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O Treino Cognitivo de Controle da Raiva soluções; (4) Escolha e colocação em prática da solução escolhida para ser testada; (5)
(O Passo a Passo do Tratamento) Avaliação dos resultados; (6) Modificações, se necessário, e colocação destas em prática
Marilda Lipp novamente.

 Treinamento assertivo. Inclui a aprendizagem de afirmar-se e solicitar aquilo que


A raiva faz parte do arcabouço de sentimentos natural do ser humano, mostrando-se considera legítimo, aumentando o prazer os paciente e a autoestima. Inclui técnicas como
muito útil para a sobrevivência. Ela certamente tem aspectos positivos, como a sua função básica de a modelagem (o terapeuta modela o comportamento desejado por meio de reforços
energizar e preparar o organismo para a ação de defesa. No entanto, ela pode se tornar positivos dados a comportamentos que se aproximam do desejado), treinamento e ensaio
desadaptativa dependendo do grau e do que a pessoa faz em decorrência de experimentá-la. A TCC de comportamento (dramatização).
oferece possibilidade de compreensão do mecanismo da raiva, assim como intervenções que podem
contribuir para que ela não seja usada de modo destrutivo, tanto para o próprio indivíduo como para  Tomada de decisão. É solicitado ao paciente que faça uma lista de vantagens e
o meio ambiente. desvantagens de cada opção para a decisão que precisa tomar. Assim, o terapeuta ajuda
o cliente a ter uma visão mais global da situação e assim poder pesar cada item,
Para o modelo cognitivo, toda atividade cognitiva pode tornar-se consciente, ser extraindo uma conclusão quanto à melhor opção para a situação.
monitorada e alterada, podendo gerar mudança emocional e comportamental.
 Os experimentos comportamentais são uma forma de testagem dos pensamentos
Em alguns casos, como na depressão grave, as estratégias com viés mais disfuncionais do paciente, pois, realizando aquilo que ele teme, pode desmistificar suas
comportamental devem ser as primeiras a serem utilizadas, já que nesses casos é comum um nível interpretações. Ao mesmo tempo, o terapeuta pode fazer questionamentos que podem
reduzido de atividades, o que faz o paciente rotular-se como ineficaz. Técnicas comportamentais ajudar na mudança. Essa técnica pode ser feita no consultório ou fora dele e apresenta
podem diminuir o isolamento no qual a pessoa se encontra e contribuir para que ela se engaje em grande efetividade.
atividades construtivas e agradáveis. Cabe ressaltar mais uma vez que as técnicas comportamentais
também podem gerar a modificação de distorções cognitivas, pois, ao se engajar em alguns  Técnicas de relaxamento e respiração profunda são usadas para uma série de
comportamentos ou atividades, o paciente tem a oportunidade de desfazer interpretações transtornos de ansiedade e no tratamento do stress excessivo. São úteis na desativação
disfuncionais e ter ganhos de desempenho que contribuem para o aumento de autoeficácia. As do sistema nervoso e, com isso, podem minimizar ou eliminar sintomas do stress. O
estratégias comportamentais visam desenvolver uma ativação comportamental, aumentando os estado de quietude física e a respiração regularizada podem contribuir para um estado
comportamentos que podem contribuir para consequências reforçadoras positivas. Tais estratégias emocional prazeroso, de modo que a pessoa fica mais preparada para enfrentar
incluem: situações adversas de modo mais efetivo.

 O automonitoramento envolve que o paciente registre em um formulário próprio as  Reatribuição. Baseia-se no fato de que muitos pacientes costumam atribuir a si mesmos
atividades que realizou durante a semana com dia e hora, anotando também o grau de culpa ou responsabilidade total por situações desagradáveis. A técnica envolve a revisão
prazer experimentado e a habilidade na realização da tarefa, usando uma escala de 0 a de fatos, a demonstração dos diferentes critérios que o paciente usa para atribuir
10. Por meio desses registros o paciente pode perceber a satisfação vinculada à ação e responsabilidade a si mesmo e aos outros e o desafio da crença de que ele é responsável
às interações sociais, conscientizar-se de suas habilidades, além de ter recordações por todo o problema ocorrido. O objetivo é levar o paciente a perceber que uma situação
prazerosas. Pode servir de base para o desenvolvimento de outra importante estratégia, adversa pode ter uma série de fatores contribuintes para sua ocorrência, e não só a sua
que é a elaboração de um plano de atividades. Esse plano deve basear-se nas atividades atitude diante dela.
que foram identificadas como mais prazerosas e nas quais o paciente revelou maior
habilidade. Deve envolver uma graduação, de modo que se planejem inicialmente  Transformação da adversidade em vantagem, na qual o terapeuta questiona o paciente
atividades de mais fácil execução para o paciente, o que vai motivá-lo a realizar tarefas quanto às vantagens que ele pode tirar de situações consideradas, a princípio, adversas.
mais complexas gradativamente.
 Continuum é uma técnica útil para pacientes com crenças rígidas e absolutas, havendo
 Técnica de resolução ou solução de problemas. Seu uso possibilita ganhos concretos uma interpretação das situações com uma distorção cognitiva, que é o pensamento
para a vida do indivíduo. Seis passos: (1) Identificação do problema; (2) Levantamento de polarizado, ou seja, em dois extremos. Busca-se estabelecer parâmetros de uma crença,
soluções possíveis; (3) Avaliação das consequências de cada uma das possíveis em uma escala de 0 a 100, visando uma perspectiva mais realista de seu posicionamento
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no continuum. O terapeuta ajuda o paciente a considerar graus ou variações dentro de determinadas situações que pareçam uma provocação, uma injustiça, um insulto ou uma maldade.
um continuum a partir de comparações entre situações ou pessoas. No caso de autodefesa durante um assalto ou uma agressão física, a raiva pode ser útil, pois
fornecerá a energia, o poder para reagir de forma mais eficaz. Fomos preparados geneticamente
 O questionamento socrático, diálogo socrático ou descoberta guiada também é uma das para sentir raiva em momentos em que precisamos nos defender e neutralizar o inimigo fisicamente.
importantes e mais comumente técnicas utilizadas, dentre as estratégias cognitivas. Pode A raiva pode ocorrer também diante de uma grande frustração ou quando alguém se opõe a algum
ser usada isoladamente, mas normalmente o é em conjunto com outras estratégias. O desejo ou ideia importante, ou quando se interpreta uma situação neutra como ameaçadora.
método se baseia em questões feitas ao paciente que sirvam de orientação para que este Desilusões e frustrações levam ao stress emocional, que, por sua vez, leva à agressão. A raiva em si
chegue a novas interpretações que sirvam de desafio para suas interpretações não é uma emoção boa ou necessariamente má, ela é energia, é força. Quando excessiva,
distorcidas. As questões devem ser abertas e livres, permitindo que o paciente faça constante ou mal gerenciada, aí, sim, passa a ser negativa. Raiva é um mecanismo de proteção
associações livres, no entanto devem conduzi-lo à possibilidade de esclarecimento sobre contra a perda de poder real ou imaginário. Há pessoas que possuem uma tendência a experimentar
sua interpretação de uma determinada situação. Deve ser exercido por meio de questões episódios de raiva com uma frequência exagerada e outras que só a experimentam em situações de
elaboradas com muito cuidado, relacionadas a uma problemática do cliente, a fim de extrema injustiça.
obter informações, buscar um maior conhecimento sobre a queixa trazida, obter uma
visão geral do estilo de vida do cliente e do seu funcionamento global, assim como Raiva estado: é caracterizada pela sua curta temporalidade, é como a pessoa se sente em
identificar seus estressores e avaliar estratégias de enfrentamento utilizadas por ele. Um determinado momento, podendo variar desde uma certa irritabilidade até a fúria. A intensidade do
importante objetivo da técnica é o desenvolvimento de habilidades para que o cliente estado raiva depende da percepção que a pessoa tem do evento que ela esteja vivenciando, seja ele
possa pensar de forma mais independente. uma provocação ou uma injustiça.

