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TRABALHO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Termo: 6º

Disciplina: Dependência química

Alunas: Isabel Cristina Mariano da Eira

Samara Pacífico Silva

Tatiana Pelegrini Rezende Ramos

Professor: Fábio Abagabir


Título:
Entrevista Motivacional

Introdução

A EM (entrevista motivacional) foi originalmente descrita em 1983 pelos psicólogos, William Miller e
Stephen Rollnick, e reuniu várias abordagens previamente existentes, e foi aplicada inicialmente para o
tratamento de dependentes de álcool e drogas, com o objetivo de modificar o comportamento por meio da
exploração e resolução da ambivalência do indivíduo. Depois dessa utilização em dependentes químicos ela
foi amplamente aplicada em outros campos de intervenção dentro da área da saúde. A abordagem tem
como foco a escuta, encorajamento, e o reconhecimento do paciente, almejando o fortalecimento da
motivação intrínseca do mesmo, que visa a modificação do comportamento problema, ajudando o paciente
a explorar e resolver suas ambivalências. A aceitação e a motivação do paciente no tratamento são
fundamentais e de extrema importância para o processo. A partir desta perspectiva o presente trabalho terá
como objetivo a apresentação da proposta da entrevista motivacional com foco na dependência química,
com destaque nos cinco estágios de mudanças e nos cinco princípios gerais de entrevista motivacional. E será
apresentado um caso clínico como plano exemplo da EM.

Fundamentação Teórica

De acordo com Miller e Rollnick (2013), a EM é um estilo de conversa colaborativa voltado para o
fortalecimento da sua própria motivação e comprometimento com uma mudança. Por se tratar de
uma abordagem que tem uma meta específica, que é resolver a ambivalência, é compreendida com
caráter de intervenção breve, podendo assim, ser utilizada por uma ampla gama de profissionais em
diferentes serviços (FIGLIU, GUIMARÃES, 2014).
As premissas básicas que auxiliam o profissional na prática da EM são empatia, congruência, espírito
colaborativo no aumento da motivação para a mudança; adoção de um estilo calmo e eliciador;
considerar a ambivalência natural (a motivação para a mudança deve ser eliciada no cliente e não
imposta); a resistência pode ser reduzida ou aumentada através das interações interpessoais (o
profissional é diretivo em auxiliar o cliente a examinar e resolver a ambivalência); o relacionamento
cliente-profissional deve ser colaborativo e amigável; clientes são responsáveis pelo seu progresso (o
profissional atua como um facilitador no processo, estimulando e apoiando a autoeficácia do
cliente); a abstinência é a meta mais segura, mas nem sempre a melhor escolha, principalmente com
clientes em pré-contemplação ou contemplação. Trabalhar em parceria com o cliente, baseando no
reconhecimento de que é o especialista em sua própria vida; Habilidade em oferecer um
aconselhamento centrado no cliente, incluindo empatia precisa; reconhecer os aspectos chave das
falas do cliente norteadoras para a prática da EM; Eliciar e fortalecer as falas de mudança do cliente;
Lidar com a resistência; Negociar um plano de ação; Consolidar o compromisso do cliente com a
mudança; Ser flexível no uso da EM juntamente com outros estilos de intervenção (FIGLIU,
GUIMARÃES, 2014).
Para que a intervenção seja aplicada, é necessário que o terapeuta obtenha informações sobre o estágio de
motivacional que o cliente encontra-se naquele momento, para a partir do estágio em que o cliente estiver,
ser aplicada a intervenção, e somente quando o cliente concluir um estágio, poderá passar para o estágio
seguinte. Os estágios são divididos em cinco e estão relacionados aos comportamentos que o cliente
apresenta no momento. O modelo teórico tem início com a Pré-Contemplação, estágio em que a pessoa não
considera a necessidade de ajuda, não demonstrando consciência suficiente de que tem problemas, embora
outras pessoas do seu convívio possam estar cientes disso.

