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N° 19 | Novembro de 2012 U rdimento

Corporalização: BMC em Dança


Lela Queiroz1

Resumo

A partir de imbricações entre corpo e criação, o artigo busca


propor que o método BMC por corpomente, sistemas integrados e
princípios evolutivos de movimentos operam diretamente ligados,
contribuindo como metodologia alternativa em performance em
Dança. A pesquisa, que conta com o apoio das Ciências cognitivas
e evolutivas, visa mostrar como embodiment se tece no campo do
desenvolvimento e apresenta modos de investigação em dança
contemporânea. O laboratório de pesquisa foi iniciado com Bolsa
recém doutor Capes 2008 e por projetos da UFBA (2009-12).

Palavras-chave: Dança, performance, corporalização BMC

Abstract

Within crossroads between body and creative processes, the article


shows that BMC’s method in bodymind perspective, principles
of evolutionary movements and systems operate directly linked,
contributing as an alternative methodology in the scope of
performance. The research, supported by cognitive science and
evolution, seeks to explain how embodiment operates in the field
of development and presents modes of inquiry in contemporary
performing arts. The research laboratorie began with Doctorate
Grant CAPES 2008 e and ongoing projects in UFBA (2009-12).

Keywords: Dance, performance, embodiment BMC.

1
Lela Queiroz é pesquisadora da área de dança, com ênfase nos temas cognição e conscientização. Professora Adjunta do Programa de
Pós Graduação em Dança da UFBA, praticante BMC e formada em Educação Somática pelo Movimento, EUA e Alemanha 1999/2002-
2005/2006. É doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Integra a RedSul. Coreógrafa e artista performer em intervenções pú-
blicas, Prêmios Sesc Movimentos de Dança 1989/1993. Prêmio Dança Contemporânea SP/2003-2004 desenvolve Projetos de extensão
e pesquisa na UFBA 2009-2012 Interação cognitiva BMC - Dança - Escola. Lidera o grupo de Pesquisa DC-3 no CNPQ. Coordena os
grupos de pesquisa e estudos, Corpo, artes e Performance e Dança, comunicação e ciência. Contato: leladancai@gmail.com

