Você está na página 1de 13

Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 1 de 13

Página Inicial › CARTA EMPIRICUS › Combate do século: Diversificação versus Concentração

VOLTAR

Combate do século: Diversificação


versus Concentração
Empiricus Research Portugal

A 30 de outubro de 1974, Muhammad Ali e George Foreman

protagonizaram a maior luta da história do boxe.

Foi uma batalha épica, não só pelo que aconteceu naquela madrugada.

Tudo o que envolveu esse evento histórico teve um ar de

grandiosidade, de dramático, de absurdo. A começar pela localização

da luta, um país no coração de África controlado de forma impiedosa

por um típico ditador sanguinário colocado no poder com a ajuda da

CIA e apoiado pelo governo americano.

Esta luta que lhe trago hoje é muito menos mediática, mas tem um

impacto tremendo na sua vida financeira.

O mundo dos investimentos não é o território da ordem ou da


racionalidade, onde o futuro consegue ser previsto e,

consequentemente, certos posicionamentos produzem sempre


resultados específicos.

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017
Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 2 de 13

Infelizmente ou felizmente – já não sei ao certo – a “sorte” é uma

componente fundamental na gestão de ativos.

Alguns ficarão mais confortáveis se eu lhe chamar de oportunidade ou

aleatoriedade, mas é tudo uma questão de semântica.

A sofisticação da palavra não muda o meu desígnio.

A sorte influência (e muito) o retorno da sua carteira.

Para explorarmos este tópico, terei de recorrer – uma vez mais – a

alguns conceitos de Taleb.

Uma das principais ideias presentes no livro Fooled by Randomness é


este conceito de que a aleatoriedade (randomness) está em todo o lado

e de que, para o seu bem-estar financeiro, é essencial perceber se

certos resultados dependem de eventos aleatórios ou não.

No fundo, se o sucesso de determinados investimentos provem da sua

competência ou se foi um mero acaso.

Em termos práticos, quando considera o track record de um gestor (ou

o seu) deve considerar também as reais probabilidades de ele (ou você)

repetir o êxito e, para isso, deve refletir sobre o papel da sorte nesse
mesmo resultado.

Um dos casos mais emblemáticos desta realização é o desempenho do

fundo de John Poulson.

Em 2011, depois de ter acertado em cheio na sua aposta contra o

mercado de hipotecas norte-americanas, Poulson encontrou-se aos


comandos de um dos maiores hedge funds de Wall Street, com 38

biliões de dólares em gestão, incluindo cerca 19 biliões em capital

externo.

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017
Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 3 de 13

Rapidamente, depois de

ter atingido o topo de

forma quase

instantânea, Poulson

perdeu o seu toque de

midas, o que deixou

muitos investidores a

pensar se ele não será

apenas mais um

“macaco com sorte”.

O retorno do seu fundo Paulson Advantage sugere isso mesmo.

Num prazo mais alargado de análise, verifica-se que somente a sorte

não é suficiente e as competências (ou a falta delas) são fatores

fundamentais na avaliação de um gestor.

Todos os resultados devem ser confrontados contra os possíveis

retornos – Taleb chama a isto “história alternativas” – que poderiam ter

acontecido tão facilmente como a “história visível” que acabou por

acontecer.

No curto prazo, uma grande dose do sucesso no mundo dos

investimentos pode ser resultado de, simplesmente, “estar no sítio


certo à hora certa”.

Para reconhecer este fenómeno basta observarmos os períodos de


boom market. Geralmente, durante estes períodos, os maiores
retornos vão para aqueles dispostos a correr maiores riscos.

Foi o Filipe, que se endividou até ao tutano e investiu nos ativos mais

manhosos, quem fez mais dinheiro.

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017
Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 4 de 13

Comprou um Mercedes e uma vivenda em Cascais. Naturalmente, isto

não diz nada sobre a sua competência enquanto investidor.

Passado uns anos, perdeu tudo e mais alguma coisa quando o mercado

se virou contra ele.

Assim, a aleatoriedade (randomness) contribui bastante mais do que


aquilo que as pessoas pensam no sucesso ou no fracasso dos

investimentos.

