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Aula 5 / 2016

PSICANÁLISE PÓS-FREUD

Profa. Lisete Barlach


Psicanálise e os dissidentes
de Freud

Adler, Reich, Fromm, Winnicott, Ericson


POLÍTICA
HUMANISMO

ERIKSON

FROMM
ADLER
PSICANÁLISE

REICH WINNICOTT
Alfred Adler

Áustria
1870 - 1937
Adler: destaques

• Adler observou que pessoas com fraquezas


orgânicas graves tentarão compensá-las.
• Através dessa compensação, órgãos antes
fracos poderiam se desenvolver por meio de
treino e exercícios.
• Isso resultaria em maior habilidade ou força
do indivíduo.
Superação
• A pedra fundamental da teoria da personalidade de
Adler é o conceito de passar de um sentimento de
inferioridade para um sentimento de domínio.
• Cedo na vida, todos têm um sentimento de
inferioridade resultante da comparação realista com o
tamanho e as habilidades dos adultos.
• Passar deste sentimento de inferioridade para um
sentimento de adequação é o principal tema
motivacional na vida.
Objetivos de vida
• A formação de objetivos de vida se inicia na infância
como forma de compensação de sentimentos de
inferioridade, insegurança e desamparo num mundo
adulto.
• Os objetivos de vida, via de regra, funcionam como
defesa contra sentimentos de impotência, como
ponte entre um presente insatisfatório e um futuro
brilhante, poderoso e realizador.
• São sempre um tanto irreais e podem tornar-se
neuroticamente super desenvolvidos se os
sentimentos de inferioridade forem muito fortes.
Objetivos de vida
• Os objetivos de vida dão direção e finalidade para as atividades
humanas. Eles permitem que um observador externo interprete
vários aspectos do pensamento e comportamento em termos
desses objetivos.
• Por exemplo, alguém que luta pela superioridade buscando um
poder pessoal desenvolverá traços de caráter necessários para
atingir esse objetivo, tais como ambição, inveja e desconfiança.
• Esses traços de caráter não são nem inatos nem imutáveis, mas
foram adotados como facetas essenciais da direção do objetivo
do indivíduo.
A Luta pela Superioridade e o Poder

• Adler ressaltava a grande importância da agressão e da


luta pelo poder, mas não equiparava agressão com
hostilidade. Ele se referia à agressão como incentivo para a
superação de obstáculos.
• Sustentava que as tendências agressivas humanas têm sido
cruciais para a sobrevivência individual e das espécies e
que tal agressão pode se manifestar como vontade de
poder.
• Salientava que mesmo a sexualidade é freqüentemente
utilizada para satisfazer a ânsia de poder.
Autoestima
• Muitos obstáculos podem bloquear o desenvolvimento da
autoestima e interesse social.
• Exs: órgãos ou sistemas mal desenvolvidos ou inferiores
(como visão defeituosa e problemas de coordenação olho-
mão), doenças infantis, excesso de cuidados e negligência.
• Desvantagens físicas e doenças de infância podem
promover auto-centralização e perda de interesse social.
• Outro fator que contribui para o desenvolvimento da
personalidade é a ordem de nascimento (filho ou filha mais
velha, do meio, mais novo ou mais nova).
Patologias (Adler)
• Pessoas sujeitas a transtornos emocionais têm falsas idéias sobre si
mesmas e sobre o mundo; têm metas inapropriadas que as afastam de
interesses sociais construtivos.

• Aquelas com um estilo de vida mimado, por exemplo, esperam e exigem,


evitam responsabilidade e incriminam os outros por seus fracassos; como
seu bem-estar depende de pressionar outros a servir, sentem-se
incompetentes e inseguras.

