dado a kosmeo,
O Significado
Interpretações
A parábola das dez virgens deve ser vista no amplo contexto dos
ensinamentos de Jesus a respeito de sua volta. A conclusão: ―Vigiai,
pois, porque não sabeis o dia nem a hora‖ (Mt 25.13) é uma repetição
dos versículos precedentes: ―Mas a respeito daquele dia e hora ninguém
sabe‖ (Mt 24.36), e, ―Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem
o vosso Senhor‖ (Mt 24.42). É Jesus quem profere seu familiar: ―Em
verdade vos digo‖ (Mt 25.12), indicando assim que fala a respeito de sua
própria volta. São palavras de Jesus, não de um noivo adolescente. Isto
é, por meio da parábola, Jesus ensina claramente a seus seguidores que
devem estar preparados para o sete retomo. Os que não estiverem
preparados serão excluídos, para sempre, do reino, quando Jesus
voltar. Esses são os que ouvirão Jesus dizer: ―Em verdade vos digo que
não vos conheço‖. São os insensatos que não têm lugar, em seu estilo
247 Tomás de Aquino reuniu numerosos exemplos provindos de obras dos pais da
igreja. Commentary on the Four Gospels, 1, ST. Matthew, (Oxford: p. 1842), pp. 844-
50.
248 Jeremias, em Parables, p. 51, escreve que ―Mateus viu na parábola uma alegoria a
O Dinheiro Confiado
253 Muitos comentaristas pensam que Jesus, ao ensinar, usou mais que uma vez a
idéia básica, expressa nas duas parábolas, Morris, Luke, p. 273. Veja-se, também,
Geldenhuys, Luke, pp. 476-77; Plumer, St. Luke, p. 437; 1h. Zahn, Das Evangelium
des Lucas (Leipszig: A. Deichert, 1913), p. 628, nº 23; Lenski, Matthew’s Gospel, p.
971. Outros, entre eles, Manson, Sayings, p. 313, vêem duas versões de uma parábola
original. Jeremias, Parables, p. 58, afirma que a parábola dos talentos aparece em três
versões: Mt 25.14-30; Lc 19.12-27; e no trecho 18 do Evangelho dos Nazarenos. Na
verdade, entretanto, é questionável afirmar que três versões derivam de uma parábola
original especialmente quando o trecho do Evangelho Nazareno parece se basear no
relato de Mateus. De fato, P. Vielhauer conclui ―que o conteúdo (do Evangelho dos
Nazarenos) tinha semelhança grosseira com o de Mateus, e conseqüentemente era (o
Evangelho dos Nazarenos) apenas uma forma secundária de Mateus‖. New Testament
Apocrypha, cd. E. Hennecke e W. Schneemelcher (Philadelphia: Westminster Press,
1963), I:140.
254 J. Ellul, em ―du texte au sermon (18). L.es talents. Matthieu 25/13-30‖, Etudes
95, publicado em Law in the New Testament, pp. 17-31. Veja-se especialmente a p.
18.
Com certeza, contratos foram feitos acertando as condições
combinadas entre as partes. O capital, naturalmente, pertencia ao
senhor256. Em troca, o senhor poderia recompensar os servos
adequadamente, e eles poderiam esperar novas participações na
sociedade.
Dois Servos
256 SB, 1:970. Dos ensinos dos rabinos fica evidente que tanto o capital como o lucro
pertenciam ao senhor dos servos. Entretanto, se o servo fosse hebreu, podia acumular
o lucro para si mesmo.
257 De acordo com os rabinos, ―o dinheiro só pode ser guardado (colocando-o) na
à obediência fiel. Por causa dessas bênçãos, o judeu obediente estaria, econômica e
politicamente, sempre em posição elevada.
260 A expressão ―entra no gozo‖ do senhor ê equivalente a ―entra no reino‖ ou ―entra na
senhor implica, obviamente, em igualdade.
Um Servo
para o procedimento nos negócios, mas que, nem sempre, essas eram observadas.
Embora o empréstimo com juros fosse proibido pela lei de Moisés, os rabinos
conseguiram burla-la fazendo uma distinção entre empréstimo com juros e usura. A
usura era condenada.
recuperar o talento, com lucro264. Ao enterrar o talento privaria o
senhor dos juros acumulados. Assim, quando seu senhor voltasse, o
servo poderia devolver-lhe o único talento.
O Senhor
O servo foi julgado por suas próprias palavras. Sabia que seu
senhor esperava que seus servos se esforçassem ao máximo. De fato, o
senhor era um homem que queria colher onde não havia semeado e que
agarrava a oportunidade quando esta se apresentava. Por estas
atitudes, se tornou um homem duro aos olhos do servo indolente.
O Significado
Kamlah, ―Kntik und lnterpretation der Parabel von den anvertrauten Geldern: Matt
25,14ff.; Luke 19, 12ff.‖ Kerygma und Dogma 14 (1968): 28-38; J. Dupont. La
parabole des talents (Matt 25.14-30) ou des minas (Lc 19.12-27), ―Revue de
Théologie et de Philosophie 19 (1969): 376-91.
tão grande salvação?‖ (Hb 2.3). E, através dos séculos, a parábola dos
talentos tem falado, e continua a falar, a todos os cristãos. Eles devem
ser o canal por onde a mensagem da Palavra de Deus flui para o mundo
que os cerca.
Conclusão
O Lado Direito
ExpT (1966); 245, interpreta At 9.4, dizendo: ―Com certeza, é um misticismo, mas um
misticismo de auto-identificação mais que de unificação‘. Veja-se, também, C. L.
Mitton, ―Present Justification and Final Judgment — A Discussion of the Parable of
the Sheep and the Goats.‖ ExpT 68 (1956): 46- 50.
285 J. A. T. Robinson, ―The ‗Parable‘ of the Sheep and the Goats‖, NTS 2 (1956): 225-
O Lado Esquerdo
Implicações
291 L. Cope, ―Matthew XXV.31-46. ‗The Sheep and the Goats‘ reinterpreted‖, NovT
11(1969): 43.
292 J. Mänek, ―Mit wem identifiziert sich Jesus? Eine exegetische Rekontruktion ad
Matt. 25.31-46, “Chrlst and SpirIt in the New Testament, ed. B. Lindars e S. S.
Smalley (Cambridge: University Press, 1973), p. 19.
(2 Tm4.16). Ele deixou o julgamento para o Senhor. Embora
representante de Jesus, não usou da autoridade daquele que o enviara.
Jesus é o juiz, e ele dará o veredicto no dia do juízo. Paulo pode apenas
orar para que o ato de deserção não fosse imputado àqueles que
deveriam tê-lo apoiado.
293 Alguns comentaristas vêem o Cristo oculto nos confrontado, nos povos
necessitados e desafortunados do mundo. Por exemplo, Hunter, Parables, p. 118;
Armstrong, Parables, p. 193.
294 Mänek, ―Exegetische Rekonstruktion‖, p. 22; Mánek, Frucht, p. 79.
295 Mt 5.47; 12.48; 18.15; 23.8; 28.10.
Na parábola e na apresentação da cena do juízo, as seguintes
pessoas aparecem individual e coletivamente: (1) o Filho do homem, (2
todas as nações, (3) um pastor, (4) o Rei, (5) o Pai do Rei, (6) os justos,
(7) os irmãos do Rei, (8) os ímpios. É óbvio que Deus é o Pai do Rei;
embora Deus não seja o Juiz. O Rei é o Juiz que é comparado a um
pastor que separa as ovelhas dos bodes. Além disso, o rei é também
conhecido como o Filho do homem, que é como Jesus se denomina. Os
irmãos do Rei, também, estão presentes no julgamento. Quem são eles?
Jesus diz a seus discípulos que: ―quando na regeneração, o Filho do
homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em
doze tronos para julgar as doze tribos de Israel‖ (Mt 19.28). O privilégio
de julgar com Cristo não se limita aos doze discípulos. Os santos
julgarão o mundo, escreve Paulo à congregação de Corinto (1 Co 6.2)296:
O juiz não está sozinho, porém fala pelos seus irmãos. Ele não julga
seus irmãos; porém todas as nações se apresentam diante de seu trono
e são separadas em dois grupos: os que estarão à direita do Juiz,
porque ajudaram os irmãos; e aqueles à esquerda, porque se recusaram
a ajudar.
Lucas 7.36-50 ―Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com
ele. Jesus, entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa. E eis que
uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na
casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento; e, estando
por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os
enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o
ungüento. Ao ver isto, o fariseu que o convidara disse consigo mesmo:
Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou,
porque é pecadora. Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma
coisa tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha
dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinqüenta.
Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos.
Qual deles, portanto, o amará mais? Respondeu-lhe Simão: Suponho
que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem. E,
voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em
tua casa, e não me deste água para os pés; esta, porém, regou os meus
pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Não me deste
ósculo; ela, entretanto, desde que entrei não cessa de me beijar os pés.
Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com bálsamo, ungiu os
meus pés. Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados,
porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco
ama. Então, disse à mulher: Perdoados são os teus pecados. Os que
estavam com ele à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este que
até perdoa pecados? Mas Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-
te em paz‖.
As Circunstâncias
298
Jeremias, Parables, p. 126.
fariseu, convidou Jesus para ir à sua casa a fim de participar, com ele e
com outros convidados, da refeição do meio-dia do Sabá.
299 O costume de ungir alguém com óleo vem da antigüidade. Sl 23.5; 45.7; 104.15; Ez
23.41; Am 6.6. Daniel-Rops, Palestine, p. 208.
300 Um servo apanhava as sandálias dos hóspedes e as guardava até ao final da
profeta‖ se referiria, então, ao grande Profeta que Deus providenciaria (Dt 18.15).
seus pés — fez mais, continuou beijando-os até que, finalmente, se
retirou. Jesus não compreendia?
A Parábola
Mas Simão, o fariseu, não pôde ver que essa mulher pecadora
experimentava a alegria da regeneração. Não se lhe ocorreu que ela
poderia ter sido perdoada e que se sentisse plena de felicidade. ―Jesus
jamais deveria permitir que a mulher o tocasse‖, disse Simão a si
mesmo.
Marshall, Luke, p. 309. Calvin, Institutes of the Christian Religion, III. 4.33 (Grand
304
Jesus via a mulher como uma pecadora que tinha sido perdoada.
Ele não especificou seus pecados. Apenas se referiu a eles dizendo que
eram muitos. E porque seus muitos pecados lhe tinham sido perdoados,
ela muito amou305. Ela queria expressar sua gratidão a Deus e se
voltara para Jesus, que fora enviado por Deus. Ele se tornara o vaso
que recebia a gratidão da mulher306.
A Mulher
305 Jeremias, Parables, p. 127, destaca que o hebraico, o aramaico e o siríaco são
línguas que não têm palavras correspondentes para ―obrigado‖ e ―agradecimento‖. O
conceito se expressa por meio de palavras tais como ―amor‖ ou ―bênção‖.
306 H. Drexler ―Die grosze Sünderin Lucas 7.36-50‖. ZNW 59 (1968): 166.
307 Católicos romanos interpretam que o texto (Lc 7.47) diz que o amor merece perdão.
A versão NAB traduz o texto: ―Eu vos digo porque seus muitos pecados são perdoados
— por causa de seu grande amor‖.
Jesus perguntou a Simão se ele tinha visto a mulher. Pelo
contraste exemplificado na parábola, Jesus, então, insinuou que Simão
deveria olhar para sua própria vida espiritual.
Lugar e Povo
O judeu vivia num círculo: o centro era ele mesmo, cercado por
seus parentes mais próximos, então pelos outros parentes, e,
finalmente, pelo círculo daqueles que proclamavam descendência
judaica e que se tinham convertido ao judaísmo. A palavra próximo
tinha um significado de reciprocidade: ele é meu irmão e eu sou irmão
dele311. Assim se fecha o círculo de egoísmo e etnocentrismo. Suas linhas
tinham sido cuidadosamente traçadas, a fim de assegurar o bem-estar
dos que se achavam dentro e negar ajuda aos que estavam fora.
primeiros socorros, nos tempos antigos. SB, 1: 428. O azeite era paliativo e o vinho
um anti-séptico.
317 As duas moedas de prata eram dois denários, quantia suficiente para pagar a
hospedagem por vários dias. Na parábola dos trabalhadores na vinha (Ml 20.1-16), o
salário diário dos trabalhadores é de um denário.
voltasse de sua viagem.
Implicações
Aplicação
326 Derrett, Law in the New Testament, pp. 222-23, destaca que Jesus ―tem um papel
semelhante ao de Moisés‖.
327 As palavras de Jesus: ―Faze isto, e viverás‖ recordam Dt 5.33; 6.24 e Lv 18.5.
328 Linnemann, Parables, p. 52.
329 Armstrong, Parables, p. 165.
Se o intérprete da lei tivesse quaisquer objeções teológicas, elas
desapareceram com o desenrolar da história. Jesus podia ter-se referido
ao estrangeiro que vivia entre os judeus e era tratado como um natural
do lugar330. Também, podia ter mencionado os judeus convertidos e os
que eram chamados tementes a Deus, que, regularmente, assistiam aos
serviços religiosos na sinagoga. Mas, essas pessoas tinham como
retribuir a bondade que recebiam. Além disso, eram considerados
amigos e, em alguns casos, membros da fé judaica.
Consulte-se Mänek, Frucht, pp. 88,89 para uma avaliação útil de modernas
interpretações. Veja-se Gerhardsson, Good Samaritan, pp. 1-31, para um estudo
elaborado de possíve1 derivados verbais; J. Daniélou, ―Le Bon Samaritain‖, Mélanges
Bibliques rédiges en I’honneur de A. Robert (Paris, 1956), pp. 454-93; H. Binder,
―Das Geheimnis vom barmherzigen Samariter‖, TZ 15 (1959): 176-94.
É muito comum ver Jesus como o bom samaritano, que é amigo e
irmão de pessoas vindas dos variados caminhos da vida, de qualquer
nação e de todas as raças. Entretanto, ainda que o próprio Lucas passa
ter pensado assim quando registrou a parábola, ele não nos dá a menor
indicação de que Jesus pretendesse transmitir essa mensagem. Nem o
texto, nem o contexto, aceitam tal interpretação333.
à noite, como fez José com Maria e o menino Jesus (veja-se Mt 2.9,14).
e dormitório336. A casa tinha uma porta que permanecia aberta durante
todo o dia. Mas, ao anoitecer, quando o sol se punha, o chefe da família
fechava a porta e fazia correr uma tranca de maneira que se prendia
nas laterais da porta, mantendo-a fechada para evitar os intrusos337.
Esteiras eram espalhadas e usadas como camas, nas quais a família
toda dormia. Em tais circunstâncias, era muito difícil levantar no
escuro e procurar algo.
Um pão, naqueles dias, não era maior que uma pedra que se
pudesse segurar com uma das mãos. Assim, Mateus, no contexto
paralelo registra: ―Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o
filho lhe pedir pão, lhe dará pedra?‖ (Mt 7.9). Três desses pães eram
refeição suficiente para uma pessoa. A longa explicação do que pedia
emprestado era uma tentativa de descrever ao vizinho a situação
embaraçosa em que se achava e revela a esperança de que o amigo o
compreendesse. Naturalmente, o hospedeiro estava perfeitamente ciente
do problema que seu pedido causaria. Mesmo assim, ele pediu, sabendo
que era a única maneira de conseguir pão para oferecer a seu amigo
cansado e faminto.
Mas o vizinho não lhe deu descanso nem o deixou dormir. Não
336 A cozinha ficava, comumente, do lado de fora, ou sob um telheiro. Veja-se Daniel-
Rops, Palestine, p. 220.
337 Dalman, Arbeit und Sitte VII:70-72, 178-79; Armstrong, Parables, p. 80; e
Amém significa,
Assim será, com toda a certeza!
338 Em todo o Novo Testamento, a palavra anaideia ocorre apenas aqui. Pode ser
traduzida como ―falta de vergonha‖ para descrever a impertinência do homem que
acordou o vizinho. Jeremias, Parables, p. 158, e Marshall, Luke, p. 465, admitem que
a falta de vergonha pode ser atribuída, também, ao vizinho que se recusou a atender o
pedido do amigo. A palavra exprime, então, o sentido de ―manter a aparência‖. O
vizinho, portanto, atendeu o pedido, porque não queria trazer vergonha para sua casa,
com sua recusa.
339 Esta regra, chamada Kal Wa-homer (do menos importante para o mais importante),
era uma das sete regras de hermenêutica compiladas pelo Rabino HilIel (60 A.C. a 20
DC.) H. L. Strack, Introduction to the Talinud and Midrash (New York: Meridian
Books, 1969), pp. 93-94.
É muito mais certo
Que Deus ouça minha oração,
Do que eu estar realmente desejando
Aquilo pelo qual estou orando340.
O irmão que pediu a Jesus para intervir parece ter ido, sozinho,
até Jesus. Não temos indícios de que o irmão mais velho tenha
concordado em ter uma terceira pessoa avaliando a situação. Nada é
revelado, também, a respeito dos pormenores da reclamação. O que fica
evidente é que a pessoa que se dirigiu a Jesus queria usá-lo como
advogado, juiz e árbitro. Resumindo, queria empregá-lo como se
36.2-10; Dt 21.15-17.
343 Êx 2.14; At 7.27,35. O Evangelho de Tomé, Citação 72, apenas descreve Jesus
como um repartidor: ―Um homem disse a ele: Fala com meus irmãos para que dividam
comigo os bens de meu pai. Ele disse: Homem, quem me pôs como repartidor? Ele se
voltou a seus discípulos e lhes disse: Não sou um repartidor, sou?‖
emprega um servo. Deixou de ver Jesus como um mestre. Porque os
rabinos conheciam a Lei, e serviam duplamente como mestres e
advogados, o irmão, simplesmente, não conseguiu ver a diferença.