“Quando a pessoa visualiza seu consumo de substâncias como um problema com possibilidade de mudanças,
ela entra no estágio de Contemplação” ( SALES, FIGLIE, 2019). Neste segundo estágio, já existe a consciência
do problema, mas a ambivalência é evidente, pois o indivíduo considera a mudança e a rejeita ao mesmo
tempo. Ainda não existe um compromisso em mudar e sim um desejo incipiente sem data para que a
mudança ocorra.
A mudança para o terceiro estágio, o estágio da preparação, é quando o cliente está decidido a dar os
passos certos para mudar, “[...]começa a pensar em tentativas para mudar seu comportamento. Neste
estágio, geralmente as pessoas são descritas como prontas para a ação” ( SALES, FIGLIE, 2019).
Quando as práticas do terceiro estágio são colocadas em ação, o cliente passa para o quarto estágio, o
estagio da Ação, neste estágio o cliente já passou pela pré-contemplação, contemplação, preparação e
agora de fato ele esta fazendo e tomando as decisões que são concernentes à ações, a terapêuticas, a
comportamentos específicos que vão auxilia-lo na mudança, “[...]ocorrendo uma implementação de planos
para a modificação do comportamento aditivo envolvendo tentativas concretas de modificar
comportamentos, experiências e/ou o meio ambiente, a fim de superar os problemas da dependência
( SALES, FIGLIE, 2019).
A partir das ações do cliente, em que já existe uma mudança, surge então o quinto e último estágio, o
estágio de manutenção, “[...]em que a pessoa modifica seu estilo de vida, evitando a recaída, atingindo
abstinência e consolidando as mudanças. “ Vale ressaltar que o estágio motivacional do paciente foi
estudado e considerado como um fator preditor de efetividade no tratamento” ( SALES, FIGLIE, 2019).
Por se tratar de uma abordagem diretiva e para que possa-se obter resultados positivos nos estágios de
mudança, a EM segue cinco princípios gerais essenciais para sua aplicação, sendo estes, expressar empatia,
desenvolver discrepância, evitar a argumentação, acompanhar a resistência, e promover a autoeficácia, que
serão apresentadas a seguir:

Expressar empatia:
“ O terapeuta precisa entender o contexto do cliente, e compreender os seus significados para o problema
vivido” ( PORTAL EDUCAÇÃO, 2021, p.11).

Desenvolver discrepância:
Discrepância é demonstrar a diferença entre o comportamento atual do paciente e o
comportamento que ele gostaria de ter. Então, desenvolver a discrepância aumentar e evidenciar a
distância que a entre seu comportamento e suas metas mais amplas.
Esta técnica é útil para que o paciente tenha consciência De seu comportamento atual e, assim
vendo a discrepância deste comportamento e de seus objetivos futuros, possa ficar mais motivado e
fazer mudanças ( PORTAL EDUCAÇÃO, 2021, p.16).

Evitar argumentação:
Este princípio é fundamental dentro da entrevista motivacional, pois fundamenta a sua aplicação em
fazer com que o paciente ouça a ele mesmo eu percebo as suas próprias razões para mudar. Dentro
desta perspectiva, a argumentação tende a criar resistência pois é uma forma confrontativa de
encarar a resolução do problema ( PORTAL EDUCAÇÃO, 2021, p.16).

Acompanhar a resistência:
“Acompanhar a resistência significa fluir com ela, ao invés de se opor a ela. Portanto, as novas perspectivas
do paciente são bem aceitas, Mas não devem ser impostas ( PORTAL EDUCAÇÃO, 2021, p.17).
Promover a auto eficácia:
Autoeficácia é a crença da própria pessoa em sua habilidade de expressar e ter sucesso em uma
determinada atividade. Este é um elemento essencial na motivação do paciente, já que esta tem
relação direta com a capacidade do paciente em acreditar em si mesmo. o papel do terapeuta é
mostrar ao paciente que ele pode fazer uma mudança bem-sucedida em seu comportamento
problema. Para isso o terapeuta precisa acreditar nessa possibilidade ( PORTAL EDUCAÇÃO, 2021,
p.17).

Exemplo
Exemplo de um caso

Homem

Idade 20 anos

Demanda: Se sente pressionado pela família, por insistirem que está fazendo uso abusivo do álcool. Por
insistência da família foi ao médico para fazer exames, e os resultados dos exames mostraram alterações
importante em sua saúde de modo geral.

Terapeuta: Olá, segundo o que me disse ao telefone, seu principal problema está relacionado a pressão que
sua família está fazendo encima de você, por insistirem que está fazendo uso abusivo do álcool. Gostaria de
ouvir sobre suas preocupações a esse respeito.

Paciente: Na verdade, eu nunca percebi meu uso de álcool como um problema, há anos bebo. Mas com os
resultados dos exames parece que minha saúde precisa de cuidados. Além disso, minha família tem me
cobrado muito para eu parar com a bebida (aqui o cliente demonstra uma ambivalência).

Terapeuta: O que você está me dizendo é que sua família e médico estão preocupada com o seu uso abusivo
do álcool. (Terapeuta faz uma reflexão).
Paciente: Talvez eu esteja bebendo mais do que antes.

Terapeuta: Então você notou que está bebendo mais do que antes.

Paciente: É, realmente, outro dia bebi até passar mal

Terapeuta: Como sentiu-se? Naquele momento?

