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ENTREVISTA MOTIVACIONAL

Sobre a Motivação
• Costuma-se dizer que a motivação de um cliente pode ser avaliada por uma série de
comportamentos tais como:
– Concordar com o terapeuta e aceitar o diagnóstico deste (isto é, admitir a dependência de
uma droga),
– Expressar vontade de mudar ou de ser ajudado,
– Estar incomodado com sua situação pessoal,
– Seguir os conselhos do terapeuta.
• De forma oposta, estar “desmotivado” (em negação ou resistente), seria ter os
comportamentos contrários.
• Portanto, discordar com o terapeuta é estar “em negação” e concordar é “insight”.
• A questão é que se julga motivação pelo que o cliente diz e a preocupação nesta
nova abordagem seria mais o que o cliente faz, já que o que o cliente fala não é
garantia de que ele fará o que verbalizou. Assumir um diagnóstico não prediz
sucesso de tratamento: muitos dependentes dizem que o são mas não mudam e
outros que não se categorizam, conseguem mudar. Não é incomum as pessoas
dizerem algo e fazerem diferente.
Adesão para a mudança
• O que parece predizer mudança é a aderência da pessoa ao conselho ou plano
estabelecido com o terapeuta. Dessa forma, o termo motivação se torna mais
específico e pragmático: se motivação é vista como o grau de compromisso ou
aderência com o tratamento, esta pode ser encarada como a probabilidade de
certos comportamentos ocorrerem. Neste sentido, a visão de motivação se
torna mais prática e otimista do que encará-la ou como um traço de
personalidade ou mesmo como um momento interno.
• Assim, motivação pode ser definida como a probabilidade de que uma
pessoas se envolva, continue e adira a uma estratégia específica de mudança.
• Motivação não deve ser encarada como um traço de personalidade inerente ao
caráter da pessoa, mas sim um estado de prontidão ou vontade de mudar, que
pode flutuar de um momento para outro e de uma situação para outra, isto é,
de acordo com esta abordagem, a motivação é vista como uma característica
dinâmica ao invés de um aspecto estático do indivíduo, podendo ser
influenciado por fatores externos. Neste sentido, a motivação se torna um
objetivo crucial do terapeuta: este deve não só orientar mas motivar o cliente,
isto é, aumentar a probabilidade de que este siga uma linha de ação que gere
mudança.
Definição, bases teóricas e o papel do
terapeuta
• De acordo com Rollnick e Miller, EM é “um estilo de aconselhamento
diretivo, centrado no cliente, que visa estimular a mudança do
comportamento, ajudando os clientes a explorar e resolver sua
ambivalência”.
• Engloba técnicas de várias abordagens, tais como psicoterapias breves,
“terapia centrada no cliente”, terapia cognitiva, terapia sistêmica e até a
psicologia social de persuasão. Envolve componentes diretivos e não
diretivos.
• Uma sessão de EM é bem parecida com uma sessão de terapia centrada no
cliente, aquela desenvolvida por C. Rogers. Nessa abordagem, o papel do
terapeuta é não diretivo, isto é, ao invés de propor soluções ou sugestões
para o cliente, oferece condições de crítica que propiciem ao cliente o
espaço para uma mudança natural: tenta-se buscar as razões para mudança
no cliente ao invés de impor ou tentar persuadi-lo sobre a mudança. Em
essência, a EM orienta os pacientes a convencerem a si próprios sobre a
mudança necessária.
Pressupostos
• Entre as condições essenciais para que esta técnica funcione a principal é a
empatia, que Rogers definiu como uma “escuta técnica reflexiva” que
clarifique e amplie a experiência pessoal do cliente, sem impor a opinião
pessoal do terapeuta.
• Isto é, nesta abordagem, o terapeuta não assume o papel de “expert”, a
relação terapeuta-cliente é mais de troca, visando a autonomia, liberdade
de escolha do cliente e sua eficácia. Apesar da confrontação ser um objetivo
implícito da EM, confrontação direta, imediata e persuasão, são
explicitamente evitadas já que estas geralmente aumentam a resistência e
reduzem a probabilidade de mudança.
• Ao mesmo tempo, há um componente diretivo, já que o terapeuta mantém
sempre um propósito e uma direção (que é auxiliar o cliente a lidar com sua
ambivalência e consequentemente possibilitar mudança) e, muitas vezes,
escolhe ativamente o momento certo de intervir, de modo a facilitar esta
meta.
Conceitos principais
• A EM baseia-se em 2 conceitos.
• O primeiro é o de ambivalência, que, neste contexto, não significa apenas a
relutância a fazer algo mas sim, a experiência de um conflito psicológico
para decidir entre dois caminhos diferentes.
• Os dependentes de álcool e drogas, quando buscam tratamento,
geralmente o fazem com conflitos, com aquilo que chamamos de motivação
flutuante, isto é, eles querem fazer algo a respeito do seu comportamento
mas ao mesmo tempo também não querem. No caso dos fumantes, por
exemplo, o conflito seria entre continuar fumando e parar de fumar.
• Ambivalência quanto à mudança de comportamento é difícil de resolver
porque cada lado do conflito tem seus benefícios e seus custos. Por ser a EM
uma técnica desenvolvida para lidar com a dependência, tem-se como uma
das suas metas principais a constatação e a resolução da ambivalência.
Conceitos principais
• O segundo conceito é o de prontidão para a
mudança, baseada no modelo de “Estágios de
mudança”, desenvolvido por Prochaska e DiClemente.
• Tendo como base o conceito de motivação como um
estado de prontidão ou vontade de mudar (como
mencionado anteriormente, um estado interno
mutável de acordo com fatores externos), esse
modelo acredita que a mudança se faz através de um
processo e para tal, a pessoa passa por diferentes
estágios.
Etapas do Processo de mudança
de Prochaska e DiClemente

