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Fitoterapia – Princípios e Práticas

Unidade 3.
Ervas medicinais
3.1. Para que servem as ervas?
3.2. Historia da utilização das ervas;
3.3. Comprovação biológica;
3.4. A sabedoria do uso das ervas;
3.5. O uso das ervas no Brasil;
3.6. Plantas em perigo;
3.7. Soluções.

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Muitas plantas sintetizam substâncias que são úteis para a manutenção da


saúde em humanos e animais. Muitos são metabólitos secundários, dos
quais pelo menos 12.000 foram isolados - um número estimado em
menos de 10% do total. Em muitos casos estas substâncias (em especial os
alcalóides) servem como mecanismos de defesa da planta contra a
predação por microorganismos, insetos e herbívoros. Muitas das ervas e
especiarias utilizadas por humanos para temperar alimentos produzem
compostos medicinais.

3.1. Para quê servem as ervas?

O mundo vegetal é composto por três grupos principais de plantas:


Superior, Intermediario e Inferior. Entre estes grupos estão bactérias,
algas microscópicas, cogumelos, samambaias, musgos e árvores, entre
outros. A identificação é uma tarefa para especialistas e o limite entre o
mundo vegetal e o animal não é tão claro quanto se imagina. Para
simplificar o assunto, vamos considerar nós os humanos e as plantas que
tanto bem nos fazem. Livros sobre propriedades medicinais de plantas
regularmente parecem tratar as ervas e as plantas medicinais
diferentemente. Porém, ervas são plantas anuais, bienais ou perenes que
não desenvolvem um tecido lenhoso.

Talvez pelo fato das ervas têrem um papel importante histórico e tradição
de cura, às vezes elas são tratadas como uma categoria especial de
plantas, ou seja, são avaliadas particularmente pelas suas qualidades
medicinais, de sabor ou aromas.

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Como o nome tradicional ou popular das plantas medicinais variam muito


de acordo com aspectos regionais e culturais, a melhor maneira de se
agrupar as plantas é através do seu nome científico e seguido dos seus
nomes populares.

Plantas medicinais e ervas contêm substâncias conhecidas pelas


civilizações modernas e antigas pelas suas propriedades curativas. Até o
desenvolvimento da Química e, particularmente, da síntese de
combinações orgânicas no Século XIV, plantas medicinais e ervas eram a
fonte exclusiva de princípios ativos capazes de curar as doenças do
homem. Elas continuam sendo importantes para pessoas que não têm
acesso a medicamentos modernos e, além disso, os remédios
farmacêuticos modernos contém os mesmos princípios ativos muito mais
concentrados, sejam eles naturais ou sintéticos.

Os princípios ativos diferem de planta para planta devido à biodiversidade


delas, isto é, pela habilidade de codificação genética da planta para os
produzir. Com milhares de princípios ativos ainda a serem descobertos ou
avaliados, não é nenhuma novidade que a biodiversidade é um tópico
fundamental em qualquer programa de trabalho de preservação da
natureza.

O material genético das plantas deve ser conhecido para a descoberta de


novos princípios, afim de se combinar, manipular e sintetizar
medicamentos novos. Assim, até mesmo para pessoas que não tem
interesse nos adventos da indústria farmacêutica, as plantas e ervas
medicinais continuam sendo a fonte de medicamentos e de drogas novas
e revolucionárias.

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Se os princípios ativos de drogas sintéticas são tão importantes e podem


ser achados em muitas plantas e ervas, a um preço barato e facilmente
compradas na sua cidade, por que não usa-los? Se tomado na dose
apropriada e de forma correta, elas podem ser tão efetivas quanto drogas
farmacêuticas.

3.2. História da utilização das ervas

Pessoas em todos os continentes têm usado centenas de milhares de


plantas para o tratamento de doenças desde a era pré-histórica. A
primeira documentação do uso de plantas como agentes de cura foram
retratados nas pinturas rupestres descobertas nas cavernas de Lascaux, na
França, que datava para entre 13.000-25.000 AC. As ervas medicinais
foram encontradas em pertences pessoais de um homem do gelo, cujo
corpo foi congelado nos Alpes suíços por mais de 5.300 anos. Estas ervas
parecem ter sido usadas para o tratamento contra parasitas intestinais. A
antropologia tem a teoria de que os animais desenvolveram uma
tendência em encontrar partes de plantas amargas em resposta à doença.

