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2º
Salma Ferraz
Período
Florianópolis - 2008
Governo Federal
Presidente da República: Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro de Educação: Fernando Haddad
Secretário de Ensino a Distância: Carlos Eduardo Bielschowky
Coordenador Nacional da Universidade Aberta do Brasil: Celso Costa
Comissão Editorial
Tânia Regina Oliveira Ramos
Izete Lehmkuhl Coelho
Mary Elizabeth Cerutti Rizzati
Equipe de Desenvolvimento de Materiais
Laboratório de Novas Tecnologias - LANTEC/CED
Coordenação Geral: Andrea Lapa
Coordenação Pedagógica: Roseli Zen Cerny
Design Instrucional
Responsável: Isabella Benfica Barbosa
Designer Instrucional: Verônica Ribas Cúrcio
Ficha Catalográfica
F381l Ferraz, Salma
Literatura Portuguesa I / Salma Ferraz. – Florianópolis : LLV/CCE/
UFSC, 2008.
181p. : 28cm
ISBN 978-85-61482-09-1
CDU: 869.0
Unidade A............................................................................................. 9
1 Trovadorismo. ...............................................................................................11
1.1 Trovadorismo.......................................................................................................11
1.2 Cantigas de Amigo............................................................................................12
1.3 Cantigas de Amor..............................................................................................16
1.4 Cantigas de Escárnio.........................................................................................19
1.5 Cantigas de Maldizer........................................................................................21
1.6 Amor cortesão....................................................................................................23
Unidade B............................................................................................27
2 Amadis de Gaula – uma novela de cavaleria
portuguesa com certeza?...........................................................................29
2.1 Idade das Trevas?...............................................................................................29
2.2 As Novelas de Cavalaria...................................................................................36
2.3 Amadis de Gaula................................................................................................40
2.4 Dom Quixote de la Mancha...........................................................................50
4 A Lírica de Camões.......................................................................................69
4.1 O Classicismo.......................................................................................................70
4.2 Biografia de Camões.........................................................................................75
4.3 Os Sonetos...........................................................................................................77
4.4 Camões: um poeta concretista?...................................................................89
5 Os Lusíadas. ....................................................................................................95
5.1 Contexto Histórico............................................................................................95
5.2 Epopéia..................................................................................................................95
5.3 Os Lusíadas: estrutura......................................................................................96
5.4 Temas.....................................................................................................................99
5.5 Os Narradores e os seus Discursos............................................................102
5.6 Os Lusíadas: o poema épico.........................................................................103
A
disciplina de Literatura Portuguesa I tem como objetivos princi-
pais identificar as principais manifestações literárias do período de
formação da literatura portuguesa, tanto na lírica como na prosa, e
conhecer os textos mais representativos do período medieval, do renascimen-
to e do barroco português.
Após essas unidades, estudaremos alguns Sermões do Padre Vieira e, para fi-
nalizarmos esta disciplina, analisaremos a poesia do poeta português Bocage.
Optamos por um enfoque historiográfico para que os alunos possam ter uma
melhor compreensão do período formativo da Literatura Portuguesa. Cremos
ser interessante que o aluno conheça esse momento importante da literatura e
cultura portuguesas para entender a importância destas na cultura brasileira.
Temos certeza que você fará da melhor forma possível! Mãos à obra...
Salma Ferraz
Unidade A
Séc. XII
Trovadorismo Capítulo 01
1 Trovadorismo
No mundo nom me sei parelha,
mentre me for’ como me vai,
ca ja moiro por vos–e ai
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia que me levantei,
que vos enton nom vi fea!
Paio Soares de Taveirós
1.1 Trovadorismo
A Língua Portuguesa é uma língua muito rica e é falada em países
como Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné–Bissau, Moçambique,
São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Na Idade Média ela contabilizava
apenas 15.000 palavras. No século XVI, período marcado pelas grandes
navegações, esse número dobrou. No fim do século XIX, os dicionários
já registravam 90.000 vocábulos. Hoje, a Academia Brasileira de Letras
calcula em 400.000 o total de palavras da Língua Portuguesa. A origem
dos vocábulos incorporados ao português ao longo dos séculos variou
conforme o tipo de contato mantido com outros povos. Entre os séculos
VIII e XV, o idioma absorveu muitos termos de origem árabe por causa da
ocupação moura na Península Ibérica. Durante o Renascimento, a arte e
a arquitetura italiana universalizaram várias palavras relacionadas a elas.
No século XX, a França ditava a moda no Ocidente, e várias palavras de
origem francesa foram incorporadas ao português. Nos interessa neste
Capítulo a formação da Língua Portuguesa durante a Idade Média.
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Unidade A – Séc. XII
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Trovadorismo Capítulo 01
Na lírica medieval galego–portuguesa uma Cantiga de Amigo é uma
composição breve e singela cantada por uma melhor enamorada. De-
ve–se o seu nome ao fato de que na maior parte delas aparece a termo
amigo no primeiro verso da cantiga.
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Unidade A – Séc. XII
diálogo com suas amigas, irmãs ou inclusive com a mãe, as quais rara-
mente tomam a palavra. Os estados de ânimo são diversos e incluem a
alegria pela chegada do amigo, a tristeza pela sua ausência ou a ansie-
dade pelo seu regresso, o desejo de vingança, ciúmes etc. Os ambientes
nos quais decorrem são o campo, o mar, o rio, a fonte ou a casa.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cantiga_de_Amigo
consultado em 10/06/2008
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Trovadorismo Capítulo 01
arcaico, também denominado de galego–português. A estrutura para-
lelística pode ser observada nas frases em negrito e itálico retomadas ao
longo da cantiga, sempre no verso seguinte de cada estrofe, com peque-
na alteração no final: verde pino/verde ramo–meu amigo/meu amado.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cantiga_de_Amigo
consultado em 10/06/2008
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Unidade A – Séc. XII
Cantiga da Ribeirinha
Paio Soares de Taveirós
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Trovadorismo Capítulo 01
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós houve nem ei
Corre d’ûa Correa.
Cantiga da Ribeirinha
Stélio Furlan
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Unidade A – Séc. XII
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Trovadorismo Capítulo 01
ela é superior a ele, afirmando que nada quer, a não ser viver o seu pró-
prio sentimento, sem interesse. No entanto, fica sentido por que ela não
corresponde aos seus amores.
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Unidade A – Séc. XII
Cantiga de escárnio
João Garcia de Ghilhade
Transcriação
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Trovadorismo Capítulo 01
Dona feia, que Deus me perdoe,
pois tendes tão grande desejo
de que eu vos louve, por este motivo
quero vos louvar já de qualquer modo;
e vede qual será a louvação:
dona feia, velha e louca!
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Unidade A – Séc. XII
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Trovadorismo Capítulo 01
1.6 Amor cortesão
O termo amor cortesão surgiu em 1883 e foi criado por Gaston Paris
Os dois casos aqui citados
em seus escritos sobre Lancelot e Guinevere. O amor cortesão significava podem ser vistos em diver-
uma espécie de fino amor, um amor perfeito, depurado como ouro mais sos vídeos, dos quais cita-
mos Excalibur; As Brumas
fino, digno de nobres e finos amantes. Geralmente tratava–se de um amor de Avalon; Lancelot: o pri-
platônico, impossível de ser realizado, e também adúltero, já que a dama na meiro cavaleiro; e Tristão e
Isolda. Se você preferir, e é
maior parte das vezes era casada. Citamos aqui dois exemplos: no primeiro, o que aconselhamos, pode
Tristão apaixona–se por Isolda, que é casada com o Rei Marcos; no segun- ler diretamente as obras.
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Unidade A – Séc. XII
Por tudo que você já leu, deve ter percebido que o amor cortesão
é uma arte de amar inacessível aos pobres e comum aos mortais, já que
transforma algo simples e natural em algo extremamente disciplinado,
uma paixão que deve ser controlada, transforma o amor em uma religião
e a mulher em um ser angelical e inacessível. O enamorado deve obe-
decer regras de etiquetas claras, uma delas (e a mais importante) é que
ele deve cultuar a mulher amada secretamente — jamais revelar o nome
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Trovadorismo Capítulo 01
da dama. Esse amor, logicamente, é proibido aos clérigos e aos plebeus.
O amor cortesão apresenta um paradoxo: mantém certa aproximação
com a moral cristã, no sentido de que transforma a mulher amada em
um ser angelical, inacessível, e o amor é transformado em uma religião.
No entanto, trata–se de um amor adúltero, o que de certa forma anula a
moral cristã nesse aspecto. A chamada erótica cortesã é vista como uma
técnica sutil de não amar, uma maneira de não realizar o amor, uma vez
que o homem tem medo da mulher diante do qual ele teme sua própria
sexualidade. O amor cortês revela uma mulher completamente superior
e inacessível e mostra as relações entre o feminino e o masculino, mas o
homem é na verdade o dono desse jogo. O ideal é uma coisa, o real é ou-
tra. O público a quem se dirigiam poetas e romancistas era constituído
de machos celibatários dos quais a cavalaria estava cheia. Alimentando–
lhes o ardor, a literatura cortesã torna–se instrumento pedagógico.
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Unidade A – Séc. XII
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Unidade B
Séc. XVI
Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
2 Amadis de Gaula – uma
novela de cavaleria
portuguesa com certeza?
“Com os cotovelos fincados no macio chão da ribeira, o rosto encostado
nas mãos, gozando o fresco repouso após tão ásperos dias, ia Amadis olhando
a bem–amada, serena dormindo sob a guarda adoradora dos seus olhos.
Oriana, acordando, sorri.
E, então, mais por ela o querer que por ele o ousar, a donzela se fez dona
sobre aquela cama verde.
Bem abraçados se tinham, e de amor o amor crescia–puro amor, amor sem fim”.
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Unidade B – Séc. XVI
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Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
Como já mencionamos, quem controlava a educação era o clero
católico e, no séc. IX, fundaram–se escolas junto às catedrais. Logo em
seguida, vieram as universidades, sendo que algumas delas são conhe-
cidas até hoje, como a Universidade de Oxford e a de Cambridge. No
entanto, em todas as faculdades da época a influência da Igreja era forte.
As aulas eram ministradas em latim, e algumas das matérias de estudo
eram: teologia, filosofia, ciências, letras, direito e medicina.
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Unidade B – Séc. XVI
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Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
São Tomás de Aquino (1225–1274) deu aulas na universidade de
Paris e foi o mais influente filósofo escolástico inspirado nas idéias cris-
tãs e no pensamento de Aristóteles, e elaborou a Suma Teológica, obra
em que discorreu sobre os mais diversos assuntos, como religião, eco-
nomia e política. O pensamento de São Tomás constituiu um poderoso
instrumento de ação do clero durante a Baixa Idade Média.
