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O cyberpunk: dos livros para as

telas. Uma análise do filme Johnny


Mnemonic – O ciborgue do futuro
Edgar Roberto Kirchof*
Alessandra da Rosa Trindade Camilo**

Resumo
Introdução
A partir da análise do filme Jo-
hnny Mnemonic – O ciborgue do fu- O presente artigo propõe uma refle-
turo, baseado no conto homônimo de
William Gibson, o presente artigo de- xão sobre o filme Johnny Mnemonic – O
senvolve o argumento segundo o qual ciborgue do futuro, dirigido por Robert
o gênero literário/cinematográfico cy- Longo em 1994 e baseado no conto
berpunk atua como uma pedagogia Johnny Mnemonic, de William Gibson,
cultural que dissemina representações
sobre um sujeito pós-moderno e pós- um dos principais representantes de
-humano, marcado pela hibridação do um tipo de ficção científica denominado
homem com máquinas e, principal- cyberpunk. Esse gênero (ou subgênero,
mente, com as tecnologias digitais.
conforme alguns críticos) surgiu na dé-
Para atender esse objetivo, o artigo
inicia situando o contexto teórico-epis- cada de 1980, tendo se tornado popular,
temológico das análises e, na sequên- primeiro, devido ao sucesso das obras
cia, traz uma seção sobre o gênero cy- de Gibson, principalmente seu romance
berpunk, abordando brevemente seu
histórico e suas principais caracterís- Neuromancer. Por meio dessa obra, Gib-
ticas. Em seguida, é analisado o filme
Johnny Mnemonic – O ciborgue do
futuro. Os principais aportes teóricos *
Doutor em Teoria da Literatura pela PUCRS e mestre
utilizados para as reflexões aqui apre- em Semiótica pela Unisinos. Atualmente é professor
sentadas são buscados em três cam- no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE-
pos distintos: na crítica literária de- DU) e professor no Curso de Letras da Ulbra. E-mail:
ekirchof@pq.cnpq.br
dicada aos estudos sobre cyberpunk, **
Mestre em Educação e Estudos Culturais pela Ulbra.
nos Estudos Culturais e nos estudos Atualmente, é professora no Curso de Letras da Uni-
sobre cibercultura. ritter. E-mail: lelanguages@hotmail.com

Palavras-chave: Cyberpunk. William


Gibson. Cinema. Cibercultura. Pós- Data de submissão: jul. 2014 – Data de aceite: ago. 2014
-humano. http://dx.doi.org/10.5335/rdes.v10i2.4159

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son abriu espaço para diversas facetas a um híbrido composto entre o universo
serem exploradas posteriormente por ou- tecnológico e humano, suas narrativas
tros autores ligados ao cyberpunk, mas funcionam como metáforas produtivas
também levantou inúmeras questões para discutir questões levantadas no
que seriam retomadas, principalmente âmbito das teorias do pós-modernismo
a partir da década de 1990, por teóricos sobre o sujeito contemporâneo. Nesse
interessados em refletir sobre tecnolo- sentido, Douglas Kellner (2001, p. 381)
gias digitais e ciberespaço. chama atenção para o caráter pedagógico
Posteriormente, por meio da revista que o cyberpunk adquire na propagação
californiana “Mondo 2000” (criada em de conceitos e de valores ligados ao que
1989 por Queen Mû e R.U. Sirius), o cy- se tem denominado, de modo amplo e
berpunk deixou de ser apenas um gênero genérico, de Pós-modernidade: “No cy-
literário para se tornar uma verdadeira berpunk, a visão pós-moderna encontra
cultura, capaz de produzir estilos de a sua expressão literária paradigmática
vida, valores, representações e uma iden- e dissemina as suas visões para a cultura
tidade cultural. Já na primeira edição da contemporânea da qual extraiu energia
revista, seus editores pretendiam popu- e agudeza”. Assim, as narrativas cyber-
larizar, para o público leitor, noções sobre punk podem ser – e têm sido – lidas como
a cibercultura e sua filosofia de vida. Na metáforas que permitem pensar sobre
concepção da revista, ser um cyberpunk um “ser” ou um “sujeito” pós-moderno,
ultrapassa as barreiras da tecnologia, marcado principalmente pela hibridiza-
pois essa condição proporcionaria, ao ção entre o humano e o tecnológico num
sujeito contemporâneo, liberdade de es- futuro não tão distante.
colha e criação possibilitadas pelas novas Um dos conceitos mais recorrentes
tecnologias. Lemos (2010, p. 185) resume para pensar sobre essa condição híbri-
a importância do cyberpunk para a histó- da é o “pós-humano”, frequentemente
ria da cibercultura por meio da seguinte ligado à metáfora do ciborgue. Em The
afirmação: “O imaginário cyberpunk vai Cyborg Manifesto, lançado em 1985,
marcar toda a cibercultura. O termo tem Donna Haraway propõe uma discussão
suas origens no movimento homônimo de que continua sendo realizada, até os
ficção científica que associa tecnologias dias de hoje, sobre a relação entre o
digitais, psicodelismo, tecnomarginais, pós-humano e o ciborgue. Nesse texto,
ciberespaço, cyborgs e poder midiático, Haraway afirma que “um ciborgue é um
político e econômico dos grandes conglo- organismo cibernético, um híbrido de
merados multinacionais.” máquina e organismos, uma criatura da
Vários estudiosos dedicados à análi- realidade social bem como uma criatura
se da cultura cyberpunk argumentam da ficção” (p. 150). De fato, como enfatiza
que, ao representarem o sujeito como a autora, não se trata apenas de um su-

