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Teoria de Constituição – Plano de Ensino

Conteúdo Programático
Teoria da Constituição. O Constitucionalismo. A evolução do Estado moderno. Paradigmas. Estado liberal de
direito. Estado social de direito. Estado democrático de direito. O novo constitucionalismo. A supremacia da
Constituição. Conceitos de Constituição. O estudo da teoria e da tipologia da Constituição. As funções básicas
da Constituição. O Poder Constituinte: a gênese constitucional. Norma Constitucional. A metódica. Regras e
Princípios constitucionais. Hermenêutica constitucional. Interpretação, aplicação e concretização da
Constituição.

Aplicabilidade das Normas Constitucionais - José Afonso da Silva (clássico); Thomas Kuhn (paradigmas);
Ferdinand Lassale; Konrad
Email: fernandabusanello@ufg.br
Site para concurso: dizerodireito.com.br

OBS: Leading case= caso paradigma (o caso mais importante sobre determinado tema até aquele momento).

1. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo – L. R. Barroso (Capítulo I: Constitucionalismo)


1.1. O surgimento do ideal constitucional e seu desencontro histórico
1.1.1. Surgem as leis morais, inicialmente, e depois as jurídicas, regras de conduta que reprimem
os instintos, a barbárie, disciplinam as relações interpessoais e protegem a propriedade.
1.1.2. Os romanos tornam-se os depositários dos valores racionalistas, aos quais agregaram a
criação e o desenvolvimento da ciência do Direito, tal como ainda é hoje compreendida.
1.1.3. A cultura ocidental, em geral, e a jurídica, em particular, têm sua matriz ético-religiosa na
teologia judaico – cristã e seu fundamento racional – legal na cultura greco-romana.
1.1.4. No Velo Reinado do Egito, não há qualquer registro da existência de um corpo de leis; na
Babilônia, há o Código de Hamurabi; na Pérsia, há a Lei dos Reis (lei secular) e o incentivo
à codificação das leis locais e religiosas; os hebreus possuem a Torah (a Lei Escrita) e uma
segunda fonte de Direito, o Talmud (ampla compilação da Lei Oral).
1.1.5. Constitucionalismo = Limitação de poder + Supremacia da lei (Estado de direito, Rule of
the law, Rechtsstaat).1
OBS: Constitucionalismo (limitação do poder + Estado de direito) x Democracia (governo popular e governo
da maioria).
1.1.6. Ordens de limitação do poder em um Estado constitucional2
a) Limitações Materiais: Há valores básicos e direitos fundamentais que hão de ser
sempre preservados.
b) Específica Estrutura Orgânica Exigível: As funções de legislar, administrar e julgar
devem ser atribuídas a órgãos distintos e independentes, mas que, ao mesmo tempo,
se controlem reciprocamente (Checks and Balances/ Sistema de Pesos e Contrapesos/
Princípios da Separação dos Poderes).
c) Limitações Processuais: Os órgãos do poder devem agir não apenas com fundamento
na lei, mas também observando o devido processo legal, que congrega regras tanto
de caráter procedimental3 quanto de natureza substantiva4
OBS: Na maioria dos Estados ocidentais, instituíram-se mecanismo de controle de constitucionalidade das
leis e dos atos do Poder Público, além das ordens de limitação do poder.

1
Não basta a existência de uma ordem jurídica qualquer (da vigência de Cartas Magnas/Constituições) para que esteja presente
o ideal constitucionalista, uma vez que é preciso que esta ordem seja dotada de determinados atributos e que tenha legitimidade,
a adesão voluntária e espontânea de seus destinatários. Ademais, a inexistência de uma Constituição escrita também não
configura impedimento para a manifestação do ideal constitucionalista (Reino Unido).
2 Direitos Fundamentais/DFs (direitos individuais) + Organização Tripartite dos Poderes (Cheks and Balances/ Sistema de Freios e

Contrapesos) + Normas Processuais (garantem o direito de defesa)


3
Contraditório, ampla defesa, inviolabilidade do domicílio, vedação de provas obtidas por meios ilícitos.
4
Racionalidade, razoabilidade-proporcionalidade, inteligibilidade.
1.2. Da Antiguidade Clássica ao início da Idade Moderna
1.2.1. Atenas é o primeiro grande precedente de limitação do poder político – governo de leis e
não de homens (ideia de supremacia da lei) – e de participação dos cidadãos nos assuntos
públicos, sendo o berço do ideal constitucionalista e democrático.
1.2.2. Em Roma, a estrutura jurídica e as instituições políticas eram as de uma cidade-Estado,
com as decisões concentradas em um número limitado de órgãos e pessoas5, contudo, o
poder na República era repartido por instituições que se controlavam e temiam
reciprocamente.
1.2.3. Com a derrocada da República e início da era cristã, a experiência e o ideal
constitucionalistas desaparecem do mundo ocidental até o final da Idade Média6 .
1.2.4. Nas Monarquias Absolutistas (Estado moderno)7, Jean Bodin desenvolve o conceito de
Soberania/ Poder Soberano8 com seu centro de gravidade no monarca. Thomas Hobbes,
em sua teoria contratual, acompanha o argumento de Bodin quanto à defesa da soberania
absoluta e ilimitada, enquanto John Locke transfere a soberania para o Parlamento e Jean-
Jacques Rousseau para o povo.
1.3. O Constitucionalismo Moderno9 e Contemporâneo10
1.3.1. Reino Unido
a) Magna Carta (1215): Limitação de poder (carta geral de liberdades públicas; direitos
feudais dos barões relativos a propriedade, tributação e liberdades; habeas corpus).
b) Petitions of Rights (1628)11: Limitação de poder substanciais do poder real (protestava
contra o lançamento de tributos sem aprovação do Parlamento, as prisões arbitrárias,
o uso da lei marcial em tempos de paz e a ocupação de casas particulares por
soldados).
c) Bill of Rights (1689)12: Regime de supremacia do Parlamento, com os poderes do
monarca limitados pela Declaração de Direitos (convocação regular do Parlamento; a
criação de leis, a instituição de tributos e a manutenção de exército permanente em
tempos de paz dependiam do consentimento parlamentar; imunidade parlamentar;
impedia a aplicação de penas sem prévio julgamento).
d) Modelo Institucional: Ausência de uma Constituição escrita (existência de
documentos relevantes de natureza constitucional13). Parlamento (supremacia
constitucional; indicação e destituição do Primeiro-Ministro – dissolver o Parlamento
e convocar eleições; o Poder Judiciário14 é inserido na Câmara dos Lordes; a Câmara

5
Apesar da participação dos cidadãos ser reduzida, há uma forte presença do ideal constitucionalista de limitação do poder na
divisão de funções da administração pública entre as instituições romanas: às Assembleias cabia a elaboração de leis; aos Cônsules
a atuação executiva; ao Senado ser fonte material e efetiva de poder (decisões colegiadas).
6
Há a atomização do mando político (relação de vassalagem), domínio do poder religioso (marcante abandono do direito laico).
7
O poder secular liberta-se do poder religioso, que, no entanto, continua a dar legitimação ao monarca.
8
Concebida como absoluta e indivisível, atributo essencial do poder político estatal, dela derivam as ideias de supremacia
interna e independência externa, essenciais à afirmação do Estado nacional sobre os senhores feudais, no plano doméstico, e
sobre a Igreja e o Império Romano-Germânico, no plano internacional.
9 Limitação de poder + Garantia/Concessão de direitos (sentido estrito) x Existência de uma Constituição (sentido amplo)

1ª Fase (+ importante para provas): EUA-FRA/ direitos e garantias de 1ª geração (liberdade); Liberal.*Marcos do Constitucionalismo Moderno
2ª Fase: MÉX-ALE (Weimar)/ direitos e garantias de 2ª geração (igualdade); Social.
10
Monarquia Absolutista  Monarquia Constitucionalista  Estado Liberal
11
Crise institucional resultante da disputa de poder entre a monarquia absolutista (frágil: sem exército permanente, burocracia
organizada e sustentação financeira própria) e a aristocracia parlamentar.
12
Bases do constitucionalismo moderno.
13
Magna Carta, Petition of Rights, Bill of Rights, Act of Settlement (1701) e Human Rights Act (1998).
14
Dotado de independência e garantias, sofreu significativas modificações com a aprovação de duas leis constitucionais: o Human
Rigths Act (1998), que incorporou os direitos previstos na Convenção Europeia de Direitos Humanos (consequência direta do país
na EU e da importância do direito comunitário e suas instituições + codificação de princípios já observados no Common Law); e o
Constitutional Reform Act (2005), que o reorganizou ao lhe dar mais autonomia em relação ao Parlamento e ao criar uma Corte
Constucional. A primeira lei permitiu a declaração de incompatibilidade, no caso concreto, entre uma lei e os direitos
fundamentais/DHs previstos no novo Estatuto, acarretando em um efeito político (não gera controle de constitucionalidade). A
dos Comuns é a principal casa legislativa e política). Coroa (funções
predominantemente cerimoniais e simbólicas). Governo (Primeiro-Ministro +
Gabinete; funções administrativas e políticas).
e) Constituição Inglesa15 = Convenções (práticas consolidadas ao longo dos séculos no
exercício do poder político, incluindo sua organização e a repartição de competências)
+ Leis Constitucionais16 (atos do Parlamento e têm natureza constitucional não em
razão da forma de votação, mas do seu conteúdo - por lidarem com matérias afetas
ao poder político e aos direitos fundamentais).
OBS: A supremacia do Parlamento17 é o maior princípio constitucional e não a supremacia da Constituição.
OBS: Controle de Constitucionalidade
1.3.2. Estado Unidos da América
a) Razoável autonomia política: Tradição inglesa de poder contido e institucionalizado;
Governador designado por Londres; Corpo legislativo eleito localmente; Judiciário
independente.
b) Imposições tributárias e restrições às atividades econômicas: Stamp Act (1765),
Massacre de Boston (1770) e Boston Tea Party (1773).
c) Primeiro Congresso Continental (1774): Início da reação organizada contra à Coroa
britânica.
d) Segundo Congresso Continental (1775-78): Constituição de um exército organizado;
as ex colônias foram estimuladas a adotar constituições escritas; designou-se uma
comissão para elaborar a Declaração de Independência (1776)18.
e) Convenção Constitucional/ da Filadélfia (1787): Aprovada a primeira Constituição
escrita do mundo moderno, significando a independência das colônias; a superação
do modelo monárquico; a implantação de um governo constitucional, fundado na
separação de Poderes, na igualdade e na supremacia da lei; uma nova forma de
organização do Estado, a Federação, que permitiu a convivência dos dois níveis de
poder, federal e estadual. Uma declaração de direitos só foi introduzida com as dez
primeiras emendas (Bill of Rights/1787).
f) Constituição Americana = 7 artigos + 27 emendas: Modelo de separação nítida entre
Executivo, Legislativo e Judiciário, em um Estado republicano e sob o sistema
presidencialista. As competências legislativas da União são limitadas, cabendo à
legislação estadual reger o dia a dia das pessoas.
g) Sistema Jurídico: Tradição do Common Law, em que os tribunais têm um amplo poder
de criação e adaptação do Direito, possibilitando uma concepção, em sentido e em
alcance, da Constituição diferente da original (plasticidade para se adaptar a novas
realidades). A brevidade do texto constitucional e suas cláusulas gerais deram à
Suprema Corte um papel privilegiado na interpretação e definição das instituições e
dos valores da sociedade americana19.
h) Presidente da República: Principal liderança política e chefe da Administração Pública;
mandato de 4 anos, admitida uma reeleição; via indireta mediante voto de delegados