A Parábola
344 Cl 3.5.
345 1 Co 6.9,10. J. D. M. Derrett, ―The Rich Fool: A Parable of Jesus concerning
Inheritance‖. Studies in lhe New Testament (Lciden: Brili, 1978), 2:103.
346 Compare-se a parábola à história de Nabal que, com palavras e atos, mostrou-se
e propósito, do relato canônico: ―Jesus disse: havia um homem rico que possuía
muitos bens. Ele disse: usarei meus bens para semear e colher e plantar e encher
meus celeiros com frutos, para que nada me falte. Assim pensava consigo. E, naquela
noite, morreu. Quem tem ouvidos, ouça‖.
352 Derrett, ―The Rich Fool‖, p. 114.
Conclusão
353Sl 24.1.
354O contexto geral aponta, obviamente, para o ensinamento do Sermão da Montanha.
Portanto, a parábola pode ser vista como uma elaboração da instrução de Jesus para
que não armazenemos tesouros na terra, e, sim, nos céus (Mt 6. 19,20).
28. A Figueira Estéril
360 A parábola pode ser vista como simbolicamente cumprida na maldição lançada à
figueira (Mt 21.18,19; Mc 11.12-14). É muito marcante que apenas Lucas tenha
registrado a parábola da figueira estéril e que dos evangelistas sinóticos ele seja o
único que não registra o fato de Jesus ter amaldiçoado a figueira.
361 J. Murray, The Epistle to the Romans (Grand Rapids: Eerdmans, 1965), 2:47.
29. Os Primeiros Lugares
362SB, II:202.
363 A. Edersheim, The Life and Times of Jesus the Messiah (Grand Rapids,
Eerdmans, 1953) 2:207. Veja-se, também, Morris, Luke, p. 231. Plummer, SI. Luke, p.
356; SB, IV: 2.618.
cabeceira da mesa era o segundo em prioridade, e, depois, o divã da
direita. Conseqüentemente, os hóspedes judeus se orientavam pela
etiqueta social da época para encontrar o lugar certo à mesa. No
entanto, se a escolha de lugares ficasse a critério dos convidados,
muitos demonstravam seu egoísmo, preconceito e orgulho. Foi
exatamente isso que aconteceu, naquele dia, na casa do fariseu que
tinha convidado Jesus. Os fariseus e os doutores da lei tinham criado
um clima de soberba e arrogância desprovido de amor e humildade.
Nessas circunstâncias, Jesus ensinou uma lição de autodepreciação.
O Exemplo
Lucas 14.15-24 ―Ora, ouvindo tais palavras, um dos que estavam com
ele à mesa, disse-lhe: Bem-aventurado aquele que comer pão no reino
de Deus. Ele, porém, respondeu: Certo homem deu uma grande ceia e
convidou muitos. À hora da ceia, enviou o seu servo para avisar aos
convidados: Vinde, porque tudo já está preparado. Não obstante, todos,
à uma, começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um campo
e preciso ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por escusado. Outro disse:
Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me
tenhas por escusado. E outro disse: Casei-me e, por isso, não posso ir.
Voltando o servo, tudo contou ao seu senhor. Então, irado, o dono da
casa disse ao seu servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e
traze para aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. Depois, lhe
disse o servo: Senhor, feito está como mandaste, e ainda há lugar.
Respondeu-lhe o senhor: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga a todos
a entrar, para que fique cheia a minha casa. Porque vos declaro que
nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia‖.
A História
367A prática de enviar servos para chamar os convidados era muito comum nos
tempos antigos. Ester 6.14 e SB, 1:880.
O servo procurou o segundo convidado, e chamou-o para a ceia,
pois o anfitrião estava à espera: ―Vinde, porque tudo já está preparado‖.
O homem pareceu perplexo, ao ouvir o convite. Estava tratando de
negócios. Tinha acabado de pagar uma quantia razoável por cinco
juntas de bois e se preparava para experimentá-las. Não podia sair, pois
os homens que conduziam os bois dependiam dele. Era o único que
podia tomar decisões. Era o chefe, ali. Sair de sua fazenda naquele
momento, para tomar parte em um banquete, seria muita
irresponsabilidade. Ele expressou profundo pesar e pediu ao servo que
levasse suas saudações ao anfitrião. Tinha certeza de que o outro
entenderia sua situação embaraçosa.
Interpretação
Colocação
Aplicação
coletor dc impostos que, tendo-se tornado rico, tenha enviado convites com a
esperança de ser aceito nos mais altos círculos.‖ Ele se baseia na convicção de que
Jesus tenha usado uma história corrente, naqueles dias, de um rico publicano, Bar
Ma‘Jan, registrada no Talmud Palestino (1. Sanh. 6-23c par. 1. Hagh 2.77d). É
discutível, no entanto, se a parábola copia a história. Linnemann, Parables, pp. 160-
62; F. Hahn, ―Das Gleichnis von der Einladung Zum Festmahl, ―Verborum Veritas‖,
lógico ver menosprezo deliberado no fato de que todos os convidados —
e não temos que nos ater a apenas três exemplos — se recusaram a ir.
Ainda que não tenham combinado ente si, o efeito foi o mesmo. Os
convidados refletiam a atitude da hierarquia religiosa.
Lucas 14.28-33 ―Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não
se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios
para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não
a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este
homem começou a construir e não pôde acabar. Ou qual é o rei que,
indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se
com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte
mil? Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma
embaixada, pedindo condições de paz. Assim, pois, todo aquele que
dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu
discípulo‖.
As Duas Parábolas
Conclusão
385 Smith, Parables, p. 220, raciocina que, por causa da referência ao custo do
alicerce, algo de maior valor que o simples erguimento de uma torre de vigia, em uma
vinha, deve ser levado em conta, talvez, uma construção rural‖.
386 O Evangelho de Tomé, Citação 98, tem um interessante paralelo à parábola do rei
guerreiro: ―Jesus disse: O reino do Pai é semelhante a um homem que queria matar
um outro homem poderoso. Ele sacou sua espada dentro de sua casa e golpeou com
ela a parede, até saber que sua mão tinha força suficiente. Então, matou o homem
poderoso‖.
mensagem do evangelho de Cristo, de fazer discípulos de todas as
nações (Mt 28.19). Depois de refletir, no entanto, ninguém pode dizer
que as parábolas pretendam desencorajar possíveis discípulos. Em
conjunto, os dois exemplos usados por Jesus mostraram-lhes como se
tornar verdadeiros discípulos. Jesus não quer e nem precisa de
seguidores cujos corações não estejam totalmente comprometidos. Tais
seguidores são como as sementes que caem nos lugares rochosos.
Ouvem a Palavra e a recebem imediatamente, com alegria. Mas, porque
não têm raiz, não permanecem. Quando vem a dificuldade e a
perseguição, por causa da Palavra, desistem (Mt 13.20,21).
Três vezes Jesus repete o refrão: ―não pode ser meu discípulo‖ (Lc
14.26,27,33). Com toda a certeza, apenas aqueles que avaliaram o custo
e estão dispostos a renunciar a tudo por causa de Cristo são
verdadeiramente seus discípulos.
P. G. Jarvis, ―Expouding the Parahles. V. The Tower-builder and the King going to
387
Lucas 15.4-7 ―Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas
e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em
busca da que se perdeu, até encontrá-la? Achando-a, põe-na sobre os
ombros, cheio de júbilo. E, indo para casa, reúne os amigos e vizinhos,
dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha
perdida. Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um
pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não
necessitam de arrependimento‖.
388 Marshall, Luke, p. 600‘; Plummer, St. Luke, p. 368. Para um estudo mais
detalhado, consulte-se J. Jeremias, ―Tradition und Redaktion in Lukas 15‖, ZNW 62
(1971): 172-89.
389 E. F. F. Bishop, ―The Parable of the Lost or Wandenng Sheep‖, ATR 44 (1962): 50.
390 M. Black. Ais Aramalc Approach lo lhe Gospels and Acts, 3rd cd. (Oxford;
Clarendon Press, 1967), p. 133, sugere que a palavra montes pode ter recebido a
apenas que o pastor deixou as noventa e nove ovelhas, não menciona
que as deixou desprotegidas391. Além do mais, o objetivo da parábola
não são as noventa e nove, e, sim, aquela que se perdeu. As ovelhas são
animais gregários; vivem juntas em grupo. Quando uma ovelha se
separa do rebanho, fica desnorteada392. Deita no chão, imóvel,
esperando pelo pastor. Quando ele, afinal, a encontra, coloca-a sobre os
ombros, para caminhar de volta, mais depressa, até onde deixou o
rebanho393. Logo o pastor, a ovelha e o rebanho estão todos juntos outra
vez.