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jeito ficcional, pois a própria expressão presente artigo pretende desenvolver
“ciborgue” fora cunhada, originalmente, o argumento segundo o qual o gênero
por pesquisadores da Nasa que ideali- literário/cinematográfico cyberpunk
zavam variados testes sobre criações de atua como uma pedagogia cultural que
um ser pós-humano capaz de viver em dissemina representações sobre um
outros planetas. Essas pesquisas tam- sujeito pós-moderno e pós-humano, mar-
bém visavam à prevenção de doenças cado pela hibridação do homem com as
agressivas, substituições de movimentos máquinas e, principalmente, com as tec-
orgânicos por mecânicos e, até mesmo, a nologias digitais. Em poucos termos, as
maximização da força humana. análises procuram responder à seguinte
Diante desse panorama, é preciso questão: “Como o cyberpunk representa
esclarecer que as análises propostas o sujeito contemporâneo a partir da
no presente artigo vinculam-se episte- hibridação entre o universo humano e
mologicamente ao campo dos Estudos tecnológico?”
Culturais. Analisar narrativas literárias
ou fílmicas, nessa perspectiva, impli- O cyberpunk
ca assumir a posição de que qualquer
objeto cultural produz significados e Entre o final do Século XIX e os pri-
representações que nos constituem como mórdios do Século XX, novas tecnologias
sujeitos. Em outros termos, de um ponto e mídias de largo alcance ganharam
de vista cultural, o sujeito é constituído espaço por meio de diversos meios de
pelas diferentes posições que ocupa expressão cultural, como as artes plásti-
dentro de certos sistemas e categorias cas, a literatura e o cinema. Baudrillard
socioculturais, como a nacionalidade, (apud KELLNER, 2001) descreve esse
o gênero, a etnia, a profissão, a classe período como “uma implosão dramática”
social, a comunidade linguística, para em que
citar apenas algumas possibilidades. Es- [...] as classes, os sexos, as diferenças po-
sas posições de sujeito, por sua vez, são líticas e os reinos outrora autônomos da
criadas e recriadas constantemente pelos sociedade e da cultura implodem uns sobre
os outros, apagando as fronteiras e as dife-
mais diversos sistemas semióticos de que renças num caleidoscópio pós-moderno.
dispõe a cultura. A literatura e o cinema,
portanto, caracterizam-se como sistemas Nesse contexto de tecnologias unidas
culturais que produzem representações à cultura da mídia e ao cotidiano, a ficção
capazes de nos interpelar para que nos científica torna-se uma das manifesta-
identifiquemos com certas posições de ções culturais mais marcantes. De fato,
sujeito em detrimento de outras tantas. a ficção científica surge já em meados da
Com base na análise do filme Johnny década de 20, por meio de publicações
Mnemonic – O ciborgue do futuro, o de histórias que abordavam o futuro
tecnológico da humanidade a partir de

