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A ÉTICA INDIVIDUAL E AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

Daniel Omar Perez1

RESUMO: Este trabalho visa apresentar o conceito de uma ética individual a


partir da noção de “cuidado de si” elaborado por M. Foucalt. Primeiramente,
mostrar-se-á uma distinção fundamental entre moral e ética, já presente nos
textos de Kant; em segundo lugar, apresentar-se-á a leitura foucaultiana da
ética grega como “cuidado de si” ou “estética do conhecimento”, e,
finalmente, indicar-se-á uma leitura possível da psicanálise como “estética
da existência”.

1. Moral e ética

Podemos encontrar em Kant, e logo também em Foucalt, uma diferença


específica entre aquilo que se denomina Moral e aquilo que chamamos de ética. A
Moral se refere ao conjunto de princípios, postulados, axiomas, regras, condutas e
costumes que regulariam o agir do indivíduo segundo uma ordem universal ou geral.
Dito de outra maneira, a moralidade é o modo de agir que a sociedade espera do
indivíduo. A moral seria o ponto de vista geral ou social das nossas condutas.
Por outro lado, a ética se refere também a um conjunto de princípios, regras,
etc. que regulariam nossas condutas, mas segundo uma ordem singular ou

1
Professor de Filosofia da UNIOESTE (Campus de Toledo) e doutorando em Filosofia pela UNICAMP. Este texto
forma parte de um trabalho mais abrangente sobre a constituição do Sentido. Minha dissertação de mestrado e
minha tese de doutorado, assim como outros estudos que publiquei sobre Kant, me permitiram avançar sobre a
constituição do sentido no nível da linguagem. Abordei os textos kantianos sob a pergunta pela possibilidade das
proposições sintéticas, isto é, pela sua significação. Isto me levou a compreender como, em Kant, o sujeito se
constitui como sujeito segundo os modos em que se dão os processos de doação de significação das suas
representações, por exemplo, existem operações de significação para as proposições cognitivas, outros para as
práticas e outras para as reflexivas, dentro desses campos existem operações específicas, por exemplo no caso
das proposições reflexivas, temos um tipo de operação para as estéticas e outro para as teleológicas, e assim
por diante. Outro forma de constituição de sentido se dá um nível que não é da linguagem. È isso que procuro
nas leituras de Heidegger e de Foucalt. Ver Kant, I, Crítica da razão prática e Fundamentação da metafísica dos
costumes. Werke in zehn Bänden. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgessellschaft, 1983, vol, VI.
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individual. Tal vez possa explicar melhor a singularidade ou individualidade dos atos
recorrendo à noção de “estilo”, e no caso específico da ética do “estilo de vida”.
Kant pensava a moralidade como um “modo de vida”. Ser moral para Kant
era submeter a minha vontade livre à lei moral (age de tal modo que a máxima da
tua vontade, possa ser erigida como lei universal) segundo um sentimento de
respeito. A “moral” kantiana não manda a agir segundo o conteúdo. Isto é, a lei
moral não é um enunciado do tipo “não faça especificamente isto” ou “faça
especificamente aquilo”. Mas, manda a agir segundo a forma. Essa forma deve ser
preenchida em cada caso. Dito de outro modo, em Kant meu agir é determinado por
máximas, para saber se essas máximas são moralmente boas ou más, eu devo
saber se confrontadas com a lei moral podem ser universalizadas ou não2, uma vez
realizada essa operação, a execução do ato não precisa de cálculos, apenas de
cuidados. Um exemplo pode ser que é uma máxima da minha moralidade seja a de
tratar bem os meus convidados, o modo de execução desta máxima já não depende
de mais universalizações, apenas de bom gosto, de cuidados. A máxima devo tratar
bem aos meus convidados é de tal natureza que confrontada com a lei moral é
determinada como boa. Não são os fatos, os que podem ser ditos morais, mas a
determinação de meu agir por respeito à lei. Quer dizer, eu só confrontarei com a lei
moral aquelas máximas que de acordo com um sentimento moral devam ser
confrontadas. Todas as outras máximas que comportam o conjunto de operações de
meu agir fazem parte de um “modo de vida”, mas não são proposições moral-
práticas. As lições de ética3 e a doutrina da virtude4 de Kant falam destes cuidados.
É exatamente esta questão dos “cuidados” que é deixada de lado pelos
grandes moralistas. Em favor de discursos sobre a felicidade plena, o temor a Deus,
o bem comum ou a justiça universal construiu-se grandes sistemas para
regulamentar e sobre tudo JULGAR a moralidade dos outros. Até hoje filósofos
como Appel ou Habermas procuram a chave do julgamento moral público. O “EU TE
JULGO” logrou se impor sobre a questão do estilo, o cuidado foi relegado.
No entanto, nas últimas duas décadas, foram os trabalhos de Foucalt que
resgataram parcialmente estas questões. Foucalt apresenta a moral como um dos
modos do controle social, como um exercício do poder do outro, como um