segunda lei criou uma Corte Constitucional fora do Parlamento e independente a ele; esvaziou as funções judiciais da Câmara dos
Lordes e do Lorde Chanceler.
15
Por não se materializar em um texto escrito, tem natureza flexível, podendo ser modificada por ato do Parlamento 15.
16
Nas últimas duas décadas, intensificou-se a produção legislativa do Parlamento, em um progressivo processo de transformação
do direito constitucional inglês em direito legislado.
17
Democracia de Westminster: Democracia parlamentar inglesa em que o Parlamento pode criar e revogar qualquer lei; nenhuma
lei votada pelo Parlamento pode ser afastada ou invalidada por outro órgão; não há uma lei superior à vontade do Parlamento e,
consequentemente, não existe controle de constitucionalidade.
18
Igualdade, liberdade (principal princípio: autonomia da vontade), propriedade e felicidade.
19
A Suprema Corte define as competências e prerrogativas do próprio Judiciário, do Legislativo e do Executivo; demarca os
poderes da União e dos estados dentro do sistema federativo; estabelece o sentido e alcance de princípios fluidos, como devido
processo legal (procedimental e substantivo) e igualdade perante a lei; assegura liberdades fundamentais; traça os limites entre
a atuação do Poder Público e da iniciativa privada em matéria econômica.
partidários designados por cada um dos estados, de acordo com o voto popular ali
manifestado; chefe supremo das Forças Armadas e, com a aprovação do Senado,
nomeia os principais agentes públicos do país; exerce poderes normativos (rules,
regulations e Executive orders) e participa do processo legislativo, através do envio de
projetos e do exercício do poder de veto à legislação aprovada pelo Legislativo,
destituição mediante impeachment. Poder Legislativo: Congresso (competências de
investigação e fiscalização), sistema bicameral = Câmara dos Representantes
(proporcional ao número de hab./estado; 2 anos; sistema majorita1rio distrital) +
Senado (órgão de representação dos estados; 2 senadores/estado; 6 anos; presidido
pelo vice-presidente da República; deliberação final acerca dos tratados firmados pelo
Poder Executivo.
OBS: Common Law (Jurisprudência – ING/EUA) x Civil Law (Lei – FRA/ALE/POR).
OBS: A extraordinária experiência constitucional americana deve ser vista como um caso especial, e não
como um modelo universal ou paradigma).
1.3.3. França20
a) Constituição de 1799/ do ano VIII: Forma jurídica ao regime de Consulado (mando
pessoal de Napoleão). Consolidação do sufrágio universal, soberania popular,
separação de Poderes, proteção dos direitos individuais (liberdades públicas,
igualdade formal e propriedade privada).
b) Carta de 1814: Restauração monárquica e ascensão de Luís XVIII. Reforma em 1830.
c) Constituição de 1875: Terceira República (1875-1940).
d) Constituição de 1946: Quarta República, com modelo parlamentar em que o
Presidente, eleito indiretamente, não detinha poderes efetivos.
e) Constituição de 1958: Quinta República. Ampliação dos poderes presidenciais;
sistema de governo semipresidencialista, fundado na soberania popular, separação
de Poderes e nos direitos individuais (Declaração de 1789 + Preâmbulo da
Constituição de 1946).
f) Pode Executivo = Presidente da República21 (chefe de Estado; 7 anos; sufrágio direto
e universal; nomeia o PM, presidencia o Conselho de Ministros, dissolve a Assembleia
Nacional, comando das Forças Armadas, negociação de tratados) + Primeiro Ministro
(chefe do governo e da administração; competência para formular a política nacional,
propor projetos de lei, dar cumprimento às leis, exercer o poder regulamentar e
nomear agentes públicos civis e militares).
g) Poder Legislativo: Parlamento = Assembleia Nacional (última palavra no processo
legislativo; promove a responsabilização política do governo; voto direto; 5 anos) +
Senado (representação das coletividades territoriais; voto indireto; 9 anos);
imunidade material e processual; votar leis.
h) Judiciário: Mais um departamento especializado do que um verdadeiro Poder (cabe
ao Presidente garantir “a independência judicial”, apesar de ser a própria supremacia
presidencial que poder ensejar a ingerência indevida). Jurisdição Judicial (Corte de
Cassação) + Jurisdição Administrativa (Conselho de Estado, com atribuição de julgar,
em última instância, os litígios entre os particulares e o Estado ou qualquer outra
pessoa pública; é o mais alto órgão consultivo do governo, mas sem pareceres
vinculantes). Conselho Constitucional22 (competências de órgão eleitoral e de juiz
constitucional, ao qual deve, ser submetidas, obrigatoriamente, as leis orgânicas e os

20
Estado Liberal: inspiração dos ideais da Independência norte-americana (supremacia dos direitos individuais).
21
O sistema enseja preponderância do Presidente da República.
22
Reforma constitucional promovida pela Lei n. 2008-724/ Lei de Modernização das Instituições da V República inovou no controle
de constitucionalidade exercido pelo Conselho Constitucional: introduziu uma modalidade de fiscalização de constitucionalidade
a posteriori, isto é, após a promulgação e vigência da lei, passando a permitir que o Conselho de Estado ou a Corte de Cassação
submetam aos Conselho de Constitucional a discussão acerca da constitucionalidade de uma lei que, alegadamente, atente contra
direitos e liberdades garantidos pelos texto constitucional.
regimentos das assembleias parlamentares; demarcar competências entre a lei, ato
do Parlamento e o regulamento/ ato de governo; manifestar-se acerca da
compatibilidade de acordos internacionais com a Constituição).
1.3.4. Alemanha
a) Constituição do Império (1871)
b) Constituição de Weimar (1919): Influências ideológicas diversas. Organização do
Estado alemão, disciplinando a relação entre os entes federativos e entre os Poderes.
Estabelece direitos fundamentais (direitos individuais/ origem liberal + direitos
sociais/ proteção do trabalhador e direito à educação). Marco do constitucionalismo
social23, embora jamais tenha logrado verdadeira efetivação.
c) “Lei de Autorização” (1933): Edição de leis diretamente pelo governo imperial (pelo
chanceler), ainda quando divergissem do texto constitucional24.
d) Lei Fundamental da República Federal da Alemanha (1949): Reafirmação dos valores
democráticos, enuncia os direitos fundamentais, não há previsão clara de direitos
sociais (cláusula do Estado Social + eficácia irradiante dos direitos fundamentais +
teoria dos deveres de proteção). Forma federativa (repartição de competências entre
Governo Federal e estados prevê a existência de atribuições privativas e
concorrentes)25.
e) República Parlamentar: Princípio da Supremacia da Constituição. Separação de
Poderes (superposições próprias do parlamentarismo).
f) Poder Legislativo = Parlamento Federal (órgão da representação popular; principal
casa legislativa; voto direto) + Conselho Federal (órgão de representação dos Estados;
membros nomeados pelos governos estaduais).
g) Sistema eleitoral: Distrital misto (o primeiro voto do eleitor é dado a um candidato
que concorre no distrito, em uma eleição pelo sistema majoritário, realizado no
âmbito de cada circunscrição eleitoral; e o segundo dado a um partido, em lista
fechada, em uma eleição proporcional).
h) Poder Executivo = Presidente da República (chefe de Estado; 5 anos; via indireta; pela
Assembleia Nacional) + Governo Federal (Primeiro Ministro/ Chanceler + Ministros do
gabinete; política interna).
i) Poder Judiciário: Independência dos juízes, submetidos apenas ao Direito, com
supervisão administrativa pelo Ministério da Justiça. Cinco tribunais federais
superiores (financeiro, trabalhista, social, administrativo e federal), encarregados da
uniformização das decisões em cada uma das áreas em que se divide a jurisdição. O
controle de constitucionalidade é exercido de forma concentrada (Tribunal
Constitucional Federal26 + Tribunais/ Cortes Constitucionais Estaduais)27.
1.4. O constitucionalismo no início do século XXI
1.4.1. Século XIX: Estado de direito. Primeiras constituições escritas28 (repartição e limitação do
poder, proteção dos direitos individuais).