Este poderia ter sido o final da história, mas não foi. A história
cresce em emoção no seu clímax com a alegria que toma conta do
pastor. Jesus diz: ―... em verdade vos digo que maior prazer sentirá por
causa desta, do que pelas noventa e nove, que não se extraviaram‖ (Mt
18.13). Para ser verdadeira a felicidade precisa ser compartilhada. O
pastor vai para casa, chama seus amigos e vizinhos e os convida a se
alegrarem com ele, porque, diz o pastor: ―... já achei a minha ovelha
perdida‖ (Lc 15.6). A tensão que o pastor sentira enquanto procurava a
ovelha extraviada tinha desaparecido, dando lugar à alegria394. Ele
comemora com seus amigos e vizinhos.
Aplicação
pastor com uma ovelha ao redor do pescoço, segurando suas patas dianteiras e
traseiras com cada uma das mãos. Veja-se também SB, 11:209.
394 O Evangelho de Tomé, Citação 107, mostra uma tendência gnóstica na parábola,
acentuando o amor do pastor pela ovelha, por causa de seu tamanho: ―Disse Jesus: o
reino é como um pastor que possuía cem ovelhas. Uma delas se extraviou; era a maior
delas. Ele deixou as noventa e nove e procurou aquela até encontrá-la. Após o esforço,
disse à ovelha: ―Eu te quero mais que às noventa e nove‖.
conta a demonstração visual feita por Jesus, colocando uma delas no
círculo dos discípulos, ―estes pequeninos‖ passam a ter conotação
espiritual. Jesus está se referindo àqueles cuja fé mantém a
simplicidade das crianças395. Como um pastor vigia suas ovelhas, e até
mesmo sai à procura daquela que se extravia, assim Deus cuida
daqueles que acreditam nele, especialmente as ainda crianças na fé396.
Se algum se extraviar, Deus irá a busca dele porque não quer ―que
pereça um só destes pequeninos‖.
pecador, como era entendida pela hierarquia judaica. (a) O pecador é ―um homem que
vive em oposição, consciente ou intencionalmente, à vontade divina (Torá),
diferentemente do justo que faz da submissão a esta vontade sua alegria de viver‖. E
(b) é o homem ―que não se sujeita aos rituais farisaicos‖.
398 As regras religiosas daquele século e do século seguinte falam mais sobre a alegria
Lucas 15.8-10 ―Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder
uma, não acende a candeia, varre a casa e a procura diligentemente até
encontrá-la? E, tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo:
Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido. Eu vos
afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um
pecador que se arrepende‖.
134.
402 J. Wilkinson, Jerusalem as Jesus Knew it (London: Thomas and Hudson, 1978),
p. 28, comenta sobre escavações em Nazaré, onde se encontram casas que foram,
muitas vezes, guardados dentro de casa, embora numa parte separada
da habitada pela família403. Na casa eram, ainda, guardadas as
provisões.
provavelmente, visitadas por Jesus. Ele diz: ―O chão era desnivelado, feito de grandes
pedaços de basalto com consideráveis fendas entre eles. Mesmo com a luz do sol,
podemos imaginar a mulher da parábola de Lucas 15.18, procurando sua moeda
perdida, especialmente num cômodo de chão e paredes de pedra, e pequenas janelas.
Não é de admirar que ela tenha usado uma candeia‖.
403 Dalman, Arbeit und Sitte, VII:111-12.
404 A. F. Walls, ―In lhe Presence of the Angels (Luke XV. 10), NovT 3(1959): 316; SB,
11:212.
rejubilando com os ―anjos de Deus por um pecador que se arrepende‖.
34. O Filho Pródigo
As Circunstâncias
405 Jeremias, Parables, p. 128, afirma que a parábola não ~ uma alegoria, ―mas uma
história tirada da vida.‖ Veja-se, também, Linnemann, Parables, p. 74, e Mánek,
Frucht, p. 103. Hunter, Parables p. 59, discorda porque ―o pai e seus dois filhos... são
uma representação diretamente significativa‖.
406 G. Quell, TDNT, V:972-74; e 6. Schrenk, TDNT, V:978.
407 Uma parábola remotamente semelhante à do filho pródigo vem do Rabino Meir:
―Isto é semelhante ao filho de um rei que tomou o caminho do mal. O rei enviou um
tutor para lhe fazer apelos, dizendo: ‗Arrepende-te, meu filho.‘ O filho, no entanto, o
mandou de volta a seu pai com a mensagem: ‗Como posso ter a desfaçatez de voltar?
Estou envergonhado diante de ti.‘ Então seu pai lhe mandou dizer: ‗Meu filho, como
pode um filho, jamais, se envergonhar de voltar para seu pai? E não é para teu pai que
estarás retornando‖. The Midrash, Deuteronomy (London: n.p., 1961), p. 53.
Consulte-se, também, em F. W. Danker, Jesus and lhe New Age (St. Louis, Clayton
Pub. House, 1972), p. 170, o texto de uma carta em papiro que contém o apelo de um
filho desviado, pedindo perdão a sua mãe.
408 Sair de Israel e fazer parte da diáspora era muito comum. Tem sido ensinado que
havia cerca de oito vezes mais judeus (quatro milhões) que viviam em dispersão, do
que em Israel (meio milhão). Jercmias, Parables, p. 129.
posição na vida — ele e o irmão, um dia, herdariam a fazenda toda.
Eventualmente, o filho tomaria conta da fazenda, dos servos e dos
trabalhadores contratados. Em vez disso, o pai esperou que o filho
tomasse sua própria decisão.
O filho mais novo recebeu sua parte e ajuntou ―tudo o que era seu
Estava agora por conta própria e livre para ir. Pensava: ―Tenho dinheiro,
vou viajar‖. Poderia ir para a Babilônia, ao leste; à Ásia Menor, ao norte;
à Grécia e à Itália, ao oeste; ou ao Egito e África, ao sul. Tinha o mundo
à sua disposição. Diversos fatores influíram profundamente no futuro
do filho mais jovem. Seu idealismo juvenil, sua inexperiência e falta de
discrição, sua saída da fazenda para a cidade, o dinheiro à mão — tudo
teve um papel importante. Sua intenção de viver por sua própria conta
logo se frustrou, quando foi cercado por falsos amigos. Princípios de
vida e conduta, aprendidos em casa, foram postos de lado e esquecidos.
Foi descuidado e perdulário411.A reprovação do irmão mais velho —
―esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes‖ — não
é mera acusação. Baseava-se em informações que a família recebia, de
tempos em tempos, de como o caçula passava seus dias
dissolutamente. A desobediência às leis da economia e da moral não
podia continuar. Ele teve que pagar um preço pela vida desregrada. Em
relativamente pouco tempo, gastou tudo. Chegou ao fim da linha.
409 Para um estudo mais detalhado, consulte-se Derrett, Law in the New Testament,
p. 107.
410 O pai deve ter seguido o costume daqueles dias, como encontramos em Eclesiástico
33.22,23: ―Em todas as tuas obras conserva a tua superioridade. Não manches a tua
reputação. Deixa seguir o curso da tua vida e, no tempo da tua morte, reparte a tua
herança‖ (NEB).
411 W. Foerster, TDNT, 1:507.
arredores da cidade procurando serviço, mas tudo que pôde achar foi a
tarefa humilde de alimentar porcos. Ele tinha chegado agora à
degradação mais profunda, pois desde a infância aprendera, como
qualquer judeu, que o porco é um animal imundo (Lv 11.7)412. Era
agora empregado de um gentio e teve que abandonar o hábito de
guardar o Sábado. Nessa triste situação, estava alijado da religião de
seus pais espirituais413.9 Ele estava desesperado. Seu empregador o
fazia sentir que aqueles porcos tinham mais valor para ele que um
simples empregado. Sentia falta de amizade e consideração, mas
ninguém se importava com ele. Por causa da escassez de comida, sua
alimentação diária não era suficiente para acalmar suas dores de fome.
Queria até mesmo comer da comida dada aos porcos, as vagens da
alfarrobeira414.
Ele sabia que o amor de seu pai se estendia a todos aqueles que
pertenciam ao amplo círculo de sua família. Sabia, também, que tinha
desobedecido ao mandamento: ―Honra a teu pai e a tua mãe, para que
se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te dá‖ (Ex
412 Os judeus estavam estritamente proibidos de criar porcos. ―Não é permitido criar
porcos, onde quer que seja‖; ―Amaldiçoado seja o homem que criar porcos‖. Baba
Kamma 82b, Nezikin I, The Babylonian Talmud, pp. 469,70.
413 Jeremias, Parables, p. 129, comenta que o homem foi ―praticamente forçado a
e para os porcos e, às vezes, são comidas pelos pobres. Não há necessidade de dizer,
como alguns estudiosos fazem, que o jovem roubava as vagens para satisfazer sua
fome. A máxima universal: ―Não atarás a boca do boi, quando debulha‖ (Dt 25.4), pode
ser, certamente, aplicada.
