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Aula n.º10 10.Nov.

09
Comportamento aditivo
 Podem definir-se como:

 “a realização repetida de um comportamento, mediada

por um impulso incontrolável, estimulado pela obtenção


de prazer ou alívio do desprazer, do qual resultam
consequências negativas para o sujeito ”

(Ricou, 2004, p.152)


Tipos de substâncias
Depressoras Estimulantes Perturbadoras
Álcool Xantinas Cannabis
Analgésicos Nicotina Alucinogéneos:
Tranquilizantes Cocaína Cogum. mágicos
LSD
Opiáceos: Crack
Mescalina
Ópio Anfetaminas
Heroína Inalantes:
Antidepressores Cola
Morfina
Codeína Solventes
Metadona
Motivações para o consumo
Acessibilidade
Curiosidade

Teste dos limites

Pressão do grupo USO Disponibilidade


Poderes mágicos

Afirmação

Prazer/Diversão Baixo custo


Origem multi-causal dos CA
 Intervenções multi-contextuais e interdisciplinares.

 Que obedeçam às seguintes necessidades:


 Médicas e farmacológicas:

 Doenças infecto-contagiosas e crónicas.

 Sociais e comunitárias:

 Apoios sociais, redes de apoio e reinserção, etc...

 Problemas psicopatológicos:

 Comportamentos disfuncionais, psicopatologia, etc…


Psicopatologia e CA

Primária

Comportamentos aditivos

Secundária
Avaliação
 Avaliação da motivação para o tratamento

 Entrevista

 Entrevista motivacional de Miller & Rollnick (2001)


Motivação para o tratamento

 É fundamental avaliar

 Dita o sucesso da intervenção proposta

 Motivação individual vs motivação familiar


Motivação para o tratamento
 Podemos, por exemplo, avaliar a motivação através de um
questionário breve e estruturado, ou através de uma
entrevista aberta que nos permita aferir da motivação da
pessoa

 A partir destes dados podemos levar a cabo uma entrevista


motivacional que tem como objectivo aumentar a
motivação para a mudança
Motivação para o tratamento
 Modelo para abordar situações em pré-contemplação e em

contemplação

 O objectivo é permitir que o utente progrida no sentido da

preparação para a mudança reforçando as suas

preocupações com o problema


Motivação para o tratamento
 As situações de contemplação são marcadas pela ambivalência
 Em vez de se considerar a ambivalência como um sinal de negação e

resistência à mudança, tentando estratégias para a eliminar, devemos


manifestar compreensão e aceitar a ambivalência como um comportamento
normal

 A abordagem na entrevista será no sentido de explorar e resolver a


ambivalência do utente e ajudá-lo a encontrar razões para mudar
 Numa primeira fase devemos ajudar a criar motivação para mudar e, numa

segunda fase, reforçar o compromisso com a mudança.


Entrevista motivacional
◦ Expressar empatia
 Transmitir respeito e interesse pelo outro. Empatia e compreensão geram confiança,
facilitando a mudança de comportamento

◦ Identificar as discrepâncias
 Ampliar as diferenças entre o comportamento presente e as metas, de forma a que a
mudança se torna importante

◦ Evitar confrontos directos


 Abordar directamente o comportamento pode provocar aumento de resistência. Não impor
perspectivas
 Os utentes são livres para decidir o que querem fazer e as opiniões oferecidas podem ser ou
não aproveitadas
 O aparecimento de resistência é um indicador de reflexão para mudança de estratégia
Entrevista motivacional
 Promover a confiança e a capacidade
 Uma das estratégias mais importantes. Reforçar a confiança da pessoa e

acreditar que ele é capaz de mudar

 Formular perguntas abertas


 Técnica mais importante para uma boa entrevista. Uma pergunta aberta,

colocada de forma genuína, sugere que o profissional está aberto a qualquer


resposta. Fazer perguntas abertas leva o utente a falar, a dar informações
importantes sobre o que pensa

 Reflectir e sintetizar
 Reflectir consiste em explorar o que está a ser comunicado e sintetizar

consiste em reforçar os aspectos mais relevantes já analisados e ligá-los


entre si no sentido da mudança
Entrevista motivacional
 Querer ou não querer mudar:
 Conflito interior e ambivalência
 Balanço da decisão
Entrevista motivacional
 Registo do balanço da decisão

Manutenção do CA Abstenção do CA

Continuar a beber Deixar de beber

Custos Benefícios Custos Benefícios

Perder a família Ajuda a relaxar Elevado stress Menos conflitos


familiares
Mau exemplo para Socializar com os Perder os amigos Menos problemas
os filhos amigos no trabalho
Gasto financeiro Mais tempo com
os filhos
Entrevista motivacional
 Promover a mudança através do discurso interno
motivacional:
 “Porque não quero mudar?”

