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Capacitação Tabagismo Regional de Saúde Pouso Alegre - MG

Abril 2023

Avaliação Inicial do Tabagista e Entrevista Motivacional


Divisão de Controle do Tabagismo
Coordenação de Prevenção e
Vigilância/INCA/MS
Vera Borges
Consulta de Avaliação Clínica Inicial Tratamento Tabagismo
primeiro contato do
usuário/paciente com a unidade avaliação da história clínica atual
e/ou profissional
comorbidades

avaliação da história tabagística

avaliação do grau de dependência física

avaliação do grau de motivação

plano de tratamento
Anamnese Tratamento do Tabagismo PNCT
Avaliação Quantitativa – Teste Fagerstrom
Avaliação Qualitativa
Escala de Razões para Fumar
Modificada
Auxilia o fumante a identificar, dentre nove
fatores principais, situações de maior risco
para fumar, e ao profissional identificando
eixos a serem trabalhados, tais como
dependência, prazer de fumar, redução da
tensão, estimulação, automatismo, manuseio,
tabagismo social, controle de peso e
associações.
O escore final para esses fatores é obtido
através da média e resultados superiores a
dois são considerados Fatores de Atenção
tanto para a cessação quanto ao risco de
recaída naqueles já em abstinência.
Escala de Razões para Fumar
Modificada

Fatores Formados

Fonte: SOUZA et al., 2010.


ESTÁGIOS MOTIVACIONAIS E MOMENTO DO TRATAMENTO

DIFERENTES ABORDAGENS E CONDUÇÃO


Entrevista
Motivacional
Uma mudança comportamental envolve diferentes níveis motivacionais.

Motivação pode ser entendida como a probabilidade de uma pessoa se


Motivação envolver e permanecer em adesão a uma estratégia de mudança.
Não é, portanto, um traço de personalidade de um sujeito ou o caráter de
uma pessoa.
A Motivação é um determinado estado de prontidão que envolve a vontade
de mudar, e que está sujeita a flutuações dependendo do momento e da
situação

Essa movimentação dos sujeitos, flutuações, prontidão para uma mudança


em diferentes estágios foi descrita por Prochaska e DiClemente em um
modelo denominado “Modelo Transteórico”

Entrevista Motivacional: Preparando as Pessoas para a Mudança de Comportamentos Adictivos - William R. Miller, Stephen Rollnick
A Roda da Mudança – Estágios – Modelo Transteórico
SAÍDA
MANUTENÇÃO
PERMANENTE
NO DECORRER DE UMA MUDANÇA
MANUTENÇÃO
PESSOAS PASSAM POR DIVERSOS
ESTÁGIOS, PODENDO “CIRCULAR” RECAÍDA
AÇÃO
VÁRIAS VEZES POR ESSES
ESTÁGIOS ANTES DA MUDANÇA
ESTÁVEL.
( Prochaska e DiClemente) DETERMINAÇÃO
CONTEMPLAÇÃO
PRÉ-CONTEMPLAÇÃO

INTERVENÇÕES DIFERENCIADAS PARA MOVIMENTO


Entrevista Motivacional

 Técnica desenvolvida por Miller & Rollnick, constituindo uma entrevista clínica que objetiva auxiliar o indivíduo a
reconhecer seus problemas e aumentar sua motivação para mudança de comportamento;
 Propõe intervenções terapêuticas individualizadas adequadas a cada estágio com vistas a aumentar a adesão ao
tratamento;
 Particularmente útil em situações que envolvam ambivalência quanto à modificação de um comportamento,
colocando o indivíduo em movimento a caminho da mudança;
 As metas são negociadas entre o profissional e o paciente;
 As estratégias são mais encorajadoras do que argumentativas;
 O confronto é evitado;
 A meta final é aumentar a motivação intrínseca do indivíduo, entendendo e explorando, de modo que a mudança
venha de dentro ao invés de ser imposta de fora.

(MILLER, W.R., ROLLNICK, S. - Entrevista Motivacional: Preparando as pessoas para a mudança de comportamentos adictivos. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.
OLIVEIRA JR., H.P.; MALBERGIER, A. - Assessment of motivation for treatment in alcohol dependent patients who sought treatment at a specialized medical service. Rev Bras Psiq 25(1):265-70, 2003.
Entrevista Motivacional