Curandeiros indígenas muitas vezes afirmaram ter aprendido observando


os animais doentes que mudavam as suas preferências alimentares para
ervas amargas que normalmente rejeitavam.

Pesquisas de campo têm fornecido evidências corroborando com base na


observação de diversas espécies, como os chimpanzés, galinhas, carneiros
e borboletas. Os gorilas têm 90% de sua dieta baseada dos frutos de
Aframomum melegueta, um parente do gengibre, que é um
antimicrobiano poderoso. Pesquisadores da Ohio Wesleyan University
descobriram que alguns pássaros selecionavam material de nidificação

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rico em agentes antimicrobianos que protegem seus filhotes das bactérias


patogênicas.

Os animais doentes tendem a ingerir plantas forrageiras ricas em


metabólitos secundários, como taninos e alcalóides. Uma vez que estes
fitoquímicos têm propriedades antiviral, antibacteriana, antifúngica e anti-
helmíntica.

Alguns animais têm sistema digestivo especialmente adaptado para lidar


com toxinas de certas plantas. Por exemplo, o coala pode se alimentar das
folhas e brotos de eucalipto, uma planta que é tóxica para a maioria dos
animais. Uma planta que é inofensiva para um determinado animal pode
não ser seguro para os seres humanos. A suposição é que essas
descobertas eram tradicionalmente coletadas pelos curandeiros das tribos
indígenas, que passavam a informação sobre a segurança e precauções
para a utilização dessas ervas.

O uso de ervas e especiarias na culinária foi desenvolvido em parte como


uma resposta à ameaça de patógenos aos alimentos. Estudos mostram
que em climas tropicais, onde os agentes patogênicos são mais
abundantes, as receitas são mais temperadas. Além disso, as especiarias
com a atividade antimicrobiana mais potente tendem a ser escolhidas.

O estudo das ervas teve inicio a mais de 5.000 anos com o sumérios, que
descreveram usos medicinais das plantas, tais como louro, cominho e
tomilho. No Egito antigo de 1000 A.C. era utilizado ópio, alho, mamona,
coentro, hortelã, anil e outras ervas medicinais. No Antigo Testamento são
mencionados o uso de ervas e o cultivo, tais como a mandrágora,
ervilhaca, cominho, trigo, cevada e centeio.

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A medicina indiana Ayurveda tem usado ervas como o açafrão,


possivelmente por volta de 1900 A.C. Muitas ervas e outros minerais
utilizados na Ayurveda foram posteriormente descritos pelos antigos
herbalistas indianos como Charaka e Sushruta durante o primeiro milênio
antes de Cristo.

O livro chinês “Primeira Ervas”, compilados durante a Dinastia Han, mas


que remonta a uma data muito anterior, possivelmente 2700 AC, enumera
365 plantas medicinais e seus usos.

Os antigos gregos e romanos fizeram uso medicinal de plantas. Hipócrates


defendeu o uso simples de alguns fitoterápicos, junto com o repouso e
dieta adequada. Galen, por outro lado, recomendava grandes doses de
misturas de drogas, incluindo plantas, animais, minerais e especiarias. O
médico grego elaborou o primeiro tratado europeu sobre as propriedades
e usos das plantas medicinais, The Materia Medica. No primeiro século
D.C., Dioscorides escreveu um compêndio de mais de 500 plantas que
continuou sendo uma referência oficial para o século 17.

Importante para herbalistas e botânicos de séculos mais tarde, foi o livro


grego que fundou a ciência da botânica, History Plantarum, escrito no
século IV A.C. por Teofrasto. O uso de ervas para tratar a doença é quase
universal entre as sociedades não industrializadas. Uma série de tradições
passaram a dominar a prática da fitoterapia no final do século XX:

• O clássico sistema de fitoterapia, baseada em fontes grega e


romana,

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• O Siddha e sistemas de medicina ayurvédica em vários países do Sul


da Ásia,

• Fitoterapia chinesa,

• Medicina Unani-Tibb,

• Shamanismo: maior parte da América do Sul e do Himalaia.

