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CPI BANCOOP - 16ª Legislatura

22/06/2010 - Apreciação requerimentos; oitiva do Sr. Ricardo Luiz do


Carmo.

ATA DA DÉCIMA PRIMEIRA REUNIÃO DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO


CONSTITUIDA PELO ATO Nº 13, DE 2010, COM A FINALIDADE DE INVESTIGAR
SUPOSTAS IRREGULARIDADES E FRAUDES PRATICADAS CONTRA MUTUÁRIOS DA
COOPERATIVA HABITACIONAL DOS BANCÁRIOS DO ESTADO DE SÃO PAULO -
BANCOOP, E PROPOR SOLUÇÕES PARA O CASO.

Aos vinte e dois dias do mês de junho de dois mil e dez, às onze horas, no Plenário
"Dom Pedro I" da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, realizou-se a
Décima Primeira Reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito constituída pelo
ato nº 13, de 2010, com a finalidade de "investigar supostas irregularidades e
fraudes praticadas contra cerca de três mil mutuários da Cooperativa Habitacional
dos Bancários do Estado de São Paulo - BANCOOP, e propor soluções para o caso",
da Quarta Sessão Legislativa, da Décima Sexta Legislatura, sob a presidência do
Deputado Samuel Moreira. Presentes os Senhores Deputados Bruno Covas, Ricardo
Montoro, Vanderlei Siraque, Vicente Cândido, Roberto Morais e Waldir Agnello
(efetivos). No decorrer da reunião estiveram presentes os Deputados Chico Sardelli
e Estevam Galvão, membros efetivos deste órgão técnico. Também presente o
Senhor Deputado Antonio Mentor (substituto). Havendo número regimental, o
Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou à secretária a leitura da
ata da reunião anterior, que foi dispensada a pedidos e considerada aprovada. Pela
ordem, o Senhor Deputado Bruno Covas solicitou inversão de pauta, que foi
aprovada pela maioria presente, e o Senhor Presidente deu início aos trabalhos pela
apreciação dos requerimentos protocolados. 1- De autoria do Deputado Bruno
Covas, que requer a expedição de ofício à Receita Federal do Brasil para que sejam
enviadas a essa Comissão Parlamentar de Inquérito as respectivas cópias de
declarações de imposto de renda das pessoas físicas e jurídicas abaixo elencadas a
partir das datas especificadas. Requer, ainda, a expedição de ofício ao Banco
Central do Brasil para localizar contas bancárias em nome das pessoas físicas e
jurídicas abaixo elencadas, solicitando-se às respectivas instituições o envio de
extrato com todas as movimentações realizadas a partir das datas abaixo descritas
até os dias atuais. 1. Hélio Malheiro (de 1999 até a presente data); 2. Andy
Roberto Gurczynska (de 2000 até a presenta data); 3. Walter Amaro da Silva (de
1998 até a presente data); 4. Ricardo Luis do Carmo (de 1997 até a presente
data); 5. Marcelo Rinaldi (de 1996 até a presente data); 6. Alessandro Bernardini
(de 1996 até a presente data); 7. Luis Eduardo Saeger Malheiro (de 1996 até a
presente data); 8. Tomás Edson Botelho Fraga (de 1996 até a presente data); 9.
Conservix Limpeza e Serviços S/S Ltda. (desde sua fundação até a presente data);
10. Germany Comercial e Empreiteira de Obras EPPP Ltda. (desde sua fundação até
a presente data); 11. Saned Saneamento Edificações e Comércio Ltda. (desde sua
fundação até a presente data); 12. Irmãos Peruzo Empreiteira e Comércio de
Materiais para Construção Ltda. (desde sua fundação até a presente data); 13.
Mizu Empreendimentos (alterada para a denominação Mirante Blocos de Concreto,
empresa de propriedade de Luis Eduardo Saeger Malheiro, Marcelo Rinaldo,
Alessandro Bernardino e Tomás Edson Botelho Fraga, todos também dirigentes da
Bancoop) - (desde sua fundação até a presente data); 14. Mirante Blocos de
Concreto (desde sua fundação até a presente data); 15. Amaro Cavalcante
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Construções S/C Ltda. (desde sua fundação até a presente data). Em discussão,
fizeram uso da palavra os Deputados Vicente Cândido, Vanderlei Siraque e Antonio
Mentor, que apresentaram documento solicitando a manifestação formal da
Procuradoria da Casa acerca da constitucionalidade do requerimento em pauta. O
Senhor Presidente manteve em votação o requerimento. Pela ordem, o Senhor
Deputado Vicente Cândido solicitou vista da propositura, que lhe foi concedida pelo
prazo regimental de três dias. 2- De autoria do Senhor Deputado Bruno Covas, que
requer que esta Comissão Parlamentar de Inquérito oficie ao Chefe do Poder
Executivo da Municipalidade de São Paulo, no sentido de que forneça, com a
brevidade que o assunto requer, a esta Comissão cópia de eventuais contratos e/ou
comprovantes de pagamentos realizados por esta municipalidade, suas autarquias
e empresas públicas, às pessoas jurídicas e à pessoa física abaixo arroladas:
Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de São Paulo, BANCOOP;
Conservix Limpeza e Serviços S/S Ltda.; Germany Comercial Empreitera de Obras
Ltda; Mirante Artefatos de Concreto S/C Ltda; Mizu Gerenciamento e Serviços;
Freud Godoy; Caso Sistemas de Segurança Ltda; Caso Comércio e Serviços Ltda.
Pela ordem o Senhor Deputado Vicente Cândido solicitou que fosse apreciado o
terceiro requerimento que requer aditamento a este e deve acompanhá-lo. 3- De
autoria dos Deputados Vicente Cândido e Vanderlei Siraque, que requerem que seja
incluído no requerimento de nº 58: 1- seja oficiado também ao Chefe do Poder
Executivo do Governo do Estado de São Paulo, a fim de que este forneça cópia de
eventuais contratos e/ou comprovantes de pagamentos realizados pelos órgãos do
Governo do Estado bem como suas autarquias e empresas públicas; 2- sejam
incluídas, nos entes da administração indireta, as sociedades de economia mista do
governo municipal e estadual; 3- sejam incluídas, no rol de pessoas jurídicas e
pessoas físicas descritas no requerimento, as adiante nomeadas: Andi Roberto
Gurczynska; Valter Amaro da Silva; ARG Segurança e Vigilância Ltda.; ARG
Portaria, Monitoramento e Limpeza Ltda. e Amaro Oliveira Construções S/C Ltda.
Em votação foram aprovados o requerimento de nº 58 e o requerimento de
aditamento de nº 60. 3- De autoria do Deputado Bruno Covas, que requer a
convocação da Sra. Simone Godoy, sócia proprietária da empresa "CASO Sistemas
de Segurança Ltda.". Pela ordem, o Senhor Deputado Vanderlei Siraque pediu vista
da propositura, que lhe foi concedida pelo prazo regimental de três dias. Em
seguida o Senhor Presidente convidou o Engenheiro Ricardo Luiz do Carmo a tomar
assento à mesa e informou que os dois demais convocados apresentaram
justificativas de não comparecimento. O Senhor Ricardo Luiz do Carmo foi
informado pelo Presidente das razões de sua convocação, apresentou sua
qualificação e o compromisso de tudo falar sobre o que soubesse sobre o objeto
desta CPI. O depoente comunicou que as suas declarações seriam as mesmas
apresentadas ao Ministério Público de São Paulo em 2008. Iniciou seu trabalho na
Bancoop em 1997 como engenheiro responsável pelas medições das execuções de
obras nos empreendimentos, obras essas realizadas por empresas construtoras
particulares, não vinculadas aos diretores da Cooperativa. Em 2000 assumiu o
posto de engenheiro responsável técnico pelos trinta empreendimentos da
Bancoop, cerca de dezoito mil unidades habitacionais. Declarou que a Cooperativa
desde o início teve prejuízos por falta de planejamento técnico, tais como: o
empreendimento Portal do Jabaquara foi vendido com número de andares superior
ao permitido em terrenos vizinhos ao Aeroporto de Congonhas, o que demandou
distribuição das unidades em mais prédios; na Mooca e no Jardim Anália Franco os
terrenos comprados estavam em áreas com muita água no subsolo, que exigiram
obras de fundação muito onerosas; em Pirituba os dirigentes adquiriram um imóvel
de uma antiga indústria e planejaram os prédios sobre as construções antigas, o
que também resultou em custo oneroso das fundações. Como o cálculo do custo
era abaixo do preço de mercado, os prejuízos eram grandes desde o início das
obras. Além disso, a junção das contas bancárias dos empreendimentos tornou
incontroláveis as contas de cada um deles, impedindo a previsão de recursos
disponíveis para continuidade das obras. O Senhor Presidente passou a palavra aos
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Deputados inscritos; fizeram uso da mesma os Senhores Deputados: Roberto


Morais, Waldir Agnello, Ricardo Montoro, Vicente Cândido, Bruno Covas e Samuel
Moreira. Respondendo o depoente afirmou que a fim de cobrir o saldo deficitário da
Cooperativa, os dirigentes ofereciam novos empreendimentos, sempre a custo
baixo. Com o objetivo de minimizar o custo de uma obra, o depoente adquiriu uma
máquina e começou a produzir blocos de concreto no canteiro de obras. O
presidente da Bancoop, Luiz Malheiro, vendo essa possibilidade criou a Mirante
Blocos de Concreto para fornecer à Cooperativa, sendo que o produto era
superfaturado e de péssima qualidade. Outras empresas foram criadas, como a
Mizu Participações, que arrecadava 10% da receita e a Germany, que absorveu os
melhores funcionários das construtoras prestadoras de serviços, muitas das quais
vieram a sofrer falência, pois tiveram seus contratos rompidos. Esgotadas todas as
questões e nada mais havendo a tratar o Senhor Presidente convocou a próxima
reunião para terça-feira próxima, às onze horas, e deu por encerrados os trabalhos.
A presente reunião foi gravada pelo serviço de Audiofonia e após transcrição fará
parte integrante desta Ata, que eu Deise Fischetti Delgatto, Agente Técnico
Legislativo, lavrei e assino após sua Excelência.

Aprovada em reunião de 29/ 06 / 2010.

Deputado Samuel Moreira

Presidente

Deise Fischetti Delgatto

Secretária – ATL
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COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO

BANCOOP

PRESIDENTE

DEPUTADO SAMUEL MOREIRA - PSDB

22/06/2010
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COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO

BANCOOP

BK CONSULTORIA E SERVIÇOS LTDA.


22/06/2010

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Havendo número


regimental, declaro aberta a Reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito constituída
pelo Ato nº 13, de 2010, com a finalidade de investigar supostas irregularidades e
fraudes praticadas contra cerca de três mil mutuários da Cooperativa Habitacional dos
Bancários do Estado de São Paulo – BANCOOP, e propor soluções para o caso.
Registro, com muito prazer, as presenças dos nobres Deputados João Barbosa,
Waldir Agnello, Ricardo Montoro, Roberto Morais, Bruno Covas, Vicente Cândido e
Vanderlei Siraque.
Solicito à Secretária da nossa Comissão que proceda à leitura da ata da reunião
anterior. (Pausa) Pela ordem o Deputado Roberto Morais.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Solicito a dispensa da leitura da ata.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Solicitada a dispensa,


considero aprovada a dispensa da leitura, não havendo manifestação.
Com a palavra o nobre Deputado Bruno Covas.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Para solicitar a inversão da nossa pauta,


para que primeiro a gente possa deliberar sobre os requerimentos e em seguida ouvir os
convocados.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – É regimental. Não


havendo manifestação contrária, coloco em discussão o pedido do Deputado Bruno
Covas. (Pausa) Pela ordem, com a palavra o Deputado Vicente Cândido.
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O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O senhor pode repetir a questão,


Presidente?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O Deputado Bruno


Covas pede que haja uma inversão dos itens da nossa pauta.
Em discussão. (Pausa) Não havendo oradores inscritos, considero aprovada a
solicitação do Deputado Bruno Covas.
Passamos ao novo primeiro item da pauta, aprovação dos requerimentos.
Requerimento de autoria do Deputado Bruno Covas, no “sentido de que sejam
expedidos ofícios à Receita Federal e ao Banco Central do Brasil, com vistas à obtenção
dos dados fiscais e bancários, na conformidade que especifica, das pessoas físicas e
jurídicas abaixo elencadas, com base na Lei Complementar Federal nº 105, de 10 de
janeiro de 2001, das seguintes pessoas: Hélio Malheiro, Andy Roberto Gurczynska,
Valter Amaro, Ricardo Luiz do Carmo, Marcelo Rinaldi, Alessandro Bernardino, Luis
Malheiro, Edson Botelho, Conservix Limpeza, Germany Comercial e Empreiteira de
Obras, Saned Saneamento e Edificações, Irmãos Peruzo Empreiteira, Mizu
Empreendimentos, Mirante Blocos de Concreto e Amaro Cavalcanti Construções”.
Em discussão o requerimento do Deputado Bruno Covas. (Pausa) Com a palavra
o Deputado Vicente Cândido.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Sr. Presidente, diante da polêmica, e até


da matéria que hoje se encontra no Supremo Tribunal Federal, sobre o assunto, sobre
competência e legitimidade das CPIs no tocante à quebra de sigilo, eu sugiro a esta CPI,
a V. Exa., que possamos pedir um parecer por escrito da Procuradoria da Casa, para ver
qual a opinião, qual a posição dessa Procuradoria.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Vicente


Cândido, esta Presidência recebeu, inclusive, um ofício, um documento assinado pelo
Deputado Antonio Mentor, líder da bancada do PT, e pelo Deputado Vanderlei Siraque,
fazendo diversas considerações a respeito deste requerimento do Deputado Bruno
Covas e ao final solicita manifestação formal da Procuradoria da Casa, a fim de que se
manifeste acerca da constitucionalidade do Requerimento nº 57, que é o que está em
discussão, apresentado pelo Deputado Bruno Covas.
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Nós entendemos que este documento apresentado possa até ser distribuído e ser
objeto de discussão. Mas nós decidimos não levar requerimentos de Deputados à
apreciação da Procuradoria. Todos os Deputados aqui têm o direito de fazer as suas
análises, os seus estudos. Até mesmo antecipadamente consultar a Procuradoria, mas ao
apresentar o requerimento, nós o levaremos à discussão e caberá, na discussão, a
apreciação pelos Deputados da Comissão a respeito da apreciação ou não do
requerimento.
Pela ordem o Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Nós quem, que deferiu o pedido de


ouvir a Procuradoria, porque eu não participei. Não lembro de nenhuma sessão que nós
tomamos alguma decisão.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Qual o


questionamento, Deputado Vanderlei Siraque?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O senhor disse que nós decidimos que


a Procuradoria da Casa não seria ouvida. Não lembro de nós termos indeferido esse
pedido. Eu fiz um requerimento. Eu solicitei vistas do requerimento do nobre Deputado
Bruno Covas e aí eu apresentei uma série de estudos. Não solicitei vistas por solicitar. E
aí eu entendo que existem alguns problemas de ordem jurídica e havendo problema de
ordem jurídica, nós poderíamos encaminhar para a Comissão de Constituição e Justiça
ou ouvir a Procuradoria da Casa. Gostaria que fosse ouvida, porque nós não tomamos
uma decisão para não ser ouvida. Além do mais, a Procuradoria da Casa foi tornada
auxiliar dos nossos trabalhos.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Nobre Deputado


Vanderlei Siraque, em que pese as vossas considerações, a vossa consideração, não há
por parte desta Presidência a hipótese de levar um requerimento de um Deputado,
apresentado nesta Comissão, ao prévio parecer ou decisão da Procuradoria.
O Deputado terá toda a autonomia para apresentar o requerimento que ele achar
importante que seja apresentado e caberá aos membros desta Comissão decidir aprová-
lo ou não. Todos os estudos prévios poderão ser tomados pelos Deputados, os cuidados
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que cada Deputado deve ter. Se quiser consultar a Procuradoria antecipadamente não
haverá problema, mas ao apresentar, será debatido e decidido por este Plenário.
De qualquer forma, nada impede que o documento subsidie as discussões aqui
feitas neste momento.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, é exatamente isso.


Jamais queria impedir algum Deputado de apresentar. Quem decide somos nós, nós
Deputados. É nossa prerrogativa.
Agora, ouvir a Procuradoria para subsidiar o nosso entendimento, quem delibera
somos nós, agora a consultoria, não vejo problema para nós. Nós não teríamos nenhum
problema.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Se o senhor quiser


formalizar uma consulta do senhor, previamente, à Procuradoria, uma opinião sobre
esse caso e ela quiser responder, o senhor tem todo o direito. Só que nós estamos agora
no momento da discussão e da votação, a seguir, desse requerimento.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, eu solicitei vistas e


apresentei um relatório sobre o requerimento.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor tem uma


opinião manifestada aqui, que poderá ser apreciada pelos Deputados à medida em que o
senhor quiser debater, distribuir cópia, defender a sua posição.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Por que não ouvir a Procuradoria?


