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- Boletim Bibliográfico 5 - O Escritor do mês - março de 2020 - Eça de Queiroz -

José Maria de Eça de Queiroz nasceu na Póvoa do Varzim em 1845. Estudou entre o colé-
gio da Lapa, na cidade do Porto, e a Universidade de Coimbra, onde entrou no primeiro
ano, em 1861. Aqui, ligou-se a uma geração académica, admiradora das ideias de Proudhon
e de Com-te. Travou conhecimento com Antero de Quental e iniciou a sua carreira literária,
com a publicação de folhetins que mais tarde seriam agrupados nas Prosas Bárbaras
(1905). Em 1866, formou-se em Direito e passou a viver em Lisboa, onde exerceu a profis-
são de advogado. Cimentou a sua ligação a Antero de Quental e ao grupo do Cenáculo
(1868), após ter dirigido o Distrito de Évora (1867). Em 1869, viajou até ao Egito, para fazer
a reportagem sobre a inauguração do Canal do Suez, de que resultará O Egipto, publicado
apenas em 1926. Em 1871, participou nas Conferências do Casino Lisbonense. Entre 1869 e
1870, publicou diferentes obras, tais como Os Versos de Fradique Mendes, O Mistério da
Estrada de Sintra, em parceria com Ramalho Ortigão e iniciou a publicação das Farpas. Em
1871, foi nomeado 1.º Cônsul nas Antilhas espanholas, transitando depois para Cuba, onde
permaneceu dois anos. Entre 1883 e 1887, refez algumas das suas obras e publicou o Con-
de D’Abranhos e Alves & Companhia. Em 1874, passou a desempenhar a sua atividade em
Inglaterra, foi em Newcastle que terminou O Crime do Padre Amaro (1875), ali ficando até
1878. Após esta data, foi para Paris, onde se dedicou à criação literária e onde faleceu em
1900. Em 1888, publicou a sua grande obra Os Maias e foi nomeado Cônsul em Paris. Conti-
nuou a escrever diferentes textos e obras, como A Ilustre Casa de Ramires ou a publicação
na Revista Moderna, em Paris.
Podemos ainda destacar da sua produção romanesca, entre outros, O Mistério da Estrada
de Sintra (em colaboração com Ramalho Ortigão, (1871), O Primo Basílio (1878), O Manda-
rim (1879), A Relíquia (1887), A Ilustre Casa de Ramires (1900), A Correspondência de Fradi-
que Mendes (1900), A Cidade e as Serras (1901), A Capital (1925), O Conde d'Abranhos
1925), Alves e Cia. (1925) e Contos (1902). Eça de Queiroz, tendo vivido na parte final do sé-
culo XIX, soube, através da sua capacidade de analisar o quotidiano e a sociedade, traçar
com humor algumas das características do nosso país. Fez o diagnóstico de uma classe
política naufragada, onde os interesses particulares parecem não ser capazes de organizar
institucionalmente o país. Vindo do século XIX, é um modernista na escrita e no pensamen-
to que nos deixou. Eça é um dos maiores escritores de língua portuguesa, sendo em mui-
tos aspetos uma figura que cria um mundo novo que alcança formas novas de exprimir um
modernismo na escrita. É um dos escritores mais populares de língua portuguesa. A sua
obra evoluiu de uma formulação inicial mais fantástica e influenciada por nomes como
Baudelaire ou Heine, presente nos artigos e crónicas, para numa fase posterior se dedicar
à crítica das instituições mais tradicionais, preocupando-se com a reforma social, dando-
nos belos quadros de “crónicas de costumes.” Na última fase, encontramos uma escrita
com mais esperança, com o culto da Natureza e de um certo regresso à simplicidade do
homem, como se percebe em A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras ou a Correspon-
dência de Fradique Mendes.

“ Ega esfregava as mãos. Sim, mas precioso! Porque essa


simples forma de botas explicava todo o Portugal contem-
porâneo. Via-se por ali como a coisa era. Tendo abandona-
“A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era conhecida na vizi-
do o seu feitio antigo, à D. João VI, que tão bem lhe ficava,
nhança da rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela casa do
este desgraçado Portugal deci-dira arranjar-se à moderna: Ramalhete.” (…)
mas, sem originalidade, sem força, sem carácter para criar “Num claro espaço rasgado, onde Carlos deixara o Passeio Público pacato e frondoso -
um feitio seu, um feitio próprio, manda vir modelos do es- um obelisco, com borrões de bronze no pedestal, erguia um traço cor de açúcar na vi-
bração fina da luz de inverno: e os largos globos dos candeeiros que o cercavam, batidos
trangeiro – modelos de ideias, de calças, de costu-mes, de
do sol, brilhavam, transparentes e rutilantes, como grandes bolas de sabão suspensas
leis, de arte, de cozinha… Somente, como lhe falta o sen- no ar. (…)
timento da proporção, e ao mesmo tempo o domina a im- “O Dâmaso, no pátio do Victor, de perna traçada, dizia familiarmente «a Raquel»; era um
paciên-cia de parecer muito moderno e muito civilizado – dever de moralidade pública dar bengaladas no Dâmaso!..”
exagera o mo-delo, deforma-o, estraga-o até à caricatura.” - Os Maias (1888).
- Os Maias (1888).
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« E necessitava correr, reentrar na Cidade, mergulhar nas ondas lustrais da Civiliza-


ção, para largar nelas a crosta vegetativa, e ressurgir reumanizado, de novo espiri-
tual e Jacíntico! (…) Este delicioso Jacinto fizera então vinte e três anos, e era um
soberbo moço em quem reaparecera a força dos velhos Jacintos rurais. Só pelo na-
riz, afilado, com narinas quase transparentes, de uma mobilidade inquieta, como se
andasse fariscando perfumes, pertencia às delicadezas do século XIX. O cabelo ain-
da se conserva, ao modo das eras rudes, crespo e quase lanígero; e o bigode, como
o de um Celta, caía em fios sedosos, que ele necessitava aparar e frisar.”

(De A cidade e as serras, capítulo 1).

A cidade e as serras - Da viagem de Jacinto


entre o 202 em Paris e o encontro com José
Ficha Técnica Fernandes em Tormes, ou o diálogo entre a
Redação: Equipa da Biblioteca tecnologia e a ruralidade num livro essencial
Biblioteca: Agrupamento de Escolas António Rodrigues Sampaio para compreender o século XIX e o próprio
Periodicidade: Mensal (março.2020) Eça.
Distribuição/Publicitação: Redes digitais
Imagens - Trabalho desenvolvido pelos alunos do 11.º F, da Escola secundária de Sil-
(Afixação na Biblioteca / Plataformas digitais) ves, in Fundação Eça de Queiroz.

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