Muitos dos fármacos atualmente disponíveis para os médicos têm uma


longa história de uso como remédios à base de plantas, incluindo o ópio, a
aspirina, digitálicos e quinino. A Organização Mundial da Saúde (OMS)
estima que 80 por cento da população do mundo atualmente utiliza as
ervas medicinais para algum tipo de cuidado primário à saúde. Produtos
farmacêuticos são proibitivamente caros para a maioria da população do
mundo, metade dos quais vive com menos de 2 dólares por dia. Em
comparação, os medicamentos fitoterápicos podem ser cultivados a partir
de sementes ou recolhidos da natureza com pouco ou nenhum custo.
Fitoterapia é um componente importante em todos os sistemas da
medicina tradicional, e um elemento comum em Siddha, ayurvédica,
homeopáticos, naturopatia e medicina tradicional chinesa.

O uso e a procura por medicamentos e suplementos alimentares


derivados de plantas têm aumentado nos últimos anos. Farmacologistas,
microbiologistas, botânicos, naturais e químicos estão vasculhando a Terra
por fitoquímicos que poderiam ser desenvolvidos para o tratamento de
várias doenças. Na verdade, segundo a Organização Mundial de Saúde,
aproximadamente 25% das drogas modernas utilizadas nos Estados
Unidos foram derivadas de plantas.

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Três quartos das plantas que fornecem ingredientes ativos para drogas
são utilizados na medicina tradicional. Entre os 120 compostos ativos
atualmente isolados de plantas superiores e amplamente utilizadas na
medicina moderna de hoje, 80% revelam uma correlação positiva entre a
sua utilização terapêutica moderna e o uso tradicional das plantas das
quais derivam. Mais de dois terços das espécies vegetais do mundo - pelo
menos 35.000 dos quais se estima que tenham valor medicinal - provêm
dos países em desenvolvimento. Pelo menos 7.000 compostos da
farmacopéia moderna são derivados de plantas.

3.3. Comprovação biológica

Todas as plantas produzem compostos químicos como parte de suas


atividades metabólicas. Estes incluem metabólitos primários, tais como
açúcares e gorduras, encontrados em todas as plantas, e metabólitos
secundários encontrados em menor quantidade nas plantas, alguns mais
especializados são encontrados apenas em um gênero em particular ou
espécie. Alguns pigmentos protegem o organismo contra as radiações e
usa a exposição de cores para atrair agentes polinizadores. Muitos desses
pigmentos têm propriedades medicinais.

As funções dos metabólitos secundários são variados. Por exemplo, alguns


metabólitos secundários são toxinas utilizadas para evitar a predação, e
outros são utilizados para atrair insetos para a polinização. Fitoalexinas
protegem contra ataques de bactérias e fungos. Aleloquímicos inibiem
plantas que estão competindo por água, nutrientes e luz.

O perfil químico de uma única planta pode variar ao longo do tempo,


dependendo de como reage às condições do ambiente. São os

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metabólitos secundários e os pigmentos que podem ter ações


terapêuticas em seres humanos e que pode ser purificado para produzir
drogas. As plantas sintetizam uma enorme variedade de fitoquímicos, mas
a maioria é derivada de um ou poucos ciclos bioquímicos.

Os alcalóides possuem um anel com nitrogênio, muitos causam danos


sobre o sistema nervoso central. A cafeína é um alcalóide que ocasiona
uma elevação rápida da atividade circulatória, mas os alcalóides da Datura
causam graves intoxicações e até morte.

Os compostos fenólicos contem anéis de fenol. As antocianinas, que dão


às uvas sua cor roxa, as isoflavonas, os fitoestrógenos da soja e os taninos
que dão a sua adstringência ao chá são compostos fenólicos.

Terpenóides são construídos a partir de grupos de terpenos, cada terpeno


consiste de dois isoprenos emparelhados. Os monoterpenos,
sesquiterpenos, diterpenos e triterpenos são fundamentados no número
de unidades de isopreno. A fragrância da rosa e lavanda é devido aos
monoterpenos. Os carotenóides produzem as cores vermelhas, amarelas e
laranjas do tomate, milho e abóbora.

