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Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia de São Paulo


Campus Araraquara

Tendências em Educação
Matemática I
Fichamento - Texto 1

Davi Cardoso
Araraquara, 4 de março de 2020
Informações Gerais

ˆ Tı́tulo: Pesquisa em Resolução de Problemas: caminhos, avanços e novas perspectivas

ˆ Autores(as): Lourdes de la Rosa Onuchi; Norma Suely Gomes Allevato

ˆ Tipo de Publicação: Artigo de Periódico

ˆ Ano de Publicação: 2011

ˆ Tema: Resolução de Problemas

ˆ Objetivo: Retratar o conhecimento construı́do sobre Resolução de Problemas na


Educação Matemática a partir das pesquisas desenvolvidas nos últimos anos pelo
GTERP – Grupo de Trabalho e Estudos em Resolução de Problemas, UNESP-Rio
Claro/SP

Resumo

1 - Introdução

As autoras introduzem seu artigo dando um contexto geral de seus estudos sobre
Resolução de Problemas, que se iniciaram em 1989, citando dois de seus trabalhos, e
assim mostrando o processo de amadurecimento pelo qual passaram até a realização deste
presente artigo.
O primeiro trabalho citado consiste em um artigo intitulado Ensino-Aprendizagem
de Matemática através da Resolução de Problemas (ONUCHIC, 1999) presente no livro
Pesquisa em Educação Matemática: concepções e perspectivas (BICUDO, 1999), onde
fizeram referência ao tratamento de problemas matemáticos ao longo da História da
Matemática, e o segundo trabalho, publicado após a consolidação do Grupo de Trabalho e
Estudos em Resolução de Problemas (GTERP) e a aquisição de novos conhecimentos no
tema, consiste em um artigo intitulado Novas Reflexões sobre Ensino- Aprendizagem de
Matemática através da Resolução de Problemas (ONUCHIC; ALLEVATO, 2004) presente
no livro Educação Matemática – pesquisa em movimento (BICUDO; BORBA, 2004), onde
foi apresentada e discutida uma nova e mais atual possibilidade de abordagem para a
resolução de problemas em sala de aula de Matemática.
2 - Situando Historicamente a Resolução de Problemas

Segundo Lambdin e Walcott, durante o século XX e até atualmente, o ensino de


matemática nas escolas americanas passou por seis fases identificáveis com diferentes
ênfases e que introduziam práticas novas e inovadoras para a Educação Matemática,
sendo que algumas destas fases também foram vivenciadas em outros lugares do mundo e
influenciaram fortemente o ensino de matemática. Estas fases eram:

I) Exercı́cio e Prática (aprox. 1920 - 1930): Tinha como foco a facilidade com o
cálculo, e para tal, eram enfatizados a memorização de fatos e algoritmos e a quebra do
trabalho em séries de pequenos passos.

II) Aritmética Significativa (aprox. 1930 - 1950s): Tinha como foco a compreensão
de ideias e habilidades aritméticas e a aplicação da matemática em problemas do mundo
real, e estas seriam atingidas através da aprendizagem incidental, de uma abordagem de
atividades orientadas e enfatizando-se as relações matemáticas.

III) Matemática Moderna (aprox. 1960 - 1970s): Movimento que buscava ensinar
matemática apoiada em estruturas lógica, algébrica, topológica e de ordem, enfatizando a
teoria dos conjuntos. Fadou-se ao fracasso por falta de participação dos pais dos alunos e
por despreparo dos professores, além de um tratamento exageradamente abstrato.

IV) Volta às bases (aprox. 1970s): Tentativa de trazer a aprendizagem de fatos por
exercı́cio e prática à Matemática Moderna. Conseguiu adeptos somente nos EUA e não
causou grandes efeitos.

V) Resolução de Problemas (aprox. 1980s): A partir da publicação do documento


intitulado An Agenda for Action: Recommendations for School Mathematics in the 1980’s
pelo National Council of Teachers of Mathematics (NCTM), que indicava a resolução
de problemas como foco do ensino de matemática, e apoiando-se nos fundamentos do
construtivismo e na teoria sociocultural, essa fase teve como foco a aprendizagem por
descoberta e a aprendizagem através da resolução de problemas.

