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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA

COMARCA DE MONTE ALTO – SP

PROCESSO Nº

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Monte Alto - SP, vem, por meio de seu
Procurador que ao final subscreve, perante Vossa Excelência, propor AÇÃO DE DANOS MORAIS,
em face de VOLTZZ, pessoa jurídica, com endereço na Rua Conselheiro Nébias, 754, Santos, São
Paulo, CEP 11075-002, e PAGSEGURO INTERNET S/A, sociedade anônima inscrita no CNPJ sob o
nº 08.561.701/0001-01, com sede na Avenida Brigadeiro Faria Lima, nº 1384 –01º andar, Jardim
Paulistano, São Paulo/SP CEP 01451-001, ambas na pessoa de seu representante legal, pelos
fatos a seguir expostos:

PRELIMINARMENTE
LITISCONSÓRCIO PASSIVO

O presente feito fora ajuizado em face de mais de um requerido, tendo em vista a


relação jurídica relacionada na cadeia de obrigações em que os mesmos se inserem, neste
sentido dispõe os incisos I, II, III, e IV do Código de Processo Civil:

Art. 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em


conjunto, ativa ou passivamente, quando:

I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à


lide;
II - os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato ou
de direito;
III - entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir;
IV - ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito.

Tem-se como primeira requerida (VOLTZZ) a empresa que vendeu o produto de


consumo ao autor da presente demanda, e, a segunda requerida (PAGSEGURO INTERNET S/A)
responsável pelo recebimento dos pagamentos online.

Oportuno informar a categoria de fornecedor em que se insere a segunda Requerida,


na forma do art. 3º do CDC, in verbis:

Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
É correto afirmar que os fornecedores, sem distinção, são obrigados a responder
solidariamente pelo vício no produto ou no serviço, conforme nos ensina o art. 18 do CDC, in
verbis:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis


respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os
tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com
a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou
mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua
natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

In casu, necessário se faz a permanência de todos os réus indicados no preâmbulo da


presente exordial.

INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Em regra, o ônus da prova incumbe a quem alega o fato gerador do direito mencionado
ou a quem o nega fazendo nascer um fato modificativo, conforme disciplina o artigo 333, incisos
I e II do Código de Processo Civil.

O Código de Defesa do Consumidor, representando uma atualização do direito vigente


e procurando amenizar a diferença de forças existentes entre pólos processuais onde se tem
num ponto, o consumidor, como figura vulnerável e noutro, o fornecedor, como detentor dos
meios de prova que são muitas vezes buscados pelo primeiro, e às quais este não possui acesso,
adotou teoria moderna onde se admite a inversão do ônus da prova justamente em face desta
problemática.

Havendo uma relação onde está caracterizada a vulnerabilidade entre as partes, como
de fato há, este deve ser agraciado com as normas atinentes na Lei no. 8.078-90, principalmente
no que tange aos direitos básicos do consumidor, e a letra da Lei é clara.

Ressalte-se que se considera relação de consumo a relação jurídica havida entre


fornecedor (artigo 3º da LF 8.078-90), tendo por objeto produto ou serviço, sendo que nesta
esfera cabe a inversão do ônus da prova quando:

“ O CDC permite a inversão do ônus da prova em favor do consumidor,


sempre que foi hipossuficiente ou verossímil sua alegação. Trata-se de
aplicação do princípio constitucional da isonomia, pois o consumidor, como
parte reconhecidamente mais fraca e vulnerável na relação de consumo (CDC
4º,I), tem de ser tratado de forma diferente, a fim de que seja alcançada a
igualdade real entre os participes da relação de consumo. O inciso
comentado amolda-se perfeitamente ao princípio constitucional da
isonomia, na medida em que trata desigualmente os desiguais, desigualdade
essa reconhecida pela própria Lei.” (Código de Processo Civil Comentado,
Nelson Nery Júnior et al, Ed. Revista dos Tribunais, 4ª ed.1999, pág. 1805,
nota 13).

Diante exposto com fundamento acima pautados, requer a parte autora a inversão do
ônus da prova, incumbindo à requerida demonstrar todas as provas referente ao pedido desta
peça.

DOS FATOS

No dia 15 de dezembro de 2016, o autor fora até o website da primeira ré


(https://www.voltzz.com.br) e adquiriu um tênis no valor de R$194,90 (cento e noventa e
quatro reais e noventa centavos).

O referido valor fora pago via cartão de crédito junto à 2ª Ré, a saber, PagSeguro,
Empresa do Grupo UOL, com uma taxa de R$14,79 (quatorze reais e setenta e nove centavos),
totalizando ao final a quantia de R$209,69 (duzentos e nove reais e sessenta e nove centavos).