Se você quer saber mais sobre Idade Média poderá consultar obras
do historiador francês Jacques le Goff, especialista em Idade Média,
das quais indicamos: A Civilização do Ocidente Medieval (1964);
Para um Novo Conceito da Idade Média (1977); O Imaginário Me-
dieval (1985); e Em Busca da Idade Média (2003). Dos pesquisadores
brasileiros indicamos a obra O Pensamento Medieval, de Inês C. Iná-
cio e Tânia Regina de Luca, da qual citamos:
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Unidade B – Séc. XVI
Dentro desta visão que opunha o bem contra o mal própria do Cris-
tianismo, tudo o que era belo e viril constituía uma ameaça à alma. As
modas da corte, as reuniões nos salões, as disputas entre os cavaleiros
nas justas e nos torneios, o predomínio da força corporal nessas batalhas
com armas verdadeiras (justas) ou simuladas (torneiros), tudo isso aca-
bava por ser mostrar extremamente ameaçador para a salvação da alma.
http://pt.wikipedia.org/ As Cruzadas
wiki/Primeira_Cru
zada, consultado em
30/04/2008 Chama–se Cruzada a qualquer um dos movimentos militares, de caráter
parcialmente cristão, que partiram da Europa Ocidental e cujo objetivo
era conseguir que a Terra Santa (nome pelo qual os cristãos denomi-
navam a Palestina) e a cidade de Jerusalém ficassem sob a soberania
dos cristãos. Esses movimentos estenderam–se entre os séculos XI e XIII,
época em que a Palestina estava sob controle dos turcos muçulmanos.
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Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
Os ricos e poderosos cavaleiros Hospitalários, também conhecidos como
Cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém, e os Cavaleiros Templá-
rios, também conhecidos como Pobres Cavaleiros de Cristo ou Cavaleiros
do Templo de Salomão, foram criados durante as Cruzadas. Esse termo é
também usado, por extensão, para descrever, de forma geral, qualquer
guerra religiosa ou mesmo um movimento político ou moral.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruzada,
acesso em 15/05/2008
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Unidade B – Séc. XVI
http://pt.wikipedia.org/wiki/Novela_de_cavalaria,
acesso em 15/04/2008
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Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
um best–seller que foi um dos maiores sucessos de venda, com aproxi-
madamente 60 milhões de exemplares — O Código da Vinci (BROWN,
2004). Nesse livro, o autor faz uma releitura da lenda do Graal: segundo
o enredo, o cálice sagrado não seria um simples cálice com que Jesus be-
beu em sua última ceia, mas sim Madalena, ou melhor, o útero sagrado
de Madalena, que teria gerado um filho de Jesus.
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Unidade B – Séc. XVI
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Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
só se levantavam com a força da mente de um iniciado. Camelot gover-
nado por homens guerreiros e Avalon governada por mulheres iniciadas
nos mistérios da mente, da cura, das ervas e que previam o futuro.
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Unidade B – Séc. XVI
http://pt.wikipedia.org/wiki/Amadis_de_Gaula,
consultado em 10/06
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Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
A principal diferença entre a narrativa de Amadis de Gaula e as
narrativas em torno do Rei Arthur é que no caso de Amadis não se trata
de um amor adúltero, diferente da história de Arthur, traído por sua
mulher, Guinevere, com seu primeiro e melhor cavaleiro, Lancelot. Na
novela de cavalaria Tristão e Isolda, o Rei Mark, ou Marcos de Cornu-
al, foi traído por sua esposa Isolda com seu sobrinho Tristão. No caso
da novela portuguesa, ou melhor, esclarecendo, da novela peninsular,
diferentemente dos amores adúlteros entre Guinevere e Lancelot e Isol-
da e Tristão, Amadis era solteiro e Oriana também. Como os dois são
livres, o amor sai do idealismo platônico para o plano físico, portanto
Amadis é psicologicamente mais denso que Arthur e Mark. Dessa ma-
neira, Amadis já prenuncia o homem renascentista e suas inquietações.
Amadis apresenta suas contradições, é valente, viril, herói, e, no entanto,
adoece de amor por Oriana.
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Unidade B – Séc. XVI
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Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
original em português teria sido redigido na segunda metade do século
XIII. O problema surgiu pois o suposto original em Português foi per-
dido, o texto que se conhece data de 1508 e está escrito em castelhano
por Garcia Rodrigues Montalvo, tendo sido publicado em Saragoça.
Temos que levar em conta que até o século XII as relações entre
literatura castelhana e portuguesa eram muito íntimas, que alguns dos
mais notáveis escritores portugueses como Gil Vicente escreveram nas
duas línguas. Eis então o porquê da querela em torno da autoria de
Amadis de Gaula.
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Unidade B – Séc. XVI
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Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
na guerra secretamente. No encontro final, ajoelha–se perante o rei e a
rainha, prova sua nobreza e sua lealdade.
Pode por isso dizer–se que naquela verde erva, e em cima da-
quele manto, mais por graça e cometimento de Oriana que por
desenvoltura e ousadia de Amadis, foi feita dona a mais formosa
donzela do mundo. (LAPA, 1941, p. 52)
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Unidade B – Séc. XVI
Amadis tem sua vida marcada por profecias. Urganda profetiza so-
bre o herói um certo messianismo que recorda o messianismo bíblico.
Podemos constatar isso em uma das falas de Urganda:
“[…] ele fará estremecer os fortes; ele começará e acabará com hon-
ra sua, todas as coisas em que os outros fraquejam… ele fará com
que os soberbos sejam mansos… ele será o cavaleiro que no mundo
mais lealmente cumprirá o amor […]” (LAPA, 1941, p. 20)
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Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
Tanto para Oriana quanto para Amadis, a vida só tem sentido se
for vivida por amor. Oriana tem vontade de se matar e Amadis, grande
herói invencível nas batalhas, acostumado à guerra e a enfrentar mons-
tros, mostra–se enfraquecido e em depressão quando ama, quando é
desprezado pela sua amada: “Dizendo Amadis, estas palavras, as lágri-
mas caíam–lhe em fio pelas faces, sem que ninguém lhe pudesse dar
remédio.” (LAPA, 1941, p. 37)
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Unidade B – Séc. XVI
A novela, por sua vez, apresenta um espaço maior, pode ter mais per-
sonagens, mais detalhes. O romance tem um fôlego maior que a no-
vela, tem mais de um núcleo, mais personagens, mais detalhes e o en-
redo é mais complicado. Quando autores do Romantismo e Realismo
brasileiros apresentavam seus romances, eles o faziam em jornais que
publicavam semanalmente os romances. Assim, esses textos foram de-
signados de novelas, porque eram um novelo que se desenrolava aos
poucos, em capítulos. O gênero em prosa Novela está desaparecendo.
Aquilo que você assiste à noite, a chamada novela das oito, que não é
às oito, mas às nove da noite, está mal designado. A novela Duas Caras,
na realidade, trata–se de um romance, com vários personagens, vários
núcleos dramáticos. Só é designado de novela porque é um romance
que se desenrola como um novelo: um capítulo por dia.
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Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
O narrador é do tipo demiurgo, que usa o resumo e a descrição. Ele
é onisciente intruso, sabe de tudo e de todos, conhece o pensamento de
todos os personagens e intervém constantemente: “Deixemo–los folgar
e descansar e contemos o que aconteceu a D. Galaor em busca de el–rei!”
(LAPA, 1941, p. 58).
Os nomes são metafóricos. Cada nome tem um significado: Briolan-
ja, a menina dos leões; Grovenesa, uma estrela luzente. Temos diversas
personagens centrais: Oriana, Amadis, Galaaz, Briolanja, Rei Lisuarte;
e secundárias: Gandalim, Languines, Angriote, Arcalaus, Brandoíbas,
Grindalaia, Bruneio, Estravaus, Gandandel, Galvães, Agrajes, Madassima,
Leonereta, Salustanquídio, Arbam, Grumedam, Cildadam, Gasquilam.
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Unidade B – Séc. XVI
leia a citação e observe que é Oriana quem parte para a conquista, é ela
quem seduz, o possuído parece ser o cavaleiro e não a dama. A heroína
também é cruel quando necessário: “Nenhuma lágrima pode sair dos
seus olhos; as quais recolhidas dentro de si, a fizeram muito mais cruel e
com mais duradouro rigor…” (LAPA, 1941, p. 57).
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Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
Depois da Demanda do Graal, de Tristão e Isolda, do Rei Arthur e
os Cavaleiros da Távola Redonda, do Amadis de Gaula e de dezenas de
outras novelas de cavalaria, o gênero se esgota, e nesse momento surge
o gênio espanhol chamado Miguel de Cervantes (1547–1616), com sua
magnífica obra intitulada D. Quixote de la Mancha (El ingenioso hidal-
go Don Quixote de La Mancha). Poderíamos escrever mais de mil pá-
ginas só para resumir essa obra e ainda seria pouco. Ela foi considerada
por críticos de todo o mundo como a maior obra do milênio passado.
D. Quixote de la Mancha revela o esgotamento do modelo das novelas
de cavalaria. Trata–se de uma novela de cavalaria que faz uma paródia,
um deboche crítico sobre a própria novela de cavalaria. D. Quixote é o
chamado Cavaleiro da Triste Figura, que depois de tanto ler novelas de
cavalaria perde o juízo e sai pelo mundo afora, enfrentando moinhos,
exércitos, manadas inexistentes, tudo por uma dama feia–Dulcinéia de
Toboso, juntamente com seu escudeiro Sancho Pança. Essa obra cons-
titui–se em um símbolo universal nascido do próprio atraso feudal da
Espanha. Quando todas as outras novelas de cavalaria forem esqueci-
das, certamente ainda restará D.Quixote de la Mancha, porque além de
ser uma novela de cavalaria que critica o próprio gênero que está mor-
rendo, fala sobre os limites da loucura e da razão. Afinal, quem é louco?
D. Quixote? Sancho Pança? O leitor? Eu? Você?
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Unidade B – Séc. XVI
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Amadis de Gaula – uma novela de cavalaria portuguesa com certeza? Capítulo 02
Faça aqui o seu resumo!
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O teatro de Gil Vicente Capítulo 03
3 O Teatro de Gil Vicente
Ninguém: E agora que buscas lá?
Todo o Mundo: Busco honra muito grande.
Ninguém: E eu virtude, que Deus mande
que tope com ela já.
Belzebu: Outra adição nos acude:
escreve logo aí, a fundo,
que busca honra todo o mundo
e ninguém busca virtude.
(Todo Mundo e Ninguém, em Auto da Lusitânia,
Gil Vicente–1532)
Gil Vicente
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Unidade B – Séc. XVI
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O teatro de Gil Vicente Capítulo 03
vocação poética fora do comum, uma forte religiosidade (já que Gil Vi-
cente era um cristão) e o tratamento de temas universais como a morte, a
vida, a salvação, a luxúria, os pecados, o suborno, a libertinagem.
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O teatro de Gil Vicente Capítulo 03
Portugal conheceu essas formas de teatro europeu medieval através
de Castela, que era o centro de onde se irradiava o teocentrismo da Igre-
ja Católica para toda a Península Ibérica. Essa tradição, vinda de fora,
constituiu a base do primeiro autor português: Gil Vicente. Ele produziu
Autos pastoris (Auto pastoril castelhano), Autos de Moralidade (Auto da
barca do Inferno, Auto da barca do Purgatório, Auto da barca da Glória,
Auto da Alma) e Farsas, sendo a mais conhecida delas A Farsa de Inês Pe-
reira. São vários os casos em que Gil Vicente misturou em uma só com-
posição a alegoria, a moralidade e a farsa, como no Auto da Lusitânia.
Peças de enredo: Apresen-
O teatro de Gil Vicente identifica–se com o Humanismo uma vez tam início, meio e fim,
com clímax e desfecho
que, mesmo tendo como base o teatro litúrgico, seus textos apresentam (cômico quando há farsa
influência da Antiguidade Clássica, trazendo para suas peças persona- e lírico no caso de auto
cavaleiresco).
gens da mitologia grego–romana como Mercúrio, Apolo, Vênus etc.