Capítulo 2 Raiva traço: é a tendência a perceber diversas situações como desagradáveis e frustrantes, gerando
elevações mais frequentes no estado de raiva. Pessoas com altos índices de raiva traço sentem-se
Em geral, quem procura especificamente tratamento para essa dificuldade possui um constantemente injustiçadas e tendem a vivenciar numerosas frustrações. O traço de raiva envolve
altíssimo nível de raiva. Nessas condições, não é recomendado conduzir sessões terapêuticas com dois outros componentes: (a) o temperamento de raiva e (b) a sua expressão.
muitos participantes juntos. As pessoas adultas não procuram tratamento com a queixa específica de
raiva. Um pré-requisito importante é um conhecimento profundo do que é a raiva, seu mecanismo de a) Raiva temperamento: é caracterizada pela propensão geral do indivíduo em
ação e a mobilização emocional que ela produz tanto em quem sofre de raiva como em quem a vivenciar e expressar raiva, sem provocação específica. Existem pessoas que tem
presencia. tendência a sentir raiva mais intensa do que outras. Há evidências de que algumas
crianças nascem mais irritáveis e são mais facilmente levadas a sentir raiva. Muitas
Compreendendo a Raiva delas se tornam adultos que experimentam raiva com muita frequência. Quem
possui um alto nível de raiva temperamento é, em geral, impulsivo e tem pouco
O que é a Raiva controle sobre seus sentimentos, tendendo a ser autoritário.
b) Reação de raiva: trata-se de uma propensão para expressar a raiva quando criticado
Raiva é um sentimento de intenso desconforto que resulta da percepção de alguma ou tratado de maneira injusta pelos outros.
provocação, seja ela uma ofensa, um desacordo, mau tratamento, rejeição, agressão, frustração ou
desmerecimento por parte de alguém ou entidade. O desconforto experimentado é tão grande que Além dessa dimensão, existe ainda a considerar o modo como a pessoa expressa sua
leva a pessoa a querer revidar e a atacar quem supostamente a enraiveceu. raiva. A expressão de raiva, envolve (1) a Raiva para Fora, que se refere à expressão da raiva em
relação a outras pessoas ou objetos no meio, ou (2) a Raiva para Dentro, ou seja, a supressão do
Os componentes da reação de raiva: são cognições, reações emocionais, reações físicas e sentimento. O terceiro componente da expressão da raiva é o controle que a pessoa tenta utilizar
comportamentos típicos e de quem está com raiva. Esses comportamentos podem ser adequados, para não expressá-la. Quem possui altos níveis de raiva para fora tende a expressá-las contra
como expressar a raiva de modo construtivo e adequado, ou inadequados, como agressão física ou objetos ou pessoas, verbal ou fisicamente, na forma de bater portas, criticar, usar sarcasmo, insultar
verbal, e colocar a raiva para dentro sem tê-la expressado de algum modo construtivo. ou ameaçar, ou atos físicos.