Acho que nos ajudaria.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Não submeterei os


requerimentos à opinião da Procuradoria. Não submeterei na discussão dos Deputados.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Se nós solicitamos, acho então que a


Comissão que decida.
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O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Está em discussão. O


requerimento está em discussão. Se alguém apresentar uma proposta. Eu não submeterei
requerimentos de Deputados previamente à Procuradoria.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, eu fiz uma solicitação,


eu e o Deputado Mentor.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Eu já respondi à sua


solicitação.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Agora, não é resposta. Tem de ser


apreciado pela Comissão. A Comissão não pode ser ouvida?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – A não ser que


deliberem. Está em discussão. O senhor está com a palavra.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, posso ler?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor terá 10


minutos, regimentais, então, para defesa do seu entendimento, da sua posição, 10
minutos. Está em discussão o requerimento do Deputado Bruno Covas.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – “Sr. Presidente da Comissão


Parlamentar de Inquérito. Trata-se de requerimento de autoria do Deputado Bruno
Covas, relator da CPI da Bancoop, protocolado no dia 07/06/2010 e que recebeu o nº
57. Por intermédio do requerimento, pretende o nobre relator seja oficiado ao Banco
Central a fim de que este localize contas bancárias, envie extratos com a movimentação
bancária de oito pessoas físicas e sete pessoas jurídicas.” Até gostaria que pudesse dar
cópia aos nobres pares.
“Apresento uma justificativa única para fundamentar o pedido de quebra de
sigilo de quinze pessoas. O requerimento foi colocado em discussão na sessão ordinária
da CPI realizada no dia 08/06/2010. O Deputado Vanderlei Siraque solicitou vistas do
mesmo, para análise da legalidade. A explanação apresentada no requerimento nem de
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longe pode ser aceita como justificativa a ensejar a quebra de sigilo em bloco, como
pretende o nobre Deputado Bruno Covas.
Não se dá ao trabalho sequer de individualizar as condutas e especificar, caso a
caso, os argumentos que poderiam ensejar as quebras de sigilo solicitadas.
Simplesmente baseia a sua fundamentação nos depoimentos de duas pessoas que
compareceram à CPI, o Sr. Andy e o Sr. Hélio Malheiro, que fizeram meras citações a
situações envolvendo pessoas ou empresas, de “ouvir dizer”, sem apresentar qualquer
prova do alegado com referência a fatos específicos, e sem falar que com exceção dos
depoentes, os outros dez mencionados no requerimento sequer foram ouvidos por esta
CPI, outros três inclusive já faleceram.
O requerimento está eivado de vícios insanáveis, que contaminam e o torna
passível de decretação de nulidade por contrariedade a pressupostos constitucionais,
senão vejamos, um, a fundamentação única apresentada no requerimento se baseia em
dois requerimentos, do Sr. Andy e Sr. Hélio, e é a mesma para as quinze pessoas que se
pretende violar a intimidade, sendo, portanto, genérica. Dois, não há individualização de
cada uma das condutas de forma a demonstrar cabalmente qual a conduta, caso a caso,
que fundamenta o pedido de quebra de sigilo. Três, no requerimento constam pessoas
que sequer foram ouvidas pela CPI, como exemplo o Sr. Tomás, Edson e Ricardo.
Quatro, o requerimento pede a quebra do sigilo de pessoas que já tiveram quebra
decretada pela justiça e cujo compartilhamento das informações contidas nos autos já
foi alvo de requerimento aprovado por esta CPI, encaminhado ao DIPO.
O tema, inclusive, já foi vastamente discutido no Supremo Tribunal Federal, que
se pronunciou no sentido de que o requisito de validade do ato de uma CPI que
determina a quebra de sigilo deve ser antecedido de justificativa pormenorizada, da qual
deverá constar a referência aos fatos concretos que legitimem a medida de exceção que
se pretende adotar, da quebra da garantia constitucional de intimidade.” Existe aqui uma
colisão de direitos e nós temos de ver qual direito deve prevalecer, se é o do sigilo ou se
a quebra do sigilo.
“Base constitucional e jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, art. 93, Lei
Complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios: todos os julgamentos dos órgãos do
Poder Judiciário serão públicos e fundamentadas todas as decisões sobre o termo de
nulidade.”
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Quer dizer, aqui se trata, como os membros da CPI também são investidos de
autoridade judicial, nós temos de dar a mesma fundamentação ou a mesma
argumentação de uma autoridade judicial. Nós não somos menos, mas também não
somos mais do que uma autoridade judicial, conforme o art. 93, inciso IX, que é o
princípio da fundamentação de todos os atos, seja Administrativo, seja do Poder
Judiciário ou nosso do Legislativo.
“O Plenário do Supremo Tribunal Federal firmou entendimento jurisprudencial
ao interpretar o alcance contido no art. 58, § 3º da Constituição Federal, reproduzido
pelo art. 13, § 2º, da Constituição Estadual.” E aí eu vou pular alguns trechos, até para
não tomar muito tempo dos senhores, mas eu junto aqui uma série de precedentes, de
decisões anteriores do Poder Judiciário, que dizem que o sigilo bancário pode ser
quebrado, pode, mas tem de ser fundamentado, tem de individualizado.
E aqui, inclusive é interessante mesmo a quebra de sigilo, entretanto, eu penso
que se nós aprovarmos o requerimento, que é de autoria do nobre Deputado Bruno
Covas, que tem todo o direito, tem toda a prerrogativa de apresentar os requerimentos
que assim desejar, mas poderia, ao invés de ajudar a CPI, poderia inclusive prejudicar e
até atrasar os nossos trabalhos, porque certamente aqueles que se sentirem com os seus
direitos individuais lesados, poderiam recorrer ao Poder Judiciário e nós sabemos a
demora de uma decisão do Poder Judiciário.
Então, se fosse fundamentado, se fosse individualizado, se fosse justificado,
acho que seria melhor para os trabalhos da nossa CPI, até engrandeceria a nossa Casa
Legislativa. Por isso, inclusive, como não sou o dono da verdade, gostaria de ouvir a
Procuradoria da Casa, onde nós temos pessoas especializadas, pessoas com curso de
mestrado na área do direito, doutorado, inclusive alguns que publicaram livros sobre
CPI nesta Casa, como cito o exemplo do Dr. Alexandre.
Muito obrigado Sr. Presidente e nobres pares.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Em discussão o


Requerimento nº 57, do Deputado Bruno Covas.
Pela ordem o Deputado Vicente Cândido.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, não tem de discutir o


meu requerimento antes?
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O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Primeiro que não


havia nem entendido que é um requerimento. Nós recebemos como um documento. De
qualquer forma, nós podemos pautá-lo.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Está na pauta. Ele é preliminar. Se a CPI


decide que vai ouvir a Procuradoria, está prejudicado o requerimento do Deputado
Bruno Covas.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Nós não estamos


decidindo se vai ouvir ou não vai ouvir.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Eu fiz uma questão de ordem e o senhor


disse que já existia na mão do senhor, por escrito, assinado pelo Deputado Antonio
Mentor e pelo Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O que tem, eu


manifestei aqui a existência de um documento assinado pelo Deputado Mentor e pelo
Deputado Vanderlei Siraque. Um documento, praticamente uma carta, um ofício
enviado a esta Presidência. Inclusive não tem o título de requerimento. Ele solicita, nem
sequer requer. Ele solicita que eu ouça, que nós possamos ouvir a manifestação da
Procuradoria sobre esse requerimento.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, eu fiz uma petição.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – É a mesma coisa. Eu fiz oral e ele fez por
escrito. O senhor tem de deliberar sobre isso.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Não deliberaremos. O


senhor apresente o requerimento por escrito, conforme foi decidido já.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Foi feito, e o Deputado Siraque está


reiterando o requerimento.
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O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, é uma petição. O


direito de petição já vem do século XVII, XVIII, sabe. Direito de petição pode ser de
qualquer maneira. Só consultar o Carlos Aires Brito, Ministro do Supremo Tribunal
Federal, que tem algumas publicações nesse sentido, o direito de petição não precisa ter
uma forma, pode ser até em forma de carta.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Aliás, foi negada por


esta Presidência a sua solicitação.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Mas a alegação, Sr. Presidente, tem de


ser motivada...

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Se o senhor


apresentar um requerimento para ser apreciado pela nossa CPI, o senhor apresenta
requerimento por escrito, que aliás já foi objeto de discussão.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, nós estamos no regime


republicano, Sr. Presidente. Qualquer petição tem de ser, ou negada...

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Ela foi negada, foi


indeferida.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Tem de ser motivado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Não estou


entendendo, Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Diminui o trabalho de V. Exa. O


senhor não tem o direito, nem constitucional e nem regimental, de negar ou aprovar.
Tem de ser aprovado pelo Plenário.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem o


Deputado Bruno Covas.
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O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Só para facilitar. Se o meu requerimento for


aprovado, fica então prejudicado o requerimento seguinte. Na verdade, a lógica é essa.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Bruno


Covas, independente da aprovação ou não, queria só manifestar a posição desta
Presidência novamente ao Deputado Vanderlei Siraque para que não houvesse dúvida.
Houve uma solicitação a esta Presidência, manifestada através de carta, não
através de requerimento. Se fosse um requerimento nós pautaríamos para aprovação.
Houve uma solicitação. Nós manifestamos a nossa posição, negando a vossa solicitação,
mas permitindo que toda a sua documentação fosse subsídio para a discussão do
requerimento.
Nós negamos, reiteradas vezes, já disse duas ou três vezes, dizendo que nós não
submeteremos requerimentos de Deputados à apreciação da Procuradoria, a não ser que
seja deliberado por este Colégio. Todos os Deputados deverão consultar quem
quiserem, inclusive a Procuradoria, antes de entrar com requerimento. À medida em que
entrou com requerimento, caberá a esta Comissão decidir sobre a aprovação ou não,
tendo um período regimental de discussão, do qual o senhor tem dez minutos para
defender a sua tese. O senhor defendeu e o requerimento encontra-se em discussão.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pela ordem, Sr. Presidente.


Eu concordo com V. Exa. que todo requerimento tem de ser apreciado por esta
Comissão, e quero que o meu também seja apreciado.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor faça por


escrito o requerimento, conforme já foi objeto...
Pela ordem o Deputado Antonio Mentor.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Já fiz por escrito. Acho que está tendo
um equívoco de V. Exa.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Sr. Presidente, cumprimentar V. Exa. e a


todos.
Eu não estou conseguindo compreender qual a diferença que existe entre uma
solicitação e um requerimento, se os dois são pedidos.
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A solicitação já é um requerimento. A solicitação também é um requerimento.


Estou requerendo, junto com o Deputado Vanderlei Siraque, uma providência da
Presidência.
Tanto quanto se requer, se solicita também. Posso solicitar, posso requerer,
posso pedir. São sinônimos, formas. Nós não podemos aceitar que a Presidência
distinga uma coisa da outra, apenas porque nós temos como método usar a palavra, o
verbo requerer e não solicitar, e não pedir. Mas todos são sinônimos.
Portanto não há razão nenhuma para que a solicitação feita por mim e pelo
Deputado Siraque não seja examinada como um requerimento sim. É um requerimento,
uma solicitação de uma providência desta Comissão Parlamentar de Inquérito.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Antonio


Mentor, esta Presidência adotará o seguinte critério, até porque recebemos aqui cartas,
manifestações, solicitações dos mais diversos tipos e até consultas ou solicitações de
manifestações ou procedimentos.
Nós vamos adotar como requerimento aquilo que vir encaminhado como
requerimento e que será protocolado por esta Comissão que e será deliberado,
requerimentos por escrito, que aliás, já foram objeto de discussão nesta Comissão, se
poderíamos permitir requerimentos verbais ou por escrito. Ficou definido que serão por
escrito. Então, nós aceitaremos requerimentos que serão deliberados por este Colégio de
Deputados, requerimentos assinados como requerimentos, que terá uma numeração, terá
um protocolo, e será deliberado.
Quanto aos outros instrumentos encaminhados a esta Presidência, nós
encararemos como eles vêem. Esse veio sem nenhuma solicitação de requerimento.
Teria sido encaminhado. Veio apenas uma carta assinada pelos dois Deputados, uma
carta, diferente dos demais requerimentos apresentados por vocês mesmos, e nós
entendemos que era uma solicitação e que nós apreciaríamos.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Solicitação é um requerimento.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Da próxima vez nós


apreciaremos...
16

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Da próxima não, desta vez. Insisto com a


Presidência que receba a solicitação com o conteúdo de uma solicitação. É um
requerimento. Uma solicitação é um requerimento, é um pedido, um pedido de
providência que nós encaminhamos ao Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Mentor, nós


poderíamos facilitar os nossos encaminhamentos para que nós pudéssemos saber o que
deve ser aprovado pelo Colégio e o que não deve ser aprovado. Porque se o senhor me
solicitar uma cópia por escrito, eu não preciso entender que tenha de ser pautado. Se o
senhor me solicitar uma cópia, eu não entendo que seja um requerimento e não vou pôr
à apreciação.
Então, eu solicito um procedimento adequado para que a gente não fique nesse
jogo de interpretação. Requerimento é requerimento.
Pela ordem o Deputado Bruno Covas, que tinha pedido primeiro.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Eu tinha pedido primeiro, mas tudo bem.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Com a palavra o


nobre Deputado Vicente Cândido.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Sr. Presidente, minha opinião. Acho que


CPI é soberana, não tem poder imperial de Presidente. Ela decide, dos mais irrelevantes
ofícios ou trabalhos até dos mais importantes. Então, a posição tem de ser da CPI, se
ouve ou não a Procuradoria, dentro da complexidade do assunto.
Como esse é um assunto polêmico e complexo, que tem posição inclusive
judicial sobre o caso, merece aqui um debate, embasamento do relator, que está pedindo
quebra de sigilo. A CPI tem de tomar esses cuidados. Nós estamos mexendo com vida
de pessoas, então não pode ser aleatório, porque eu acho que tem de fazer isso e aquilo.
Não vejo nenhum absurdo, aliás, é recomendável que a Procuradoria da Casa,
como assessoria técnica-jurídica, deve ser acionada sempre que possível, sempre que a
CPI achar que deva ser.
E o senhor pega uma questão semântica. O senhor julga importante se é
requerimento, se é carta, se é ofício. E diante disso, para que os Deputados Mentor e
Siraque possam reformular o pedido a V. Exa. eu peço vistas ao requerimento do
17

Deputado Bruno Covas, até a semana que vem, e aí se reposiciona da maneira que
achar, que está exigindo legalmente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Isso evidentemente é


regimental, o senhor pedir vistas.
Pela ordem o Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Então, como não foi solicitado vistas


do meu, da minha petição, eu gostaria que fosse apreciado pelos nobres pares.
“Sr. Presidente, desta forma solicitamos a manifestação formal da Procuradoria
da Casa, a fim de que se manifeste acerca da constitucionalidade do Requerimento nº
57, apresentado.”
Isso aqui foi juntado, Sr. Presidente, e precisa de um despacho, ou pelo menos
formal, de V. Exa., para que possamos recorrer.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Vou fazer uma


sugestão a V. Exa. Se o senhor solicitou que eu ouça a Procuradoria sobre este assunto,
eu peço ao senhor duas coisas. Se o senhor quiser, o senhor pode solicitar diretamente, e
se o senhor quiser que esta CPI se manifeste, a Presidência, o senhor faça um
requerimento sobre isso e nós apreciaremos.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, ouça inclusive a


Procuradoria para saber se é uma petição ou não é.
Pronto, estou fazendo uma nova solicitação.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Vanderlei


Siraque, esse assunto para nós já está esgotado.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Sr. Presidente, o senhor esgotou o


assunto.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Eu já disse que esta


Presidência não submeterá, única e exclusivamente por decisão deste Presidente,
qualquer requerimento de Deputado à Procuradoria. O Deputado fez o requerimento, ele
18

será pautado. Se o Deputado quiser, previamente, consultar a Procuradoria, ele o faça, a


sua assessoria. Mas esta Presidência, por decisão isolada, não submeterá requerimento
de Deputado à Procuradoria. Isso é ponto pacífico.
Se o senhor quiser que seja submetido o requerimento do Deputado Bruno
Covas à Procuradoria, o senhor faça um requerimento e caberá aos Deputados desta
Comissão decidir. Vale para todos, não só para o senhor, mas vale para todos os
Deputados.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Pelo menos o senhor foi coerente


numa parte, de forma isolada o senhor está tomando uma posição. Só que nós
entendemos que isso é coletivo, é plural. Aliás, até para garantir o direito...

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor gostaria


muito que eu tomasse a decisão isolada, mas eu não tomarei.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O direito de oposição. Está na


Constituição Federal, Sr. Presidente, mas eu fico até triste pela posição de V. Exa. Não
é em decorrência da CPI, mas pela aberração democrática.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – É um direito de V.


Exa.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Lamento, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pedido vistas então do


requerimento do Deputado Bruno Covas pelo Deputado Vicente Cândido.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Gostaria de fazer uma breve observação


ainda sobre o mesmo tema, em relação a essa posição que V. Exa. está adotando, de não
submeter nenhum requerimento à apreciação da Procuradoria, que acho correto. V. Exa.
tem razão.
Não se trata do requerimento que está sendo submetido ou está se solicitando
que ele seja avaliado pela Procuradoria. O direito de requerer é do Deputado em
qualquer circunstância.
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O que queremos discutir é se cabe a esta CPI o pedido de quebra de sigilo


bancário e fiscal. É isso que está se querendo ouvir da Procuradoria, porque o próprio
Ministério Público solicitou a quebra do sigilo bancário no mesmo episódio, e a decisão
judicial, tem um trecho aqui que vale a pena ser lido. Diz assim: “Em analogia ao dito
popular, não basta ser honesto, é preciso parecer honesto, no caso dos autos, não basta
ser isento, é preciso parecer isento também.”
Portanto, o que se quer ouvir da Procuradoria é uma análise técnica, sem paixão,
sem nenhuma parcialidade, como é comum à nossa Procuradoria agir, de maneira
totalmente isenta, como tem de parecer e tem de ser. Nós queremos ouvir se esta CPI
tem prerrogativa para pedir a quebra de sigilo bancário e fiscal, ainda com um
agravante, sem que esse pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal tenha sustentação,
tenha justificativa. É isso que queremos ouvir da CPI.
Não é questionando o direito do Deputado pedir, absolutamente. E V. Exa. está
encaminhando de uma maneira que nos deixa entender que nós estamos tentando
cercear o direito de requerer do Deputado Bruno Covas. Absolutamente. De modo
algum. Nós queremos saber se, do ponto de vista constitucional, é possível esta CPI
fazer essa solicitação.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem o


Deputado Bruno Covas.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Só para dialogar aqui com o Deputado


Antonio Mentor.
Deputado Antonio Mentor, mas o documento ao qual tive acesso agora, na
verdade não vai ao encontro do que V. Exa. fala. O último parágrafo diz: “Solicitamos a
manifestação formal da Procuradoria da Casa a fim de que se manifeste acerca da
constitucionalidade do Requerimento nº 57.”
Não pede constitucionalidade da prerrogativa do sigilo. Acho que neste caso V.
Exa. teria razão. O que se pede aqui é que se faça controle de constitucionalidade do
requerimento. Acho que é isso que o Deputado Samuel Moreira tem respondido.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Nós não


permitiremos.
20

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Na verdade é possível que essa


interpretação que V. Exa. está dando, é possível.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Está claro.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – É possível. Estou acatando.


Mas, na verdade, o que se procura discutir é o conteúdo do requerimento e não o
requerimento.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – E concordo com V. Exa. Aliás essa


manifestação da Procuradoria...

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Podemos fazer a retificação.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Essa manifestação da Procuradoria é


independente do requerimento existir, do requerimento ser apresentado, ser votado. A
manifestação acerca da prerrogativa e não sobre o requerimento, que é o que consta
aqui.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Claro, claro. Nós vamos corrigir, a seu


pedido, essa redação.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Indo na linha do que V. Exa. disse.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Com a palavra o


Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Só uma questão, dialogando com V.


Exa.
A solicitação, Deputado Mentor, é de fato, é o controle prévio de
constitucionalidade. Agora, nada impede...

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Do requerimento?


21

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – É, porque nada impede depois, é


lógico que nós aqui da Comissão podemos fazer o controle prévio, nós aqui que vamos
decidir. Nós ouviríamos a Procuradoria, ela vai dar um parecer para nós e quem decide
somos nós. Quem tem a prerrogativa de decidir somos nós, se é constitucional ou não.
Então é controle prévio e V. Exa. conhece muito bem.
Se nós não fizermos aqui, o requerimento de V. Exa. poderá ser aprovado? Pode,
porque é nossa prerrogativa aprovar ou não o requerimento. Aí vai pelo controle do
Judiciário. Mas nós gostaríamos de mostrar ao Judiciário que nós temos conhecimento
jurídico na Casa. Nós temos uma Procuradoria que entende, que nós Deputados estamos
zelosos pela guarda da nossa Constituição cidadã, como disse Ulisses Guimarães.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Dando sequência ao


nosso item da pauta, análise dos requerimentos, passamos ao Requerimento nº 58, de
autoria do Deputado Bruno Covas, no “sentido que o chefe do Poder Executivo de São
Paulo forneça a esta CPI cópias de eventuais contratos ou comprovantes de pagamentos
realizados pela Municipalidade, suas autarquias e empresas públicas às pessoas jurídicas
e pessoa física abaixo relacionadas: Cooperativa Habitacional dos Bancários – Bancoop,
a Conservix, Germany, Mirante Artefatos, Mizu Gerenciamento de Serviços, Freud
Godoy, Caso Sistemas de Segurança, Caso Comércios e Serviços Ltda.
Requerimento em discussão. (Pausa) Pela ordem o Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Solicito vistas.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – É regimental,


concedida vistas ao Deputado Vanderlei Siraque.
Terceiro requerimento de autoria do Deputado Bruno Covas, “solicitando a
convocação da Sr. Simone Godoy, sócia-proprietária da empresa Caso Sistemas de
Segurança Ltda.”
Requerimento em discussão. (Pausa) Pela ordem o Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Solicito vistas.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – É regimental,


concedida vistas ao Deputado Vanderlei Siraque.
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Requerimento nº 4, do Deputado Vicente Cândido, no sentido de que seja


aditado o requerimento apresentado pelo Deputado Bruno Covas, no “sentido de oficiar
ao Chefe do Executivo”...
Pela ordem o Deputado Bruno Covas.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Entendo, nesse caso, que o acessório segue
o principal. Se pede-se aditamento num requerimento que foi pedido vistas, esse
requerimento é acessório ao principal.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Nada impede


discutirmos se deva ser aditado ou não.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Estou pedindo aditamento sobre qual


requerimento?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Aditamento sobre o


requerimento do Deputado Bruno Covas, de nº 59, que “solicita ao Chefe do Poder
Executivo Municipal comprovantes de pagamentos realizados à Bancoop, à Conservix,
à Germany...” O senhor solicita um aditamento, para que seja também solicitado ao
Governo do Estado, a fim de que forneça cópia de eventuais contratos, comprovantes de
pagamentos, da Administração Direta e Indireta. Nada impede de aprovarmos esse
requerimento, que seja aditado ou não.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Pela ordem. O Deputado Bruno Covas


tem razão. Não tem sentido votar agora porque ele ainda vai ser apreciado. Ele pode ser
rejeitado, por exemplo.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Retira o requerimento


ou pede vistas?