 “Como posso admitir que não tenho um problema?”

 “O que me faz pensar que não estou em risco?”


Modelo de Prochascka e Diclemente
Pré-
contemplação
Recaída

Manutenção Contemplação

Acção Preparação
Entrevista motivacional
 Intervenção
Estádios de Mudança e Intervenção
Estádio Definição Elementos a destacar
Pré-contemplação A pessoa com consumo de risco ou nocivo não Informação sobre os riscos do consumo
pondera a possibilidade de mudar os seus excessivo
consumos e não tem consciência dos seus
efeitos

Contemplação A pessoa tem noção dos efeitos do álcool e Ênfase nos benefícios da mudança,
está ambivalente sobre a mudança dos informação sobre os efeitos dos CA e
hábitos escolher uma meta a atingir em relação
aos consumos

Preparação O utente está decidido a mudar de hábitos e Analisar a escolha da meta e como a
planeia passar à acção atingir e reforço positivo na capacidade
Outros aspectos a avaliar
 Auto-controlo
 Solução de problemas
 Competências de relacionamento social
 Reforços
 Padrão de consumo
 Rede social de suporte e consumo
 Interacção com o sistema legal/crime
Conclusão clínica
 Psicológica:
 Identificação dos problemas de comportamento nos quais intervir,
assim como as suas variáveis causais e as relações (dis)funcionais
entre ambos.
 Diagnóstico das problemáticas evidenciadas.
 Médica:
 Diagnóstico das doenças e problemas médicos associados ao
consumo que afectem o tratamento psicológico
 Social:
 Identificação das circunstâncias sócio-familiares que mantêm ou
afectam o consumo
Decisão perante o tratamento
 Áreas a intervir;

 Problemas de comportamento;

 Operacionalização dos objectivos;

 Procedimentos (o quê, quem, quando, como e porquê);

 Cronograma de acção;

 Intervenção;

 Avaliação dos resultados.


Buela-Casal, Sierra & Tirado, 2004
Intervenção
Estratégias TCC
1. Contrato terapêutico
2. Desenvolvimento da aliança terapêutica
3. Competências para a cessação e manutenção
4. Manter a motivação e lidar com a ambivalência
5. Suporte social na manutenção da abstinência
6. Grupos de auto-ajuda
7. Competências comunicacionais
8. Desenvolvimento de alternativas ao uso da substância
9. Prevenção da recaída
(McCrady, 2006)
1. Contrato terapêutico
 Representa um compromisso formal ao tratamento
entre o cliente e o clínico.

 Responsabilidades do cliente:

 Pontualidade nas sessões

 Avisar as ausências/atrasos

 Realizar as tarefas propostas

 Discutir os aspectos relacionados com o seu tratamento


1. Contrato terapêutico
 Responsabilidades do clínico:
 Pontualidade nas sessões

 Disponibilidade (razoável) perante os pedidos do cliente

 Proporcionar o tratamento mais efectivo possível

 O contrato pode também incluir informações sobre os


objectivos do tratamento, frequência das sessões,
pagamento, e aspectos relacionados com a
confidencialidade.
2. Desenvolvimento da aliança terapêutica
 Comunicação efectiva e empática
 Escuta activa e compreensão genuína da sua experiência, ao
invés de forçar a implementação do modelo terapêutico
 Utilização de questões abertas
 Proporcionar estrutura no atendimento de modo a que a
sessão não seja demasiado “controlada”
 Desenvolver a terapia de modo flexível que se relacione
com as preocupações demonstradas pelo cliente
 Demonstrar competência e compromisso no apoio
prestado ao cliente.
(Raytek et al., 1999)
3. Competências para a cessação e manutenção

 Hierarquia de situações de risco

 Folha de planeamento do auto-controlo

 Lidar com os pensamentos negativos

 Prós e contras
Hierarquia de situações de risco
 Muitas coisas que acontecem aumentam o desejo de
utilizar drogas. Classifique cada uma delas numa escala de
dificuldade de 0-100.