Dessa forma, os perigos que se escondem nas estratégias altamente

bem-sucedidas são muitas vezes desconsiderados.

Facilmente, a sorte passa a ser competência; a probabilidade passa a

certeza; uma teoria passa a realidade; coincidência passa a causalidade;

em suma, um idiota com sorte passa por investidor competente.

Claro que reconhecer a existência de aleatoriedade não torna mais fácil

distinguir um bom investidor de um “sortudo”.

Mas devemos tentar.

Assim, torna-se fundamental ter várias observações – vários anos —

antes de se fazer um julgamento sobre a capacidade de determinado


gestor (ou de si mesmo).

Histórias alternativas

Várias pessoas entendem que a incerteza faz parte do futuro, mas pelo

menos sentem que o passado é conhecido e fixo. Afinal, este é história,

absoluto e inalterável.

Claro que a posteriori é tudo muito fácil: “eu devia ter comprado a ação

X, ao preço Y, vendido e depois recomprado outra vez. Era tão óbvio”.

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017
Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 5 de 13

A realidade é que no momento da decisão tudo pode acontecer. A ação

pode continuar para cima, ficar no mesmo sítio ou cair. Existem n

variáveis que podem impactar o seu preço.

Não raras vezes, o que afinal espoleta o sucesso de uma decisão pode

até ser um evento de sorte.

Alguém compra uma ação porque antecipa um determinado

acontecimento, este não acontece, mas o título sobe na mesma; o

investidor fica bem na figura e invariavelmente assume o crédito.

O que quero dizer com isto é que uma boa decisão não depende do seu

resultado.

Uma boa decisão é aquela que é lógica, inteligente e informada.

Eu sei que vivemos num mundo resultadista. Não interessa como é que

se ganha, interessa é ganhar

Claro que isso expõe o seu portfólio a um risco muito maior…

Uma vez que os investidores da escola “eu é que sei” sentem que é

possível saber o futuro, eles constroem portfólios que maximizam

retornos sob um cenário que preveem e desconsideram qualquer outra


possibilidade.

Os talebianos que praticam a filosofia do “eu não sei”, em

contrapartida, põem a sua ênfase na construção de carteiras que

estarão razoavelmente bem nos cenários mais prováveis, mas não tão

mal nos outros.

Este é o ponto que me leva ao título deste relatório.

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017
Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 6 de 13

Concentrar ou diversificar: eis a questão.

Existe uma discussão perene no mundo das finanças entre qual é a

estratégia de investimento ótima.

De um lado, a turma de Buffett defende que o indivíduo deve

concentrar-se nas questões em que dispõe de maior habilidade

(também conhecido como “círculo de competências”).

Do outro, o senso comum aponta vantagens para a diversificação,

construindo a partir da premissa de “não colocar todos os ovos na

mesma cesta”.

Os benefícios da redução de volatilidade, oriundos da diversificação,

são, geralmente apresentados como um almoço de graça – na medida

em que não diminuem o retorno esperado de um portfólio.

O oráculo de Omaha rebate a teoria, ao afirmar que a diversificação em

investimentos vai, na verdade, implicar a adição ao seu portfólio de um

ativo do qual não sabe muito.

Assim, o maior risco estaria justamente na diversificação.

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017
Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 7 de 13

Seria muito mais seguro, de acordo com a abordagem do value

investing tradicional, concentrar-se em poucas ações, sobre as quais


sabe muito e pode estimar, com a devida margem de segurança, o seu

valor intrínseco com uma boa dose de confiança.

A diversificação seria simplesmente uma estratégia para quem não

sabe o que está a fazer.

O ponto da abordagem é mesmo esse: as pessoas normalmente não


sabem o que estão a fazer. Não estou a falar de inteligência ou de bom

senso.

Modestamente, que capacidade tem um investidor de conhecer

realmente uma empresa através das suas demonstrações financeiras?


Isto, claro, se não for um insider.

No tempo da Maria Cachucha, ou seja, quando foi inicialmente

formulado por Benjamin Graham, o instrumental mecanicista até fazia

sentido.