20.12)415. Ele tinha pecado contra Deus.
O Pai
à família de seu senhor e que gozava de inúmeros privilégios; depois a classe inferior
de criados e criadas (veja-se Lc 12.45); e, terceiro, os trabalhadores temporários.
Consulte-se Oesterley, Parables, pp. 185,86.
418 Michaelis, Gleichnisse, p. 138, pensa que o pai estava orgulhoso porque o filho
419 Schippers, Gelijkenissen, p. 170; H. Thielicke, The Waiting Father (New York:
Harper, 1959), p. 28; Mánek, Frucht, p. 101.
420 No relato sobre Davi saudando Absalão no palácio real, o beijo paternal significava
―Porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi
achado‖. O pai se referia ao fato de que o filho, deixando de ter parte na
herança da família, e dando por acabada sua obrigação moral e material
para com o pai, tinha-se desligado, voluntariamente, de casa. Na
prática, o filho estava morto424. Na verdade ele não tinha mais nada a
reclamar sobre a propriedade, quando o pai morresse. ―Este meu filho
estava morto e reviveu‖, disse o pai.
O pai não era pai apenas do filho mais novo; era pai, também, do
filho mais velho. Seu primogênito tinha sido um filho leal, com interesse
pessoal na fazenda. Naturalmente, o filho sabia que era o herdeiro. Ele
estava fora, no campo, enquanto todos celebravam a volta de seu irmão.
Ele servia bem a seu pai, e seu pai aprovava o zelo do filho. Mas, como
pai, conhecia também as manifestações de inveja, e sabia que a atitude
do filho mais velho, em relação ao caçula, estava influenciada por ela.
Não nos é contado por que razão o irmão mais velho foi o último, a
saber, da volta do caçula427. Pode ter sido porque naquele dia ele tinha
ido inspecionar a parte distante da casa, e, por isso, tenha voltado mais
tarde, naquela noite. Ao chegar, ouviu a música e as danças e
39-41.
426 Entre Outros, J. T. Sanders, em ―Tradition and Redaction in Lk XVG: 11-32, NTS
indício de que o filho não convivia bem com o pai e permanecesse longe de casa?
perguntou a um dos servos o ―que era aquilo‖. Em segundos ficou
sabendo que o irmão mais moço tinha voltado e que o pai mandara
matar o novilho cevado, porque recebera de volta o filho, são e salvo.
O filho mais velho simplesmente não podia entender por que seu
pai estava tão feliz com a volta daquele filho inútil428. Ninguém, nunca,
antes, expressara alegria e felicidade por causa do primogênito;
ninguém, nunca, fizera uma festa para aquele que ficara em casa e que
servia ao pai. O filho mais velho se recusou a entrar em casa. Não tinha
nada para tratar com seu sermão irresponsável, que, ao voltar para
casa, recebia a atenção de todos.
Tanto o mais velho quanto o mais novo eram seus filhos, e o pai
se dirigiu ao mais velho com a mesma ternura com que se dirigira ao
caçula. Disse o pai: ―Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que e
meu é teu430‖. O pai ensinou-lhe o que significa ser filho: estar sempre
na presença do pai, como herdeiro. Mais ainda mostrou-lhe as relações
familiares de pai para filho e de irmão para irmão. Ele estava dizendo:
Porque és meu filho, eu sou teu pai; e porque o pródigo é meu filho, ele é
teu irmão431. Como uma família, disse o pai, ―era preciso que nos
regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto
filho). A Nova Bíblia Inglesa emprega o sentido de teknon na tradução, ―my boy‖ (
=meu menino).
431 Schippers, Gelijkenissen, p. 178.
e reviveu, estava perdido e foi achado432‖. A questão do relacionamento
entre os filhos estava proposta. O filho mais velho, que fielmente tinha
servido o pai, na fazenda da família, aceitaria ficar ao lado do pai
quando este celebrava a volta do mais jovem?
Aplicação
Jesus retratou o amor do pai pelo filho para deixar bastante claro
que o amor de Deus é infinito. Seus ouvintes reconheceram Deus, na
pessoa do pai. Sabiam que o pecado é sempre primeiro contra Deus e
depois contra o semelhante. Como Deus perdoa um pecador e depois o
reintegra como membro da sua família? A atitude do pai, na parábola,
representa o perdão amoroso de Deus oferecido ao pecador que se
arrepende. Como o pai disse aos servos: ―Comamos e regozijemo-nos‖,
432Celebrar a volta do filho pródigo ―era uma obrigação que o filho mais velho não quis
reconhecer.‖ Plummer, St. Luke, p. 379. Jeremias, Parables, p. 131, percebe um tom
de reprovação na voz do pai, quando diz a seu filho: ―Devias te alegrar e festejar, pois é
o teu irmão que voltou para casa‖.
assim Deus se alegra com seus anjos por um pecador que se arrepende.
Como nas parábolas da ovelha e da dracma perdidas, todos os amigos e
vizinhos se reúnem para festejar, também na parábola do filho pródigo,
o filho mais velho é convidado a festejar e a alegrar-se.
A História
Jesus contou uma história que poderia muito bem acontecer nos
dias de hoje. Fala de um homem rico que escolheu um administrador
para os seus negócios. Ele tinha inteira confiança no escolhido, mas
quando soube que ele estava dissipando seus bens, chamou-o e disse-
lhe para apresentar seus livros e prestar contas de sua administração,
pois estava despedido. Poderia procurar outro emprego.
445 SB, 11:218, faz esse cálculo baseando-se em Josephus, Antiquities 8.57. Jeremias,
Parables, p. 181, arredonda para 800 galões, quantia adotada pelos tradutores do MV.
446 Dalman, Arbeit und Sitte, IV: 192.
447 Dalman, Arbeit und Sitte, 111:155,159. Veja-se, também, Jeremias, Parables, p.
(1968): 617-19.
449 Derrett, Law, p. 73.
atiladamente‖. A palavra infiel não pode ser aplicada à atitude do
administrador em relação aos devedores, porque, então, a sentença
―porque se houvera atiladamente‖ seria contraditória450. Ela se refere à
vida anterior do administrador quando ele esbanjava os bens de seu
senhor. A caracterização é a mesma daquela usada para o juiz que, com
o correr do tempo, tinha estabelecido a reputação de ser injusto.
Quando julgou a causa da viúva, com certeza não lhe fez injustiça451.
Do mesmo modo, o administrador, por sua prévia carreira de negócios
escusos, é chamado de desonesto, mesmo que as instruções que mais
tarde deu aos devedores fossem honradas e louváveis, aos olhos do
público. O senhor não podia ir aos devedores e aplicar as taxas de
usura que anteriormente o administrador tinha combinado, pois, então
agiria como um agiota e poderia ser levado aos tribunais. O senhor
elogiou o servo por sua esperteza.
Aplicação
450 H. Drexler, ―Zu Lukas 16.1-7‖, ZNW 58(1967): 286-288, sustenta que porque o
senhor fora injusto com o administrador, pedindo-lhe contas e o despedindo, este se
vingou chamando os devedores.
451 O artigo definido e o substantivo grego (tes adikias), traduzidos adjetivalmente em
modo, o significado da passagem. A NEB traduz Lucas 16.9 quase do mesmo modo
que a NIV: ―Eu vos digo: Usai vossas riquezas materiais para fazer amigos para vós
mesmos, de modo que, quando o dinheiro for coisa do passado, possais ser recebidos
no lar eterno‖.
lhes for confiada por Deus454. Jesus repetiu essa verdade quando disse:
―Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra... mas ajuntai
para vós outros tesouros no céu‖ (Mt 6.19,20). O que Jesus ensinou tem
raízes, de muitas formas e maneiras, nos ensinamentos do Velho
Testamento. Davi, na presença do povo de Deus, orou: ―Porque quem
sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos dar
voluntariamente estas coisas? Porque tudo vem de ti, e das tuas mãos
to damos‖ (1 Cr 29.14). Por intermédio da parábola do administrador
infiel, Jesus aconselha os seus seguidores a dar de seu dinheiro tanto
quanto possível para que possam receber aprovação de Deus e serem
bem-vindos à sua casa, para ali viverem eternamente455.
mamom da injustiça, deve ser contrastada com as riquezas celestiais. Marshall, Luke,
p. 621.
36. O Rico e Lázaro
Lucas 16.19-31 ―Ora, havia certo homem rico que se vestia de púrpura
e de linho finíssimo e que, todos os dias, se regalava esplendidamente.
Havia também certo mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, que
jazia à porta daquele; e desejava alimentar-se das migalhas que caíam
da mesa do rico; e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu
morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão;
morreu também o rico e foi sepultado. No inferno, estando em
tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu
seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E
manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a
língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão:
Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro
igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em
tormentos. E, além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e
vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não
podem, nem os de lá passar para nós. Então, replicou: Pai, eu te
imploro que o mandes à minha casa paterna, porque tenho cinco
irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de não virem também para
este lugar de tormento. Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os
Profetas; ouçam-nos. Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém
dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão. Abraão, porém, lhe
respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se
deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos‖.
