Você está na página 1de 10

10º aniversário do colapso da Lehman Empiricus Research - Página 1 de 10

Página Inicial › CARTA EMPIRICUS › 10º aniversário do colapso da Lehman VOLTAR

14 DE SETEMBRO DE 2018 - 19H09

10º aniversário do colapso da Lehman


Empiricus Research Portugal

Este mês fazem dez anos que a Lehman Brothers entrou em colapso.

Como mostra a cronologia mais abaixo, a derrocada de um dos maiores

bancos de investimento do mundo estava longe de ser o início da crise

financeira. No entanto, foi o momento em que ficou claro, até mesmo

para o observador mais desinteressado, que o furacão estava a

aproximar-se.

Durante anos, os bancos de todo o mundo desfrutaram de uma

estrutura reguladora mansa e de um regime complacente.

Como qualquer empresa, estes maximizaram esse ambiente

excessivamente tolerante usando a engenharia financeira para criar

uma série de produtos complexos apoiados em hipotecas que

poderiam atender à crescente procura por ativos de alto rendimento,

mas aparentemente “seguros”.

https://account.empiricus.pt/10o-aniversario-do-colapso-da-lehman/?x=15 26-09-2018
10º aniversário do colapso da Lehman Empiricus Research - Página 2 de 10

Na busca por lucros e bónus cada vez maiores, expandiram os seus

balanços para além do ponto de rutura – alavancando-se

(particularmente na Europa) até ao ponto em que bastaria apenas um

ligeiro aumento no número de dívidas incobráveis para arruiná-los

completamente.

A corda partiu quando o mercado de subprime americano sofreu uma

onda de malparado, que se espalhou para o restante mercado de

hipotecas.

No jogo da batata quente, ninguém sabia ao certo quem estava

agarrado a esses ativos tóxicos.

Quando a Lehman caiu, a pouca confiança que ainda existia no sistema

financeiro saiu pela janela. Ninguém confiava que a instituição do outro

lado da rua estava disposta ou era capaz de cumprir a sua parte, e de

repente se nem o banco central garantia que ia salvar o dia, o mercado

fechou-se em si mesmo.

Como se viu, é claro, o pânico após o colapso do Lehman foi o

catalisador para uma enorme injeção de dinheiro pelos bancos centrais

e contribuintes, que viram grandes instituições financeiras serem


resgatadas, temporariamente nacionalizadas, ou (no caso da Europa)

varreu-se brevemente os problemas para debaixo do tapete – até que


anos mais tarde voltariam para assombrá-los.

Num passe de mágica, passamos para uma política monetária de

“emergência” numa escala nunca vista antes, e que só agora (uma

década depois) começa a ser desfeita.

Ao nível político, este momento também criou dúvidas no eleitorado

sobre os efeitos da globalização e da credibilidade do sistema

https://account.empiricus.pt/10o-aniversario-do-colapso-da-lehman/?x=15 26-09-2018
10º aniversário do colapso da Lehman Empiricus Research - Página 3 de 10

monetário internacional. A vitória do Brexit, Trump e Cinco Estrelas são

os principais sintomas desse mal-estar.

Hoje, contudo, não vim aqui para lhe dar uma aula de história. Filmes (e

documentários) como Too Big Too Fail, The Big Short, Inside Job e

Margin Call fizeram um belíssimo trabalho. Em vez disso, pretendo

analisar o que mudou nesses dez anos – para melhor e para pior – e o

que pode vir a seguir.

Onde estamos agora?

Pode não parecer, mas dez anos depois da Lehman, existem alguns

pontos brilhantes no mapa. Em termos positivos, o emprego está em

níveis recordes na maioria dos países desenvolvidos fora da zona do

euro (apesar dos receios de que em breve seremos substituídos por

robôs).

Este é um resultado muito mais soalheiro do que o apocalipse ao estilo

“Grande Depressão” que muitos temiam. Além disso, o crescimento

económico global tem sido sólido – de fato, no ano passado, de acordo

com o último relatório anual do Banco de Compensações Internacionais

(BIS), “as taxas de crescimento global alcançaram praticamente o

mesmo patamar das médias de longo prazo no período pré-crise”.