Mesmo baseado no teatro litúrgico medieval, Gil Vicente combateu o Peças de ação fragmen-
tada: Não observamos
teocentrismo dogmático criticando em suas peças o clero corrupto e acentuadamente o enredo.
pregando a volta a uma vida simples e sem luxo. Em suas peças, comba- Apresentam–se quadros
fragmentados de ação e
teu a intolerância religiosa, defendendo os judeus. não importa muito a or-
dem da entrada em cena:
Com relação à estrutura podemos dizer que suas peças subdivi- uma cena não prepara
dem–se em peças de enredo e peças de ação fragmentada. Essa divi- a seguinte.
são, porém, é problemática. O Auto da Barca do Inferno é classificado
por muitos críticos como uma peça de ação fragmentada e descontínua.
Discordamos dessa classificação e explicamos o porquê: em nossa con-
cepção, trata–se de uma peça de enredo, pois tem início (entrada do
Diabo e do Anjo), enredo (o julgamento das almas que devem embarcar
em uma das barcas) e fim (só os cavaleiros cruzados entram na barca
que conduz ao céu).
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Unidade B – Séc. XVI
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O teatro de Gil Vicente Capítulo 03
A farsa é a ilustração do dito popular “mais quero asno que me leve
que cavalo que me derrube”. Gil Vicente põe em cena personagens que
encarnavam os elementos ativos dessa comparação:
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Unidade B – Séc. XVI
Outro ponto que pode ser destacado na farsa é a tradição que nela
se insere, a educação doméstica da Idade Média: as mães muito direcio-
navam suas filhas em relação às possíveis escolhas, podendo a farsa ser
comparada com as primeiras cantigas trovadorescas galaico–portugue-
sas: “Muitas vezes, mal pecado! É melhor boa simpleza” (VICENTE, 1991,
p. 41). Inês, contudo, não aceita conselhos de ninguém, vivendo entre
dois pólos: a ilusão e a desilusão. Segundo Segismundo Spina em Obras
Primas do Teatro Vicentino, Gil Vicente “não perde a oportunidade de
denunciar […] uma classe que devia na altura estar em decadência: a do
escudeiro pobre.” (SPINA, 1970, p. 171). Sua crítica também é aos cléri-
gos amancebados ou que não respeitam até mesmo senhoras. No auto,
essa afirmação é exemplificada pela fala da personagem Leonor:
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O teatro de Gil Vicente Capítulo 03
mais por imposição do tema do que por vontade do autor, é esta: uma
injustiça (Escudeiro → Inês) provoca injustiças maiores (Inês → Pêro
Marques)” (AMORA, 1984, p. 26).
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Unidade B – Séc. XVI
Resumo da Peça
ǿǿ Lianor Vaz propõe Pêro Marques para marido de Inês, mas esta
repele a proposta;
ǿǿ Troça de Inês;
ǿǿ Troça do Escudeiro;
ǿǿ Monólogo do Escudeiro;
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O teatro de Gil Vicente Capítulo 03
ǿǿ Casamento de Inês com o Escudeiro;
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Unidade B – Séc. XVI
66
O teatro de Gil Vicente Capítulo 03
mo tempo em que se trata de uma peça com propósito doutrinário, ao
mostrar que só os bons (no caso, os cavaleiros medievais, os cruzados)
irão para o céu, enquanto os pecadores (o padre adúltero, a alcoviteira,
o agiota etc.) vão para o inferno, a peça revela um perfeito painel dos
costumes morais e sociais daquela época.
O Auto da Barca do Inferno é uma obra alegórica. A maioria dos Você não deve confiar
muito no retrato que a
personagens entra na barca acompanhado de algum objeto que mate- peça faz dos cruzados
rializa suas culpas: a alcoviteira está acompanhada de moças as quais ela como santos e bons
homens. Se tiver tempo,
desencaminhou na vida; o agiota, com um saco de dinheiro que repre- leia alguns textos sobre os
senta aqueles que ele tanto explorou; o padre, com sua amante etc. Esses cruzados e verifique que
eles não eram esses gentis
apetrechos significam o apego que eles tinham à vida terrena e aponta e santos homens…
para seus pecados. O objetivo do autor não é só divertir, mas mostrar os
vícios de uma sociedade corrupta e materialista.
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Unidade B – Séc. XVI
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A Lírica de Camões Capítulo 04
4 A Lírica de Camões
Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.
Luís de Camões
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Unidade B – Séc. XVI
4.1 O Classicismo
Classicismo é o nome da escola artística do Renascimento. Suas
idéias e realizações são frutos da assimilação da cultura greco–romana
decorrentes dos estudos empreendidos pelos Humanistas. O Renasci-
mento foi preparado pelos Humanistas no final da Idade Média e al-
guns historiadores apontam o Humanismo como uma primeira fase do
Renascimento. Iniciado na Itália, no final do século XV, o Classicismo
difundiu–se pela Europa, ao longo do século XVI. A passagem da Idade
Média para a chamada Idade Moderna foi trepidante. Após sete séculos
de predomínio, o feudalismo entra em declínio. O poder político des-
centralizado do feudalismo dá lugar a um poder concentrado nas mãos
de um rei. Monarcas como D. João II (Portugal), Henrique VIII (Ingla-
terra), Luiz XIV (França) e D. Filipe II (Espanha) instituíram aquilo que
se denomina de monarquia absoluta, ou absolutismo, teorizado por
Maquiavel em sua obra O Príncipe. Essa forma de poder predominará
em toda a Europa até a Revolução Francesa (1789).
70
A Lírica de Camões Capítulo 04
A essas transformações históricas devem ser tomadas aquelas que
abalaram a Igreja de Roma. A decadência do feudalismo foi acompa-
nhada pelo declínio do catolicismo. Em 1517, Martim Lutero entrou
em atrito com a Igreja e isso desencadeou a Reforma Protestante. Lute-
ro fundou sua própria Igreja, que não reconhecia a autoridade do papa,
não cultuava ídolos e imagens, nem aceitava a venda de indulgências.
Seu exemplo foi seguido por muitos outros, entre eles Calvino (Suíça)
e Henrique VIII (Inglaterra), e com isso o poder da Igreja Católica foi
sensivelmente abalado. Para aumentar a crise na Igreja, o renascimento
da cultura clássica e o surgimento da ciência moderna foram golpes fa-
tais para a filosofia escolástica e o teocentrismo.
71
Unidade B – Séc. XVI
72
A Lírica de Camões Capítulo 04
etc. Se a palavra Classicismo foi criada a partir do século XVIII, o termo
classicus foi empregado pela primeira vez por Aulo Gélio (130–175). O
gramático latino emprega o termo scriptor classicus como aquele que
escreve de maneira exemplar, clara, excelente, e que deve ser estudado
e imitado nas classes de aula. Os renascentistas assimilaram também a
idéia grega de que a arte é expressão de Beleza.
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Unidade B – Séc. XVI
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A Lírica de Camões Capítulo 04
Além das questões econômicas (a busca de ouro, riquezas e espe-
ciarias), o que impelia o povo português para o imperialismo colonia-
lista era o objetivo de expandir o cristianismo, lutar contra os mouros e
preservar a fé cristã.
75
Unidade B – Séc. XVI
Em 1556 parte para Macau, onde continua seus escritos. Vive numa céle-
bre gruta com o seu nome e por aí escreverá boa parte de Os Lusíadas.
Naufraga na foz do rio Mekong (acontecimento abordado na estrofe
76
A Lírica de Camões Capítulo 04
128 do canto X), onde conserva de forma heróica o manuscrito d’Os
Lusíadas então já adiantados. No naufrágio morre a sua companheira
chinesa Dinamene, celebrada em série de sonetos.
4.3 Os Sonetos
Muito antes de compor seus sonetos, Camões também chegou a
compor na chamada Medida Velha. Essas composições caracteriza-
vam–se pelo uso de cinco sílabas (redondilha menor) e de sete sílabas
(redondilha maior). Você poderá observar a seguir que Camões foi in-
fluenciado pela tradição popular do Trovadorismo, o qual você já co-
nhece. Ele apreciava a musicalidade e a temática das Cantigas. Observe
a influência da lírica trovadoresca na composição chamada vilancete:
MOTE
Descalça vai pera a fonte
Lianor, pela verdura;
vai fermosa e não segura.
VOLTE
Leva na cabeça o pote,
o testo nas mãos de prata,
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Unidade B – Séc. XVI
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A Lírica de Camões Capítulo 04
O soneto tem uma sonoridade toda especial. Na realidade um so-
neto é uma obra curta criada para transmitir uma mensagem em seus
14 versos, em geral rimados e divididos em dois quartetos (grupos de
quatro versos) e dois tercetos (três versos). Admite número restrito de
variações quanto à forma, e segue normas rigorosas quanto ao conteúdo
e desenvolvimento do tema. A rigidez de seus traços possibilitou que
atingisse o fim do século XX intacto, tal como o praticaram os grandes
sonetistas que o fixaram: Dante, Petrarca, Shakespeare e Camões.
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Unidade B – Séc. XVI
80
A Lírica de Camões Capítulo 04
Monte Castelo
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja
Ou se envaidece…
O amor é o fogo
Que arde sem se ver
É ferida que dói
E não se sente
É um contentamento
Descontente
É dor que desatina sem doer…
É um não querer
Mais que bem querer
É solitário andar
Por entre a gente
É um não contentar–se
De contente
É cuidar que se ganha
Em se perder…
É um estar–se preso
Por vontade
É servir a quem vence
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Unidade B – Séc. XVI
O vencedor
É um ter com quem nos mata
A lealdade
Tão contrário a si
É o mesmo amor…
Estou acordado
E todos dormem, todos dormem
Todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade…
82
A Lírica de Camões Capítulo 04
A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa, a carida-
de não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com
indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita
mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre,
tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade nunca falha; mas,
havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; ha-
vendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos e, em
parte profetizamos. Mas, quando vier o que é perfeito, então o que
o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como
menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que
cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque, ago-
ra, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face;
agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou
conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade,
estas três; mas a maior destas é a caridade.” (ALMEIDA, 2000, p. 243)
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Unidade B – Séc. XVI
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A Lírica de Camões Capítulo 04
cimento enfatizaram a vida de Cristo e episódios bíblicos. O fato de que os
renascentistas não acatavam mais a ideologia clerical não quer dizer que
não tenham tido religiosidade. O fato de que a antiguidade grega e latina
foi retomada não quer dizer que a antiguidade bíblica tenha sido rejeitada.
Ocorre que os episódios bíblicos em Camões sofreram uma releitura, o
que interessava era o amor, o sofrimento, e não o aspecto religioso em si.