Aqui e Agora
457Antes dos dias de Jesus, uma história popular egípcia descrevia um rico vestido de
fino linho e um pobre numa esteira de palha, cujos papéis se invertiam após a morte.
Veja F. L. Griffith, Stories of the High Priests of Memphis (Oxford: n.p. 1900), e H.
rico se vestia de púrpura, ornamento de reis458, suas roupas eram de
linho finíssimo, vindo do Egito. Dia após dia, ele gastava seu tempo em
banquetes porque não tinham nada para fazer. Passava sua vida em
festas. Apesar de toda a sua riqueza, o nome do homem não é
conhecido459. Tudo que sabemos é que tinha cinco irmãos que, como ele
mesmo, mostravam habitual menosprezo pela Palavra de Deus revelada.
Gresssmann, Vom relchen Man und armen Lazarus (Berlin: n.p. 1918). Esse conto
popular foi trazido a Israel pelos judeus de Alexandria. Alterado, tornou-se parte do
folclore judaico. Na história modificada, um rico coletor de impostos chamado Bar
Ma‘jan e um pobre mestre da lei foram sepultados. Após a morte, o mestre da lei
passeava ao longo dos riachos do paraíso, enquanto o coletor de impostos, mesmo
junto das águas, era incapaz de alcançá-las para mitigar sua sede. G. Dalman
Aramaische Dialektproben (Leipzig: Deichert, 1927), pp. 33-34.
458 A tinta púrpura era obtida do caramujo púrpura. SB, 11:220.
459 O nome Dives é o adjetivo latino para a palavra rico, em todas as versões latinas.
Ao rico têm sido dados nomes como Amonofis, Finees, Finaeus, Nineue, e Neves, em
vários manuscritos. H. J. Cadbuiy ―A Proper Name for Dives‖, JBL 81, (1962):339-402;
H. J. Cadbuty, ―The Name of Dives‖, JBL 84 (1965): 73; K. Grobel, ―... Whose Name
was Neves‖, NTS 10 (1963-64):373-82.
460 Os hóspedes, à mesa de um rico, usavam pedaços de pão para limpar a gordura de
entre os dedos. Esses pedaços não deviam ser colocados no prato da carne ou do
molho e não eram comidos pelos convidados. Era costume jogá-los para debaixo da
mesa. Oesterley, Parables, p. 205; Jeremias, Parables, p. 184.
461 Recentemente, alguns estudiosos têm procurado explicar o nome Lázaro. Consulte-
Então e Além
462 O termo holpos (= ―seio‖) pode ser entendido como uma expressão oriental
significando recostar-se ou reclinar-se em uma festa ou banquete (Jo 13.23). Pode,
também, descrever amizade íntima (Jo 1.18). Veja-se,T. W. Manson, The Sayings of
Jesus (L.ondon: SCM Press, 1950), p. 299; SB, 11:225-27.
463 Michaelis, Gleichnisse, p. 217.
464 A sede e a dor eram o quinhão daqueles condenados a morrerem separados de
humanos e suas funções, embora tanto o corpo de Lázaro como o do homem rico
estivessem sepultados na terra.
reclamo de herança espiritual466. Durante sua vida, ele mesmo rompera
os laços espirituais com Abraão, ignorando as necessidades de seu
próximo. Em vez de amar o próximo como a si mesmo, vivera não para
este, nem para Deus, senão para si mesmo. Buscara sempre a
satisfação própria. Agora, no inferno, estava entregue a si mesmo.
466 Paulo, na Epístola aos Romanos, toca neste ponto, quando escreve: ―E não
pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são de
fato israelitas; nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos‖ (Rm
9.6,7).
467 O judeu se orgulhava do fato de ser descendente de Abraão — Mt 3.8,9 e Jo 8.33-
39. Um judeu excomungado não chamaria Abraão de pai. O judeu, com boas obras a
seu crédito, pertencia ao povo do pacto de Israel e podia chamar Abraão de pai. Veja-
se Oesterley, Parables, p. 208.
468 Fica evidente, pelas muitas referências ao fogo do inferno, nos Evangelhos, que
sonho ou visão, aos irmãos do rico. Entretanto, se este fosse o caso, o próprio homem
rico poderia fazer isso com muito mais eficácia.
aos cinco irmãos do homem rico. Não permitiu nada que vislumbrasse o
oculto. A revelação de Deus fora dada e era suficiente para a salvação.
Abraão disse ao rico que seus parentes tinham acesso aos cinco livros
de Moisés, e aos livros dos profetas. Isto é, tinham as Escrituras do
Velho Testamento. ―Ouçam-nos‖.
O rico sabia que seu pai e seus irmãos não levavam a sério as
Escrituras. Seus cinco irmãos solteiros viviam ainda na casa do pai (o
número cinco é arbitrário) e viviam uma vida semelhante à que ele
levara na terra. Não eram as riquezas que eles desfrutavam que o
preocupavam472, e, sim, o seu menosprezo para com as Escrituras.
Chamou Abraão de ―pai‖ pela terceira vez, assegurando-lhe que seu pai
e seus irmãos se arrependeriam se alguém de entre os mortos
ressuscitasse e fosse ter com eles. Não pediu mais que Lázaro fosse
enviado. Qualquer um poderia fazê-lo.
Aplicação
472 A dedução não é que um crente deva viver na pobreza para entrar nos céus.
Abraão, durante sua vida na terra, era considerado rico. O ponto em questão é a
relação com Deus e com o próximo. Mánek, Frucht, p. 108.
473 Plummer, St. Luke, p. 397.
474 Dunkerley, ―Lazarus‖, p. 322.
contou a parábola do rico e Lázaro475. Os fariseus eram, provavelmente,
os que ouviam a parábola. O contexto imediato mostra que, porque
amavam o dinheiro, ridicularizavam Jesus (Lc 16.14). Também porque
se justificavam a si mesmos diante dos homens, como Jesus afirmou
(Lc 16.15). Deus, no entanto, conhecia seus corações. Jesus via a
contradição que havia em suas vidas e contou a história de um homem
que amava o dinheiro, vivia no luxo, e pensava que o fato de ser
descendente de Abraão lhe garantiria a salvação. O conteúdo da
parábola está ligado ao comentário dirigido aos fariseus a respeito de
vícios como o amor ao dinheiro e a autojustificação476.
475 Manson, Sayuings, pp. 296-301, e Hunter, Parables, p. 114, sugerem que a
parábola foi endereçada aos saduceus porque negavam a ressurreição. Esta seria, na
verdade, uma interpretação útil, se o contexto, direta ou indiretamente, se referisse a
eles.
476 Derrett, Law, p. 85, se refere à história de Dives e Lázaro como a ―parábola da
Os fariseus, mais que uma vez, haviam pedido a Jesus que lhes
desse um sinal dos céus479. Pediam isso com o propósito de testá-lo.
Provavelmente não teriam acreditado nele, mesmo que lhes
apresentasse um sinal sobrenatural. Agora, esses mesmos fariseus
ouviam o rico da parábola pedir a Abraão um sinal dos céus. Abraão
recusou. Ele disse: ―Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco se
deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.‖ No
pedido do rico, os fariseus ouviram o eco de suas próprias palavras. A
parábola era endereçada a eles480.
Conclusão
479
Mt 12.38; 16.1; Mc 8.11; Lc 11.16; Jo 6.30.
480
Schippers, Gelijkenissen, p. 161.
Em lugar algum as Escrituras ensinam que é pecado ser rico.
Repetidamente, no entanto, elas advertem o povo de Deus que riquezas
podem ser cilada e tentação que ―afogam os homens na ruína e
perdição‖ (1 Tm 6.9). Quando o homem coloca Deus e seu próximo
necessitado em um plano secundário, e trata as Escrituras com
desprezo intencional, sua resposta responsável ao chamado para o
arrependimento pode não acontecer jamais481.
481O Glombiiza, ―Der reiche Mann und der arme L.arzan,s. Luk. XVI 19-31. Zur Frage
nach der Llotschaft des Texts‖, NovT 12(1970):173.
37. O Fazendeiro e o Servo
O que Jesus está dizendo com esta parábola? Ele quer que seus
seguidores entendam o que significa ser servo. Seus próprios discípulos,
que viviam num clima religioso de méritos e demérito, perguntaram,
482O adjetivo ―inúteis‖ na sentença ―somos servos inúteis‖, não tem o sentido de
imprestável ou sem serventia. E mais uma expressão de modéstia no sentido de falta
de merecimento. ―Somos servos, e não merecemos elogios‖ (NEB).
mais de uma vez, qual deles seria o maior no reino dos céus483. Jesus
teve que ensinar: ―Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo
de todos‖ (Mc 9.35). Ele mesmo deu o exemplo, quando lavou os pés dos
discípulos (Jo 13.1- 17) e, depois de instituir a Santa Ceia, instruiu-os a
agir como servos: ―... o maior entre vós seja como o menor; e aquele que
dirige seja como o que serve. Pois qual é maior: quem está à mesa, ou
quem serve? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve‖ (Lc
22.26,27)484.