2
Ver Kant, I. Lecciones de Ética. Barcelona: Editorial Crítica, 1988
3
Ver Kant I. Metafísica dos costumes. Werke in zehn Bänden. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgessellschaft, 1983, vol, VII.
4
Ver Foucalt, M. Resumo dos Cursos do Collége de France 1970-1982. RJ: Jorge Zahar Editora, 1997, pp 50-55.
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dispositivo disciplinador, como uma forma de sujeição. Entretanto, a ética apresenta-


se como autocontrole, como um modo do poder de si, como uma forma de
resistência, como uma estética da existência. A ética é vista, deste modo, como um
ocupar-se de si ou cuidar de si mesmo.

2 – Cuidar de si mesmo na Grécia Antiga

Quando Foucalt pensa a ética na Antigüidade (S. V-IV antes de Cristo) não
procura reconstruir exegeticamente o texto do filósofo para saber o que realmente
ele quis dizer, aborda a questão desde uma problemática (a problemática dos
cuidados) que lhe permite compreender o que se reflete das condutas dos gregos a
partir de uma dietética, uma economia e uma erótica.
O imperativo grego do “conhece-te a ti mesmo” era em Delfos uma regra
prática, um conselho para consultar o oráculo. De algum modo, indicava uma
advertência, você deve ter certeza do que quer perguntar para o oráculo. Mas, por
outro lado, era um apelo, que funcionava em toda a cultura grega, para ocupar-se de
si. Conhece-te a ti mesmo significa ocupa-te de ti mesmo. Sócrates, de algum modo
é visto como aquele que traz esse apelo5. Os homens se preocupam pela riqueza,
pelo sucesso, pela fama, pelo que os outros dizem dele, mas quem se preocupa por
si mesmo? Sócrates entende que sua missão, ensinar às pessoas a se ocupar elas
mesmas de si mesmas, é uma forma de se ocupar também com a cidade6. Só
ocupando-nos de nós mesmos é que poderemos nos ocupar dos outros
adequadamente.
O lado prático do conhece-te a ti mesmo ficou obscurecido pelo lado
cognitivo. Nossa cultura moderna entendeu o enunciado como um apelo para
conhecer cientificamente o sujeito e assim transformá-lo em um elemento da
natureza ou da sociedade. O indivíduo, com suas especificidades, desaparece nos
mecanismos da objetividade. O conhece-te a ti mesmo significa na modernidade
“transforma-te em objeto de conhecimento”. Deste modo, a questão das condutas
passou a ser de uma preocupação pelo cuidado a um problema de julgamento. A

5
Ver Platão. Alcibíades e Apología.
6
Ver Foucalt, M. Historia de la Sexualidad. México: Editora Siglo XXI, 1986, vol. 2, p. 92.
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moralidade da modernidade parte de uma única preocupação: “como posso te


julgar?”.
Entretanto, numa ética do cuidado de si a preocupação pelas condutas e os
atos não se referenciam fundamentalmente em relação com a lógica do julgamento,
senão com uma “estilização da liberdade”7. Dado um conjunto de regras, que
podemos chamar de código de comportamento, existem diferentes formas para se
conduzir, de realizar a regra8, “existem muitos modos de ser fiel”. Assim, temos
várias maneiras em que os indivíduos dão forma às suas condutas morais, elaboram
seu trabalho ético. Aparentemente, esse seria o ponto destacado das reflexões
éticas na Antigüidade, Escreve Foucault:

Ainda quando a necessidade de respeitar a lei e os costumes – as nomoi –


destaca-se freqüentemente, aquilo que é importante está menos no conteúdo da
lei e nas suas condições de aplicação que na atitude que obriga as respeitar. O
acento está colocado sobre a relação consigo mesmo que permite não se deixar
levar pelos apetites e prazeres, conservar respeito deles domínio e
superioridade, manter os sentidos em um estado de tranqüilidade, permanecer
livre de toda escravidão interior respeito das paixões e alcançar um modo de ser
que possa se definir pelo pleno goze de si mesmo ou a perfeita soberania de si
sobre si” ( FOUCALT, M. 1986, p. 31).

Com efeito, a reflexão na Grécia Antiga sobre as condutas humanas tem


mais a ver com a prática de regimes de saúde, com a economia do lar, com o
namoro que com a preocupação pela obrigatoriedade de regras dicotômicas. A
estilização da conduta sexual é desenvolvida através de uma dietética, isto é, a
relação com o próprio corpo (saúde, beleza, conservação, uso), uma econômica, em
relação com o matrimônio (as economias do lar, as obrigações cotidianas, a
descendência), uma erótica, na relação com os amantes e uma filosofia, isto é, uma
preocupação com a verdade (entendida como uma fidelidade para consigo mesmo).

7
Ver Foucalt, M. Historia de la Sexualidad. México: Editora Siglo XXI, 1986, vol. 2, p. 27.
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2.1 A relação com o corpo

Um dos textos nos que se fala sobre as dietas dos gregos é na República de
Platão. Sócrates relata no diálogo como a medicina de um homem livre deve ser
fundada no cuidado do seu corpo, com dietas, chás, a prática de exercícios. A saúde
do homem livre não é vista como uma forma de reparar uma maquinaria que deve
imediatamente voltar para o trabalho, mas como modo de vida. Hipócrates, o pai da
medicina ocidental, compreende o regime como uma verdadeira arte de viver, que
não se reduz só a modular as condutas do dia, também é preciso cuidar de nós
durante a noite. Os cuidados compreendem exercícios, como caminhadas, passeios,
corridas, lutas, que devem ser realizados na medida justa, horário e lugar adequado
de acordo com a época do ano, a idade do sujeito e os alimentos que foram
ingeridos. A prática alimentaria é outro tema de preocupação, a comida e a bebida
não devem ser ingeridos em grandes quantidades, deve ser procurada uma relação
com as atividades do sujeito, o clima e a qualidade dos produtos. Este cuidado se
estende também aos banhos, um guerreiro, um homem consagrado às virtudes
cuida da sua higiene, um mercador, aquele que está ocupado em coisas menos
nobres, cheira mal. Outro encargo deve ser o de cuidar dos nossos sonhos,
devemos cuidar da cama, da sua dureza, seu calor, da posição da cama e da
posição de nosso corpo, nem muito estendido nem muito flexionado, da devida
digestão dos alimentos. Mas os gregos incluem ainda mais um item nos seus
regimes: uma dieta dos prazeres. O médico Hipócrates aconselha a tudo aquele que
quiser ouvir: fazer sexo emagrece e melhora a pele por causa do exercício o corpo
consume as carnes, esquenta e umedece. Na carta de Diocles ao Rei Antígono se
aconselha que durante o solstício de inverno a prática sexual não deve ser
restringida. A atividade sexual não está colocada nos termos de permitido/proibido,
bem/mal, mas em uma espécie de atividade a mais na vida cotidiana. A questão é
colocada nos termos de uso, que deve ser modulado de acordo com o estado do
corpo e as circunstâncias externas.