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grandes descobertas intergalácticas. Os [...] os cyberpunks não são apocalípticos e
anos 40, segundo Lemos (2010, p. 187), negativos, como alguns livros e filmes de
ficção científica das últimas décadas. Alguns
tornaram-se conhecidos como “a idade de de seus escritores, como Gibson, dão ênfase
ouro” para o gênero, “com Azimov e os ro- tanto à negatividade quanto à positividade
bôs”. Na década de 1950, por sua vez, em da tecnologia e do futuro tecnológico, não
sendo tecnofóbicos nem tecnófilos. Grande
plena Guerra Fria e em meio às buscas parte da antiga ficção científica, por outro
por defesa e armamento modernos, como lado, era tecnófila; festejava a tecnologia
carros, aeroportos, meios de comunicação sem reflexão crítica sobre seus efeitos.
e ameaças nucleares, entram em cena, Desde muito cedo, a crítica literária e
inicialmente com o autor P.K. Dick, os cultural enxergou relações muito próxi-
androides e os ciborgues. mas entre as manifestações cyberpunk
Alinhado com essa tradição literária – tanto na sua forma literária quanto
de ficção científica, surge, na década de fílmica – e o Pós-modernismo. Para Kell-
1980 do Século XX, um gênero cultural e ner (2001, p. 386), por exemplo, “teoria e
literário denominado cyberpunk1, termo cultura pós-modernas e ficção cyberpunk
originado da junção entre as palavras são produtos do mesmo ambiente high-
cibernética e punk. A palavra foi ado- -tech, servindo, ao mesmo tempo, para
tada primeiramente pelo escritor Bruce mapeá-lo e elucidá-lo”. Murphy e Vint
Bethke, na década de 1940 do Século XX, (2010, p. 14), por sua vez, afirmam que
para definir um subgênero literário de
[...] a prática cyberpunk, aqui como em
ficção científica, e logo foi incorporada qualquer lugar, atualiza ou transforma em
por uma série de outros autores, tais literatura o que, na poética pós-moderna,
como Pat Cadigan, Bruce Sterling, Lewis normalmente aparece como uma metáfora
ao nível da linguagem, estrutura ou meio
Shiner, Greg Bearque, John Shirley, material. Onde o pós-modernismo tem re-
Rudy Rucker, além do próprio William presentações figurativas de desintegração,
Gibson, que viria a se tornar um dos os textos cyberpunk tipicamente projetam
mundos de ficção que incluem objetos (fic-
principais representantes desse gênero.
tícios) e fenômenos (fictícios) incorporando
Ao passo que grande parte da ficção e ilustrando a problemática da individua-
científica produzida anteriormente à lidade: a simbiose homem-máquina, inteli-
década de 80 veiculava uma visão dico- gências artificiais, alter-egos biologicamente
projetados e assim por diante.
tômica quanto aos efeitos da tecnologia
sobre a sociedade – ou extremamente Como atestam muitos estudiosos,
positiva ou extremamente negativa –, o falar da pós-modernidade não é tarefa
cyberpunk passa a construir uma visão simples, exatamente por haver muitas
mais equilibrada e crítica. Segundo Kell- “verdades” construídas sobre o termo
ner (2001, p. 384), pós-moderno. Alguns autores e pesqui-
sadores conferem um “tom” polêmico a
tais definições, o que tem gerado proble-
matizações consideráveis e controvér-

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sias. O termo “Pós-modernismo” já era com determinada concepção estética e
usado em meados da década de 1940, ideológica, geralmente empregado para
de forma ainda indefinida. No entanto, definir o tipo de arte e de literatura que
já naquela época, o conceito expressava rompe com os preceitos estabelecidos
uma oposição ao que se denominava de pelos cânones da arte e da literatura no
moderno ou modernismo. A palavra, modernismo. Nicol (2009, p. 1) também
cunhada para denominar um momento afirma que o pós-modernismo, apesar
que sucederia a modernidade ou o mo- de ser “um termo notoriamente escor-
dernismo, também deu origem a outros regadio e indefinível” por não trazer
correlatos, tais como: pós-modernismo ou uma “verdade” fixa, mas por questionar
pós-modernista. Segundo Featherstone as “verdades” ditas “reais”, é utilizado
(1995), mesmo caracterizando períodos normalmente no campo das artes e da
e posições diferentes, o “moderno” e o literatura, ao passo que os correlatos
“pós-moderno” ultrapassam a genuína pós-modernidade ou pós-moderno são
ligação de léxicos: mais utilizados nos campos filosóficos e
Se “moderno” e “pós-moderno” são termos sociológicos, para descrever uma nova
genéricos, é imediatamente viável que o condição ou ordem social, econômica e
prefixo “pós” (post) significa algo que vem cultural em que está imersa a sociedade
depois, uma quebra ou ruptura com o “mo-
derno”, definida em contraposição a ele. Ora, contemporânea:
o termo “pós-modernismo” apoia-se mais Onde a pós-modernidade se refere à forma
vigorosamente numa negação do moderno, como o mundo mudou nesse período, devido
num abandono, rompimento ou afastamen- às evoluções nas esferas política, social,
to percebido das características decisivas econômica e midiática, o pós-modernismo (e
do moderno, com uma ênfase marcante no o adjetivo relacionado pós-modernista) se re-
sentido de deslocamento relacional. Isso fere a um conjunto de ideias desenvolvidas a
tornaria o “pós-moderno” um termo relati- partir da filosofia e das teorias da produção
vamente indefinido, uma vez que estamos estética (Nicol, 2009, p. 2).
apenas no limiar do alegado deslocamento, e
não em posição de ver o “pós-moderno” como O cyberpunk se vincula ao pensa-
uma positividade plenamente desenvolvida, mento pós-moderno principalmente por
capaz de ser definida em toda a sua ampli-
tude por sua própria natureza (Feathers- meio dos deslocamentos que institui
tone, 1995, p. 19). na constituição das personagens, cujas
subjetividades não são congruentes ou
Para Bauman (2001), as definições
fixas. Os sujeitos cyberpunk são geral-
exatas do uso dessas variações quanto
mente representados como seres mutan-
ao conceito ainda são polêmicas e con-
tes, ambíguos, híbridos, em constante
fusas, porém, mesmo assim, o autor
transformação, sendo que a motivação
relaciona o termo “pós-modernidade”
de tais deslocamentos, nesse gênero
à condição humana e à composição da
narrativo, se dá em função da mescla
sociedade contemporânea, enquanto o
do humano com as tecnologias que ele
pós-modernismo está mais relacionado
mesmo produz.