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Posterga o requerimento.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem o


Deputado Antonio Mentor.
23

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Que esta Presidência pudesse consultar o


autor do requerimento original sobre o seu consentimento ao aditamento dessa proposta
que está sendo discutida neste momento. Se o Deputado Bruno Covas concordar com o
aditamento, não temos problema nenhum de votar na próxima sessão, com o pedido de
vistas do principal e do acessório.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – A proposta inicial foi prejudicada. A partir


do momento em que o requerimento foi pedido vistas, ele sai da pauta. Vamos debater o
quê, se foi pedido vistas?

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Se nós tivermos o seu consentimento para


aditar ao seu requerimento este novo que está sendo apresentado, na próxima sessão nós
vamos votar o requerimento de vossa autoria, aditado deste novo complemento que está
colocado agora, desde que haja consentimento.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Mentor,


acho que o Deputado Bruno tem razão. Na medida em que foi pedido vistas...

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Queria ter razão pelo menos uma vez.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Também não vejo


problema.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Queria ter a oportunidade de ter razão


uma vez, a partir do seu ponto de vista. Uma vez só.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Eu também não vejo


problema, do ponto de vista que o senhor está tendo. Aliás, eu estou propondo até que
podia se deliberar pelo aditamento, ficando prejudicado caso seja rejeitado. Porque esse
requerimento do Deputado Bruno pode ser rejeitado.
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O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Perfeitamente. Se o Deputado Bruno


concordar com o aditamento, na semana que vem nós votamos um único requerimento,
aditado.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – É uma proposta. Não


tem nenhuma objeção de mérito, nada. É só de procedimento.
Alguma proposta?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – A minha proposta é a seguinte, que


nós possamos aprovar os dois requerimentos. Eu retiro a vista, aprova o requerimento
do Deputado Bruno Covas, com o aditamento feito pelo Deputado Vicente Cândido. É
possível.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O Deputado Vanderlei Siraque retirando as


vistas, a gente pode aprovar os dois requerimentos sem problema.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Eu retiro o pedido de vistas.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Do item nº 2, do


Requerimento nº 59, do Deputado Bruno Covas, que então coloco em discussão.
(Pausa) Não havendo oradores inscritos, pela ordem o Deputado Waldir Agnello.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O Requerimento nº 59 pede o quê?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Para que o Poder


Executivo Municipal encaminhe comprovantes de pagamentos, eventuais pagamentos
realizados pela municipalidade a essa relação de empresas.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – E o aditamento?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O aditamento, se o senhor me


permitir, ao Governo Municipal e Estadual, aos dois.
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O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Em discussão. (Pausa)


Não havendo oradores inscritos, em votação. (Pausa) Os Deputados que forem
favoráveis permaneçam como estão. (Pausa) Aprovado o requerimento do Deputado
Bruno Covas.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Perdão, Sr. Presidente, com o aditamento


proposto pelo Deputado Vanderlei Siraque.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – É o que vai votar agora.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Com uma única votação, um


requerimento só, aditado.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – A proposta do


Deputado Vanderlei Siraque foi tirar vistas e votar os dois. Nós vamos fazer a proposta
do Deputado Vanderlei Siraque.
Requerimento do Deputado Vicente Cândido, no “Sentido de que seja aditado o
requerimento do Deputado Bruno Covas.”
Em discussão. (Pausa) Não havendo oradores inscritos, em votação. (Pausa) Os
Deputados que forem favoráveis permaneçam como estão. (Pausa) Aprovado o
requerimento do Deputado Vicente Cândido.
Passamos ao nosso segundo item da pauta, a oitiva dos Srs. Ricardo Luiz do
Carmo. O Sr. Luiz Funaro enviou uma justificativa e também o Sr. Tomás Botelho
enviou uma justificativa de não comparecimento, comparecendo em outra oportunidade.
Questão de ordem levantada pelo Deputado Waldir Agnello.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Eu gostaria de recapitular com V. Exa.


Eu tenho um requerimento em mãos e gostaria de saber se posso entregar este
requerimento agora para a Mesa e ele ser apreciado ou qual seria o procedimento em
relação a isso, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Waldir


Agnello, os requerimentos devem ser formalizados por escrito e deve ser dada
publicidade com 24 horas de antecedência.
26

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Então fica para a próxima sessão?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Entraria na pauta da


próxima semana.
Convido o Sr. Presidente Ricardo Luiz do Carmo para que tome assento ao
nosso lado.
Passo à leitura do texto que contém o embasamento legal para a oitiva.
“O senhor foi convocado a comparecer a esta CPI, constituída pelo Ato nº 13, de
2010, com a finalidade de investigar supostas irregularidades e fraudes praticadas contra
cerca de três mil mutuários da Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de
São Paulo – BANCOOP, e propor soluções para o caso. E como testemunha, com
fundamento no art. 213 e 218, ambos do Código de Processo Penal, combinado com o §
2º do art. 3º da Lei Estadual nº 11124, de 10 de abril de 2002, bem como as demais
normas constitucionais e infraconstitucionais aplicáveis à espécie, cumpre-nos adverti-
lo que deve dizer a verdade, não podendo fazer afirmações falsas, calar ou negar a
verdade a respeito dos fatos do seu conhecimento, por incorrer em crime previsto no art.
4º, inciso II da Lei Federal nº 1579, de 18 de março de 1952.”
Gostaria de me dirigir a V. Sa. para que pudéssemos fazer o termo de
qualificação. Vou perguntar ao senhor: Nome completo.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ricardo Luiz do Carmo.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Idade?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Cinquenta e três anos.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Estado civil?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Separado.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Endereço da


residência?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Rua Araguari nº 341, Vila


Uberabinha.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Profissão?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Engenheiro civil.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Local de trabalho?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu trabalho numa empresa localizada


à Avenida Paulista nº 30.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Tem grau de


parentesco com alguma das partes, com diretores da Bancoop, com algum Deputado?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não senhor.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Peço a V. Sa. a


gentileza de relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou as
circunstâncias pelas quais nós possamos avaliar a credibilidade dos fatos. Passo-lhe
também para que seja lido o termo de compromisso do depoente.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – “Sob minha palavra de honra prometo


dizer a verdade do que souber e me for perguntado, relacionado com a investigação a
cargo desta Comissão Parlamentar de Inquérito.”

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Sr. Ricardo, vou


passar a palavra a V. Sa. para que o senhor fique à vontade, relate o que sabe, os fatos
relacionados a este assunto, o que o senhor achar conveniente, o que o senhor gostaria
de dizer. Enfim, o senhor fique à vontade para falar o que sabe sobre este assunto. Está
com a palavra.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu gostaria de expor algumas


declarações que fiz ao Ministério Público perante o Promotor José Carlos Blat, do que
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aconteceu, o que eu presenciei nesses dez anos em que estive presente na Cooperativa
dos Bancários.
Eu fui contratado em 1997, eu era a princípio, um engenheiro fiscal. Eu apenas
liberava medições das construtoras, porque até então a cooperativa não tinha, eles não
faziam com mão-de-obra própria, eram todas através de construtoras.
E quando eu comecei a ser fiscal, eu acho que foi uma das obras que começou a
trazer problemas para a cooperativa, que foi uma obra que eu relato aqui, no Jabaquara,
chamada Portal do Jabaquara. Essa obra era para ter 19 ou 20 andares, e foi feito todo o
projeto em relação a isso, ocupação do uso do solo, e esqueceram, não sei por que razão,
que ali passa avião.
Então, aquela altitude, não poderia ser permitido que executassem um prédio
daquela altura. E com isso foi feito todo um remanejamento de fundação, de estrutura,
ao invés de serem três prédios passaram a ser cinco prédios, porque não tinha altura
suficiente para, a Comar, que fiscaliza esse tipo de execução, aprovar o projeto.
Com isso já foi o início de um planejamento sem qualquer fiscalização
adequada, porque ninguém, sabendo que passa avião num terreno, pode fazer um prédio
com 20 andares.
Quando iniciou-se essa obra do Portal do Jabaquara começou exatamente, os
valores que os cooperados estariam pagando para aquela unidade, estariam bem acima
do valor que a cooperativa teria repassado para eles, porque eu torno a repetir, um
prédio de 20 andares e passam para 15, e tem mais unidades, ele fica mais apertado e a
área interna do apartamento, as rampas ficam mais difíceis de executar, então onera
muito a obra. É uma obra que já começou a defasar os valores que a cooperativa
arrecadava para esse empreendimento.
Após esse empreendimento, nós tivemos outra unidade, que se localiza em
Pirituba. Eles compraram uma fábrica antiga e queriam, com essa fábrica, instalar os
novos empreendimentos ali, usando as garagens, algumas repartições da indústria para
que adequassem ao novo projeto.
Isso foi uma calamidade. A estrutura existente não suportava a carga que era
solicitada, nós tivemos de fazer inúmeros reforços. Nós encontramos rochas no local e
tivemos de dinamitar, passar argamassa expandida, que é uma argamassa expansora de
custo alto. Então, já era o segundo empreendimento que a gente já vinha carregando
com problemas deficitários, com problemas de receita diferente de despesas. Eram
coisas praticamente impraticáveis.
29

A gente estava, nessa época, acumulando um valor em torno de um milhão e


meio de reais, e surgiu a história de fazer o edifício Mirante do Tatuapé. Com isso, com
essas defasagens, a cooperativa nunca teve assim muito dinheiro em obra. Eu já
presenciei várias greves, fui várias vezes ao sindicato, porque na obra a gente nunca
tinha um valor muito substancial para tocar as obras. Eram sempre valores pequenos.
E como havia, quando chegavam os pagamentos para pagar a construtora e os
funcionários, existia uma dúvida. Quem pagar primeiro? Ou a gente paga à construtora,
que arrecadava em torno de 10 a 12% do valor da obra, ou a gente pagava aos
funcionários. A opção foi pagar aos funcionários, e com isso as construtoras não
estavam mais interessadas em continuar trabalhando para a cooperativa, porque eles não
estavam conseguindo ter recursos para poder, a cooperativa não estava tendo recursos
para poder bancar as construtoras.
Foi aí que apareceu essa obra do Mirante do Tatuapé, que existia esse rombo,
torno a falar, de um milhão e meio, que eu me propus a ser o engenheiro-responsável da
obra para que, é uma obra de 15 milhões na época, que um milhão e meio, ao invés de
pagar para uma construtora, fosse arrecadado para a própria cooperativa. A gente
sanaria os problemas que a gente já vinha carregando de obras anteriores.
O que surpreendeu nessa obra foi que nós estávamos praticamente debaixo d
´água. Era terra em cima e água embaixo. Com isso, nós tivemos de aplicar uma
fundação bem cara, que a gente chama de estacão, que é uma fundação bem diferente de
uma fundação convencional. Com isso, nós estávamos novamente com um problema,
que era como fazer uma obra sabendo que nós temos uma quantidade de água enorme
debaixo do solo, e nós vamos gastar 2X, 3X de fundação?
Então, essa obra, Mirante do Tatuapé seria a terceira obra que acumulava uma
defasagem financeira entre a receita e despesa. De forma alguma ela conseguiria
sobreviver com a arrecadação, ou com os valores que foram vendidos.
Para vocês terem uma ideia, essa região, Mirante do Tatuapé, é próxima ao
Anália Franco, é uma das regiões mais caras de São Paulo hoje. Hoje o metro quadrado
lá deve custar em torno de cinco mil, seis mil reais e a Bancoop sempre vendeu
unidades com valores bem abaixo do mercado. Tanto é que quando a Bancoop se
instalava numa região para vender apartamento, as construtoras do lado até fechavam os
stands porque a Bancoop tomava conta do mercado em virtude dos preços serem 30%
do valor de mercado.
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Sendo 30% abaixo do mercado e a gente fazia a obra chegando num valor 20%
acima do que eles tinham vendido, a gente acumulava, em cada empreendimento, 50%
de prejuízo. Isso era um fato, era uma coisa que eu presenciei isso e eu questionei à
diretoria por que comprar terrenos sem avaliação de um profissional. É fácil chegar e
falar: Você faça essa obra, você tem 15 milhões para fazer. E eles não têm o mínimo
conhecimento do que tem no chão, se era água, se tem pedra. Eles simplesmente
compravam o terreno através de uma empresa chamada Della Libera, que fazia esses
contatos de terrenos, que eram terrenos tecnicamente, para o custo que eles vendiam,
não tinha propósito.
Isso eu questionei a cooperativa, essa empresa Della Libera, e o Sr. Tomás, uma
vez que estava presente nessa mesma obra Mirante do Tatuapé, porque eu não ia muito
à cooperativa, só ia para assinar alguma coisa ou se tivesse alguma reunião, ele me
chamou na obra, num sábado à tarde e falou: Olha, quem entende de cooperativa somos
nós. Você entende de obra, então você fica na obra e fica quieto que essa história de
avaliação de terreno, compra de terreno, não pertence a você dar qualquer tipo de
palpite.
Levei isso ao próprio diretor na época, Dr. Luis Eduardo Malheiro, e o Dr. Luis,
com o meu questionamento em relação aos terrenos, que não tinham como ser
executados daquela forma, ele pediu para que fosse contratada a Ângela Marques, que
foi colocada como a nova engenheira de planejamento, que até então nós não tínhamos.
A cooperativa sempre foi uma empresa bem pequena, bem enxuta, e a gente não tinha
muitos recursos de parte técnica, de muita gente orçando.
A Ângela foi contratada, ela começou a fazer os novos orçamentos e
infelizmente ela também, de uma forma ou de outra, foi condicionada a baixar os
valores, que eu já tinha estudado com ela, que seriam adequados para aquela região,
para aquele terreno, para aquele edifício que eles estavam lançando.
Foi então que eu percebi que eles não estavam mais preocupados em ver o que
eles estavam vendendo. Eles estavam preocupados em vender, não importa para quem.
A ideia parecia que era só vender, vender, vender, e ver o que acontecia. Quer dizer, a
bola de neve ia cada vez aumentando sem parar, numa coisa impressionante.
Aí que tomei alguns questionamentos, eles não gostaram, e desde ali eles, eu
praticamente tomava conta de umas trinta obras, mais ou menos, eu passei a tomar
conta, ser responsável por umas cinco obras. As demais obras eles dividiram.
31

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pediria ao senhor, eu


esqueci de comentar, que nós damos em torno de 10 minutos. O senhor está dentro do
tempo, mas o senhor fique à vontade.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Se fica à vontade, não precisa respeitar o


tempo. Deixa o depoente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Só estou alertando.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Eu sei, mas 10 minutos é um indicador,


apenas. Se ele tem coisa importante a falar, deixa ele falar.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A partir daí...

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Mentor, no


início eu sempre informo ao depoente que ele tem algo em torno de 10 minutos, mas
que ele fique sempre à vontade. Todas as vezes eu deixo o depoente bem à vontade.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Só dessa não. Só dessa vez o senhor


resolveu alertá-lo sobre o tempo.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Exatamente porque no


início eu não tinha feito.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – No início ele não fez, então estava
retificando. Não foi nenhum desrespeito.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Então, com isso o Sr. Hélio Malheiro,
que era irmão do Dr. Luis Malheiro, ele ficou responsável por umas obras na Zona
Leste. Ele ficou o engenheiro-responsável. Eu questionei: Gente, ele não é engenheiro.
Mas nós vamos contratar alguém que troca a tua RT e sirva para a Zona Leste ficar com
o Hélio Malheiro.
Bom, eles não tomaram essa providência e os proprietários que tiveram
apartamento no Anália Franco eles devem estar a par que houve problema de fundação
32

logo que iniciou o segundo prédio, que ele não era a pessoa adequada para executar. Foi
feito um reforço de fundação, que foi acompanhado por empresas de reforço de
fundação, e todos esses custos eram sempre jogados para a cooperativa. Não tinha
dinheiro de outra fonte, a não ser, naquela época, os próprios cooperados pagando esses
erros, que eram simultâneos, um atrás do outro. Não tinha como a gente parar essa
máquina de fazer, tecnicamente, as coisas erradas.
Acho que esse foi um ponto fundamental, a maior parte porque a cooperativa
não teve sucesso. A cooperativa, para quem não sabe, a Bancoop foi tecnicamente a
segunda por dois anos consecutivos, ela ganhou dois Prêmios Top Imobiliário. Isso, na
história da engenharia, não se tem fato disso e tão cedo não vai acontecer. Hoje uma
cooperativa se comparar a uma construtora Gafisa, Cyrela, e ficar em segundo ou
primeiro lugar, é porque a cooperativa tinha condições de executar obras.
Mas, infelizmente, financeiramente ou tecnicamente, as pessoas que dirigiam a
cooperativa estavam talvez pensando em outras situações que eu não posso afirmar. Eu
só posso dizer que cooperativa tem um grande benefício. Ela não incorpora, que é uma
coisa muito boa. Hoje as construtoras, o grande problema deles é incorporar. Segundo,
ela tem alguns fins lucrativos que ela é isenta de alguns impostos, e outra, ela não tem
fins lucrativos, que no fim da história, algumas pessoas que leram o estatuto
confundiram, infelizmente, sem fins lucrativos com fins lucrativos, que houve essa
injeção toda de empresas que não tinham porque estar trabalhando na cooperativa,
tirando um lucro, entre aspas, que não existia, um lucro que não tinha em obra
nenhuma.
E digo mais. Quando eu questionei dessas obras, eles fizeram uma conta que a
gente não tinha mais acesso, que é a conta pool. Cada empreendimento tinha a sua
própria conta bancária, então era só puxar o extrato e você sabia quanto tinha na conta.
Quando eles inventaram a conta pool, eles misturaram todas as contas, dos
empreendimentos novos, dos empreendimentos velhos, somaram tudo e não tinha como
você chegar e dizer quanto a gente tinha na conta. A conta virou uma incógnita, só eles
sabiam o que tinha ali. Então, eu não sabia para onde pedir recurso para tal obra, se eu
estava usando recurso de outra obra, se não estava. A bola de neve ficou sem controle.
É isso que tenho a dizer para vocês e eu dediquei, praticamente, dez anos da
minha vida à cooperativa, e fico chateado de ter proporcionado todo esse conflito, essa
situação que foi causada, porque todo mundo que compra alguma coisa quer o retorno.
Ninguém quer comprar um negócio e não ter a sua própria casa.
33

Da minha parte, eu não tenho nada a esconder, a minha conta está aberta a quem
quiser olhar e sinto muito, porque de minha vontade não foi.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Sr. Presidente, poderia dar um


tempo para que ele tomasse um copo de água, para continuar o depoimento?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Está tudo bem, o


depoente quer continuar?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Tudo bem.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Estão nós vamos


continuar. Com a palavra os Deputados. (Pausa) Pela ordem o Deputado Bruno Covas.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Sr. Presidente, antes de começar os


questionamentos, o depoente disse que ia repassar alguns fatos de um depoimento
prestado ao Ministério Público e o senhor, acompanhei a sua fala e isso é cópia do seu
depoimento? O senhor poderia fornecer cópia?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Para quem quiser, aqui está.