8
Ver Platão. República. BsAs: EUDEBA, 1988, pp. 406-7-8.
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2.2 A relação com a esposa

A vida conjugal exige de certos cuidados, mas é preciso destacar a


advertência que aparece com clareza no texto de Demóstenes: deve se ter uma
esposa legítima, mas a busca dos prazeres está fora da relação conjugal. O
matrimônio só conhecerá a relação sexual na sua função reprodutora daí que não
se vê problema nas atividades sexuais do marido fora da casa. Os prazeres do
homem como comer, beber, conversar com amigos, participar dos jogos, também
inclui o relacionamento com cortesãs ou mancebos. Entretanto, há uma assimetria
em relação com as atividades das esposas. Toda sua atividade sexual deve estar
dentro do matrimonio com o esposo como companheiro exclusivo. Mas o marido
também deve cumprir com suas obrigações conjugais. Plutarco conta que “uma lei
de Sólon exigia que o marido tivesse no mínimo três relações no mês com sua
esposa”. Para reforçar esta lei Diógenes Laércio conta que aparentemente Pitágoras
teria descido aos infernos e teria visto os tormentos que sofrem aqueles que não
cumprem com seus deveres conjugais. O privilegio da esposa não se funda no fato
de ser a única capaz de fornecer prazer para o marido, ela é quem sustenta, de
algum modo, as atividades da casa. A casa é tudo o que um homem livre pode ter e
isto – como diz Foucault – comporta já um estilo de vida e uma ordem ética. A
existência do proprietário, se cumpre com seus deveres razoavelmente, em princípio
é boa por si mesma, constitui um exercício de resistência, um treinamento físico, um
exercício da piedade realizando sacrifícios para os deuses, um exercício da
hospitalidade se mostrando generoso com os convidados, etc.. Assim, o homem
livre se torna um valioso soldado capaz de defender sua pátria e suas
responsabilidades individuais se tornam responsabilidades sociais.

2.3 A erótica

A preocupação ética no uso dos prazeres estava determinada por dois


modelos, a saber: aquele que era temperante e dono de si mesmo e aquele que se
entregava aos prazeres. O problema não era se era permitido ou proibido ter
relações de amor com pessoas do mesmo sexo ou de qualquer outro. O problema
era dominar as próprias paixões. Ter costumes pouco agradáveis era não saber
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resistir. Diógenes Laércio conta que Alcibíades era reprovado como sem
temperança em seu caráter “por ter afastado, na sua adolescência, os maridos das
mulheres, e na juventude as mulheres dos maridos”. A erótica funciona a partir de
práticas de corjeto, verdadeiras “artes de amar”. Há certas condutas que devem ser
observadas como a manifestação do carinho, a atenção, os presentes, etc. Não é
mera satisfação do prazer, o verdadeiro prazer é também amor e esse amor, às
vezes, passava pela transformação do desejo sexual entre os dois amados em
amizade (philia), quer dizer, em semelhança na forma de vida e de caráter, no
compartilhar pensamentos e experiências, na preocupação mútua, etc.

2.4 A filosofia

A preocupação pela verdade é levada ao âmbito das condutas. Em uma


reflexão pelas condutas verdadeiras aparece o tema do amor verdadeiro como
problema ético. No caso específico da reflexão do amor platônico se articulam uma
série de transformações, por exemplo, deslocando-se o problema do indivíduo
amado para o problema da natureza do amor, isto é, o amor verdadeiro é o amor
pela verdade e pelo saber. O amor verdadeiro é um problema que envolve temas
como a loucura, a alma e a beleza. O cuidado com o amor verdadeiro constitui
também uma iniciação, uma acsese, um exercício prático que leva à efetiva
realização da virtude, à plenitude da vida moral. No Banquete, Platão, na fala de
Sócrates, define o amor como um termo intermédio. O amor é amor de algo, deseja-
se e ama-se aquilo que não se possui. Ama-se a beleza porque não se possui, e se
a beleza se identifica com a bondade, então o amor também é desprovido dela. Mas
isso não significa que o amor seja feio e mau. Entre o belo e o feio, o bom e o mau,
encontra-se o amor como termo médio. O mito do nascimento de Eros reforça o
discurso socrático. Em uma festa os deuses do Olimpo celebram o nascimento de
Afrodite. Poros (a riqueza) sai bêbado da festa e encontra-se com Penia (a pobreza).
Desse encontro nasce Eros que, enquanto filho de Penia ele é carente, sem lar
indigente, mas enquanto filho de Poros é empreendedor, astuto, desbordante,
criador de invenções e de recursos, “passa a vida toda filosofando”. Eros sabe que
não é absolutamente sábio e belo, mas também sabe que não é absolutamente
ignorante e feio. O amor se encontra no ponto médio entre a sabedoria e a
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ignorância. Os deuses não filosofam porque são sábios e os ignorantes porque não
se consideram desprovidos de sabedoria. Assim, só filosofa aquele que ama. A
filosofia, para Platão, é um ato de amor.