Glicosídeos são compostos por uma molécula de glicose ligada a uma


aglicona. A aglicona é uma molécula que é bioativa na sua forma livre, mas
inerte até que a ligação com o glicosídeo seja quebrada pela água ou por
enzimas. Esse mecanismo permite que a planta adie a utilização da
molécula para um momento oportuno.

Um exemplo é o cianoglicosideo em cereja que libera toxinas quando


mordida por um herbívoro. Outros exemplos são a inulina de raizes de

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dálias, o quinino da quina, a morfina e a codeína da papoula e a digoxina


da dedaleira. O ingrediente ativo da casca do salgueiro, foi prescrito por
Hipócrates, é a salicina, que é convertida no organismo animal em ácido
salicílico. A descoberta do ácido salicílico acabaria por levar ao
desenvolvimento da forma acetilada do ácido acetilsalicílico, também
conhecido como “aspirina”.

3.4. A sabedoria do uso das ervas

A maioria dos especialistas admite que os medicamentos sejam mais


eficazes em situações de emergência onde o tempo é crucial para a
resposta de cura. Um exemplo seria o caso de um paciente com pressão
arterial elevada onde o perigo é iminente. No entanto, eles afirmam que
as ervas a longo prazo, podem ajudar o paciente a resistir à doença, e que,
além disso, fornecem suporte nutricional e imunológico que falta em
produtos farmacêuticos. O principal objetivo do uso das ervas esta na
prevenção, assim como a cura.

Os usuários das ervas medicinais tendem a usar extratos de partes de


plantas, tais como as raízes ou folhas. A farmacêutica prefere ingredientes
isolados pelo motivo que a dosagem pode ser mais facilmente
quantificada. A Fitoterapia rejeita a utilização de um único ingrediente
ativo, existe o argumento que os diferentes fitoquímicos presentes nas
ervas irão interagir para aumentar os seus efeitos terapêuticos e diminuir
a toxicidade. Além disso, um único ingrediente pode contribuir para vários
efeitos. O sinergismo entre ervas não ocorre da mesma forma que as
substâncias químicas sintéticas.

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Em casos específicos, o sinergismo e a multifuncionalidade das ervas tem


sido apoiado pela ciência. Os casos de sinergia podem ser generalizados,
com base na interpretação da história do uso das ervas pela sociedade,
não necessariamente partilhadas pela comunidade farmacêutica. As
plantas estão sujeitas à pressões seletivas iguais ao seres humanos e,
portanto, devem desenvolver resistência a ameaças tais como a radiação,
oxidação e ataque por microrganismos a fim de sobreviver. As defesas
químicas foram selecionadas durante a evolução, ao longo de milhões de
anos. As doenças humanas são devidas a muitos fatores e podem ser
tratadas pela ingestão das defesas químicas que estão presentes nas
ervas. Microrganismos, inflamações, baixa qualidade nutricional e radicais
livres podem ter participação nos vários tipos de doenças.

Uma única erva pode tratar simultaneamente vários desses fatores. Da


mesma forma, como a presença dos radicais livres pode estar na origem
de mais de uma doença. Na Fitoterapia existe uma inter relação entre os
diversos fatores que cercam o sistema de cura, ao invés de uma busca por
uma única causa e uma única cura para uma única condição.

Na Fitoterapia o tratamento com ervas pode usar várias fórmulas que não
são aplicáveis aos farmacêuticos. Porque as ervas podem ser usadas em
diversas formas como chás, temperos ou crus que têm uma enorme
aceitação pelos consumidores e vários estudos epidemiológicos que
comprovam sua eficiência. Os estudos etnobotânicos são uma outra fonte
de informação. Quando uma determinada comunidade indígena em áreas
geograficamente dispersa usa como sistema de cura apenas as ervas, para
algum tipo de problema, que tem a sua cura comprovada, é tida como
evidência de sua eficácia. Os registros históricos médicos e etnobotanicos

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são recursos subutilizados, o que favorece a utilização de informações


convergentes na avaliação do valor medicinal das plantas. Um exemplo
seria quando os testes “in vitro”, concordam com o uso tradicional.