A Viúva e o Juiz
judaicos. Paulo revela que na igreja primitiva esta mesma regra devia ser seguida (1
Co 5.12 — 6.8). Muitas vezes, o povo procurava juízes gentios ―se por esse intermédio,
apelando para algum argumento político ou fiscal, pudessem ter frustrados os direitos
de seus oponentes ou pudessem forçá-los a fazer o que a lei ordinária deixara de
fazer‖. DerretI, ―L.aw in lhe New Testament‖, p. 184. Consulte-se, também, Smith,
Parables, p. 149.
490 Porque os casamentos eram contratados quando a moça tinha catorze ou quinze
anos, uma viúva podia ser bem jovem. Consulte-se SB, II: 374; Jeremias, Parables, p.
153.
491 Derrett, ―Law in the New Testament‖, p. 187, Schrenk, TDNT, II: 443.
492
As traduções da palavra grega hypopiaze variam, e vão de um insulto ao
cometimento de um ato de violência — ―acertar um soco no olho‖. Derrett, ―Law to the
New Testament‖, p. 191, interpreta a palavra, como significando ―perda de prestígio‖.
estava acontecendo é que a persistência dela fazia aflorar o seu lado
bom. Em lugar de ir embora, quieta, que era o que ele esperava, ela
voltava, sempre, com o mesmo pedido. O juiz não podia suportar mais a
insistência da mulher. Ele cede, investiga o caso e aplica a justiça.
Aplicação
Jesus diz: ―Considerai no que diz este juiz iníquo493‖. Ele quer que
os discípulos prestem atenção às palavras do juiz. Elas são importantes
para a compreensão correta da parábola. Como fez na parábola do
amigo que veio à meia-noite, Jesus usa a regra dos contrastes. Ele
contrasta o pior que há no homem com o melhor que há em Deus:
―Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus justiça aos seus
escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em
defendê-los?‖ Em outras palavras, ninguém deve imaginar Deus como
uma divindade inabalável que se compara ao juiz da parábola. O
sentido é que se esse juiz grosseiro e mal humorado, que, segundo suas
próprias palavras, não teme a Deus nem aos homens, se comove com os
pedidos da viúva, quanto mais fará Deus justiça a seu próprio povo que
ora a ele, de dia e de noite?
É, portanto, comparável à palavra anaideia, de Lá 11.8, que pode ter o sentido de ―não
ser alvo de reprovação; manter a aparência‖. Veja-se D. R. Catchpole, ‗The Son of
Man‘s Search for Faith (Luke XVIII 8b)‖ NovT l9 (1977):89. 1 Co 9.27 é o outro lugar,
no Novo Testamento, onde a palavra hypopiaze é usada.
493 A expressão ―juiz iníquo‖ define o contraste entre a injustiça personificada pelo juiz
terreno e Deus que ouve seus eleitos. Veja-se G. Delling, ―Das Gleichnis voo gottlosen
Richter‖, ZNW 53 (1962):14.
494 Delling, ―Gleichnis‖, p. 15.
495 A linguagem da parábola é reminiscência de Eclesiástico 35.12-20, que faIa sobre a
justiça de Deus. ―Porque o Senhor é um juiz‖, diz Jesus Ben-Sirach. ―Ele jamais ignora
o apelo do órfão ou da viúva‖ (NEB).
Os filhos de Deus devem orar constantemente? A parábola ensina
que devem trazer sua causa diante de Deus, em oração contínua.
Devem orar sempre e não se tornarem ansiosos quando não obtêm uma
resposta imediata. Jesus ensina o poder da oração. Por palavras e
exemplos, ele demonstrou que os filhos de Deus devem orar dia e noite,
sem desanimar. Do mesmo modo, Paulo, em suas Epístolas,
repetidamente se refere ao fato de orar continuamente (dia e noite) e
com o máximo empenho, como, por exemplo, no seu desejo de estar
com a igreja em Tessalônica (1 Ts 3.10).
Se o povo de Deus clama a ele dia e noite, por que, às vezes, ele
demora a responder496? Jesus continua: ―Não fará Deus justiça aos seus
escolhidos... embora pareça demorado em defendê-los?‖ E a resposta
implícita desta pergunta de retórica é: Naturalmente que sim. Ele talvez
faça seu povo esperar, pode testar sua paciência, fortificar sua fé, mas,
no tempo próprio, Deus responderá às orações de seus eleitos497.
496 Muitos exegetas têm tentado uma explicação satisfatória para Lá 18.7b. A brusca
mudança do subjuntivo no v.7a, para o indicativo, em 7b, pode significar que o
versículo consiste de duas sentenças independentes. A última parte do v. 7 é
semelhante a Eclesiástico 25.19. Para interpretações deste versículo, veja-se H.
Riesenfeld, “Zu makrothumein (Lk 18.7) ―Neutestamentliche Aufsãtze, Festschrift
honoring J. Schmid (Regensburg: Pustet, 1963), pp. 214-17; H. Ljungvik, ―Zur
Erklãrung einer Lukas-Stelle (Luk. XVIII7)‖, NTS 10(1963-64): 289-94; A. Wifstrand,
―Lukas xviii:7‘, NTS 11(1964-65): 72-74: C. E. 13. Cranfield, ―The Parable of the
Unjust Judge and the Eschatology of Luke-Acts‖, Scot JT 16(1963): 297-301; e Jerem
ias, Parables, p. 154.
497 Plumer, St. Luke, p. 414, comenta que, embora o sentido exato não possa ser
juge inert aux decisions impromptues (Lc xviii 1-8)‖, RB 68(1961): 82-83.
Jesus conclui a aplicação da parábola chamando a atenção para
sua volta: ―Contudo, quando vier o Filho do homem achará porventura
fé na terra?‖ A pergunta, à primeira vista, parece não ter relação com o
que a precedeu. Mas, na última parte do capítulo anterior Lucas
registrou o ensino de Jesus sobre a vinda do Filho do homem, no último
dia500.
O Fariseu
Ele foi ao templo de Jerusalém para orar. Deve ter sido no meio
da manhã, às 9 horas, ou no meio da tarde, às 15 horas — horas
determinadas para a oração. Dirigiu-se ao pátio externo, onde podia ser
Filipenses, Paulo descreve sua vida passada, como fariseu: ‗Bem que eu poderia
confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu
ainda mais! Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim,
hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto
à justiça que há na lei, irrepreensível‖ (Fp 3.4.6).
visto e ouvido pelos homens, porque o pátio interno era acessível
apenas aos sacerdotes. Lá ele se postou e, olhando para os céus, orava
a respeito de si mesmo505. Sua oração estava centrado nele mesmo, e
pretendia que todos, ao seu redor, a ouvissem. Foi uma oração curta:
uma introdução, um elemento negativo e um elemento positivo.
505 Os manuscritos gregos diferem na ordem precisa das palavras pros heauton.
Estaria esta frase ligada à expressão verbal ―estar em pé‖ ou ao verbo ―orar‖? A
tradução pode ser ―de pé, separado por si mesmo, orava‖ ou ―posto em pé, orava para
si mesmo‖. Os tradutores da NIV escolheram a segunda forma, com uma modificação.
Entenderam a preposição pros no sentido de ―a respeito de‖, embora na nota de
rodapé traduzam como ―para‖. The Modern Language BibIe (New Berkekey) traduz:
―O fariseu pôs-se de pé e disse essa oração para si mesmo‖.
506 Lv 16.29-31; 23.27-32; Nm 29.7; Jr 36.6.
507 SB, 11:241-44; SB, IV:1, 77-114. J. Behm, TDNT, IV: 924-35.
508 SB, 11:244-46; Jeremias, Parables, p. 140. Deus disse ao fazendeiro: ―Certamente
darás os dízimos de todo fruto das tuas sementes, que ano após ano se recolher do
campo‖ (Dt 14.22).
A oração do fariseu não era de todo incomum. Uma prece
semelhante, registrada no Talmude e proferida originariamente pelo
rabino Nadhunya ben Ha Kana, por volta de 70 A.D., diz:
O Publicano
A dívida que o coletor de impostos tinha para com o povo que ele
Respostas
(1952): 68.
