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CRIMES SEXUAIS E A INSUFICIÊNCIA DA LEI PENAL

Resumo: No dia 29/08/2017, um homem foi preso em flagrante por ter


ejaculado no pescoço de uma passageira de um ônibus em São Paulo. Após
audiência de custódia, o homem foi liberado, pois contravenções penais não
comportam prisões cautelares. Desta forma, fica claro que o Direito Penal não
possui um tipo penal adequado para situações como esta, onde estupro possui
punição exagerada e a perturbação ofensiva ao pudor se mostra insuficiente.

Tags: #DireitoPenal #Estupro #Importunação #CrimeSexual

No dia 29 de agosto dentro de um ônibus, na cidade de São Paulo, um


homem masturbou-se e ejaculou no pescoço de uma passageira que estava
sentada distraída mexendo no celular.

A passageira se assustou e foi necessário auxílio do cobrador e do


motorista do ônibus para impedir que os demais passageiros agredissem o
rapaz.

O homem foi preso em flagrante e conduzido até a delegacia, sendo


autuado pelo cometimento, em tese, do delito de estupro, previsto no artigo
213, do Código Penal.

Ocorre que na audiência de custódia, o Magistrado desclassificou do


delito de estupro para importunação ofensiva ao pudor, uma infração de menor
potencial ofensivo. Assim, o indiciado encontra-se respondendo pelo delito em
liberdade, apesar de possuir diversos antecedentes criminais por crimes da
mesma natureza.

Segundo a decisão do Juiz, não foi configurado estupro neste caso, pois
não houve constrangimento e nem violência real ou grave ameaça necessários
para configuração deste tipo penal no ato praticado, delito este que possui
como preceito secundário, a pena de reclusão de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

Desta forma, considerando a desclassificação do delito, a prisão em


flagrante do autuado foi relaxada a pedido da defesa e também do Ministério
Público, pois houve consenso de que o crime cometido era o de perturbação
ofensiva ao pudor (art. 61 do Decreto-lei nº 3.688/41), infração que possui pena
de multa.

A infração de menor ofensivo consiste em “importunar alguém, em lugar


público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor”.

Importunar significa expor alguém a uma situação moralmente


desconfortável. Tal situação deve ser ofensiva ao pudor, ou seja, deve ir contra
a decência, com conotação sexual.

No plano real, não podemos afirmar que esta seja a solução ideal para o
caso, pois se a gravidade do ato não é suficiente para o enquadramento ao
crime de estupro, não podemos afirmar também que a gravidade é mínima ou
até mesmo inexistente para ser comparada com as contravenções penais.
Há classificação diversa em alguns países, com tipo penal próprio para
condutas onde não há penetração, sendo que outros países optam por incluir
uma cláusula de diminuição de pena no estupro em casos onde não há
penetração.

O ato de ejacular em outra pessoa no transporte público é um ato


repugnante assim como diversos outros que acontecem diariamente no espaço
público e que não encontram adequação penal na lei vigente.

Como não há resposta adequada para casos como estes na nossa


legislação, naturalmente há uma sensação social de que a integridade física,
psicológica e sexual das vítimas não possui valor algum para a justiça.

Contudo, jamais será possível estabelecer todas as situações possíveis


que podem incidir em figuras penais. Desta forma, cabe ao aplicador da lei, à
luz do caso concreto, interpretar conforme a norma escrita, a fim de promover a
imputação adequada, ainda que pareça injusta, pois é a lei que deve guiar o
aplicador da norma, sendo inconcebível a manipulação do ordenamento
jurídico a pretexto de promoção de justiça.

REFERÊNCIAS

Decisão Juiz José Eugênio do Amaral Souza


Neto <http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wp-
content/uploads/sites/41/2017/09/20170901185659616.pdf>
Código Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del2848compilado.htm>

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