3. Os diferentes modos do cuidado

A ética como um cuidar de si mesmo comporta um conjunto de atitudes que


podem ser observadas não só na Grécia Antiga, na Roma do Império e
fundamentalmente com os estóicos como Epicteto, Sêneca e Marco Aurélio
encontramos um exercício de si e uma reflexão sobre as condutas que pode ser
caracterizada naqueles termos. Neste mesmo sentido, os romanos problematizaram
ainda questões como a relação com si mesmo, com os/as amantes, com a família e
com os amigos, a responsabilidade individual e social ou histórica para com Roma.
Aparece uma espécie de escrita de si. Marco Aurélio, o Imperador Romano que
comandava exércitos e debatia com o Senado, encontrava sempre um momento do
dia para redigir cartas, onde contava os detalhes mais cotidianos de sua vida, e
pensamentos, uns textos escritos na forma de conselhos. Sêneca, Epicteto e Marco
Aurélio referem-se freqüentemente àqueles momentos que se devem dedicar a se
voltar sobre si mesmos.

4. A psicanálise

Na contemporaneidade podemos reconhecer outras formas da ética como


“cuidado de si”. A psicanálise como trabalho analítico pode ser pensado naqueles
termos. Joel Birman escreve no seu livro Estilo e Modernidade em Psicanálise que
“na experiência psicanalítica não é primordialmente o ideal de cura, mas a finalidade
de constituição de um estilo para o sujeito, que seria regulada nos registros ético e
estético”. Com efeito a prática psicanalítica pretende fazer emergir uma verdade
singular de uma individualidade, uma verdade que está latente e, portanto,
corresponde a uma individualidade enigmática. Este enigma é desvendado no
campo da transferência, isto é, na relação analista-analisando da experiência
analítica. Esta experiência transcende o nível cognitivo, se aproximando do afeto. No
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processo psicanalítico se realiza uma prática de subjetivação, surge a produção de


novas modalidades de existência. O afastamento da perspectiva teórica da cura em
favor da construção de um estilo para o sujeito implica em dizer que “a psicanálise é
uma modalidade de saber que pretende reconhecer a singularidade do sujeito como
finalidade fundamental”. Este saber trabalha sobre os dois eixos antes mencionados:
ético e estético. Na ordem ética o sujeito deve se confrontar com a lei da proibição
do incesto e a experiência de castração, na ordem estética, “o sujeito se compõe e
recompõe permanentemente pela estese da economia do narcisismo”. Com efeito, o
processo analítico como “deciframento” de um enigma coloca a questão de
reconstruir clinicamente uma história. Isto é, trata-se de procurar destinos possíveis
para as forças pulsionais, caminhos que permitam percursos de satisfação no
universo psíquico e no campo da cultura. Inventar estas possibilidades, segundo
Birman, “implica, para o sujeito, uma dimensão ética e estética, na medida em que
estão em pauta escolhas fundamentais no encaminhamento de sua existência no
presente e no futuro, escolhas reguladas pela estesia do sujeito”. O que está em
questão não é apenas revelar a verdade do desejo, senão também decidir o que
fazer com ele e como realizar.

Conclusão

A ética como cuidado de si coloca a reflexão sobre as condutas e o agir


humano em termos de estilo, se distanciando da dicotomia permitido/proibido. Surge
também de forma relevante a noção de responsabilidade sobre os nossos atos, que
já não são mais julgados nos termos da culpabilidade. Assim, a ética individual se
conjuga com a responsabilidade social. O indivíduo, cuidando de si, cuida também
dos outros adequadamente.

Bibliografia

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DIOGENES LAERTIOS. Vidas e doutrinas dos Filósofos ilustres. Brasília: Editora
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