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Tendo BMC –bodymindcentering- como são de que, se numa ponta, o trânsito das
referência de plataforma de conhecimentos informações no mundo ocorrem dinamiza-
para pesquisa em dança, a partir de suas das a partir de sua confabulação em carne
imbricações em processos criativos, en- e osso: “o conhecimento é enraizado no
contramos procedimentos especializados corpo” (Lakoff&Johnson, 1999), na outra
tecendo conexões entre organismo e vida. ponta reconhece-se que a operação da cog-
Compreendendo haver um continuum nição, isto é, a capacidade de construção do
complexo entre natureza e cultura (Ridley, conhecimento se dá a partir dos complexos
2003) entre o legado da evolução biológica sensorio-motores nos organismos, ou seja
e marcos civilizatórios, BMC caminha nas o corpo fazendo parte do domínio básico
duas margens; entre força dos instintos e da experiência (Llinás, 1996, 2001, Noe,
impacto emancipador das normas (Bau- 2004). Um ciclo intra-sentidos é promovi-
man, 1998), esbarra-se em origens distintas do primeiro para a sistematização motora,
do movimento fora do corpo e no corpo não podendo mais compreender esta como
em que propagam-se questões entre fora separada da via sensorial. A abordagem
e dentro, tema especialmente importante perceptuo-motora compõe aspecto chave
para a educação somática pelo movimento. do trabalho e permite encampar o fenôme-
Aqui interessa reparar na trama que monta no corporalização.
e desmonta redes de acontecimentos com o Rompendo com a estrutura do traba-
corpo na perspectiva da criação. lho de corpo em dança moderna, ordenada
Essa ligação organismo-vida tange o pela disposição e direcionamento do corpo
organismo ontológica-mente e epistemoló- alinhados através do espaço, BMC estru-
gica-mente, ou seja, o organismo enquanto tura-se em torno da arquitetura intra-extra
ser, sentido e sentimento e a arte da signi- corpo, investigando os sistemas corporais
ficação. Entrelaçam-se aí questões sistêmi- a fundo numa perspectiva de conhecimen-
cas e simbólicas, valendo-nos do conceito to em fluxo, valendo-se do diferencial de
corpo-ambiente duplamente: do organis- cada corpo em questão. O corpo não mais
mo em seu ambiente, e do organismo no disposto por sua verticalidade, para fren-
entorno, no ambiente mediado, e corpomi- te, num ponto fixo apoiado sobre os pés,
dia (Greiner & Katz, 2002): corpo com sua incidindo peso, gravidade e ponto fixo da
percepção - como modelo de comunicação visão apoiado para fora. Ao contrário, ca-
- , com o qual se dá o fenômeno de corpora- racterística, que de certo, pode ser encon-
lização (Thompson, Varella, 1991). trada por vias somáticas distintas e está
O artigo busca propor que o método presente em BMC, é o reencontro consigo
de exploração e improvisação de BMC pe- mesmo ligando-se o aspecto do chão e do
los sistemas corporais, funcionamento in- corpo dispostos aleatoriamente, em que,
tegrado no corpo e adoção dos princípios contato, espaço, peso, gravidade distribu-
de movimentos evolutivos operam direta- ídos na horizontalidade e tempo interno
mente ligados a questões de criação. do corpo levado em conta, boa parte das
BMC investe numa matriz de trabalhos vezes sem apoio da visão para iniciarem-se
que tange duplamente estrutura, forma e os processos de trabalhos de corpo, o que
função, instintos, motivação, afetos e cria- passa a identificar comumente um trabalho
ção. Meu livro “corpo, mente, percepção, de corpo em dança contemporânea.
movimento em BMC e Dança” (Queiroz, Em BMC, procedimentos investigati-
2009), o artigo na Revista Conccinitas nº15 vos estão fundamentados pela anatomia
“Contato, a não execução” (Queiroz, 2010), e fisiologia experiencial, pelas implicações
“Neurológicas” (Queiroz, 2011) e “Espa- neuronais dos BNPs (basic neurological pat-
cialidade e Visualidade” (Queiroz, 2012), terns), padrões de movimentos evolutivos,
ajudam a compreender melhor o assunto reflexos, sobretudo pelo papel dos movi-
aqui tratado. mentos e contato entre sistemas. Isso in-
Corporalização passa pela compreen- dica uma mudança sensível de epigenesis