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McCarron (1995 apud AMARAL, 2003, fílmico, o gênero cyberpunk despertou
p. 5) procurou sistematizar as principais os olhos do mundo hollywoodiano e dos
características desse gênero a partir grandes cineastas para as criações de
dos seguintes pontos: falta de interesse Dick e Gibson. A partir da década de 90
pela reprodução biológica; possibilidade até os anos 2000, o gênero cyberpunk
de mundos paralelos; ataque ao corpo se consolida e se populariza também no
(compra de próteses e implantes que in- universo cinematográfico.
dicam o desejo do consumo); apresentação
tecnologizada do ciberespaço; sátira ao O filme Johnny Mnemonic
“capitalismo” e à “sociedade” em geral,
aliada à utilização extensiva dos meios de
– O ciborgue do futuro
comunicação para divulgar essas obras; A obra fílmica analisada na presente
questionamento do próprio conceito de seção baseia-se no conto Johnny Mne-
humanidade opondo-se ao inumano; subs- monic, que se encontra no livro Burning
tituição do governo pelas multinacionais, Chrome, de William Gibson. Segundo
que são atacadas por grupos minoritários Kellner (2001, p. 379), essa coletânea
e revolucionários, geralmente os próprios de contos
cyberpunks. Embora nem todas as obras
[...] contém uma visão vigorosa de um novo
consideradas cyberpunk apresentem ne- tipo de sociedade tecnológica na qual os se-
cessariamente as características listadas res humanos e as máquinas estão constan-
por McCarron, geralmente a filiação ao temente implodindo, e o próprio ser humano
está em dramática mutação.
gênero se dá pela presença e predominân-
cia de algumas delas. Em 1994, o conto migrou para as
Se, na década de 1980, o conjunto grandes telas como uma versão cinema-
dessas características era mais visível tográfica dirigida por Robert Longo, em
em obras literárias e em apenas algumas uma produção americana-canadense.
produções fílmicas, a partir da década A narrativa do filme remete ao ano
de 90, contudo, esses traços tornam- 2021, quando o mundo está envolvido
-se presentes, de forma cada vez mais em uma “teia” que se mantém conectada
intensa, também nos filmes de ficção através de uma gigantesca rede de in-
científica destinados a grandes públi- ternet. Nesse período, metade dos seres
cos. O primeiro filme considerado uma humanos que habitam o planeta estão
obra de ficção científica cyberpunk por infectados por uma doença chamada
vários críticos é Blade Runner, lançado NAS2 – possivelmente uma analogia à
em 1982 e dirigido por Ridley Scott. A AIDS –, a qual gera, nas pessoas que por-
história foi baseada no livro de Philip K. tam o vírus, uma terrível e fatal alergia
Dick, intitulado Do androids dream of ocasionada por ondas magnéticas. Assim
eletric sheep?. Com a conquista do espaço sendo, a principal temática proposta pelo

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enredo é a presença de uma epidemia tenta se esconder, despertando, assim,
gerada como consequência do uso da o interesse de grandes corporações, as
tecnologia (cena 1). quais contratam um grupo com a missão
de capturá-lo. Como se percebe, a narra-
Cena 1: 00:05:05 – A revolta pela contaminação tiva aborda a possibilidade de armazenar
da N.A.S. bits de computador no cérebro como algo
corriqueiro e naturalizado; dessa forma,
estabelece uma equivalência entre o cé-
rebro humano e qualquer outro suporte
digital. O protagonista é representado,
portanto, como um sujeito híbrido, um
ser meio orgânico e meio tecnológico,
uma espécie de ciborgue pós-humano
que, em última análise, representa me-
taforicamente as condições de possibili-
dade do sujeito contemporâneo.
De fato, o filme Johnny Mnemonic pa-
A doença, de origem desconhecida, rece estar veiculando a mensagem segun-
contamina suas vítimas por meio dos do a qual nós estamos nos transformando
implantes tecnológicos que os humanos em sujeitos pós-orgânicos, hibridados
passaram a mesclar em seus corpos com as novas tecnologias, principalmente
com o passar do tempo. O processo de com as tecnologias digitais. Visualmente,
infecção ocorre quando um vírus invade essa hibridação pode ser observada, por
e enfraquece o cérebro do contaminado. exemplo, na cena 2, na qual o persona-
A revolta exposta na Cena 1 corresponde gem utiliza o próprio corpo como uma
a um protesto para que o governo, junto espécie de suporte para acessar dados da
às grandes corporações, buscasse uma rede mundial de computadores.
solução para a epidemia.
Nesse cenário, o protagonista Johnny Cena 2: 00.39.52 - Johnny tentando acessar sua
(interpretado por Keanu Reeves) é con- memória digital.
tratado para transportar informações
digitais em sua memória, das quais não
é capaz de tomar consciência. Assim, um
chip de grande capacidade é implantado
em seu cérebro, o qual abriga nada me-
nos do que a cura para essa doença fatal.
Com o peso do arquivo que carrega, con-
tudo, o cérebro de Johnny fica saturado,
e ele passa a deixar vestígios por onde