Inclusive conversei com o Dr. Blat ontem, ele falou que após o meu depoimento
várias pessoas confirmaram praticamente tudo que eu disse no depoimento, tanto dos
terrenos como das incorporações. Praticamente tudo que relatei o pessoal de engenharia,
o pessoal do financeiro confirma em outros depoimentos.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Pediria se a Secretaria pudesse providenciar


cópia e devolver ao depoente depois.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Obrigado pela sua


primeira manifestação.
Passo a palavra ao Deputado Roberto Morais.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Boa tarde Sr. Ricardo, obrigado pela sua
presença.
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Qual foi a sua relação comercial com a Bancoop? Que relacionamento o senhor
tinha com eles?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A princípio eu era engenheiro fiscal, e


depois da obra do Mirante do Tatuapé eu passei a ser engenheiro-responsável pelas
obras. Eu assinei em torno de 800 mil metros quadrados, quase um milhão de metros
quadrados que eu era responsável técnico.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – O seu salário era pago de que maneira?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu era PJ e lançava uma nota fiscal e


recebia por PJ. Nunca tive vínculo empregatício com a cooperativa, nunca fui diretor.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Teria recibo disso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Tudo que eu fiz, eu fiz através de nota
fiscal. Eu não fiz nada através de recibo. Eu dava a nota fiscal e eles me pagavam na
Caixa Econômica Federal e todo mês era assim. Nunca tive algum vínculo
empregatício, nada assim. Era pessoa jurídica.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – O senhor tem conhecimento de que


algum funcionário tenha sido obrigado pela cooperativa a abrir uma empresa para
receber os seus proventos e com isso acabar burlando a legislação? O senhor tem
conhecimento se algum funcionário tinha sido obrigado pela cooperativa a abrir uma
empresa para receber seus salários, burlando assim a legislação, ou não?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Eu sempre tive a minha


empresa.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Além do senhor?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não senhor.


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O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – O senhor tem conhecimento se algum


diretor fazia esse tipo de manobra, orientava o funcionário a fazer isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Doutor, eu ficava muito em obra. O


que se passava no escritório eu não ficava a par. Imagina, eu com 30 obras para olhar,
eu não tinha muito tempo. E eles eram uma bola fechada e eu não tinha muito acesso a
eles. Não participava de reunião de nada.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Esse dinheiro que o senhor recebia partia
da própria cooperativa, da sede da constitucional ou vinha de outro empreendimento?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei doutor.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Era em cheque?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não senhor. Eu recebia depositado na


minha conta.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Depósito em dinheiro?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Em dinheiro. Dinheiro ou cheque não


sei falar, mas eles depositavam na minha conta direto. Ou melhor, na minha conta não,
na contra da empresa.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Quem fazia o depósito para o senhor?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O financeiro da Bancoop, que é o


Alessandro, que faleceu. Depois foi o Marcelo Rinaldi, que foi, que surgiu futuramente,
que também morreu.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Os diretores das empresas que prestavam


serviço possuíam alguma relação familiar ou pessoal com a diretoria da Bancoop?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim, todos eles, faziam parte. A


Germany era dos diretores, a Bancon também era de diretores, a Mirante era também.
Inclusive, até um fato que relatei no depoimento era que o dinheiro, eu estava assinando
as plantas, que dava em torno de 10% do que a Bancoop arrecadava, era para ficar na
cooperativa e eles aproveitaram dessa assinatura minha, vamos supor, a Bancoop
faturava, rodava entre as obras cinco milhões por mês, 10% dá 500 mil reais, isso num
pior mês. Esses 500 mil reais eu descobri que todo mês eles mandavam para uma
empresa chamada Mizu, que era de propriedade do Sr. Hélio Malheiro.
Quer dizer, esse dinheiro que eu pensava que estaria sendo usado para salvar a
cooperativa de uma forma ou de outra, estava sendo usado para recursos do próprio
diretor, da própria diretoria.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Era 10% do faturamento do mês?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – É doutor, porque como as


construtoras...

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Não sou doutor, sou Deputado.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Então, Deputado, como tirou as


construtoras, a gente pensava que esse dinheiro que eu estava assinando como
responsável-técnico, inclusive eu tenho uns 10 mil inquéritos de meio ambiente, de
pessoas que morreram, processos meus ainda rolam mesmo saindo da cooperativa há
cinco anos, ainda tem no fórum criminal, porque eu era o responsável de todas as obras,
então o senhor imagina quantas pessoas trabalhando o que pode acontecer de acidente
nesse tempo todo, e com o meio ambiente também, pelo corte de árvores. Hoje cortar
uma árvore é um crime incalculável.
E como cada obra gastava um milhão, 10% desse valor a Mizu pegava para ela e
não repassava para o próprio empreendimento. Ela arrecadava para ela como se ela
fosse uma construtora.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – O que era a Mizu?


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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Uma vez fui à cooperativa e vi um


cheque de 500 mil reais. Eu me assustei e perguntei de quem era esse cheque. Até então
eu não conhecia a Mizu. Estava escrito consultoria. Mas consultoria do quê, por 500 mil
reais? E com o tempo eu vim saber que esses 500 mil reais que todo mês eles
arrecadavam, um milhão, 800 mil, 700 mil, era em benefício dessa Mizu. Eles abriram
uma firma paralela e usavam a minha responsabilidade técnica para arrecadar interesses
deles mesmos.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Só confirma o nome do proprietário da


empresa e em que ano aconteceu isso, ou em quais anos aconteceu isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Olha Deputado, eu comecei a assinar


a partir de 2000, que comecei a ser engenheiro-responsável. Provavelmente deve ser a
partir daí.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – E o proprietário?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Era o Dr. Hélio Malheiro, que era
diretor da cooperativa, segundo o pessoal fala. Tanto é que o Dr. Blat confirma que em
outros depoimentos ele tem propriedade para falar que a Mizu existia e que era de
propriedade do Sr. Luis Malheiro. Era o presidente da cooperativa.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Sabe informar se todo material que era
fornecido e os serviços prestados por essas empresas eram de boa qualidade, o material
era de boa qualidade?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim. As pessoas que têm


empreendimentos da cooperativa, porque cooperativa sempre a gente olha assim, não
tem azulejo, a janela não tem persiana, é uma obra mal executada. E não. A cooperativa,
a Bancoop não devia para construtora nenhuma. Os materiais eram da Deca, eram
materiais de primeira qualidade, azulejos da Eliane. Não tinha nada que falasse, como é
cooperativa então vamos colocar materiais inferiores.
Pelo menos as obras que eu executei, até quando estava saindo da cooperativa,
fizeram uma perícia sobre as obras da cooperativa e colocaram que as obras eram
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subestimadas, os valores eram abaixo do mercado e que os materiais eram, os


elevadores eram da Schindler, quer dizer, não tinha nada. Se o senhor entrar numa obra
da cooperativa e não falarem que é da cooperativa, vão achar que é obra de uma
construtora do mercado normal. Você não consegue distinguir.
Agora, outras cooperativas, não desmerecendo, o senhor percebe logo que entra
que isso é uma cooperativa.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – É de boa qualidade?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – De boa qualidade.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Como eram escolhidos os locais e as


compras dos terrenos para a realização dos empreendimentos?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Deputado, aí que questiono essa bola.


Quem comprava os empreendimentos e que determinavam onde a gente ia executar a
obra partia da própria diretoria, do Dr. Tomás, que fazia a compra do terreno junto com
a Della Libera, com aval do Dr. Luis Malheiro, que era o presidente.
Eles chegavam e falavam: Nesse terreno nós vamos fazer uma edificação de
tanto e você tem 10 milhões para executar. Quando eu abria a fundação eu já via que
aqueles 10 milhões não seriam suficientes para executar a obra. Já começava daí.
Porque eles não avaliavam nada. Eles compravam sem direção técnica nenhuma,
e aí começaram os grandes furos.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Não tinha critério técnico para adquirir
terreno?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Nenhum.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Eles eram superfaturados na hora da


compra?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não tenho conhecimento.


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O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Como eram as negociações, pelo que o


senhor sabe?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei. Para ser sincero, não sei
dessas negociações. Sei que às vezes eles até discutiam lá, a gente comenta na rádio
peão que eles discutiam, que eles brigavam por causa de terreno.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Quem brigava?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eles mesmos.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Os diretores?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – É. Existia uma época, não sei, parece
que houve uma discussão entre o Dr. Tomás e o Dr. Malheiro, que eles ficaram uns dois
meses sem se falar, e uma sala ao lado da outra, por causa de compra de terreno.
Alguma coisa que um comprou e não falou para o outro, outro comprou.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Era feito por todos os diretores da


cooperativa, por um só? Como era a escolha?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A cooperativa só tinha dois diretores.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Mas os dois escolhiam e eles brigaram


por causa disso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Brigaram. Se o senhor for à


cooperativa e perguntar, o senhor vai ver que uma época eles não se falavam por causa
de compra de terreno, porque parece que um tinha comprado num valor. A história que
ouvi falar, não tenho prova, não sei, estou falando o que ouvi falar, o terreno da Mooca,
a Della Libera ofereceu o terreno para a Bancoop, não sei, a Della Libera comprou o
terreno e vendeu o terreno mais caro para a cooperativa. Ela intermediou e fez uma
venda, ou vendeu duas vezes. Eu não sei. Sei que aí deu briga entre eles.
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Só sei, porque quando foi começar a obra, estava meio confuso se ia ficar com o
terreno ou não, porque estava tendo uma divergência entre os diretores. Então eu
aguardei e na hora que falaram para começar a obra, eu comecei. Também debaixo d
´água.
O terreno da Mooca, para quem tem apartamento lá, o Terraço D´Itália era para
ser um prédio que era para ter dois subsolos, só que estava cheio d´água. Para eu
viabilizar isso, eu recorri era levantar o prédio.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – O senhor era o engenheiro e o senhor


jamais compraria nesse local um terreno para fazer um prédio?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Para eu vender nos valores que


estavam repassando nunca, porque eu não ia conseguir terminar a obra.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Seria, tecnicamente, inviável, é isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Tecnicamente, completamente


inviável. Tanto é que a única solução que tive para amenizar o custo foi não abaixar,
levantar o subsolo. Eles ficaram para cima. Até alguns cooperados comentaram na
época por que não foi enterrado o subsolo e sim para cima, em virtude da quantidade de
água.
Nós recorremos à Prefeitura dizendo que tinha uma quantidade de água
excessiva e a gente teria de levantar os prédios. Nós levantamos. Muitos prédios a gente
tentava ter outras soluções paliativas. Inclusive posso testemunhar com outras pessoas
que trabalhavam com a gente, projetistas, a única função nossa era mudar o que chegava
para a gente executar. O que a gente podia fazer, mudando estrutura, mudando isso,
mudando aquilo, puxando para cá ou para lá, para chegar num custo para não explodir
uma coisa que já estava sacramentada, já era, o que falo de prato feito, chegavam para a
gente e falavam: Está aí o valor do empreendimento e executa por aí.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – O senhor admite que os


empreendimentos eram deficitários?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Todos.


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O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Por quê?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Em virtude disso. Em virtude de


altura. Como o senhor faz um prédio onde passa avião? O senhor não sabe que o avião
vai bater? Vocês devem ter visto o prédio da marginal, que até hoje está parado, tem
discussão judicial, porque é rota de avião. O prédio passou da altura que a Comar deixa
executar.
Comprar um terreno hoje é uma coisa muito difícil, mesmo para as construtoras
do mercado. O senhor pode fazer uma fundação e achar que tem uma pedrinha, um
atacão e na verdade tem uma rocha enorme lá dentro. Então, o risco é muito grande já
fazendo as sondagens, tudo. Como o senhor compra um terreno sem sondagem? O
senhor não sabe onde está pisando. O senhor vai colocar um empreendimento de 20
andares no meio de um lago? Como segura um prédio desses?
De forma alguma eu poderia falar para diminuir o índice de aço, o índice de
concreto. Não. Quem acompanha as obras da Bancoop pode ver que nenhuma delas,
graças a Deus, tem algum problema estrutural. Não foram feitos todos, mas os que
foram feitos, não tem nenhum problema estrutural, não tem patologia, nada. Foram
prédios sólidos.
Hoje a gente trabalha no mercado com uma lâmina de concreto que ela oscila,
pode ser de uma espessura ou de outra. Quanto mais fina, você sente uma sensibilidade
maior no conforto acústico, térmico e estável do prédio. Nós sempre trabalhamos com
uma lâmina alta. Eu tenho o calculista que é o Eduardo Penteado, que pode colocar isso
para o senhor, isso nunca foi, não pode ser, porque não tem dinheiro, vamos tirar a
quantidade de aço ou concreto. Nunca, porque a gente sabia que isso era uma coisa, a
gente chegava onde dava para chegar. Não dá mais, vamos parar por aí, porque
compromete as pessoas que estão morando dentro.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – O senhor sabe como a Bancoop tentava


cobrir o déficit dela de caixa? O que ela fazia?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ela fazia da seguinte forma, doutor.


Ela ia lançando novos empreendimentos. Então, vamos supor, eu preciso entregar tal
prédio porque eu vou receber as chaves do prédio. Então a gente corria naquela obra,
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pegava as chaves, com aquele recurso eles já abriam outro stand de vendas e iam
pedalando. Como se fosse uma bola de neve, tipo o que ocorreu com a Encol. Eles não
tinham recurso, então iam abrindo empreendimentos e isso vai tendo receita de
empreendimentos que nunca, provavelmente, iriam sair do chão.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Fale um pouco sobre o Mirante do


Tatuapé.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O Mirante do Tatuapé foi o primeiro


empreendimento em que fui o engenheiro-responsável. Era uma obra de mais ou menos
15 milhões, que na época o déficit da cooperativa era em torno de um milhão e meio,
um milhão e 800, e eu falei assim: Para que contratar uma construtora para pagar para a
construtora um milhão e meio? Pega esse um milhão e meio, eu assino e vocês tampam
o buraco que estava vindo para trás, do Portal do Jabaquara e de Pirituba. Seria muito
mais fácil.
Quando comecei a executar, eu já fiz a primeira sondagem, água. Desci, água.
Falei: Gente, eu não consigo tirar uma diferença de um milhão e meio se só tem água lá
em baixo.
O interessante, se tem um terreno em São Paulo que ninguém vende, a
cooperativa ia lá e comprava. Esse terreno mesmo do Mirante do Tatuapé ficou um
tempão para vender. Por que só a cooperativa comprava? Eram terrenos, o terreno mais
encalhado que tivesse em São Paulo a cooperativa ia lá e comprava.
Por que as construtoras são inteligentes e não teriam comprado na região? Tem
tanta construtora na Zona Leste. Tem a Luxo, tem a Poteza. Por que eles não
compravam? Porque sabiam que para a própria construtora ia ser difícil executar. Eles
iam ter de vender o apartamento num valor que fugia do mercado, então ninguém
comprava.
Aí a cooperativa vai lá e compra e eu tenho de trabalhar com estacão, que é uma
lâmina betonítica, caríssima, que poucas empresas executam, que custa, tem um
monopólio dessas firmas que executam essas estacas, e praticamente uma fundação que
teria de custar, vamos supor, oito por cento do valor da obra, já passava para 12, 15 ou
20%. Eu já saía com um déficit de baixo. Como eu ia tirar esse prejuízo? No azulejo?
Não tinha como. No que ia tirar? Diminuir a estrutura? Ia fazer uma estrutura
questionável?
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Então, ia acumulando problema financeiro em virtude disso. Não tinha outra


razão. O problema era comprar por comprar.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Hoje o Sr. Tomás devia estar presente e
ele não vem, o Tomás Edson Botelho. Nesse caso específico do Mirante do Tatuapé, foi
ele quem escolheu o terreno?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – No Tatuapé, quando comecei a


questionar que, como eu era engenheiro-responsável, que a partir dali eu me sentia na
obrigação de entregar o empreendimento pelo menos no valor que foi vendido, eu
questionava. Como é que vai, meu nome está lá, e vou chegar no final da obra e dizer
que o dinheiro não deu? O que você fez na obra, levou material embora? Fica uma
situação complicada para quem é o responsável técnico. Você executou mal, você pôs
uma lâmina diferente do que tinha de colocar, o que você fez na obra? Para não ter esse
tipo de problema eu já questionava e falava que esse terreno não vai dar para chegar o
valor que vocês querem.
Um dia o Dr. Tomás me chamou, eu estava num canteiro e ele me falou: quem
entende de cooperativa, de terreno, não é você. Você entende da parte técnica. Teu
negócio é obra e limite-se apenas à obra.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Outros diretores tinham conhecimento


desse fato ocorrido nesse empreendimento específico?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Tinham.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – O senhor comunicava a todos? E os


cooperados?

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Só um aparte.


Em que ano foi isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Em 2000, quando comecei a assinar


as plantas.
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O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Em 2000 o senhor se lembra quem era o


Presidente da Bancoop?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Dr. Luis Malheiro.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Quem era o diretor financeiro?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu acho que o financeiro, pelo que eu


sei, não ficava na cooperativa. Eu sei que quem respondia pela parte financeira era o
Alessandro.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Ele era o diretor financeiro?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim senhor.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Os cooperados tinham conhecimento


dessas dificuldades financeiras, desses problemas técnicos? Eles eram informados?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não senhor. Pelo que sei, não.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Ninguém relatava esses problemas a


eles?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Da minha parte é só. Obrigado.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mais algum Deputado


gostaria de fazer considerações? (Pausa) Com a palavra o Deputado Waldir Agnello.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Obrigado Presidente.