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para o trabalho em dança, assim, a visão paço por hora, que parece vital e tão caro
é estimulada, articulada e introduzida co- à dança e merece atenção noutra ocasião,
dependente do campo exploratório em nos propomos falar deste deslocamento,
curso. Do vir a ser e do existir, fenomeno- por procedimentos que abarcam investiga-
logicamente falando, situa-nos na esfera ções no corpo em seus aspectos estruturais,
do corpo como processo relacional e do funcionais e formais, como também detec-
movimento como percepção e informação. tam e exploram aspectos motivacionais,
Desse modo há uma mudança crucial; um instintivos, afetivos, criativos e comunica-
novo caminho que afetará os limites de al- cionais ao mesmo tempo. O enfoque, com
cance entre treinamento e criação. embasamento teórico-prático e reflexão
A corporalização que o BMC promove arte-ciência, reúne aspectos formativos,
se baseia numa compreensão que lembra entretanto proponho que, do mesmo modo
a metafórica de mundo (Lakoff&Johnson, que antes se entendeu estrutura e função,
1999), e corpomidia (Greiner&Katz, 2001). entendamos que sejam, sobretudo, funcio-
Dentro disso, significa dizer que a partir nais criativos.
dos trabalhos evolutivos mente-corpo que Essa perspectiva de corporalização
o BMC propõe surge uma lógica interna atravessa todo o BMC, perpassa todo o es-
dos processos, procedimentos e práticas copo de suas práticas, inaugurando uma
que realmente suplantam de vez a visão tríplice orquestração entre continuum cor-
analítica e uma compreensão psicológi- po/mente, princípios evolutivos ontoge-
ca dos fenômenos, propondo um olhar néticos e filogenéticos de desenvolvimento
psico-físico-eletro-químico sobre os acon- de movimentos e ação no ambiente. Dentro
tecimentos, gerando uma lógica cognitiva desta tríade, sistemas corporais, o desen-
a partir da evolução dos movimentos. As volvimento de padrões pelo movimento e
considerações lançadas seriam a possibili- a investigação exploratória integram o cor-
dade deste método de educação somática pus didático pedagógico da metodologia.
de dança como bastidor permanente para Como primordial tem-se movimentos in-
suas criações. trínsecos (Thelen, 1995) construtos dos sis-
Deixando de se valer do modo tradi- temas corporais, mas não qualquer tipo de
cional por comandos da ordem do controle movimento (Sheets JohnStone, 1998), neles
neuro-muscular para dançar, na Escola e estão a herança genética e possibilidades
Programa de Pós Graduação em Dança e de movimentos que trazemos ancestral-
da Universidade Federal da Bahia, minis- mente – evolutivamente: filogeneticamen-
tro módulos teórico práticos de processos te, assim, como base, está a investigação,
criativos na graduação, curso BMC e gru- mas não qualquer tipo de investigação, ex-
po de pesquisa Corpo Artes e Performan- ploratória dentro da lógica de percepção
ce em atividades de extensão, recorrendo ambiente cunhada por Gibson (1977, 1986).
a plataforma de procedimentos da meto- BMC trabalha de forma sistêmica entre
dologia BMC para criação em dança con- acaso e necessidade, a exploração dos seus
temporânea. Proponho uma abordagem princípios fundamentados com a fisiologia
processual que busca uma emancipação clínica e anatomia experiencial, em níveis
do corpo em relação à técnica, suplantan- e graus envolvendo esses compósitos num
do o entendimento da techné, atado a um campo improvisacional.
entendimento de corpo como instrumento, Encontram-se entremeados operado-
daquilo que seria fabricado com o corpo res de auto-organização (Thelen, 1995)
no espaço, daquilo que ela garantiria uni- e de construção metafórica da realidade
formemente para o corpo, valendo-se de (Lakoff&Johnson, 1999) em que “ há um
uma concepção geométrica de espaço e cruzamento de questões de ordem práti-
linear de tempo, assunto já explorado em ca e simbólica” (Greiner, 2005). Além dis-
meu artigo “Subversão do Balé” (Queiroz, so, essa visão sobre movimentos ajuda a
2001). Sem nos determos no assunto do es- repensá-los como protagonistas, forças
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cognitivas no organismo, envolvendo mo- guinada de receptividade, subentendendo