Os preços dos ativos também recuperaram – as bolsas de valores ao

redor do mundo recuperaram em grande parte ou superaram as


máximas de 2007, assim como os preços das casas (isto, é claro, é uma

faca de dois gumes — é bom se conseguiu comprar, não é tão bom se

ficou a ver da bancada).

https://account.empiricus.pt/10o-aniversario-do-colapso-da-lehman/?x=15 26-09-2018
10º aniversário do colapso da Lehman Empiricus Research - Página 4 de 10

Pese embora todos estes pontos positivos, em última análise, a crise

financeira foi sobre a dívida. E as notícias nessa frente não são

particularmente boas.

Em 2007, a dívida global representava 179% do PIB mundial. Dez anos

depois? A dívida global representa 217% do PIB global, de acordo com o

BIS. Não é isto que alguém chamaria de progresso.

O que mudou é a composição dessa dívida. As famílias nas economias

desenvolvidas estão um pouco menos endividadas – por exemplo, a

dívida das famílias nos EUA caiu de perto de 100% do PIB para pouco

mais de 75% agora.

No entanto, as empresas estão mais endividadas, e a qualidade dessa

dívida, em termos de classificações de crédito e proteções a credores,

deteriorou-se acentuadamente.

Como deve ter adivinhado, os governos também estão muito mais

endividados, depois de terem usado o dinheiro dos contribuintes para

salvar o sistema financeiro. No extremo oriente, também assistimos a

uma disparada na emissão de dívida chinesa. São várias red flags que
nos devem preocupar.

Enquanto o mundo se distraia com a série Game of Thrones, no mundo

real, os bancos que sobreviveram à crise tornaram-se ainda maiores e


mais dominantes – os cinco maiores bancos do mundo controlam 47%

dos ativos, contra 44% em 2007, de acordo com o Financial Times.

Se durante a derrocada foram considerados Too Big Too Fail, o que

dizer agora. Dizem os mais otimistas, que estas instituições financeiras

têm uma regulação muito mais apertada. Com efeito, os grandes

bancos agora têm que “deter de três a cinco vezes mais capital do que

antes”.

https://account.empiricus.pt/10o-aniversario-do-colapso-da-lehman/?x=15 26-09-2018
10º aniversário do colapso da Lehman Empiricus Research - Página 5 de 10

Ademais, uma década de taxas de juros quase zero e impressão de

dinheiro compraram aos bancos o tempo necessário para arrumar os

seus balanços. Se em 2007, os oito principais bancos dos Estados

Unidos tinham em média $2,50 como buffer para cada $100 que

tinham emprestado – agora esse buffer está mais perto dos $7. Os

bancos podem não ter sido suficientemente reformados para o nosso

gosto – mas, através destas métricas, não é por aqui que teremos uma

repetição de 2008.

O que acontece agora?

Pela primeira vez na última década, parece que estamos finalmente a

colocar a crise para trás das costas. As condições monetárias globais

ainda estão bastante relaxadas em termos históricos, mas começam a

ficar mais apertadas.

Nos EUA, a Fed encerrou com o programa de quantitative easing (QE) e


passou para o “aperto quantitativo” (livrando-se dos títulos que

comprou durante a crise) e também já começou a subir as taxas de

juros (ainda sem ter provocado o colapso dos mercados financeiros).

No Reino Unido, o Banco da Inglaterra entrou em pânico em 2016, após

a votação do Brexit, mas o QE também já acabou e as taxas de juros


têm vindo a subir gradualmente. Na zona do euro, já temos uma data

prevista para o final do QE. E mesmo no Japão, o banco central permitiu


que as taxas de juros de longo prazo subissem ligeiramente.