Tempo e Movimento
• A primeira fase da entrevista
motivacional envolve estimular a
motivação para a mudança.
• Pode levar mais tempo com alguns
pacientes do que com outros.
• Chega um momento em que é necessário
mudar a estratégia – quando a meta
passa da estimulação para motivação.
• O estágio de contemplação é longo e
cobre desde a contemplação incipiente
até a decisão madura de mudar.
Estágios e Ações Motivacionais
Pré-contemplação – não considera possibilidade de mudança
Ação Motivacional: técnica educativa levantando dúvidas, ampliar a percepção do paciente sobre
os riscos do comportamento atual.
Contemplação - considera e rejeita possibilidade de mudança. Argumentos contra e a favor do
comportamento atual.
Ação Motivacional: auxiliar na identificação de razões para a mudança, os riscos de não mudar, os
custos.
Determinação - decide dar os passos para mudar o comportamento problema.
Ação Motivacional: ajudar determinar a melhor linha de ação a ser seguida na busca da mudança
Ação - paciente já fez um plano e começou a implementá-lo.
Ação Motivacional: estimular o paciente a mobilizar recursos de autoeficácia.
Manutenção - o novo comportamento está se estabelecendo com firmeza.
Ação Motivacional: ajudar o paciente a identificar e utilizar estratégias para prevenção da recaída.
Recaída - paciente volta ao padrão de uso que tinha antes da abstinência
Ação Motivacional: ajudar o paciente a identificar situações de pressão e renovar os processos de
contemplação e ação.
Caso Clínico - Estágio Pré-Contemplação
• E, sexo feminino, 37 anos, casada, 2 filhos adolescentes (14 e 16 anos), vendedora autônoma
de produtos de beleza, hipertensa, fumante de 25 cigarros diários, fagerstrom 08, início de uso
aos 12 anos de idade.
• Procura tratamento para deixar de fumar porque o filho mais novo está fumando, e ela vem
sendo pressionada pela família para que deixe de fumar.
• Afirma sentir-se incomodada com “tanta pressão”, e que por ela continuaria a fumar, porque o
cigarro a ajuda a pensar.
• Diz que “vai tentar”, mas não garante que conseguirá, porque da outra vez que tentou ficou
“sem concentração para suas coisas” .
• Quando é informada do intervalo entre as consultas diz que só poderá comparecer de 20 em
20 dias devido às visitas que tem que fazer na casa das clientes “se eu não trabalhar não
ganho, e aí não pago minhas contas...” “Dá pra esperar mais um pouco...”
CONDUTA: Inserida em Grupo?
Há indicação de medicação nesse Estágio Motivacional?
Estratégias Motivacionais na Movimentação de Estágios

 PRATICAR EMPATIA - importância das características do profissional, respeitando, e acolhendo através de uma
escuta reflexiva, ou seja, entender os pensamentos e sentimentos da paciente sem julgamentos, e não impondo
os valores do profissional.

 OFERECER ORIENTAÇÃO – Orientar de forma diretiva, identificando claramente o problema para o paciente.
Explicar porque a mudança é importante. Destacar alguns prejuízos à saúde devido ao tabaco, como a
hipertensão, além de benefícios com a cessação, particularmente no caso clínico apresentado, por deslocar-se
muito devido a função de vendedora, necessitando de disposição física.

 REMOVER BARREIRAS – auxiliar o paciente na busca de alternativas para resolver problemas como: tempo de
espera, horário de atendimento, etc. organizando horários (no caso clínico) com suas clientes para que seja
possível uma vez por semana cuidar-se também ao estar atenta a sua saúde.

 DIMINUIR O ASPECTO DESEJÁVEL DO COMPORTAMENTO – identificar os incentivos positivos do paciente para


manutenção do comportamento

 PROPORCIONAR ESCOLHAS – as chances de sucesso aumentam quando há possibilidade de escolhas pelo


paciente
LMF, chega ao Centro de Tratamento acompanhada pelo marido. O profissional de saúde que vem chamá-la na sala de espera e conduzí-la até
a sala de atendimento percebe que a paciente está tranquila. Esboça um sorriso quando entra no consultório deixando o marido na outra
C sala.
O No início do atendimento é feita a apresentação pelo profissional de saúde, ao mesmo tempo que dá as boas vindas a paciente pelo fato de
ter procurado ajuda para deixar de fumar. Ela diz que apesar do marido tê-la trazido, ela também quer deixar de fumar, mas como a vontade
N vem alternando há muito tempo, decidiu “tomar uma atitude hoje”.
Começa relatando alguns problemas de saúde atuais, a pressão dos filhos e marido para que deixe de fumar. Em alguns momentos deixa
T escapar a vergonha de ser fumante, mas percebe que não há julgamento. Diz o quanto gosta de fumar, e que se o cigarro não a prejudicasse
continuaria fumando – o cigarro me dá prazer.
E
Diz que tem uma história com o cigarro, e que parece que essa história está chegando ao fim – eu gosto dele, mas está me prejudicando.
M Relata que está com 58 anos, e que iniciou sua história com o cigarro aos 13 anos de idade, época em que deixou de ser acompanhada pela
mãe até a escola, e começou a ter de superar e, às vezes conviver, com seus medos, insegurança e outros sentimentos desconhecidos. O
P grupo formado na escola vivia a mesma fase. Quase todos eram fumantes e saudáveis. Achava-os interessantes. Resolveu experimentar.
Sentiu-se tonta, fez vômito, mas havia algo de prazer. Achou que devia investir e insistir. Afinal se sentia adulta, independente e charmosa,
L como nas propagandas. Percebia até os meninos olhando com mais interesse...
A Ficou adulta e toda sua trajetória esteve acompanhada pelo cigarro. Como em um casamento, na alegria e na tristeza... Na saúde... E até
mesmo na doença...
T Admite “agora preciso parar, mas sozinha está difícil...”
I
Condução: apesar das dificuldades relatadas a paciente está contemplativa, ambivalente, mas reconhece a
V necessidade de parar, porque “está me prejudicando”. ..
A Inserida no grupo para tratamento.
Trabalhando a ambivalência

 Ambivalência é o que define quando se possui, Peso


simultaneamente, dois sentimentos ou ideias em relação a maior
algo. benefícos
 A ambivalência tem um papel central nos comportamentos com a
adictivos, e é normal que o fumante sinta-se dividido entre Mudança Peso menor
deixar e continuar fumando. - Custos da
 A incerteza quanto a deixar ou continuar fumando não deve
mudança
ser entendido como sinal de pouca motivação.

Ao invés do confronto, acolher e orientar o paciente no


sentido de compreender que escolhas levam a perdas e
Desequilibrando a
ganhos.
ambivalência
Programa Nacional de Controle do Tabagismo

Obrigada!
Vera Borges
Divisão de Controle do Tabagismo
Coordenação de Prevenção e Vigilância/INCA/MS

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