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Aos vinte e dois dias do mês de junho de dois mil e dez, às onze horas, no Plenário
"Dom Pedro I" da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, realizou-se a
Décima Primeira Reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito constituída pelo
ato nº 13, de 2010, com a finalidade de "investigar supostas irregularidades e
fraudes praticadas contra cerca de três mil mutuários da Cooperativa Habitacional
dos Bancários do Estado de São Paulo - BANCOOP, e propor soluções para o caso",
da Quarta Sessão Legislativa, da Décima Sexta Legislatura, sob a presidência do
Deputado Samuel Moreira. Presentes os Senhores Deputados Bruno Covas, Ricardo
Montoro, Vanderlei Siraque, Vicente Cândido, Roberto Morais e Waldir Agnello
(efetivos). No decorrer da reunião estiveram presentes os Deputados Chico Sardelli
e Estevam Galvão, membros efetivos deste órgão técnico. Também presente o
Senhor Deputado Antonio Mentor (substituto). Havendo número regimental, o
Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou à secretária a leitura da
ata da reunião anterior, que foi dispensada a pedidos e considerada aprovada. Pela
ordem, o Senhor Deputado Bruno Covas solicitou inversão de pauta, que foi
aprovada pela maioria presente, e o Senhor Presidente deu início aos trabalhos pela
apreciação dos requerimentos protocolados. 1- De autoria do Deputado Bruno
Covas, que requer a expedição de ofício à Receita Federal do Brasil para que sejam
enviadas a essa Comissão Parlamentar de Inquérito as respectivas cópias de
declarações de imposto de renda das pessoas físicas e jurídicas abaixo elencadas a
partir das datas especificadas. Requer, ainda, a expedição de ofício ao Banco
Central do Brasil para localizar contas bancárias em nome das pessoas físicas e
jurídicas abaixo elencadas, solicitando-se às respectivas instituições o envio de
extrato com todas as movimentações realizadas a partir das datas abaixo descritas
até os dias atuais. 1. Hélio Malheiro (de 1999 até a presente data); 2. Andy
Roberto Gurczynska (de 2000 até a presenta data); 3. Walter Amaro da Silva (de
1998 até a presente data); 4. Ricardo Luis do Carmo (de 1997 até a presente
data); 5. Marcelo Rinaldi (de 1996 até a presente data); 6. Alessandro Bernardini
(de 1996 até a presente data); 7. Luis Eduardo Saeger Malheiro (de 1996 até a
presente data); 8. Tomás Edson Botelho Fraga (de 1996 até a presente data); 9.
Conservix Limpeza e Serviços S/S Ltda. (desde sua fundação até a presente data);
10. Germany Comercial e Empreiteira de Obras EPPP Ltda. (desde sua fundação até
a presente data); 11. Saned Saneamento Edificações e Comércio Ltda. (desde sua
fundação até a presente data); 12. Irmãos Peruzo Empreiteira e Comércio de
Materiais para Construção Ltda. (desde sua fundação até a presente data); 13.
Mizu Empreendimentos (alterada para a denominação Mirante Blocos de Concreto,
empresa de propriedade de Luis Eduardo Saeger Malheiro, Marcelo Rinaldo,
Alessandro Bernardino e Tomás Edson Botelho Fraga, todos também dirigentes da
Bancoop) - (desde sua fundação até a presente data); 14. Mirante Blocos de
Concreto (desde sua fundação até a presente data); 15. Amaro Cavalcante
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Construções S/C Ltda. (desde sua fundação até a presente data). Em discussão,
fizeram uso da palavra os Deputados Vicente Cândido, Vanderlei Siraque e Antonio
Mentor, que apresentaram documento solicitando a manifestação formal da
Procuradoria da Casa acerca da constitucionalidade do requerimento em pauta. O
Senhor Presidente manteve em votação o requerimento. Pela ordem, o Senhor
Deputado Vicente Cândido solicitou vista da propositura, que lhe foi concedida pelo
prazo regimental de três dias. 2- De autoria do Senhor Deputado Bruno Covas, que
requer que esta Comissão Parlamentar de Inquérito oficie ao Chefe do Poder
Executivo da Municipalidade de São Paulo, no sentido de que forneça, com a
brevidade que o assunto requer, a esta Comissão cópia de eventuais contratos e/ou
comprovantes de pagamentos realizados por esta municipalidade, suas autarquias
e empresas públicas, às pessoas jurídicas e à pessoa física abaixo arroladas:
Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de São Paulo, BANCOOP;
Conservix Limpeza e Serviços S/S Ltda.; Germany Comercial Empreitera de Obras
Ltda; Mirante Artefatos de Concreto S/C Ltda; Mizu Gerenciamento e Serviços;
Freud Godoy; Caso Sistemas de Segurança Ltda; Caso Comércio e Serviços Ltda.
Pela ordem o Senhor Deputado Vicente Cândido solicitou que fosse apreciado o
terceiro requerimento que requer aditamento a este e deve acompanhá-lo. 3- De
autoria dos Deputados Vicente Cândido e Vanderlei Siraque, que requerem que seja
incluído no requerimento de nº 58: 1- seja oficiado também ao Chefe do Poder
Executivo do Governo do Estado de São Paulo, a fim de que este forneça cópia de
eventuais contratos e/ou comprovantes de pagamentos realizados pelos órgãos do
Governo do Estado bem como suas autarquias e empresas públicas; 2- sejam
incluídas, nos entes da administração indireta, as sociedades de economia mista do
governo municipal e estadual; 3- sejam incluídas, no rol de pessoas jurídicas e
pessoas físicas descritas no requerimento, as adiante nomeadas: Andi Roberto
Gurczynska; Valter Amaro da Silva; ARG Segurança e Vigilância Ltda.; ARG
Portaria, Monitoramento e Limpeza Ltda. e Amaro Oliveira Construções S/C Ltda.