Por outras palavras, depois de dez anos, a política monetária de

“emergência” está finalmente a normalizar.

https://account.empiricus.pt/10o-aniversario-do-colapso-da-lehman/?x=15 26-09-2018
10º aniversário do colapso da Lehman Empiricus Research - Página 6 de 10

O problema mais óbvio, porém, é com o qual começámos este relatório

– ainda precisamos de nos livrar da montanha de dívida criada nos

últimos anos.

Na prática, pode ter sido justificável com as taxas de juros em mínimos

históricos e com as impressoras dos bancos centrais prontos para

comprar dívida soberana a qualquer preço.

Mas como vamos lidar com as taxas de juro mais altas?

Existem apenas duas maneiras de nos livrarmos das dívidas que

ninguém pode pagar. A primeira é através de um perdão absoluto. A

segunda é através da inflação.

Parte do objetivo de imprimir moeda, passava por despertar a inflação

que estava adormecida e, desse modo, permitir que as economias

atingissem uma “velocidade de escape” – obtendo força suficiente para

“sair” do seu endividamento. Mas até agora isso não aconteceu.

Como o problema ficou por resolver, os emergentes são os primeiros a

abanar.

Grande parte da dívida destas economias é denominada em moedas

estrangeiras (normalmente o dólar). Portanto, quando o dólar valoriza

o custo do serviço dessa dívida na moeda local (que agora está mais

fraca) é cada vez maior.

O que é que pode acontecer?

O incumprimento dessa dívida é uma possibilidade bem real,

especialmente se esse país poder dar-se ao luxo de deixar de pagar a

investidores internacionais; outra solução passa pela nacionalização da

riqueza privada.

https://account.empiricus.pt/10o-aniversario-do-colapso-da-lehman/?x=15 26-09-2018
10º aniversário do colapso da Lehman Empiricus Research - Página 7 de 10

Simplificando, se investe em mercados emergentes, este é o momento

em que precisa ser exigente com a governança dos seus investimentos.

Nas economias desenvolvidas

Nos EUA, a Fed tem trabalhado no sentido de manter a inflação

controlada – através da subida das taxas de juro. No entanto, como o

sistema bancário dos EUA é fixo, os bancos têm a capacidade de

emprestar dinheiro de forma a compensar o atual ritmo de aperto.

Em bom português significa que a oferta monetária continuará a

crescer, alimentando o crescimento e as pressões inflacionárias,

mesmo se o Fed continuar a subir as taxas. E se os EUA continuarem a

elevar as taxas, numa altura em que o resto do mundo ainda está a

lutar para recuperar do atraso, então um dólar mais forte parece

provável –- o que colocará ainda mais pressão nos mercados

emergentes.

Isto claro, no mundo onde o banco central é completamente

indiferente à interferência política. Veremos se consegue resistir à

pressão vinda da Casa Branca. Nessa frente, vale pena lembrar Trump

já veio criticar tanto a subida das taxas quanto a força do dólar.

Além disso, temos de conjeturar como reagirá a Fed se houver uma

verdadeira crise dos mercados emergentes.

Sob a batuta de Janet Yellen, a Fed prestava muita atenção ao que

estava a acontecer ao redor do mundo – reconhecendo que a política

monetária americana tem um enorme impacto nas condições

monetárias globais. Veremos o que Powell irá fazer.

https://account.empiricus.pt/10o-aniversario-do-colapso-da-lehman/?x=15 26-09-2018
10º aniversário do colapso da Lehman Empiricus Research - Página 8 de 10

De qualquer das formas, são claramente pontos de indefinição que

podem gerar volatilidade no mercado.

O que isso significa para o seu dinheiro?

Como repetimos aqui ad nauseaum, no mercado existem muitas


variáveis e prever o futuro é simplesmente impossível. Mas uma coisa

parece certa: é altamente improvável que a próxima crise tome a

mesma forma que a última.

A crise bancária de 2008 forçou os bancos centrais a tomar medidas

extremas para combater a deflação, e uma enorme transferência de

dívida do sector privado para o público, dando aos governos ainda mais

incentivos para deixar de pagar ou para queimar essa dívida através da

inflação.