40. As Dez Minas
Lucas 19.11-27 ―Ouvindo eles estas coisas, Jesus propôs uma parábola,
visto estar perto de Jerusalém e lhes parecer que o reino de Deus havia
de manifestar-se imediatamente. Então, disse: Certo homem nobre
partiu para uma terra distante, com o fim de tomar posse de um reino e
voltar. Chamou dez servos seus, confiou-lhes dez minas e disse-lhes:
Negociai até que eu volte. Mas os seus concidadãos o odiavam e
enviaram após ele uma embaixada, dizendo: Não queremos que este
reine sobre nós. Quando ele voltou, depois de haver tomado posse do
reino, mandou chamar os servos a quem dera o dinheiro, a fim de saber
que negócio cada um teria conseguido. Compareceu o primeiro e disse:
Senhor, a tua mina rendeu dez. Respondeu-lhe o senhor: Muito bem,
servo bom; porque foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez
cidades. Veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco. A
este disse: Terás autoridade sobre cinco cidades. Veio, então, outro,
dizendo: Eis aqui, senhor, a tua mina, que eu guardei embrulhada num
lenço. Pois tive medo de ti, que és homem rigoroso; tiras o que não
puseste e ceifas o que não semeaste. Respondeu-lhe: Servo mau, por
tua própria boca te condenarei. Sabias que eu sou homem rigoroso, que
tiro o que não pus e ceifo o que não semeei; por que não puseste o meu
dinheiro no banco? E, então, na minha vinda, o receberia com juros. E
disse aos que o assistiam: Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem as dez.
Eles ponderaram: Senhor, ele já tem dez. Pois eu vos declaro: a todo o
que tem dar-se-lhe-á; mas ao que não tem, o que tem lhe será tirado.
Quanto, porém, a esses meus inimigos, que não quiseram que eu
reinasse sobre eles, trazei-os aqui e executai-os na minha presença‖.
A História
22.12.
523 Derrett, Law in the New Testament, p. 23, mostra que a cobrança de altas taxas
de juros não era incomum no mundo antigo. Como exemplo, se refere às taxas de
empréstimos cobradas por Catão, o Antigo.
diligência e sabedoria; chamou-o de ―bom‖ e o recompensou fazendo-o
responsável por dez cidades524. O segundo servo, após mostrar suas
cinco minas adicionais, recebeu proporcionalmente a mesma
recompensa. Foi colocado como responsável por cinco cidades. O
terceiro servo, ao devolver apenas a única mina que tinha recebido, foi
condenado.
524 Alguns estudiosos têm conjecturado se a palavra cidades entrou no texto por um
engano da palavra aramaica para talentos. Em aramaico, as duas expressões são
bastante semelhantes: cidades é kerakin e talentos é kakerin. E. Nestle sugere um
possível erro de leitura do texto, em um artigo publicado no Theologische
Literaturzeltung, nº 22, 1985. M. Black, Aramaic Approach, p. 2, defende a sugestão
de Nestle, embora Dalman, Words of Jesus, p. 67, tenha destacado que no paralelo de
Mt 25.21,23, os servos não recebem talentos, mas são colocados responsáveis por
muitas coisas. Lucas usa a palavra cidades para expressar o conceito geral de muitas
coisas. Além disso, um rei, tomando posse de seu reino, podia investir seus servos de
autoridade sobre cidades, o que não poderia (Mt 25) ser feito por um senhor.
525 Lucas usa o artigo definido masculino com heteros (= outro) no sentido de
dada ao versículo anterior. Plummer, St. Luke, p. 443. Por causa da expressão ―eu vos
declaro‖, as palavras parecem refletir um comentário feito por Jesus, Marshall, Luke,
p. 708.
531 De modo semelhante a expressão ocorre em Mt 13.12; 25.29; Mc 4.25; e Lc 8.18.
Isto é, as pessoas prontamente emprestam dinheiro para aqueles cujo
retorno de capital mostra lucro substancial. Confiam num negócio de
sucesso porque sabem que o dinheiro investido trará dividendos. Mas,
quando os investidores sabem que a pessoa que está tomando
emprestado não consegue lucros sobre seu capital, depressa retiram a
quantia investida e reduzem, assim, ainda mais, o capital do
emprestador532. O dinheiro é entregue ao homem que corteja o sucesso
e tirado daquele que enfrenta a bancarrota.
Interpretação
534
Plummer, St. Luke, p. 444.
535
Zerwick, ―Thrononwärter‖, p. 667.
Conclusão
Características Gerais
540 Jeremias, Parables, pp. 84-85, afirma que ―é impossível deixar de concluir que a
interpretação da parábola do joio é do próprio Mateus‖. Ele chegou a esta conclusão
baseando-se em considerações lingüísticas.
541 Jülicher, Gleichnisreden, 2:385406, considera a parábola da vinha e dos lavradores
maus, uma criação da igreja primitiva. Do mesmo modo, R. Bultmann, The History of
the Synoptic Tradition (New York: Harper and Row, 1963), p. 177.
542 Marshall, Eschatology and the Parables, p. 11.
um fazendeiro que emprega trabalhadores temporários, arrendatários,
pescadores, um joalheiro, uma mulher assando pão, um pastor, um pai
e seus dois filhos, um ladrão, crianças brincando, damas de honra e
convidados para um banquete nupcial. Estas parábolas focalizam
pessoas543, e Mateus se revela um homem interessado nelas.
Características Literárias
546 B. Gerhardsson, ―The Seven Parables in Matthew XIII‖, NTS 19(1972-73): 18.
547 Marshall, Luke, p. 401.
548 G. E. Ladd, ―The Sitz im Leben of the Parables of Matthew 13: the Soils, Studia
semeador, mas pode fazê-lo apenas baseando-se em sua interpretação nos capítulos
construtores edificam sobre a rocha ou na areia; o fazendeiro semeia
trigo, e seu inimigo semeia o joio, no mesmo campo; a rede apanha
peixes apropriados para o consumo e os que não o são; o rei se mostra
misericordioso, mas seu ministro das finanças, não; os trabalhadores da
vinha, contratados primeiro, murmuram, os contrastados mais tarde se
regozijam; dos dois filhos apenas um obedece ao pai; o servo em quem o
senhor confia pode ser fiel ou mau; cinco virgens são prudentes e cinco
são néscias; dois servos põem seus talentos para render e um enterra o
seu; no banquete nupcial todos os convidados estão apropriadamente
trajados, só um não está. Mesmo nas parábolas mais curtas, o contraste
fica evidente. As crianças que brincam na praça são alegres ou tristes.
Nas parábolas de Mateus as pessoas são sábias ou tolas, boas ou más,
fiéis ou indolentes.
Características Teológicas
1965), p. 217.
contada depois do incidente do Sábado, quando uma mulher entrou na
casa de Simão, o fariseu. Embora aos olhos do fariseu cumpridor da lei
fosse considerada desprezível, ela achou remissão de pecados e paz para
o seu coração. O filho desviado caiu em si numa pocilga imunda, voltou
para casa e foi reintegrado à família. O coletor de impostos, considerado
um marginalizado social pelo fariseu, bateu no peito, orou a Deus e foi
justificado. Há alegria no céu quando um pecador se arrepende; festa na
casa do pai, quando o filho volta; e paz no coração do proscrito, quando
Deus o justifica.
Lucas mostra que Jesus ama o pobre, mas adverte o rico para que
se arrependa e creia. A parábola do rico e Lázaro pretende retratar a
miséria da vida no além, do homem que na terra vivia no luxo sem se
importar com Deus e com o próximo. A parábola do rico que queria
armazenar seus bens materiais em celeiros maiores revela a pobreza nua
do homem que confia em suas riquezas e não em Deus. A parábola do
administrador infiel nos ensina a não dependermos de riquezas, mas a
distribuí-las para com elas fazer amigos e sermos bem-vindos nas
moradas eternas.
Destinatários e Resposta
554 Linnemann, Parables, p. 35, apesar de todas as evidências, afirma: ―Podem ser
encontradas apenas algumas poucas parábolas que Jesus dirigiu explicitamente aos
discípulos. A maior parte foi contada a seus oponentes, a homens que se ofendiam com
seu comportamento, ou se indignavam com o que ele dizia‖.
As multidões, escreve Lucas, se encantavam com as maravilhas
que Jesus operava, embora todos os seus adversários se
envergonhassem (Lc 13.17). As multidões ouviram as parábolas dos dois
construtores, do semeador, do rico tolo, do grão de mostarda, do
fermento, do construtor da torre e do rei guerreiro e a das minas. Os
discípulos eram instruídos em particular, através de parábolas, tais
como a do amigo que veio à meia-noite, a do juiz iníquo, a do servo
vigilante, a do ladrão, a do servo fiel e prudente a quem o senhor
investiu de autoridade, a do administrador infiel e a do fazendeiro e seu
servo.
555 Jeremias, Parables, p. 41, admite a possibilidade de Jesus ter repetido suas
parábolas a mais de uma assistência. Ao mesmo tempo, insinua que Mateus e Lucas se
contradizem quando apresentam as palavras de Jesus como dirigidas a uma multidão,
em um exemplo, e aos discípulos em outro. Esse juízo parece um tanto sem propósito à
luz do ensinamento oral repetitivo usado por Jesus.
prontidão constante, e de uma exortação à vigilância e ao
arrependimento. A parábola dos lavradores maus provoca imediata
resposta negativa dos principais sacerdotes e fariseus; eles procuravam
prender Jesus.
Representação
Comentários
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