É importante lembrar que a raiva sempre existiu e está presente em todos os povos Deve considerar a diferença entre hostilidade e raiva, uma vez que a hostilidade é uma
através da história. Todos temos o potencial para nos sentirmos irados, até em fúria, diante de característica de personalidade que envolve a avaliação negativa constante de situações e de
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pessoas. Fazer essa distinção é relevante, porque a terapia deve moldar-se às necessidades de expressão inadequada de raiva também pode gerar um padrão de cognições irracionais. O modelo
cada caso. Existem três componentes na hostilidade: (a) o cognitivo – que envolve uma tendência a de expressão negativa da raiva pode ser adquirido na experiência de ter sido vítima constante da
avaliar outras pessoas negativamente; (b) o afetivo – que inclui raiva e desprezo pelos outros; e (c) o agressividade de alguém ou por observar alguém sendo vítima e vendo o agressor não ser punido
comportamental – que envolve cinismo e agressão. A hostilidade é uma atitude negativa quanto aos ou sofrer as consequências esperadas.
outros que leva à má vontade, crítica e antagonismo. Agressão é o ato, o comportamento que muitas
vezes é gerado pela raiva ou pela hostilidade. A tendência da pessoa com raiva ou hostil é agir de Curiosamente, há outra situação que tem sido observada como contribuinte para o mau
modo agressivo, seja verbal ou fisicamente. O gerenciamento da raiva é de suprema importância gerenciamento da raiva, que é o ter sido criada por uma família permissiva demais, na qual não há
para pessoas que têm tendência a agir com fúria. envolvimento emocional dos pais com a criança. Tal prática parental pode levar tanto à apatia
emocional como à tendência a sentir raiva. Na verdade, a apatia, muitas vezes, nada mais é do que
Embora seja normal sentir raiva, quando ela não é bem controlada ou utilizada pode gerar a raiva virada para dentro, contra si mesmo.
uma gama de problemas de maior magnitude. Por isso, há de se assumir responsabilidade pelo seu
controle. O primeiro passo no tratamento é a pessoa aprender a reconhecer sua raiva e entender É relevante saber como a tendência a sentir e reagir com raiva foi desenvolvida em certo
que ela é um sinal de que algo está errado. Quando não se entende o que os sentimentos de raiva paciente, pois esse conhecimento possibilitará uma ação clínica mais fundamentada e
significam e sinalizam, a sensação que surge é de falta de controle. O segundo passo é saber especificamente direcionada para o cuidado aos fatores que contribuíram, ou ainda estão
controla-la e utilizá-la de modo construtivo. Importante é também que a pessoa que sente raiva com contribuindo, para a pessoa se sentir permanentemente com raiva.
frequência se analise a fim de identificar se possui a tendência básica de reagir ao mundo com raiva,
ou se as raiva é o resultado de uma situação presente desvantajosa que clama por atenção. E raiva A raiva pode tornar-se um grave problema e se constituir em um tipo de desordem que
não pode ser ignorada: ou ela indica que a pessoa necessita aprender estratégias de manejo ou traz sérias consequências para a qualidade de vida. Tal forma disfuncional de experimentar e
indica que algo necessita ser feito para mudar o mundo ao redor que está criando tanta angústia na expressar a raiva se relaciona à frequência e à duração, além de mostrar-se desproporcional na
pessoa. intensidade em relação ao estímulo que a provocou. Para que a pessoa possa se motivar a aprender
a controlar e lidar com a raiva apropriadamente, é muito importante que ela se conscientize das
Como a TCC enfatiza especificamente a reestruturação cognitiva, ela se torna de utilidade consequências que a raiva desadaptativa está trazendo para a vida dela. Além disso, é importante
inequívoca para o tratamento da raiva excessiva, uma vez que trabalha na modificação das crenças que a pessoa faça atribuições realistas do que provoca a raiva, sendo necessário que ela entenda
irracionais do paciente e na interpretação distorcida de si mesmo, dos fatos e do mundo ao seu que, além dos fatores externos, ela própria pode estar contribuindo, através da forma como
redor. Quando de avalia a pessoa que sofre de raiva constante, frequentemente se verifica que ela experimenta e expressa a raiva, para as suas consequências negativas.
possui uma visão extremamente negativa dos outros e do mundo, no geral, que a leva a reagir de
modo desconfiado e agressivo. Assim, ao se modificar o seu modo de interpretar a vida e os A raiva excessiva, muito frequentemente e expressa em intensidade exagerada, pode
acontecimento diários, é possível alterar o repertório de comportamentos desadaptativos do comprometer todas as áreas da vida da pessoa, sendo específicos os prejuízos em cada uma delas,
paciente, entre eles o comportamento socialmente inaceitável da raiva destrutiva. mas que somados podem afetar a qualidade de vida como um todo.

O trabalho terapêutico com as pessoas que sofrem da raiva deve objetivar reduzir a Capítulo 5
vulnerabilidade psicológica advinda de uma história de vida comprometedora e de experiências
negativas. O Treino Cognitivo de Controle da Raiva (TCCR)