Desprovido de qualquer informação pública e sistematizada, o sujeito

saia da Universidade de Columbia atrás de um único balanço anual,

escondido na sede da empresa no meio do Alabama.

Então, poderia, antes dos outros, ver a qualidade operacional da

empresa e o quanto as suas ações estavam mal descontadas na bolsa.

A assimetria de informação era gritante.

Aos poucos, os demais analistas e investidores passavam a ter acesso

àquela informação corporativa e as ações começavam a sua

aproximação ao valor intrínseco (se existe tal coisa).

Hoje não é assim.

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017
Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 8 de 13

Toda a gente tem acesso à informação, instantaneamente.

Há 50 analistas que cobrem as ações da EDP e estudam até a cor das

cuecas do Mexia.

Pode achar-se muito inteligente – e eu não duvido das suas

competências -, mas devo-lhe dizer: estas outras 50 pessoas são

igualmente inteligentes e dedicadas.

Há, ainda, um ponto em que o mecanicismo do value investing clássico


roça quase a ingenuidade.

Falo da ideia do valor intrínseco, como se cada ativo tivesse as suas

características essenciais, inseparáveis, indissociáveis, independentes

de fatores externos – essa é a definição de intrínseco, certo?

Supor que A (preço) será atraído pela força gravitacional de B (valor)

facilita bastante as coisas, retira incerteza do processo e torna palatável

o processo de investimento. Todos estão atrás de certezas e

convicções.

Infelizmente, porém, as coisas não funcionam dessa forma em termos

práticos.

Não temos como determinar qual o valor intrínseco de qualquer ativo,

pela razão óbvia de que esse valor depende de fluxos que estão no
futuro e o futuro é opaco.

Com rigor, não sabemos sequer se há um valor intrínseco, mesmo que

impossível de ser calculado.

Não estou, com isso, a propor que fique de braços cruzados, como se,

diante de um cenário de incerteza irreconciliável, não tivéssemos nada


a fazer.

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017
Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 9 de 13

Por tudo isto, sobra-nos a diversificação.

Advogo por uma carteira diversificada, simplesmente porque

apresenta um perfil de retornos convexos (mais possibilidade de

ganhos do que de perdas).

É um facto que, com a adição de uma ação marginal à sua carteira,

tipicamente adiciona graus de desconhecimento ao portfólio.

Mas a questão não é necessariamente perniciosa se conseguir usar isso

a seu favor.

Para um fundo de venture capital focado em start ups, por exemplo, a

possibilidade de ganhos aumenta conforme cresce o número das suas

investidas – justamente porque não conhecemos o futuro e precisamos

que apenas uma delas saia do zero e vire um mini Facebook.

Por conta da responsabilidade limitada (o acionista nunca responde

com mais do que o seu capital investido, limitando a sua perda a 100

por cento do aplicado), as ações gozam justamente das características

supracitadas.

A adição de uma ação marginal à carteira embute, sem conceções a

priori, a um novo ativo com esperança matemática positiva, ou seja, os


retornos à direita superiores àqueles à esquerda (limitados a 100 por

cento).

Em resumo, a adição do desconhecido, tida como uma incorporação de

mais risco à carteira, é na verdade uma forma de ganhar exposição à

possibilidade de retornos convexos, com incremento das suas

hipóteses de capturar uma supervalorização.

Remate final

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017
Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 10 de 13

Levanto este ponto porque identifiquei uma certa confusão nos nossos

leitores. Não sei se em todos, mas certamente num número relevante.

As recomendações que fazemos seguem uma ótica de diversificação de

património, para evitar justamente o risco de uma grande

desvalorização do portfólio.

Por mais que estejamos otimistas sobre um determinado ativo, nunca

poderemos estar 100% seguros em relação a todas as nossas

recomendações.

Primeiro, porque somos naturalmente céticos. Somos os primeiros a

desconfiar de nós mesmos.

Segundo, porque temos a noção que cisnes negros acontecem sempre.

A qualquer momento pode rebentar um escândalo dentro de qualquer

uma das empresas que recomendámos.

Por último, se a carteira estiver razoavelmente distribuída entre os

vários ativos, o subdesempenho de um ativo terá um impacto muito

menor do que se a carteira estiver demasiado concentrada.