• Pré-contemplação
• Contemplação
• Preparação
• Ação
• Manutenção
• Recaída
• A entrada para o processo de mudança é o estágio de “Pré- contemplação”, onde a
pessoa ainda não está considerando a mudança. De um modo geral, a pessoa neste
estágio sequer encara o seu comportamento como um problema, podendo ser
chamado “resistente”ou “em negação”.
• Quando alguma consciência sobre o problema aparece, a pessoa entra no estágio
seguinte de “Contemplação”. O contemplador considera a mudança, mas ao
mesmo tempo a rejeita e é nesta fase que a ambivalência, estando no seu ápice,
deve ser trabalhada para possibilitar um movimento rumo à decisão de mudar.
• Uma vez trabalhada a ambivalência, a pessoa pode passar para o estágio de
“Preparação”, onde ela está pronta para mudar e compromissada com a mudança.
Faz parte deste estágio, aumentar a responsabilidade pela mudança e elaborar um
plano específico de ação.
• O estágio seguinte é o de “Ação”, onde o cliente já muda e usa a terapia como um
meio de assegurar-se do seu plano, para ganhar auto-eficácia e finalmente para
criar condições externas para a mudança. O processo todo nos pacientes com
comportamentos dependentes pode durar de 3 a 6 meses, já que, nestes casos, o
novo comportamento (o de abstinência geralmente) demora um tempo para se
estabelecer.
• O grande teste para comprovar-se a efetividade da mudança, seria a estabilidade
neste novo estado por anos e que, no processo de mudança, se chama
“Manutenção”.
• Porém, deve-se ter em conta que, uma vez atingida
alguma mudança, não significa que a pessoa se
manterá neste estágio: muitas pessoa acabam
recaindo e tendo que recomeçar o processo
novamente. Nem sempre este recomeço ocorre
pelo estágio inicial.
• Muitas pessoas, passam inúmeras vezes pelas
diferentes etapas do processo para chegar ao
término, isto é, uma mudança mais duradoura. Daí,
os autores passarem a ilustrar o processo de
mudança como uma espiral, que pressupõe
movimento.
A recaída
• A recaída é um aspecto essencial a ser entendido quando se fala em
mudança de hábito nas dependências. Em termos médicos, recaída
seria a “recorrência dos sintomas da doença, após um período de
melhora”.
• Adaptando este conceito às dependências, a recaída seria então “um
retorno a níveis anteriores de uso, seguido de uma tentativa de parar
ou diminuir este uso” ou apenas “o fracasso de atingir objetivos
estabelecidos por um indivíduo a pós um período definido de tempo”.
• É importante encarar a recaída não como um fato isolado, isto é, um
botão que se aperta mas sim como uma série de processos cognitivos,
comportamentais e afetivos. Ainda, a recaída deve ser encarada como
um estado de transição, que pode ou não ser seguido de uma
melhora.
A técnica da EM
• A EM empresta de modelos teóricos variados (tais como
técnicas diretivas e não diretivas, de abordagens breves,
entre outros), seu instrumento de trabalho. Estas várias
técnicas porém, são, na EM, utilizadas de forma
bastante específica.
• O papel do terapeuta por exemplo, na EM é bastante
particular: o terapeuta aqui tem a função de estimular a
motivação do cliente, buscando aumentar a
possibilidade de mudança sem, ao mesmo tempo,
