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COMÉRCIO EXTERIOR
Florianópolis
2009
SUMÁRIO
UNIDADE 1
O Sistema de Comércio Exterior: Teoria e Aplicações
1 O princípio das vantagens comparativas
2 O papel dos recursos de produção: o modelo de Heckscher-Ohlin
3 Possibilidades de Produção e Comércio Internacional
2 A Determinação dos Preços em Comércio Internacional
2 Concorrência Imperfeita e Comércio Intraindústria
2 Tarifas e Barreiras Não-Tarifárias
3 Tarifas
3 Barreiras Não-Tarifárias
UNIDADE 1
Objetivo
O objetivo desta Unidade será fornecer a base teórica para a descrição e análise
do Comércio Exterior. Serão discutidos os modelos teóricos das vantagens comparativas
e a abordagem de Heckscher e Ohlin. Serão expostas, também, a formação de preços na
economia internacional e a natureza do comércio interindústria e comércio
intraindústria. Por fim, apresentaremos as restrições ao comércio livre (tarifas e
barreiras não-tarifárias).
1 O princípio das vantagens comparativas
Resultado das vantagens comparativas: mesmo que uma nação A não produza qualquer
mercadoria a um custo mais baixo do que outra nação (nação B), ainda assim, o
comércio livre traz benefícios para ambas as nações (mesmo para a nação A).
Custo de oportunidade
Países
dos alimentos das roupas
Brasil 0,5 peças/kg (1/2) 2 kg/peça (2/1)
Rússia 2 peças/kg (6/3) 0,5 kg/peça (3/6)
Quadro 1: Exemplo de Custos de Oportunidade.
Fonte: elaborado pelo autor.
Suponha agora que há comércio entre os dois países. Nesta situação, os dois
países se especializam na produção daquele produto em que possuem vantagens
comparativas, isto é, o Brasil produz apenas alimentos e a Rússia apenas roupas. Notem
que a solução teórica das vantagens comparativas (no caso de dois bens e dois países) é
de especialização extrema. Então, 100% dos recursos, no caso o trabalho, é alocado para
a produção de alimentos no Brasil, o que resulta em: (24 horas/1 h/kg) = 24 (milhões)
kg de alimentos. Para a Rússia, tem-se: (24 horas/3 h/kg) = 8 (milhões) peças de roupas.
O Quadro 3 descreve este resultado após o comércio. Claramente, os dois países juntos
(o que pode ser considerado o mundo, neste exemplo simplificado) produzem mais dos
dois bens, em relação à situação sem comércio. Logo, a especialização de acordo com
as vantagens comparativas resulta em um fluxo de comércio que amplia a eficiência
produtiva, isto é, há mais produto sendo produzido agora com comércio do que antes,
quando havia restrições às trocas entre as nações.
Produção
Alimentos (milhões de Roupas (milhões de peças)
kg)
Brasil 24 0
Rússia 0 8
Total dos dois países 24 8
Quadro 3: Produção e Consumo com Comércio.
Fonte: elaborado pelo autor.
O que acontece quando se parte de uma situação sem comércio para uma
situação com comércio?
Há um ganho de eficiência, como já se demonstrou pelo princípio das vantagens
comparativas. Há também um ganho de bem-estar (mais consumo). Tudo isso
viabilizado pelo principal mecanismo de transmissão de informações uma economia de
mercado: o sistema de preços, isto é, quando há comércio, há uma convergência de
preços das mercadorias entre os países. No nosso exemplo, como o Brasil é
relativamente abundante em trabalho, e a produção de calçados intensiva em mão-de-
obra; então, o preço do calçado no Brasil é baixo. Nos EUA, dado que a mão-de-obra é
mais escassa, o preço do calçado é alto. Isso tudo sem comércio. Quando ocorre o
comércio livre, o preço do calçado passa a ser um só, no Brasil e nos EUA. É claro que
na prática os preços não são exatamente iguais. As causas que levam a diferenças nos
preços de mercadorias são, principalmente, falhas no comércio livre (barreiras, como
tarifas – que vamos estudar na próxima seção) e valores distintos de tributos que
incidem sobre a mercadoria. Esse preço único que vale para as duas economias é
expresso na Figura 3 pela reta denominada PU (preço único).