1/ 2 / 3/ 4 / 5 / 6/ 7 / 8/ 9 /10
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Unidade B – Séc. XVI
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A Lírica de Camões Capítulo 04
racterísticas clássicas como equilíbrio, perfeição, otimismo, continuam
presentes em alguns sonetos, mas às vezes sentimos instabilidade, quase
uma iminência de ruptura com os padrões clássicos. Essa instabilidade
é sugerida pelo tom apaixonado dos temas e dos sonetos, uso de troca-
dilhos, paradoxos, antíteses, oxímoros, hipérboles, sintaxe sinuosa, tudo
isso destoando da serenidade clássica. Quando isso se verifica é porque
Camões adota um estilo que chamamos Maneirismo. Esse estilo de-
riva do Classicismo e vigora paralelamente a ele. O estilo Maneirista
corresponde à contradição entre o ideal de equilíbrio e a realidade de-
sequilibrada. O Maneirismo aponta para uma idéia de crise dentro do
Classicismo e marca a crise da fase final do Renascimento, a transição
do Renascimento para o Barroco. Alguns historiadores preferem ver o
Maneirismo não como uma fase, mas sim como um estilo de arte; seu
início é evidente quando o Renascimento entra em decadência.
87
Unidade B – Séc. XVI
Como você pode ter notado classificar o estilo dos sonetos de Ca-
mões não é tarefa fácil. Camões mescla, assimila, transforma as influ-
ências que recebe, tentando acomodá–las e expressá–las por meio de
seus dramas íntimos, em nada otimista. Afirmar, portanto que os sone-
tos camonianos são em sua maioria maneiristas é a classificação mais
acertada, já que os traços maneiristas revelam os sinais de uma crise,
em que o pessimismo e o desencanto começam a minar o otimismo do
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A Lírica de Camões Capítulo 04
Renascimento. Sobre este assunto, a terminologia é um pouco delicada,
pois é comum o termo clássico, humanista, renascentista, maneirista
serem costumeiramente usados, sem muito rigor, talvez por causa da
Posição defendida por
semelhança dos temas tratados, um termo, às vezes, é usado no lugar de
Antonio Medina Rodri-
outro. A classificação geral é que os sonetos camonianos são clássico–re- gues (1993) em sua obra
Sonetos de Camões, p. 21,
nascentistas, para o conjunto dos sonetos de Camões, e isto não é, afinal,
de onde retiramos parte
basicamente errada, contudo é um tanto imprecisa. do parágrafo.
89
Unidade B – Séc. XVI
direita para a esquerda, de tal forma que obriga o leitor a mover os seus
olhos acompanhando visualmente o deslocamento da palavra olhos.
Está querendo responder ao desafio da desaforada dama, mostrando o
movimento do olhar, que os olhos sobejam. O crítico Antônio José Sarai-
va denomina esse estilo de composição como estilo engenhoso, ou seja,
um virtuosismo visual, preterindo a imagem sensorial, que caracteriza
a maioria dos seus sonetos, pelo aspecto geométrico da composição, o
brincar com as palavras, a utilização da palavra como um objeto car-
regado de virtualidade. A esse respeito, sugerimos consultar, dentre as
publicações de Saraiva, a obra Luís de Camões (1959).
90
A Lírica de Camões Capítulo 04
esperais, Esperança? E outra pessoa responde: Desespero. O virtuosismo
visual da poesia concreta pode ser observado nas diversas maneiras que
podemos ler o soneto. Vamos para a primeira possibilidade:
91
Unidade B – Séc. XVI
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A Lírica de Camões Capítulo 04
Faça aqui o seu resumo!
93
Os Lusíadas Capítulo 05
5 Os Lusíadas
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
(Os Lusíadas, Camões)
5.2 Epopéia
Você já deve ter ouvido falar na palavra Epopéia. Um poema épi-
co, ou Epopéia, é um poema que relata uma série de feitos heróicos em
forma narrativa e é extenso. Pode relatar fatos históricos, de um ou de
vários indivíduos, ou mesmo de uma nação. Os fatos narrados podem
ser reais, lendários ou baseados na mitologia. A Epopéia eterniza lendas
seculares e tradições ancestrais, preservadas ao longo dos tempos pela
tradição oral ou escritas. Os primeiros grandes modelos ocidentais de
epopéia são os poemas homéricos A Ilíada e A Odisséia, os quais têm a
sua origem nas lendas sobre a guerra de Tróia.
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Unidade B – Séc. XVI
A epopéia narra a história de Vasco da Gama e dos heróis ῎Ανδρα μοι ἔννεπε, Μ
portugue-
ses que navegaram em torno do Cabo da Boa Esperança e abriram πλάγχθη,uma ἐπεὶ Τροίη
πολλῶν δ' ἀνθρώπω
nova rota para a Índia. É uma epopéia humanista, mesmo nas suas con-
πολλὰ δ' ὅ γ' ἐν πόντ
tradições, na associação da mitologia pagã à visão cristã, nos sentimentos
ἀρνύμενοζ ἥν τε ψυχὴ
opostos sobre a guerra e o império, no gosto do repouso e no desejo
ἀλλ' οὐδ'deὧζ ἑτάρουζ
Fonte original
aventura, na apreciação do prazer e nas exigências de uma visãoαὐτῶν γὰρ σφετέρησ
heróica.
(new athena unicode) νήπιοι, οἳ κατα βοῦζ
ἤσθιον· αὐτὰρ ὁ τοῖσ
5.3 Os Lusíadas: estrutura
Nas considerações que faremos a seguir partimos do pressuposto
que você está lendo Os Lusíadas. Realize a sua epopéia particular, en-
frente o desafio e leia o livro para acompanhar nossa análise.
96
Os Lusíadas Capítulo 05
— oitava de rima camoniana. A estrutura externa refere–se à análise
formal do poema: número de estrofes, número de versos por estrofe,
número de sílabas métricas, tipos de rimas, ritmo, figuras de estilo etc.
A seguir, alguns esclarecimentos importantes:
(CAMÕES, 1980b)
97
Unidade B – Séc. XVI
98
Os Lusíadas Capítulo 05
No episódio da Máquina do Mundo (estrofe 82 do Canto X), é o próprio
personagem da deusa Tétis que afirma: eu, Saturno e Jano, Júpiter, Juno,
fomos fabulosos, Fingidos de mortal e cego engano. Só pera fazer versos
deleitosos Servimos. Apesar de terem cortado excertos da obra nas suas
primeiras edições, o Parecer do censor do Santo Ofício na edição de
1572 declara que percebeu que esse recurso dos deuses não pretende
mais que ornar o estilo Poético. Por isso, continua, não tivémos por incon-
veniente ir esta fábula dos Deoses na obra, mas não resiste a acrescentar
ficando sempre salva a verdade de nossa sancta fé, que todos os Deoses dos
Gentios são Demónios.
5.4 Temas
5.4.1 O Herói
Como o título indica, o herói desta epopéia é coletivo, os Lusíadas,
ou os filhos de Luso, os portugueses. Nas estrofes iniciais do discurso
de Júpiter no Concílio dos deuses olímpicos, que abre a parte narrativa,
surge a orientação do autor.
99
Unidade B – Séc. XVI
100
Os Lusíadas Capítulo 05
5.4.2 A Cruzada contra os Mouros
Figura de um mouro
O poema pode ser lido em perspectiva que já era antiga, mas fatos
recentes acrescentaram outra atualidade, como por exemplo, a da cruza-
da contra os mouros. As lutas no Oriente seriam a continuação das que
já se haviam travado em Portugal e no Norte de África, dominando ou
abatendo o poder do Islã.
101
Unidade B – Séc. XVI
102
Os Lusíadas Capítulo 05
pestade (Canto VI, estrofes 1 a 42). Camões é mestre nessas descrições,
marcadas pelos verbos de movimento, pela abundância de sensações
visuais e acústicas e por expressivas aliterações.
Você deve ler todo o poema Os Lusíadas. Vamos comentar cada can-
to e selecionamos algumas estrofes. Nossos comentários partem da
premissa que você está lendo o poema na íntegra.
103
Unidade B – Séc. XVI
Júpiter
(2) Estrofe 25: Já lhe foi (bem o vistes) concedido / C’um poder tão
singelo e tão pequeno, / Tomar ao Mouro forte e guarnecido / Toda a
terra, que rega o Tejo ameno: […]
Estrofe 28: Prometido lhe está do Fado eterno, / Cuja alta Lei não
pode ser quebrada, / Que tenham longos tempos o governo / Do mar,
que vê do Sol a roxa entrada. […]
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Os Lusíadas Capítulo 05
Baco discorda porque, se isso for permitido, as suas próprias con-
quistas no Oriente serão esquecidas, ultrapassadas por esse povo (3).
Vênus, entretanto, vê os portugueses como herdeiros dos seus amados
romanos e sabe que será celebrada por eles (4).
Baco
(3) Estrofe 30: […] O padre Baco ali não consentia / No que Júpiter
disse, conhecendo / Que esquecerão seus feitos no Oriente, / Se lá
passar a Lusitana gente.
Estrofe 32: […] Teme agora que seja sepultado / Seu tão célebre
nome em negro vaso / D’água do esquecimento, se lá chegam / Os
fortes Portugueses, que navegam.
(4) Estrofe 33: Sustentava contra ele Vénus bela, / Afeiçoada à gente
Lusitana, / Por quantas qualidades via nela / Da antiga tão amada
sua Romana; […]
105
Unidade B – Séc. XVI
Estrofe 34: Estas causas moviam Citereia, / E mais, porque das Par-
cas claro entende / Que há de ser celebrada a clara Deia, / Onde a
gente belígera se estende. […]
(6) Estrofe 36: Mas Marte, que da Deusa sustentava / Entre todos as
partes em porfia, / Ou porque o amor antigo o obrigava, / Ou porque
a gente forte o merecia, / De entre os Deuses em pé se levantava: /
Merencório no gesto parecia; / O forte escudo ao colo pendurado /
Deitando para trás, medonho e irado, /
(8) Estrofe 39: […] Mas esta tenção sua agora passe, / Porque enfim
vem de estômago danado; / Que nunca tirará alheia inveja / O bem,
que outrem merece, e o Céu deseja.
(9) Estrofe 41: Como isto disse, o Padre poderoso, / A cabeça incli-
nando, consentiu / No que disse Mavorte valeroso, / E néctar sobre
todos esparziu. / Pelo caminho Lácteo glorioso / Logo cada um dos
106
Os Lusíadas Capítulo 05
Deuses se partiu, / Fazendo seus reais acatamentos, / Para os deter-
minados aposentos.
(11) Estrofe 27: “Agora vedes bem que, cometendo / O duvidoso mar
num lenho leve, / Por vias nunca usadas, não temendo / De Áfrico e
Noto a força, a mais se atreve: / Que havendo tanto já que as partes
vendo / Onde o dia é comprido e onde breve, / Inclinam seu propósito
e porfia / A ver os berços onde nasce o dia.
(12) Estrofe 28: “Prometido lhe está do Fado eterno, / Cuja alta Lei
não pode ser quebrada, / Que tenham longos tempos o governo / Do
mar, que vê do Sol a roxa entrada. / Nas águas têm passado o duro
inverno; / A gente vem perdida e trabalhada; / Já parece bem feito
que lhe seja / Mostrada a nova terra, que deseja.
Estrofe 29: “E porque, como vistes, têm passados / Na viagem tão ás-
peros perigos, / Tantos climas e céus experimentados, / Tanto furor de
ventos inimigos, / Que sejam, determino, agasalhados / Nesta costa
africana, como amigos. / E tendo guarnecida a lassa frota, / Torna-
rão a seguir sua longa rota.”
107
Unidade B – Séc. XVI
(13) Estrofe 54: “Esta ilha pequena, que habitamos, / em toda esta
terra certa escala / De todos os que as ondas navegamos / De Quíloa,
de Mombaça e de Sofala; / E, por ser necessária, procuramos, / Como
próprios da terra, de habitá–la; / E por que tudo enfim vos notifique,
/ Chama–se a pequena ilha Moçambique.