vimento como sentido, e percepção como o acoplamento estrutural (Maturana & Va-
experiência (Noe, 2004) no meio. Quando rella, 2002) entre o continuum corpomente
o organismo age, se interpõe direção aden- - ambiente (do dentro com o fora), a aten-
tro e afora, com processos de tomadas de ção e a intenção são modos de percepção no
decisão. ambiente (Dennet, 1987, 1997), envolvendo
No espaço das aulas, as investidas mudanças de estado. A repetição em com-
são tecidas desde a mais branda ou tênue petição - aqui entendida evolutivamente -,
reação a um estímulo até a mais aferrada se dá sempre com modificação, e a repro-
perturbação pelas iniciações e caminhos de dução se dá no modo indicial com campos
movimentos. No limiar dentro fora do or- migratórios gravitacionais dentro-fora,
ganismo o regime de atrator (Thelen, 1995) centro-periferia, expansão-recolhimento,
surge conflado (Lakoff&Johnson), de saída, traçando rumos em tempo real que auto-
não está dado, ele vem se compondo com organizam novos repertórios de movimen-
a prerrogativa das predisposições para o tação.
ganho de estabilidade, e com a repetição O organismo performa navegação:
eventual, como afirma Bonnie Bainbridge com a ajuda da visão rastreia esses índices,
Cohen do BMC. O sistema nervoso é o úl- enquanto vasculha o ambiente. A duração
timo a saber, mas uma vez que registra o é um aspecto chave, substituindo o vetor
movimento, se torna uma rotina cognitiva de “timing” utilizado na concepção coreo-
(Cohen, 1993). gráfica e do tônus unificado, para o vetor
Aliado a essa questão, está em jogo de variáveis e mudanças de estado. O que
o protoself e self biológico (Damásio, 1999), dura e o que se torna estável são conceitos
num choque de gestão entre o estado opti- ativos da teoria evolutiva, de caráter inde-
mum interno do organismo que ele busca terminista (Queiroz, 2001). Na medida em
em seu metabolismo com homeostase e re- que os processos criativos avançam, com
gulações, estimado pelo ganho interno, por questões de corpo e criação, BMC contribui
um lado e, por outro, inoportunas pertur- como metodologia alternativa no escopo
bações que desestabilizam seu estado. Mas da performance.
como sistema aberto, o papel da perturba- Um dos diferenciais de abordagem nos
ção é crucial (Vieira, 2003, 2006). O organis- estudos contemporâneos de percepção nas
mo aprende a lidar com ambos por modos ciências cognitivas passa pela consideração
distintos. Na perspectiva da criação, justo do corpo no eixo central de conhecimento
por se dar de modo não linear, em se tra- de mundo e passa a entender percepção
tando de organismos complexos com es- como ação (Gibson, 1977, 1986, Thelen,
truturas dissipativas (Prigogine, 1984), as 1995, Berthoz, 2003, Noe, 2006). De outro
perdas irreparáveis de energia são com- modo posto: cognição, seria uma operação
pensadas pela auto-organização, num flu- mental, cujo mecanismo central depende-
xo inestancável entre ambos. É importante ria dos mecanismos da visão, de fora para
salientar que a construção de caminhos de dentro, excluindo, a grosso modo, o corpo
movimento dentro desta perspectiva, se deste circuito. Precisaram ocorrer revela-
afasta da atitude de reprodução e repeti- ções nas recentes pesquisas sobre o cérebro
ção como entendidas tradicionalmente em na neurociência para mudar essa situação,
dança. indicando ser, a cognição, corporalizada/
O corpo empreende investidas no embodied (Varela & Thompson, 1991). Ela
espaço-tempo, com movimentos de diver- é possibilitada pelo reconhecimento de
sas gamas num processo que envolve sen- campo, pela ação do organismo em sua
sing, feeling and action - rastreamento, senti- escala tátil, gustativa, olfativa e sonora,
mento e ação - em que se alojam operações através dos sentidos no corpo, decorren-
de escuta, atenção e intenção. Escuta in- tes de movimentos e contato no ambiente
verte a direção da atenção para fora, numa (Gibson, 1977, 1979, 1986). Por outro lado,
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indicou percepção tratar-se de uma ação, corpo e ambiente, ligados aos seus diver-