Os remédios à base de ervas são muito comuns na Europa, na Alemanha,


os medicamentos à base de plantas são produzidos em boticários. As
plantas são preferidas por alguns como tratamento em relação aos
medicamentos químicos que são produzidos industrialmente.

3.5. O uso das ervas no Brasil

A humanidade utiliza os vegetais para proteção da saúde e alívio de seus


males desde o princípio de sua existência na Terra, há muito tempo, as
plantas medicinais têm sido usadas como forma alternativa ou
complementar aos medicamentos da medicina tradicional. O seu uso na
medicina popular e a literatura etnobotânica têm descrito o uso dos
extratos, infusões e pós de plantas medicinais por vários séculos contra
todos os tipos de doenças (Vanden Berghe et al., 1986).

A utilização de plantas medicinais tornou-se um recurso terapêutico


alternativo de grande aceitação pela população e vem crescendo junto à
comunidade médica, desde que sejam utilizadas plantas cujas atividades
biológicas tenham sido investigadas cientificamente, comprovando sua
eficácia e segurança (Cechinel e Yunes, 1998).

É notável o crescente número de pessoas interessadas no conhecimento


de plantas medicinais, inclusive pela consciência dos males causados pelo
excesso de quimioterápicos causados no combate as doenças. Remédios à
base de ervas que se destinam as doenças pouco entendidas pela

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medicina moderna – tais como: câncer, viroses, doenças que


comprometam o sistema imunológico, entre outras – tornaram-se
atrativos para o consumidor (Sheldon et al., 1997).

O uso de plantas medicinais pela população mundial tem sido muito


significativo nos últimos tempos. Dados da Organização Mundial de Saúde
(OMS) mostram que cerca de 80% da população mundial fez o uso de
algum tipo de erva na busca de alívio de alguma sintomatologia dolorosa
ou desagradável. Desse total, pelo menos 30% deu-se por indicação
médica.

A situação mundial ocorre da mesma forma no Brasil, que é um dos países


de maior diversidade genética vegetal, contando com mais de 55.000
espécies catalogadas (Nodari & Guerra 1999), entretanto, como
conseqüência da revalorização mundial do uso de plantas medicinais, a
pressão ecológica exercida sobre alguns desses recursos naturais tem sido
grande nos últimos anos colocando em perigo a sobrevivência de muitas
espécies medicinais nativas (Montanari Junior 2002). De acordo com
Sánchez e Valverde (2000) o comércio local de plantas medicinais leva à
deterioração de populações naturais, tanto quanto a pressão extrativista
da indústria farmacêutica.

3.6. Plantas em perigo

O relatório da ONG Plants for the Planet (http://www.bgci.org/), alerta


para o perigo que as plantas estão correndo, principalmente pela
destruição do seu habitat, as causas apontadas são extrativismo, a
destruição das florestas e a expansão da fronteira agrícola, dos pastos
para criações animais e da urbanização. O impacto causado nessas

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espécies afeta ainda as comunidades que tem como fonte de


medicamentos as plantas dessas regiões. Essas milhões de pessoas ao
redor do mundo confiam na medicina tradicional para tratar doenças
graves com plantas medicinais. A proteção dessas plantas não só é
importante para a saúde humana, mas para o ecossistema circundante e
também para a própria conservação da espécie.

Ainda de acordo com este relatório apenas 15% das drogas convencionais
são usadas em países em desenvolvimento. Por outro lado, 50 mil tipos de
vegetais (cerca de 20% das espécies conhecidas) são usadas hoje em
medicina tradicional.

Na China, em áreas rurais, o uso da medicina tradicional chega a 90%. Ao


mesmo tempo, de acordo com a Red List da ONG World Conservation
Union (UICN), o país tem quase 70% de suas espécies vegetais ameaçadas.

Estimativas recentes indicam que aproximadamente a cada quatro


segundos, um hectare de floresta tropical é perdido (Trankina, 1998).
Segundo Beachy (1992) 40% das florestas foram destruídas entre 1940 e
1980.