(15) Estrofe 70: Pilotos lhe pedia o Capitão, / Por quem pudesse à
Índia ser levado; / Diz–lhe que o largo prémio levarão / Do trabalho
que nisso for tomado. / Promete–lhos o Mouro, com tenção / De peito
venenoso, e tão danado, / Que a morte, se pudesse, neste dia, / Em
lugar de pilotos lhe daria.
(16) Estrofe 77: […] E por melhor tecer o astuto engano, / No gesto
natural se converteu / Dum Mouro, em Moçambique conhecido / Ve-
lho, sábio, e co’o Xeque mui valido.
(17) Estrofe 80: “E também sei que tem determinado / De vir por
água a terra muito cedo / O Capitão dos seus acompanhado, / Que
da tensão danada nasce o medo. / Tu deves de ir também co’os teus
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Os Lusíadas Capítulo 05
armado / Esperá–lo em cilada, oculto e quedo; / Porque, saindo a
gente descuidada, / Cairão facilmente na cilada.
(18) Estrofe 89: Eis nos batéis o fogo se levanta / Na furiosa e dura
artilharia, / A plúmbea péla mata, o brado espanta, / Ferido o ar
retumba e assovia: / O coração dos Mouros se quebranta, / O temor
grande o sangue lhe resfria. / Já foge o escondido de medroso, / E
morre o descoberto aventuroso.
(21) Estrofe 98: E diz–lhe mais, com o falso pensamento / Com que
Sinon os Frígios enganou: / Que perto está uma ilha, cujo assento /
Povo antigo cristão sempre habitou. / O Capitão, que a tudo estava
atento, / Tanto com estas novas se alegrou, / Que com dádivas gran-
des lhe rogava, / Que o leve à terra onde esta gente estava.
(22) Estrofe 101: Mas o malvado Mouro, não podendo / Tal deter-
minação levar avante, / Outra maldade iníqua cometendo, / Ainda
em seu propósito constante, / Lhe diz que, pois as águas discorrendo
/ Os levaram por força por diante, / Que outra ilha tem perto, cuja
gente / Eram Cristãos com Mouros juntamente.
109
Unidade B – Séc. XVI
(23) Estrofe 102: Também nestas palavras lhe mentia, / Como por
regimento enfim levava, / Que aqui gente de Cristo não havia, / Mas
a que a Mahamede celebrava. / O Capitão, que em tudo o Mouro
cria, / Virando as velas, a ilha demandava; / Mas, não querendo a
Deusa guardadora, / Não entra pela barra, e surge fora.
(25) Estrofe 103: Estava a ilha à terra tão chegada, / Que um es-
treito pequeno a dividia; / Uma cidade nela situada, / Que na fronte
do mar aparecia, / De nobres edifícios fabricada, / Como por fora ao
longe descobria, / Regida por um Rei de antiga idade: / Mombaça é o
nome da ilha e da cidade.
5.6.2 Canto II
Cilada em Mombaça
110
Os Lusíadas Capítulo 05
reidas impede a entrada dos navios portugueses (31). Vênus sai então em
direção aos céus (32). Seduz Júpiter com a sua beleza (33) e queixa–se dos
perigos que a expedição está a correr (34). O rei dos deuses reafirma que
os fados já destinaram sucesso para os portugueses (35) e envia Mercúrio
para avisar Vasco da Gama da existência de Melinde (36), onde encontra-
rá um rei justo e bondoso, que fornecerá tudo o que procura (37).
(27) Estrofe 2: […] O Rei que manda esta ilha, alvoroçado / Da vin-
da tua, tem tanta alegria, / Que não deseja mais que agasalhar–te, /
Ver–te, e do necessário reformar–te.
(29) Estrofe 10: Mas aquele que sempre a mocidade / Tem no rosto
perpétua, e foi nascido / De duas mães, que urdia a falsidade / Por
ver o navegante destruído, […]
(31) Estrofe 19: Convoca as alvas filhas de Nereu, / Com toda a mais
cerúlea companhia, […] / Com todas juntamente se partia, / Para
estorvar que a armada não chegasse
111
Unidade B – Séc. XVI
(33) Estrofe 35: E por mais namorar o soberano / Padre, de quem foi
sempre amada e eriça, […]
(34) Estrofe 39: […] Mas, pois que contra mim te vejo iroso, / Sem
que to merecesse, nem te errasse, / Faça–se como Baco determina; /
Assentarei enfim que fui mofina.
(35) Estrofe 44: “Formosa filha minha, não temais / Perigo algum
nos vossos Lusitanos, / Nem que ninguém comigo possa mais, / Que
esses chorosos olhos soberanos; / Que eu vos prometo, filha, que vejais
/ Esquecerem–se Gregos e Romanos, / Pelos ilustres feitos que esta
gente / Há–de fazer nas partes do Oriente.
Chegada a Melinde
112
Os Lusíadas Capítulo 05
(38) Estrofe 70: E como o Gama muito desejasse / Piloto para a Ín-
dia que buscava, / Cuidou que entre estes Mouros o tomasse; / Mas
não lhe sucedeu como cuidava, / Que nenhum deles há que lhe ensi-
nasse / A que parte dos céus a Índia estava; / Porém dizem–lhe todos,
que tem perto / Melinde, onde achará piloto certo.
(39) Estrofe 75: O Rei, que já sabia da nobreza / Que tanto os Por-
tugueses engrandece, / Tomarem o seu porto tanto preza, / Quanto
a gente fortíssima merece: / E com verdadeiro ânimo e pureza, / Que
os peitos generosos enobrece, / Lhe manda rogar muito que saíssem, /
Para que de seus reinos se servissem.
(41) Estrofe 109: “Mas antes, valeroso Capitão, / Nos conta, lhe di-
zia, diligente, / Da terra tua o clima, e região / Do mundo onde mo-
rais distintamente; / E assim de vossa antiga geração, / E o princípio
do Reino tão potente, / Co’os sucessos das guerras do começo, / Que,
sem sabê–las, sei que são de preço.
113
Unidade B – Séc. XVI
Calíope
(44) Estrofe 20: “Eis aqui, quase cume da cabeça / De Europa toda,
o Reino Lusitano, / Onde a terra se acaba e o mar começa, / E onde
Febo repousa no Oceano. / Este quis o Céu justo que floresça / Nas
armas contra o torpe Mauritano, / Deitando–o de si fora, e lá na ar-
dente / África estar quieto o não consente.
(45) Estrofe 21: […] Esta foi Lusitânia, derivada / De Luso, ou Lisa,
que de Baco antigo / Filhos foram, parece, ou companheiros, / E nela
então os Íncolas primeiros.
(46) Estrofe 23: “Um Rei, por nome Afonso, foi na Espanha, / Que
fez aos Sarracenos tanta guerra, / Que por armas sanguinas, força e
114
Os Lusíadas Capítulo 05
manha, / A muitos fez perder a vida o a terra; / Voando deste Rei a
fama estranha / Do Herculano Calpe à Cáspia serra, / Muitos, para
na guerra esclarecer–se, / Vinham a ele e à morte oferecer–se.
Egas Moniz
(49) Estrofe 36: “lulas o leal vassalo, conhecendo / Que seu senhor
não tinha resistência, / Se vai ao Castelhano, prometendo / Que ele
faria dar–lhe obediência. […]
(52) Estrofe 37: […] Vendo Egas que ficava fementido, / O que dele
Castela não cuidava, / Determina de dar a doce vida / A troco da
palavra mal cumprida.
115
Unidade B – Séc. XVI
Batalha de Ouriques
(53) Estrofe 53: […] Aqui pinta no branco escudo ufano, / Que ago-
ra esta vitória certifica, / Cinco escudos azuis esclarecidos, / Em sinal
destes cinco Reis vencidos,
(54) Estrofe 55: “Passado já algum tempo que passada / Era esta
grão vitória, o Rei subido / A tomar vai Leiria, que tomada / Fora,
mui pouco havia, do vencido. […]
(55) Estrofe 55: […] Com esta a forte Arronches sojugada / Foi jun-
tamente, e o sempre enobrecido / Scalabicastro, cujo campo ameno, /
Tu, claro Tejo, regas tão sereno.
(57) Estrofe 56: […] E nas serras da Lua conhecidas, / Sojuga a fria
Sintra o duro braço; […]
(58) Estrofe 57: “E tu, nobre Lisboa, que no Mundo / Facilmente das
outras és princesa, / Que edificada foste do facundo, / Por cujo enga-
no foi Dardânia acesa; […]
116
Os Lusíadas Capítulo 05
(59) Estrofe 61: […] Já lhe obedece toda a Estremadura, / Óbidos,
Alenquer, por onde soa / O tom das frescas águas, entre as pedras, /
Que murmurando lava, e Torres Vedras.
(60) Estrofe 62: […] E tu, lavrador Mouro, que te enganas, / Se sus-
tentar a fértil terra queres; / Que Elvas, e Moura, e Serpa conhecidas,
/ E Alcácere–do–Sal estão rendidas.
(61) Estrofe 64: “Já na cidade Beja vai tomar / Vingança de Tranco-
so destruída […]
(62) Estrofe 65: “Com estas sojugada foi Palmela, / E a piscosa Ce-
zimbra, e juntamente, / Sendo ajudado mais de sua estrela, / Desba-
rata um exército potente: […]
(63) Estrofe 68: […] Cercar vai Badajoz, e logo alcança / O fim de
seu desejo, pelejando / Com tanto esforço, e arte, e valentia, / Que a
fez fazer às outras companhia.
Dinastia de Borgonha
Nesta última cidade D. Afonso acaba por ser cercado pelo rei de
Leão (64), e Camões introduz o herdeiro D. Sancho I na história (65),
que se torna assunto do canto bélico juntamente com o pai, e depois da
morte de D. Afonso como rei (66).
(64) Estrofe 70: “Que estando na cidade, que cercara, / Cercado nela
foi dos Lioneses, / Porque a conquista dela lhe tomara, / De Lião sen-
do, e não dos Portugueses. […]
(65) Estrofe 75: “Porque levasse avante seu desejo, / Ao forte filho
manda o lasso velho / Que às terras se passasse d’Alentejo, / Com
117
Unidade B – Séc. XVI
(66) Estrofe 85: “Sancho, forte mancebo, que ficara / Imitando seu
pai na valentia, […]
Estrofe 86: “Depois que foi por Rei alevantado, / Havendo poucos
anos que reinava, / A cidade de Silves tem cercado, / Cujos campos o
bárbaro lavrava. […]
(68) Estrofe 104: “Aquele que me deste por marido, / Por defender
sua terra amedrontada, / Co’o pequeno poder, oferecido / Ao duro
golpe está da Maura espada; / E se não for contigo socorrido, / Ver–
me–ás dele e do Reino ser privada, / Viúva e triste, e posta em vida
escura, / Sem marido, sem Reino, e sem ventura.