Sr. Presidente Ricardo Luiz do Carmo, obrigado pela sua presença aqui. Gostaria
de continuar contando com a sua colaboração para elucidar algumas questões aqui.
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Fale para nós um pouco mais a respeito dessa conta pool que o senhor
mencionou no seu depoimento e se o senhor puder precisar para nós quando foi feita
determinada transferência, que no seu depoimento o senhor mencionou algo, para
recapitular um pouco para entender melhor essa citação sobre a conta pool.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A conta pool era assim, todos os


empreendimentos saíam com uma conta específica para cada empreendimento. O Portal
do Jabaquara tinha uma conta, um CNPJ do Portal do Jabaquara, então a arrecadação ia
direto para essa conta. Todos os cooperados que compraram, que contribuíam com o
apartamento iam para essa conta, e assim sucessivamente em todos os
empreendimentos.
Então, eu sabia, eu tinha conhecimento de quanto eu tinha em cada
empreendimento. Esse aqui neste mês vai entrar chaves, então eu tenho mais um
milhão. Nesse empreendimento estou com o caixa baixo.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Era planilhado isso, o senhor tinha esse
controle em planilha ou era de memória?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Todo mês eu tinha o desenvolvimento


bancário, o banco passava, a Caixa Econômica passava o que tinha em cada conta, e
com ela eu sabia o que podia fazer no mês, porque eu não podia, uma obra que tinha
500 mil, eu gastar um milhão. A minha mesada era aquela ali, no mês.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Era controle de fluxo de liquidez e de


receitas?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim. Como sempre falo, a


cooperativa nunca teve muito dinheiro disponível, porque os valores das parcelas eram
muito pequenos e a cooperativa não incorpora. Ela não incorporando, ela não tem
recurso de banco. Então, a gente trabalhava só com o que a gente arrecadava e não tinha
como pagar.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – E essa arrecadação era o pagamento dos


cooperados?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso. Ficava bem tranquilo isso. Se


amanhã tivesse um problema no empreendimento, era só chegar no cooperado e falar:
Olha, a tua obra ia sair um milhão e saiu um milhão e 200 por causa disso e disso.
Mesmo porque a cooperativa é a preço de custo. Se a obra sair do valor, a gente podia
chamar o cooperado e dizer que aconteceu isso, está tudo aqui. Chama uma auditoria,
audita os documentos, audita o que se achar de acordo e vamos ver se dá para chegar em
20% a mais. É uma obra comum a preço de custo.
É por isso que falo que a cooperativa tinha tudo para dar certo. Não tinha razão.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O sistema é bom?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O sistema é bom, porque torno a


falar, ela tem menos tributos, ela não incorpora, que é um valor enorme para incorporar
um terreno, e ela não tem fins lucrativos. Uma empresa com fins lucrativos tem como o
empreendimento sair mais barato, agora, se algumas pessoas leram que não era sem fins
lucrativos e com fins lucrativos, deu no que deu. Eles não sabiam ler, eu acho.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – E voltando à questão da conta pool?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Aí eles, para bagunçar todo o sistema


financeiro, não sei por que razão, eles fizeram essa conta pool, o Marcelo Rinaldi com o
Alessandro.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Quem elaborou esse sistema?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O Marcelo Rinaldi, que fazia a parte


contábil, e o Alessandro, que faleceu. Eles juntaram todas as contas. Então, como o
senhor tem controle disso? O dinheiro de Pirituba está indo para o Jabaquara, do
Jabaquara para a Zona Norte. O pessoal que comprou está indo para obra que já está em
execução.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor se lembra em que ano e mês


isso foi feito?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Acho que foi em 2002, 2003, mais ou
menos. Foi aí que começou a confusão toda.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – E quantas unidades tinham em


andamento antes dessa junção na conta pool, o senhor se lembra?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu executei 18 mil unidades. Devia


ter, pelo menos, umas 10 mil em andamento.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Então, no momento em que a conta pool


foi criada, o senhor estima que havia 10 mil unidades em andamento?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Essas 10 mil unidades compreendem


quantos empreendimentos?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Uns 20 empreendimentos. Porque


cada empreendimento nunca era um prédio só. Geralmente eram de dois prédios para
cima, porque o senhor comprar um terreno só e pôr poucas unidades, o potencial de
receita fica muito baixo.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – E o senhor se lembra o valor dessa


conta pool? Ela foi aberta em que banco, valores?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei. Só sei que as minhas contas
zeraram, porque eu tinha valores separados para eu acompanhar o andamento de cada
obra e sumiu.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor mantém registros dessas


planilhas que o senhor tinha separadamente?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não, porque eram, na verdade eles


passavam para mim o extrato de cada unidade, de cada empreendimento, e isso ficava
na cooperativa. Quando eu ia assinar as notas para poder liberar os pagamentos de
material, mão-de-obra, eu sabia se tinha dinheiro ou não. Eu sabia se eu podia comprar
ou não.
Então, o próprio pessoal da secretaria me passava: Olha, você tem tanto para
assinar. Tanto é que a gente renegociava, porque às vezes não tinha verba para pagar e a
gente pedia dois ou três meses a mais, sempre negociando valores para poder cumprir
com as nossas obrigações e não parar a obra.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Até então o senhor tinha esse controle e
poderia dizer que o andamento das obras e o fluxo de caixa era compatível com as
despesas assumidas?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Era possível, então, entregar as obras


até então?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Totalmente. Sempre fui convicto


disso.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor é que fazia as contratações das


compras, das empresas?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Das compras existia um


departamento que fazia as licitações, o Departamento de Suprimentos. Essa parte de
compras não pertencia a mim.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Mais uma vez, só para ter certeza, o
senhor não faz ideia do valor dessa conta pool? O senhor ouviu falar, pelo menos,
alguma coisa desse valor, desse montante?
49

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Olha, não deve ser um valor baixo,
porque se eu tenho uns 20 empreendimentos, não é um valor baixo. Não sei falar com
exatidão o valor.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Não sei se meus colegas pares podem
relembrar, eu ouvi algo em torno de 30 milhões, aqui, foi isso mesmo? Alguém se
lembra dessa conta pool? Um dos depoentes, salvo engano, teria mencionado algo em
torno de 30 milhões? Então despreza.
Sr. Ricardo, o empreendimento de Pirituba, eu também me lembro de um
depoimento, um dos depoentes que falou a respeito desse empreendimento de Pirituba,
e me causou curiosidade. O senhor sabe alguma coisa a respeito desse empreendimento
de Pirituba? O senhor participou dessa obra?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O que sei é que era uma fábrica que
tinha falido, que ficava às margens do trem, em Pirituba, e que a cooperativa comprou
essa fábrica e queria fazer esse empreendimento em Pirituba, usando algumas lajes,
algumas estruturas já existentes no local, o que foi uma verdadeira catástrofe, porque
para segurar uma coisa antiga...

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Usou laje para aproveitar, reduzir custo?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não, porque fica bem mais caro.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Eu me lembro que a informação dada


por um dos depoentes é que houve, o empreendimento ficou muito acima do preço
inicialmente planejado.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim. Se tivessem derrubado a fábrica


totalmente, jogado tudo fora, era muito melhor do que fazer os reforços. O reforço saiu
muito mais caro.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor, como engenheiro, participou


dessa decisão?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Essas decisões assim, de alto


escalão, eu não participava. Eu comentava, mas era difícil eles ouvirem.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor figurou, ou figura como sócio


de alguma empresa que prestou ou que presta serviços à Bancoop?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Eu fui convidado pelo Dr. Luis
Malheiro para ser sócio da Mirante, porque na verdade foi assim, a gente comprava
blocos da Glasser, e por isso falo que os empreendimentos da Bancoop nunca foram
qualquer empreendimento. A Glasser faz os melhores blocos, até hoje, em São Paulo e
no Brasil.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – A Mirante faz o quê?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Então, como os blocos estavam


ficando muito caros da Glasser, e era na época em que o cimento estava sumindo do
mercado, a Glasser aumentava todo mês os blocos e chega uma hora que não dava mais
para comprar bloco da Glasser.
Então, eu tive a ideia de comprar uma máquina de fazer blocos, que custou, na
época, 10 mil reais, está comprovado, assinei o recibo. Nós compramos esse
equipamento na Zona Norte e nós começamos a produzir blocos na própria obra. Os
cooperados que compraram empreendimentos no Anália Franco devem ter visto a gente
executando os blocos no chão. A gente fazia os próprios blocos na obra.
Com isso a gente conseguiu ter uma economia de quase 30% do valor que a
gente teria de pagar para a Glasser, para a distribuidora dos blocos.
Foi aí que os diretores viram: Nossa, que ideia boa você fazer bloco na obra.
Tiveram a ideia de fazer a Mirante dos blocos, e vender bloco para a Bancoop. Só que
eles eram amadores, eles não sabiam fazer blocos ainda. Os blocos da Glasser eram
blocos secos em estufa, bem mais sofisticados do que fazer um bloco deitado no chão.
Eles tiveram a ideia, tiraram essa máquina que ficava na obra, levaram para essa
Mirante e começaram a revender para a Bancoop os bloco, só que com um preço mais
caro que da Glasser.
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O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor teve uma ideia para manter o
preço, o custo do imóvel acessível, mais barato para o cooperado e alguém pegou essa
sua ideia e ainda, ao se aproveitar dela, passou a fornecer o produto de menor qualidade,
num preço maior?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Num preço mais caro. Tanto é que
eles não tinham opção. Os blocos vinham dessa Mirante.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – E quem eram os sócios ou proprietários


dessa Mirante?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A Mirante, o Dr. Luiz pediu para eu


ser sócio da empresa porque eu sabia fazer bloco.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Junto com ele?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Junto com ele.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O Sr. Luis Malheiro era o Presidente?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Porque eu sabia como fazer os blocos,


se não queria ser sócio. Falei que não tinha interesse em ser. Aí os blocos chegavam na
obra verdes, pegava no bloco e ele desmanchava e por um preço lá em cima.
Na época existia, só de descarregar os blocos, fazia montes e montes de entulho,
porque os blocos não tinham nem quase cimento.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – E essa perda toda era incorporada no


custo do empreendimento e fornecendo mais e mais blocos para repor aqueles?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso. Tanto é que quando a Germany


entrou, ela além de ter os blocos, a Germany tirou todos os empreiteiros pequenos, os
que tinha na obra, pegou os melhores funcionários, e montaram a Germany, sempre
com custos acima do que a gente trabalhava anteriormente.
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O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor tem conhecimento de uma


empresa denominada Conservix Limpeza e Serviços?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Conheço a Bancon, que fazia a


limpeza das obras, pós-obra. Essa Conservix não tenho conhecimento. A Bancon sim.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – E Germany Comercial?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A Germany eu tenho.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O que o senhor sabe dessa empresa?


Quem eram os sócios, o que ela fazia?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eles sabiam o faturamento das


empresas que trabalhavam na cooperativa, então tinha os Irmãos Peruzo, que faziam a
estrutura, que ganhava mais porque estrutura é o que dá mais lucro assim para os
empreiteiros.
E houve uma discussão entre o irmão do Luis Malheiro, o Hélio Malheiro com
esse empreiteiro, por causa de dinheiro, de arrecadação.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Arrecadação ou pagamento?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei bem qual foi a confusão.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Já que hoje nós estamos discutindo


algumas questões semânticas aqui, eu vou...

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Esses Irmãos Peruzo tinham em torno


de 150 funcionários, quase 200 funcionários na Bancoop. E ele que arrecadava mais
nessa parte de carpintaria. E numa segunda-feira o Sr. Hélio Malheiro me ligou e falou
que a Irmãos Peruzo não trabalhava mais para a cooperativa. Fiquei até assustado,
porque o que o cara ia fazer com tanto funcionário?
Aí pensei que as obras iam parar, porque a maioria das obras eram dele. Aí eles,
parece que eles já tinham montado algum esquema de apropriar os funcionários dos
53

Irmãos Peruzo, tanto é que a obra não parou. Eles só deram baixa na carteira dos
carpinteiros e passaram para a Germany com um valor bem acima do que eles recebiam.
Então, por exemplo, eu pagava o metro cúbico do concreto 500 reais, eles
começaram a pagar 600. Então, é claro que o funcionário que ganha mil, você oferece
1050, ele vai embora para outra empresa na mesma hora.
Esse Irmãos Peruzo faliu na época, tanto é que muitos empreiteiros faliram
porque a Germany começou a tomar conta de tudo. Ela começou a tomar conta da
estrutura, depois ela foi tomar conta da parte de alvenaria, depois da parte de azulejo,
depois da parte de gesso. Quer dizer, tudo que tinha ali, eles tomaram conta porque eles
acharam que a Germany seria a empresa que tocaria todas as obras.
Inclusive, as notas da Germany não passavam pelas minhas mãos, para eu poder
assinar e dar o aval das notas. Começaram algumas eu assinar e eles cortaram. Primeiro
cortaram porque eu questionava por que não tinha a retenção, que toda firma que
trabalha tem uma retenção técnica de cinco por cento. A Germany não tinha. Eles
falaram que como eles eram os proprietários, não tinha o direito de ter cinco por cento
de retenção.
Aí, quando a Germany faliu, não tinha nada de dinheiro, porque as retenções,
que eram para atender casos trabalhistas, coisas desse tipo, não tinha nada. E eles
tomaram conta da cooperativa. Eles simplesmente falaram que dali para a frente era a
Germany que ia tocar tudo e que os empreiteiros que quebrem e se virem. E quebrou
tudo, todos que estavam lá quebraram e a Germany pegou os funcionários e começou a
tocar as obras.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – A Bancoop ficou lhe devendo algum


pagamento?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não senhor. Eles me pagaram até o


último mês que trabalhei, quando me mandaram embora.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Essa empresa Peruzo, o senhor sabe se


ela ainda presta serviços à Bancoop?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei. Sei que ela está no mercado,
que o rapaz é muito idôneo. É um pessoal do Paraná.
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O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Sabe o nome dele?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Carlos Peruzo.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor conhece o Sr. Valter Amaro


da Silva?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Conheço.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Quem é Valter Amaro da Silva?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O Valter Amaro da Silva era uma das
empresas que trabalhavam para a cooperativa. Ele fazia a parte da pintura. De 10 obras
que tinha lá, nove obras eram dele, da Valter Amaro da Silva.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – É o Valtão?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O Valtão.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Esteve conosco aqui. E ele prestava


serviços lá, o senhor chegou a constatar isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim, era um dos que mais faturava na
cooperativa. Não tinha muita concorrência. A maioria das obras era para a Amaro
Pinturas.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor conhece ou já ouviu falar no


Sr. Ricardo Berzoini?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim senhor.


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O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Ele participava das atividades da


Bancoop?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não senhor. Ele não ficava lá. Só ia
de vez em quando.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Circulava por lá. O senhor sabe que tipo
de assunto, que tipo de atividade, relacionamento, que ele mantinha com a Bancoop?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei, infelizmente.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Entre as pessoas com quem o senhor se


relacionava na obra ou na administração, o senhor ouviu falar alguma coisa a respeito
de apoiamento político?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim senhor.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O que o senhor ouvia falar sobre isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ouvia falar que tinha de, sei lá, ajudar
na campanha do PT para a Presidência do Lula.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Que tipo de ajuda tinha de ser dada para
esse partido político?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ajuda financeira.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Entre as empresas, entre as pessoas que


circulavam por ali, era solicitado que fosse dada uma ajuda financeira para o partido, é
isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – É.


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O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Eram citados nomes de quem seriam


ajudados?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eles sabiam quanto cada empresa


recebia, sabiam o montante de cada uma, então eles foram pedir para as empresas que
tinham mais porte financeiro. Uma delas era o Peruzo, que houve a confusão com o
Hélio, e a outra era o Valter Amaro, que tinha mais poder financeiro para talvez ajudar.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Essa empresa Mizu Gerenciamentos de


Serviços, o senhor citou que viu um cheque de 500 mil reais em algum lugar.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Em cima da mesa.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – E essa empresa, pelo que entendi, esse
não foi o único valor alto que o senhor viu?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Só vi esse de 500 mil, mas eu estimo


que eles pegaram todo mês, porque eles ficaram ricos de repente.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Era um gerenciamento de serviços de


obras, é isso, que o senhor chegou a questionar que isso poderia ter sido evitado, esse
gasto?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Se me proponho a não gastar, a não


pagar uma construtora, por que eu vou pagar uma Germany da vida, uma Mizu da vida?
Se não é uma construtora, não tem nenhum engenheiro-responsável, não tem nada? É
uma consultoria do quê?

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor acredita que essa contratação,


não sei se posso chamar de consultoria, esse gerenciamento dessa, como por exemplo da
Mizu, seria uma manobra para sustentar ou alimentar algum esquema de lavagem de
dinheiro ou algum esquema de obtenção de dinheiro?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Doutor, não tenho prova para falar
sobre isso. O que eu falo é o que realmente eu constatei. Eu não vou falar sobre uma
coisa que eu não vi. Posso acusar uma pessoa.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Estou satisfeito e agradeço ao Sr.


Ricardo Luiz do Carmo pelas respostas.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mais algum Deputado


gostaria de fazer uso da palavra? (Pausa) Pela ordem o Deputado Ricardo Montoro.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – O senhor foi convidado a abrir


alguma conta?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Fui sim senhor.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – E o senhor abriu essa conta?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não abri.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Qual a razão pela qual o senhor não
atendeu a solicitação de abrir uma conta? Qual era a finalidade dessa solicitação?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Doutor, eu sou engenheiro de campo,


sou o engenheiro responsável para executar obra. Não sou engenheiro para fazer
campanha financeira de ninguém. Se ele chega para mim e fala, só porque ele é o
diretor, ele chega para mim e fala que eu tenho de abrir uma conta, eu vou ter de abrir?

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – E quem pediu?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O Dr. Luis Malheiro.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Que é dono da Mizu também?


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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim senhor. Perguntei para que ia


fazer uma conta, a troco de quê? E o senhor imagina, eu trabalho no campo, na obra e o
senhor imagina como eu vou ter autoridade numa obra que eu vou ter de ficar pedindo
dinheiro para empreiteiro? Que moral eu vou ter, ainda mais no meio deles? Eles vão
falar que esse cara é um pilantra.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – O senhor não chegou a pedir a


nenhum empreiteiro?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Cheguei a falar o que o Dr. Luis


Malheiro pediu, que está até no meu depoimento ao Ministério Público. Ele pediu que
todos os empreiteiros, cada um, todos, 10 que eles sabiam que tinham uma conta mais
substancial, contribuíssem com mil reais cada um deles. Ele queria, no final do mês, que
tivesse 10 mil reais para esse negócio da campanha.
Eu conversei com eles e falei que eles não eram obrigados a dar nada. Se vocês
quiserem dar, vocês dão, se não quiser, eu não tenho poder nenhum. Até falei para eles,
por que vocês não pedem, vocês que são da diretoria. Vou pedir eu, que fico no campo
junto com eles? Como o senhor trabalha ao lado de uma pessoa que o senhor está
pedindo mil reais para o cara no final do mês? Que moral o senhor vai ter dentro de uma
obra? Ainda mais com 500, 600 funcionários sabendo que você está pedindo mil reais
para o patrão dele? Fica uma coisa insustentável. Como você querem que eu faça isso?

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Um aparte?