Situação Dificuldade (0-100)


Planeamento de situações de auto-controlo
 Perante cada activador do consumo elabore um plano de
auto-controlo e estime os aspectos positivos e negativos do
mesmo, bem como a dificuldade na sua implementação.
Activador Plano Asp positivos Asp negativos Dificuldade
Lidar com os pensamentos negativos
 É fácil ter pensamentos positivos sobre o CA ou
esquecer os danos que estes podem causar. Estou
consciente destes pensamentos e sei como me
comportar para os contrariar. Tenho também outro
tipo de pensamentos que me leva a sentir-me mal.
Alguns destes pensamentos são irracionais e é por isso
importante que os reconheça para poder pensar de
modo mais lógico.
Lidar com os pensamentos negativos
Um pensamento irracional sobre os CA:

Uma forma mais racional para pensar:

Um pensamento irracional sobre os CA:

Uma forma mais racional para pensar:

Um pensamento irracional:

Uma forma mais racional para pensar:

Um pensamento irracional:

Uma forma mais racional para pensar:


Prós e contras
Aspectos negativos do consumo Aspectos positivos do não consumo
Sinto-me doente Acordo desperto e bem-disposto
Tenho mau aspecto Tenho energia durante o dia
Tenho problemas com a lei Consigo controlar-me
Magoei fisicamente a minha esposa As minhas mão são firmes e fico atento
Perco empregos A relação com a minha família melhora
Não tenho respeito por mim Sou um melhor exemplo para os filhos
Tenho um bom desempenho laboral
4. Manter a motivação e lidar com a ambivalência
 Manter as estratégias motivacionais no decorrer do
processo é importante pois no utente podem surgir:
 Incertezas sobre os benefícios a longo prazo da mudança;

 Sentimento de perda;

 Falta de auto-eficácia na manutenção da mudança;

 Pressão social para utilizar a droga novamente;

 Renitência perante a indicação de se afastar de pessoas significativas

que também tenham CA.


5. Suporte social na manutenção da abstinência
 Identificação de elementos chave da rede social,
seguido pela caracterização dos seus comportamentos,
e a determinação do grau de apoio que podem
proporcionar ao utente de acordo com os seus
objectivos;
 Discussão dos modos através dos quais se pode
aumentar as interacções com as pessoas mais
significativas da rede de suporte social;
 Discutir formas de conhecer novas pessoas e aceder
redes de suporte social relacionadas com a abstinência.
6. Grupos de auto-ajuda
 Terapias de grupo de carácter emotivo:
 Exemplo: AA ou NA
 Potenciam:

 Expressão incondicional de sentimentos

 Valorização do indivíduo

 Motivação para o tratamento


12 passos dos NA
1. Admitimos que éramos impotentes perante a adição e que tínhamos perdido o domínio
sobre nossas vidas.

2. Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à


sanidade.

3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que
O concebíamos.

4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.

5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza
exacta de nossas falhas.

6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de


carácter.
12 passos dos NA
7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.

8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos
a reparar os danos a elas causados.

9. Fizemos reparações directas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível,
salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.

10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, admitíamos


prontamente.

11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar o nosso contacto consciente


com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua
vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.

12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses Passos, procuramos


transmitir essa mensagem às pessoas com comportamentos aditivos e praticar esses
princípios em todas as nossas actividades.
7. Competências comunicacionais
 Treino de competências de acordo com o estilo
comunicacional assertivo:
 Favorecer a tomada de decisão livre, consciente e

informada, em benefício próprio.


8. Desenvolvimento de alternativas ao uso da substância
Os CA foram fonte de prazer para mim ou ajudaram-me a
passar por determinadas dificuldades na minha vida. Agora
que não os mantenho, preciso de outras ideias que me
ajudem a sentir do mesmo modo.

Efeito positivo dos CA Um outro modo de satisfazer a minha necessidade


9. Prevenção da recaída
 Conjunto de técnicas e modificações no estilo de vida
que permitirão ao sujeito adquirir competências de
auto-controle para lidar com situações de risco.
9. Prevenção da recaída
 Viagem ao passado:
 Como iniciou,

 Quanto tempo durou,

 Consequências do comportamento,

 Como se sentiu,

 Como se sente a olhar para trás.

 Compreender as razões que levaram à cessação.


9. Prevenção da recaída
 Auxiliar na constituição de um projecto de vida, através da
avaliação para futura intervenção nas estruturas:
 Familiar

 Social

 Habitacional

 Económica

 Educacional/Formativa

 Laboral
9. Prevenção da recaída
 Contrato terapêutico com pessoas significativas do sujeito a
quem ele possa recorrer em caso de emergência, por
exemplo quando surge um forte desejo em consumir.
 Contacto das pessoas que podem ajudar:
 Em casa
 No trabalho
 No ensino
 Outros locais: na zona de residência, café, associação, etc…
 De que forma as pessoas podem auxiliar.
 Como me posso comportar nessas alturas…

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