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CONDIÇÕES INICIAIS
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Em se tratando de uma instituição que tem uma organização com funcionários, a
primeira pessoa com quem o indivíduo que deseja fazer terapia tem contato é um(a)
secretário(a) ou outro(a) funcionário(a) o(a) qual chamaremos de recepcionista. O papel
desta pessoa não tem nada de muito especial. Ela serve de intermediária com relação a
diversas questões práticas, tais como programação das entrevistas, transmissão de
mensagens de cliente a terapeutas, etc. O(a) recepcionista pode ser encarregado(a) de
certas responsabilidades administrativas, tais como a contabilidade e o estabelecimento
de diversas estatísticas. No primeiro contato – telefônico ou pessoal – com o futuro
cliente, ele(a) toma nota dos diversos dados de identificação de costume, anota os
dados suplementares que o cliente considera útil fornecer – informações quanto à
natureza do conflito ou quanto à urgência da necessidade de assistência – e marca a
entrevista preliminar.
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III. ESTRUTURAR A RELAÇÃO
Como se faz esta estruturação? Geralmente ela é vista como uma explicação da
situação, descrição dos papéis, informações ao cliente do que se espera dele e do que
ele pode esperar do terapeuta. No que se refere a qualquer outra forma de psicoterapia
– ou qualquer outra forma de colaboração interpessoal – esta resposta é perfeitamente
aceitável. Contudo, com relação a uma interação de estrutura “centrada na pessoa”,
empática, a explicação é diretamente contrária a esta estrutura. Com efeito, a
explicação é uma atividade didática, que procede do ponto de referência daquele que a
fornece. Ora, numa abordagem empática, o terapeuta opera – ou, pelo menos procurar
operar – a partir do ponto de referência do cliente. Todavia, se este modo de interação –
centrado na pessoa – é tão radicalmente diferente de qualquer outro comércio
interpessoal, como o cliente chegará a compreender e a exercer seu papel se este não
lhe é explicado? Como poderá perceber o sentido do comportamento “estranho” de um
profissional que não interroga, não prescreve, não aconselha e não guia?
A estruturação de uma tal situação, ainda que em realidade seja muito simples,
constitui aparentemente um dos aspectos da abordagem rogeriana mais difíceis de
serem concebidos pelo recém-chegado. Este, para exprimir sua confiança na
capacidade do cliente, seu respeito incondicional em relação a ele ou à sua concepção
igualitária de sua colaboração, vê apenas um único meio – dizer ao cliente que tem
confiança nas suas possibilidades, que experimenta um respeito incondicional para com
ele, etc. Ora não é declarando a um indivíduo – principalmente a uma pessoa a quem,
como cliente, falta confiança e respeito para consigo mesmo – que o respeitamos, que
confiamos nele, que o consideramos em pé de igualdade, etc., que o faremos sentir
que é respeitado ou que o faremos agir de igual para igual.
Psicólogo:
Ou
Ou
- Talvez seja útil dizer-lhe uma ou outra coisa sobre a maneira pela qual
procedemos nestas entrevistas. Entendo que a melhor forma de alcançar resultados é
que o cliente seja deixado inteiramente livre quanto à forma de usar o tempo que passa
comigo. É importante que a hora da entrevista seja completamente sua. Cabe a você,
portanto, decidir sobre as coisas que deseja ou não discutir. O que quer que você
decida examinar me encontrará sempre disposto a acompanhá-lo.
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toma assento na outra poltrona. A estruturação começa imediatamente. Mesmo com o
risco de falsear um pouco a imagem, procuraremos evocar a maneira pela qual o
terapeuta se esforça em familiarizar o cliente com as “regras do jogo” a fim de que
possa aplicá-las tão imediata e facilmente quanto possível.
Sem se dar conta do fato de que não foi convidado explicitamente a tomar a
palavra e que, em conseqüência, nenhum assunto lhe foi indicado, o cliente toma a
iniciativa dizendo frases como:
Etc.