Notem bem que esta reta PU viabiliza a produção nas duas economias, pois
alcança (tangencia) as curvas de possibilidade de produção dos dois países. E mais, o
preço do calçado estabelece, na verdade, o padrão de troca entre calçados e produtos
químicos. Então, com comércio, qualquer ponto ao longo desta reta PU é possível de ser
alcançado (através da troca). Qual ponto as duas economias vão preferir? Lógico, aquele
ponto que atinge a curva de indiferença mais alta. Isto está expresso pelo ponto ECOM
(equilíbrio com comércio), o qual está associado a uma curva de indiferença e, logo um
nível de bem-estar, mais elevado.
Como ler ECOM? Neste ponto a ECOM e os EUA se especializam na produção de
químicos, logo a produção de produtos químicos aumenta em relação à situação sem
comércio. A produção é, então, PQEUA e o consumo de produtos químicos é CQEUA,
sendo que a diferença é obviamente a exportação de produtos químicos. Já o Brasil se
especializa em calçados. A produção aumenta para PCBR e o consumo é CCBR; a
diferença é, mais uma vez, as exportações brasileiras de calçados. As diferenças entre
consumo e produção de calçados, nos EUA, e químicos, no Brasil, são as importações.
O que significa ECOM? Notem algo muito interessante sobre o comércio. O ponto
ECOM representa um nível de bem-estar que não é alcançável pelo esforço produtivo de
EUA ou Brasil, sozinhos – isto é, está acima das curvas de possibilidades de produção
da cada país. Porém, através do comércio os dois países conseguem alcançar um nível
de bem-estar mais elevado e acima das suas capacidades produtivas.
Saiba mais
O Esforço do Livre Comércio: o caso das especiarias
O comércio de especiarias – temperos como pimenta, cravo, canela, noz
moscada e açafrão – foi desde a antiguidade até tempos modernos de grande
importância. Por que razão? Primeiro, pelo valor que o mundo mais desenvolvido
(Roma e, mais tarde, a Europa toda) dava ao sabor condimentado dos alimentos.
Segundo, em uma época sem tecnologia de armazenamento e condições de transporte,
as especiarias – diferentes de outros alimentos – representavam bens não perecíveis e de
transporte fácil (pequeno porte e alto valor por peso).
A origem das especiarias consumidas no mundo ocidental era da Ásia,
principalmente a Índia e a China. As vantagens comparativas destes países estavam – e
ainda estão – relacionadas com a diversidade de variedades e cultivares de especiarias
(dada pelas condições de clima e solo) e com o baixo custo de mão-de-obra.
Inicialmente, ao longo dos últimos quatro séculos da idade Média, a rota de comércio
era principalmente terrestre, até o Egito, e marítima, através do Mar Mediterrâneo.
Neste último trecho, o comércio era dominado por traders venezianos. Esta rota
comercial foi praticamente obstruída com a ascensão do império otomano na Europa
Oriental (no final do Século XV).
A saída foi encontrar uma rota alternativa e o apoio às navegações resultou no
caminho marítimo para Índia, descoberto por Vasco da Gama em 1498. O comércio de
especiarias ganhou, então, notável impulso, reduzindo tempo e custos de transporte e
ampliando as opções de consumo. Empresas, associadas aos governos europeus da
época, encontraram no comércio de especiarias fonte de grandes lucros, com o caso da
Companhia Holandesa das Índias Orientais – criada em 1602, sob a proteção de
Maurício de Nassau, para defender os interesses comerciais Holandeses especialmente
no sul da Ásia.