Qual o valor do salário dessas pessoas que deveriam contribuir com mil reais?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eram as empresas.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – As empresas. Não era para funcionários,


só empresas?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Só empresas.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Sr. Presidente, queria fazer até uma
pequena reflexão. Eu acho que nós não devemos fugir nenhum milímetro da
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averiguação real dos acusados, para que o nosso relator possa fazer um relatório
substancial, entregue ao Ministério Público, com as acusações que estão surgindo. Seu
depoimento é realmente muito importante.
Mas no meio do seu depoimento o senhor levantou o exemplo da Encol e eu
conheço muito bem isso, porque fui vítima disso, eu tinha um apartamento da Encol, e o
Vicente também.
Então, Sr. Presidente, eu acho que a gente devia continuar nessa averiguação
rigorosa dos fatos, tentar punir, nós não podemos punir ninguém, mas colocar uma
substância muito grande no relatório, mas devemos também pensar naquilo que é o
fundamento da nossa CPI, que são justamente as pessoas, que tenho certeza que fez o
senhor ficar emocionado, que são os cooperados.
Na Encol a gente conseguiu fazer algum tipo de acordo individualizado, em cada
empreendimento. Eu acho que a gente deveria tentar, quem sabe no recesso de julho,
junto aos cooperados, algumas conversas até paralelas à Comissão, e também
possivelmente com a Bancoop, para ver aonde a gente pode buscar uma solução,
construir uma solução, para que minimize, de alguma maneira, o sofrimento desse
pessoal que foi lesado.
A punição dos responsáveis tem de ser muito rigorosa, mas a construção de um
entendimento entre os cooperados e a cooperativa me parece fundamental, Sr.
Presidente. Acho que a gente deveria pensar em alguma coisa objetiva para realmente
propor alguma coisa de substância para que a gente possa avançar num acordo ou numa
solução mais duradoura com relação aos cooperados.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem o


Deputado Vicente Cândido.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Primeiro queria registrar aqui o


depoimento conciso, sincero e a postura ética do engenheiro Ricardo Luiz. Tudo isso
muito contribui, não só com os trabalhos da CPI, mas também dignifica a profissão do
senhor, a função dos profissionais de engenharia no mercado.
E acho que não tenho muito a perguntar, a acrescentar, apenas algumas dúvidas
que podem ajudar a esclarecer mais algumas coisas, mas muito rápido.
O senhor ficou de qual período, só para precisar, de trabalho na Bancoop?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Entrei em 1997 e fui mandado


embora em 2005, começo de 2006. Eu fiquei quase 10 anos na cooperativa.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O senhor presenciou o período de


transição, da morte dos diretores. O senhor acompanhou o caso da morte, a causa
mortis, chegou a ter informação sobre isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu soube que eles foram para uma
fazenda em Pernambuco, alguma coisa assim, e que eles estavam voltando de carro e
sofreram um acidente automobilístico.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Nada mais do que isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Nada mais que isso.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – E o senhor já vinha alertando eles dessas


falhas técnicas em composição de custo?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim, tanto é que ficou um mal-estar


entre a minha pessoa e eles, porque eles achavam que eu estava defendendo muito a
cooperativa. Na verdade eles chegaram até a falar que o mandato deles iria terminar,
porque eles têm autonomia por um período, parece que são três anos ou quatro, depois
renova e depois não pode mais, não pode ser um cargo vitalício.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Nas compras dos terrenos, na avaliação, o


senhor falou que compravam terrenos sem informação técnica. O senhor atribuiu que
seria mais inexperiência mesmo ou tinha má-fé na compra, na valorização do terreno? O
terreno era comprado mais barato para viabilizar o empreendimento ou tinha alguma
outra conotação?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – No começou eu pensava que fosse


falha técnica deles, que eles não tinham uma assessoria devida, e também não queriam
ter. Eu me propus a ver o terreno antes deles comprarem, a fiscalizar, fazer uma
sondagem, o que era uma coisa quase impossível.
61

Eu percebi que quando eu comecei a questionar, muitas pessoas ligadas ao


interesse de fazer a obra começaram a me ligar dizendo que eu estava criando
obstáculos para que inviabilizasse certos empreendimentos.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Cooperados ou diretores?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Diretores, pessoas interessadas na


negociação do terreno. Que eu estava arrumando, questionando coisas que não tinham
de ser questionadas.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Como o senhor era o engenheiro da obra


e fazia pagamento de acordo com a disponibilidade de caixa, o senhor tinha informação
do preço, de quanto foi o terreno para aquele empreendimento, é isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não tinha. Eu só tinha o valor que eu


teria para gastar na obra. Você tem disponível...

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O senhor não conseguia comparar se o


terreno estava mais caro ou mais barato do que o preço de mercado?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não, porque isso era só entre eles, o
pessoal que usava terno.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Eles morreram e o senhor ficou mais


quanto tempo na função de engenheiro?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eles morreram em 2002 ou 2003 e


fiquei mais dois anos. Fiquei com responsável-técnico mais um ano depois que eu saí,
porque a cooperativa não conseguia nenhum engenheiro que quisesse ser responsável
por esse mundaréu de obras que a cooperativa tocava.
Então, para não parar as obras já em andamento, porque no CREA é assim,
quando você dá baixa na sua responsabilidade técnica, tem 48 horas para colocar um
novo engenheiro-responsável. E eu sabia que se eu desse a baixa, as obras iriam parar.
62

Eu sustentei por mais um ano, afastado da cooperativa, mais um ano de


responsabilidade técnica, para ver se achava alguém para poder ficar no meu lugar.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Como era a remuneração do senhor? O


senhor era contratado como pessoa jurídica prestadora de serviço?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim senhor.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – E a remuneração era padrão de um


diretor, o senhor tinha participação em resultados?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu ganhava, na nota fiscal, 12 mil


reais.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Um salário de engenheiro responsável


por obras, era o padrão de mercado?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Na verdade era para um funcionário,


não para uma pessoa que assina a planta e ser responsável por um monte de coisas.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O senhor acha que era bem remunerado


ou mal remunerado?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Se fosse para uma boa causa, eu acho
que era bem remunerado. Agora, pelo que eu fiz e a cooperativa fez, eu fiquei com uma
quantidade de processos nas minhas costas que até hoje eu chego no fórum e eu tenho
de pegar um advogado, como fala, aqueles que ficam...

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Não tem ninguém acudindo o senhor


nisso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não, ao contrário. A Bancoop vai em


cima de mim. Esse engenheiro era o responsável, pergunta para ele.
63

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O senhor ficou um período então, de mais


de um ano com o Vaccari Presidente da Bancoop. Por que o senhor não continuou?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Porque ele me mandou embora.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – E a justificativa?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – E o senhor alertou o Vaccari desses


procedimentos quando ele assumiu?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não senhor. Eu não tinha acesso a


ele.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Mas o senhor percebeu algumas medidas


tomadas nesse sentido, de corrigir rumos e custos?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu notei que o Dr. Vaccari queria


acertar a bagunça que estava na cooperativa. Ele se preocupou, na hora que ele viu o
quadro, a situação que estava.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O senhor é cooperado?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sou.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Onde é o empreendimento do senhor?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Na Vila Uberabinha. Uma travessa da


Santo Amaro. Ainda estou pagando.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O senhor não pode reclamar da obra que


o senhor fez, deve estar contente com a obra, pelo jeito, é isso?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu que fiz.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O depoimento do senhor no Ministério


Público foi espontâneo ou o senhor foi convocado?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Foi espontâneo. Um repórter da


Bandeirantes me ligou um dia, estava numa obra na Raposo Tavares, falando se eu não
queria fazer um depoimento ao Dr. Carlos Blat lá no Ministério Público.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Há quanto tempo?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Em 2008.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Foi um repórter que solicitou ao senhor


fazer o depoimento e o senhor se dispôs a fazer?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Fui sem problema.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – E ontem o senhor conversou com o


promotor e foi também espontâneo? O senhor ligou para ele ou ele ligou para o senhor?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu liguei para ele. Foi na outra terça-
feira.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O senhor tinha informação nova para


passar a ele?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Só um aparte, Deputado Vicente


Cândido.
Esse repórter ligou para o senhor para o senhor fazer o depoimento. E quando o
senhor foi fazer o depoimento, o repórter foi fazer a reportagem também?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Eu fiquei só com o Dr. Blat.


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O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Depois que você fez que saiu a


reportagem?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Deve ter saído, porque tudo que
acontece no Ministério Público sai.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Quem era esse repórter?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não lembro. Faz dois anos.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Mas tinha algum contato entre o


repórter e o Blat?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Mas como o repórter ligou para o


senhor?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei. Ele ligou e falou: Você
gostaria de fazer um depoimento ao Ministério Público sobre a Bancoop? Eu estava
numa obra na Raposo Tavares e falei: Olha, para eu chegar em São Paulo é complicado,
mas se não tiver jeito, eu vou sem problema nenhum.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Era da TV Bandeirantes? Qual o nome


dele?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei, porque foi uma coisa rápida.
Não tive muito contato com ele. Eu perguntei o que tinha de fazer. Ele falou que tinha
de ir ao Ministério Público. Aí eu fui lá, compareci e conversei com o Dr. Blat, dei o
depoimento.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Nos casos, o Ministério Público


notifica as pessoas. Agora foi um repórter que notificou. É estranho.
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O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Um aparte Deputado Vicente Cândido?

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Posso dar um aparte ao senhor.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Até como jornalista aqui, ele te ligou
para fazer uma matéria?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso mesmo.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Não para o senhor fazer um depoimento


ao Ministério Público, mas dar um depoimento para a TV, não é isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Também.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Depois disso que o senhor foi convocado
pelo Ministério Público?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Eu fui espontaneamente.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – O senhor deu entrevista?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O repórter deu sim, o depoimento dele


é esse.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – O senhor deu um depoimento,


inicialmente, para a TV, foi gravado para a TV e aí que o senhor foi ao Ministério
Público?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ele pediu para mim algumas coisas
sobre a Bancoop.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Informações? Ele gravou com o senhor,


fez uma matéria?
67

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu não dei declaração. Falei que só


falaria no Ministério Público.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Obrigado.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O repórter convocou ele para o


Ministério Público. É inédito.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Vou defender o repórter. Ele está na


função dele, como jornalista, de ir atrás da notícia.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Então, ainda mais notícia contra a


Bancoop.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Só para deixar, em que período?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Em 2008.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Em 2008 o senhor recebeu um


telefonema de um jornalista da TV Bandeirantes pedindo informação.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim senhor.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O senhor disse que não falaria com a


imprensa e falaria em juízo no Ministério Público e o senhor se dirigiu ao Ministério
Público?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso mesmo.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Quem indicou para o senhor o promotor?


Como o senhor foi para lá?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ele falou que era com o Dr. Blat.
68

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Ele falou. O senhor foi lá, deu o


depoimento e depois disso o senhor falou com a imprensa?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não senhor, nunca falei com a


imprensa.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – E as matérias da revista Veja? O senhor


nunca deu depoimento algum para a imprensa?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Nunca falei. É a primeira vez


que estou falando assim.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Publicamente?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – É.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Com holofotes ligados assim para a TV


Globo é a primeira vez? Aqui é a TV Globo.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Nunca dei entrevista para ninguém.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Um aparte ao Deputado Roberto Morais.

O SR. ROBERTO MORAIS – PPS – Apenas para dar uma cooperada aqui.
Ela chamou a atenção, ela relatou que os cooperados passaram as informações para o
repórter da Bandeirantes e o telefone do engenheiro-responsável para que ele o
procurasse. Foi isso que aconteceu. Aliás, para todos os repórteres, diz aqui a cooperada
que está assistindo, a dona Dinalva. Eles que procuraram a imprensa.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Está ficando claro.


Mas, uma semana atrás, Sr. Ricardo, nessa última conversa do senhor com o
promotor, o promotor ligou para o senhor?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu que liguei.


69

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O senhor tinha informação nova para o


promotor, era isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não, Deputado. É porque eu recebi o


negócio da Assembleia e eu não vim a primeira vez porque eu estava numa obra longe.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – O senhor quis se orientar com o promotor


o que era, o que seria?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ele falou para eu falar o que eu falei
no Ministério Público. E falei que falaria no Ministério Público e em qualquer lugar que
me chamassem. Tanto que quando fui depor, eu falei que o que eu falei aqui eu falo em
qualquer lugar.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Por último, engenheiro, queria dialogar


com a proposição do Deputado Ricardo Montoro e senti também no senhor uma
preocupação muito grande e a vontade de que tudo isso desse certo, até porque a cultura
do cooperativismo no Brasil ainda é muito insipiente. Nós temos leis muito fracas, nós
usamos muito pouco esse experiente, essa modalidade econômica, que seria a melhor
maneira, ainda mais nesse período que o senhor começou a trabalhar na cooperativa,
que a gente percebia uma dificuldade muito grande de acesso a crédito e viabilização do
mercado imobiliário.
Então, ali a gente via aquela tentativa, acompanhei pelos jornais, acompanhei
um pouco pela relação com o Sindicato dos Bancários, mas muito distante, ali era uma
grande saída para que as pessoas pudessem adquirir a casa própria.
Imbuído dessas intenções, e respaldando aqui a proposição do Deputado Ricardo
Montoro, que o senhor pudesse pensar, não precisa ser agora, mas pela sua experiência,
pudesse remeter por escrito, talvez até uma outra vinda aqui, como proposição, para ver
qual é a saída, como pode salvar, como pode evitar o máximo possível que isso resvale
na modalidade econômica de cooperativa no Brasil.
Eu acredito muito nessa modalidade, é a maneira mais social de distribuição de
renda e de soluções às vezes difíceis para setores como esses. Na área educacional, por
exemplo, tem várias iniciativas, mas na área habitacional, fiquei sabendo dias atrás
70

agora, Deputado Montoro, da experiência bem-sucedida da Federação dos Comerciários


do Estado de São Paulo, que fizeram mais de 10 mil unidades habitacionais sem
nenhum problema.
Acho que nesse sentido de você salvar essa modalidade econômica que vale a
pena a gente, esta Casa junto com as pessoas interessadas, como o senhor, achar a
melhor solução possível. Acho que seria um dos papeis da CPI.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Me permite um aparte?

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Pois não.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Concordando com V. Exa. acho que


primeiramente que a cooperativa não pode ser, o espírito cooperativista não pode ser
manchado, mas também, como disse naquela minha pequena reflexão, acho que a gente
tem de procurar justamente melhorar a situação dos cooperados, além de sermos
rigorosos na investigação, no relatório do Deputado Bruno Covas, verificando
exatamente quais são os culpados, quem que mandava comprar terreno com água, se por
acaso algum diretor ficou com a mão molhada por causa de tanto terreno com água que
comprou.
São essas investigações que precisamos ir a fundo.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Nenhum reparo na sua fala, apenas


reforçando a tua tese.
Obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem o


Deputado Antonio Mentor.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Presidente, gostaria até de continuar com


esse diálogo que houve aqui neste momento entre o Deputado Ricardo Montoro e o
Deputado Vicente Cândido, para dizer que tenho insistido sempre no debate nesta CPI
que nós temos de separar duas coisas pelo menos.
71

A primeira é a investigação e a busca da punição daqueles que foram


responsáveis pelas irregularidades cometidas na Bancoop. Essa é uma das tarefas desta
CPI, em auxílio ao trabalho do Ministério Público.
A segunda, e talvez até mais importante do que esta, é a defesa do interesse dos
cooperados, que precisam ouvir desta Casa de Leis, através desta CPI, qual é o
caminho, qual é a forma, como se encontra uma possibilidade de construir uma solução
para essa situação aflitiva em que eles se encontram. São essas duas questões.
O que me incomoda neste debate é quando, por razões inexplicáveis, vem a
conversa de que alguém pediu. E está claro aqui que houve irregularidades, quem
cometeu as irregularidades, está claro, e todos os depoimentos apontam diretamente
para as pessoas que são responsáveis por essas irregularidades. E provavelmente, a
pretexto de esconder a mão molhada, Deputado Montoro, justificavam dizendo que
tinha de pedir mil reais para cada empreiteira para dar para o PT, para a campanha do
Lula em 2002. Uma campanha Presidencial, uma campanha que custa alguns milhões
de reais, pedir mil reais para cada empreiteiro é uma desfaçatez.
Um outro vem aqui e nos diz, Deputado Waldir Agnello, que depositava cinco
mil reais para campanha do PT, para campanha do Presidente Lula.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Permite um aparte?

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Claro.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Apenas para corroborar. Eu achei tão


estranha essa colocação de mil reais, que pensei ter ouvi errado, que fosse de
funcionário e não de empreiteira.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Então, essa questão que é que precisa ser
objeto de uma reflexão isenta dos membros desta CPI, porque justificar ações
irregulares na administração de uma cooperativa, como o engenheiro nos mostra aqui
que aconteceram, por conta de mil reais para campanha de Presidente da República, é
uma coisa inaceitável. Nem quem acredita em fada madrinha vai acreditar numa
conversa como essa.
Mas eu queria que o engenheiro Ricardo nos ajudasse aqui quanto a algumas
questões que têm como objetivo essa busca da verdade como nós estabelecemos aqui.
72

Todos, todos não, mas vários depoentes que participaram da investigação do


Ministério Público trouxeram para nós aqui também uma cópia do seu depoimento ao
Ministério Público. Foi uma orientação do promotor de justiça, certamente, que falou:
Você vai lá, vai repetir o que você disse para mim, leve uma cópia lá e entregue para a
CPI. Estou correto nisso, engenheiro?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O que falei no Ministério Público,


falei aqui.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – A cópia que o senhor nos trouxe aqui.


Claro, o Ministério Público quer que o senhor reafirme aqui aquilo que já foi dito.
Nós tínhamos na Bancoop os irmãos Malheiro, Hélio e Luis. O Luis era o
presidente, o Hélio era um funcionário administrativo, segundo ele nos informou aqui,
auxiliar administrativo na obra. Ele ficava, fazia acompanhamento. O senhor
seguramente o conheceu também?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim, ele começou lá no Portal do


Jabaquara.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Como era o relacionamento dos dois,


Hélio e Luis? Eles tinham bom relacionamento?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Como irmãos. Irmãos às vezes


acabam brigando.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Agora, um relacionamento de irmãos e,


além disso, evidentemente, pelo que o senhor nos coloca aqui, quem autorizava os
pagamentos e recebia notas fiscais, os materiais na obra era o Sr. Hélio Malheiro, certo?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Certo.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Ele que mandava as notas fiscais para a


sede da cooperativa, para lá efetuarem os pagamentos, está certo isso?
73

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Se houvesse alguma falcatrua nessa


operação, o Sr. Hélio certamente saberia, não saberia?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Saberia.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – E o Sr. Luis também?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Também.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – É possível haver uma sociedade entre os


dois, para que os dois, de alguma maneira, contribuíssem para que essas irregularidades
pudessem ser implantadas na cooperativa, correto?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não entendi bem.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – É possível que os dois, de alguma


maneira, estivessem associados nas operações que trouxeram prejuízo para a Bancoop,
correto?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Correto.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – O senhor nos colocou aqui que o terreno


da Mooca foi também motivo de uma disputa entre o Sr. Tomás e o Sr. Malheiro,
enquanto nós temos uma informação de que o empreendimento da Mooca foi adquirido
pela OAS, uma empresa de grande porte, uma grande empreiteira, e que essa mesma
empresa OAS também adquiriu um terreno ao lado dessa obra. O senhor tem
conhecimento disso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Olha doutor, lá na Mooca, na mesma


rua, eram dois empreendimentos. O primeiro chamava Mooca e o outro Terraço D
´Itália. Era no mesmo... Sei que eles compraram dois terrenos ali e até uma época eles
usavam como almoxarifado.
74

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Estou dizendo isso porque certamente


uma empresa do porte da OAS deve ter pesquisado o mercado para saber os preços,
saber o metro quadrado, fazer a sondagem necessária. Eu não entendo nada disso, mas
estou aqui só fazendo, cogitando que isso tenha acontecido lá. Portanto, é possível que
aquela operação feita pela Bancoop à época também não tenha sido assim um negócio,
salvo a disputa que havia, de interesses entre o Tomás e o Malheiro, que o senhor nos
relatou aqui, do ponto de vista empresarial poderia até ser um negócio razoável, porque
a OAS convalidou essa viabilidade empresarial no momento em que ela comprou o
empreendimento e adquiriu o terreno ao lado. Esse é apenas um comentário que estou
fazendo e não preciso da sua resposta.
Eu sou absolutamente leigo em construção civil, mas eu sempre ouço falar que o
orçamento de uma obra normalmente é ultrapassado em 20%, 30%, às vezes mais. Eu
nunca construí, Deputado Waldir Agnello, mas eu ouço falar. Tem pessoas da minha
relação que começaram a construir uma obra e falaram que iam gastar 50 mil e no fim
gastaram 80, 100.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Só um aparte.