23
Rompimento com o Estado Liberal.
24
Quanto mais decretos um governo elabora, maior o caráter despótico.
25
Inspiração para o constituinte brasileiro de 1988.
26
Controle abstrato de constitucionalidade, que tem por objeto a discussão em tese de norma federal ou estadual impugnada em
face da Lei Fundamental (limita-se ao Governo Federal, aos Governos estaduais e a pelo menos 1/3 dos membros do Parlamento).
Controle concentrado de constitucionalidade (caso qualquer juízo ou tribunal, no exame de um caso concreto, admita a arguição
de inconstitucionalidade de uma lei federal, deverá suspender o processo e encaminhar a questão constitucional para ser decidida
pelo Tribunal Constitucional Federal). Julgamento da queixa constitucional, notadamente nas questões envolvendo violação de
direitos fundamentais por autoridade pública, podendo ser impugnados por essa via decisões judiciais, administrativas e atos
legislativos.
27
O tribunal não funciona como corte de cassação ou revisão das decisões dos tribunais inferiores, pois sua atuação se restringe
à jurisdição constitucional, não lhe cabendo a interpretação ou aplicação do direito infraconstitucional aos casos concretos.
28
Cenário: Estado Liberal (ficção).
1.4.2. Século XX: Estado democrático de direito29 (ideia de fonte legítima de poder/ quem
decide; representação política/ como decide; conteúdo das obrigações negativas e
positivas dos órgãos de poder/ o que pode e não pode ser decidido).
1.4.3. Século XXI: O constitucionalismo democrático ainda se debate com as complexidades da
conciliação entre soberania popular e direitos fundamentais, entre governo da maioria e
a vida digna, entre liberdade para todos em um ambiente de justiça, pluralismo e
diversidade.
OBS: Gerações de Direitos Humanos – Bobbio (Crítica: a ideia de ”geração” passa a impressão que a cada
nova geração, os direitos surgidos nas anteriores já estão garantidos a todos)
1a Geração = Direitos Individuais/ de Liberdade (formais)30 e Políticos/ Civis (Estado Liberal/ não
intervencionista/ o Estado não tem obrigações de intervir nas questões socioeconômicas).
2a Geração = Direitos Sociais (Estado de Bem-Estar Social)31.
3a Geração = Direitos de titularidade da comunidade (ex: ambientais, de solidariedade).
4a Geração = Direitos Universais, oriundos da globalização dos direitos humanos (ex: de participação
democrática, ao pluralismo, aos limites da manipulação genética).
OBS: Federação (autonomia relativa ao poder central, sem o poder de separação) x Confederação
(autonomia ao poder central, com o poder de separação).
2. Da Liberdade dos Antigos Comparadas à dos Modernos – Benjamin Constant
2.1. Liberdade (nações modernas)
2.1.1. É para cada um o direito de não se submeter senão às leis. É para cada um o direito de
dizer sua opinião; de dispor de sua propriedade; de ir e vir, sem necessitar de permissão
e sem ter que prestar conta de seus motivos ou de seus passos. É para cada um o direito
de reunir-se a outros indivíduos. É o direito, para cada um, de influir sobre a administração
do governo, seja pela nomeação de todos ou de certos funcionários, seja por
representações, petições, reivindicações, às quais a autoridade é mais ou menos obrigada
a levar em consideração.
2.1.2. O indivíduo, independente na vida privada, mesmo nos Estados mais livres, só é soberano
em aparência.
2.1.3. No mundo moderno, uma massa de homens existe agora sob diferentes nomes, sob
diversos modos de organização social, mas essencialmente homogênea. Ela é
suficientemente esclarecida para não querer fazer a guerra. Sua tendência é a paz.
2.1.4. O comércio é hoje a condição normal, o fim único, a tendência universal, a verdadeira vida
das nações. Já a guerra, mesmo que feliz, custa infalivelmente mais do que vale.32
2.1.5. A extensão de um país diminui muito a importância política que toca, distributivamente,
a cada indivíduo: a influência pessoal de um simples cidadão é um elemento imperceptível
da vontade social que imprime ao governo sua direção.
2.1.6. A abolição da escravatura privou a população livre de todo o lazer que o trabalho dos
escravos lhe permitia.
2.1.7. O comércio não deixa, como a guerra, intervalos de inatividade na vida do homem: a
ociosidade só acarretaria perturbações e cansaço às nações modernas.

29
Estado de direito: existência de algum tipo de ordem legal cujos preceitos materiais e procedimentais sejam observados tanto
pelos órgãos de poder quanto pelos particulares (sentido formal). Estado democrático: ideia de governo da maioria e de respeito
aos direitos individuais, realizáveis mediante abstenção ou cumprimento de deveres negativos pelo Estado (sentido formal); alma
do Estado constitucional de direito, governo da maioria e para todos (sentido material), com respeito dos direitos individuais e
promoção de outros direitos fundamentais, de conteúdo social, necessários ao estabelecimento de patamares mínimos de
igualdade material, sem a qual não existe vida digna nem é possível o desfrute efetivo da liberdade. Concluiu-se que é possível
ser formalmente uma democracia, mas materialmente um governo totalitário, despótico, autoritário.
30
Os Direitos Formais são os surgidos no Estado Liberal, não garantem o bem-estar social.
31
Constituição Mexicana de 1917 (1a Constituição a apreciar; Constituição de Weimar 1919 (2a Constituição a apreciar). Não é
possível garantir todos os direitos a todos (Estado fadado ao fracasso – N. Luhman).
32
A guerra e o comércio nada mais são do que dois meios diferentes de atingir o mesmo fim: o de possuir o que se deseja. A
guerra, isto é, o emprego da força contra a força de outrem, o expõe a resistências e malogros diversos – que o leva a recorrer
ao comércio, ou seja, a um meio mais brando e mais seguro de interessar o adversário em consentir no que convém à sua casa.
2.1.8. O comércio inspira aos homens um forte amor pela independência individual: ele atende
às necessidades, aos desejos pessoais, sem a intervenção da autoridade.  Exercício
pacífico da independência privada
2.1.9. Maior apego à independência individual, pois o sacrifício desta aos direitos políticos
significaria dar mais para obter menos.
2.1.10. Os objetivos dos modernos é a segurança dos privilégios privados; e eles chamam
Liberdades as garantias concedidas pelas instituições a esses privilégios.
2.1.11. A independência individual é a primeira das necessidades modernas. Consequentemente,
não se deve nunca pedir seu sacrifício para estabelecer a liberdade política. Os indivíduos
têm direitos que a sociedade deve respeitar e a influência individual está perdida numa
quantidade de influências, iguais ou superiores, que toda a opressão, motivada na
necessidade de diminuir essa influência, é inútil e, consequentemente, injusta.
2.1.12. A liberdade política é a garantia da liberdade individual e é, portanto, indispensável. Mas
pedir aos povos de hoje para sacrificar, como os de antigamente, a totalidade da segunda
à primeira é o meio mais seguro de afastá-los da segunda, com a consequência de que,
feito isso, a primeira não tardará a lhe ser arrebatada.
2.1.13. Possuímos ainda hoje os direitos que tivemos sempre, os direitos eternos de aceitar as
leis, de deliberar sobre nossos interesses, de ser parte integrante do corpo social do qual
somos membros. Mas os governos têm novos deveres.
a) Não é a segurança que é preciso enfraquecer, é a regalia que é preciso aumentar. Não
é à liberdade política que desejo renunciar; é à liberdade civil que reclamo junto com
outras formas de liberdade política.
b) A contenção de autoridade, que se mantém em seus estritos deveres, atém-se
também a seus interesses bem entendidos; pois a liberdade que convém aos
modernos é diferente da que convinha aos antigos, o despotismo que era possível
entre estes não é mais possível entre os modernos.
c) Do fato de que estamos muitas vezes mais descuidados com a liberdade política do
que eles podiam estar, e, em nossa condição costumeira, menos apaixonados por ela,
pode-se concluir que negligenciamos demais às vezes, e sempre sem motivos, as
garantias que ela nos assegura; mas ao mesmo tempo, como buscamos muito mais a
liberdade individual do que os antigos, nós a defenderemos, se for atacada, com muito
mais ímpeto e persistência; e possuímos para a defesa meios que os antigos não
possuíam.
3. Marbury vc Madison (1803)
3.1. O peticionário tem o direito de tomar posse?
3.2. Se ele tem o direito e ele é violado, por qual remédio
3.3. Qual é o papel da Suprema Corte? Corte Recursal ou Corte Originária? Conflito entre a norma
constitucional e a infraconstitucional acerca da competência da Corte para julgar o caso,
decidindo pela Supremacia da Constituição (início do controle difuso de constitucionalidade) e a
pela nulidade do caso em que houver tal conflito normativo.
4. Constituição: Ideário do Constitucionalismo (separação de poderes + DFs) + Concentra seu foco no
sujeito de direito (proteção do indivíduo até mesmo contra o próprio Estado)  Todos escritos e não
escritos que concretizam as normas.
4.1. Constituição em sentido formal: Qualquer norma que está na CF (processo constituinte
originário + forma de norma constitucional).
4.2. Constituição em sentido material (conteúdo): Somente as normas, que pelo conteúdo
(portam os valores principais da sociedade), merecem estar no topo da hierarquia normativa.
4.3. Conter o poder (1o momento); Fazer justiça social (2o momento) – Estado interventor e
prestador de serviços.
4.4. Sujeito de direito  Autonomia da vontade  Estado Liberal.
5. Classificação das Constituições
5.1. Escritas: Constituições dogmáticas, que têm um texto normativo, de modo que as normas
constitucionais são sistematizadas em um documento designado de Constituição (normas
efetivamente positivados pelo legislador).
5.1.1. Democráticas/ Promulgadas/ Populares/ Votadas33: Resultam, na sua origem, de um
processo democrático no que diz com a sua elaboração e aprovação, sendo, portanto,
resultado da expressão da vontade popular, exercida por meio da formação de uma
assembleia constituinte eleita e autônoma.
5.1.2. Outorgadas34/Não democráticas: Não decorrem de um processo democrático, mas de um
ato autoritário, traduzido pela imposição de uma nova constituição escrita por uma
pessoa que exerce o poder político ou um grupo, ou seja, há uma imposição unilateral,
sem qualquer consulta popular, por parte dos detentores do poder.
5.1.3. Pactuadas35: Exprimem um compromisso entre a monarquia debilitada e outras forças
sociais e políticas, resultando numa relação de equilíbrio precário, de modo que se trata
de constituições em geral instáveis, em que se buscam resguardar determinados direitos
e privilégios.
5.2. Não escritas: Constituições históricas ou costumeiras, que não estão contidas em um único
documento, mas em documentos diversos e/ou costumes e precedentes judiciais (textos
esparsos) que, no seu conjunto, formam a constituição e resultam, em geral, de um processo de
sedimentação histórica.
5.3. Rígidas: O texto constitucional só pode ser alterado mediante procedimento mais rigoroso do
que aquele estabelecido para a alteração da legislação ordinária (infraconstitucional).
Superioridade das normas constitucionais sobre as demais formas legislativas, não podendo tais
constituições ser modificadas pelo mesmo procedimento adotado pelas demais leis (supremacia
formal das normas constitucionais sobre o direito infraconstitucional).
5.4. Flexíveis/ Legais/ Plásticas: O texto constitucional pode ser alterado pela legislatura ordinária
mediante procedimento idêntico ao utilizado para alteração das leis. Inexiste a hierarquia formal
entre constituição e legislação ordinária (o legislador ordinário pode alterar o texto
constitucional).
5.5. Semirrígidas: A constituição tem uma parte rígida36 e uma parte flexível, ou seja, parte do
texto constitucional está submetida a um procedimento agravado (mais rigoroso) de alteração,
ao passo que o restante do texto pode ser alterado mediante o mesmo procedimento previsto
para a legislação infraconstitucional.
5.6. Sintéticas/ Concisas/Breves/ Sucintas: Constituições compostas por um número
relativamente reduzido de dispositivos, limitando-se a estabelecer alguns princípios e regras
básicas sobre a organização do Estado e do poder e da relação do Estado com os cidadãos,
contemplando, em geral, uma parte orgânica e um catálogo relativamente conciso de direitos e
garantias fundamentais, tratando-se, portanto, de constituições que no plano formal
(documental) contemplam a matéria constitucional em sentido estrito.
5.7. Analíticas/ Prolixas/ Extensas: As Constituições são formadas por textos longos, minuciosos,
dotados, além de disposições normativas de caráter principiológico, de muitas regras mais ou
menos escritas.
5.8. Normativas (Constituição com normas que se adequam/ aproximam à realidade):
Perfeitamente adaptadas à realidade social, pois, além de juridicamente válidas, estariam em