Assim, reforço aqui a necessidade de diversificar o máximo possível

pelas recomendações da série.

Ponto de situação

Relembro a “alocação Empiricus”:

5-10% em ativos-seguro clássicos, como ouro e posições longas em

opções de venda sobre ações ou ETFs – que expliquei no relatório “É

possível ficar rico sem risco?“.

50-60% em obrigações de qualidade ou dívida pública de baixo risco.

Para obter o spread entre a dívida soberana e a dívida corporativa de

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017
Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 11 de 13

qualidade preferimos a segunda. Pode parecer um percentual elevado,

porém a política acomodatícia deverá manter default rates em níveis

controlados e a alternativa via banco deve continuar miserável.

5-10% de investimento imobiliário: um dos problemas desta classe

continua a ser o ticket médio do investimento (comprar imóveis não é

para todas as carteiras). Neste caso, remeto para os relatórios “Sucesso

no imobiliário sem muito esforço” e “Como comprar imóveis na bolsa“.

25% – 30% em ações e, dessa percentagem, cerca de 80% a 90%

precisam de estar em ações de qualidade com histórico consistente de

crescimento de lucros por ação, altas barreiras à entrada e

management confiável. Pode também optar pelos ETFs recomendados


no report “Os melhores investimentos de 2017“.

NOTA: Para as recomendações, os preços de entrada são o preço de

fecho do dia da recomendação de compra, e o preço atual é o do fecho

de ontem.

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017
Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 12 de 13

O presente relatório é propriedade da Empiricus Research Portugal, Lda.

(Empiricus). Elaborado por analistas independentes da Empiricus, este relatório é

de uso exclusivo do seu destinatário, não podendo ser reproduzido ou distribuído,

no todo ou em parte, a qualquer terceiro sem autorização prévia e expressa da

Empiricus.

O estudo é baseado em informações disponíveis ao público, consideradas fiáveis

na data de publicação. Todas as opiniões, projeções e estimativas incluídas neste

documento, cuja autoria pertence à Empiricus, formam a sua apreciação final no

momento da sua realização e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio, sendo

que os pressupostos em que a análise em causa se baseou podem ou não vir a

revelar­se corretos, não existindo qualquer garantia de que os resultados

projetados sejam ou venham a ser atingíveis. A Empiricus declina desde já,

qualquer responsabilidade pelas decisões ou resultados destas, tomadas com

base na referida informação. A Empiricus não é responsável pela informação

financeira divulgada, designadamente, cotações, índices, notícias, estudos ou

outra informação financeira obtida através de terceiras entidades ou pela má

percepção, interpretação ou utilização dessa informação.

Este relatório não representa uma oferta de venda nem qualquer solicitação de

compra de instrumentos financeiros ou de qualquer serviço de intermediação

financeira. As análises, informações e estratégias de investimento têm como único

propósito fomentar o debate entre os analistas da Empiricus e os destinatários. Os

destinatários devem, portanto, desenvolver as suas próprias análises e

estratégias. Informações adicionais sobre quaisquer sociedades, valores

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017
Combate do século: Diversificação versus Concentração Empiricus Research - Página 13 de 13

mobiliários ou outros instrumentos financeiros aqui abordados podem ser obtidas

mediante solicitação. A Empiricus Research Portugal, Lda. encontra­se registada

na CMVM para o exercício da atividade de análise financeira como pessoa coletiva

não intermediária financeira. O analista Renato Luís Valadares Breia encontra­se

registado na CMVM como analista da Empiricus e é o responsável pela preparação

do relatório, nos termos e para os efeitos do n.º 1 do artigo 12.º do Código dos

Valores Mobiliários.

(*) A reprodução indevida, não autorizada, deste relatório ou de qualquer


parte dele sujeitará o infrator a multa de até 3 mil vezes o valor do relatório,
à apreensão das cópias ilegais, à responsabilidade reparatória civil e
persecução criminal, nos termos dos artigos 102 e seguintes da Lei 9.610/98

https://account.empiricus.pt/combate-do-seculo-diversificacao-versus-concentracao/?... 26-06-2017

Você também pode gostar