Após o final do prazo de 20 (vinte) dias úteis e ausência da entrega do produto


comprado, o autor efetuou diversas reclamações via e-mail (doc anexado), questionando o
atraso e requerendo uma posição quanto a entrega.

Contudo, numa nova troca de e-mails, a empresa ré informou que o produto seria
entregue com prazo final no dia 30/05/2017, ou seja, quase 06 (seis) meses após efetuar a
compra.

Vale ressaltar que o autor manteve contato diversas vezes e foi tratado com total
descaso, restando evidente que a ausência do produto comprado ocorreu devido a péssima
prestação de serviço conferida pelas empresas Rés.
Assim sendo, no dia 21/06/2017, a empresa ré disse via e-mail anexado, que enviaria
o código de rastreio do produto. No entanto, após a referida data, a requerida deixou de
responder os e-mails, não devolvera o dinheiro do consumidor e ignora totalmente as
reclamações realizadas pelo requerente.

CONTUDO, EM QUE PESE AS RECLAMAÇÕES REALIZADAS, ATÉ A PRESENTE DATA, 01


(UM) ANO E 02 (DOIS) MESES, APÓS A REALIZAÇÃO DA COMPRA, NADA FOI FEITO PELAS
EMPRESA RÉS.

O presente litígio trazido à apreciação de Vossa Excelência, está gerando inúmeros


desconfortos e transtornos ao autor, vem através desta via judicial buscar a justa reparação pelo
dano moral sofrido e pleitear a medida necessária para dar fim ao indevido abalo de crédito
promovido pelas Rés.

Não havendo solução amigável, a questão teve que ser submetida ao Poder Judiciário.

DO DIREITO
DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS VIOLADOS

A dignidade da pessoa humana é um dos corolários mais importante a ser


resguardado.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;

Ocorre que as Rés, negligenciaram os direitos do autor em viabilizar, da melhor


maneira possível, de receber o produto/ou a devolução dos valores quitados.

DA FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO E DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA


O código de Defesa do Consumidor no seu art. 20, protege a integridade dos
consumidores.

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os


tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta
ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e
à sua escolha:

§ 2º São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que


razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as
normas regulamentares de prestabilidade.

Neste sentido, estabelece o art. 14 do Código de Defesa do Consumidor que:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência


de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes
ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Assim, é insofismável que as Rés feriram os direitos do consumidor ao agir com total
descaso, desrespeito e negligencia, configurando má prestação de serviços, o que causou danos
de ordem domiciliar e social.

Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à


oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente
e à sua livre escolha:

I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta,


apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente
antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos
Deste modo, amparado pela lei, doutrina e jurisprudência pátria, o consumidor deverá
ser indenizado pelos danos que lhe forem causados, bem como ser restituído no valor da
compra, haja vista não querer o produto pois não confia mais nas Rés.

DOS DANOS MORAIS

O dano moral é claro ante ao constrangimento, a frustração e a dor, a qual foi


submetido desnecessariamente o autor, configurando verdadeiro e ostensivo ataque à sua
honra.

Configura ato ilícito a conduta praticada por alguém nos ditames do Art. 186:

“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,


violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito”.

O direito à honra se traduz juridicamente em larga série de expressões compreendidas,


como princípio da dignidade humana: o bom nome, a fama, o prestígio, a reputação, a estima,
o decoro, a consideração, o respeito nas relações de consumo, etc.

É cristalino, que a desídia e o desrespeito das RÉS para com a AUTORA,


consubstanciado de má-fé, bem como omitindo-se, ao entregar o produto correto adquirido
através de cartão de credito.

Portanto a atitude ilícita das RÉS configuram um ataque frontal ao sistema civil dos
contratos e das cobranças, de inspiração constitucional.

A própria Carta Magna, de 1988, em seu artigo 5º X, que admite, a indenização do


dano moral, nos seguintes termos:

“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação”.
A Magna Carta em seu art. 5º consagra a tutela do direito à indenização por dano
material ou moral decorrente da violação de direitos fundamentais, tais como a intimidade, a
vida privada e a honra das pessoas:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem;

Por derradeiro, é oportuno dizer que, de acordo com a lição do eminente


Desembargador Sérgio Cavalieri Filho, a prova do dano moral não é feita através dos mesmos
meios utilizados para o dano material, por se tratar de algo subjetivo. Dispõe, in verbis:

"O dano moral existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do próprio fato


ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto está demonstrado o
dano moral à que guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis
ou facti, que decorre das regras de experiência comum."