Isso também deixou os eleitores com um gosto amargo na boca, o que

provavelmente só poderá ser amenizado através de uma distribuição

mais equitativa do rendimento do trabalho, em vez do capital – em

suma, salários mais altos e preços mais baixos dos ativos.

Como pode posicionar a sua carteira para esse evento?

Prefira ações vs. obrigações (a inflação é geralmente tóxica para a


dívida) e, como observado acima, considere a política com muito mais

cuidado do que no passado. Desconfie de empresas (multinacionais


com longas cadeias de valor) ou outros ativos (como o imobiliário) que

provavelmente enfrentarão o impacto da ira eleitoral nos próximos


anos. E possua algum ouro – just in case.

https://account.empiricus.pt/10o-aniversario-do-colapso-da-lehman/?x=15 26-09-2018
10º aniversário do colapso da Lehman Empiricus Research - Página 9 de 10

DISCLAIMER

Elaborado por profissionais independentes, este conteúdo está

protegido pelos direitos de autor e é de uso exclusivo do seu

destinatário. As informações dispostas neste conteúdo refletem única e

exclusivamente as opiniões pessoais dos profissionais. Este material

não pode ser reproduzido ou distribuído, no todo ou em parte, a

terceiros, sem autorização expressa do profissional, sob pena de

sanções na esfera civil e criminal. A Empiricus é o único veículo de

comunicação autorizado a divulgar a referida publicação. O estudo é

baseado em informações disponíveis ao público, consideradas

confiáveis na data da sua publicação. Referido conteúdo nasce de

estimativas e está sujeito a mudanças. Salienta-se a possibilidade dos


resultados previstos serem suscetíveis de alteração em função de

modificações que se venham a verificar nos pressupostos que serviram


de base à informação agora disponibilizadas. Adverte-se igualmente

que o comportamento anterior de qualquer valor mobiliário não é


indicativo de manutenção de comportamento idêntico no futuro. A

Empiricus declina desde já, qualquer responsabilidade pelas decisões


ou resultados destas, tomadas com base na referida informação.

Alterações nas taxas de câmbio de investimentos não denominados na


moeda local do investidor poderão gerar um efeito adverso no seu

valor, preço ou rendimento. Este material está pautado na liberdade de

https://account.empiricus.pt/10o-aniversario-do-colapso-da-lehman/?x=15 26-09-2018
10º aniversário do colapso da Lehman Empiricus Research - Página 10 de 10

expressão e possui caráter meramente informativo, não representando

quaisquer ofertas de negociação de valores mobiliários ou outros

instrumentos financeiros. As informações contidas neste conteúdo têm

como propósito fomentar o debate e a educação financeira dos seus

destinatários. Portanto, os destinatários devem desenvolver as suas

próprias análises e estratégias. A Empiricus Research Portugal Lda. é

uma empresa de publicação de opiniões nas esferas financeiras e

económicas, e o profissional que assina o presente conteúdo está

devidamente habilitado para o exercício da profissão, conforme

legislação aplicável. Os códigos de conduta e as normas regulatórias

são atendidas de forma plena em todas as passagens do texto e das

sugestões de investimentos. Ressalta-se que não há qualquer conflito

de interesse na opinião exarada nesta publicação. O profissional

responsável é remunerado exclusivamente pela Empiricus para a

produção do referido estudo, e a Empiricus tem como fonte única de

receita a comercialização de seus produtos de forma massificada, sem

qualquer espécie de consultoria e/ou operação financeira. O material

desta publicação não se trata de uma recomendação de investimento.

(*) A reprodução indevida, não autorizada, deste relatório ou de qualquer


parte dele sujeitará o infrator a multa de até 3 mil vezes o valor do relatório,
à apreensão das cópias ilegais, à responsabilidade reparatória civil e
persecução criminal, nos termos dos artigos 102 e seguintes da Lei 9.610/98

https://account.empiricus.pt/10o-aniversario-do-colapso-da-lehman/?x=15 26-09-2018

Você também pode gostar