33
Constituições de 1891, 1934, 1946, 1988.
34
Constituições Cesaristas: O detentor despótico do poder (exercido de modo unipessoal por um ditador ou monarca ou por
determinado grupo hegemônico) submete a constituição por ele (ou a seu comando) elaborada à aprovação popular,
manipulando e induzindo a opinião pública. Ex: Constituição Napoleônica
Constituições Outorgadas: 1824, 1937, 1967, 1969.
35
Magna Carta Inglesa (1215).
36
DOE: Direitos e Garantias Fundamentais + Organização do Estado (função da União-Estado-Município) + Estruturação dos
Poderes (função do Legislativo-Judiciário-Executivo)  Normas materialmente constitucionais.
total consonância com o processo político e social, no sentido de uma adaptação e submissão do
poder político à constituição escrita.
5.9. Nominais (Constituição com normas jurídicas sem eficácia, falseando o caráter sociológico):
Juridicamente válidas, mas carecem de eficácia e efetividade, pois a dinâmica do processo político
e social não está adaptada às suas normas. Têm função educativa, pois aspiram a se transformar,
no futuro, em constituições normativas.
5.10. Semânticas (Constituição com normas jurídicas que garantem, explicitamente, os direitos dos
poderosos): Documento formal que foi criado para beneficiar os detentores do poder, que
dispõem do aparato coercitivo do Estado. Em vez de instrumento de limitação do poder, servem
para estabilizar e mesmo eternizar o domínio dos detentores do poder.
5.11. Formal: É o conjunto das normas com forma de constituição, no sentido das normas
elaboradas pelo poder constituinte e agregadas pelo poder de reforma constitucional, dotadas
de hierarquia constitucional. A constituição em sentido formal é, assim, direito constitucional
“legislado” (produzido pelo poder legislativo, fonte legal, direito positivado), definindo-se por sua
elaboração e a sua forma pela qual as normas constitucionais são veiculadas (ou seja, terem sido
produzidas com forma e valor jurídico de constituição).
5.12. Material: Abrange não apenas as normas ancoradas na constituição formal, portanto,
veiculadas (expressa ou implicitamente) pela constituição escrita, tal como elaborada pelo poder
constituinte formal e mediante à reforma constitucional, mas vai além, é um conjunto de regras
(escritas ou não) sobre o modo de estruturação, organização e exercício do poder político e da
vida social, no sentido de uma institucionalização jurídica do poder. A constituição material, seja
ou não regulada num texto constitucional, é composta pelas normas fundamentais a respeito da
estruturação, organização e exercício do poder; pelos direitos e garantias fundamentais; pelas
normas sobre a garantia da constituição.
5.13. Direito constitucional apenas em sentido formal (fragilizam e esvaziam a força normativa da
constituição por não terem razão material de estarem no CF): Existência de normas que não
integram a constituição material, ou seja, normas que seriam apenas formalmente
constitucionais, por terem sido inseridas no texto constitucional pelo poder constituinte.
OBS: Quanto à Forma/ Quanto à Origem/Quanto à Rigidez/Estabilidade do texto constitucional/ Quanto à
Extensão/ Quanto à Realidade (classificação ontológica)/ Quanto ao Conteúdo
OBS: A CF/1988 é escrita, democrática, rígida, analítica, normativa + nominal + semântica, formal + material
OBS: As Constituições são a soma dos fatores reais de poder.
6. Conceito e Características do Direito Constitucional
6.1. Constituição: É um corpo de normas jurídicas (regras e princípios) qualificado por seu
conteúdo e por sua função, as quais, estando ou não corporificadas em um documento (ou
conjunto de documentos) assumem uma posição diferenciada e privilegiada em relação às
demais normas jurídicas, portanto, às normas que não são constitucionais.
6.1.1. Constituições escritas/ normativa: Elaboradas mediante um processo constituinte, que
implica a distinção entre um poder constituinte e poderes constituídos; em geral, em um
documento chamado de constituição; em ser a fonte principal do direito constitucional,
na sua condição de direito objetivo e fundamentado.
6.1.2. Constituição (definição geral): Conjunto das normas jurídico-constitucionais, estejam elas
ou não contidas na constituição formal (no documento elaborado e promulgado como
constituição pelo poder constituinte), mas que constituem parte integrante da
constituição normativa, inclusive, quando for o caso, na condição de normas apenas
materialmente constitucionais.
6.2. Direito Constitucional x Direito Infraconstitucional: Tal distinção se dá não apenas pelo objeto
e funções da constituição e do direito constitucional, mas também pela sua hierarquia, a natureza
de seus preceitos e as condições de sua eficácia e efetividade, que, no seu conjunto, determinam
as características que asseguram a peculiaridade do direito constitucional no quadro normativo
estatal (Konrad Hesse).
6.3. Características do Direito Constitucional
6.3.1. 1ª (Principal): Supremacia hierárquica, no sentido de que as normas constitucionais
prevalecem em relação a toda e qualquer forma normativa (incluídas as leis elaboradas
pelo Poder Legislativo) e todo e qualquer ato jurídico na esfera interna da ordem estatal.
Tal característica corresponde ao postulado de Supremacia da Constituição, sendo a
constituição a expressão da vontade de um poder constituinte, já que as normas
constitucionais encontram seu fundamento de validade na própria constituição
(autoprimazia normativa), e não em alguma fonte normativa que lhes seja externa ou
superior, do que resulta não apenas a distinção entre direito constitucional e direito
ordinário, mas também o postulado da Constitucionalidade das Leis e Atos Normativos
Infraconstitucionais, que não poderão, portanto, estar em desconformidade com a
constituição. Assim, essa Supremacia Hierárquico-Normativa é o pressuposto da função
da Constituição como ordem jurídica fundamental e implica que o direito constitucional
não poderá, em hipótese alguma, ser revogado ou alterado pelas normas
infraconstitucionais.
6.3.2. 2ª: Caráter autogarantista do direito constitucional, ou seja, no fato de que o direito
constitucional não possui uma instância que lhe seja superior e externa (órgão
supraestatal) e que possa assegurar a sua eficácia e efetividade, pois é a própria
constituição, mediante o direito constitucional (suas regras e princípios), que deve
assegurar-se, estando, portanto, limitada às suas próprias forças e garantias37.
OBS: A Supremacia da Constituição depende, em termos gerais, da voluntária submissão dos órgãos
constituídos ao caráter vinculante do direito constitucional e de que todos os órgãos e agentes estatais
reconheçam e efetivamente assumam a responsabilidade de fazer valer a constituição, temática que, por
sua vez, guarda relação com o problema da força normativa da constituição.
7. Curso de Direito Constitucional – Gilmar F. Mendes, Paulo G. G. Branco
7.1. Conceito de Constituição38
7.1.1. O Direito Constitucional enfrenta a polêmica e as dificuldades das noções plurívocas,
sendo que em sentido amplo, o conceito de Constituição torna-se inútil para o jurista.
7.1.2. Teoria Sociológica39 (Ferdinand Lassale): Enfoque sociológico da Constituição, sendo esta
a soma dos fatores reais de poder que coexistem numa sociedade, incluindo os interesses
e grupos que estão em condições fáticas de impor a sua vontade. Desse modo, se a
Constituição, documento escrito, não espelhar fielmente tal paralelogramo de forças
opostas e eficazes, não será de serventia alguma, não passando de um pedaço de papel.
Portanto, carece de toda perspectiva normativa, não convindo às especulações do Direito
Constitucional, pois é necessário que este seja carregado de ideologia do
constitucionalismo (assegurador das liberdades e garantias fundamentais).
7.1.3. Em sentido Substancial/ Material (conteúdo): A Constituição será o conjunto de normas
que instituem e fixam as competências dos principais órgãos do Estado, estabelecendo
como serão dirigidos e por quem, além de disciplinar as interações e controles recíprocos
entre tais órgãos. Compõem tal texto também as normas que limitam a ação dos órgãos
estatais, em benefício da preservação da esfera de autodetermição dos indivíduos e
grupos que se encontram sob a regência desse Estatuto Político (direitos fundamentais).
a) Teoria Normativa (Konrad Hesse): A Constituição não tem por função apenas retratar
a realidade ou erigir a arquitetura normativa básica do Estado, mas também a função
de estabelecer como deve ser a realidade, prevendo e resguardando princípios

37
Constituem exemplos correntes de como as constituição se asseguram: o procedimento agravado estabelecido para a alteração
do seu texto (rigidez constitucional); a previsão de limites materiais ao poder de reforma; a separação dos poderes; a criação de
uma jurisdição constitucional capaz de zelar pela conformidade do direito ordinário e demais atos jurídicos em relação às normas
constitucionais.
38
Constituição: Todas as normas jurídicas, escritas ou não, que trazem todos os princípios essenciais de uma sociedade.
39
Constituição real x Constituição escrita: A realidade é a soma dos fatores reais do poder e se não corresponder à realidade é
apenas um pedaço de papel.  A CF deriva dos fatos sociais
Forças ativas de poder = a Constituição precisar ter essência política para poder ter efetividade na realidade.
fundamentais do ordenamento jurídico. A Constituição é o plano estrutural básico,
orientado por determinados princípios que dão sentido à forma jurídica de uma
comunidade (contatos das pessoas e grupos sociais entre si e relação indivíduo-
Estado).
b) O conceito material de Constituição segue a inteligência sobre o papel essencial do
Direito e do Estado na vida das relações em uma comunidade. A Constituição, como
ordem juri ́dica fundamental da comunidade, abrange, hoje, as normas que organizam
aspectos básicos da estrurura dos poderes públicos e do exerci ́cio do poder, normas
que protegem as liberdades em face do poder pú blico e normas que tracejam
fórmulas de compromisso e de arranjos institucionais para a orientação das missoões
sociais do Estado, bem como para a coordenação de interesses multifários,
caracteri ́sticos da sociedade plural.
c) Força Normativa = Supremacia das normas jurídicas constitucionais/ Superioridade
hierárquica (1a característica) + Autogarantias (2a característica/ as normas
constitucionais precisam resguardarem-se na própria CF) + Conceito normativo (as
normas constitucionais precisam ser declaradas/conceituadas como tais na CF)  A
CF deriva da Norma (essência jurídica).
7.1.4. Em sentido Formal (forma)40: É o documento escrito e solene que positiva as normas
jurídicas superiores da comunidade do Estado, elaboradas por um processo constituinte
específico. São constitucionais todas as normas que aparecem no Texto Magno, que
resultam das fontes do direito constitucional, independentemente de seu conteúdo.
a) Teoria Contratualista (J. H. Meirelles Texeira/ Miguel Reale): Não se pode limitar a
Constituição a apenas uma concepção, é necessário estabelecê-la como uma mescla
de todas as outras concepções. Isso se justifica, pois há espaço para que surjam
costumes integrativos de preceitos escritos, que os esclareçam ou mesmo que os
ajustem às evoluções do tempo, tendo em vista que a Constituição não é um sistema
fechado. Isto é, o direito é um Objeto Cultural - não vem dos fatos sociais ou das
normas – e tem seu Valor dado socialmente. Os Valores são atemporais, bipolares (a
um valor sempre se acopla um desvalor) e são atribuídos, pelo direito, a determinadas
normas (estabelece-se o Valor que a sociedade deve realizar/proteger).
OBS: O sentido material é mais importante do que o formal para determinar se uma norma é ou não
constitucional. (Sarlet).
OBS: Fontes de Direito = Magna Carta (principal) + Jurisprudência (complementar) + Costume praeter legem-
secudum legem (complementar).
OBS: Teoria Tridimensional do Direito (Fato-Valor-Norma).