O ser humano é extremamente maleável e tem uma capacidade incrível para aprender, O TCCR é baseado nos conceitos comportamental-cognitivos e envolve, em primeiro
tanto comportamentos considerados adequados pela sociedade como os que são considerados lugar, desenvolver a habilidade de distinguir quando a raiva é justa e útil e quando é excessiva,
inaceitáveis. Do mesmo modo como se pode aprender a ser feliz, pode-se também aprender a reagir injusta ou inadequada. Uma vez que o participante consiga avaliar esse aspecto, se a raiva for
ao mundo com raiva. Quando as experiências de vida são cruéis, quando o mundo trata a criança considerada por ele útil ou justa, procede-se ao treinamento de como expressá-la adequadamente,
com desprezo, rejeição e indiferença ou quando as pessoas que deveriam protege-la traem sua na proporção que consiga reparar a injustiça ou o mal, sem criar um problema ainda maior do que o
confiança, a noção de um mundo presumido é quebrada e uma profunda desconfiança das outras original. Se a raiva for avaliada, pela própria pessoa, como injusta ou excessivo, ou mesmo inútil,
pessoas e do mundo é adquirida. O não confiar, não poder vislumbrar proteção ou apoio, precisar e procede-se ao treinamento para que ela consiga de modo assertivo, e não agressivo ou passivo,
não ter, ser vítima de injustiças e não ter controle sobre a situação levam a um padrão de lidar com a situação que a está levando à raiva desmedida.
pensamento desconfiado e defensivo, do mesmo modo que ter um modelo familiar ou social de
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Especificamente, o TCCR inclui: O debatedor: Em geral, é uma pessoa divertida, que conta piadas, que quer ser o centro das
atenções e que não permite que discordem dela, de modo algum. É o dono na verdade. Não respeita
a) Identificar as cognições (pensamentos avaliativos da situação sendo vivenciada), os direitos dos outros nem as opiniões contrárias às suas. Contesta as ideias dos outros como uma
perceber as sensações físicas e emocionais que antecedem a expressão da raiva maneira de evitar que as outras pessoas descubram seus sentimentos. No fundo, ele não se sente
(que podem servir de sinal de que a pessoa está para ter uma reação forte); tão inteligente quando quer aparecer. Controlar a conversa é uma maneira de não deixar as outras
b) Após a identificação desses aspectos, o TCCR possibilita utilizar a técnica da pessoas falarem sobre assuntos que ele talvez saiba menos ou que possam humilhá-lo. A raiva está
reestruturação cognitiva (baseada na TCC), parada de pensamento, a fim de mudar por trás de seu comportamento debatedor.
as cognições que acompanham a reação de raiva, quando ela for avaliada como
excessiva ou inapropriada; O agressor: É o pior de todos os casos de pessoas raivosas, pois é aquele que utiliza a violência
c) Respiração profunda e relaxamento para a redução da excitabilidade fisiológica física quando perde o controle. Xinga, humilha e finalmente agride, sem ou com pouca provocação.
gerada pela ação energética da raiva; A tendência desse tipo é brigar e agredir quando se sente frustrado. Quando se frustra, tem dor, está
d) “Ação responsável”, ou seja, emissão de um comportamento que resolva, ou reduza, com ciúmes ou se sente humilhado, tem vontade de bater em alguém. Aprendeu que a violência o
a situação geradora da raiva, por meio de um comportamento adequado ao evento leva a ganhar as discórdias, amedronta os outros, e isso lhe dá uma sensação de superioridade,
presente. Por “ação responsável” se entende o comportamento que diminua o mesmo que passageira. Para muitas pessoas assim, a tendência a agredir quando algo sai errado
conflito e traga alguma satisfação para a pessoa; resulta em um vínculo automático, cada vez mais forte, entre as emoções desagradáveis e de
e) Autorreforço pelo controle da raiva quando isso tiver ocorrido e, se não ocorreu, ansiedade e a violência física. Por trás de toda essa violência existe uma tentativa absurda de
planejamento de como lidar com situações semelhantes de modo apropriado no esconder o medo e uma necessidade muito profunda de ser cuidado, que amedronta a pessoa, que
futuro. deseja parecer sempre forte e em controle de tudo, porque não aprendeu a lidar com esses
sentimentos. Essa inabilidade de lidar com esses sentimentos gera mais raiva ainda.
Capítulo 6
Além de considerar se estamos lidando com um desses tipos de pessoas raivosas, é
O que suporta tudo: É a pessoa que passa por humilhações e injustiças enormes e não toma importante verificar, nas entrevistas iniciais, como a pessoa, em geral, lida com o stress. O stress
nenhuma atitude, que sempre encontra desculpas para o comportamento de quem a agride, seja ele emocional, quando não se tem estratégias adequadas de enfrentamento, é capaz de desencadear
o chefe, o cônjuge, o filho ou o amigo. Engole o desaforo, a vergonha, a frustração e a raiva, e tem tendências e doenças que estavam latentes. Desse modo, é sempre aconselhável questionar o
dores de estômago cada vez maiores, tensão muscular quando é ofendida e insônia. Quando paciente sobre o que está ocorrendo em sua vida e como tem lidado com os desafios que ela
pessoas ao seu redor, que presenciaram o episódio, mostram sua empatia, isso a faz se sentir pior oferece. Se a pessoa já tem tendência a reagir ao mundo com raiva, o stress pode ser um elemento
ainda, pois sente-se mais humilhada do que nunca e deseja que ninguém tivesse presenciado o que desencadeador de uma explosão ou da reação de raiva. Não seria correto dizer que o stress sempre
ocorreu. Acha que um homem de verdade teria reagido, acha-se um covarde. Fica lembrando do que leva a raiva, porém se pode afirmar, com certeza, que a raiva leva ao stress emocional.
ocorreu várias vezes e sente que “deveria” ter agido diferentemente. Mas, da próxima vez, age do
mesmo jeito, porque não aprendeu a lidar com a raiva justa de modo construtivo. Stress é uma reação que ocorre diante de algo, bom ou mau, que, em um momento
específico, ultrapasse a capacidade de enfrentamento da pessoa. É um estado de tensão mental e
O reclamador: É aquele que reclama de tudo e de todos, o tempo todo. Tudo sai errado em sua vida físico que produz um desequilíbrio no funcionamento do organismo e enfraquece o sistema
e ele não assume a responsabilidade de tomar a direção dos eventos e resolver os problemas. É imunológico, deixando a pessoa vulnerável a infecções e doenças. Por ser um imunodepressor, o
sempre culpa dos outros. Ele reclama e choraminga sobre tudo ao seu redor, é o chefe que é injusto, stress pode propiciar o aparecimento de doenças geneticamente programas ou oportunistas. Porém,
é o procedimento no trabalho que é falho, é a namorada que é ruim, é o tempo que está feio, é o para que os desafios da vida se tornem elementos catalisadores do stress e da raiva, deve haver a
serviço no restaurante que não presta etc. O clima ao seu redor fica tenso e pesado, negativo, as presença de distorções cognitivas, expectativas ilógicas e exageradas, vulnerabilidades pessoais e
pessoas se deprimem e se afastam. Em geral, pessoas assim estão tentando que as outras façam comportamentos observáveis eliciadores de stress, e as crenças irracionais e os pensamentos
as coisas que competiria a elas fazer, querem também que alguém reforce sua autoestima. Ele distorcidos contribuem de maneira de maneira muito acentuada para o desencadeamento do stress.
choraminga para que os outros o ajudem e confortem. Sente-se desamparado. Não tenta enfrentar o Quando não se tem a informação precisa e correta dos eventos que estão ocorrendo, ou seja,
que está errado em sua vida, a fim de consertar o problema, não tem mão ativa em sua própria vida. quando a interpretação dos estímulos presentes é errônea, torna-se fácil reagir de modo errático e
Sua passividade o impede de assumir a liderança de sua vida e sua reclamação constante serve inadequado ao que se passa, desenvolvendo stress e desencadeando raiva.
para alimentar a sensação de que a vida é injusta.
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Existe, portanto, interação entre o pensar, o sentir e a reação. Quando se entende bem de emprego, abuso físico ou psicológico de familiares e amigos. A consequência inevitável disso é
essa interação, é possível controlar a raiva mudando o pensamento que está presente. uma autoestima prejudicada, relações interpessoais tumultuadas e ato nível de stress emocional. Se
o paciente que você está tratando tem essa dificuldade, e a fim de evitar essas consequências e
Existem muitas distorções cognitivas presentes em muitas pessoas, algumas com raiva, garantir à pessoa propensa à raiva uma vida melhor de qualidade e com menor nível de stress,
outras com outros tipos de dificuldades, mas na prática temos identificado as seguintes distorções necessário se torna fornecer a essa pessoa ferramentas que a ajudem a sentir menos raiva e usar a
cognitivas em pacientes com raiva: raiva que não possa ser eliminada como força de energia positiva. O TCCR tem esse objetivo.