impor à pessoa um curso de ação que não seja
apropriado ao seu momento pessoal.
Princípios Gerais da EM
• Existem 5 princípios básicos na técnica da EM.
São eles:
1. Expressar empatia;
2. Desenvolver a discrepância;
3. Evitar discussões,
4. Fluir com a resistência;
5. Promover a autoeficácia
EXPRESSAR EMPATIA
• O estilo terapêutico empático é uma característica essencial e definidora da EM
e deve ser empregado desde o início e durante todo o processo.
• A atitude que fundamenta o princípio da empatia pode ser chamada de
“aceitação”.
– Aceitar a postura do cliente, tentando entendê-lo, sem julgamento ou crítica.
• Por meio da escuta reflexiva habilidosa, o terapeuta busca compreender os
sentimentos e as perspectivas do cliente sem julgá-lo, criticá-lo ou culpá-lo.
– Aceitar não significa concordar ou aprovar e não proíbe o profissional de diferir dos
pontos de vista do cliente.
– Aceitar as pessoas como são (o que sentem e o que pensam) parece libertá-las para a
mudança, enquanto a não aceitação insistente (“Você não está bem, tem que
mudar”) pode ter o efeito de mantê-las do jeito que estão.
– A atitude de aceitação e de respeito constrói uma aliança terapêutica e estimula a
autoestima do cliente.
– A ambivalência é aceita como normal, a relutância em mudar pode ocorrer e sua
situação é entendida como de imobilidade (ocasionada por princípios psicológicos
compreensíveis).
Treinar a estratégia
• Uma forma de treinar essa estratégia é começar
a pensar reflexivamente e isso consiste em
ouvir alguém e pensar no que ouviu, sem
preconceitos ou interferências pessoais,
tentando entender o sentido do que foi dito.
• A afirmação feita com a escuta reflexiva deve
ser mais um palpite sobre o que o cliente diz e
não uma pré-concepção que se torna uma
barreira para a relação
• Acolher
• Aceitar a postura do indivíduo, tentando
entendê-lo, sem julgamento.
• Escuta técnica reflexiva (reflective
listening)
• Solidariedade emocional: com gestos e
palavras
Técnicas para aumentar o nível de
conscientização
• Reforçar a forma verbal e não verbal as afirmações do cliente;
• Tornar as decisões equilibradas, indicando os aspectos
positivos e negativos de ambos os comportamentos;
• Provocar a elaboração do plano de ação pedindo exemplos
concretos (Como? Quando? De que maneira?);
• Usar os extremos, imaginando as piores consequências
possíveis;
• “Olhar para trás e para frente”
• Explorar valores realmente importantes para a vida do cliente
• Fazer o papel de “Advogado do diabo”,
DESENVOLVER A DISCREPÂNCIA
• A EM trabalha com o conceito de dissonância cognitiva,
ou seja, a discrepância que existe entre o
comportamento presente e as metas da pessoa, ou seja:
“Onde ela está e aonde ela quer chegar”
– Por exemplo : um dependente de álcool que está em
tratamento com a meta de abstinência, mas diariamente
frequenta o bar para conversar com amigos ou comprar
cigarros.
– Neste contexto, esse cliente pode se encontrar em abstinência,
mas não está mudando hábitos e estilo de vida.
– A proposta da EM é que o cliente possa perceber sua meta e
analisar criticamente se está utilizando os meios mais
adequados para atingi-la.
Ter a conscientização das consequências