8. Curso de Direito Constitucional – André R. Tavares


8.1. O constitucionalismo brasileiro, no período colonial, esteve ligado ao português e à carta
magna de Portugal (Constituição Vintista), esta, por sua vez, influenciada pelos valores liberais da
Revolução Francesa.
8.2. Constituição de 1824 (Império)
8.2.1. Outorgada: Confronto entre os poderes da Assembleia (concebida como plenamente
soberana e independente mesmo com a Monarquia presente) e do Imperador culminou
na dissolução daquela por um verdadeiro golpe nos caminhos constitucionais e
democráticos recém-adotados no Brasil. A redação do novo projeto da Constituição coube
a um Conselho de Estado, instituído pelo Imperador.
8.2.2. Ideário francês e inglês-português: Ideologia liberal (direitos individuais e divisão dos
poderes)  1ª CF do mundo a abranger esses direitos

40
É devedor das postulações do constitucionalismo, no ponto em que enaltece os méritos da Constituição documentada, escrita
como forma, não somente de melhor acesso aos seus comandos, como de estabilidade e racionalização do poder.
8.2.3. Estado Unitário: Limitação da autonomia das províncias (dos estados e dos munícipios)
frente ao governo central (União).
8.2.4. 4 Poderes (Benjamin Constant): Legislativo, Judiciário, Executivo e Moderador (objetivo
de resguardar o equilíbrio entre os demais poderes)41  Centralização de poder (caráter
anti-constitucionalista)
8.2.5. Estado Católico.
8.2.6. Analítica: grande detalhamento.
8.2.7. Escrita.
8.2.8. Materialmente Constitucional: Somente algumas matérias tinham status constitucional
material (as partes formais, mesmo estando no texto constitucional, não são
constitucionais).
8.2.9. Semirrígida (Benjamin Constant): Caráter materialmente constitucional, que permite a
modificação das partes constitucionais formais e não permite a modificação das partes
materiais (limites e atribuições respectivas dos Poderes Políticos, e aos Direitos Políticos
e individuais dos cidadãos) – Art. 178
8.2.10. Parlamentarismo: Alteração constitucional informal.
8.2.11. Controle difuso de constitucionalidade.
8.2.12. Direitos políticos aos homens >25anos, com renda mínima de 100.000 réis. Lei Saraiva
proibiu o voto aos analfabetos.
8.2.13. Lei Aurea (art. 179): Ineficaz.
8.3. Constituição de 1891 (República Velha)
8.3.1. Declínio do Império.
8.3.2. Promulgada: Obra de 2 poderes constituintes, a Assembleia Constituinte (Congresso
Nacional) e o Decreto n. 1 de Ruy Barbosa (Governo Provisório).
8.3.3. Influência norte-americana.
8.3.4. República Federativa Presidencialista: Independência das províncias, elevando-as a
Estados, ligados pelo vínculo da mesma nacionalidade e da solidariedade dos grandes
interesses da representação e da defesa exterior. Contudo, havia a possibilidade de
intervenção federal nos estados.
8.3.5. 3 Poderes: Legislativo, Judiciário e Executivo.
8.3.6. Estado laico.
8.3.7. Habeas corpus.
8.3.8. Controle de constitucionalidade difuso (Marbory x Madison).
8.3.9. Sintética.
8.3.10. Rígida: Dificuldade formal para o processo de reforma constitucional.
8.3.11. Laboratório Constitucional (caráter semântica): As formas de construção liberal
esclerosaram-se diante da impotência e ineficácia da constituição de romper com os vícios
na tradição política brasileira. O poder pessoal passou a ser exercido pelo Presidente da
República e pelas oligarquias locais.
OBS: A emenda na Constituição em 1926 concentrou poder no executivo, representando um retrocesso
constitucionalista.
8.4. Constituição de 1934 (pós Revolução de 1930)
8.4.1. Promulgada.
8.4.2. Influência da Constituição de Weimar: Direitos sociais (2ª geração: educação, trabalho);
figura do Estado de Bem-estar social (sem extinção dos direitos liberais).
8.4.3. Nacionalismo.
8.4.4. Voto: Feminino + Secreto  Justiça Eleitoral
8.4.5. Extinção do cargo de vice-presidente (concentração de poder = anti-constitucionalismo).
8.4.6. Criação do Mandado de Segurança (contra abuso de autoridade) e a Ação Popular
(exercício da cidadania).

41
Constitucionalização do absolutismo.
8.4.7. Ampliação do Decreto-Lei/ presidencial (retrocesso constitucional): Ampliação de poder
do Executivo.
8.4.8. Estado Unitário (retrocesso constitucional): Centralização de poder na União.
8.4.9. Controle de constitucionalidade difuso e concentrado.
8.4.10. Rígida.
8.4.11. Nominalista.
8.4.12. Laicidade.
8.5. Constituição de 1937 (Estado Novo)
8.5.1. Outorgada: Amplos poderes ao presidente
8.5.2. Influência das Constituições polonesa, italiana e portuguesa (autoritárias/ fascistas)
8.5.3. Censura, tortura, pena de morte, banimento.
8.5.4. Eleição indireta, fechamento da Justiça Federal, fechamento do Congresso/Parlamento.
8.5.5. Previa a existência de um Supremo Tribunal Federal (sem autonomia).
8.5.6. Extremamente populista: CLT +Salário mínimo (Semântica).
8.5.7. Ameaça imaginária (Comunismo) = Tendências autoritárias (anti-constitucionais).
8.5.8. Redução dos direitos fundamentais.
8.6. Constituição de 1946 (destituição do Estado Novo)
8.6.1. Promulgada
8.6.2. Federalismo.
8.6.3. Voto: Universal + Obrigatório (excluído os analfabetos).
8.6.4. Eleições diretas: Impedia o registro de qualquer partido político com programa que
contrariasse os princípios democráticos.
8.6.5. Liberdade de expressão-pensamento: Garantiu direitos e garantias fundamentais, e o
Judiciário não podia ser impedido de debater sobre direitos individuais.
OBS: Em 1961, por meio de EC, adota-se o parlamentarismo. Em 1963, por meio de uma nova EC, retorna-se
ao presidencialismo.
8.7. Constituição de 1967 (Ditadura Militar)
8.7.1. Outorgada.
8.7.2. Inspirada em 1937: Autoritária + Concentração de poder.
8.7.3. Segurança Nacional: Suspenção de direitos (principalmente em casos de abuso desses
direitos).
8.7.4. Ampliação dos poderes da União e do presidente (Decreto-Lei).
8.7.5. Acovardamento do Congresso.
8.7.6. Suspensão do habeas corpus em casos de crimes políticos.
8.7.7. Eleições indiretas.
OBS: Atos Institucionais (1,2,3 e 4).
8.8. Constituição de 1969 (O “Estatuto da Ditadura)
8.8.1. AI-5: Ampliação do poder presidencial + Suspensão de direitos políticos + Intervenção da
União nos estados e municípios.
8.8.2. Ameaça concreta ao constitucionalismo: Todas os AI são superiores as demais normas.
8.9. Constituição de 1988/ Cidadã (Redemocratização)
8.9.1. Formalmente constitucional (toda matéria presente na Constituição é considerada
constitucional, mesmo não sendo materialmente/ de conteúdo constitucional).
8.9.2. Promulgada.
8.9.3. Retomada de direitos e garantias fundamentais.
8.9.4. Criação do SUS.
8.9.5. Reorganização do Estado.
9. Curso de Direito Constitucional – Gilmar F. Mendes, Paulo G. G. Branco
Capítulo V: As Normas Constitucionais
9.1. Parte Orgânica: Normatiza aspectos de estrutura do Estado, contendo as regras que definem:
a organização do Estado; as competências dos órgãos essenciais para a sua existência; as formas
de aquisição do poder e os processos do seu exercício. Racionaliza o exercício das funções do
Estado e estabelecem limites recíprocos aos seus órgãos principais.
9.2. Parte Dogmática: Proclama direitos fundamentais, declarando e instituindo direitos e
garantias individuais, como também direitos econômicos, sociais e culturais. Marca o tom que
deve nortear a ação do Estado e expressa os valores que tem como indispensáveis para uma reta
ordem da comunidade.
OBS: É importante ter presente que todas as normas que estão postas no Texto Constitucional partilham o
mesmo status hierárquico, não havendo diferença, nesse aspecto, entre elas (mesmo não se enquadrando
no mesmo grupo temático).
9.3. Posição Hierárquica: Superioridade normativa da Constituição (fortalecimento da jurisdição
e dos órgãos que “manipulam” o conteúdo constitucional)
9.3.1. As normas integradas na Constituição formal têm função como ordem jurídica
fundamental da comunidade, não a sua validade a ferida pela sua compatibilidade com
uma outra norma que lhe esteja acima em uma escala hierárquica.
9.3.2. A superioridade das normas constitucionais também se expressa na imposição de que
todos os atos do poder político estejam em conformidade com elas, de tal sorte que, se
uma lei ou outro ato do poder público contrariá-las, será inconstitucional (recusa de
validade jurídica).
9.3.3. Elas somente podem ser alteradas pelo procedimento previsto no próprio texto
constitucional.
9.3.4. Condicionam o conteúdo de normas inferiores (normas de normas), mas não determinam
integralmente todo o conteúdo possível das normas infraconstitucionais (o legislador não
perde a liberdade de conformação, a autonomia de determinação, dentro dos limites
constitucionais).
9.4. Condicionamento de conteúdos
9.4.1. Negativa: Desempenham uma função de limite para o legislador ordinário.
9.4.2. Positiva: Regulam parcialmente o conteúdo das normas infraconstitucionais, predefinindo
o que o legislador deverá a dotar como disciplina normativa, dirigindo a ação dos poderes
públicos, ainda que não o fazendo de modo exaustivo.
OBS: Uma vez que o direito constitucional convive com uma boa margem de autonomia dos demais ramos
do Direito, não há como deduzir uma solução legislativa necessária para cada assunto que o constituinte
deixa ao descortino da lei. Deve-se reconhecer que o legislador é o intérprete e concretizador primeiro da
Constituic1ão, e as suas deliberações, sempre que condizente com o sistema constitucional e com os
postulados da proporcionalidade, devem ser acolhidas e prestigiadas, não podendo ser substituídas por
outras que acaso agentes públicos – do Executivo ou do Judiciário – estimem preferíveis.
9.5. Densidade e Abertura Semântica
9.5.1. Densidade: Norma eficácia plena (alta exequibilidade), contida (contém a eficácia da
norma, impõe condições para exequibilidade), limitada (a plena exequibilidade depende
da futura regulamentação da norma, que até tal concretização terá sua eficácia
comprometida) e programática42.
a) Baixa: Não é possível aplicar a norma de forma rápida e mediata (alta abertura
semântica e, em geral, com eficácia limitada). O dispositivo se vale de expressão de
conteúdo instável e polissêmico, abrindo generosa latitude à liberdade para a sua
conformação.