O Rodoanel começou com um valor e terminou com o dobro. Não sei o que
aconteceu.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Pois é. Então, é possível, com a sua


experiência, de tantas e tantas obras que o senhor acompanhou, da Bancoop e etc, que
uma obra tenha uma variação em torno de 10, 15 ou 20%, 30%, seria razoável pensar
isso, engenheiro Ricardo?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Seria.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Portanto, num sistema cooperativado,


uma obra prevista para que cada unidade custasse 80 mil reais, se ela custar 95, está
dentro do previsível. Portanto, os cooperados precisam completar o custo da obra, já
que ela foi feita pelo custo. Está certo isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Certíssimo.


75

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Estou aqui querendo que o senhor


contribua com a sua experiência e nos mostre aí.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Está certo.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Tinha mais uma questão importante. O


senhor nos disse que no momento em que houve a fusão das contas, a conta pool, que
acho que foi talvez o grande erro administrativo da cooperativa. Enquanto nós tínhamos
uma conta para cada empreendimento, nós sabíamos exatamente quanto ele tinha
custado e exatamente quanto teria de adicionar, ou se sobrasse, por uma eventualidade,
devolver para os cooperados.
O senhor nos disse que havia 18 mil unidades, 10 mil já haviam sido entregues e
ainda faltavam oito mil. Dessas oito mil, o senhor sabe quantas foram entregues?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei a exatidão.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Depois da conta pool. É um dado


importante para nós, por isso queria insistir pela sua memória, porque é um dado
importante para a CPI saber. Das oito mil, Deputado Montoro, depois da conta pool,
porque é a tal da bicicleta, quantas foram entregues e quantas, na hora que parou de
pedalar, a bicicleta caiu. Quantas foram entregues, dessas oito mil restantes, após a
implementação da conta pool? Essa é uma consulta que até, se o senhor depois puder
nos informar, vai nos ajudar aqui a formar uma opinião a respeito de tudo que
aconteceu.
Por último, dizer que tem uma coisa que me deixou intrigado no seu depoimento
e quero ser sincero com o seu depoimento e consigo. O senhor nos disse o tempo todo:
Eu sou engenheiro de campo, eu cuido da obra, eu estou lá na obra, estou
acompanhando. Estou no campo. No entanto, o senhor tem tantas informações sobre as
questões administrativas da Bancoop também. O senhor viu um cheque, o senhor
imagina que foram feitas dessa forma. De onde vieram essas informações, só do “ouvi
dizer”? Porque aí é uma coisa falar “eu ouvi dizer que aconteceu isso”, “ouvi um
boato”. Essa é uma coisa que tem um peso para nós na CPI.
76

Agora, se o senhor sabe realmente dos fatos que o senhor narrou para nós com a
certeza de quem participou das operações, de quem viu os fatos acontecerem, de quem
assinou documentos, etc, ou participou de alguma maneira, é diferente, o peso é outro.
O senhor concorda comigo?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Concordo plenamente.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Queria saber se essas afirmações, várias


delas que o senhor fez aqui, não quero retomar até por economia de tempo, mas se
foram baseadas em fatos que o senhor viu acontecendo, o senhor participou ou se na
maioria foram fatos que o senhor ouviu comentários, alguém falou, a rádio peão que
estava tratando disso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Então, o que acontece é assim. Tudo


que fica fora da obra, por mais que eu não participe, repercute na obra. Uma decisão
deles lá, errada, vem diretamente, repercute na obra. Por quê? Porque a obra,
automaticamente, fica sem recursos. E esse era um dos maiores problemas que eu
enfrentei nesse período da cooperativa.
Eu perguntava por que está acontecendo isso, por que pediram esse terreno, por
que chegaram a essa conclusão? E sempre as respostas foram muito evasivas. Por isso
torno a falar que a minha função era ficar no campo, não participar dessas decisões.
Então, eu me submeti a tentar executar o que vinha para ser entregue para os
cooperados, não colocando em risco nenhuma unidade.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Por último, Sr. Presidente, apenas para


concluir, no depoimento do Sr. Hélio Malheiro ele afirmou a esta CPI que os materiais
utilizados nas obras da Bancoop eram materiais de segunda, materiais sem qualidade,
que colocariam em risco a própria obra. E aqui o senhor terminantemente negou isso. O
senhor disse para nós que não, pelo contrário.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu coloco à disposição os


empreendimentos que a Bancoop tem.
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O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Eu fiquei muito desconfiado, engenheiro


Ricardo. Fiquei muito desconfiado do depoimento do Sr. Hélio Malheiro.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O que está colocado lá é visível.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Ele veio a esta CPI encapuzado, com 12


seguranças. Ele veio a esta CPI contando estórias da Carochinha, coisas inacreditáveis.
E uma delas foi essa que o senhor acabou de negar, dizendo que os materiais utilizados
nas obras eram materiais de segunda, de terceira qualidade.
Eu fiquei muito mal impressionado com aquele depoimento, sabe, ao contrário
do depoimento que o senhor está nos trazendo aqui hoje, onde o senhor está sendo
objetivo, claro, nas suas afirmações, e dizendo aquilo que o senhor tem conhecimento e
negando aquilo que o senhor não tem conhecimento. Dizendo que isso eu ouvi falar e
isso eu presenciei, para que a gente possa formar opinião com a certeza de que nós
estamos fazendo o trabalho adequado nesta CPI.
Gostaria de agradecer a sua presença aqui hoje.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu que agradeço.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Pela ordem o


Deputado Bruno Covas.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Deputado Bruno, só por uma


questão de ordem, um pequeno aparte.
Na terça-feira passada esta CPI não teve quorum e nós fizemos uma diligência, o
Presidente, o Deputado Bruno Covas e eu, e fomos ao empreendimento na Rua Bela
Cintra, e tem a parte da frente que está entregue e tem a parte de trás que está altamente
deteriorada.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Só um parênteses. Eu


não consideraria uma diligência, mas uma visita de Deputados.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Uma visita. Está correto Presidente.


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O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Informal.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – E nós constatamos, com alguns


depoimentos de proprietários, que os materiais eram realmente muito ruins. Existia
vazamento, todas as pessoas tiveram de arcar com despesas para poder arrumar o seu
apartamento.
Então, é um pouco incoerente dizer que foi com muito boa qualidade, porque o
que nós constatamos nessa visita que fizemos foi justamente o contrário. Lá o
empreendimento estava muito deteriorado e o do fundo absolutamente abandonado, sem
segurança, sem limpeza, com os moradores reclamando da existência de ratos.
Absolutamente fechado. Nós não tivemos acesso, inclusive, a entrada desse
empreendimento estava totalmente abandonada. Só para fazer essa retificação.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Pode ser um aparte do aparte, Deputado


Montoro?

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Eu concedo um aparte ao Deputado


Antonio Mentor antes, que tinha se aproximado do microfone antes, pelo menos sentiu
vontade.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Deputado Montoro, quero me referir a um


depoimento que me parece ser um depoimento consistente, com critério, que nos trouxe
aqui o engenheiro Ricardo, a respeito dos materiais utilizados para a construção.
Agora, esses materiais utilizados, se ficarem no tempo, se ficarem disponíveis,
se ficarem ao relento, evidentemente, qualquer material, mesmo que seja da melhor
qualidade, ele vai sofrer essa erosão que é própria da intempérie mesmo.
Então, eu estou aqui me valendo da impressão do engenheiro Ricardo. Quero
acreditar em tudo que ele me falou e ele disse que o material é bom, que foi utilizado
material de primeira qualidade e quero acreditar nele.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Deputado Vicente Cândido.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Só recomendar ao Presidente que mesmo


sendo uma visita informal de três Deputados, com a presença da mídia, numa diligência
79

é bom que convoque todos os demais membros, até porque isso é matéria de deliberação
nesta CPI, aqui sugerida por mim, Deputado Bruno Covas, de que talvez seria o caso de
fazer algumas diligências.
Então, uma coisa é uma visita individual de um ou outro Deputado, que pela lei
tem o dever de fiscalizar e outra coisa é uma diligência da CPI, que deverá ser
informada a todos os membros. Eu gostaria de ter ido, por exemplo, quando leva a
mídia junto, que não é uma coisa tão informal assim.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – E que poderá


acrescer, a qualquer momento.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – O senhor não estava nem na CPI,


como o senhor queria ser convidado? O senhor não estava na CPI.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Se eu soubesse da diligência, teria vindo,


Deputado.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Não foi diligência, foi uma visita.

O SR. VICENTE CÂNDIDO – PT – Mas eu acho que é recomendável que


passe o programa para todos os membros.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Deputado Bruno


Covas com a palavra.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Agradeço, Sr. Presidente.


Sr. Ricardo Luiz do Carmo, agradeço a presença e só recapitulando. A Germany
foi, portanto, uma empresa construída, elaborada, criada, que tinha como sócios
diretores da Bancoop.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Exatamente.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – E que serviços ela prestava para a Bancoop?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Todos os serviços que se referem à


construção civil. Não desmerecendo o que o Dr. Montoro falou, vazamento é uma coisa,
o senhor pode usar o melhor material, mas se não for uma mão-de-obra adequada, se
não tiver uma manutenção, que seria pós-obra, que a Germany não fazia, acarreta em
transtornos para o empreendimento.
A Germany, quando ela entrou, ela pegou todo o miolo que daria mais
lucratividade, que seria a parte de execução da estrutura. Depois ela foi para segmentos
menores, até para chegar no gesso.
Quando eles viajaram para Pernambuco, que é a terra do gesso, eles tinham ideia
de montar, trazer o gesso, eles pegarem uma fazenda e tirarem o gesso, extraírem o
gesso de lá. Por isso eles morreram nesse lugar de Pernambuco, porque a ideia era trazer
gesso de Pernambuco para cá. Por isso que foram procurar uma fazenda.
Eles atacavam em todos.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – É a verticalização da produção, da


construção?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso mesmo.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor sabe dizer aonde era a sede da
Germany?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Na Vila Mariana.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor sabe se a Germany tinha muitos


funcionários?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Uns 500, mais ou menos, porque ela
pegou todo o nicho dos empreiteiros.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – As pessoas, portanto, passaram a trabalhar


na obra e recebiam da Germany?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso. Passaram a receber da Germany,


registrados pela Germany.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Em relação à Mirante, a Mirante foi a


empresa criada para fornecer blocos, é isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – A partir da ideia de V. Sa. de fazer o bloco


na obra?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – E V. Sa. disse que quando foi criada a
Mirante, e contratada pela Bancoop, a Mirante fornecia um bloco de qualidade inferior
àquele que era produzido?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim. Sem dúvida.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – A um custo mais elevado?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor sabe estimar, mais ou menos, o


custo?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Uns 20 a 25% acima do valor de


mercado.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – E é possível estimar, na qualidade, o que


isso representava, em porcentagem, abaixo da qualidade do que tinha antes?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Caiu bastante. Um bloco da Glasser


era seco em estufa, tem as dimensões certas. Ele não é fora de bitola ou fora de
esquadro.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Eu não sou engenheiro. Só para entender,


vamos supor que a qualidade era 100, a qualidade fornecida passou a ser o quê, 50, 60,
90?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Uns 40. Nem a 50% chegava.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Então, um bloco que era 40% da qualidade
do que tinha o anterior, ou seja, 60% a menos, a um custo 20% maior. A partir de
quando a Mirante passou a fornecer para a Bancoop?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Estava no Anália Franco quando tinha


os blocos no chão. Não lembro exatamente que ano estava no Anália Franco, mas logo
depois, devo ter feito bloco por uns seis meses, logo depois esses blocos estavam sendo
empregados no Anália Franco e logo após eles cortaram, tiraram de fazer bloco na obra
e começaram a fazer os próprios. Acho que era do interior que vinham.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor não sabe estimar em que ano isso
começou a operar?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Os cooperados que têm apartamento


no Anália Franco devem saber, quando eles adquiriram a primeira torre, que foi ali que
a gente começou a executar os blocos. Inclusive a gente montou uma usina de concreto
na própria obra, porque a gente evitava o custo do caminhão transportar o concreto. A
gente teve uma redução substancial de concreto. Tinha uma pequena usina lá. Quem
tem empreendimento lá, a senhora viu?

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Depois a gente pode perguntar aos outros
cooperados. O senhor não se lembra a partir de quando?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A senhora ali deve lembrar. Eu não


vou falar uma data errada.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Depois precisa registrar o nome da pessoa


que deu essa informação.

O SR. ANTONIO MENTOR – PT – Deputado Bruno Covas, me permita uma


participação.
Poderíamos pedir ao engenheiro, logo depois que ele tiver a informação, passar
para a CPI.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu passo.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Perfeito.


A empresa Caso fazia a segurança da obra?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Fazia.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor sabe se os seguranças dessa


empresa trabalhavam armados?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu acho que não. Não pode,


segurança de obra, trabalhar armado.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Perfeito. Eles não trabalhavam armados.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Só com aquele cassetete.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor trabalhou na seccional Village Di


Palmas?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim. Tenho mais processos de lá.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor chegou a ser preso?


84

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim, várias vezes. Fiquei, em duas


diligências eu fui.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor poderia explicar por que


aconteceu isso, por que houve a prisão, por que até hoje há esses processos?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim. Porque é o problema dos


terrenos. Quem tem empreendimento no Village di Palmas, sabe que ali só tem árvore,
não tem outra coisa a não ser árvore. E são árvores que não dá para tirar dali e trocar por
outras árvores. São árvores antigas e não pode tirar. Uma araucária, o senhor pode fazer
do lado dela, mas nela o senhor não mexe porque é de preservação.
E ali o que mais tinha era araucária, árvores que nunca poderiam ser removidas
de lá. E a Bancoop, como ela cresceu bastante, eles comentavam que tinham uma
bióloga não sei onde que marcou as árvores quer iam ser tiradas, que eu teria um
amparo técnico para que essas árvores fossem removidas ou replantadas. Só que isso
nunca ocorreu.
Elas realmente foram demarcadas, mas não teve biólogo, não teve. Nada. Chega
a polícia ambiental lá e cadê a documentação para tirar a árvore? Eu não tinha. Quem é
o responsável-técnico? É você? Vamos para a delegacia. Fui para ao 4º DP uma série de
vezes e em diligência, ficava no camburão até prestar depoimento ao delegado. Tinha
um delegado, não me recordo o nome, quando ele me via lá, ele ficava bravo, de novo
você veio aqui com problema do Horto? Você não sabe que lá é preservação?

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Quando isso ocorreu?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Quando estava fazendo a obra. Eu pus


no depoimento. Fui para o 4º DP, na Consolação, que tem uma parte inferior que
trabalha com o meio ambiente. Foi em 2002, 2003. Fui tantas vezes.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Em 2002 ou 2003 iniciou-se uma obra


numa área de preservação ambiental, é isso?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – É. Ali o Horto Florestal, quem não


conhece, acha que tudo ali pode construir, e ali nada pode construir, desde a serra.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Mas tinha alvará da Prefeitura?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não tinha nada, absolutamente nada.


Alvará da Prefeitura, eles tentaram ver se conseguia, de outro jeito, conseguir o alvará.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O que seria conseguir de outro jeito?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Tentar ver se conseguia tirar um


alvará. Na verdade, a Prefeitura pode até dar um alvará, mas ela escreve que tem de ter
o acordo com Meio Ambiente. Se o Meio Ambiente não aprovar, não vale nada o que a
Prefeitura lançou. O senhor pode conseguir uma aprovação...

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Mas isso tinha, tinha o alvará dizendo que
podia construir desde que respeitasse o meio ambiente?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso tinha, mas que nunca foi
respeitado.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Essa obra foi concluída?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Foi concluída. Eu saí antes de


terminar, mas foi. Nessa obra já passou tudo, IBAMA, Polícia Federal, tudo que o
senhor pode imaginar. Denúncia era direto, porque ninguém quer que construa lá no
Horto.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Teve algum pagamento de propina em


relação, para essa obra poder continuar?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Propina só teve quando fui preso,


porque o cara não queria deixar eu sair.
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O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – A polícia de São Paulo... (Fora do


microfone)

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei se falei certo.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Falou certo sim.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor pagou? Foi o senhor que pagou
para o policial?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu fiquei preso lá e tive de dar três


mil reais para eu poder sair.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor sabe para quem?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Para o guarda.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Lá no 4º DP?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Não sou doido. Aí eu não saía
mais de lá. Isso na obra mesmo.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Deputado Bruno, só fazer um reparo.


Acho muito deselegante, Deputado Siraque, da nossa parte, dizer que a Polícia é
corrupta. Alguns policiais pode até ser que desviem.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Um aparte Deputado.


Ele afirmou aqui que deu três mil reais para ser solto.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Isso é generalizar a polícia militar ou


civil...

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Eu dei um aparte do Deputado Waldir


Agnello.
87

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Obrigado.


Eu queria só sair em defesa da Polícia Civil e Militar, que são duas instituições
muito sérias. Em que pese que um ou outro policial possa ter um desvio de conduta, não
nos cabe generalizar a polícia e dizer que ela é corrupta. O senhor não está fazendo isso.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não senhor.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Estou só saindo em defesa da Polícia.


Obrigado.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Algum advogado chegou a lhe orientar para
que pagasse ao policial?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A Bancoop tinha advogado, não


tinha?

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O advogado da Bancoop lhe orientou a


pagar a propina.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sei lá.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Sim ou não, orientou ou não orientou a


pagar propina?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O dinheiro não parte do meu bolso,


concorda?

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor disse que partiu do bolso do


senhor. Não partiu então do bolso do senhor?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Do bolso não.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor disse: Eu paguei três mil reais.
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu paguei, não do meu bolso, mas do


bolso da Bancoop.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – A Bancoop pagou três mil reais, então?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Um aparte?

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Com a palavra o


Deputado Bruno Covas.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor sabe qual a origem desse recurso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Mas foi, portanto, o advogado da Bancoop?


Quem retirou o dinheiro e pagou ao policial?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. O financeiro me deu três mil


reais e eu paguei ao policial.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Quem é esse financeiro?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O Alessandro.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O Alessandro retirou, enfim, lhe deu três
mil reais para o senhor pagar ao policial?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O Deputado Vanderlei Siraque pediu um


aparte.
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O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Só para falar, estou dizendo que


alguém recebeu e alguém pagou. Quando é Bancoop, pode generalizar, quando é ao
contrário, de maneira alguma estamos generalizando. Estou falando que nós da
Comissão de Segurança Pública temos de apurar essa questão de algum policial receber
propina.
Não é por acaso que a Secretaria de Segurança Pública está investigando 800
delegados, de 3200, mais 162 agora do Detran. Mas não tem generalização.
Agora, nós Deputados, a partir do momento em que a gente recebe uma
informação, a nossa obrigação é investigar, principalmente nós que somos da Comissão
de Segurança Pública. É isso, Sr. Presidente. Nós não vamos generalizar, mas que nós
temos de apurar, temos de apurar sim.
É isso, nobre Deputado.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Concedo um aparte do Deputado Waldir


Agnello.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – V. Exa. sempre tem pautado pela


correção, até para defender a fala de V. Exa., para que não haja mal-entendido.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Inclusive aqui também, Deputado...