• A conscientização da consequências é importante


quando um comportamento é visto como conflitante
com metas pessoais, como a própria saúde, o sucesso, a
felicidade da família, ou uma autoimagem positiva, é
provável que a mudança aconteça.
– É importante que o próprio cliente apresente os argumentos
para a mudança e o profissional pode contribuir dando
ênfase aos argumentos do cliente em prol da mudança, de
modo a facilitar esse processo.
– Perguntas abertas em relação às metas futuras e reflexões
podem fazer o cliente se dar conta da necessidade da
mudança no estilo de vida.
FLUIR COM A RESISTÊNCIA
• Refere-se à evitação do uso de argumentações e do confronto
direto.
• É frequente o profissional dizer que o cliente tem um problema e
o cliente defender o ponto de vista oposto. A argumentação
direta tende a evocar a resistência nas pessoas.
– Quanto mais for dito a alguém “você tem um problema”, mais provável
será a resposta “não, eu controlo a situação.”
– Esse tipo de discussão é contraproducente, suscita defesas e
resistências no cliente.
• Alguns terapeutas dão muita importância à disposição do cliente
em “admitir” um rótulo/diagnóstico. Forçar um cliente a aceitar
um diagnóstico ou acusá-los de “negação” ou “resistência não os
motivará a mudança.
Segundo este princípio...
• Segundo o princípio de fluir com a resistência, as
declarações que um cliente oferece podem ser
ligeiramente modificadas ou reformuladas de forma a
criar uma nova força de mudança.
• Fluir com a resistência significa saber reconhecer o
momento do cliente e usá-lo (e não ir contra ele) para
auxiliá-lo na resolução de sua ambivalência.
• É preciso ter em mente que as percepções do cliente
podem mudar, que novas perspectivas são mais bem
recebidas quando não são impostas e que o cliente é
uma rica fonte de soluções para seus problemas.
PROMOVER A AUTOEFICÁCIA
• Há muito se reconhece que a esperança, a fé e as expectativas do
próprio terapeuta quanto às chances de recuperação de um cliente
podem ter um forte impacto no resultado.
• Autoeficácia é a crença da própria pessoa em sua habilidade de
enfrentar uma tarefa ou desafio específico, considerada um elemento-
chave no processo de motivação para a mudança e um fator preditivo
do sucesso do tratamento.
• Trata-se de um processo cognitivo, uma vez que lida com julgamentos
ou avaliações feitas pela pessoa sobre a sua competência.
– Não significa ter habilidades, mas sim ter a percepção, a certeza sobre a sua
capacidade de exercer as habilidades.
– Um dos objetivos do terapeuta será aumentar as percepções do cliente
quanto à sua capacidade de enfrentar obstáculos e ter sucesso.
Existem várias mensagens que promovem a
autoeficácia
• Uma delas é a ênfase na responsabilidade pessoal: ninguém
mais poderá fazer a mudança senão a própria pessoa.
• Um cliente também pode ser encorajado pelo sucesso dos
outros e, portanto, fazer contato com ex-clientes que possam ser
tomados como modelos.
• Outra maneira é a utilização, pelo profissional, das estimativas
de sucesso de outras pessoas.
– Além disso, o fracasso pode ser entendido como um sinal de que a
pessoas ainda não encontrou a abordagem certa dentre as muitas
disponíveis.
– Mediante a gama de opções de tratamento, as chances de um cliente
encontrar algo que seja mais efetivo para si são maiores do que
quando sugeridas por outrem.
METODOLOGIA DA EM
• Embora a reflexão seja a estratégia-chave na
EM, é importante salientar que a metodologia
não consiste apenas no uso de reflexões.
• A metodologia consiste na utilização de
reflexões, reforços positivos, resumos e
perguntas diretas em uma relação 2:1, ou seja,
a utilização de cada duas estratégias para cada
pergunta, com preferência das reflexões.
Fazer perguntas abertas
• Uma boa maneira de começar a terapia é fazer perguntas abertas
de modo que encoraje o cliente a falar o máximo possível.
• As perguntas abertas são aquelas que não podem ser respondidas
facilmente com um palavra ou frase simples.
• Assim como há clientes que falam com facilidade, outros podem
ser defensivos e precisam de encorajamento.
– Como posso te ajudar?
– O que você gosta na maconha?
– O que você quer fazer sobre o seu hábito de beber?
– Em sua opinião, o que você considera como motivo importantes para
parar de fumar?
• Na EM não é recomendado o uso demasiado de perguntas,
principalmente de forma consecutiva.
REFLETIR
• Principal estratégia na EM, devendo ser muito utilizada nas
fases iniciais, em especial na fase de pré-contemplação e
contemplação.
• O elemento crucial na escuta reflexiva é como o profissional
responde ao que o cliente diz.
• A ideia é que a fala do profissional não interferência deste, em
termos dos seus valores, suposições, personalidade, crenças,
entre outros aspectos.
– Apesar da transformação pessoal ser facilitada quando o terapeuta é
aquilo que é, quando as relações com o cliente são autênticas,
exprimindo abertamente seus sentimentos e atitudes no momento
em que ocorrem. O profissional coloca-se na relação, mas quando
realiza a escuta reflexiva deve ser fiel ao que o cliente disse.
Modelo Reflexivo de Gordon
O que o
cliente disse