Em votação foram aprovados o requerimento de nº 58 e o requerimento de
aditamento de nº 60. 3- De autoria do Deputado Bruno Covas, que requer a
convocação da Sra. Simone Godoy, sócia proprietária da empresa "CASO Sistemas
de Segurança Ltda.". Pela ordem, o Senhor Deputado Vanderlei Siraque pediu vista
da propositura, que lhe foi concedida pelo prazo regimental de três dias. Em
seguida o Senhor Presidente convidou o Engenheiro Ricardo Luiz do Carmo a tomar
assento à mesa e informou que os dois demais convocados apresentaram
justificativas de não comparecimento. O Senhor Ricardo Luiz do Carmo foi
informado pelo Presidente das razões de sua convocação, apresentou sua
qualificação e o compromisso de tudo falar sobre o que soubesse sobre o objeto
desta CPI. O depoente comunicou que as suas declarações seriam as mesmas
apresentadas ao Ministério Público de São Paulo em 2008. Iniciou seu trabalho na
Bancoop em 1997 como engenheiro responsável pelas medições das execuções de
obras nos empreendimentos, obras essas realizadas por empresas construtoras
particulares, não vinculadas aos diretores da Cooperativa. Em 2000 assumiu o
posto de engenheiro responsável técnico pelos trinta empreendimentos da
Bancoop, cerca de dezoito mil unidades habitacionais. Declarou que a Cooperativa
desde o início teve prejuízos por falta de planejamento técnico, tais como: o
empreendimento Portal do Jabaquara foi vendido com número de andares superior
ao permitido em terrenos vizinhos ao Aeroporto de Congonhas, o que demandou
distribuição das unidades em mais prédios; na Mooca e no Jardim Anália Franco os
terrenos comprados estavam em áreas com muita água no subsolo, que exigiram
obras de fundação muito onerosas; em Pirituba os dirigentes adquiriram um imóvel
de uma antiga indústria e planejaram os prédios sobre as construções antigas, o
que também resultou em custo oneroso das fundações. Como o cálculo do custo
era abaixo do preço de mercado, os prejuízos eram grandes desde o início das
obras. Além disso, a junção das contas bancárias dos empreendimentos tornou
incontroláveis as contas de cada um deles, impedindo a previsão de recursos
disponíveis para continuidade das obras. O Senhor Presidente passou a palavra aos
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Presidente
Secretária – ATL
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BANCOOP
PRESIDENTE
22/06/2010
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BANCOOP
Nós entendemos que este documento apresentado possa até ser distribuído e ser
objeto de discussão. Mas nós decidimos não levar requerimentos de Deputados à
apreciação da Procuradoria. Todos os Deputados aqui têm o direito de fazer as suas
análises, os seus estudos. Até mesmo antecipadamente consultar a Procuradoria, mas ao
apresentar o requerimento, nós o levaremos à discussão e caberá, na discussão, a
apreciação pelos Deputados da Comissão a respeito da apreciação ou não do
requerimento.
Pela ordem o Deputado Vanderlei Siraque.
que cada Deputado deve ter. Se quiser consultar a Procuradoria antecipadamente não
haverá problema, mas ao apresentar, será debatido e decidido por este Plenário.
De qualquer forma, nada impede que o documento subsidie as discussões aqui
feitas neste momento.
longe pode ser aceita como justificativa a ensejar a quebra de sigilo em bloco, como
pretende o nobre Deputado Bruno Covas.
Não se dá ao trabalho sequer de individualizar as condutas e especificar, caso a
caso, os argumentos que poderiam ensejar as quebras de sigilo solicitadas.
Simplesmente baseia a sua fundamentação nos depoimentos de duas pessoas que
compareceram à CPI, o Sr. Andy e o Sr. Hélio Malheiro, que fizeram meras citações a
situações envolvendo pessoas ou empresas, de “ouvir dizer”, sem apresentar qualquer
prova do alegado com referência a fatos específicos, e sem falar que com exceção dos
depoentes, os outros dez mencionados no requerimento sequer foram ouvidos por esta
CPI, outros três inclusive já faleceram.
O requerimento está eivado de vícios insanáveis, que contaminam e o torna
passível de decretação de nulidade por contrariedade a pressupostos constitucionais,
senão vejamos, um, a fundamentação única apresentada no requerimento se baseia em
dois requerimentos, do Sr. Andy e Sr. Hélio, e é a mesma para as quinze pessoas que se
pretende violar a intimidade, sendo, portanto, genérica. Dois, não há individualização de
cada uma das condutas de forma a demonstrar cabalmente qual a conduta, caso a caso,
que fundamenta o pedido de quebra de sigilo. Três, no requerimento constam pessoas
que sequer foram ouvidas pela CPI, como exemplo o Sr. Tomás, Edson e Ricardo.
Quatro, o requerimento pede a quebra do sigilo de pessoas que já tiveram quebra
decretada pela justiça e cujo compartilhamento das informações contidas nos autos já
foi alvo de requerimento aprovado por esta CPI, encaminhado ao DIPO.
