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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO


PSICOSSOCIAL

Resenha Crítica de Caso


Maria Luiza da Silva Marinho

Trabalho da disciplina História da Psiquiatria e


da Reforma Psiquiátrica.
Tutor: Prof. Cristiane de Carvalho
Guimarães.

Vitória da Conquista - Ba
2019

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O Alienista

Referência:
ASSIS, M. O alienista. São Paulo: Ática, 2011.

O Alienista, escrito por Machado de Assis retrata a história de um médico psiquiatra, o Dr.
Simão Bacamarte. Ele morou durante anos na Europa e após concluir os estudos retornou ao
Brasil para sua cidade natal em Itaguaí, para se dedicar à sua profissão.

O Dr. Simão Bacamarte casou-se com D. Evarista, uma jovem de aproximadamente vinte e
cinco anos e que não tinha nenhuma beleza e nem tão pouco era simpática, mas aos olhos do
médico era a esposa ideal para lhe dar bons filhos, porém não teve nenhum.

Simão Bacamarte começou a aprofundar seus estudos na mente humana, foi a partir daí que
fundou um manicômio chamado Casa Verde, com o objetivo de tratar todos aqueles foram
diagnosticados por ele como portadores de alguma doença menta.

O manicômio ficou cheio em pouco tempo. No início os casos eram de pessoas que realmente
tinham algum transtorno, que realmente precisavam ser internados na tentativa, naquela
época, de curá-los, no entanto, com o passar do tempo o Dr. Simão Bacamarte começou a
enxergar loucura em todas as pessoas que tinham um comportamento que para ele era
inaceitável, ou que pensava de uma forma diferente da que ele considerava normal. O médico
começa então a internar as pessoas de forma inescrupulosa.

A cidade de Itaguaí fica alarmada com a quantidade de internações e começam a se unir para
manifestarem contra a prática do alienista, o Dr. Simão Bacamarte. Foi nesse momento de
tensão que surgiu a Revolução dos Canjicas, a qual foi liderada por Porfírio, barbeiro da
cidade, que sempre teve interesses políticos e aproveitou esse momento de fragilidade da
população para incentivá-los a protestarem contra o que estava acontecendo.

A Revolução dos Canjicas parece dar certo em um primeiro momento, porém a ambição de
Porfírio era muito maior do que o seu bom senso e ele acabou se unindo ao Dr. Bacamarte.

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Com essa união as internações continuaram e até as pessoas que fizeram parte da Revolução
foram internadas.

Após todos esses acontecimentos e sem muito sucesso, aparece na cidade um outro barbeiro,
o João Pina, que se revolta contra Porfírio e consegue destituí-lo do cargo. Era a chance que a
população de Itaguaí tinha para acabar com todos aqueles atos absurdos que o alienista estava
fazendo. Infelizmente nada aconteceu, pelo contrário, as internações continuaram e o
manicômio se fortaleceu com a chegada do novo governo. Bacamarte se fortalece a cada dia e
as internações se aceleram. Até sua esposa, D. Evarista, também foi internada unicamente por
ficar indecisa na escolha de uma roupa para ir a uma festa.

Com tantos internamentos Itaguaí já estava com 75% da população internada na Casa Verde,
foi quando o alienista começou a perceber que sua teoria estava equivocada, que não podia
simplesmente internar as pessoas como ele estava fazendo. A partir desse entendimento o
médico começou a dar alta aos internos do manicômio e a repensar seus conceitos sobre saúde
mental. Parecia ser o fim daquela situação absurda de internamentos sem o menor escrúpulo e
início de um novo ciclo em Itaguaí, mas o pesadelo continua, pois o alienista mantinha sua
teoria, a de continuar internando as pessoas. O Dr. Simão Bacamarte acreditava que toda a
população da cidade tinha algum transtorno e precisava ser internada.

Diante da situação onde todos os habitantes pensavam e se comportavam de forma que para
ele era inapropriada, o Dr Bacamarte chegou à conclusão que ele era a única pessoa “normal”
daquela cidade, diante disso ele o alienista resolve se isolar e se trancar sozinho na Casa verde
para o resto de seus dias.

Em O Alienista, Machado de Assis faz várias críticas à forma como era vista a saúde mental
em nosso país. Ele mostra de forma satírica e faz crítica social e psicológica. Ele consegue
mostrar em seu conto toda a natureza humana, deixando claro a vaidade, o egoísmo e ambição
do ser humano.

Nesse conto temos uma noção de como eram tratadas as pessoas que não seguiam os padrões
de normalidade exigidos pela sociedade. Qualquer um que não seguisse as regras era isolado e
internado em um lugar insalubre onde não eram tratadas, eram deixadas lá para não

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envergonhar seus familiares, ou seja, se uma mulher engravidava antes de casar ou não queria
casar com quem os pais queriam, estas eram tidas como loucas e eram internadas.

Esse conto de Machado de Assis nos faz reviver um pouco da nossa história sobre a saúde
mental. Como as pessoas eram tratadas, pessoas que não tinham nenhum transtorno mental e
acabavam adquirindo algum, milhares de pessoas que morreram sozinhas e de forma
desumana. Vidas e famílias destruídas por causa da ambição e ignorância dos envolvidos.

Muitas coisas já foram conquistadas até aqui e muito ainda há para fazer. Hoje temos a Lei
10.216/2001 que assegura o direito das pessoas portadoras de transtornos mentais, além de
outras políticas públicas, e dessa forma, é inaceitável o retrocesso. Não existe tratamento com
isolamento. É com o convívio com seus familiares e amigos que existe a possibilidade de
cura. Um tratamento para os portadores de doença mental sem internamentos e sem
sofrimento.

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