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – V. Exa. havia usado um termo que dá a


entender a generalização, mas conheço o seu trabalho a favor da Polícia. Agora ficou
bem colocado. Alguns policiais podem ter um desvio de conduta. Não significa que a
instituição Polícia Militar, ou Polícia Civil, seja corrupta.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Concedo um aparte ao Deputado Vanderlei


Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Tanto é que São Paulo paga um dos


piores salários do Brasil, eu sou um dos maiores defensores dessa questão.
Agora também, ninguém dá dinheiro para o PT, também generalizando,
Deputado, como foi falado na CPI diversas vezes. Pode ser que algum vagabundo pegou
dinheiro. Aí é outra coisa. Inclusive, vir atribuir ao Partido dos Trabalhadores, acho que
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não. Pode ser que tenha gente safada em diversos locais, então não podemos generalizar
nada. Tem razão V. Exa.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Não diria nem vagabundo, diria aloprado,
não é?
Só para deixar bem claro, o Sr. Alessandro, portanto, lhe deu três mil reais.
Houve ou não houve intermediação de algum advogado, que lhe orientou a fazer isso?
A ideia foi do senhor?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Deve ser por advogados.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Não sei. Por isso estou perguntando ao
senhor.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu não tenho como ir lá na


cooperativa, tirar três mil reais e dar para alguém. Eles devem ter entrado num acordo lá
para eu dar o dinheiro.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Mas veja Dr. Ricardo, na mesma linha que
o Deputado Siraque colocou, quando fica eles, fica a instituição. Quem teve a ideia? O
senhor foi ao Alessandro e pegou três mil reais?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Peguei no escritório.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Quem pediu para o senhor os três mil reais
para o Sr. Alessandro? Foi o senhor?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso é parte jurídica deles. Não quero
citar nomes. Tem duas ou três advogadas lá. Inclusive está no meu depoimento ao
Ministério Público.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – No seu depoimento o senhor diz quem lhe
orientou?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor não se lembra o nome agora?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Letícia.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Dra. Letícia. Ela lhe orientou a pagar
propina. Ela disse que dessa forma seria resolvido? Como aconteceu isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Numa situação dessas, a própria


pessoa, não é que é culpa dela, o próprio policial pede.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Os policiais pedem? Mais de uma


vez?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Como assim?

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – O senhor falou que os policiais pedem.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Concedo um aparte ao Deputado Vanderlei


Siraque.

O SR. VANDERLEI SIRAQUE – PT – Ele está dizendo. Eu não tenho


conhecimento e estou tomando. Até agora, achava que todo mundo era honesto em São
Paulo.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Agradeço.


O senhor disse que as contas eram deficitárias, por isso lançavam um novo
empreendimento para conseguir captação de recursos para conseguir terminar os
anteriores e que isso foi crescendo.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – É verdade.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Daí que surgiriam os chamados FIDCs?


92

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. A história que sei do FIDC é


que o FIDC ia vir para ajudar a terminar as obras da cooperativa, que eram um
empréstimo, uma coisa assim, de um fundo de pensão, que ia entrar um valor que até
pensei que agora a gente ia terminar a cooperativa, os empreendimentos que estavam
deficitários.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor sabe quanto entrou desse FIDC?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu sei que, por comentários, não


posso afirmar, que era em torno de 50 milhões que iria entrar. Eu dei pulos de alegria.
Agora a gente acaba tudo. De repente acabou, não tinha mais. Mas eu não usei tudo
isso.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Acabou o dinheiro, não a obra?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Acabou o dinheiro. Aí eu falei: Mas


como que acabou? Eu não usei tudo isso.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Entrou um recurso através desse FIDC, o


senhor escutou que foi 50 milhões, mas não tem como afirmar, e as obras não foram
terminadas?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Entrou um pouco de dinheiro, não


vou dizer que não entrou, mas eu não gastei os 50 milhões, porque com 50 milhões eu
faço bastantes unidades.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Um aparte ao Deputado Ricardo Montoro.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Eu até concordo com o Deputado


Mentor quando ele fala que pedir mil reais para uma empreiteira é insignificante, é uma
coisa muito estranha. Mas agora, 50 milhões, significa alguma coisa a mais que mil
reais. E isso teria sido desviado, o senhor tem alguma informação de desvio de dinheiro,
já que não entrou para acabar as obras?
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O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O que falo para o senhor. Falaram


que ia entrar 50 milhões e tinha alguma coisa para pagar de juros, que não sei o que é.
Então não ia entrar totalmente 50, mas uns 40 e poucos milhões.
Com isso, já falei: Vamos tocar o pau que a gente vai acabar as obras que estão
pendentes.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Desses 40 e poucos, quanto o senhor


acha que entrou?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – No máximo uns 10 milhões. Não


entrou mais que isso.

O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Então sumiu 30?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Aparentemente sim, porque para a


obra não foi. Só se foi e eu não vi.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – O senhor chegou a emitir alguma nota fria
para receber de algum serviço não realizado?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Mas o senhor teve conhecimento de


alguém?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Quem emitia notas frias? O senhor já disse
da própria Mizu, que havia um pagamento de 500 mil reais e não havia nenhum serviço
prestado.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A Mizu, eles usavam os 10% da obra


que eu assinava para eles mesmos, para interesse deles mesmos. Isso é um cheque que
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eu vi. Imagina, a Bancoop não rodava cinco milhões, rodava muito mais. Cinco milhões
para um empreendimento com 10, não é nada. Isso é uma gotinha. Eles deviam faturar
um milhão, um milhão e pouco por mês.
Esse dinheiro, com certeza não ia dar essa desequilibrada que deu. Não era
possível, nunca tinha dinheiro na obra. Quando a Germany entrou começou a aparecer
dinheiro porque eles tinham a conta pool. A Germany não ia trabalhar com conta
separada. Ela queria a conta pool.
O senhor imagina que, os empreiteiros que estavam nas obras presenciaram, os
que ficaram, quem recebia primeiro? Era a Germany. Quem recebia com valor mais
alto? Era a Germany. Então, tudo era com a Germany. Não tinha para ninguém. Era
Germany e ponto final.
Por que era pago mais para a Germany? Ninguém sabe. Porque a gente tinha
uma tabela de preço. A alvenaria era cinco, passou para 10. Pintura era cinco, passou
para 20. Por quê? Porque eles não estavam interessados realmente em terminar a
cooperativa, em acabar as obras. Eles estavam pensando em ter um lucro para a
Germany. E aí que foi o confronto comigo, que estava no campo tentando entregar as
obras. Aí ficou o mal-estar e foi essa divisão de obras, que resultou no que o senhor viu.
Ninguém mais comandava nada, era só a Germany que mandava.

O SR. BRUNO COVAS – PSDB – Agradeço. Era só isso, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mais algum


Deputado? (Pausa) Eu gostaria também de fazer uso da palavra para conversar com o
nosso depoente.
O senhor era engenheiro-chefe, considerado engenheiro-chefe em todas as
obras?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – De todas as obras.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor era


subordinado a quem? A quem o senhor prestava as contas técnicas, os problemas?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O senhor vai achar até gozado. O meu
diretor-técnico era o office-boy da empresa. Eu não tinha diretor-técnico.
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O SR. RICARDO MONTORO – PSDB – Isso é grave.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mas eu tenho aqui


uma relação: Diretor-técnico de 1996: André Luiz; 1998: André Luiz; 1999: Berzoini;
2000: Berzoini; 2001: Berzoini; 2002: Vaccari; 2003: Tomás Fraga; 2004: Tomás
Fraga: 2005: Tomás Fraga. O senhor nunca se reuniu com esses diretores-técnicos?
Quem era o seu chefe?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O meu diretor-técnico era um office-


boy.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Quem?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O Alessandro, antes de ele...

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Ele era office-boy?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Porque na verdade o Alessandro


começou como office-boy da cooperativa e foi subindo, subindo, e virou diretor da
engenharia. Então, qualquer coisa que eu tinha de me reportar da engenharia tinha de ser
com o office-boy. O que ele entendia de obra? Nada.
Então, eu não tinha ninguém para me reportar, na parte técnica da obra.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor nunca


participou de nenhuma reunião com a diretoria? A diretoria fazia reuniões de diretoria?
O senhor tinha conhecimento se eles reuniam a diretoria, diretor financeiro, presidente?
Alguma vez o senhor foi convidado para alguma reunião?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. As reuniões que eu participava


eram reuniões técnicas, que eram com projetistas, para ver a viabilidade de execução,
compatibilização de projetos. Só parte técnica mesmo. Nada que o senhor está
colocando. Nunca tive.
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O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Nunca teve nenhuma


reunião com a diretoria, não tinha diretores? O senhor ia fazendo?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ia fazendo, e prestando, entregando


nas datas que eles queriam. Eles falavam que precisavam entregar tal empreendimento,
que vai ter um recurso assim, então tem de entregar. E a gente passava dia e noite
trabalhando, até entregar.
A cobrança de entrega, na verdade, vinha do Dr. Tomás, que era o que fazia
parte das vendas e recursos para a cooperativa. Empreendimento tal tem de entregar tal
data porque vai entrar recurso assim e assim para a cooperativa.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – A relação com a


diretoria, o senhor era considerado engenheiro-chefe e ao mesmo tempo a diretoria
nunca chamou o senhor para discutir tecnicamente os empreendimentos, nada? O
senhor simplesmente falava para as pessoas que o senhor encontrava?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor colocou


para nós, Sr. Ricardo, que o senhor considera que houve falhas técnicas gritantes. O
senhor usou um termo que anotei, “uma verdadeira calamidade”, do ponto de vista da
escolha dos terrenos, dos materiais, mas ao mesmo tempo era como se fosse, o senhor
não tinha uma relação com a diretoria, eles não perguntavam, não reuniam e o senhor,
eles tinham conhecimento, pelo menos, de que o senhor era o engenheiro-chefe?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Claro, tanto que virei alvo...

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor era o


engenheiro responsável por tudo isso?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Quando eu comecei a questionar, até


eu não questionar os empreendimentos, eu era tudo na cooperativa.
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O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – E mesmo assim a


diretoria nunca lhe chamou para avaliar com o senhor nada?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Quando quis questionar foi que me


falaram: Você entende de barro, você amassa barro. O resto é com a gente.
Como eu vou falar com um diretor que me questiona dessa forma? Eu vou falar
o que para ele? Tenho de ficar quieto e abaixar a cabeça.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor participou


de alguma assembleia da cooperativa?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Participei da assembleia de Pirituba.


Só dessa.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Só uma?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Que eu me lembre, só.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor é


cooperado?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sou.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – E o senhor participou


só de uma assembleia. O senhor recebia convites para participar, convocação?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Essa assembleia era porque eles


estavam pedindo dinheiro para terminar a obra de Pirituba e Horto Florestal. Tanto é
que eles pediram dinheiro para fazer, um pouco mais de verba, para terminar essas duas
obras.
Como estava tudo certinho, não tinha por que não pedir dinheiro para os
cooperados. Eles mostravam as contas, os cooperados tinham acesso e examinavam as
contas e realmente tinha a necessidade de ter mais recursos.
Então, até aí estava tudo certinho. Depois que começou a ter confusão.
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O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Vamos considerar


essa questão técnica como uma questão relevante. O senhor avalia que muitos dos
problemas eram do ponto de vista técnico.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A maioria deles.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Do ponto de vista de


desvios, de comportamento com relação ao que ocorreu, o senhor declara para nós que
os diretores tinham empresas, montaram empresas?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso mesmo.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor lembra


quais empresas?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Lembro. Germany, Mirante do Bloco,


Bancon, que fazia a parte de limpeza.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Mizu?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Mizu. Essa que era fantasma, uma
consultoria que...

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Que não fazia nada,


recebia sem prestar serviços.
Isso são os diretores que montaram. O senhor sabe quais diretores que
montaram?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eu sabia que era o Dr. Luis Malheiro
junto com o contador, que era o Rinaldi, Marcelo Rinaldi e o Alessandro. Futuramente
eu soube que o Dr. Tomás também fazia parte da Germany, porque até então ele dizia
que não fazia parte.
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O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Isso era de


conhecimento meio geral?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Era.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor acredita que


os diretores sabiam disso, os demais diretores, a diretoria da Bancoop?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A diretoria eram eles mesmos. Não


tinha mais ninguém.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor acha que


todos os diretores participavam?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Só tinha os três. Não tinha mais


ninguém. Eles só ficavam entre eles.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Eles montaram essas


empresas para prestar serviços, para faturar, muitos sem prestar serviços e outros com
materiais ruins?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Notas frias. O senhor


teve conhecimento de notas frias?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Sim.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Atesta novamente,


declara. Quem mais, esses diretores, porque aqui muito se fala no Malheiro, no
Alessandro, essa morte deles, o senhor tem alguma versão sobre isso, algum
conhecimento? Eles estavam indo lá simplesmente ver gesso?
100

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – A história que soube era que eles iam
ver gesso e comprar a fazenda para fazer vinho. Parece que eles compraram um trator.
Eles iam para essa área de fazenda. Não sei falar exatamente o que era, porque não
ficava sabendo. Era entre eles lá.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Usando a mesma


analogia do Deputado Mentor, que falou se era possível, o senhor acha que todos que
tinham cargos de importância na Bancoop, é possível que eles soubessem desse
esquema?
Porque a gente está identificando, através dos depoimentos, que a gente ainda
está apurando, evidentemente, que tinha um esquema de nota fria, que o senhor disse
aqui em alguns momentos que era para arrecadação de campanha política, que foram lhe
pedir, inclusive. Existia um momento de nota fria, mas ao mesmo tempo existia um
esquema, muito grande pelo que a gente está percebendo, de formação de empresas para
arrecadação. E faturavam muito.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Muito.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Existia um pedido de


arrecadação de mil reais para pessoa jurídica, mas ao mesmo tempo tinha empresas
arrecadando cheques de 500 mil reais.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Isso aí veio a posterior. Essas


empresas surgiram após.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Em que ano


surgiram?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Em 2002, por aí.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – E o senhor acha que


isso era de conhecimento geral de todos que tinham alguma função na Bancoop? É
possível?
101

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Desde a faxineira.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Todos tinham


conhecimento?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Todos, todos. Da faxineira, do


porteiro, ascensorista de elevador.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Uma observação. O


senhor lembra de assinaturas de cheques, quem assinava cheques na Bancoop de
pagamentos de empresas ou do seu próprio salário? Quem assinava?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – O que sei era o Dr. Luis Malheiro e o
Tomás, são duas assinaturas. Porque eu não recebia em cheque. Mas sei que eles
assinavam. Precisava de duas assinaturas, se tinha de pagar alguma coisa precisava de
mais uma, não era um só que assinava, às vezes trocava. Mas eram os dois que
assinavam.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Me dou por satisfeito.


Mais alguém, algum Deputado? (Pausa) Deputado Waldir Agnello.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Sr. Ricardo, gostaria de perguntar a V.


Sa. se o senhor já ouviu falar na ONG Projeto Nova Travessia?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ouvi falar sim.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Ouviu falar no ambiente Bancoop?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – No ambiente Bancoop.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O que o senhor ouviu falar dessa ONG?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Alguma coisa na Praia Grande, que


era da esposa do Dr. Luis Malheiro, com pessoas que têm problemas. Acho que é isso.
102

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Gostaria de saber o que o senhor sabe


sobre isso. Ela tem alguma ligação com a Bancoop?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Eles tinham alguma coisa sobre isso.
Não sei falar com certeza, mas tinha mesmo esse nome com essa ONG.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor acha que pode ter havido
alguma ajuda da Bancoop a essa ONG?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei falar.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Não sabe ou não quer falar?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei, porque não tenho como
provar nada. Não vou falar que teve ajuda da Bancoop, porque não vi e não sei se teve.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor disse que é um cooperado. Já


terminou de pagar?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Ainda não. Ainda não tenho a


escritura do apartamento.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Mas o senhor mora no local e o custo


dessa sua unidade, a documentação, está dentro dessa normalidade, do que já foi dito
aqui a todo tempo, ou seja, o senhor não tem o documento, ainda tem resíduo para
pagar?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – É que na verdade o terreno está


hipotecado. Eles compraram um terreno que o proprietário vendeu duas vezes, vendeu
uma para a cooperativa e outra para outra pessoa. E o banco quer o terreno de volta.
Então, está nesse impasse.
103

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Voltando à questão da ONG Projeto


Nova Travessia, puxa pela memória alguma informação que o senhor tenha ouvido
dizer, ainda que de forma assim superficial.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não sei, de fato, falar muito sobre
essa ONG que eles faziam, porque na Bancoop tinha muita coisa assim que a gente, não
interessava eles me passarem. Revitalização do centro. Eu ouvi falar.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Do centro de São Paulo, a Bancoop


queria fazer um projeto de revitalização?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Queria participar desses projetos.


Inclusive teve aquele Edifício São Vitto, que queriam reformar, depois tinha alguns
hotéis no centro que eles queriam reurbanizar, mas são histórias que falavam na
cooperativa. Mas eu não cheguei, era um outro lado que eu não ficava.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – ONG Capisc o senhor já ouviu falar?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. De verdade, nunca ouvi falar.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – O senhor tem conhecimento de quem


seria o membro da diretoria ou o presidente da ONG Projeto Travessia?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Nem imagino.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – A Bancoop poderia ter feito alguma


obra ligada a essa ONG Travessia?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – De meu conhecimento, não. Porque a


Germany podia fazer qualquer obra sem o meu conhecimento. Dali para a frente era a
Germany que tocava tudo.

O SR. WALDIR AGNELLO – PTB – Obrigado.


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O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Uma última pergunta,


só para ver o grau de conhecimento do senhor com relação à diretoria. Me preocupa
bastante, o senhor foi engenheiro-chefe durante praticamente 10 anos?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Em 2000 que comecei a ser


engenheiro-responsável.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O senhor trabalhava


antes?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Como engenheiro fiscal desde 1997.


Não era responsável técnico.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – E depois em 2000.


Quem era o engenheiro-chefe até lá?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Me reportava sempre ao Dr. Tomás.


Não tinha um engenheiro-chefe. Não tinha muito essa hierarquia, diretor, chefe na
cooperativa.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O Tomás era


engenheiro?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Não. Administrador de empresas.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – O organograma, o


senhor é um engenheiro e sabe o que é organograma. O senhor sabe qual era o
organograma da Bancoop?

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Conhecia, que era o Dr. Luis,


Presidente, daí o outro Presidente era o Dr. Tomás, o Alessandro, o Marcelo Rinaldi e
depois vinha o resto do pessoal, que seria a Ângela, que era diretora da engenharia, que
foi nomeada para isso, e só. Não tinha muito recurso a cooperativa. Não era igual uma
construtora, que tem um monte de arquiteto trabalhando.
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Por isso que falo que a tarefa que eu tinha, de trabalhar nessas obras, não dava
tempo, não tinha tempo disponível para participar de reunião. Mesmo porque eles não
me convidavam. Segundo, o meu nome estava em jogo, porque com tanta obra em
andamento, é o que falo, uma cooperativa que ganha dois Tops Imobiliários não foi
atrás de uma escrivaninha que conseguiu, foi fazendo obra.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Só mais para ver se o


senhor tinha um conhecimento além. A diretoria, não teve acesso, não reunia, não
chamava, não ouvia.

O SR. RICARDO LUIZ DO CARMO – Foi quando eu falei dos terrenos,


parecia que eu era o capeta da cooperativa, que eu estava arrumando confusão. Dali para
a frente eles cortaram.

O SR. PRESIDENTE SAMUEL MOREIRA – PSDB – Estou satisfeito.


Mais algum Deputado? (Pausa) Nada mais havendo a tratar, agradeço a presença
de todos, principalmente a colaboração que o senhor está dando à CPI. Obrigado.
Está encerrada a nossa reunião.

* * *

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