O ato ilícito foi configurado, ferindo o direito personalíssimo à honra, imagem, o


AUTOR suportou a dor do constrangimento, sem contar os desatinos causados pelas RÉS.

Nada mais justo que o dever de indenizar conforme o art. 927 que trata do dever de
indenizar:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo”.

REPETIÇÃO DE INDEBITO
O autor efetuou o pagamento referente a compra do produto da 1ª Ré, no cartão de
crédito, junto ao serviço de pagamento da 2ª RÉ, logo, o AUTOR requer a devolução dos valores
pagos em dobro.

O valor quitado pelo AUTOR deverá ser devolvido em dobro, à luz do que prescreve o
artigo 884 do CC:

“Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será
obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores
monetários.

Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada,


quem a recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a
restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido.”

Contudo, o artigo 42, parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor, esclarece


também:

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à


repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso,
acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano
justificável.

Também, o Código de Defesa do Consumidor, no seu art. 6º, protege a integridade


moral dos consumidores:

Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:

VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos.

Portanto, à luz do Código de Defesa do Consumidor, desnecessárias maiores


digressões sobre o tema, devendo ser o requerido condenado ao pagamento em dobro, dos
valores cobrados, com juros e correção desde a data do evento.
DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

No que concerne ao quantum indenizatório, forma-se o entendimento jurisprudencial,


mormente em sede de dano moral, no sentido de que a indenização pecuniária não tem apenas
cunho de reparação de prejuízo, MAS TAMBÉM CARÁTER PUNITIVO OU SANCIONATÓRIO,
PEDAGÓGICO, PREVENTIVO E REPRESSOR: a indenização não apenas repara o dano, repondo o
patrimônio abalado, mas também atua como forma educativa ou pedagógica para o ofensor e
a sociedade e intimidativa para evitar perdas e danos futuros.

Impende destacar ainda, que tendo em vista serem os direitos atingidos muito mais
valiosos que os bens e interesses econômicos, pois reportam à dignidade humana, a intimidade,
a intangibilidade dos direitos da personalidade, pois abrange toda e qualquer proteção à pessoa,
seja física, seja psicológica. As situações de angústia, paz de espírito abalada, de mal estar e
amargura devem somar-se nas conclusões do juiz para que este saiba dosar com justiça a
condenação do ofensor.

Conforme se constata, a obrigação de indenizar a partir do dano que o Autor sofreu


no âmbito do seu convívio domiciliar, social e profissional, encontra amparo na doutrina,
legislação e jurisprudência de nossos Tribunais, restando sem dúvidas à obrigação de indenizar.

Assim sendo, deve-se verificar o grau de censurabilidade da conduta, a proporção


entre o dano moral e material e a média dessa condenação, cuidando-se para não se arbitrar
tão pouco, para que não se perca o caráter sancionador, ou muito, que caracterize o
enriquecimento ilícito.

Portanto, diante do caráter disciplinar e desestimulador da indenização, do poderio


econômico das Rés, das circunstancias do evento e da gravidade dos danos causados ao autor,
mostra-se justo e razoável a condenação por danos morais das Rés num quantum indenizatório
de R$8.950,00 (oito mil e novecentos e cinquenta reais).

DO PEDIDO

Ante o exposto, requer de Vossa Excelência:


a) a citação das requeridas para que, se quiserem, contestem a presente demanda,
sob pena de revelia e de confissão quanto à matéria de fato;

b) A citação das empresas Rés para comparecerem na audiência de conciliação a


ser marcada, podendo esta ser convolada em audiência de instrução e
julgamento;

c) a procedência do presente pedido, condenado as Rés solidariamente ao


pagamento de indenização a título de danos morais na importância de
R$8.950,00 (oito mil e novecentos e cinquenta reais), face aos transtornos
experimentados, não somente em caráter punitivo, bem como, em caráter
preventivo-pedagógico;

d) a procedência da presente ação, condenado as Rés solidariamente à devolução


do valor original de R$209,69 (duzentos e nove reais e sessenta e nove centavos)
em dobro, a saber, R$489,69 (quatrocentos e oitenta e nove reais e sessenta e
nove centavos), haja vista, ter realizado o pagamento e não ter recebido o
produto, conforme artigo 35 III do Código de Defesa do Consumidor, corrigindo
monetariamente e acrescidos de juros de mora legal, contados da data do fato;

e) a inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6°, inciso VIII, do CDC; ante a
verossimilhança das alegações e da hipossuficiência técnica do autor;

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos.

Dá-se à presente ação o valor de R$ 9.439,69 (nove mil, quatrocentos e trinta e nove
reais e sessenta e nove centavos).

Termos em que,
pede deferimento.

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