O tema, inclusive, já foi vastamente discutido no Supremo Tribunal Federal, que
se pronunciou no sentido de que o requisito de validade do ato de uma CPI que
determina a quebra de sigilo deve ser antecedido de justificativa pormenorizada, da qual
deverá constar a referência aos fatos concretos que legitimem a medida de exceção que
se pretende adotar, da quebra da garantia constitucional de intimidade.” Existe aqui uma
colisão de direitos e nós temos de ver qual direito deve prevalecer, se é o do sigilo ou se
a quebra do sigilo.
“Base constitucional e jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, art. 93, Lei
Complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios: todos os julgamentos dos órgãos do
Poder Judiciário serão públicos e fundamentadas todas as decisões sobre o termo de
nulidade.”
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Quer dizer, aqui se trata, como os membros da CPI também são investidos de
autoridade judicial, nós temos de dar a mesma fundamentação ou a mesma
argumentação de uma autoridade judicial. Nós não somos menos, mas também não
somos mais do que uma autoridade judicial, conforme o art. 93, inciso IX, que é o
princípio da fundamentação de todos os atos, seja Administrativo, seja do Poder
Judiciário ou nosso do Legislativo.
“O Plenário do Supremo Tribunal Federal firmou entendimento jurisprudencial
ao interpretar o alcance contido no art. 58, § 3º da Constituição Federal, reproduzido
pelo art. 13, § 2º, da Constituição Estadual.” E aí eu vou pular alguns trechos, até para
não tomar muito tempo dos senhores, mas eu junto aqui uma série de precedentes, de
decisões anteriores do Poder Judiciário, que dizem que o sigilo bancário pode ser
quebrado, pode, mas tem de ser fundamentado, tem de individualizado.
E aqui, inclusive é interessante mesmo a quebra de sigilo, entretanto, eu penso
que se nós aprovarmos o requerimento, que é de autoria do nobre Deputado Bruno
Covas, que tem todo o direito, tem toda a prerrogativa de apresentar os requerimentos
que assim desejar, mas poderia, ao invés de ajudar a CPI, poderia inclusive prejudicar e
até atrasar os nossos trabalhos, porque certamente aqueles que se sentirem com os seus
direitos individuais lesados, poderiam recorrer ao Poder Judiciário e nós sabemos a
demora de uma decisão do Poder Judiciário.
Então, se fosse fundamentado, se fosse individualizado, se fosse justificado,
acho que seria melhor para os trabalhos da nossa CPI, até engrandeceria a nossa Casa
Legislativa. Por isso, inclusive, como não sou o dono da verdade, gostaria de ouvir a
Procuradoria da Casa, onde nós temos pessoas especializadas, pessoas com curso de
mestrado na área do direito, doutorado, inclusive alguns que publicaram livros sobre
CPI nesta Casa, como cito o exemplo do Dr. Alexandre.
Muito obrigado Sr. Presidente e nobres pares.
O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – É a mesma coisa. Eu fiz oral e ele fez por
escrito. O senhor tem de deliberar sobre isso.
O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Já fiz por escrito. Acho que está tendo
um equívoco de V. Exa.
Deputado Bruno Covas, até a semana que vem, e aí se reposiciona da maneira que
achar, que está exigindo legalmente.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Entendo, nesse caso, que o acessório segue
o principal. Se pede-se aditamento num requerimento que foi pedido vistas, esse
requerimento é acessório ao principal.
O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Queria ter razão pelo menos uma vez.
aconteceu, o que eu presenciei nesses dez anos em que estive presente na Cooperativa
dos Bancários.
Eu fui contratado em 1997, eu era a princípio, um engenheiro fiscal. Eu apenas
liberava medições das construtoras, porque até então a cooperativa não tinha, eles não
faziam com mão-de-obra própria, eram todas através de construtoras.
E quando eu comecei a ser fiscal, eu acho que foi uma das obras que começou a
trazer problemas para a cooperativa, que foi uma obra que eu relato aqui, no Jabaquara,
chamada Portal do Jabaquara. Essa obra era para ter 19 ou 20 andares, e foi feito todo o
projeto em relação a isso, ocupação do uso do solo, e esqueceram, não sei por que razão,
que ali passa avião.
Então, aquela altitude, não poderia ser permitido que executassem um prédio
daquela altura. E com isso foi feito todo um remanejamento de fundação, de estrutura,
ao invés de serem três prédios passaram a ser cinco prédios, porque não tinha altura
suficiente para, a Comar, que fiscaliza esse tipo de execução, aprovar o projeto.
Com isso já foi o início de um planejamento sem qualquer fiscalização
adequada, porque ninguém, sabendo que passa avião num terreno, pode fazer um prédio
com 20 andares.
Quando iniciou-se essa obra do Portal do Jabaquara começou exatamente, os
valores que os cooperados estariam pagando para aquela unidade, estariam bem acima
do valor que a cooperativa teria repassado para eles, porque eu torno a repetir, um
prédio de 20 andares e passam para 15, e tem mais unidades, ele fica mais apertado e a
área interna do apartamento, as rampas ficam mais difíceis de executar, então onera
muito a obra. É uma obra que já começou a defasar os valores que a cooperativa
arrecadava para esse empreendimento.