pois, receptores sensoriais, na operação de sos sistemas com respiração celular. Aden-
estímulos, ativam-se como nociceptores, tra escuta e atenção no qual movimento é
interoceptores, proprioceptores, e outros, percepção. Através de um desenvolvimen-
interferindo e auto-organizando categorias to gradual dos padrões, escuta e atenção se
perceptivas, seguindo-se a varreduras tá- traduzem em intenção em que movimento
teis e buscas que o organismo realiza en- é informação em ação, reconhecendo rela-
quanto se move no ambiente (Johnstone, ções entre anatomia e fisiologia experien-
1998). cial e funcional, num conjunto amplo e
Segundo BMC, o movimento orga- complexo de movimentos evolutivos mul-
niza os demais sentidos, o tátil, o paladar e tifacetados. Implicado o ambiente, BMC
o olfativo via o auditivo para a convergên- trabalha contato, projeta-se no espaço no
cia da visão, que emerge no pico de maior espectro criativo simbólico que irriga pro-
complexidade com o entorno; movimentos cedimentos artísticos.
integram os sentidos em ação. Esther The- Maxine Sheets-Johnstone, filósofa
len (1995), cientista dinamicista, apresenta que estuda o aparecimento biológico da
uma teoria da ação em que movimentos consciência nas espécies, pesquisou-a a par-
intrínsecos se fazem centrais para rotinas tir da questão da propriocepção e do senti-
cognitivas - como também Alain Berthoz do cinestésico, ambos do campo do movi-
(2003), cientista cognitivo - que corrobo- mento. Em seu artigo “A natural history”2
ra para o BMC em relação ao aspecto do (1998), demonstra que movimentos de
movimento: é ele que informa os demais deslizar, empurrar, desviar, girar e saltar
sentidos. Assim, a visão tem sua auto-or- nos contam como são os corpos e contam o
ganização em curso pela sinalização dos que eles fazem no meio em que vivem. As
movimentos em andamento. soluções adaptativas que os corpos vão en-
Bainbridge Cohen, do BMC, a partir contrando ficam disponibilizadas em rede
dos princípios evolutivos de movimento de e organizam níveis mais complexos de in-
herança filogenética, relacionou a forma- teratividade para a sua ação no mundo e,
ção ontogenética do organismo, os padrões assim, conseguem mais sustentação, pro-
neurológicos basais, os padrões de desen- teção e melhores condições para garantir a
volvimento de movimentos no organismo, sua vida em permanência (Johnstone, 1998,
as suas transições em novos padrões e clas- p.260-294).
sificou a organização desses padrões. Além A hipótese evolutiva do movimen-
disso, inter-relacionou toda essa gama re- to como um dos modos de organização da
pertorial de movimentos com os diversos informação e da comunicação entre siste-
sistemas do corpo e suas implicações neuro- mas corpo adentro e afora, constitui a di-
endócrinas, tratando do organismo em toda ferença para a sobrevivência e convive, na
a sua complexidade. Como resultado, BMC mesma direção, com as assertivas do mo-
propõe o campo da somática – pelo movi- vimento como categoria perceptiva defen-
mento - dentro de uma concepção de fluxo dida pela dinamicista e cientista cognitiva
de explorações, soluções adaptativas e ar- Esther Thelen, que se dedica a explicar os
ranjos provisórios de improvisação, pelo ca- processos de desenvolvimento pelos mo-
minho de investigação no organismo, pela vimentos. Em seu trabalho, fala dos movi-
percepção dos sentidos, pelos caminhos de mentos intrínsecos como processo cognitivo
movimentos evolutivos em ação na criação. do organismo. Os domínios são de início
Enfatiza Bonnie que “cada um dos sistemas conflados, (não separados) e fabricam as
apóia, sustenta e modifica o outro a toda relações de causalidade entremeados, e
hora num amplo continuum de atenção, in- novas habilidades sensório motoras mu-
tenção e função” (Cohen, 1993).
O domínio básico da experiência em 2
Publicado no periódico JCS- Journal sobre os estudos sobre a Consciência, numa
BMC se dá encampando processos entre edição dedicada ao papel da propriocepção na ciência.