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O filme também veicula a ideia pla- os cérebros de Johnny e do golfinho Jo-
tônica de uma “eternidade da mente”, a nes. Esse último é uma transespécie, um
assim chamada “fantasia de poder”, con- peixe ciborgue que ajuda o protagonista
forme é definida por Kellner (2001), uma a resistir aos obstáculos de sua missão,
ideologia segundo a qual o ser humano servindo como uma “placa mãe” que
poderá, futuramente, ter poder sobre a renova as energias de Johnny, assim,
sobrevivência de sua memória após a salvando-o da morte durante a transfe-
degeneração do corpo: a “impossibilidade rência de dados. A conexão entre o cére-
física da morte na mente de alguém que bro de um golfinho e de um ser humano
vive”. Em poucos termos, esse ser pós- é possível apenas porque as informações
-humano, uma vez capaz de transformar de ambos os cérebros são transformadas
seus pensamentos e sentimentos em bits em bits digitais, convergindo, dessa ma-
de informação, acredita que sua memória neira, no universo do ciberespaço, em
inorgânica poderá se tornar eterna. que toda a realidade é reduzida a bits
Algumas mesclas entre o humano e de informação.
o tecnológico são relativamente pouco
intrusivas, caracterizadas, por exemplo, Cena 3: 01:11:05 – A convergência transespécie
por uma simples parte do corpo orgânico entre Johnny e o golfinho Jones.
sendo substituída por um membro me-
cânico. Outras, por sua vez, pressupõem
uma verdadeira fusão entre o orgânico e
o tecnológico, a partir da qual as condi-
ções biológicas e físicas da vida deixam
de ser vistas como fundamentais. É
importante ressaltar que o cyberpunk
não propõe uma simples fusão da má-
quina com o corpo ou entre o orgânico e
o inorgânico, mas sim, uma mescla entre Essa convergência invisível, que liga
a matéria (orgânica e inorgânica) e a a mente natural com informações digi-
informação digital (geralmente represen- tais, não pretende apresentar um ser
tada como imaterial). Em sua gradação metade orgânico e metade mecânico,
máxima, portanto, existe uma espécie de mas atua pedagogicamente no sentido
convergência do humano com qualquer de ensinar que a relação do homem com
outra realidade, material ou imaterial, a tecnologia está se transformando a
possibilitada dentro do ciberespaço devi- partir dessa substância transparente.
do ao uso de tecnologias digitais. Na medida em que sua mente pode ser
Na cena 3 do filme Johnny Mnemonic, transformada em dígitos, o sujeito pós-
por exemplo, ocorre uma conexão entre -humano torna-se capaz de se mesclar
com diversas máquinas, robôs, compu-