Após esse empreendimento, nós tivemos outra unidade, que se localiza em
Pirituba. Eles compraram uma fábrica antiga e queriam, com essa fábrica, instalar os
novos empreendimentos ali, usando as garagens, algumas repartições da indústria para
que adequassem ao novo projeto.
Isso foi uma calamidade. A estrutura existente não suportava a carga que era
solicitada, nós tivemos de fazer inúmeros reforços. Nós encontramos rochas no local e
tivemos de dinamitar, passar argamassa expandida, que é uma argamassa expansora de
custo alto. Então, já era o segundo empreendimento que a gente já vinha carregando
com problemas deficitários, com problemas de receita diferente de despesas. Eram
coisas praticamente impraticáveis.
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Sendo 30% abaixo do mercado e a gente fazia a obra chegando num valor 20%
acima do que eles tinham vendido, a gente acumulava, em cada empreendimento, 50%
de prejuízo. Isso era um fato, era uma coisa que eu presenciei isso e eu questionei à
diretoria por que comprar terrenos sem avaliação de um profissional. É fácil chegar e
falar: Você faça essa obra, você tem 15 milhões para fazer. E eles não têm o mínimo
conhecimento do que tem no chão, se era água, se tem pedra. Eles simplesmente
compravam o terreno através de uma empresa chamada Della Libera, que fazia esses
contatos de terrenos, que eram terrenos tecnicamente, para o custo que eles vendiam,
não tinha propósito.
Isso eu questionei a cooperativa, essa empresa Della Libera, e o Sr. Tomás, uma
vez que estava presente nessa mesma obra Mirante do Tatuapé, porque eu não ia muito
à cooperativa, só ia para assinar alguma coisa ou se tivesse alguma reunião, ele me
chamou na obra, num sábado à tarde e falou: Olha, quem entende de cooperativa somos
nós. Você entende de obra, então você fica na obra e fica quieto que essa história de
avaliação de terreno, compra de terreno, não pertence a você dar qualquer tipo de
palpite.
Levei isso ao próprio diretor na época, Dr. Luis Eduardo Malheiro, e o Dr. Luis,
com o meu questionamento em relação aos terrenos, que não tinham como ser
executados daquela forma, ele pediu para que fosse contratada a Ângela Marques, que
foi colocada como a nova engenheira de planejamento, que até então nós não tínhamos.
A cooperativa sempre foi uma empresa bem pequena, bem enxuta, e a gente não tinha
muitos recursos de parte técnica, de muita gente orçando.
A Ângela foi contratada, ela começou a fazer os novos orçamentos e
infelizmente ela também, de uma forma ou de outra, foi condicionada a baixar os
valores, que eu já tinha estudado com ela, que seriam adequados para aquela região,
para aquele terreno, para aquele edifício que eles estavam lançando.
Foi então que eu percebi que eles não estavam mais preocupados em ver o que
eles estavam vendendo. Eles estavam preocupados em vender, não importa para quem.
A ideia parecia que era só vender, vender, vender, e ver o que acontecia. Quer dizer, a
bola de neve ia cada vez aumentando sem parar, numa coisa impressionante.
Aí que tomei alguns questionamentos, eles não gostaram, e desde ali eles, eu
praticamente tomava conta de umas trinta obras, mais ou menos, eu passei a tomar
conta, ser responsável por umas cinco obras. As demais obras eles dividiram.
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O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – No início ele não fez, então estava
retificando. Não foi nenhum desrespeito.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Então, com isso o Sr. Hélio Malheiro,
que era irmão do Dr. Luis Malheiro, ele ficou responsável por umas obras na Zona
Leste. Ele ficou o engenheiro-responsável. Eu questionei: Gente, ele não é engenheiro.
Mas nós vamos contratar alguém que troca a tua RT e sirva para a Zona Leste ficar com
o Hélio Malheiro.
Bom, eles não tomaram essa providência e os proprietários que tiveram
apartamento no Anália Franco eles devem estar a par que houve problema de fundação
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logo que iniciou o segundo prédio, que ele não era a pessoa adequada para executar. Foi
feito um reforço de fundação, que foi acompanhado por empresas de reforço de
fundação, e todos esses custos eram sempre jogados para a cooperativa. Não tinha
dinheiro de outra fonte, a não ser, naquela época, os próprios cooperados pagando esses
erros, que eram simultâneos, um atrás do outro. Não tinha como a gente parar essa
máquina de fazer, tecnicamente, as coisas erradas.
Acho que esse foi um ponto fundamental, a maior parte porque a cooperativa
não teve sucesso. A cooperativa, para quem não sabe, a Bancoop foi tecnicamente a
segunda por dois anos consecutivos, ela ganhou dois Prêmios Top Imobiliário. Isso, na
história da engenharia, não se tem fato disso e tão cedo não vai acontecer. Hoje uma
cooperativa se comparar a uma construtora Gafisa, Cyrela, e ficar em segundo ou
primeiro lugar, é porque a cooperativa tinha condições de executar obras.
Mas, infelizmente, financeiramente ou tecnicamente, as pessoas que dirigiam a
cooperativa estavam talvez pensando em outras situações que eu não posso afirmar. Eu
só posso dizer que cooperativa tem um grande benefício. Ela não incorpora, que é uma
coisa muito boa. Hoje as construtoras, o grande problema deles é incorporar. Segundo,
ela tem alguns fins lucrativos que ela é isenta de alguns impostos, e outra, ela não tem
fins lucrativos, que no fim da história, algumas pessoas que leram o estatuto
confundiram, infelizmente, sem fins lucrativos com fins lucrativos, que houve essa
injeção toda de empresas que não tinham porque estar trabalhando na cooperativa,
tirando um lucro, entre aspas, que não existia, um lucro que não tinha em obra
nenhuma.