O comércio de especiarias, principalmente a rota Índia-Europa, perde
importância relativa com a descoberta das Américas, e o aumento do comércio com esta
região, e mais tarde, com a revolução industrial no final do Século XVIII, que resulta no
surgimento do comércio de produtos manufaturados (da metrópole Européia para as
colônias). Porém, até hoje, a Índia mantém sua liderança no fornecimento mundial de
especiarias, sendo responsável por 86% das exportações mundiais destes produtos
(FAOStat).
Figura 4: Especiarias.
Fonte: <http://en.wikipedia.org/wiki/Spice>. Acesso em: 17 nov. 2008.
2 A Determinação dos Preços em Comércio Internacional
logo a demanda por importações, dada por ( D2* – O2* ), é M2. Tomando a distância M2
também no gráfico (ii) e o ponto de importações zero, ou sem comércio, quando o preço
*
é PSEM , temos a reta de demanda por importações DM.
Temos, agora, as retas de oferta de exportações e demanda por importações no
gráfico do mercado internacional. A intersecção das duas resulta no preço internacional
do bem, PCOM. Como vimos anteriormente, o preço internacional situa-se entre o preço
do bem no mercado exportador – que tem vantagem comparativa na produção deste
bem – e o preço do bem no mercado importador. Observem que ao nível de PCOM, a
quantidade exportada pelo país exportador é igual à quantidade importada pelo país
importador (você pode ver isso, facilmente, desenhando uma linha reta de PCOM e
calculando a diferença entre O e D no gráfico (i) e a diferença entre D e O no gráfico
(ii)).
O nível do preço internacional PCOM é único para as economias que exportam e
que importam este determinado bem. Isso sob a hipótese de que o produto é homogêneo
e que as empresas que o produzem operam em um regime relativamente concorrencial.
Embora este seja caso do comércio de muitas commodities, não é a compatível para o
comércio de bens tecnologicamente mais avançados – que tendem a ser muito
diferenciados e produzidos por empresas de grande porte. Vamos discutir estes casos na
seção a seguir.
Saiba mais
Commodities – O termo inglês commodity significa simplesmente mercadoria,
mas em termos de comércio internacional denomina-se de commodities todo aquele
produto que é ofertado no mercado sem significativa diferenciação. Assim, uma
commodity negociada no Brasil não é diferente de uma negociada na Holanda ou na
China. Além disso, se o comércio é livre, o preço desta commodity em qualquer
mercado tende a ser o mesmo (claro, quando denominada na mesma moeda; isto é
convertida para US$). Então, commodities não são necessariamente produtos agrícolas
(muita gente faz essa confusão), mas aqueles bens que são vendidos no comércio
internacional e que são bastante homogêneos. Naturalmente, muitas commodities são
agrícolas, como soja, trigo e suco de laranja; outras são minerais (e também não
industrializadas), como petróleo, minério de ferro e ouro; mas algumas são
industrializadas, como papel kraft e camisetas (T-shirts).
Uma característica de muitas commodities agrícolas e minerais é que estas são
transacionadas em bolsas de mercadorias. De modo semelhante às bolsas de valores, as
bolsas de mercadorias comercializam contratos de commodities, originalmente com a
intenção de reduzir os riscos dos produtores quanto a mudanças nos preços futuros.
Mais recentemente, este mercado de commodities tem atraído a atenção de muitos
investidores, sendo hoje dominado pela participação de especuladores. A seguir: foto da
bolsa de mercadorias de Chicago, a maior do mundo em comercialização de
commodities agrícolas. O preço internacional de mercadorias como soja e petróleo são
muito influenciados pelas cotações obtidas nos pregões desta bolsa.