Paciente: Não muito bem, mas acho que isso às vezes acontece com as pessoas que bebem. Eu gosto de
beber, não consigo resistir.

Terapeuta: Beber socialmente é considerado “normal", mas se excedermos isso, tudo o que bebemos passa
a prejudicar o organismo e as todos que estão a volta. (informações úteis sobre o problema)

Terapeuta: (Continuação) Você está me dizendo que a sua família está preocupada com você em razão da
sua saúde. Você também se sente preocupado, mas pressionado por eles. Você Gosta de beber, mas
reconhece que às vezes exagerar na quantidade. ( terapeuta faz um resumo do que foi dito até então)

Paciente: É, é isso sim.

Terapeuta: Isso é muito importante. Tem mais alguma coisa que você tenha notado em relação a seu
problema?

Paciente: Algumas vezes tenho me segurado e bebido pouco quando estou perto da minha família, para que
eles não fiquem “ pegando no meu pé”, mas depois saio sozinho encontro com os amigos e bebo
descontroladamente.

Terapeuta: Isso é realmente preocupante. quantas vezes isso ocorreu na última semana?

Paciente: 3 vezes

Terapeuta: Então, você se preocupa que isso possa voltar acontecer.

Paciente: Na verdade, sim

Terapeuta: Existe alguma forma de tentar evitar esse comportamento?

Paciente: Talvez se eu não sair sozinho

Terapeuta: Você sai sempre sozinho e encontra seus amigos. (escuta reflexiva).

Paciente: É, eu prefiro para poder beber de verdade.

Terapeuta: Se você pensar que está prejudicando sua saúde, conseguiria mudar (escuta reflexiva).

Paciente: Não sei, porque realmente gosto muito de beber.


Terapeuta: O que você acredita que teria que fazer para reduzir a bebida? O médico lhe deu informações
sobre isso?

Paciente: Sim, ele disse que preciso pelo menos diminuir o consumo de álcool, que minha saúde pode piorar
se eu não o fizer.

Terapeuta: O quanto você se sente confiante para fazer isso numa escala de 1 a 10? ( Medindo
autoeficacia).

Paciente: Talvez 4

Terapeuta: E porque você está no 4 e não no 1?

Paciente: Acredito que será possível se eu realmente me esforçar.

(Até o momento, o terapeuta fez uma investigação nas informações sobre o sentimentos do paciente em
relação ao seu problema, respeitando e entendendo o seu drama. Procurou verificar algumas possibilidades
de mudanças, mas seu principal objetivo até aqui foi verificar seu estágio motivacional.
A partir das afirmações do cliente foi possível perceber que ele se contra no estágio de contemplação, pois já
percebe seu problema, mas ainda está resistente a mudar. nesse caso o terapeuta deverá trabalhar com ele
as estratégias referentes ai esse estágio).
Seguindo a sessão:

Terapeuta: O que você acha que poderia acontecer se você diminuísse a quantidade de álcool que costuma
ingerir?

Paciente: Bom, na verdade não vejo muitas coisas ruins nisso. Apenas pelo fato de ficar com imensa vontade
de beber.

Terapeuta: Você está me dizendo que sente uma vontade incontrolável de beber.

Paciente: Sim

Terapeuta: E o que poderia acontecer de melhor no caso de ingerir menos bebida alcoólica?

Paciente: Acho que iria dar um pouco de tranquilidade à minha família.

Terapeuta: E como seria sua vida se parasse com a ingestão de álcool?

Paciente: Minha saúde iria melhorar e tenho certeza que viveria em paz com minha família.

Terapeuta: Alguma vez você já tentou parar de beber? se sim, como foi a experiência?
Paciente: Sim, algumas vezes. Sempre consigo enquanto estou perto dos meus familiares, depois acabo
saindo e encontrando com amigos e resolvo desistir.

Terapeuta: E se você tentasse por um tempo determinado não sair sozinho, e encontrar com os amigos?

Paciente: Assim acredito que conseguiria continuar qual o objetivo de parar de beber.

Terapeuta: Quanto temos um problema, ficamos tão envolvidos com ele que parece que não podemos falhar
em nenhum momento. Porém, essas pequenas falhas são possíveis e devemos encarar como um momento
de aprendizagem. (ensinando sobre recaídas e melhorando a autoeficácia)

Paciente: Nunca havia pensado dessa forma.

( Iniciamos agora a passagem para um estágio mais avançado, o estágio da preparação).

Terapeuta: Até agora você me falou sobre as dificuldades que está encontrando quanto a seu
comportamento. Que parece ser difícil de mudá-lo, e você não se sente preparado para isso( resumo)

Paciente: Talvez, hoje eu esteja mais confiante para tentar algo

Terapeuta: Então você se sente pronto para mudar seu comportamento?