E digo mais. Quando eu questionei dessas obras, eles fizeram uma conta que a
gente não tinha mais acesso, que é a conta pool. Cada empreendimento tinha a sua
própria conta bancária, então era só puxar o extrato e você sabia quanto tinha na conta.
Quando eles inventaram a conta pool, eles misturaram todas as contas, dos
empreendimentos novos, dos empreendimentos velhos, somaram tudo e não tinha como
você chegar e dizer quanto a gente tinha na conta. A conta virou uma incógnita, só eles
sabiam o que tinha ali. Então, eu não sabia para onde pedir recurso para tal obra, se eu
estava usando recurso de outra obra, se não estava. A bola de neve ficou sem controle.
É isso que tenho a dizer para vocês e eu dediquei, praticamente, dez anos da
minha vida à cooperativa, e fico chateado de ter proporcionado todo esse conflito, essa
situação que foi causada, porque todo mundo que compra alguma coisa quer o retorno.
Ninguém quer comprar um negócio e não ter a sua própria casa.
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Da minha parte, eu não tenho nada a esconder, a minha conta está aberta a quem
quiser olhar e sinto muito, porque de minha vontade não foi.
O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Boa tarde Sr. Ricardo, obrigado pela sua
presença.
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Qual foi a sua relação comercial com a Bancoop? Que relacionamento o senhor
tinha com eles?
O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – O seu salário era pago de que maneira?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Tudo que eu fiz, eu fiz através de nota
fiscal. Eu não fiz nada através de recibo. Eu dava a nota fiscal e eles me pagavam na
Caixa Econômica Federal e todo mês era assim. Nunca tive algum vínculo
empregatício, nada assim. Era pessoa jurídica.
O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Esse dinheiro que o senhor recebia partia
da própria cooperativa, da sede da constitucional ou vinha de outro empreendimento?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Era o Dr. Hélio Malheiro, que era
diretor da cooperativa, segundo o pessoal fala. Tanto é que o Dr. Blat confirma que em
outros depoimentos ele tem propriedade para falar que a Mizu existia e que era de
propriedade do Sr. Luis Malheiro. Era o presidente da cooperativa.
O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Sabe informar se todo material que era
fornecido e os serviços prestados por essas empresas eram de boa qualidade, o material
era de boa qualidade?
O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Não tinha critério técnico para adquirir
terreno?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei. Para ser sincero, não sei
dessas negociações. Sei que às vezes eles até discutiam lá, a gente comenta na rádio
peão que eles discutiam, que eles brigavam por causa de terreno.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – É. Existia uma época, não sei, parece
que houve uma discussão entre o Dr. Tomás e o Dr. Malheiro, que eles ficaram uns dois
meses sem se falar, e uma sala ao lado da outra, por causa de compra de terreno.
Alguma coisa que um comprou e não falou para o outro, outro comprou.
Só sei, porque quando foi começar a obra, estava meio confuso se ia ficar com o
terreno ou não, porque estava tendo uma divergência entre os diretores. Então eu
aguardei e na hora que falaram para começar a obra, eu comecei. Também debaixo d
´água.
O terreno da Mooca, para quem tem apartamento lá, o Terraço D´Itália era para
ser um prédio que era para ter dois subsolos, só que estava cheio d´água. Para eu
viabilizar isso, eu recorri era levantar o prédio.
pegava as chaves, com aquele recurso eles já abriam outro stand de vendas e iam
pedalando. Como se fosse uma bola de neve, tipo o que ocorreu com a Encol. Eles não
tinham recurso, então iam abrindo empreendimentos e isso vai tendo receita de
empreendimentos que nunca, provavelmente, iriam sair do chão.
O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Hoje o Sr. Tomás devia estar presente e
ele não vem, o Tomás Edson Botelho. Nesse caso específico do Mirante do Tatuapé, foi
ele quem escolheu o terreno?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não senhor. Pelo que sei, não.
Fale para nós um pouco mais a respeito dessa conta pool que o senhor
mencionou no seu depoimento e se o senhor puder precisar para nós quando foi feita
determinada transferência, que no seu depoimento o senhor mencionou algo, para
recapitular um pouco para entender melhor essa citação sobre a conta pool.
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Era planilhado isso, o senhor tinha esse
controle em planilha ou era de memória?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Acho que foi em 2002, 2003, mais ou
menos. Foi aí que começou a confusão toda.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei. Só sei que as minhas contas
zeraram, porque eu tinha valores separados para eu acompanhar o andamento de cada
obra e sumiu.
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Até então o senhor tinha esse controle e
poderia dizer que o andamento das obras e o fluxo de caixa era compatível com as
despesas assumidas?
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Mais uma vez, só para ter certeza, o
senhor não faz ideia do valor dessa conta pool? O senhor ouviu falar, pelo menos,
alguma coisa desse valor, desse montante?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Olha, não deve ser um valor baixo,
porque se eu tenho uns 20 empreendimentos, não é um valor baixo. Não sei falar com
exatidão o valor.