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tadores e, inclusive, outras espécies, logias, entretanto, o sujeito cyberpunk se
perpetuando sua existência para além vê confrontado com as forças antagôni-
da matéria orgânica. cas de grandes corporações capitalistas,
Para conseguir transportar informa- movidas unicamente por interesses
ções por meio de um implante cerebral, financeiros e pecuniários. Em muitas
o personagem precisou se desfazer de narrativas do gênero, as corporações
recordações antigas, liberando, assim, o pretendem se apoderar das tecnologias
espaço que seria ocupado pelo HD (hard digitais com o fim exclusivo de manter o
drive) nele implantado. Ao optar pelas comando social, visando sempre o lucro
lembranças que apagaria, Johnny prefe- como fim em si mesmo.
riu esquecer suas memórias de infância. No filme de Longo, essas forças em-
No entanto, alguns de seus resquícios presarias são representadas pelo sindi-
acabaram, por vezes, retornando e se cato Yakuza, composto por empresários
mesclando com as novas informações que poderosos (cena 4) e vinculados a um
passou a carregar. universo de crimes e barbáries.
De certo modo, essa imagem tam-
bém pode ser interpretada como uma Cena 4: 00:10:42 – As Grandes Corporações
alegoria que coloca à prova a identidade como o “mal” representado por YAKUZA.
fixa do sujeito contemporâneo. Uma vez
que a memória pode se perder ou ser
substituída, não é capaz de garantir
a congruência da identidade, que está
sendo transformada continuamente
por meio de seu contato com as novas
tecnologias. Nesse sentido, obras como
Johnny Mnemonic sugerem que o sujeito
contemporâneo não está somente sendo
potencializado, mas principalmente
transformado através de sua interação
com as tecnologias digitais. Uma de suas principais intenções
Por outro lado, o filme também sugere é descobrir a cura da NAS, a fim de
que a tecnologia está a serviço de quem transformá-la em um produto de comér-
souber utilizá-la de forma justa e que, cio capaz de gerar altos lucros para a
ao mesmo tempo, é inevitável ignorá-la. própria corporação. Portanto, a Yakusa
Em outros termos, o filme postula uma pode ser interpretada, metaforicamente,
espécie de uso democrático das tecnolo- como uma crítica à sociedade capitalis-
gias, as quais devem servir para a po- ta e neoliberal em que vivemos, a qual
tencialização do homem, como o próprio transforma qualquer objeto em produto
controlador e organizador de sua mente. de consumo, mesmo que se trate de
Nesse apelo para o “bom uso” das tecno- objetos vitais para a sobrevivência da

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população. Para manter seu poder, a laboratórios. De fato, a NAS funciona, no
Yakusa invade constantemente redes filme, como uma alegoria presenteísta
sigilosas por meio de um sistema de para representar doenças que se materia-
camuflagem denominado “gelo negro”, o lizam no corpo humano (cena 6) a partir
qual transmite vírus letais que queimam de experimentos realizados por grandes
os cérebros dos ciborgues que eventual- corporações, as quais, muitas vezes, não
mente procuram sabotar o programa. tomam os cuidados necessários com seus
Os oponentes ao sindicato Yakusa experimentos porque estão interessadas
– caracterizados como os personagens em resultados rápidos e muito lucrativos.
do bem – são chamados de Loteks (cena
5), um grupo de cientistas desertores e
Cena 6: 00:50:06 – A pandemia da N.A.S suge-
ativistas, os quais também visam des- rindo a existência da AIDS
cobrir a cura para a NAS, porém, com a
finalidade de distribuí-la gratuitamente,
como um direito de todos. Para tanto,
esse grupo também desenvolve investi-
gações secretas que poderiam salvar os
humanos dessa epidemia catastrófica.

Cena 5: 00:05:05 – A revolta pela contaminação


da N.A.S.

Dentro desse contexto, a semelhança


fonética entre NAS e AIDS é capaz de
reavivar, por exemplo, discussões sobre a
origem da Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida, no início da década de 1980.
Desde então, embora não haja qualquer
Por meio dessa polarização entre dois consenso sobre o assunto, existem várias
extremos, a qual frequentemente chega especulações e documentários sugerindo
a adquirir um tom quase maniqueísta, que a primeira contaminação teria ocor-
a obra acaba denunciando o “mau uso” rido como consequência de experimentos
da tecnologia pelo sistema capitalista realizados com macacos africanos, pelo
desenfreado, que, ao invés de produzir pesquisador  Hilary Koprowski, no ano
benefícios para a população, produz de 1950, no Congo Belga, o qual bus-
verdadeiras catástrofes e epidemias, cava a criação de uma vacina contra a
tais como as doenças desenvolvidas em poliomielite.3 Por outro lado, enquanto

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uma alegoria, a NAS também pode ser Cena 7: 00:48:15 – Anne contaminada e curada
relacionada a qualquer outra doença pela tecnologia.
atual gerada a partir de experimentos
tecnológicos, tais como a gripe aviária
– provavelmente consequência de uma
intervenção tecnológica que visa o de-
senvolvimento da ave em tempo recorde
para o consumo – e a Encefalopatia
Espongiforme Bovina, popularmente
conhecida como a “doença da vaca louca”.
A crítica social ligada ao modo como
a sociedade utiliza seus recursos tecno-
Assim, a obra posiciona o leitor na
lógicos é uma característica própria ao
perspectiva do personagem Johnny, o
gênero cyberpunk e, consequentemente,
qual precisa optar entre duas alterna-
está presente não apenas em Johnny
tivas: seus interesses particulares e
Mnemonic, mas em inúmeras outras
egoístas ou o engajamento em favor de
obras. Nesse sentido, talvez a principal
uma causa que possa beneficiar toda a
mensagem pedagógica do filme – e, por
humanidade. Em sua fuga contínua dos
extensão, do próprio gênero – seja que,
yakusas, Johnny acaba se unindo a um
embora o uso da tecnologia como um
grupo de ativistas (cena 8) composto
meio para obter lucro (quando vinculada
por piratas de dados, guerrilheiros de
apenas aos interesses do capitalismo sel-
combates informatizados, pesquisadores
vagem) possa conduzir a grandes catás-
desertores e hackers, os quais passam a
trofes, o seu uso democrático representa
ajudá-lo na proteção de sua vida.
a solução para esses mesmos problemas.
Um exemplo dessa mensagem pode
Cena 8: 00:26:08 – A descoberta da cura como o
ser encontrado na cena 7, na qual é pos- arquivo transferido à memória de Johnny.
sível ver a personagem Anne (Barbara
Suhowa), uma militante do submundo
que se une a Johnny para tentar vencer
as grandes corporações representadas
pelo sindicato de Yakuza. A personagem,
contaminada pela NAS e com pouco tem-
po de sobrevida, alia-se a Johnny na bus-
ca pela cura. Assim como Johnny, Anne
também possui um implante cerebral,
pelo qual fora infectada. No entanto,
será justamente por meio desse mesmo
implante que ela poderá ser curada.