1. Leitura mental: refere-se à crença de já saber o que a outra pessoa está pensando. Por O que é o TCCR
exemplo: “Eu nem perguntei por que ele estava zangado comigo, eu já sabia”, ou “Você
não acha esse meu trabalho bom, está dizendo isto só para me agradar”. O tratamento, intitulado Treino Cognitivo da Raiva (TCCR), visa capacitar a pessoa a ter
domínio sobre seus sentimentos, aumentar o autocontrole e reduzir a fonte interna de stress, que é a
2. Pensamento tudo ou nada: refere-se à tendência a simplificar os eventos, afirmações ou raiva. Esse treinamento pode ser utilizado para promover o autocontrole de outras emoções,
pessoas em categorias superficiais extremas dicotômicas. Essas pessoas não utilizam conforme necessário.
uma escala de 1 a 10 para classificar as emoções ou situações, tudo é 1 ou 10. É uma
forma de rigidez mental. Exemplo: “Ou uma pessoa é amiga ou é inimiga”. O TCCR é um método de administração da raiva que se baseia nos conceitos da teoria
comportamental cognitiva e visa a promover um maior controle dos comportamentos inadequados de
3. Supergeneralização: é uma tendência parecida com a de “tudo ou nada”. A pessoa raiva, mudando o modo típico de a pessoa reagir às provocações que percebe na vida. Para tal,
raivosa tem a tendência a se apegar a uma pequena evidência e generalizar para o utiliza reestruturação de pensamentos, observação dos primeiros sinais emocionais e físicos da raiva
global, concluindo de modo definitivo sobre o assunto. Exemplo: “Todo político é e promoção de ações responsáveis de expressão saudável da raiva. As ações responsáveis são
desonesto”, com base no fato de que um político praticou atos desonestos. Ou “Sou muito comportamento que visam a adequar a expressão da raiva à situação por meio da mudança do
azarado”, baseado no fato de que perdeu o voo. padrão de comportamento de raiva previamente aprendido.

4. Catastrofização: é a tendência exagerada a avaliar as situações, de pensar que algo Destinado a: pessoas que desejam
horrível vai acontecer sem ter evidências concretas que justifiquem essa conclusão.
Exemplo: “É horrível que eu não tenha conseguido terminar este projeto”, ou “É terrível  Sentir menos raiva;
que minha namorada tenha viajado sem mim”.  Aprender a controlar a raiva;
 Usar a energia gerada pela raiva para fins positivos;
5. Personalização: pessoas que sofrem de raiva tem a tendência a ser muito sensíveis à  Identificar e mudar pensamento, reações físicas, reações emocionais e comportamentos
opinião alheia e a pensar que tudo que acontece de mal é direcionado especificamente a de raiva;
elas. Essa distorção chama-se “personalização”. Exemplo: “Todos prestam atenção ao  Assumir o controle de suas emoções;
que ele diz e ninguém me escuta”, ou “Se a empresa não fechar este contrato, é culpa  Aprender autocontrole.
minha”.
O eixo norteador dos passos que iremos apresentar se baseia na observação de estudos
6. Raciocínio emocional: refere-se à tendência a acreditar que o que se sente tem de ser que temos realizado que mostram que a raiva se desenvolve de acordo com as seguintes etapas:
realidade. Exemplo: “Se me sinto culpado, é porque fiz algo errado”, ou “Se acho que não
vou conseguir, é porque de fato a situação está acima de minha capacidade”. 1) Evento desencadeador: real ou imaginário;
2) Interpretação: a pessoa avalia negativamente a situação como ameaçadora.
3) Stress: manifestações físicas e psicológicas.
Capítulo 7 4) Comportamento de raiva.
5) Reavaliação sob a ótica do forte sentimento de raiva.
Existem pessoas que sentem raiva com muita facilidade, que estão sempre sob o domínio 6) Escalonamento da raiva.
desse sentimento. Suas ações, muitas vezes, fogem do seu controle. As consequências são graves
para a sua saúde e se manifestam em termos de hipertensão, úlceras, depressão, obesidade, perda
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As técnicas usadas no Treino Cognitivo de Controle da Raiva pinheiro e tente pisar sobre ele. Finalmente, os pinheiros são comparados aos sentimentos de raiva
e/ou ansiedade, com o objetivo de trabalhar a prevenção da escalada deles. Este exercício é
Técnica da mochila: Trata-se de uma técnica de imaginação com o objetivo de minimizar o apresentado ao paciente pelo psicólogo da seguinte maneira:
sentimento de raiva antigo. Neste exercício, a pessoa é solicitada a imaginar que está colocando as
situações de mágoas e de raiva do passado em uma mochila e depois descartando-a em uma lixeira. Imagine na sua frente um pinheiro bem grande (dois metros de altura). Agora, tente pisar
Sua realização se dá da seguinte maneira, com o terapeuta falando vagarosamente e de modo bem nesse pinheiro. Você não vai conseguir. Agora, pense em um pinheiro pequeno, bem pequenininho,
suave, pausando o suficiente para a pessoa usar a imaginação: e pise nele. Coloque o pé bem em cima dele. Agora, pense: a ansiedade é como um pinheiro, se a
domino quando pequena, no estágio inicial, ela não cresce e eu consigo abafá-la a ansiedade antes
Feche os olhos, respire profundamente. Imagine que você está com uma mochila nas de ela crescer.
costas e vai colocar dentro dessa mochila coisas ruins que fizeram com você, coisas que não
fizeram por você e que deveriam ter feito... Coloque na mochila as mágoas, a raiva que sente ainda Técnica time-out: Tem por objetivo controlar a raiva ou a ansiedade, mesmo que a pessoa não possa
hoje dessas coisas... fisicamente sair do local. É dito para o paciente:
Sinta o peso dessa mochila...
Agora imagine que ao seu lado tem uma lixeira bem grande. Coloque a mochila no chão e Retire-se da situação que o aborrece. Se não puder sair fisicamente, imagine-se longe
escolha algo que lhe causou bastante mágoa e raiva, e diga: dali pensando em algo diferente. Respire lenta e profundamente.
“- Acabou, acabou, é do passado.”
Jogue no lixo e tampe a lata. Repita: Técnica da ação responsável: É a técnica mais importante do TCCR, pois é a que gera resultados
“- Acabou, acabou, é passado.” mais duradouros. Quando entendida e incorporada no repertório da pessoa, passa a servir para
Abra novamente a mochila e escolha outra situação que ainda está pesando na mochila. impedir atos de violência e impulsividade dos quais ela se arrependeria mais tarde. É uma técnica de
Feche bem o saco de lixo e lembre-se que dentro dele tem duas mágoas. Imagine um mudança de pensamento, com o objetivo de lidar adequadamente com os sentimentos de raiva ou
riacho do seu lado que corre bem forte. Jogue esse saco de lixo no riacho e fale: ansiedade. É dito para o paciente:
“- Acabou, acabou, é passado.”
Deixe que o rio leve isso para longe de você. Diante de uma situação difícil, questione: Vale a pena? O que é que eu vou ganhar com
Sinta a mochila mais leve. Se surgir novamente em sua cabeça essa situação, lembre-se: isto? Quais serão os benefícios e as perdas?
“Acabou, acabou, é passado.” A ação responsável é aquela que me ajuda a me sentir melhor, porque consegui
Respire profundamente de novo e abra os olhos, se sentindo mais leve, sem tanto peso reconhecer meu sentimento, usei um pensamento racional e, consequentemente, meu
de mágoas e raivas passadas. comportamento foi responsável.

