E o que seria, em termos objetivos, esse tempo extremamente
reduzido de exposição? O Ministério do Trabalho e Emprego editou a Portaria nº 3311, de 29/11/1989, que traça normas claras e objetivas para que a fiscalização do trabalho identifique as situações de permanência, intermitência e eventualidade. A referida Portaria nº 3.311/89 foi revogada pela Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego nº 546/10, mas é consenso no meio jurídico, inclusive em razão de esclarecimentos prestados pelo próprio Ministério do Trabalho e Emprego (vide o endereço eletrônico "http://descomplicandoaseguranca.blogspot.com.br/2011/06/laudo- tecnico-como-elaborar.html"), que as antigas orientações da Portaria revogada permanecem válidos quando se trata de orientar a fiscalização para definir situações de trabalho eventual, intermitente e permanente. E tal se dá porque a norma revogadora, in casu , a Portaria nº 546/2010, nada tratou em relação à disciplina anterior contida na Portaria nº 3311/89, pelo menos quanto aos critérios objetivos de identificação das situações de exposição eventuais a agentes nocivos à saúde, limitando-se a inovar no mundo jurídico apenas e tão somente em relação à forma de atuação da Inspeção do Trabalho, definindo-se novos critérios para o planejamento da fiscalização e a avaliação de desempenho funcional dos Auditores Fiscais do Trabalho. Assim, embora revogada a Portaria nº 3311/89, as suas antigas diretrizes de definição das realidades de intermitência, eventualidade e permanência mantêm-se válidas e servem de parâmetro confiável à fiscalização do trabalho. No item nº 4 - ANÁLISE QUALITATIVA, em seu subitem nº 4.4, a revogada Portaria nº 3311/89, estabelece:
"- do tempo de exposição ao risco - a análise do tempo de exposição
traduz a quantidade de exposições em tempo (horas, minutos, segundos) a determinado risco operacional sem proteção, multiplicado pelo número de vezes que esta exposição ocorre ao longo da jornada de trabalho. Assim, se o trabalhador fica exposto durante 5 minutos, por exemplo, a vapores de amônia e, esta exposição se repete 5 a 6 vezes durante a jornada de trabalho, então seu tempo de exposição é 25 a 30 minutos por dia, o que traduz a eventualidade do fenômeno. Se, entretanto, ele se expõe ao mesmo agente durante 20 minutos e o ciclo se repete 15 a 20 vezes, passa a exposição total a contar com 300 a 400 min/dia de trabalho, o que caracteriza uma situação de intermitência. Se, ainda, a exposição se processa durante quase todo o dia de trabalho, sem interrupção, diz- se que a exposição é de natureza contínua."
Com base nos critérios objetivos da referida norma regulamentar,
pode-se conceituar:
"* até 30 minutos por dia = trabalho eventual;
* até 400 minutos por dia (próximo de 6 horas e meia) = trabalho intermitente; acima de 400 minutos por dia = trabalho permanente, contínuo ou habitual".
Observe-se que a exposição é aferida em relação à jornada
efetivamente cumprida pelo empregado, e não aos dias efetivamente trabalhados por escala. No caso em apreço, a Reclamante ficava exposta, ao longo de toda a sua jornada cumprida, ao contato com o lixo urbano, o que caracteriza o contato permanente. Irrelevante, para tal efeito, que a sua escala fosse de 12x36 horas, pois a exigência da lei, para pagamento do adicional de insalubridade, é de contato permanente com agente insalutífero durante a jornada, e não que tal contato ocorra todos os dias, durante sete dias por semana. Assim, presente o labor em condições nocivas à saúde da trabalhadora, devido se mostra o pleito de adicional de insalubridade.