Paciente: Acho que preciso mudar, gostaria de mudar, mas não sei como.

Terapeuta: O que você acha que poderia fazer hoje?

Paciente: Não sei. O que você acha?

Terapeuta: Existem algumas possibilidades para isso. Vamos pensar em que situação será mais difícil ficar
sem beber em excesso

Paciente: Realmente terei mais problemas no fim de semana, por que costumo sair e encontrar os amigos.

Terapeuta: Você está me dizendo que não conseguiria controlar à vontade de beber por causa do encontro
com seus amigos?

Paciente: Bom, não é por causa deles, é que esqueço de seguir meu objetivo quando me distraio com outras
coisas.

Terapeuta: Então, que estratégia podemos usar para que você lembre-se da seu objetivo de parar com o
consumo de álcool?

Paciente: Então, se talvez se eu deixar de sair por algum tempo, até eu me sentir mais confiante.

Terapeuta: Você acha que isso pode te ajudar?


Paciente: Sim.

Terapeuta: O quanto você se sente pronto para conseguir pôr essa estratégia em prática, numa escala de 1
a 10?

Paciente: Acho que 7

Terapeuta: Muito bom. Podemos tentar.

(Neste momento o cliente se mostra bastante motivado a mudar seu comportamento. Busca soluções para
chegar ao seu objetivo. Para usar as sua motivação para investigar a situações difíceis e como lidar com elas
durante a tentativa de mudança de comportamento.
No estágio seguinte (ação), o cliente põe em prática aquilo que combinou com o terapeuta e sente-se mais
motivado a continuar tentando. Após alguns meses já havia melhorado o relacionamento com a família, e já
havia também uma melhora em relação aos exames, que já estavam apresentando melhoras).

Terapeuta: Então, como vem se sentindo em relação ao seu comportamento com o uso de álcool

Paciente: No fim de semana estive em uma festa de aniversário com a minha família e resolvi sair um pouco,
encontrei alguns amigos mas não fiz ingestão de álcool.

Terapeuta: Que bom! Você realmente está conseguindo seguir seus objetivos. Como você está se sentindo?

Paciente: Sinto-me orgulhoso e feliz.

Terapeuta: Quais estratégias você usou para parar de beber?

Paciente: Lembrei-me da minha saúde, o quanto minha família estava preocupada me vendo naquela
situação. E o quanto progredir até aqui, não quero jogar fora tudo que já fiz para chegar até aqui.

Terapeuta: É importante que você lembre, que embora tenha feito muitos avanços nas últimas semanas, é
preciso estar atento aos perigos de recaída. Sabemos também que, ao contrário do que você pensou, a
recaída não significa a perda de tudo que conquistou até aqui, certo? ( Trabalho de prevenção e preparação
de recaídas)

Paciente: Certo estou me esforçando para manter meu objetivo.

Terapeuta: Posso perceber que realmente considera um grande esforço e vitória nessas últimas semanas

(Aqui o cliente se encontra no estágio de manutenção, da mudança de comportamento. o terapeuta


identifica as estratégias que tem funcionado ele oferece gratificações( elogios)Para sua mudança de
comportamento. Trabalha ainda questões relacionadas às possibilidades de recaída com o objetivo de
preparar o paciente se isso ocorrer.
Vale ressaltar que este não é o fim do tratamento, pois o cliente provavelmente precisará de apoio do
terapeuta).
Conclusão

A EM é uma abordagem que possui base teórica, trabalha o aumento da motivação e se mostra eficaz na
redução do consumo de álcool, modificando o comportamento padrão de beber. Desde que a EM foi lançada
em 1983, ela vem sofrendo modificações na intenção de se adaptar as demandas de relação profissional-
cliente. Embora a EM seja uma abordagem centrada no cliente, (como as abordagens não diretiva), ela é
uma abordagem direcionada, pois tem objetivos e estratégias para modificação do cliente.

Referências:

SALES, Cristiane Martins Baia; FIGLIE, Neliana, Buzi. Revisão de literatura sobre a
aplicação da entrevista motivacional breve em usuários nocivos de dependentes de
álcool. Disponível em:< www.scielo.br >. Acesso em. 22 nov.2021.

EDUCAÇÃO, Portal. Curso de entrevista motivacional. Disponível em: <


www.scribd.com >. Acesso em. 22 nov.2021.

FIGLIE, Neliana, Buzi; GUIMARÃES Lívia, Pires. A entrevista motivacional: conversas


sobre mudanças. Disponível em:< www.pepsicbvsalud.org/scielo >. Acesso em:22 nov
2021.

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