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Não sei se meus colegas pares podem
relembrar, eu ouvi algo em torno de 30 milhões, aqui, foi isso mesmo? Alguém se
lembra dessa conta pool? Um dos depoentes, salvo engano, teria mencionado algo em
torno de 30 milhões? Então despreza.
Sr. Ricardo, o empreendimento de Pirituba, eu também me lembro de um
depoimento, um dos depoentes que falou a respeito desse empreendimento de Pirituba,
e me causou curiosidade. O senhor sabe alguma coisa a respeito desse empreendimento
de Pirituba? O senhor participou dessa obra?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O que sei é que era uma fábrica que
tinha falido, que ficava às margens do trem, em Pirituba, e que a cooperativa comprou
essa fábrica e queria fazer esse empreendimento em Pirituba, usando algumas lajes,
algumas estruturas já existentes no local, o que foi uma verdadeira catástrofe, porque
para segurar uma coisa antiga...
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Usou laje para aproveitar, reduzir custo?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não, porque fica bem mais caro.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Eu fui convidado pelo Dr. Luis
Malheiro para ser sócio da Mirante, porque na verdade foi assim, a gente comprava
blocos da Glasser, e por isso falo que os empreendimentos da Bancoop nunca foram
qualquer empreendimento. A Glasser faz os melhores blocos, até hoje, em São Paulo e
no Brasil.
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor teve uma ideia para manter o
preço, o custo do imóvel acessível, mais barato para o cooperado e alguém pegou essa
sua ideia e ainda, ao se aproveitar dela, passou a fornecer o produto de menor qualidade,
num preço maior?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Num preço mais caro. Tanto é que
eles não tinham opção. Os blocos vinham dessa Mirante.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei bem qual foi a confusão.
Irmãos Peruzo, tanto é que a obra não parou. Eles só deram baixa na carteira dos
carpinteiros e passaram para a Germany com um valor bem acima do que eles recebiam.
Então, por exemplo, eu pagava o metro cúbico do concreto 500 reais, eles
começaram a pagar 600. Então, é claro que o funcionário que ganha mil, você oferece
1050, ele vai embora para outra empresa na mesma hora.
Esse Irmãos Peruzo faliu na época, tanto é que muitos empreiteiros faliram
porque a Germany começou a tomar conta de tudo. Ela começou a tomar conta da
estrutura, depois ela foi tomar conta da parte de alvenaria, depois da parte de azulejo,
depois da parte de gesso. Quer dizer, tudo que tinha ali, eles tomaram conta porque eles
acharam que a Germany seria a empresa que tocaria todas as obras.
Inclusive, as notas da Germany não passavam pelas minhas mãos, para eu poder
assinar e dar o aval das notas. Começaram algumas eu assinar e eles cortaram. Primeiro
cortaram porque eu questionava por que não tinha a retenção, que toda firma que
trabalha tem uma retenção técnica de cinco por cento. A Germany não tinha. Eles
falaram que como eles eram os proprietários, não tinha o direito de ter cinco por cento
de retenção.
Aí, quando a Germany faliu, não tinha nada de dinheiro, porque as retenções,
que eram para atender casos trabalhistas, coisas desse tipo, não tinha nada. E eles
tomaram conta da cooperativa. Eles simplesmente falaram que dali para a frente era a
Germany que ia tocar tudo e que os empreiteiros que quebrem e se virem. E quebrou
tudo, todos que estavam lá quebraram e a Germany pegou os funcionários e começou a
tocar as obras.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei. Sei que ela está no mercado,
que o rapaz é muito idôneo. É um pessoal do Paraná.
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O Valter Amaro da Silva era uma das
empresas que trabalhavam para a cooperativa. Ele fazia a parte da pintura. De 10 obras
que tinha lá, nove obras eram dele, da Valter Amaro da Silva.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim, era um dos que mais faturava na
cooperativa. Não tinha muita concorrência. A maioria das obras era para a Amaro
Pinturas.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não senhor. Ele não ficava lá. Só ia
de vez em quando.
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Circulava por lá. O senhor sabe que tipo
de assunto, que tipo de atividade, relacionamento, que ele mantinha com a Bancoop?
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O que o senhor ouvia falar sobre isso?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ouvia falar que tinha de, sei lá, ajudar
na campanha do PT para a Presidência do Lula.
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Que tipo de ajuda tinha de ser dada para
esse partido político?
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – E essa empresa, pelo que entendi, esse
não foi o único valor alto que o senhor viu?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Doutor, não tenho prova para falar
sobre isso. O que eu falo é o que realmente eu constatei. Eu não vou falar sobre uma
coisa que eu não vi. Posso acusar uma pessoa.
O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Qual a razão pela qual o senhor não
atendeu a solicitação de abrir uma conta? Qual era a finalidade dessa solicitação?
O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Sr. Presidente, queria fazer até uma
pequena reflexão. Eu acho que nós não devemos fugir nenhum milímetro da
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averiguação real dos acusados, para que o nosso relator possa fazer um relatório
substancial, entregue ao Ministério Público, com as acusações que estão surgindo. Seu
depoimento é realmente muito importante.
Mas no meio do seu depoimento o senhor levantou o exemplo da Encol e eu
conheço muito bem isso, porque fui vítima disso, eu tinha um apartamento da Encol, e o
Vicente também.