O que o
O que o cliente
profissional
queria dizer
ouviu

O pensamento do
profissional sobre o
que o cliente queria
dizer
O Processo de Escuta Ativa
– Atenção cuidadosa ao que o cliente diz.
– Visualização clara do que foi dito.
– Formulação da hipótese concernente ao problema, sem suposições.
– Articular a hipótese por meio de uma abordagem não defensiva.
• Sua análise depende da reação do cliente.
– Em concordância, não há postura defensiva e abre o espaço para que o
cliente fale mais, se mostrando mais relaxado ou motivado.
– Por outro lado, se o cliente começa a advertir ou ameaçar, persuadir,
argumentar, discordar, julgar, criticar ou culpar, retrair, distrair, ser
indulgente ou mudar de assunto, estes são indicativos de que a reflexão não
foi efetiva e deve ser reformulada.
• Comunicação não verbal: é importante observar expressão facial,
movimento dos olhos, movimentos da cabeça, postura e movimentos
do corpo, qualidade, velocidade e ritmo da voz e aparência.
Tipos de Reflexão
• Existem vários tipos de reflexão. Simples como a repetição
de uma ou duas palavras, ou, sofisticadas, pela
substituição de palavras do cliente por outras ou a
interferência quanto ao sentido implícito.
• A reflexão não é um processo passivo; e o profissional
decide o que refletir e o que ignorar, o que enfatizar e o
que não enfatizar, que palavras usar para captar o sentido.
• Tipos de reflexão:
– Simples
– Amplificada
– Dupla
– De Sentimentos
Reflexão Simples
• É o tipo mais simples de reflexão e
o que deve ser utilizado quando
não se possui amplo conhecimento
da história do cliente.
• Muitas vezes, pode ser a mera Cliente: Nada me faz sentir
repetição de uma palavra dita pelo vontade de fazer as atividades
cliente. Porém, não deve ser usada que preciso realizar no meu dia
em demasia. a dia. Não tenho vontade de
• A reflexão simples é uma boa fazer nada.
estratégia para responder a
resistência. Um simples
reconhecimento da discordância, Profissional: Você está me
da emoção, ou da percepção dizendo que está sem vontade
permite mais exploração, em vez de fazer as atividades que
de atitudes de defesa, evitando, precisa realizar no seu dia a dia.
assim a armadilha do confronto-
negação.
Reflexão Amplificada
• Uma abordagem muito útil é
refletir algo que o cliente Cliente: Eu não tenho
tenha dito de uma forma problemas com a bebida. Eu
exagerada ou amplificada. paro a hora que eu quiser.
• Se a estratégia for bem
sucedida, encorajará o
Profissional: Então, você
cliente a recuar ou eliciará o
quer dizer que não tem
outro lado da ambivalência.
problemas com a bebida e
• Mas cuidado: uma que você tem pleno
afirmação exagerada demais controle do seu hábito de
ou sarcástica pode eliciar beber.
ainda mais a resistência.
Reflexão Dupla

• Implica em reconhecer Cliente: Estou muito


o que o cliente disse e aborrecida.
acrescentar o outro
lado da ambivalência. Profissional: Posso
entender o quanto é duro
• Para isso pode ser estar aborrecida, mas nós
usado material que o também sabemos que o
cliente tenha oferecido fato de você estar
anteriormente, mesmo aborrecida faz com que sua
que em outra sessão. família lhe dê mais atenção.
Reflexão dos Sentimentos
• É a forma mais profunda de
reflexão, em que são
incorporados elementos
emocionais para que o cliente Cliente: Eu não gosto
se dê conta dos sentimentos. do jeito como o meu
• Vale ressaltar que este tipo de marido fala comigo.
reflexão é utilizado somente
diante do conhecimento da
história do cliente ou quando Profissional: Parece
este demonstra muito
que você está muito
claramente seus sentimentos.
irritada com o seu
marido.
Oito estratégias de A a H