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- Você deseja discutir algumas coisas que o preocupam.
- O Dr. X me pôs a par de sua visita recente à clínica. Você experimenta algumas
dificuldades e decidiu procurar libertar-se delas. (quando houve a entrevista preliminar).
- Você procurou a clínica acredito que por alguma razão; estou à sua disposição.
Quando se trata de um cliente não totalmente voluntário este pode ter dificuldade de
assumir sua responsabilidade no processo terapêutico, colocando, muitas vezes, a
responsabilidade em outras pessoas. Este aspecto pode ser facilmente ilustrado através
do trecho de uma gravação do caso de Arthur, que fora enviado para um curso de
recuperação (em uma Universidade), fato que o levou automaticamente à consulta
psicológica. Durante os primeiros três minutos da primeira entrevista, passou-se o
seguinte: (P. psicólogo; C. cliente)
P. Acho que não sei muito bem o que o trouxe aqui... quer dizer, não sei se
alguém sugeriu que viesse me ver ou se tem alguma coisa que o perturba e quer ser
ajudado.
C. Mm-hm.
P. Suponho então que foi por essa razão que veio me ver. Quer dizer...
C. Sim.
P. Bem, acho que há uma coisa que deve ficar bem clara e que é o seguinte: se
há alguma coisa que possa fazer para ajudá-lo no que o preocupa, sinto-me muito feliz
por fazê-lo. E, por outro lado, não quero que pense que é obrigado a vir falar comigo, ou
que isto faz parte do curso ou algo semelhante. Às vezes uma pessoa tem dificuldade
com o seu trabalho escolar ou com qualquer outra coisa. Pode-se resolver melhor o
problema se se falar dele com alguém e tentar ir ao fundo, mas penso que isso deve ser
com a pessoa; gostaria que ficasse bem claro desde já que, se quiser falar comigo,
posso lhe reservar uma hora por semana e então você vem e falamos... mas não é
obrigado a vir. Agora não sei... Talvez queira me dizer um pouco mais por que lhe
ocorreu inscrever-se no curso de recuperação... suponho que foi por sugestão da Sra.
G.
C. Sim, a Sra. G. me fez essa sugestão. Ela achava que os meus hábitos de
trabalho não eram bons. Se eram bons, as minhas notas e tudo não pareciam refletir
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isso. Pensou então que, se fizesse isto, aprenderia a estudar melhor, a empregar
melhor o tempo e a atenção, e outras coisas mais.
P. Estou vendo.
P. Mm-hm.
C. É isso o que estou fazendo. Ela sugeriu e eu faço para meu benefício.
P. Estou vendo. Fez isso em parte porque ela sugeriu e em parte também porque
é seu desejo fazer alguma coisa nesse sentido, não é assim?
P. Bem, agora tenho mais interesse em saber por que pensava ter necessidade
disso do que por que pensava a Sra. G. que você tinha necessidade. Por que você
pensa ter necessidade disso?
C. Penso que da próxima vez que vier vê-lo, será um pouco diferente. Talvez
então saiba um pouco melhor sobre o que falar.
C. Comigo?
P. Eu estou aqui. Eu me sentiria satisfeito por poder fazer alguma coisa por você.
P. Muito bem.
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Neste breve trecho muita coisa aconteceu. O estudante usa uma expressão um
pouco independente, mostrando que projeta pelo menos partilhar da responsabilidade
do emprego da próxima entrevista. O psicólogo estimula-o fazendo depender a decisão
da iniciativa do estudante. Este, não atribuindo essa atitude a nenhum significado
especial, entrega a responsabilidade ao psicólogo, dizendo: “Sim, estou de acordo.”
Quando o psicólogo indica que a situação pertence efetivamente ao paciente, vê-se
claramente a surpresa deste na gravação, quando diz: “Comigo?” Todo o tom muda
quando responde então de uma maneira firme e decidida: ”Muito bem, acho que venho”
– aceitando autenticamente a responsabilidade pela primeira vez.
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