Inês de Castro
118
Os Lusíadas Capítulo 05
(70) Estrofe 123: “Tirar Inês ao mundo determina, / Por lhe tirar o
filho que tem preso, / Crendo co’o sangue só da morte indina / Matar
do firme amor o fogo aceso. […]
(71) Estrofe 124: […] Ela com tristes o piedosas vozes, / Saídas só da
mágoa, e saudade / Do seu Príncipe, e filhos que deixava, / Que mais
que a própria morte a magoava,
D. Fernando
(73) Estrofe 138: “Do justo e duro Pedro nasce o brando, / (Vede da
natureza o desconcerto!) / Remisso, e sem cuidado algum, Fernando,
/ Que todo o Reino pôs em muito aperto: / Que, vindo o Castelhano
devastando / As terras sem defesa, esteve perto / De destruir–se o
Reino totalmente; / Que um fraco Rei faz fraca a forte gente.
(74) Estrofe 139: “Ou foi castigo claro do pecado / De tirar Lianor
a seu marido, / E casar–se com ela, de enlevado / Num falso parecer
mal entendido; […]
(75) Estrofe 143: […] Desculpado por certo está Fernando, / Para
quem tem de amor experiência; / Mas antes, tendo livre a fantasia, /
Por muito mais culpado o julgaria.
5.6.4 Canto IV
119
Unidade B – Séc. XVI
Batalha de Aljubarrota
(77) Estrofe 13: “Não falta com razões quem desconcerte / Da opi-
nião de todos, na vontade, / Em quem o esforço antigo se converte
/ Em desusada e má deslealdade; / Podendo o temor mais, gelado,
inerte, / Que a própria e natural fidelidade: / Negam o Rei e a pátria,
e, se convém, / Negarão (como Pedro) o Deus que têm.
Estrofe 14: “Mas nunca foi que este erro se sentisse / No forte Dom
Nuno Alvares; mas antes, / Posto que em seus irmãos tão claro o vis-
se, / Reprovando as vontades inconstantes, […]
A Expansão Portuguesa
120
Os Lusíadas Capítulo 05
(79) Estrofe 48: “Não sofre o peito forte, usado à guerra, / Não ter
amigo já a quem faça dano; / E assim não tendo a quem vencer na
terra, / Vai cometer as ondas do Oceano. […]
(80) Estrofe 66: “Parece que guardava o claro Céu / A Manuel, e seus
merecimentos, / Esta empresa tão árdua, que o moveu / A subidos e
ilustres movimentos: / Manuel, que a Joane sucedeu / No Reino e nos
altivos pensamentos, / Logo, corno tornou do Reino o cargo, / Tomou
mais a conquista do mar largo.
(81) Estrofe 73: “Este, que era o mais grave na pessoa, / Destarte
para o Rei de longe brada: /–“Ó tu, a cujos reinos e coroa / Grande
parte do mundo está guardada, / Nós outros, cuja fama tanto voa, /
Cuja cerviz bem nunca foi domada, / Te avisamos que é tempo que
já mandes / A receber de nós tributos grandes.
O Velho do Restelo
121
Unidade B – Séc. XVI
tiça / Fazes no peito vão que muito te ama! / Que mortes, que perigos,
que tormentas, / Que crueldades neles experimentas!
Restelo
5.6.5 Canto V
(83) Estrofe 18: “Vi, claramente visto, o lume vivo / Que a marítima
gente tem por santo / Em tempo de tormenta e vento esquivo, / De
tempestade escura e triste pranto. […]
Fernão Veloso
122
Os Lusíadas Capítulo 05
sua aldeia, acompanhou despreocupadamente os anfitriões (86), mas
percebe as intenções assassinas destes (87).
(86) Estrofe 30: “Mas logo ao outro dia, seus parceiros, / Todos nus,
e da cor da escura treva, / Descendo pelos ásperos outeiros, / As peças
vêm buscar que estoutro leva: / Domésticos já tanto e companheiros /
Se nos mostram, que fazem que se atreva / Fernão Veloso a ir ver da
terra o trato / E partir–se com eles pelo mato.
O Adamastor
123
Unidade B – Séc. XVI
(91) Estrofe 43:–“Sabe que quantas naus esta viagem / Que tu fazes,
fizerem de atrevidas, / Inimiga terão esta paragem / Com ventos e
tormentas desmedidas. / E da primeira armada que passagem / Fizer
por estas ondas insofridas, / Eu farei d’improviso tal castigo, / Que
seja mor o dano que o perigo.
124
Os Lusíadas Capítulo 05
(94) Estrofe 56:–“Ó que não sei de nojo como o conte! / Que, crendo
ter nos braços quem amava, / Abraçado me achei com um duro mon-
te / De áspero mato e de espessura brava. / Estando com um penedo
fronte a fronte, / Que eu pelo rosto angélico apertava / Não fiquei ho-
mem não, mas mudo e quedo, / E junto dum penedo outro penedo.
(97) Estrofe 81: “E foi que de doença crua e feia, / A mais que eu
nunca vi, desampararam / Muitos a vida, e em terra estranha e alheia
/ Os ossos para sempre sepultaram. / Quem haverá que, sem o ver,
o creia? / Que tão disformemente ali lhe incharam / As gengivas na
boca, que crescia / A carne, e juntamente apodrecia.
(98) Estrofe 62: “A gente que esta terra possuía, / Posto que todos
Etíopes eram, / Mais humana no trato parecia / Que os outros, que
tão mal nos receberam. / Com bailos e com festas de alegria /
(100) Estrofe 85: “Até que aqui no teu seguro porto, / Cuja brandura
e doce tratamento / Dará saúde a um vivo, e vida a um morto, / Nos
trouxe a piedade do alto assento. / Aqui repouso, aqui doce conforto,
/ Nova quietação do pensamento / Nos deste: e vês aqui, se atento
ouviste, / Te contei tudo quanto me pediste.
125
Unidade B – Séc. XVI
5.6.6 Canto VI
(102) Estrofe 15: “Ó Netuno, lhe disse, não te espantes / De Baco nos
teus reinos receberes, / Porque também com os grandes e possantes /
Mostra a Fortuna injusta seus poderes. / Manda chamar os Deuses do
mar, antes / Que fale mais, se ouvir–me o mais quiseres; / Verão da
desventura grandes modos: / Ouçam todos o mal, que toca a todos.”
(103) Estrofe 35: A ira com que súbito alterado / O coração dos Deu-
ses foi num ponto, / Não sofreu mais conselho bem cuidado, / Nem
dilação, nem outro algum desconto. / Ao grande Eolo mandam já re-
cado / Da parte de Netuno, que sem conto / Solte as fúrias dos ventos
repugnantes, / Que não haja no mar mais navegantes.
Os Doze de Inglaterra
126
Os Lusíadas Capítulo 05
caram. O 12º era Álvaro Gonçalves Coutinho, o Magriço, que resolveu
ir primeiro por terra até Flandres (109). Depois de algumas aventuras,
chegou ao local da justa no preciso momento em que esta ia começar
(110) e, com a sua ajuda, todos os cavaleiros ingleses foram derrotados
(111), salvando–se a honra das damas ofendidas.
(109) Estrofe 54: […] Agora, que aparelho certo vejo, / (Pois que
do mundo as coisas são tamanhas) / Quero, se me deixais, ir só por
terra, / Porque eu serei convosco em Inglaterra.
(110) Estrofe 62: “Viram todos o rosto aonde havia / A causa princi-
pal do reboliço: / Eis entra um cavaleiro, que trazia / Armas, cavalo,
127
Unidade B – Séc. XVI
A Tempestade
(112) Estrofe 70: Mas, neste passo, assim prontos estando / Eis o
mestre, que olhando os ares anda, / O apito toca; acordam despertan-
do / Os marinheiros duma e doutra banda; / E porque o vento vinha
refrescando, / Os traquetes das gáveas tomar manda: / “Alerta, disse,
estai, que o vento cresce / Daquela nuvem negra que aparece.”
(113) Estrofe 80: Vendo Vasco da Gama que tão perto / Do fim de
seu desejo se perdia; / Vendo ora o mar até o inferno aberto, / Ora
com nova fúria ao céu subia, / Confuso de temor, da vida incerto, /
Onde nenhum remédio lhe valia, / Chama aquele remédio santo é
forte, / Que o impossível pode, desta sorte:
(114) Estrofe 87: Grinaldas manda pôr de várias cores / Sobre cabe-
lo; louros à porfia. / Quem não dirá que nascem roxas flores / Sobre
ouro natural, que Amor enfia? / Abrandar determina, por amores, /
Dos ventos a nojosa companhia, / Mostrando–lhe as amadas Ninfas
belas, / Que mais formosas vinham que as estrelas.
(115) Estrofe 92: Já a manhã clara dava nos outeiros / Por onde o
Ganges murmurando soa, / Quando da celsa gávea os marinheiros /
Enxergaram terra alta pela proa. / Já fora de tormenta, e dos primei-
128
Os Lusíadas Capítulo 05
ros / Mares, o temor vão do peito voa. / Disse alegre o piloto Melinda-
no: / “Terra é de Calecu, se não me engano.
(116) Estrofe 93: […] Sofrer aqui não pode o Gama mais, / De ledo
em ver que a terra se conhece: / Os geolhos no chão, as mãos ao céu,
/ A mercê grande a Deus agradeceu.
(120) Estrofe 27: E que, entanto que a nova lhe chegasse / De sua es-
tranha vinda, se queria, / Na sua pobre casa repousasse, / E do man-
jar da terra comeria, / E depois que se um pouco recreasse, / Com ele
para a armada tornaria, / Que alegria não pode ser tamanha, / Que
achar gente vizinha em terra estranha.
129
Unidade B – Séc. XVI
(123) Estrofe 46: O Gama e o Catual iam falando / Nas coisas, que
lhe o tempo oferecia; / Monçaide entre eles vai interpretando / As
palavras que de ambos entendia. […]
130
Os Lusíadas Capítulo 05
Já durante a revolução de 1383–85 e o reinado de D. João I estão
presentes D. Nuno Álvares Pereira (139), Pêro Rodrigues (140), Gil Fer-
nandes (141), Rui Pereira (142) e D. Pedro (143).
(128) Estrofe 6: […] Este que vês, pastor já foi de gado; / Viriato
sabemos que se chama, / Destro na lança mais que no cajado; […]
(129) Estrofe 8: […] Olha tão subtis artes e maneiras, / Para ad-
quirir os povos, tão fingidas, / A fatídica Cerva que o avisa: / Ele é
Sertório, e ela a sua divisa.
(132) Estrofe 13: […] Egas Moniz se chama o forte velho, / Para
leais vassalos claro espelho.
(133) Estrofe 17: “É, Dom Fuas Roupinho, que na terra / E no mar
resplandece juntamente, / Com o fogo que acendeu junto da serra /
De Abila, nas galés da Maura gente.
(136) Estrofe 21: […] Ela por armas toma a semelhança / Do ca-
valeiro, que as cabeças frias / Na mão levava (feito nunca feito!) /
Giraldo Sem–pavor é o forte peito.
131
Unidade B – Séc. XVI
(138) Estrofe 26: “Vês? com bélica astúcia ao Mouro ganha / Silves,
que ele ganhou com força ingente: / É Dom Paio Correia, cuja manha
/ E grande esforço faz inveja à gente.
(139) Estrofe 32: “Se quem com tanto esforço em Deus se atreve, /
Ouvir quiseres como se nomeia, / Português Cipião chamar–se deve;
/ Mas mais de Dom Nuno Alvares se arreia: […]
(140) Estrofe 33: […] Outra vez vê que a lança em sangue banha /
Destes, só por livrar com o amor ardente / O preso amigo, preso por
leal: / Pêro Rodrigues é do Landroal.