Então, Sr. Presidente, eu acho que a gente devia continuar nessa averiguação
rigorosa dos fatos, tentar punir, nós não podemos punir ninguém, mas colocar uma
substância muito grande no relatório, mas devemos também pensar naquilo que é o
fundamento da nossa CPI, que são justamente as pessoas, que tenho certeza que fez o
senhor ficar emocionado, que são os cooperados.
Na Encol a gente conseguiu fazer algum tipo de acordo individualizado, em cada
empreendimento. Eu acho que a gente deveria tentar, quem sabe no recesso de julho,
junto aos cooperados, algumas conversas até paralelas à Comissão, e também
possivelmente com a Bancoop, para ver aonde a gente pode buscar uma solução,
construir uma solução, para que minimize, de alguma maneira, o sofrimento desse
pessoal que foi lesado.
A punição dos responsáveis tem de ser muito rigorosa, mas a construção de um
entendimento entre os cooperados e a cooperativa me parece fundamental, Sr.
Presidente. Acho que a gente deveria pensar em alguma coisa objetiva para realmente
propor alguma coisa de substância para que a gente possa avançar num acordo ou numa
solução mais duradoura com relação aos cooperados.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu soube que eles foram para uma
fazenda em Pernambuco, alguma coisa assim, e que eles estavam voltando de carro e
sofreram um acidente automobilístico.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não, porque isso era só entre eles, o
pessoal que usava terno.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Se fosse para uma boa causa, eu acho
que era bem remunerado. Agora, pelo que eu fiz e a cooperativa fez, eu fiquei com uma
quantidade de processos nas minhas costas que até hoje eu chego no fórum e eu tenho
de pegar um advogado, como fala, aqueles que ficam...
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu liguei para ele. Foi na outra terça-
feira.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Deve ter saído, porque tudo que
acontece no Ministério Público sai.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei. Ele ligou e falou: Você
gostaria de fazer um depoimento ao Ministério Público sobre a Bancoop? Eu estava
numa obra na Raposo Tavares e falei: Olha, para eu chegar em São Paulo é complicado,
mas se não tiver jeito, eu vou sem problema nenhum.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei, porque foi uma coisa rápida.
Não tive muito contato com ele. Eu perguntei o que tinha de fazer. Ele falou que tinha
de ir ao Ministério Público. Aí eu fui lá, compareci e conversei com o Dr. Blat, dei o
depoimento.
O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Até como jornalista aqui, ele te ligou
para fazer uma matéria?
O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Depois disso que o senhor foi convocado
pelo Ministério Público?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ele pediu para mim algumas coisas
sobre a Bancoop.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ele falou que era com o Dr. Blat.
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O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Apenas para dar uma cooperada aqui.
Ela chamou a atenção, ela relatou que os cooperados passaram as informações para o
repórter da Bandeirantes e o telefone do engenheiro-responsável para que ele o
procurasse. Foi isso que aconteceu. Aliás, para todos os repórteres, diz aqui a cooperada
que está assistindo, a dona Dinalva. Eles que procuraram a imprensa.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ele falou para eu falar o que eu falei
no Ministério Público. E falei que falaria no Ministério Público e em qualquer lugar que
me chamassem. Tanto que quando fui depor, eu falei que o que eu falei aqui eu falo em
qualquer lugar.
O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Então, essa questão que é que precisa ser
objeto de uma reflexão isenta dos membros desta CPI, porque justificar ações
irregulares na administração de uma cooperativa, como o engenheiro nos mostra aqui
que aconteceram, por conta de mil reais para campanha de Presidente da República, é
uma coisa inaceitável. Nem quem acredita em fada madrinha vai acreditar numa
conversa como essa.
Mas eu queria que o engenheiro Ricardo nos ajudasse aqui quanto a algumas
questões que têm como objetivo essa busca da verdade como nós estabelecemos aqui.
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Agora, se o senhor sabe realmente dos fatos que o senhor narrou para nós com a
certeza de quem participou das operações, de quem viu os fatos acontecerem, de quem
assinou documentos, etc, ou participou de alguma maneira, é diferente, o peso é outro.
O senhor concorda comigo?
é bom que convoque todos os demais membros, até porque isso é matéria de deliberação
nesta CPI, aqui sugerida por mim, Deputado Bruno Covas, de que talvez seria o caso de
fazer algumas diligências.
Então, uma coisa é uma visita individual de um ou outro Deputado, que pela lei
tem o dever de fiscalizar e outra coisa é uma diligência da CPI, que deverá ser
informada a todos os membros. Eu gostaria de ter ido, por exemplo, quando leva a
mídia junto, que não é uma coisa tão informal assim.
O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Não foi diligência, foi uma visita.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – E que serviços ela prestava para a Bancoop?
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O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor sabe dizer aonde era a sede da
Germany?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Uns 500, mais ou menos, porque ela
pegou todo o nicho dos empreiteiros.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – E V. Sa. disse que quando foi criada a
Mirante, e contratada pela Bancoop, a Mirante fornecia um bloco de qualidade inferior
àquele que era produzido?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Então, um bloco que era 40% da qualidade
do que tinha o anterior, ou seja, 60% a menos, a um custo 20% maior. A partir de
quando a Mirante passou a fornecer para a Bancoop?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor não sabe estimar em que ano isso
começou a operar?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Depois a gente pode perguntar aos outros
cooperados. O senhor não se lembra a partir de quando?