Técnica da ansiedade: Constitui-se em uma técnica para mudança de pensamentos associada à Técnica do relaxamento: Tem o objetivo de diminuir os sentimentos de ansiedade ou raiva,
respiração profunda, com o objetivo de minimizar a ansiedade. Os passos são os seguintes: auxiliando no autocontrole. A voz do terapeuta precisa ser calma, pausada, tranquila e lenta.

1) Reconheça que está ansioso (diga: “estou ansioso”, e descreva todos os sintomas que Técnica parada de pensamento: Técnica para impedir a escalada dos sentimentos de raiva ou
está sentindo). ansiedade em situações de difícil manejo, associada a imagens de relaxamento, com o objetivo de
2) Diga para si mesmo: “Ninguém morre de ansiedade!!! Vou me controlar! Sei que vou autocontrole e planejamento para ação responsável. Para ensiná-la ao paciente, é necessário
conseguir!” primeiro explicar por que parar de pensar no assunto que está mantendo ou aumentando a raiva é
3) Respire profundamente... lentamente... Conte até 10 inspirando e até 5 expirando pela importante. Diz-se o seguinte:
boa. Repita cinco vezes.
4) Faça uma mudança de pensamento. Respire profundamente. Pense em algo que irrita muito você. Agora, imagine em sua
5) Pense em algo bom, positivo, que já tenha programado imaginar em momentos de mente uma tela grande de TV. Imagine a palavra PARE (maiúscula)! Leia a palavra PARE, três
ansiedade. vezes. Agora, imagine a imagem de uma cachoeira. Sinta o frescor da água, sinta paz, sinta calma.
Respire fundo e abra os olhos.
Técnica do pinheiro: Técnica de imaginação em que a pessoa é solicitada a imaginar um pinheiro
pequeno (de poucos centímetros) e a pisar sobre ele; em seguida, solicita-se que imagine um grande
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PLANO TERAPÊUTICO DO TCCR A SER IMPLEMENTADO Não é errado sentir raiva, o que pode ser errado é o modo como expressamos, o que
fazemos com ela.
Sessão 1: Não é necessário ter culpa por se sentir com raiva, mas reconheça que ela só é boa se
estiver ajudando a pessoa a resolver o problema.
Relato de algum episódio de expressão de raiva do qual não gostaram. Como se sentem ao Sempre pergunte a si mesmo se sua raiva está dentro do limite certo.
expressarem a raiva do modo que geralmente o fazem? Que consequências tem para si mesmos e Raiva dá energia e vigor e, portanto, pode ser útil para nos proteger de injustiças e
para os outros. Por que querem mudar? Por que estão preocupados com a raiva? Citar algo que abusos; porém, ela deve ser mantida sob controle e usada de modo construtivo.
perderam por causa do modo de expressarem a raiva. A raiva causa stress? Como isso ocorre? A raiva passa a ser um problema quando ela é frequente demais, intensa demais, quando
dura muito, quando leva à agressão e violência e quando interfere nas relações com outras pessoas.
Explicação do que é o TCCR.
Por que se preocupar com a raiva?
O que é RAIVA?
Existem pessoas que sentem raiva com muita facilidade, que estão sempre sob o domínio
Raiva é um sentimento de intenso desconforto que resulta da percepção de alguma desse sentimento. Suas ações, muitas vezes, fogem do seu controle. As consequências são graves
provocação, seja ela uma ofensa, desacordo, mau tratamento, rejeição, agressão, frustração ou para a sua saúde e se manifestam em termos de pressão alta, úlceras, depressão, obesidade, perda
desmerecimento por parte de alguém ou entidade. O desconforto experimentado é tão grande que de emprego, abuso físico ou psicológico de familiares e amigos.
leva a pessoa a querer revidar e a atacar quem supostamente a enraiveceu. A consequência inevitável disso é que a pessoa passa a se sentir mal quanto a si mesma.
A raiva é uma sensação que pode afetar todo mundo. Quando algo acontece que Quando a interpretação que se dá a algo que ocorreu em nossa vida ultrapassa a
aborrece muito, como uma provocação, há pessoas que sentem raiva. Há pessoas que seguram a ameaça, a injustiça ou a afronta, então, a raiva fica fora de propósito.
raiva, outras não conseguem. Para estas pessoas, a raiva ocorre em três partes: A fim de evitar essas consequências e garantir à pessoa propensa à raiva uma vida de
 Primeiro, surge um pensamento na cabeça da pessoa de que alguém ou alguma coisa é melhor qualidade e com menor nível de stress, é preciso aprender a lidar com ela.
demais, ou muito injusto, ou muito desaforo. É a avaliação que se está fazendo da
situação; Encerramento com tarefa de casa: Anotar quantas vezes sentiu raiva durante a semana, enfatizar a
 A seguir, ela começa a ter alguma sensação diferente no corpo, como batedeira do importância de manter o registro. Pedir para trazer o registro na segunda sessão. Incentivar que
coração, tensão nos músculos, boca seca etc.; descubra modos fáceis de manter o registro.
 E depois, ela começa a fazer algo contra a pessoa que a está aborrecendo ou contra
algum objeto. Sessão 2:
Cada uma dessas coisas pode agravar a outra.
Perguntas a serem respondidas antes de começar outra sessão do TCCR para saber como a raiva
Resumindo, a raiva ocorre do seguinte modo: está afetando sua vida:

Algo acontece na vida da pessoa: 1) Quando a sua raiva é válida? É sempre válida, mesmo que feia. É seu direito, é uma
emoção, um sentimento. Não adianta fingir que não a está sentindo. Diga para si mesmo
1. Ela interpreta o que ocorreu como uma afronta, ameaça ou injustiça pessoal (pensamento quando perceber que está com raiva: “estou com raiva neste momento”. Valide sua raiva.
avaliativo); Não sinta culpa de sentir. Mas cuidado com o que faz com ela.
2. O coração bate rápido, os músculos ficam tensos e há sensação de sufoco; 2) Quando a sua raiva é inútil? Pergunte a si mesmo: “Minha raiva está me ajudando nesta
3. O comportamento agressivo ocorre (ou raiva para dentro ou para fora). situação?” Neste caso, pode afetar a autoestima. Pode ser mudada para produtiva.
Mostrar em transparência os aspectos positivos e negativos da raiva. Use a força da raiva
Tenho direito de ter raiva? para fins positivos.
3) Quando a sua raiva é justa? Quando não envolve distorção cognitiva e está no seu direito
Todo mundo tem direito de sentir. A raiva é um sentimento, portanto você tem direito de contestar injustiças, maus-tratos, etc.
sentir raiva. Questionar-se: “Minha raiva está direcionada para alguém que propositalmente e sem
necessidade agiu de forma cruel, rude ou agressiva comigo?”
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4) Quando a sua raiva é um problema? Veja os cinco sinais de que sua raiva pode ser um b) As pessoas avaliam o mesmo evento de modos diferentes e isso pode dar muita raiva na
problema: pessoa que se julga certa.
a) Quando é frequente demais. c) A própria pessoa pode avaliar o mesmo evento de formas diferentes em momentos
b) Quando é intensa demais. diversos.
c) Quando dura muito. d) Como o comportamento de raiva está diretamente ligado às interpretações que a pessoa
d) Quando leva à agressão física ou verbal (se sua raiva o faz ficar agressivo). dá aos eventos.
e) Quando perturba o trabalho ou as relações interpessoais. e) Quando se interpreta de modo errôneo ou ilógico, não se está sendo racional, muitas
A raiva pode ser feia, mas não tem de ser ruim. vezes não se está percebendo o que se está pensando, nem se nota que o pensamento
está incitando a ações que não compensam.
Discutir as seguintes declarações: f) “Não sei o que pensei”, “não estava pensando”, “perdi a cabeça”, “se tivesse pensado não
faria o que fiz”.
“Se quiser ter prazer por um minuto, vingue-se, se quiser ter paz por toda a vida, aprenda a perdoar”. g) É preciso melhorar a maneira de avaliar os eventos e o mundo ao redor.

“Estou à mercê de qualquer tolo que resolva me provocar.” A importância de entender que pessoas diferentes avaliam as situações de modo
diferente e nem por isso estão erradas pode ajudar a reduzir o conflito e a raiva. Muito depende do
“Quem tem o controle das emoções tem o poder.” modo como a pessoa foi criada, viveu sua vida até agora.

“Que triste que esta pessoa esteja tão fora de si.” Exercício de respiração profunda e diálogo interior: “Como eu pensaria se fosse como ele?”

Exercício: Descrever dois modos típicos de expressar a raiva e sugerir alternativas mais eficazes. Encerramento com tarefa de casa: O treinamento exige manter registro do sentimento de raiva e dos
comportamentos consequentes.
Encerramento com tarefa de casa: O treinamento neste estágio exige manter registro do sentimento
de raiva e dos comportamentos consequentes (as reações físicas e emocionais que tiveram). Sessão 4:

Sessão 3: Rever os registros.

Pedir o registro e discutir o que trouxerem, apontando como a reação de casa pessoa é O que é “avaliação racional mínima” (agir sem considerar todos os pontos, agir
fruto de sua percepção e interpretação. Enfatizar a necessidade de fazer o registro de modo preciso, impulsivamente, agir rápido demais, agir instintivamente como um animal) e a necessidade de ter
porque o ato de registrar já é uma técnica terapêutica capaz de reduzir o comportamento registrado. “avaliação racional máxima” (considerar todos os aspectos antes de sentir raiva).
Oferecer para o coterapeuta fazer gráficos do comportamento de cada um para ir acompanhando o Hoje, vamos discutir outro componente da raiva: as reações físicas. Completar a frase por
progresso. escrito ou oralmente, mencionando o que sente no corpo “Quando estou com raiva sinto...”.
Discutir as várias sensações geradas pela raiva.
Revisar as sessões anteriores.
A raiva muda o modo de o corpo funcionar, muda a respiração, a pressão aumenta etc.
Levantamento de eventos eliciadores da raiva: Questionar o que normalmente os faz sentir raiva (o Mencionar as doenças somáticas ligadas à raiva. Quando a pessoa sente raiva, a reação física que
coterapeuta registra tudo para comparação futura). Discutir as possíveis causas da raiva. No fim, ocorre é automática e não planejada, mas aí fica difícil de controlar; por exemplo, até as frases que
apontar como as cognições, o modo de interpretar os fatos leva a emoções diferentes. os outros usam para acalmar aumentam a raiva, como “fique calmo”, “controle-se” etc. O certo é não
deixar a raiva ser deflagrada, tomar uma “ação responsável” antes. O TCCR vai ajudar a reconhecer
Dinâmica: Role play dos pensamentos. Exercício de respiração profunda. e usar a energia gerada pela raiva para fins produtivos. Quanto mais rápido aprender a reconhecer
os primeiros sinais de raiva, mais fácil será controla-la.
Discutir: Discutir o conceito de “ação responsável”.
a) O pensamento como agente entre o evento e o comportamento da pessoa. São ações concretas que servem de guia para a pessoa decidir o que deve ou não fazer.
São atuais e não se referem ao futuro.
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Estão sob seu controle e não o de outras pessoas. Não diga “preciso sair daqui”, porque envolve falta de controle; diga “vou sair de perto”.
Aprendendo a ter menos raiva, a pessoa pode reduzir as sensações desagradáveis Saia por uma hora de perto até se acalmar. Anteriormente, explique para as pessoas mais
geradas por ela. próximas o que é TO; se não explicou, saia de todo modo. Não beba ou use drogas, isso só piora.
Faça algo produtivo (exercício, ginástica, andar, ler, etc.).
Exercício de respiração profunda e diálogo interior: “O que tenho vontade de fazer neste minuto Use TO como prática.
posso fazer depois de pensar em tudo, se achar que quero.” Discutir com o grupo esse método.
Relaxamento.
Encerramento com tarefa de casa: O treinamento exige manter registro do sentimento de raiva, dos
comportamentos consequentes e das consequências. Encerramento com tarefa de casa: O treinamento exige manter registro do sentimento de raiva e da
nota de intensidade de cada episódio. Anotar o que fez com a raiva.
Sessão 5:
Sessão 7:
Verificar registro e mostrar gráficos. Deixar que discutam detalhadamente os gráficos.
Discutir os estilos de raiva: para fora e para dentro. O controle cognitivo da hostilidade: lidando com três partes do processo.
O que faz passar raiva? Diálogo interno e relaxamento/respiração/time-out. Como escutar o próprio corpo. Quando ele fala, ele não quer contra-argumentos, mas,
sim, ações responsáveis.
Rever as quatro perguntas sobre raiva: Tensão é o primeiro sinal de que a raiva vai ocorrer. Discutir os vários modos de relaxar,
enquanto mantém um diálogo antirraiva, e de reduzir o stress.
1) Minha raiva é válida, justa, é inútil, é problema? Identifique as provocações que poderá ter de enfrentar e as classifique em quatro
2) Diálogo interior: “Minha raiva está me ajudando ou me prejudicando?” categorias: frustrações, irritações, abusos e injustiças.
3) “Minha raiva está me fazendo mais feliz?” Trace um plano para lidar com ela.
4) “Está ajudando nas minhas relações com os outros?”
Exercício: Fechar os olhos e pensar em alguma provocação que em geral lhe dá muita raiva. Respira
Pense na última vez que ficou com raiva. Foi justa? Como você sabe? fundo e relaxe. Mantenha a imagem vívida até que consiga relaxar completamente.
Da próxima vez que ficar com raiva, que ação responsável posso tomar?
Pedir que cada um lembre um episódio de raiva da última semana. Pedir que deem uma Encerramento com tarefa de casa: O treinamento exige manter o registro do sentimento de raiva e
nota de 1 a 10. O episódio levou à agressão? Que comportamento resultou da raiva? da nota de intensidade de cada episódio. Anotar o que fez com a raiva.
Analise a seguir o estímulo que desencadeou a raiva e o pensamento que surgiu.
Relaxamento e como usá-lo para lidar com uma pessoa que o provocar. Usar relaxamento Sessão 8:
para reduzir a própria raiva e para lidar com a raiva do outro.
Rever todo o trabalho.
Encerramento com tarefa de casa: O treinamento exige manter registro do sentimento de raiva e da
nota de intensidade de cada episódio. Anotar o que fez com a raiva. Síntese do tratamento TCCR: os 11 passos