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dam habilidades cognitivas e vice-versa. escalas tempo-espaço sem referência fixa


Além disso, o movimento funcional é o para dentro ou fora. Limites distintos entre
amalgama entre mente e organismo que dentro e fora permanecem, porém não são
o animal precisa para destrinchar o am- fixos, estanques e isolados um do outro;
biente e as informações sensoriais nele eles se dão em intercâmbio pelo parâmetro
presentes, adaptar e integrar para se mo- da mudança.
vimentar eficiente e efetivamente. “O sig- Passa-se a uma compreensão integra-
nificado tem suas origens nas ações e sua da via sistema sensório motor, valendo-se
manifestação – gerada – em tempo real e da perspectiva de que em diversos pontos
pela atividade” (Thelen, 1995, p.277). se cruzam redes para sinalização neuronal
A hipótese para a pesquisa em per- envolvendo ambos os aspectos de alça sen-
formance, de que movimentos intrínsecos sorial e motora, incluindo ciclo intra-sen-
reúnem imbricações evolutivas entre na- tidos, movimento e contato como percep-
tureza e cultura, a uma só vez, pressupõe ção. A varredura que é feita no ambiente
que o organismo em formação vai modu- através dos estímulos que chegam, através
lando com movimentos sua organização dos sentidos, selecionam o que o receptor
interna, sendo funcionais por um lado e dará seguimento criando repertórios e ge-
criativos por outro, pois implementam rando categorização perceptiva. Há tam-
princípios evolutivos herdados genetica- bém conjuntos de repertórios sistemáticos
mente. E segundo eles compõem a questão de memória pelo cérebro em ação conjunta
evolutiva do movimento como repetição por todos os sistemas percéptuo-motores
com modificação, de interesse no campo como o tato, o cheiro, a visão, o movimen-
improvisacional com o corpo. to, os sons e a linguagem em contato com
Nesse sentido, movimento como o habitat (Edelman, 1999, p.98). Sinalizan-
um operador de sistemas, ganha autono- do segundo o autor Edelman, o dinamis-
mia qualitativa, se torna senhor de dois mo da auto-organização, evocando zonas
mundos. O mundo do instante presente e convergentes, domínios cruzados, re-en-
os mundos possíveis a que se refere, nas trada, escalas multimodais, co-emergência
relações com o entorno, em sua história na cognição, por todo o funcionamento do
recente, como também de sua história vin- cérebro. Na percepção, em última análise,
doura. “É o movimento que faz do corpo implica, dizer que ela se dá enquanto ação,
corpomidia” (Greiner, 2005). Em resposta regida por movimentos enquanto explo-
à história das mudanças adaptativas das ram o ambiente. Conforme salienta Bain-
espécies e às provocações e desafios no bridge Cohen, “o contato é enfatizado pela
ambiente, Sheets-Johnstone propõe que pele e o movimento é enfatizado pelos re-
movimentos agem pela sobrevivência do ceptores proprioceptivos e sinestésico nas
organismo no meio. juntas, ligamentos, músculos e tendões, os
Movimentos, evolutivamente falan- interoceptores dos órgãos e o mecanismo
do, operam tanto nos processos internos vestibular do ouvido interno”3 (Cohen,
de regulação do crescimento e desenvol- 1988: parte 1).
vimento do corpo (dentro-fora), como nos Segundo Thelen, não há como conhecer
estímulos de informação que chegam ao um estímulo ou um objeto sem uma intera-
corpo e se transformam em corpo (fora- ção, sem se afastar ou se aproximar, sem
dentro). Sobre as questões dentro-fora or- entrar em contato, sem pegar ou largar,
ganismo, desde a perspectiva celular, per- sem o tátil-experimental; isto é, sem que o
meável; o que se passa com o organismo se corpo ou alguma de suas partes tivessem
move, o corpo capta um estímulo, sintoni- entrado em contato, diversas vezes, com o
za-se com ele, age/reage e abastece-se dele, objeto em questão. O reconhecimento das
internaliza-o, responde à ele, somado à de- 3
mandas no ambiente, entre dentro e fora, “Touch is emphasized in the skin; movement is emphasized in the proprioceptive and
kinesthetic receptors in the joints, ligaments muscles and tendons; the interoceptors
se relacionando de forma inter-modal, em of the organs; and the vestibular mechanism of the ear.”