(141) Estrofe 34: “Olha este desleal o como paga / O perjúrio que fez
e vil engano: / Gil Fernandes é de Elvas quem o estraga, / E faz vir a
passar o último dano: […]
(142) Estrofe 34: […]De Xerez rouba o campo, e quase alaga / Com
o sangue de seus donos Castelhano. / Mas olha Rui Pereira, que com
o rosto / Faz escudo às galés, diante posto.
(143) Estrofe 38: “Vês o conde Dom Pedro, que sustenta / Dois cercos
contra toda a Barbaria? / Vês, outro Conde está, que representa / Em
terra Marte, em forças e ousadia; […]
132
Os Lusíadas Capítulo 05
O ministro indiano, entretanto, influenciado pelos muçulmanos do
reino, faz o capitão de refém (149) e tenta trazer a frota portuguesa para
mais perto, para poder assaltá–la (150). Quando essa estratégia falha
(151), cobiçando o lucro e temendo o castigo do seu soberano por estar
a desobedecer às suas ordens (152), aceita trocar Vasco da Gama por
mercadorias das naus (153).
(147) Estrofe 60: Sobre isto, nos conselhos que tomava, / Achava
muito contrários pareceres; / Que naqueles com quem se aconselha-
va / Executa o dinheiro seus poderes. / O grande Capitão chamar
mandava, / A quem chegado disse:–“Se quiseres / Confessar–me a
verdade limpa e nua, / Perdão alcançarás da culpa tua.
133
Unidade B – Séc. XVI
que lho defende / O Regedor dos bárbaros profanos; / Nem sem licen-
ça sua ir–se podia, / Que as almadias todas lhe tolhia.
(153) Estrofe 92: Diz–lhe “que mande vir toda a fazenda / Vendível,
que trazia, para a terra, / Para que de vagar se troque e venda: / Que
quem não quer comércio, busca guerra. / Posto que os maus propó-
sitos entenda / O Gama, que o danado peito encerra, / Consente,
porque sabe por verdade, / Que compra com a fazenda a liberdade.
5.6.9 Canto IX
134
Os Lusíadas Capítulo 05
onde vem a efeito o fim fadado, / Influiu piedosos acidentes / De afei-
ção em Monçaide, que guardado / Estava para dar ao Gama aviso, /
E merecer por isso o Paraíso.
(157) Estrofe 12: Manda logo os feitores Lusitanos / Com toda sua
fazenda livremente / Apesar dos inimigos Maumetanos, / Por que lhe
torne a sua presa gente. / Desculpas manda o Rei de seus enganos;
/ Recebe o Capitão de melhor mente / Os presos que as desculpas, e
tornando / Alguns negros, se parte as velas dando.
(158) Estrofe 14: Leva alguns Malabares, que tomou / Por força,
dos que o Samorim mandara / Quando os presos feitores lhe tornou;
/ Leva pimenta ardente, que comprara; / A seca flor de Banda não
ficou, / A noz, e o negro cravo, que faz clara / A nova ilha Maluco,
com a canela, / Com que Ceilão é rica, ilustre e bela.
135
Unidade B – Séc. XVI
Tétis
(159) Estrofe 20: Algum repouso, enfim, com que pudesse / Refocilar
a lassa humanidade / Dos navegantes seus, como interesse / Do tra-
balho que encurta a breve idade. / Parece–lhe razão que conta desse
/ A seu filho, por cuja potestade / Os Deuses faz descer ao vil terreno
/ E os humanos subir ao céu sereno.
(160) Estrofe 40: “E para isso queria que, feridas / As filhas de Ne-
reu, no ponto fundo, / De amor dos Lusitanos incendidas, / Que vêm
de descobrir o novo mundo, / Todas numa ilha juntas e subidas, /
Ilha, que nas entranhas do profundo / Oceano terei aparelhada, / De
dons de Flora e Zéfiro adornada;
136
Os Lusíadas Capítulo 05
(161) Estrofe 52: De longe a Ilha viram fresca e bela, / Que Vénus
pelas ondas lha levava / (Bem como o vento leva branca vela) / Para
onde a forte armada se enxergava; / Que, por que não passassem,
sem que nela / Tomassem porto, como desejava, / Para onde as naus
navegam a movia / A Acidália, que tudo enfim podia.
(162) Estrofe 55: […] Arvoredo gentil sobre ela pende, / Como que
pronto está para afeitar–se, / Vendo–se no cristal resplandecente, /
Que em si o está pintando propriamente.
(165) Estrofe 82: Já não fugia a bela Ninfa, tanto / Por se dar cara ao
triste que a seguia, / Como por ir ouvindo o doce canto, / As namo-
radas mágoas que dizia. / Volvendo o rosto já sereno e santo, / Toda
banhada em riso e alegria, / Cair se deixa aos pés do vencedor, / Que
todo se desfaz em puro amor.
(166) Estrofe 87: Tomando–o pela mão, o leva e guia / Para o cume
dum monte alto e divino, / No qual uma rica fábrica se erguia / De
cristal toda, e de ouro puro e fino. / A maior parte aqui passam do
dia / Em doces jogos e em prazer contínuo: / Ela nos paços logra seus
amores, / As outras pelas sombras entre as flores.
5.6.10 Canto X
A Profecia da Sirena
137
Unidade B – Séc. XVI
(168) Estrofe 10: Cantava a bela Deusa que viriam / Do Tejo, pelo
mar que o Gama abrira, / Armadas que as ribeiras venceriam / Por
onde o Oceano Índico suspira; […]
(170) Estrofe 26: “Mas eis outro (cantava) intitulado / Vem com
nome real e traz consigo / O filho, que no mar será ilustrado, / Tan-
to como qualquer Romano antigo. / Ambos darão com braço forte,
armado, / A Quíloa fértil, áspero castigo, / Fazendo nela Rei leal e
humano, / Deitado fora o pérfido tirano.
(171) Estrofe 39: “Mas oh, que luz tamanha que abrir sinto / (Dizia a
Ninfa, e a voz alevantava) / Lá no mar de Melinde, em sangue tinto /
Das cidades de Lamo, de Oja e Brava, / Pelo Cunha também, que nunca
extinto / Será seu nome em todo o mar que lava / As ilhas do Austro, e
praias que se chamam / De São Lourenço, e em todo o Sul se afamam!
(172) Estrofe 40: “Esta luz é do fogo e das luzentes / Armas com que
Albuquerque irá amansando / De Ormuz os Párseos, por seu mal
138
Os Lusíadas Capítulo 05
valentes, / Que refusam o jugo honroso e brando. / Ali verão as setas
estridentes / Reciprocar–se, a ponta no ar virando / Contra quem as
tirou; que Deus peleja / Por quem estende a fé da Madre Igreja.
(175) Estrofe 53: “Virá despois Meneses, cujo ferro / Mais na África,
que cá, terá provado; / Castigará de Ormuz soberba o erro, / Com lhe
fazer tributo dar dobrado. / Também tu, Gama, em pago do desterro
/ Em que estás e serás inda tornado, / Cos títulos de Conde e d’honras
nobres / Virás mandar a terra que descobres.
(178) Estrofe 59: “Mas, contudo, não nego que Sampaio / Será, no
esforço, ilustre e assinalado, / Mostrando–se no mar um fero raio, /
Que de inimigos mil verá coalhado. / Em Bacanor fará cruel ensaio
/ No Malabar, pera que, amedrontado, / Despois a ser vencido dele
venha / Cutiale, com quanta armada tenha.
(179) Estrofe 60: “E não menos de Dio a fera frota, / Que Chaúl
temerá, de grande e ousada, / Fará, co a vista só, perdida e rota, / Por
139
Unidade B – Séc. XVI
(180) Estrofe 61: “A Sampaio feroz sucederá / Cunha, que longo tem-
po tem o leme: / De Chale as torres altas erguerá, / Enquanto Dio ilus-
tre dele treme; / O forte Baçaim se lhe dará, / Não sem sangue, porém,
que nele geme / Melique, porque à força só de espada / A tranqueira
soberba vê tomada.
(181) Estrofe 62: “Trás este vem Noronha, cujo auspício / De Dio os
Rumes feros afugenta; / Dio, que o peito e bélico exercício / De António
da Silveira bem sustenta. / Fará em Noronha a morte o usado ofício, /
Quando um teu ramo, ó Gama, se exprimenta / No governo do Impé-
rio, cujo zelo / Com medo o Roxo Mar fará amarelo.
(182) Estrofe 63: “Das mãos do teu Estêvão vem tomar / As rédeas
um, que já será ilustrado / No Brasil, com vencer e castigar / O pirata
Francês, ao mar usado. / Despois, Capitão–mor do Índico mar, / O
muro de Damão, soberbo e armado, / Escala e primeiro entra a porta
aberta, / Que fogo e frechas mil terão coberta.
(183) Estrofe 67: “Este será Martinho, que de Marte / O nome tem co
as obras derivado; / Tanto em armas ilustre em toda parte, / Quanto,
em conselho, sábio e bem cuidado. / Suceder–lhe–á ali Castro, que o
estandarte / Português terá sempre levantado, / Conforme sucessor ao
sucedido, / Que um ergue Dio, outro o defende erguido.
A Máquina do Mundo
140
Os Lusíadas Capítulo 05
Incluídas nesse episódio ainda vão estar mais
“profecias” sobre os portugueses e a história dos mi-
lagres de S. Tomé, evangelizador da Índia, com uma
breve mas arriscada crítica aos Jesuítas na estrofe
119. Na estrofe 128, uma referência ao naufrágio de
Camões, em que este se salvou a nado com Os Lusí-
adas (187). Depois disso, os portugueses embarcam
novamente e chegam sem mais problemas a Lisboa,
onde recebem as glórias que lhes são devidas (188).
Estrofe 90: “Em todos estes orbes, diferente / Curso verás, nuns grave
e noutros leve; / Ora fogem do Centro longamente, / Ora da Terra
estão caminho breve, / Bem como quis o Padre omnipotente, / Que
o fogo fez e o ar, o vento e neve, / Os quais verás que jazem mais a
dentro / E tem co Mar a Terra por seu centro.
(188) Estrofe 144: Assi foram cortando o mar sereno, / Com vento
sempre manso e nunca irado, / Até que houveram vista do terreno /
Em que naceram, sempre desejado. / Entraram pela foz do Tejo ame-
141
Unidade B – Séc. XVI
no, / E à sua pátria e Rei temido e amado / O prémio e glória dão por
que mandou, / E com títulos novos se ilustrou.
Epílogo
(189) Estrofe 145: Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho / Des-
temperada e a voz enrouquecida, / E não do canto, mas de ver que
venho / Cantar a gente surda e endurecida. / O favor com que mais
se acende o engenho / Não no dá a pátria, não, que está metida / No
gosto da cobiça e na rudeza / Düa austera, apagada e vil tristeza.
(190) Estrofe 146: E não sei por que influxo de Destino / Não tem
um ledo orgulho e geral gosto, / Que os ânimos levanta de contino / A
ter pera trabalhos ledo o rosto. / Por isso vós, ó Rei, que por divino /
Conselho estais no régio sólio posto, / Olhai que sois (e vede as outras
gentes) / Senhor só de vassalos excelentes.