42
Constituição Programática: Normas que estabelecem metas, programas para o futuro, que servem como horizonte
interpretativo.
b) Alta: A norma é aplicável de modo rápido e mediato, pelo fato de seu conteúdo ser
claro, altamente exequível - facilmente cobrado do poder público – (autoaplicáveis,
especificidade e, em geral, com eficácia plena). A disciplina exposta pelo constituinte
é extensa e abrangente, dispensando ou pouco deixando para a interferência do
legislador no processo de concretização da norma. São normas completas, estão
prontas para a aplicação plena, não necessitam de complementação legislativa para
produzir todos os efeitos a que estão vocacionadas.
9.5.2. Abertura Semântica: As normas constitucionais modernas são abertas à mediação do
legislador, apresentando uma regulamentação deliberadamente lacunosa, a fim de
ensejar liberdade para a composição de forças políticas no momento da sua concretização
e a adequação das normas às novas necessidades de cada tempo. Contudo, na
Constituição, a abertura à ação complementar e integradora do legislador ocorre em
graus variados de acordo com a densidade das normas.
9.6. Sanção Imperfeita: Na Constituição, não há normas com sanções, explicitamente/
concretamente, por elas serem formuladas pelo poder constituinte originário (poder soberano),
obtendo autoridade (poder). A violação das normas constitucionais não se acompanha de sanção
jurídica suficiente para repor sua força normativa, até porque não há nenhuma outra instância
superior que lhe assegure a observância pelos órgãos da soberania. As normas constitucionais
dependem da vontade dos órgãos de soberania de respeitá-las e cumpri-las, das suas
possibilidades de realização e da vontade constante dos implicados no processo constitucional
de realizar os conteúdos da Constituição.
9.7. Modalidades de Normas Constitucionais  Neoconstitucionalismo43 (os princípios são mais
importantes do que as regras)
9.7.1. Tanto as regras quanto os princípios são vistos como espécies de normas, uma vez que
ambos descrevem algo que deve ser, se valem de categorias deontológicas comuns às
normas – o mandado (determina-se algo), a permissão (faculta-se algo) e a proibição
(veda-se algo).
9.7.2. Regras: Alto grau de especificidade. Fundamentada pelos princípios, geralmente. Normas
suscetíveis de aplicação imediata.
9.7.3. Princípios: Alto grau de abstração. Caráter mais fundante. Caso de lacuna (Positivismo
Clássico). Normas que carecem de mediações concretizadoras por parte do legislador, do
juiz ou da Administração. Padrões que expressam exigências de justiça. Função
argumentativa.
9.8. Regras e Princípios em Dworkin e Alexy
9.8.1. Ronald Dworkin
a) Ambos estabelecem obrigações jurídicas, mas se diferem pelo tipo de diretiva que
apresentam (diferença qualitativa quanto ao modo de aplicação).
b) Regras (TUDO OU NADA): Se os fatos que uma regra estipula ocorrem, então ou a
regra é válida e a solução que dela resulta deve ser aceita, ou não é válida, e não
contribuirá em nada para a decisão. Em havendo um conflito entre regras, a solução
haverá de se pautar pelos critérios de solução de antinomias (hierárquico, da
especialidade e cronológico), em que uma das regras é revogada.
c) Princípios (PESO): Não desenvolvem automaticamente as consequências jurídicas
previstas no texto normativo pela só ocorrência da situação de fato que o texto
descreve. Têm a dimensão do peso (ausente nas regras), pois podem interferir uns
nos outros, de modo que o conflito entre princípios é resolvido a partir da avaliação
de qual deles tem maior peso (avaliação do quão importante é o princípio). Captam
os valores morais da comunidade e os tornam elementos próprios do discurso jurídico.
9.8.2. Robert Alexy

43
Pós-Positivismo = Jusnaturalismo (princípios éticos minímos/ valores sociais) +Positivismo (constituição positivada).
É perigoso, pois permite e favorece decisões solipsistas, sem que haja uma forma possível de controle sobre se os princípios
utilizados para justificar as decisões jurídicas, apesar de estes nem sempre representarem os valores sociais.
a) Ambos configuram as pontas extremas do conjunto das normas, mas são diferentes –
tal distinção seria “a chave para a solução de problemas centrais da dogmática dos
direitos fundamentais” (diferença qualitativa).
b) Regras: Determinam algo e se forem válidas, há de se fazer exatamente o que ela
exige, sem mais nem menos, ou seja, somente podem ser cumpridas ou
descumpridas. Um conflito entre regras é solucionado tomando-se uma das regras
como cláusula de exceção da outra ou declarando-se que uma delas não é válida.
c) Princípios: Normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida, dentro das
possibilidades jurídicas e reais existentes, ou seja, são comandos de otimização (existe
a melhor medida possível de aplicação de determinado princípio no caso concreto). O
grau de cumprimento do que o princípio prevê é determinado pelo seu cotejo com
outros princípios e regras opostas (possibilidade jurídica) e pela consideração da
realidade fática sobre a qual operará (possibilidade real). Portanto, podem ser
cumpridos em maior ou menor escala (Grau diferente de aplicação/ Graduação ou
Escalonamento dos Princípios). Quando os princípios se contrapõem em um caso
concreto, há que se apurar o peso (nisso consistindo a PONDERAÇÃO) que apresentam
nesse mesmo caso, tendo presente que, se apreciados em abstrato, nenhum desses
princípios em choque ostenta primazia definitiva sobre o outro.
OBS: A colisão de princípios, da mesma forma que o conflito entre regras, refere-se à situação em que a
aplicação de duas ou mais normas ao acaso concreto engendra consequências contraditórias entre si. A
solução para o conflito entre regras, porém, não é a mesma para o caso de colisão entre princípios.
OBS: PONDERAÇÃO = Juízo de Valor que leva em consideração princípios e regras.
9.9. Normas constitucionais classificadas segundo a sua função
9.9.1. Normas constitucionais impositivas: Estabelecem um dever para os poderes públicos,
prescrevem uma tarefa para o Estado.
9.9.2. Há normas que instituem garantias para os cidadãos, como a que repele a imposição de
sanção penal sem lei que defina previamente a conduta como crime.
9.9.3. Há normas que reconhecem e conformam direitos fundamentais.
9.9.4. Há normas que entronizam garantias institucionais (criam ou reforçam instituições
necessárias para a proteção dos direitos dos indivíduos).
9.9.5. Normas orgânicas: Criam órgãos e, por vezes, fixam as atribuições dos órgãos (normas de
competência).
9.9.6. Normas ditas de procedimento: Estabelecem um modo de agir para os seus destinatários.

10. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo – Luís Roberto Barroso


10.1. Capítulo IV: Poder Constituinte
10.1.1. Conceito: Poder de elaborar e impor a vigência de uma constituição. Situa-se na
confluência entre o Direito e a Política, e sua legitimidade repousa na soberania popular.
A reaproximação entre Direito e Ética, a centralidade da dignidade da pessoa humana e
dos direitos fundamentais inspiram a recepção da existência de limites ao poder
constituinte.
10.1.2. Produto da intersecção entre Direito e Política (visão técnica).
10.1.3. Produto da intersecção entre Direito e Ética (visão humanista).
10.1.4. Teoria do Poder Constituinte - Sieyès
a) O que é o Terceiro Estado? A burguesia.
b) O poder constituinte (incondicionado, permanente e a vontade da Nação -
pensamento de Jean Bodin) e o poder constituído/ poder constituinte derivado
(deriva do poder constituinte e suas competências de reformas estarão juridicamente
limitadas pelo primeiro).
10.1.5. Rousseau: Vontade Geral + Soberania Popular (necessidade de participação direta de cada
indivíduo).
10.1.6. Sieyès: Representação Política + Vontade Nacional (o soberano é a nação).
OBS: A soberania nacional foi substituída pela soberania popular, por uma questão de transpor as questões
xenofóbicas e de exclusão de um povo por outro.
10.2. O poder constituinte pode ser derivado de certos contextos históricos propícios (força
política): de uma Revolução; de uma criação/reformulação de um Estado (emancipação); de
derrotas de guerra; de uma transição pacífica de poder; de uma transição autoritária (golpe).
10.3. Poder Fundacional: Fundar um Estado novo (fundação originária).
10.4. Poder Pós-Fundacional: Fundar um Estado já constituído (reordenação de um Estado
preexistente).
OBS: No caso do tratado que deu origem à UE, o poder constituinte surgiu por Tratado Internacional (único
caso).
10.5. Legitimidade (em quem repousa a soberania): O poder constituinte envolve a manifestação
de vontade de quem o exerce e o consentimento ou a sujeição de quem a ele se submete.
Portanto, o poder constituinte consiste na capacidade de elaborar uma Constituição e de
determinar sua observância. No entanto, todo exercício de autoridade precisa ser justificado,
necessitando de um fundamento que o legitime.
10.5.1. Força bruta (Primórdios)
10.5.2. Divino (Idade Média)
10.5.3. Soberania dos monarcas (Final da Idade Média – Bodin)
10.5.4. Soberania nacional (Era Moderna - Sieyès)
10.5.5. Soberania popular (Contemporaneidade)
10.6. Supremacia da Constituição: Só é possível aferir se o poder constituinte é legítimo ou não, se
corresponde aos valores civilizatórios e às aspirações de justiça, segurança e bem-estar da
coletividade política.
10.7. As normas constitucionais presumem-se nascidas constitucionais (oriunda do poder
constituinte originário), ou seja, há presunção absoluta de constitucionalidade (nenhuma norma
presente na constituição, desde o seu momento de criação, pode ser declarada inconstitucional
ou passar por qualquer filtro de constitucionalidade/ ser paradigma de constitucionalidade).
OBS: Paradigma para o controle de constitucionalidade = Normas Constitucionais + Tratados Internacionais.
10.8. Natureza do Poder Constituinte (poder de direito ou poder de fato)
10.8.1. A teoria original do poder constituinte foi desenvolvida, por Sieyès, dentro da moldura
histórica e filosófica do Jusnaturalismo (inalienável, permanente, incondicionado), com
seu fundamento de legitimidade no Direito Natural, e constituindo um Poder de Direito
(investidura do poder de governar a partir do direito natural), fundado não no
ordenamento vigente, mas no direito natural, que existe antes da nação.  Vertente
Conservadora
10.8.2. A teoria do poder constituinte proposta por Carl Schimtt apresenta uma visão do
Positivismo (Constituição é fruto da vontade política + Necessita de um poder de
imposição + Cria ou reforma o Estado), sendo o poder constituinte um fato pré-jurídico
(externo ao Direito) e um Poder de Fato (produto de forças políticas, devendo respeitar
os valores culturais do constitucionalismo de cada povo – não é ilimitado).  Vertente
Progressista
10.8.3. Teoria do Poder Constituinte Contemporâneo: É um fato político, uma força material e
social, que não está subordinado ao Direito positivo preexistente. Não se trata de um
poder ilimitado e incondicionado, porém, seu exercício é pautado tanto pela realidade
fática quanto pelo Direito, âmbito no qual a dogmática pós-positivista situa os valores
civilizatórios, os direitos humanos e a justiça (vedação ao retrocesso).
10.9. Condicionantes do Poder Constituinte (atos que antecedem o próprio ato fundacional desse
poder, como a ruptura com a ordem anterior, a convocação e eleição dos constituintes, os
trabalhos desenvolvidos e a aprovação final).
10.9.1. Ato convocatório (primeira fase): Convocação da assembleia constituinte que elaborará a
Constituição.
10.9.2. Escolha dos membros (segunda fase - processo constituinte)
10.9.3. Procedimentos deliberativos (segunda fase - processo constituinte)
OBS: Todo processo constituinte caracteriza uma ruptura com o poder constituinte anterior.
OBS: Terceira fase – o povo referenda as deliberações do processo constituinte (a necessidade de ratificação
do texto é o mais decisivo condicionamento pós-constituinte, pois impacta as decisões a serem tomadas pelos
constituintes).
OBS: Se houver uma quebra de harmonia na sequência de atos do processo constituinte, a questão se
transfere de volta para o plano da legitimidade, e o poder constituinte precisará renovar seu título (o que
poderá ser feito a partir da submissão do texto a ulterior deliberação popular poderá ser uma das formas de
fazê-lo).
10.10. Identidade Constitucional: Surge a partir do processo constituinte e deve ser preservada, por
meio do poder constituinte derivado/ poder constituído (com competência definida pelo poder
constituinte originário), nos momentos de reforma constitucional.
10.11. No constitucionalismo moderno, deve haver um equilíbrio entre a estabilidade e a
adaptabilidade de uma Constituição.
10.12. Poder constituinte originário (poder soberano): É o poder constituinte propriamente dito, que
concentra a energia inicial pela qual se cria ou se reconstrói um Estado, com a instituição de uma
nova ordem jurídica, superadora da ideia de Direito preexistente.
10.13. Poder constituinte derivado/ instituído/ constituído (poder de direito): Expressa o poder,
normalmente atribuído ao Parlamento, de reformar o texto constitucional (competência
regulada pela Constituição).
OBS: Reforma = Identifica o gênero das alterações no texto constitucional, compreendendo tanto as
mudanças pontuais como as mudanças abrangentes.
Emenda = Designa modificações, supressões ou acréscimos feitos ao texto constitucional, mediante o
procedimento específico disciplinado na Constituição.
Revisão = Designação de reformas extensas ou profundas na Constituição.
10.14. Poder constituinte decorrente: É o poder conferido aos estados e ao DF para criar suas
constituições e a lei orgânica distrital.
10.15. O processo constituinte [derivado] estabelece limites materiais44 e formais45 (art. 60 –
emenda constitucional) às reformas constitucionais.
OBS: As normas que derivam do poder constituinte estão sujeitas ao controle de constitucionalidade.
OBS: O poder constituinte estará sempre condicionado pelos valores sociais e políticos que levaram à sua
deflagração e pela ideia de Direito que traz em si. É um Poder de Direito: ele está fora e acima do Direito
posto preexistente, mas é limitado pela cosmovisão da sociedade – suas concepções sobre ética, dignidade
humana, justiça, igualdade, liberdade – e pelas instituições jurídicas necessárias à sua positivação.

11. Curso de Direito Constitucional – Lênio Streck


Capítulo II: (Neo) Constitucionalismo
11.1. Positivismo-normativo (Kelsen): O ato judicial é um ato de vontade, discricionário, que, no
limite, pode até mesmo desbordar da “moldura”, desde que tal decisão seja definitiva. O juiz
constrói normas jurídicas e pode fazê-lo de forma voluntarista.
11.2. Realismo (Dworkin): Direito como um conceito interpretativo (problema da
discricionariedade judicial), resgate do aspecto valorativo.
11.3. Pós-positivismo (Streck): Superação do positivismo-normativista, do positivismo do realismo
jurídico e da discricionariedade, por meio de uma necessária teoria da decisão, que efetivamente
dê conta do problema interpretativo do direito. Crítica ao uso da ponderação, à recepção da
jurisprudência dos valores e ao entendimento equivocado sobre os princípios (plano
interpretativo da vontade decisionista do aplicador de normas, que enfraquece a legalidade
constitucional).

44
Cláusulas pétreas ou de intangibilidade (art. 60) + Limites materiais implícitos (STF).
45
Podem ser propostos pelo presidente, por 1/3 CD ou SF, por ½ Assembleia Leg. Estadual e por 2/3 CF + voto nas 2 camâras em
2 turnos (emenda constitucional).
11.4. O neoconstitucionalismo é ideológico, pois alça a Constituição a “elo conteudístico” que liga
a política e o direito (aqui se poderia falar no aspecto compromissório e dirigente da Constituição
(norma com força cogente); é teórico, pois estabelece as condições de possibilidade da leitura
(descrição) do modelo de constitucionalismo e dos mecanismos para superação do positivismo;
é metodológico, pois ultrapassa a distinção positivista entre descrever e prescrever o direito,
sendo que, para tal, reconecta o direito e moral, a partir do papel corretivo que a moral assumiria
neste novo modelo de direito. Ele traz a moral para o direito.
11.5. Pragmatismo: “Filosofia sem fundamentos ontológicos a priori”. Teoria ou postura que aposta
em um constante “estado de exceção hermenêutico” para o direito, o juiz é o protagonista, que
“resolverá” os casos a partir de raciocínios e argumentos finalísticos. Ideia de “grau zero de
sentido” e de “nominalismo” (decisionismo, discricionariedade, arbitrariedade interpretativa).
11.6. Ecletismo (sincretismo) metodológico:
11.7. Principialismo:
11.8. Judicialismo Ético-Jurídico:
11.9. Interpretativismo moral-constitucional:
11.10. Pós-positivismo: Não é uma continuidade do positivismo nem do constitucionalismo liberal.
Deve enfrentar o problema do solipsismo e do uso de mixagens teóricas.
11.11. O juízo de ponderação: Ponderação = Discricionariedade. Princípios (ponderação controlada
por proporcionalidade) x Regras (subsunção). Repristinação sofisticada da discricionariedade
própria das posturas normativas e de suas variações.
11.12. Especificidade Interpretativa: Exigência de especificidades hermenêuticas em relação aos
demais “materiais normativos”. A Constituição é mera ferramenta à disposição do intérprete,
funcionando o método como supremo momento da subjetividade do intérprete.
Capítulo V: Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucionais
11.13. Eficácia = Capacidade de produzir efeitos jurídicos concretos.
11.14. Aplicabilidade = Possibilidade de ser aplicada, da submissão dos problemas práticos às
normas.
OBS: Se falta eficácia, não há aplicabilidade.
OBS: A eficácia e a aplicabilidade das normas constitucionais estão intimamente ligadas ao princípio da
supremacia constitucional, segundo o qual a Constituição ocupa a posição de superioridade hierárquica em
relação às demais leis, e ao início da vigência do Texto Constitucional, a data a partir da qual ele foi
promulgado, publicado e passou a existir juridicamente com força vinculante.
OBS: Nesse sentido, acompanhando a orientação mais moderna, afirma-se desde logo que "ná o há norma
constitucional alguma destituída de eficá cia"; não há norma constitucional de valor meramente moral ou de
conselhos, avisos e lições; "todas as normas constitucionais são dotadas de imperatividade, mesmo as per-
missivas; as chamadas normas programáticas não se dirigem só aos legisladores; as normas constitucionais
são obrigatórias e sua observância e aplicação é dever de todos; cada norma constitucional é sempre
executável até onde possa, até onde seja suscetível de execução, salientando-se, porém, que as normas
programáticas não concedem à s autoridades públicas liberdade para começarem a agir quando quiserem,
mas exigem que elas realizem ações para implementar tais normas desde o primeiro dia de vigência da
Constituição.
11.15. No Brasil, quando o legislador não implementa condições para tornar efetiva a norma
constitucional, existem dois institutos previstos na Constituição para torna-la eficaz: o Mandado
de Injução e a Ação de Inconstitucionalidade por Omissão.
11.15.1. O art. 5º, LXXI, da Constituição brasileira, regula a concessão do primeiro para efetivar
direito individual, dispondo que “conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta
de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e das liberdades
constitucionais e prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania”.
11.15.2. A falta de atos legislativos ou administrativos necessários para tornar plenamente
eficaz normas constitucionais dá ensejo ainda ao ajuizamento de ação de caráter geral na
defesa de interesse público. Trata-se da Ação Direta de Inconstitucionalidade por
omissão, prevista no art. 103, §2o, da Constituição Federal, a qual pode ser desencadeada
pelas poucas autoridades e entidades elencadas no art. 103, caput, da Lei Fundamental.
Seus efeitos práticos restringem-se praticamente aos casos em que o omisso é órgão da
Administração Pública, quando o Supremo Tribunal Federal exige o suprimento da
omissão da omissão em trinta dias. Quando o omisso é o Parlamento, na hipótese de uma
ação dessa natureza, o STF apenas se limita a comunicá-lo para a adoção das medidas
cabíveis, o que geralmente não redunda em produção normativa.
11.16. Normas Auto-executáveis/ Autoaplicáveis/ Aplicáveis por si mesmos/ Disposições Bastantes
em Si: Fornecem uma regra mediante a qual se possa fruir e resguardar o direito outorgado, ou
executar o dever imposto (Thomas M. Cooley).
11.17. Normas Não Auto-executáveis/ Não Autoaplicáveis/ Não Aplicáveis por Si Mesmos/
Diposições Não Bastantes em Si: Meramente indica princípios, sem estabelecer normas por cujo
se logre dar a esses princípios vigor de lei (Thomas M. Cooley).
11.18. Normas Preceptivas: Caráter obrigatório e impositivo (doutrina italiana).
11.19. Normas Diretivas: Limitam-se a indicar uma via ao legislador futuro, não podendo nem
mesmo ser consideradas verdadeiramente normas jurídicas, na medida que não teriam qualquer
eficácia, considerando-se válidas as leis que divirjam com elas (doutrina italiana).
11.20. Normas de eficácia plena, de aplicação imediata.
11.21. Normas de eficácia limitada, que podem ser de legislação (não aplicáveis por razões técnicas,
pois dependem de uma legislação futura, regulamentadora de seus limites) e programáticas (têm
eficácia normativa, ainda que dirigidas aos órgãos legislativos).
OBS: Para José Afonso da Silva, o fato das normas constitucionais serem fundamentais e essenciais já lhes
dão juridicidade e valor normativo.
11.22. José Afonso da Silva
11.22.1. Normas constitucionais de eficácia plena46: Aquelas que, desde a entrada em vigor da
Constituição, produzem ou têm possibilidade de produzir todos os efeitos essenciais
queridos pelo legislador constituinte, ou seja, têm aplicabilidade direta, imediata e
integral, que incidem e dispensam legislação complementar. Estabelecem conduta
positiva ou negativa com comando certo e definido, encontrando-se, principalmente,
entre as regras organizativas e limitativas dos poderes estatais. Por isso, são normas de
aplicabilidade direta, imediata e integral sobre a matéria objeto de sua regulamentação
jurídica.
11.22.2. Normas constitucionais de eficácia contida47: Aquelas que têm aplicabilidade48 direta
e imediata, mas que possibilitam meios normativos de contenção de sua eficácia,
limitativos dos direitos nelas consagrados. São normas que regulam suficientemente
determinada matéria, mas contém margem à atuação restritiva por parte da competência
discricionária do Poder Público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de
conceitos gerais nelas enunciados.
11.22.3. Normas constitucionais de eficácia limitada/ reduzida49: Restringem-se a positivar
princípios ou esquemas sobre determinada matéria, deixando ao legislador ordinário ou
a outros órgãos governamentais sua concreção normativa, quer se refiram ou não a uma
legislação futura
a) Normas declaratória de princípio institutivo/ orgânico/ organizativo: Conteúdo
organizativo e regulatório de órgãos e entidades, respectivas atribuições e relações.
Limitam-se a traçar ideias gerais sobre determinado assunto, deixando ao legislador
ordinário o dever de complementar o que foi iniciado, segundo a forma, os critérios,
as condições e circunstâncias nelas mesmas previstas. São aplicáveis