• Tendo em vista que motivação é um estado


mutável, é apropriado pensar em estratégias
que aumentem a probabilidade de mudança.
Há uma vasta revisão da literatura sobre o que
motiva pessoas a mudar e a aderir ao
tratamento e esta já foi revista em detalhes.
Oferecer Orientação (Advice)
• Aconselhar (Advice): por mais valorizados que
sejam os “insights” e o aspecto não diretivo da
EM, às vezes, um conselho claro, na hora e da
forma certa, podem fazer a diferença. E de um
bom conselho faz parte: identificar o
problema ou a área de risco, explicar porque a
mudança é necessária e recomendar uma
mudança específica.
Remover Barreiras (Barriers):
• Remover Barreiras (Barriers): uma pessoa no estágio de
contemplação pode estar considerando vir ao tratamento
mas estar preocupada em fazê-lo devido a alguns obstáculos
do tipo custo, transporte, horário, etc.
• Essas barreiras podem interferir não só na entrada no
tratamento como também no processo de mudança, já que
muitas vezes essas barreiras são mais de atitude ou internas
do que abertas (isto é, a pessoa que ainda não sabe se vale a
pena mudar, por exemplo.
• Neste caso, a abordagem deve ser mais cognitiva do que
prática). O terapeuta bem preparado deve auxiliar o cliente a
identificar essas barreiras e ultrapassá-las, asssistindo-o na
busca de soluções práticas para o problema;
Oferecer opções de escolha (Choices)

• Oferecer opções (Choices): é provado que a


motivação é aumentada quando a pessoa
percebe-se capaz de decidir livremente sem
influência externa ou sem ter sido obrigada a fazê-
lo.
• Portanto, é essencial que o terapeuta ajude o
cliente a sentir sua liberdade (e
consequentemente responsabilidade) de escolha,
o que fica facilitado se o terapeuta oferecer várias
alternativas para o cliente optar;
Diminuir a vontade (Desirability)
• Diminuir a vontade (Desirability): se um comportamento é
mantido apesar de suas más consequências, é porque este
também traz algo de bom. É função do terapeuta identificar os
aspectos positivos do comportamento de uso de uma
substância do cliente que o está estimulando a manter-se nele,
e daí buscar formas de diminuir esses incentivos.
• Nem sempre, a simples constatação racional destes aspectos
negativos é suficiente. As pesquisas mostram que o
comportamento tem mais chance de mudar se as dimensões
afetivas ou de valor forem afetadas.
• Técnicas comportamentais podem ser utilizadas, mas isso
requer um grande compromisso do cliente. Uma abordagem
mais genérica é a de aumentar a consciência do cliente para as
consequências adversas do comportamento;
Praticar a empatia (Empathy)
• Praticar empatia (Empathy): o valor da
empatia já foi mencionado anteriormente e
desta consiste não a habilidade de identificar-
se com o cliente mas sim de entender o outro
através da chamada “escuta crítica”;
Dar feedback (Feedback)
• Dar feedback (Feedback): se o terapeuta não
sabe bem onde se encontra do processo
terapêutico, fica difícil saber para onde ir.
Muitas pessoas acabam por não mudar por
falta de retorno quanto à sua atual situação.
Portanto, deixar o cliente sempre a par de seu
estado presente é um elemento essencial para
motivá-lo à mudança;
Esclarecer Objetivos (Goals)
• O feedback refere-se a onde a pessoa está e p objetivo ao qual se
quer chegar. O feedback, por si só, não é suficiente para provocar
a mudança e precisa ser comparado a alguma referência Quão
motivador pode ser saber onde estou se não tenho claro aonde
quero chegar? É esse processo de autoavaliação que influencia a
ocorrência ou não da mudança. Ajudar o cliente a estabelecer
metas definidas facilita a mudança.
• Também é fundamentalmente importante que o cliente veja essa
meta como algo realista e alcançável. Do contrário, pouco ou
nenhum esforço será feito. Da mesma forma, as metas são de
pouca utilidade se falta à pessoa o feedback em relação a sua
situação atual. As metas e o feedback atuam juntos na criação da
motivação para a mudança.
Ajuda ativa (Helping)
• Ajuda ativa (Helping): a última estratégia motivacional é a
atitude de ajuda ativa, isto é, o terapeuta deve estar ativa
e positivamente interessado no processo de mudança do
cliente e isto pode ser expresso pela iniciativa do
terapeuta de ajudar e pela expressão de cuidado (por
exemplo, um simples telefonema frente a uma falta).
• Muito se discute se esta atitude estaria tomando das
mãos do cliente a responsabilidade pelo tratamento. Os
criadores da EM dizem: “...a idéia é que primeiro é
necessário engajar e manter o cliente no tratamento e
depois se preocupar com sua responsabilidade”.

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