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Quando os ativistas propõem que se às novas tecnologias e seus benefícios,
desfaça do conteúdo para salvar sua pró- lutando se for necessário.
pria vida, descobrem que o personagem
está transportando, em seu cérebro, um Considerações finais
estudo que revela nada menos do que a
tão desejada cura para a NAS. Assus- Desde sua origem, o cinema não vem
tado com a notícia, Johnny se encontra apenas encantando, mas também pro-
subitamente entre dois caminhos: salvar duzindo representações e identidades de
sua própria vida e danificar o arquivo ou diferentes ordens, as quais interpelam
salvar todos os infectados pela doença, leitores e espectadores para que ocupem
embora sob risco de não sobreviver à as posições de sujeito que são criadas no
transferência de dados para outro su- bojo de suas representações. Em outros
porte. Assim, o filme afirma o seguinte termos, literatura e cinema não são
dilema para o espectador: é melhor agir apenas objetos estéticos, mas fenômenos
em benefício próprio ou se engajar em culturais em sentido amplo.
uma luta pela distribuição democrática Segundo Stuart Hall (2000), a cultura
dos benefícios possibilitados pelas tecno- tem o poder de constituir identidades e
logias? A resposta para essa questão se subjetividades, pois é a partir dos sis-
encontra no desfecho do enredo. temas classificatórios disponíveis nas
O conflito da trama é resolvido de culturas em que estamos inseridos que
forma positiva e harmônica, pois Jo- definimos quem somos e quem podemos
hnny consegue finalizar o download ser. Os sistemas culturais estabelecem os
dos dados que carrega na placa mãe de limites entre a semelhança e a diferença,
um golfinho e, a partir disso, transmite entre o sagrado e o profano, os compor-
todos os dados ao vivo para a rede tele- tamentos aceitáveis e os inaceitáveis,
visa mundial, divulgando, assim, a cura roupas adequadas ou inadequadas, o
para todas as pessoas contaminadas. A modo como falamos, o normal e o anor-
vitória de Johnny representa, portanto, mal, o limpo e o sujo, entre tantas outras
uma posição otimista quanto ao uso das dicotomias. Dessa forma, é no interior
tecnologias, que, aliás, é comum a muitas dos sistemas culturais que são produzi-
obras do gênero cyberpunk. As empresas das também as condutas esperadas com
que lutavam pelo monopólio da cura da relação às novas tecnologias.
NAS acabam sendo destruídas e seus Em uma reflexão sobre o poder especí-
comandantes, mortos no combate con- fico do cinema para produzir identidades
tra o grupo de ativistas que defendiam culturais por meio das representações
Johnny. Dessa forma, o filme interpela o postas em circulação, Stuart Hall (2009)
espectador para que tome consciência de afirma o seguinte:
seus próprios direitos quanto ao acesso