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informações no ambiente ganha dimensão co e dos sentimentos. Entre tais pro-


com movimentos. Então encontra-se ligado cessos Damásio traz a hipótese de marca-
diretamente as questões de movimentos, dores somáticos, responsáveis invisíveis
espaço-tempo, dentro-fora e ambiente. por escolhas do organismo tomadas há al-
A ação no ambiente, os modos como o gum tempo. Eles operam como dispositi-
organismo se movimenta nele, incremen- vos favorecendo preferências, otimizando
ta os processos neurológicos pela forma e automatizando respostas ao ambiente.
como a conexão sensório-motora se esta- Além disso, “ todo organismo nasce com
belece entre controle motor (ação) e gamas dispositivos que solucionam automatica-
sensoriais subjacentes aos sentidos físicos mente, sem qualquer raciocínio prévio,
(percepção). É a ação por exploração e por os problemas básicos da vida” (Damásio,
corporalização que compõe o tecido da ação ex- 2004, p.37). Paralelamente a estas predis-
perimental em BMC. “Os padrões neuroló- posições inatas, o organismo caminha para
gicos basais (BNPs) são dezesseis padrões um estado de vida bem regulado, graças
primários de movimento desenvolvidos a maquinaria de regulação intensa de seu
por Bonnie Bainbrige Cohen, baseados no funcionamento, favorecendo sua perma-
desenvolvimento de movimento filogené- nência, estes ganham estabilidade com o
tico (animal) e ontogenético (humano)” 4 tempo. Na descrição de Damásio, prazer e
(Cohen, 1993, p. 5.). dor, estão na base da constituição desses
Tem-se como característica um atraves- caminhos auto-organizativos e competição
samento do sentido de exploração dentro- e cooperação estão nos níveis mais altos de
fora, ao mesmo tempo alicerçado por uma organização de respostas (2003, p.38).
fundamentação fisiológica e psicofísica Dennet (1997), filósofo cognitivo-
aprofundada dos movimentos internos nos evolutivo, nos conta que pode surgir um
sistemas corporais, oferecendo e recebendo dispositivo com uma função, capaz de su-
apoio à investigações cognitivas, evoluti- prir a falta de algo para começar a ter a sua
vas e comunicativas; numa escala aberta, função e, com isso, mais adiante, dar lugar
enquanto um corpo experimenta seguindo a alguma outra coisa. Pode começar como
um estímulo que foi dado, os acontecimen- um processo de regulação e passar a ter
tos em curso promovem descobertas, esti- um outro propósito depois. Procedimentos
mulam novos repertórios, ampliam a per- com BMC em sala de aula passam do aque-
cepção e instigam a se lançar no espaço de cimento do corpo com pequenas iniciações
modos não previstos nem predetermina- que se tornam mais a frente os princípios
dos, desse modo, movimentos irrompem para exploração, que assumem um papel
criação. com essa função e desempenham outro pa-
Dentro de uma compreensão biológica pel na evolução de movimentos dentro de
de organismo vivo, em que não se estabe- uma improvisação.
lece uma diferenciação entre organismo e E mais, todo organismo está em cons-
corpo, no fluxo natureza-cultura, as emo- tante mudança no ambiente, criando e des-
ções aparecem como o conjunto de respos- truindo suas próprias formas de subsistir
tas surgidas em momentos de sobrevivên- (Lewontin, 1995, p.138). “Por exemplo, a
cia do mesmo no ambiente, seguindo-se seleção de estruturas cerebrais maiores
assim a organização de predisposições re- para percepção pode vir acompanhada
sidentes chamadas então de sentimentos, pelo crescimento de regiões cerebrais vizi-
chamados de “fundo” pelo neurologista, nhas. Em algum ponto posterior da evolu-
Antonio Damásio (2004). Estes, ganham ção, essas regiões podem se tornar vanta-
estabilidade com o tempo, participando de gens seletivas para alguma outra função,
uma rede na constituição do self biológi-
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“The Basic Neurological Patterns are sixteen primary movement patterns developed
by Bonnie Bainbridge Cohen, based upon phylogenetic (animal) and ontogenetic (hu-
man) movement development”.

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como a memória”.5 (Edelman, 1999, p.80- presença de um anuncia a possibilidade da