VI) Padrões, Avaliação e Responsabilidade (1990 até o presente): Como forma


de auxiliar os professores e destacar aspectos considerados essenciais para o ensino de
matemática, foram publicados os Standards 2000, oficialmente chamados Principles and
Standards for School Mathematics (NCTM, 2000), que enunciavam princı́pios e padrões
para o ensino de matemática. Esses documentos impulsionaram metologias de ensino
de matemática através da resolução de problemas, onde o problema é visto como ponto
de partida para a construção de novos conceitos e novos conteúdos, tendo os alunos
como co-construtores de seu próprio conhecimento e os professores como responsáveis por
conduzir esse processo.
3 - A Resolução de Problemas e os estudos no GTERP

3.1 - A Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação de


Matemática através da Resolução de Problemas

Com as muitas reformas pelas quais a Educação Matemática passou no século XX, o
GTERP passou a empregar o termo ensino-aprendizagem-avaliação para descrever sua
metodologia de ensino de matemática através da resolução de problemas, por entender
que estes três elementos deveriam ocorrer simultaneamente durante o processo de ensino.
Neste tipo de trabalho, o problema é o ponto de partida e, através de sua resolução, o
aluno, como um participante ativo, analisaria e criaria métodos para solucionar o problema,
assim, gerando novos conceitos e conteúdos e construindo seu conhecimento.
Como são muitas as definições de problemas, trabalhar com resolução de problemas
exige que o professor se atente à seleção destes, que prepare ou escolha o mais adequado ao
conteúdo ou conceito que vai ser ensinado, e que coloque o aluno como principal responsável
pelo seu aprendizado.
Em 1998, buscando ajudar os professores a empregar essa metodologia em suas au-
las, com a participação de 45 professores participantes de um Programa de Educação
Continuada, foi criado um Roteiro de Atividades para o uso dessa metodologia. Porém,
através de pesquisas e experiências desenvolvidas com formação de professores, as autoras
constataram dificuldades envolvendo a realização de algumas etapas descritas no roteiro, e
com isso, criaram um segundo roteiro com novos elementos:

I) Preparação do problema: Seleção de um problema gerador, que construirá um novo


conceito, princı́pio ou procedimento.

II) Leitura individual: Cada aluno recebe uma cópia do problema e faz a sua leitura.

III) Leitura em conjunto: Formam-se grupos e é feita uma nova leitura do problema,
com o auxı́lio do professor caso seja necessário.

IV) Resolução do problema: Com a compreensão do problema, os alunos partem para


a sua resolução em seus grupos, de forma colaborativa e cooperativa.

V) Observar e incentivar: O professor age como mediador, estimulando e incentivando


os alunos na resolução do problema e os auxiliando em suas dificuldades.

VI) Registro das resoluções na lousa: Representantes dos grupos registram suas
soluções na lousa para que todos os alunos as analisem e discutam.

VII) Plenária: O professor media e incentiva todos os alunos a discutirem sobre as


resoluções registradas na lousa, para que eles tirem suas dúvidas e defendam seus pontos
de vista.
VIII) Busca do consenso: Tenta-se chegar a um consenso sobre o resultado.

IX) Formalização do conteúdo: O professor registra na lousa uma apresentação


formal padronizando os conceitos, os princı́pios e os procedimentos construı́dos através da
resolução do problema, destacando as diferentes técnicas operatórias e as demonstrações
das propriedades qualificadas sobre o assunto.

3.2 - Uma Filosofia de Educação Matemática?

Através de citações de alguns autores, as autoras buscam afirmar que a Metodologia


de Ensino- Aprendizagem-Avaliação de Matemática através da Resolução de Problemas
desenvolvida pelo GTERP pode ser considerada como uma forma de Filosofia de Educação
Matemática pois ”a tarefa de Filosofia da Educação Matemática é manter vivo o mo-
vimento de ação/reflexão/ação nas atividades realizadas e atualizadas em Educação
Matemática”(Bicudo, 2010, p.23).

4 - O foco das pesquisas no GTERP

4.1 - Matemática como ciência de padrão e ordem

A Educação Matemática se encontra em um contexto histórico-social complexo, sendo


influenciada e condicionada pela interação de inúmeros fatores. O professor baseia suas
aulas nos perfis e necessidades de seus alunos, e ambos têm suas atividades reguladas
pela estrutura escolar, sendo que esta foi criada por grupos sociais para a formação de
futuros cidadãos. Por isso, muitas vezes são utilizados conhecimentos de outras áreas,
como Sociologia, Psicologia e Pedagogia, como meio de investigar e responder questões
relacionadas à Educação Matemática.
Apesar da compreensão de que a matemática é necessária para o entendimento do
mundo e a vida nele, ainda há muitas dificuldades envolvendo o seu ensino e aprendizado,
nisto, torna-se necessária a reflexão do como e do porquê ensinar matemática.
A matemática, como ciência do padrão e ordem, oferece-nos meios de compreender os
padrões e estruturas da realidade. Através observações, deduções e simulações, podemos
adquirir conhecimentos aplicáveis em nossa realidade, seja em tarefas mais simples do
dia-a-dia ou em problemas mais complexos, pois os padrões estão presentes em tudo, na
natureza, na arte, na construção de prédios e na música, e a matemática que nos permite
descobri-los e compreendê-los. Por isso, a escola precisa auxiliar seus alunos nesse processo
de descoberta, fazendo-os entender como a matemática é útil em nossas vidas.
4.2 - A Matemática Discreta