Saiba mais
O valor das marcas
Dentre as estratégias de diferenciação do produto, que podem fazer com que o
comércio entre dois países ocorra de modo eficiente em um mesmo setor industrial, está
a venda do produto com marca. A preferência que o consumidor atribui ao produto
identificado pela marca pode ser aferida pelo próprio valor da marca no mercado. Este
ativo intangível – que não está relacionado ao patrimônio líquido da empresa, suas
instalações e avanço tecnológico – mas sim à identidade do consumidor aquele produto,
pode valer mais do que o próprio capital da empresa. O Quadro a seguir reproduz
informações sobre as mais valiosas marcas mundiais em 2007, segundo a Revista
Business Week. A marca mais valiosa do mundo, pela sétima vez consecutiva, é a
Coca-Cola – que embora seja avaliada em US$ 65 bilhões, perdeu neste último ano 3%
de seu valor. Dentre as marcas que mais cresceram estão a gigante finlandesa de
telecomunicações, Nokia, e a montadora japonesa, Toyota, duas empresas que têm
expandido suas vendas e aumentado sua reputação para mercados emergentes, como o
Brasil.
3 Tarifas
A tarifa de importação é um tributo que incide sobre o valor dos bens quando
estes são importados. As tarifas, quanto à sua incidência, podem ser de dois tipos:
• Ad valorem: quando o valor da tarifa incide sobre o preço do bem importado
como um percentual. Por exemplo, se o preço de importação da mercadoria é
US$ 100,00 e a tarifa ad valorem é 8%, então o preço da mercadoria para o
consumidor doméstico é US$ 100,00 + (8% de US$ 100,00) igual a US$
108,00.
• Específica: quando o valor da tarifa incide sobre o preço do bem importado
como um valor específico, fixo e independente do preço de importação.
Suponha novamente que o preço de importação da mercadoria é US$ 100,00 e,
agora, a tarifa específica é US$ 8,00 por unidade importada. O preço final ao
consumidor doméstico é, mais uma vez, US$ 108,00.
Mais um exemplo sobre tarifas de importação, agora para alguns produtos, está
na Tabela 2. Podemos notar que cigarros, quando tarifados, possuem uma tarifa de
importação bastante elevada – o que pode ser justificado como uma medida de proteção
à indústria doméstica, mas também uma medida de combate ao fumo (pelo menos em
relação às marcas produzidas no exterior). Veículos e tratores possuem tarifas baixas em
países que detêm vantagens comparativas na produção destes bens (como Japão e
EUA). Em países em que a indústria automotiva doméstica (mesmo que multinacional)
ainda não é tão competitiva, as tarifas são mais elevadas – casos de Brasil, Argentina e
África do Sul. As tarifas de calçados são também elevadas – mais altas do que as tarifas
médias de cada país (Tabela 2) – o que pode ser justificado pelo alto nível de ocupação
de mão-de-obra nas indústrias calçadistas de cada país (o que significa também na
prática, força política para manter tarifas altas).
Por fim, um último aspecto sobre tarifas é o que se chama escalada tarifária:
Escalada Tarifária é quando as tarifas de importação ao longo de um processo de
agregação de valor a um produto são baixas sobre bens primários desta cadeia, são
médias sobre os bens com pouco processamento e são altas sobre os bens finais.
Claramente esta prática comercial protege a indústria local e, assim, desetimula que os
países que produzem as matérias primas agregem mais valor através da industrialização
destes bens.
Um exemplo ocorre na indústria calçadista. Praticamente todos os países
produtores de calçados estabelecem tarifas mais reduzidas para o couro cru do que para
os calçados de couro. Exemplos são: o próprio Brasil, 14% para o couro cru e 20% para
o calçado de couro; China, 6,5% e 24%; Estados Unidos, 6,3% e 20,8%; e União
Européia: 6,3% e 17%.
Essa diferenciação ou progressividade das tarifas à medida que os produtos
adquirem maior valor agregado ocorre para muitos outros produtos e é comum para a
grande maioria dos países.
3 Barreiras Não-Tarifárias
Saiba mais
O Difícil Caminho das Exportações de Frutas para os EUA. Este texto é um extrato do
artigo intitulado Barreiras a produtos brasileiros no mercado dos Estados Unidos
publicado pelo MDIC em: < http://www.brasilemb.org/docs/Barreiras07.pdf>. Acesso
em: 23 nov. 2008.
Saiba mais
Indicação Geográfica: a diferença que faz de onde que vem
Resumo