81). Particularmente, o assunto da memó- presença dos outros.” Uma vez que, evo-
ria é de grande importância para a dança lutivamente, tudo é construído, ao mesmo
concebida no campo improvisacional, bem tempo em que o corpo apronta um progra-
como o assunto do espaço, requer atenção ma motor residente, ao mesmo tempo que
especial em outro momento. conta com marcadores somáticos (Damá-
Para os filósofos cognitivos Lakoff sio, 1996, 1999), estão em jogo habituação
& Johnson, o conhecimento é enraizado no (Thelen & Schoner, 2001), fenômeno que
corpo. Sua hipótese de inconsciente cogni- lança o organismo frente ao novo, então o
tivo ajuda a entender a cognição corpora- fluxo de movimentos pode desestabilizar o
lizada. Dentro do escopo de experiências que está disponibilizado em rede por um
de BMC, quando o organismo performa conjunto de operações, que asseguraram
movimentos em criação em dança, há al- estabilidade numa direção (automatismos,
gum aspecto de memória subjacente a este compensações, condicionamentos, aco-
inconsciente cognitivo operando especifi- modações, padrões, hábitos-crenças) e em
camente? A pergunta traria a hipótese de experiência, e em regime aberto – na arte,
que a percepção modal em curso se dando mais especificamente em dança contempo-
em uma escala, e a construção de memória rânea – por meio de investigação e experi-
corporal em ação e andamento se dando mentação - surgem novas disposições com
em outra escala, camadas mais profundas novas movimentações, podem instaurar
poderiam reverberar uma na outra. Com novamente, novos conjuntos repertoriais
essa pergunta e hipótese surge uma segun- assegurando ainda mais o dinamismo do
da hipótese: os princípios evolutivos de trânsito de informações dentro-fora. No
movimentos, agindo na organização neu- leito, corpomidia.
ronal, empoderam auto-organização com Outra consideração evidente, é que
implementação de memória? Estaria aí a este limiar tange duplamente o binômio
chave para a compreensão de corporaliza- subjetividade-objetividade e a singulari-
ção ? Tais questões são importantes para dade pelo parâmetro da mudança, levado
entendermos o conceito de repadronização em conta o processo em tempo real, que
em BMC. duplamente desapronta e arranca acordos
O corpo passou a ser incluído na or- e resoluções velhas e inventa novas solu-
ganização das primeiras inferências (Lako- ções. BMC contribui como plataforma para
ff & Johnson, 1999) através de suas relações o entendimento desses processos de apo-
e direções espaciais. Então opera no cor- deramento apropriação e reformulação,
po a construção metafórica da realidade considerando o como internaliza e o como
que parte de metáforas de domínio-fonte, auto-organiza, o como subverte e o como
como as confabuladas pelo movimento e emancipa.
contato, sistema cinestésico e propriocep- Sugiro considerar como composição
tor, para metáforas de domínio-alvo, em semi-estruturada de uma aula de dança:
ordens mais complexas de consciência, primeiro foco com o corpo e o grupo, com
segundo os autores. Pensando na propos- enfoque nos princípios evolutivos, na abor-
ta, e lembrando Helena Katz (2001), “cada dagem no campo exploratório dos mesmos
tipo de aprendizado traz ao corpo uma seguindo para um campo improvisacio-
rede particular de conexões. Quan- nal. Processos iniciados em cada uma das
do se aprende um movimento, aprende-se quatro divisões da aula irrigam e atuam
junto o que vem antes e o que vem depois como conversores de escalas de espaço-
dele. O corpo se habitua a conectá-los. A tempo variadas. Entendido o corpo como
um processo, quando uma proposta é lan-
5
“for example, the selection of enlarged brain structures for perception could be ac- çada, ela é investigativa nas duas direções,
companied by enlargements of neighboring brain regions. At some later evolutionary
epoch, these regions may become selectively advantageous for some other function,
age para dentro do organismo na desco-
such as memory” (Edelman, 1999, p.80, 81). berta dos princípios, sentidos, reflexos e
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padrões, lança-se mais e mais no entorno


a partir destes, levado por estímulos e tra-
zendo motivações por instintos, trazendo
pulsões, desejo e afeto, interagindo com
os demais a partir deles. Além do aspecto
duplamente funcional e criativo, BMC pro-
move liberação indicando reorganização
interna, segundo o método denominado de
repadronização, numa guinada terapêutica.
Essa instância não menos importante, recu-
peradora e curativa, não poderia deixar de
ser mencionada.
A educação somática BMC ganha
estabilidade como uma vertente na dan-
ça contemporânea por possibilitar funda-
mentação integrada de processos do corpo
que se constituem duplamente como fun-
cionais ao mesmo tempo que constituem
soluções adaptativas em avanço para sua
sobrevivência e de seu desenvolvimento,
ao alcance das demandas de criação em
dança, especificamente, contemporânea.
Valendo-me destas aproximações, com es-
tudos sobre percepção e cognição propo-
nho Corpulações como um jeito de explicar,
em parte, como a perspectiva de corporali-
zação BMC aleita ressignificação improvi-
sacional em procedimentos artísticos para
performance.

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