142
Os Lusíadas Capítulo 05
Camões uma dramaticidade que a torna uma das mais significativas re-
alizações literárias não só do Renascimento, mas de todos os tempos.
143
Unidade B – Séc. XVI
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Unidade C
Séc. XVII
Os Sermões do Padre Vieira Capítulo 06
6 Os Sermões do Padre Vieira
Este é o mundo em que vivemos. Antes, e depois de Noé, sempre foi
Dilúvio. Uns para uma parte, outros para outra: todos cansando–se em buscar
descanso, e todos cansados de o não achar.
(Padre Antônio Vieira,
Sermão da 5ª dominga da Quaresma, Lisboa, 1651)
6.1 Biografia
Antônio Vieira (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 — Bahia, 17 de ju-
nho de 1697) foi religioso, escritor, orador português da Companhia de
Jesus, diplomata e embaixador. Além de ter feito tudo o que fez tam-
bém é um dos mais influentes personagens do século XVII em termos
de política e destacou–se como missionário em terras brasileiras. Nessa
147
Unidade C – Séc. XVII
148
Os Sermões do Padre Vieira Capítulo 06
Em 1624, quando da Invasão Holandesa de Salvador, refugiou–
se no interior, e aí iniciou a sua vocação missionária. Um ano depois
tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o
noviciado. Não partiu para a vida missionária. Além de Teologia, estu-
dou Lógica, Física, Metafísica, Matemática e Economia. Em 1634, após
ter sido professor de retórica em Olinda, foi ordenado e em 1638 já
ensinava Teologia.
149
Unidade C – Séc. XVII
150
Os Sermões do Padre Vieira Capítulo 06
6.2 Os Sermões e a Literatura
Você já deve ter ouvido falar em Sermão. Essa palavra está ligada
à religião, padres e pastores pregam sermões. Trata–se de um discur-
so religioso, em que o pregador proclama as verdades cristãs e no qual
aconselha seus ouvintes para que tenham uma vida digna. Geralmente
tem uma introdução, depois uma análise de um texto da Bíblia, uma
aplicação prática e uma conclusão.
Victor Hugo disse que, até surgir a Imprensa no século 15, os homens
escreviam com pedras, isto é, manifestavam–se pela arquitetura. A arqui-
tetura era a sua gramática, seu estilo e sua sintaxe. Os granitos eram suas
letras. O Padre Vieira foi um original. Aprumou sozinho uma catedral,
empilhando, a partir de 1671, com 15 tomos dos seus sermões, confor-
mando–a com mais de três milhões de palavras–pedras. Enquanto Bernini,
Borromini, Mansard e Wren, seus contemporâneos do século 17, expressa-
ram–se com argamassa, tijolos, rochas esculpidas e vitrais, o padre–gênio
socorreu–se dos substantivos, dos verbos, conjugados de todos os modos
possíveis, e da riqueza sem fim dos adjetivos do idioma português.
Obras
ǿǿ Sermão da Sexagésima;
151
Unidade C – Séc. XVII
152
Os Sermões do Padre Vieira Capítulo 06
ǿǿ Sermão das Cadeias de São Pedro em Roma pregado na Igreja
de S. Pedro. No qual sermão é obrigado, por estatuto, o prega-
dor a tratar da Providência, ano de 1674;
ǿǿ Sermão XIII;
ǿǿ Esperanças de Portugal;
153
Unidade C – Séc. XVII
154
Os Sermões do Padre Vieira Capítulo 06
O Barroco foi um período estilístico e filosófico da História da so-
O termo Barroco advém
ciedade ocidental, ocorrido desde meados do século XVI até o século
da palavra portuguesa
XVIII. Foi inspirado no fervor religioso e na Contra–reforma. Didatica- homônima que significa
“pérola imperfeita”, ou
mente falando, o Período Barroco vai de 1580 a 1756. A escola Barroca
por extensão jóia falsa. A
é enfática, violenta, agitada e domina todo o século seguinte. Procura palavra foi rapidamente
introduzida nas línguas
fundir elementos da arte gótica e renascentista, rompendo ao mesmo
francesa e italiana.
tempo os valores aceitos. Abandona o senso de equilíbrio geométrico,
buscando despertar surpresa e emoções.
155
Unidade C – Séc. XVII
ǿǿ Composição dinâmica;
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Os Sermões do Padre Vieira Capítulo 06
culturais e impor a austeridade. Uma das características do barroco é
que denominamos de Cultismo e Conceptismo.
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Unidade C – Séc. XVII
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Unidade D
Séc. XVIII
Os Sonetos de Bocage Capítulo 07
7 Os Sonetos de Bocage
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co’o sacrílego gigante.
(Bocage)
7.1 Biografia
Manuel Maria de Barbosa l’Hedois du Bocage (Setúbal, 15 de Se-
tembro de 1765 — Lisboa, 21 de Dezembro de 1805) era filho do bacha-
rel José Luís Soares de Barbosa, juiz de fora, ouvidor, e depois advoga-
do, e de D. Mariana Joaquina Xavier l’Hedois Lustoff du Bocage, cujo
pai era francês. Apesar das numerosas biografias publicadas após a sua
morte, boa parte da sua vida permanece um mistério. A identificação
das mulheres que amou é duvidosa e discutível.
161
Unidade D – Séc. XVIII
Bocage foi preso pela Inquisição, mas teve (ele e nós também) a
sorte de não ter sido queimado, e na cadeia traduziu poetas franceses e
latinos. A década seguinte é a da sua maior produção literária e também
o período de maior boemia e vida de aventuras.
162
Os Sonetos de Bocage Capítulo 07
É interessante verificar que grande parte dos sonetos mais sexualmente
descritivos e desreprimidos foi encontrada em um caderno onde, se-
gundo algumas fontes, constava o nome de Pedro José Constâncio, cuja
biografia ainda não figura nas enciclopédias e compêndios literários.
http://paginas.terra.com.br/arte/PopBox/bocage.htm
acesso em 15/5/2008.
163
Unidade D – Séc. XVIII
Obras
ǿǿ 1790 – Elegia que o Mais Ingénuo e Verdadeiro Sentimento Con-
sagra à Deplorável Morte do Illmo. e Exmo. Sr. D. José Tomás de
Menezes;
164
Os Sonetos de Bocage Capítulo 07
7.2 Bocage, o Lírico
Por ser um poeta de faces múltiplas, a obra literária de Bocage não
pode ser simplesmente incluída no gênero literário do Neoclassicismo
ou Arcadismo. O Bocage que ficou conhecido em Portugal e no Bra-
sil é o poeta boêmio, satírico e erótico, que freqüentava o bar do Nicola
e o Botequim das Parras. Além disso, apesar de Bocage dominar com
maestria a técnica do Soneto, sendo considerado, devido a isso, como
clássico, sua poesia vai muito além das convenções literárias da época.
Essa transgressão às normas faz de Bocage um poeta de transição en-
tre o Neoclassicismo e o Romantismo.
Auto–Retrato
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
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Unidade D – Séc. XVIII
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Os Sonetos de Bocage Capítulo 07
Em seguida analisaremos as características neoclássicas (e român-
ticas) do soneto Olha, Marília, as flautas dos pastores:
167
Unidade D – Séc. XVIII
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Os Sonetos de Bocage Capítulo 07
E vós, oh cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!
Quero fartar meu coração de horrores. Esse poema pode ter sua
estrutura analisada da seguinte forma:
169
Unidade D – Séc. XVIII
http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/L/literatura_erotica.htm,
acesso em 30/3/2008.
170
Os Sonetos de Bocage Capítulo 07
Soneto do Epitáfio
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Unidade D – Séc. XVIII
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Os Sonetos de Bocage Capítulo 07
particularmente importante para a literatura erótica: Gustave Flaubert
publica o romance Madame Bovary, imediatamente classificado como
pornográfico por tomar como tema as experiências de adultério de
uma jovem provinciana casada com um viúvo medíocre, e que há de
marcar o ponto de partida da época de ouro do romance realista.
http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/L/literatura_erotica.htm,
acesso em 30/3/2008.
173
Considerações Finais
Caro aluno(a),
C
hegamos a final da disciplina Literatura Portuguesa I. Passamos
pelo Trovadorismo e suas Cantigas de Amor, de Amigo e as satíricas
Cantigas de Escárnio. Nos emocionamos com as Novelas de Cavala-
ria, conhecemos os heróis Arthur, Lancelot e Amadis de Gaula. Conhecemos o
teatro de Gil Vicente e suas farsas, seus autos, suas alegorias. Lemos os clássicos
sonetos camonianos e constatamos a genialidade de Camões na composição
da epopéia Os Lusíadas. Analisamos os Sermões do Padre Vieira e, depois de
tantos sermões, finalizamos com a lírica e a sátira desbocada de Bocage.
Por vezes sentimos que a ementa seria muito grande e que não daríamos conta,
mas confiávamos em sua capacidade e sabíamos que juntos conseguiríamos.
Havia a possibilidade de ser feito um recorte, mas confiamos que poderíamos
sim ver toda a disciplina. Se você leu este Livro–texto, fez todas as atividades
solicitadas, entregando–as no prazo estabelecido, acessou o AVEA, participou
dos bate–papos e videoconferências, se assistiu à aula por nós ministrada, se
buscou e consultou os tutores responsáveis pela disciplina, temos certeza de
que você está apto(a) para passar de semestre e em condições de frequentar a
disciplina Literatura Portuguesa II.
Parabéns pelo seu esforço, cremos que agora um valor mais alto se alevanta…
Salma Ferraz
175
Bibliografia Geral
ABDALLA JR, Benjamin. Camões: épica e Lírica: São Paulo: Scipio-
ne, 1993.
CAMÕES, Luis de. Lira: redondilhas e Sonetos. Org. Geir Campos. Rio
de Janeiro: Ediouro, 1980a. Coleção Prestígio.
177
CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote–O cavaleiro da Triste Figura.
2ª ed. São Paulo: Scipione, 1985.
COTON, Afonso Eanes de. Ben me cuidei eu, Maria Garcia. Dispo-
nível em: <http://pt.wikisource.org/wiki/Ben_me_cuidei_eu,_Mar%C3
%ADa_Garc%C3%AD>. Acesso em 04 jun. 2008.
178
LAPA, Rodrigues (Sel. Trad. e Prefácio). Amadis de Gaula. 6ª ed. Lis-
boa: Seara Nova, 1941.
SANCHES, D. Afonso. Tam grave dia que vos conhoci. Disponível em:
<http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/trovadorismo/trovado-
rismo–3.php>. Acesso em 04 jun. 2008.
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SARAIVA, Antônio José. Iniciação na Literatura Portuguesa. São Pau-
lo: Companhia das Letras, 1999.
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WIKIPEDIA. Site disponível em: <http://pt.wikipedia.org/>. Acesso
em jun. 2008. Versão em língua portuguesa.
Sites Consultados
<http://aprender.unb.br/file.php/932/Textos/topico3/cantigasatirica.
doc>. Acesso em 05/06/2008.
<http://www.mundocultural.com.br/index.asp?url=http://www.mun-
docultural.com.br/literatura1/trovadorismo/trovad_poesia.htm>.
Acesso em 05/06/2008.
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Cantiga_de_Amigo>.
Acesso em : 03/05/2008.
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<http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/L/literatura_erotica.htm>.
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<http://portalsaofrancisco.com.br/alfa/trovadorismo/trovadorismo–3.
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181