No Brasil não tem sido diferente, os seus maiores biomas, Cerrado,


Amazônia e Mata atlântica sofrem uma destruição cada vez maior. Em um
estudo recente que utilizou imagens do satélite MODIS do ano de 2002,
concluiu que 55% do Cerrado já foram desmatados ou transformados pela
ação humana (Machado et al., 2004), a floresta da Mata atlantica já
perdeu mais de 93% de sua área (Myers et al., 2000) e menos de
100.000km2 de vegetação remanescente. Na Amazônia mais de 67
milhões de hectares (2004) já foram desmatados (Homma, 2005).

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A exploração das empresas e a biopirataria também tem causado


prejuízos no Brasil, não somente à flora, mas principalmente ao
conhecimento tradicional da biodiversidade e aos povos tradicionais que
dela dependem.

Uma das causas da degradação esta no fato de que muitas plantas


medicinais são colhidas no seu meio natural, em vez de serem cultivadas,
muitas plantas são exploradas indevidamente por vendedores autônomos
ou como são conhecidos “raizeiros”. Estes por sua vez não têm o
conhecimento necessário sobre coleta ou conservação de plantas
medicinais, assim como muitos tem dificuldades de reconhecer uma
planta de uso medicinal, comercializando plantas sem eficácia
comprovada ou plantas com identificação incorreta. Além deste fator que
coloca em risco a saúde de seus compradores, existe outro problema que
é o beneficiamento incorreto e o mau armazenamento das plantas, pela
possibilidade de contaminação com microrganismos e insetos.

3.7. Soluções

As soluções a serem apresentadas para este problema são simples e


eficazes, embora necessite de uma união de esforços tanto do poder
público quanto de entidades civis e comunidade em geral.

O primeiro passo para se proteger as plantas medicinais em cada


ecossistema é fazer um levantamento para determinar quais são as
plantas. Esse levantamento deve ser feito nos ecossistemas presentes na
região de atuação e também na região urbana para se determinar quais
plantas estão sendo comercializadas na cidade.

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A Educação Ambiental no sentido de proteção das espécies deve ser a


principal ação de qualquer projeto conservacionista. Os coletores
autônomos devem ser capacitados tanto quanto a coleta dessas plantas
no seu habitat, quanto ao cultivo e beneficiamento dessas plantas, sempre
no sentido de se evitar o desaparecimento das plantas do seu local de
origem.

O incentivo a pesquisa nas universidades locais, principalmente em


relação ao cultivo de espécies medicinais nativas deve ser incentivado,
assim como outros projetos como levantamento etnobotânico e
identificação de espécies. Deve se levar em consideração que para se
proteger uma planta em perigo, o uso de outras plantas em menor risco
deve ser estimulado. A casca de uma arvore, por exemplo, nunca deve ser
fonte de coleta, a não ser que exista um plano de manejo para cada
espécie, pois as suas partes coletadas podem deixar cicatrizes para a
entrada de organismos que poderão destruir a planta em poucos anos.
Um outro exemplo seria a coleta de raízes, que pode levar a extinção da
espécie no local, pois assim se retira a principal forma de desenvolvimento
vegetativo da planta. As flores, frutos e sementes podem ser retirados,
mas somente a partir do momento que se iniciarem a propagação em
viveiros dessas espécies, pois assim o homem poderá introduzir as plantas
que estariam sendo propagadas pela dispersão das sementes.

Políticas publicas e fiscalização devem andar juntas no sentido da


regulamentação da comercialização dessas plantas na venda informal no
município. A criação de reservas naturais de plantas medicinais silvestres e
a promoção do cultivo pelos agricultores locais também pode colaborar
no sentido de preservação. A garantia da não super exploração significa

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que as plantas permaneceriam disponíveis para a comunidade local assim


como para os próprios coletores dessas plantas, mantendo contínua a sua
fonte de renda.

A orientação sobre o uso das plantas medicinais, tem potencial para ser
uma grande força motivadora para a conservação da natureza. A melhoria
da saúde, uma fonte de renda e a manutenção de tradições culturais são
importantes para todos e devemos estar envolvidos em motivar as
pessoas a conservar as plantas medicinais e, por conseguinte, o habitat
onde são encontradas.

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