Surgindo como resposta das ciências matemáticas para a necessidade de uma melhor
compreensão das bases combinatórias da Matemática, a Matemática Discreta começou
a ser trabalhado como uma área separada de estudo nos anos sessenta e, devido às suas
aplicações na ciência computacional e nas áreas de negócios, tem crescido rapidamente nas
últimas décadas, sendo também inserida nos projetos da GTERP.
Para as autoras, assim como recomendado pelo Curriculum and Evaluation Standards
for School Mathematics (NCTM, 1989), é necessário que os alunos aprendam os conceitos
e métodos da matemática discreta, pois este ramo da matemática é muito importante para
a resolução dos problemas que se colocam na atualidade.

5 - As pesquisas mais recentes realizadas pelo GTERP

Buscando que seus estudos atinjam as salas de aulas, boa parte da produção cientı́fica
dos membros da GTERP narra e analisa situações de intervenção pedagógica realizadas em
sala de aula ou no âmbito da formação de professores. Seus trabalhos envolvem conteúdos
em todos os nı́veis de ensino, gerando diversas possibilidades de pesquisa na educação
matemática.

5.1 - Roger Ruben Huaman Huanca - A Resolução de Problemas


no Processo Ensino-aprendizagem-avaliação de Matemática na
e além da Sala de Aula - Dissertação de Mestrado (2006)
Através da pesquisa, o autor conseguiu perceber que tanto os alunos do ensino médio
quanto a professora se sentiram mais motivados ao trabalhar a trigonometria através da
resolução de problemas.

5.2 - Paulo Henrique Hermı́nio - Matemática Financeira – Um


Enfoque da Resolução de Problemas como Metodologia de En-
sino e Aprendizagem - Dissertação de Mestrado (2008)
Por meio análise de livos didáticos, entrevistas com pais e professores, e a implementação
de aulas fundamentadas na Metodologia de Ensino-Aprendizagem de Matemática através
da Resolução de Problemas, o autor buscou analisar o interesse dos alunos no aprendizado
da Matemática Financeira e a importância desta para eles segundo os professores. Como
resultado, percebeu que, com a metodologia utilizada, os alunos participaram ativamente
do aprendizado e conseguiram refletir sobre o conteúdo.
5.3 - Analucia Castro Pimenta de Souza - Análise Combinatória
no Ensino Médio Apoiada na Metodologia de Ensino-Aprendizagem-
Avaliação de Matemática através da Resolução de problemas –
Dissertação de Mestrado (2010)
Através de uma pesquisa bibliográfica e da aplicação da metodologia em três ambientes
distintos, a autora verificou que o uso da resolução de problemas no ensino da Análise
Combinatória permitiu que os participantes se envolvessem ativamente da construção de
novos conceitos e conteúdos.

5.4 - Marcos Vinı́cius Ribeiro – O Ensino do Conceito de Inte-


gral, em Sala de Aula, com Recursos da História da Matemática
e da Resolução de Problemas – Dissertação de Mestrado (2010)
A partir da metodologia e tendo como recurso a História da Matemática, o autor
analisou o ensino de Cálculo Diferencial e Integral para alunos de um Curso de Engenharia.

5.5 - Célia Barros Nunes - O Processo Ensino-Aprendizagem-


Avaliação de Geometria através da Resolução de Problemas:
perspectivas didático- matemáticas na formação inicial de pro-
fessores de matemática – Tese de Doutorado (2010)
Como meio de investigar a eficácia da metodologia no ensino da Geometria, a autora
criou e aplicou dois projetos de ensino nas disciplinas Didática da Matemática e Laboratório
de Ensino de Matemática II do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade do
Estado da Bahia.

6 - Considerações finais
Apesar das diversas metodologias de ensino e de toda a publicação cientı́fica em
Educação Matemática, ainda existem queixas sobre o ensino de matemática devido a dados
de pesquisas e avaliações que revelam que os alunos saem da escola incapazes de pensar
matematicamente, mesmo após tantos anos de estudo. Nisso, por meio da metodologia
apresentada no artigo e da citação de alguns dos diversos trabalhos produzidos pelos
membros do GTERP, é possı́vel conhecer o que se tem produzido na linha de Resolução
de Problemas, e assim, incentivar novas práticas e pesquisas na área.

Considerações Pessoais
Ao conhecer um pouco do trabalho dos membros da GTERP e entender como funciona
a Metodologia de Ensino-Aprendizagem de Matemática através da Resolução de Problemas
apresentada pelas autoras, foi possı́vel reconhecer a importância da resolução de problemas
no ensino de matemática e como esta pode ser trabalhada de diversas formas, entendo
assim a sua complexidade.

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