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Tenho tentando falar sobre identidade Por outro lado, as narrativas cyber-
enquanto algo constituído, não fora, mas punk não pretendem apenas naturalizar
dentro da representação; e, portanto, vejo o
cinema não como um segundo espelho des- a concepção de que as identidades se
tinado a refletir o que já existe, mas como transformam de acordo com transfor-
uma forma de representação capaz de nos mações sociais, culturais e tecnológicas
constituir como novos tipos de sujeitos; des-
sa forma, ele permite descobrir quem somos
mais amplas. Existe, no gênero, também
(HALL, 2009, p. 714). um tom político bastante explícito, que se
revela no apelo para o uso democrático e
Dentro desse contexto, as narrativas
justo dos benefícios proporcionados pe-
cyberpunk, tanto em sua forma literária
las novas tecnologias. Ao longo do filme
quanto cinematográfica, têm produzido
Johnny Mnemonic e de várias outras
representações e discursos que circulam
narrativas cyberpunk, o principal mal
e operam como pedagogias culturais na
a ser combatido é a usurpação da tecno-
composição de identidades pós-moder-
logia realizada por parte de companhias
nas, marcadas pela hibridação do ser
e corporações interessadas apenas no
humano com as máquinas. Ao passo
lucro imediato.
que a ficção científica anterior à década
Assim, é possível concluir esse artigo
de 1980 do Século XX já vinha naturali-
afirmando que a obra Johnny Mnemo-
zando a relação do homem com o mundo
nic – assim como inúmeras narrativas
tecnológico, o cyberpunk naturaliza prin-
do gênero – constrói, ao longo de sua
cipalmente as transformações geradas
narrativa, uma posição de sujeito que in-
pela interação do sujeito contemporâneo
terpela o leitor a se identificar com uma
com as tecnologias digitais.
conduta democrática no que diz respeito
As análises apresentadas no presente
aos avanços proporcionados pelas novas
artigo permitiram concluir que o filme
tecnologias. Essa posição de sujeito é
Johnny Mnemonic está fortemente ali-
construída, principalmente, pela repre-
nhado com as principais características
sentação do protagonista como um ser
e apelos da cultura cyberpunk. O próprio
pós-humano que, quando colocado em
herói da narrativa é representado como
uma situação-limite, opta por socializar
um tipo de ciborgue, pois seu cérebro é
as informações que estão em sua posse
transformado em uma espécie de har-
com toda a humanidade.
dware capaz de armazenar os mesmos
bits eletrônicos dos computadores. A ca-
racterização desse personagem como um
híbrido formado por matéria orgânica e
inorgânica dialoga, portanto, com as dis-
cussões sobre subjetividade e identidade
realizadas no bojo de teorizações sobre o
pós-moderno e o pós-humano.

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Cyberpunk: from book to que faz parte da palavra cyberpunk, deriva do
movimento homônimo e indica a rispidez e a
screen An analysis of Johnny atitude da dura vida urbana em aspectos como
Mnemonic – The cyborg from o sexo, as drogas, a violência e a rebeldia contra
o autoritarismo no modo de viver, na cultura
the future pop e na moda” (KELLNER, 2001, p. 383).
4
Essa doença, denominada NAS (Nerve Attenua­
Abstract tion Syndrome), é traduzida, pela legenda do
filme, como a Síndrome da Atenuação Nervosa
Based on the analysis of the film (sigla em português SAN) ou a síndrome do
Johnny Mnemonic - The cyborg from enfraquecimento neurológico.
the future (named after the epony-
5
Verificar, entre outros, o documentário realizado
pela CBC Witness 2004. Disponível em: http://
mous short story by William Gibson),
www.youtube.com/watch?v=LZs1V8mpcoY.
this paper develops the argument
that the literary and movie genre cy-
berpunk acts as a cultural pedagogy Referências
that disseminates representations of
a post-modern and post-human sub-
AMARAL, Adriana. Cyberpunk e Pós-mo-
jectivity. This contemporary subject
dernismo. In: BOCC, Biblioteca On-line de
can be defined by the hybridization
Ciências da Comunicação, Portugal, 2003.
of human being and digital technolo-
gies. To meet this goal, the paper be- _______. A dualidade mente e corpo na ficção
gins by presenting the theoretical and científica de Philip K. Dick ao movimento
epistemological context of the analysis cyberpunk. Attar Editorial, p. 133-150. São
and, as a result, it brings a section Paulo, 2008.
on the cyberpunk genre, briefly consi- _______. Visões Perigosas: uma arque-gene-
dering its historical origins as well as alogia do cyberpunk. Porto Alegre: Sulina,
its main characteristics. In addition, 2006.
it analyzes the movie Johnny Mnemo-
nic - The cyborg from the future. The BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simu-
main theoretical framework used for lação. São Paulo: Antropos, 1991
the reasoning presented here is ba- BAUMAN, Zigmunt. O mal estar da Pós-
sed on three distinct fields: literary -modernidade. Trad. de Mauro Gama e
criticism devoted to studies on cyber- Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro:
punk, Cultural Studies and studies Jorge Zahar Editor, 1998.
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BETHKE, Bruce. Cyberpunk. 1983. Dispo-
nível em: <http://www.infinityplus.co.uk/
Notas stories/cpunk.htm>. Acesso em: 30 jan. 2012

“Cyber é grego; significa ‘controle’. Com ela foi


1 DICK, Philip K. Do Androids Dream of Ele-
formada a palavra cibernética, indicativa de tric Sheep? Doubleyday & Company. New
um sistema de controle altamente tecnológico York, 1968.
que combina computadores, novas tecnologias e
realidades artificiais com estratégias de manu-
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo.
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