Sessão 6: Como lidar com a raiva:

Como aprenderam a expressar a raiva? Pais, professores, cônjuges... A importância do 1. Reconheça que está com raiva.
modelo. Discutir princípios de aprendizagem. 2. Aprenda a reconhecer o que dá raiva em você.
Como evitar a armadilha da raiva? Expectativas como fontes previsíveis de raiva. 3. Aprenda a reconhecer as três etapas da raiva: pensar que algo é uma afronta, sentir no corpo
A técnica do time-out (TO): isolar-se da situação que gera raiva até ter controle. Dizer algumas reações e agir agressivamente.
para a pessoa que está lhe dando raiva: “Estou começando a sentir raiva, vou sair de perto.” 4. Entenda que algo só se torna uma provocação se você achar que é.
Discutir os componentes dessa frase. Exemplo: “Eu” em vez de xingar; “começando a 5. Entenda que as reações físicas da raiva tem o poder de aumenta-la.
sentir raiva” está validando o sentimento; “vou sair de perto” envolve ação responsável.
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6. Compreenda que reagir agressivamente vem no fim e que, portanto, dá tempo de controlar a si
mesmo antes que a raiva exploda.
7. Sempre tente dominar a raiva na sua fase inicial, isto é, verifique se o seu modo de avaliar a
situação que você acha uma provocação pode ser mudado. Para tal, mude a sua conversa consigo
mesmo.
8. Quando perceber que a raiva está aparecendo no seu corpo, que seu coração já começou a bater
muito rápido, que seu corpo e mente estão ficando tensos, que está desenvolvendo uma sensação
de sufoco, tente relaxar para ver se elimina essas reações. Experimente dizer para si mesmo:
“Cal...ma, cal...ma”, “preciso tomar cuidado para não deixar a raiva me dominar”, “há outro modo de
ver as coisas”, “vou deixar para reagir amanhã, quando tiver pensado sem raiva”, “sempre posso
ragir amanhã, se quiser”, “não vou correr o risco de ficar doente por causa da minha raiva”, “estou
aborrecido, mas isso não é o fim do mundo”, “quem mantém a calma mantém o controle”, “posso
assumir o controle das minhas emoções”.
9. Ao mesmo tempo que vai conversando consigo mesmo, respire profundamente pelo nariz e solte
o ar devagar pela boca.
10. Tente encontrar modos de por para fora a raiva; por exemplo, faça ginástica, caminhe, dance,
cante, ria, seja positivo, converse sobre ela.
11. Quando já estiver em controle da sua raiva, tente resolver a situação que o fez ficar tão
aborrecido.

Prevenção de recaída

O terapeuta deve lembrar que a pessoa adquire um padrão de comportamento gradual e


sistemático durante toda a sua vida. O estilo para lidar com a raiva não é aprendido de uma só vez.
É o produto de inúmeras repetições de eventos que condicionam a pessoa a agir de um modo ou de
outro. Tal modo de perceber o mundo, as crenças desenvolvidas, o jeito de lidar com os eventos
desestabilizadores, tudo isso foi praticado e reforçado, de um modo ou de outro. Tal modo de
perceber o mundo, as crenças desenvolvidas, o jeito de lidar com os eventos desestabilizadores,
tudo isso foi praticado e reforçado, de um modo ou de outro, inúmeras vezes. Desse modo, seria
imponderável pensar que as oito sessões do Treino Cognitivo de Controle da Raiva seriam
suficientes para mudar toda uma vida e garantir a estabilidade dessa mudança. Esse tratamento tem
sua eficácia comprovada; porém, é necessário que o terapeuta identifique, junto com seu paciente,
os estímulos ou eventos que poderiam funcionar como gatilhos para o antigo comportamento
inadequado de raiva. Durante a terapia, é necessário examinar as verbalizações da pessoa quando
ela relata os momentos em que perdeu o controle. Identifique as situações que no passado mais
afetavam a pessoa e faça um ensaio comportamental com ela quanto a modos alternativos de lidar
com o problema. Discuta como identificar os gatilhos e como se prevenir deles, antes que a perda do
controle ocorra de novo.

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