46
Aplicabilidade imediata e integral (autoaplicáveis, não precisam de regulamentação).
47
Aplicabilidade direta, imediata e nem sempre integral (autoaplicáveis, mas que sofrem restrições a partir das regulamentações).
48
A aplicabilidade não é integral, pois as normas estão sujeitas a limitações previstas ou dependentes de regulamentação que
venha a restringir sua eficácia e aplicabilidade
49
Aplicabilidade indireta, mediata e reduzida ou diferida (precisa de regulamentação para produzir efeito).
independentemente de lei prevista, até onde possa, mas sua completa aplicabilidade
depende da promulgação da lei integrativa. Podem ser impositivas (impõe ao
legislador a edição de uma legislação integrativa) ou facultativas (dão a possibilidade
ao legislador de regular a matéria nele indicada)
b) Normas de princípio programático: Aquelas em que o constituinte, ao invés de regular
direta ou imediatamente determinados interesses, traçou apenas princípios, que
devem ser cumpridos pelos poderes públicos como programas, visando a realização
dos fins sociais do Estado. São princípios de direitos econômicos e sociais, que têm
eficácia limitada, mas produzem relevantes efeitos jurídicos, independentemente de
regulação.
11.23. Maria Helena Diniz
11.23.1. Normas com eficácia absoluta: São aquelas intangíveis, que sequer podem ser
emendadas, de modo que nenhuma legislação pode vir a contrariá-las (cláusulas pétreas).
Eficácia positiva (incidência imediata e serem não emendáveis) e negativa (vedam
qualquer lei que lhe seja conflitante, tendo força paralisante total e imediata).
11.23.2. Normas com eficácia plena: São aquelas que incidem imediatamente sem necessidade
de legislação complementar posterior; se apresentam idôneas, desde sua entrada em
vigor, para disciplinarem as relações jurídicas ou o processo de sua efetivação, por
conterem todos os elementos indispensáveis para a produção imediata dos efeitos nelas
previstos, não querendo normação infraconstitucional subsequente; são suscetíveis de
emenda.
11.23.3. Normas com eficácia relativa restringível: Aplicabilidade imediata ou plena, as quais
podem ter sua eficácia reduzida ou restringida nos casos e na forma que a lei estabelecer,
tendo, portanto, a possibilidade de ter seu alcance reduzido pela atividade legislativa.
Enquanto não sobrevier a legislação restritiva, seus efeitos serão plenos.
11.23.4. Normas com eficácia relativa complementável ou dependente de complementação
legislativa: Eficácia mediata, por dependerem de lei ordinária ou complementar posterior,
que lhes desenvolva a eficácia, permitindo o exercício do direito ou do benefício nelas
previsto. Porém, terão eficácia paralisante de efeitos de normas precedentes
incompatíveis e impeditiva de qualquer conduta contrária ao que estabelecerem.
a) Normas de princípios institutivos: Dependem da lei para dar corpo a órgãos e
instituições nelas previstos, fixando a estrutura e atribuições deles, para que tais
normas tenham aplicabilidade plena ou imediata.
b) Normas programáticas: Não preveem diretamente interesses ou direitos, limitando-
se a traçar princípios a serem cumpridos por quaisquer dos poderes como programas
das respectivas atividades, tendo por objetivo unicamente atingir os fins sociais do
Estado. Têm eficácia por impedirem que o legislador comum edite normas em sentido
contrário, impõem um dever político ao órgão com competência normativa, informam
a concepção estatal, condicionam a atividade discricionária da administração e do
judiciário, servem de diretrizes teleológicas para a interpretação e estabelecem
direitos subjetivos por impedirem comportamentos antagônicos a elas.
11.24. Celso Ribeiro Bastos e Carlos Ayres Brito
11.24.1. Normas de simples aplicação: Dispositivos insuscetíveis de colmatação por lei
infraconstitucional
a) Irregulamentáveis: Incidem diretamente sobre os fatos regulados, repudiando, por
desnecessário, qualquer regramento complementar, de modo que devem ser tratadas
somente a nível constitucional. Ex: normas que versam sobre o relacionamento entre
os Três Poderes do Estado e entre as pessoas territoriais de capacidade política, bem
como a competência presidencial para vetar projetos de lei.
b) Regulamentáveis: Apesar de seu conteúdo pétreo, admitem regulamentação anciliar
por via infralegal. A aplicação constitucional se dá com a ajuda das leis
regulamentadoras, mas o primado da vontade constitucional é absoluto e as
sobreditas leis de regulamentação simples instrumento de sua vontade. Ex: normas
constitucionais que preveem o direito de petição, o habeas corpus e o mandado de
segurança.
11.24.2. Normas de integração: Apresentam uma abertura de espaço entre a sua finalidade e
o efetivo desencadear de seus efeitos. Padecem de visceral imprecisão ou deficiência
instrumental e se tornam, por si mesmas, inexequíveis em toda a sua potencialidade,
razão pela qual deve se alocar entre elas e sua real aplicação uma norma integradora de
sentido, de modo a propiciar o surgimento de uma unidade de conteúdo entre as duas
espécies normativas. Essa normação posterior irá delimitar as normas constitucionais de
integração, quer alargando-as quer restringindo-as.
a) Normas completáveis: Demandam um acréscimo ou complementação ao seu campo
de regulação por meio de norma infraconstitucional. Não necessitam de expresso
chamamento à legislação infraconstitucional, existindo normas que por sua
imprecisão exigem leis integradoras.
b) Normas restringíveis: Passíveis de restrição ou redução de seu campo de incidência ou
que são passíveis de constrição dos seus efeitos originários por meio de legislação
inferior.
11.25. Recepção: A rigor, a Constituição nova não recepciona normas constitucionais que
imediatamente lhe antecedem, contudo, há a possibilidade de recepção expressa de uma ou
outra norma para efeito de manter-lhe a eficácia. Em relação à legislação infraconstitucional
prévia, a Constituição, em razão do princípio da Supremacia Constitucional, revoga desde a data
de sua publicação somente as normas inferiores anteriores que lhes forem contrárias. Nesse caso,
a nova Constituição dá à ordem normativa imediatamente anterior um novo fundamento de
validade e, muitas vezes, nova roupagem, com a finalidade precípua de possibilitar continuidade
às relações sociais sem necessidade de novas normas e atos infraconstitucionais. Assim, as
normas da nova Constituição que entra em vigor têm a propriedade de recepcionar as normas
anteriores compatíveis com elas, mantendo sua vigência, eficácia e validade.
11.26. Desconstitucionalização: Os preceitos da norma constitucional precedente, que não
conflitarem com a atual, poderão continuar vigendo, de acordo com o princípio da continuidade
das normas compatíveis – como leis ordinárias -, mas não continuarão sendo constitucionais.
11.27. Repristinação: É a revalidação, pela nova Constituição, da legislação nascida sob o império de
Constituições revogadas pela que a antecedeu e, que, em face desta, perderam sua eficácia. No
entanto, tal situação não ocorre, pois coloca em risco a segurança jurídica e a estabilidade das
relações sociais, causando sérias dificuldades à aplicação do direito. Só se a admite no caso de
ser expressamente prevista constitucionalmente, pois é fruto da própria vontade do Poder
Constituinte originário.

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