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O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Mas isso tinha, tinha o alvará dizendo que
podia construir desde que respeitasse o meio ambiente?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso tinha, mas que nunca foi
respeitado.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor pagou? Foi o senhor que pagou
para o policial?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Não sou doido. Aí eu não saía
mais de lá. Isso na obra mesmo.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Algum advogado chegou a lhe orientar para
que pagasse ao policial?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor disse: Eu paguei três mil reais.
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O SR. BRUNO COVAS – PSDB – A Bancoop pagou três mil reais, então?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor sabe qual a origem desse recurso?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O Alessandro retirou, enfim, lhe deu três
mil reais para o senhor pagar ao policial?
não. Pode ser que tenha gente safada em diversos locais, então não podemos generalizar
nada. Tem razão V. Exa.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Não diria nem vagabundo, diria aloprado,
não é?
Só para deixar bem claro, o Sr. Alessandro, portanto, lhe deu três mil reais.
Houve ou não houve intermediação de algum advogado, que lhe orientou a fazer isso?
A ideia foi do senhor?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Não sei. Por isso estou perguntando ao
senhor.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Mas veja Dr. Ricardo, na mesma linha que
o Deputado Siraque colocou, quando fica eles, fica a instituição. Quem teve a ideia? O
senhor foi ao Alessandro e pegou três mil reais?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Quem pediu para o senhor os três mil reais
para o Sr. Alessandro? Foi o senhor?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso é parte jurídica deles. Não quero
citar nomes. Tem duas ou três advogadas lá. Inclusive está no meu depoimento ao
Ministério Público.
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – No seu depoimento o senhor diz quem lhe
orientou?
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O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Dra. Letícia. Ela lhe orientou a pagar
propina. Ela disse que dessa forma seria resolvido? Como aconteceu isso?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor sabe quanto entrou desse FIDC?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor chegou a emitir alguma nota fria
para receber de algum serviço não realizado?
O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Quem emitia notas frias? O senhor já disse
da própria Mizu, que havia um pagamento de 500 mil reais e não havia nenhum serviço
prestado.
eu vi. Imagina, a Bancoop não rodava cinco milhões, rodava muito mais. Cinco milhões
para um empreendimento com 10, não é nada. Isso é uma gotinha. Eles deviam faturar
um milhão, um milhão e pouco por mês.
Esse dinheiro, com certeza não ia dar essa desequilibrada que deu. Não era
possível, nunca tinha dinheiro na obra. Quando a Germany entrou começou a aparecer
dinheiro porque eles tinham a conta pool. A Germany não ia trabalhar com conta
separada. Ela queria a conta pool.
O senhor imagina que, os empreiteiros que estavam nas obras presenciaram, os
que ficaram, quem recebia primeiro? Era a Germany. Quem recebia com valor mais
alto? Era a Germany. Então, tudo era com a Germany. Não tinha para ninguém. Era
Germany e ponto final.
Por que era pago mais para a Germany? Ninguém sabe. Porque a gente tinha
uma tabela de preço. A alvenaria era cinco, passou para 10. Pintura era cinco, passou
para 20. Por quê? Porque eles não estavam interessados realmente em terminar a
cooperativa, em acabar as obras. Eles estavam pensando em ter um lucro para a
Germany. E aí que foi o confronto comigo, que estava no campo tentando entregar as
obras. Aí ficou o mal-estar e foi essa divisão de obras, que resultou no que o senhor viu.
Ninguém mais comandava nada, era só a Germany que mandava.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O senhor vai achar até gozado. O meu
diretor-técnico era o office-boy da empresa. Eu não tinha diretor-técnico.
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Mizu. Essa que era fantasma, uma
consultoria que...
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu sabia que era o Dr. Luis Malheiro
junto com o contador, que era o Rinaldi, Marcelo Rinaldi e o Alessandro. Futuramente
eu soube que o Dr. Tomás também fazia parte da Germany, porque até então ele dizia
que não fazia parte.
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A história que soube era que eles iam
ver gesso e comprar a fazenda para fazer vinho. Parece que eles compraram um trator.
Eles iam para essa área de fazenda. Não sei falar exatamente o que era, porque não
ficava sabendo. Era entre eles lá.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O que sei era o Dr. Luis Malheiro e o
Tomás, são duas assinaturas. Porque eu não recebia em cheque. Mas sei que eles
assinavam. Precisava de duas assinaturas, se tinha de pagar alguma coisa precisava de
mais uma, não era um só que assinava, às vezes trocava. Mas eram os dois que
assinavam.
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O que o senhor ouviu falar dessa ONG?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eles tinham alguma coisa sobre isso.
Não sei falar com certeza, mas tinha mesmo esse nome com essa ONG.
O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor acha que pode ter havido
alguma ajuda da Bancoop a essa ONG?
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei, porque não tenho como
provar nada. Não vou falar que teve ajuda da Bancoop, porque não vi e não sei se teve.
O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei, de fato, falar muito sobre
essa ONG que eles faziam, porque na Bancoop tinha muita coisa assim que a gente, não
interessava eles me passarem. Revitalização do centro. Eu ouvi falar.
Por isso que falo que a tarefa que eu tinha, de trabalhar nessas obras, não dava
tempo, não tinha tempo disponível para participar de reunião. Mesmo porque eles não
me convidavam. Segundo, o meu nome estava em jogo, porque com tanta obra em
andamento, é o que falo, uma cooperativa que ganha dois Tops Imobiliários não foi
atrás de uma escrivaninha que conseguiu, foi fazendo obra.
* * *