• A diferença entre transtornos mentais menores e maiores é que aqueles


com transtornos menores mantêm interesse social, mas são bloqueados
com relação às metas de vida pelos sintomas; aqueles com transtornos
mentais maiores perdem interesse social e voltam-se para seus próprios
mundos.
ERICH FROMM

1900 – 1980
Alemanha
ERICH FROMM
• As paixões, os desejos, e as ansiedades modificam-se como resultado do
processo social, mas também o moldam.
• O protestantismo preparou o indivíduo psicologicamente para o papel a
exercer no moderno sistema industrial: resultou, paradoxalmente, em
maior liberdade individual e maior dependência.
• Liberdade econômica: não mais sistema social fixo (ligado ao
nascimento); liberdade religiosa (???).
• Liberdade, individualismo, solidão: sensação de insignificância e
impotência.
• O medo à liberdade: indivíduo perplexo e inseguro.
Normal e patológico
• PARA A SOCIEDADE: pessoa capaz de desempenhar seu papel na
sociedade (trabalhar e criar família);
• PARA O INDIVÍDUO: normal ou sadio: ponto ótimo de
crescimento e felicidade pessoal;
• ESTRUTURA SOCIAL E PONTO DE VISTA INDIVIDUAL
COINCIDEM?;
• Bom ajustamento social = neurose (pessoa renuncia ao próprio
ego para tornar-se o que se espera dela; perde espontaneidade e
individualidade genuína).
DEFESAS: FUGA À LIBERDADE
• AUTORITARISMO: anseio à submissão ou dominação
(impulsos masoquistas ou sádicos), fuga a uma
solidão insuportável.
Masoquismo: sentimento de inferioridade, impotência e
insignificância.
Sadismo: a) tornar outros dependentes para exercer domínio
absoluto e irrestrito; b) também explorar, roubar qualidades
emocionais ou intelectuais do outro; c) desejo de impor
sofrimento a outros (físico ou mental): humilhar, vexar.
• DESTRUTIVIDADE: eliminação do objeto (destruir
para não ser massacrado). Produto da vida não-
vivida.
DEFESAS: FUGA À LIBERDADE
• CONFORMISMO DE AUTÔMATOS: solução majoritária na
sociedade; indivíduo cessa de ser si mesmo e adota
inteiramente a personalidade que é dominante pelos
padrões culturais (ser o que se espera que sejam).
• Discrepância entre “eu” e mundo desaparece e também
sentimento de solidão e impotência.
• Pessoa desiste do ego individual e se converte em autômato,
idêntica aos milhões de outros autômatos
• OUTROS: alheamento do mundo (psicoses); inflação do ego
(mundo torna-se diminuto).
Fromm: medo à liberdade
•Significado psicológico do fascismo

•Estudo dos sistemas autoritários e


democráticos de governo
BIBLIOGRAFIA: FROMM

• Fromm, E. O medo à liberdade. Ed. LTC, 1983.


• Fromm, E. Conceito marxista do homem. Ed.
Guanabara, 1983.
• Fromm, E. To have or to be? Continuum Publishing,
2005.
• Fromm, E. A arte de amar. Ed. Martins, 2000.
ERIC ERICSON

Frankfurt, Alemanha
1902 - 1994
DESENVOLVIMENTO E IDENTIDADE
• Na adolescência o indivíduo desenvolve os requisitos
preliminares do crescimento fisiológico, amadurecimento
mental e responsabilidade social;
• Crise de identidade: aspecto psico-social da adolescência;
• Estar vivo, não estar doente NÃO significa estar saudável;
• Crescimento humano: conflitos internos e externos que a
personalidade vital suporta, ressurgindo de cada crise com
sentimento maior de unidade (capacidade de “agir bem”,
pelos próprios padrões e daqueles que são significativos).
IDENTIDADE E PERSONALIDADE
• Unidade da personalidade
• Perspectiva temporal x confusão de tempo
• Autoconfiança x inibição
• Experimentação de papel x fixação em papéis
• Aprendizagem x paralisia operacional
• Confiança x desconfiança
• Autonomia x dúvida, vergonha
• Iniciativa x culpa
• Indústria x inferioridade
• Reconhecimento mútuo x isolamento autístico
• Identificação com tarefa x sentimento de futilidade
IDENTIDADE E INTIMIDADE
• Só quando a identidade está bem desenvolvida é que a verdadeira
intimidade é possível;
• Intimidade: fusão de identidades;
• Intimidade versus distanciamento;
• Genitalidade, potência orgástica: dissolução de identidades;
• Maturidade sexual: cada parceiro deixa de tentar apenas alcançar a
si mesmo.

ERIKSON, Eric. Identidade, juventude e crise. RJ: Zahar Editores,


1968.
WILHELM REICH

Galitzia
1897 - 1957
Destaques
•Militância política
•Trabalho psicanalítico e social em Centro de
Saúde
•Clínica Social
•Rompimento com Freud: divergências sobre
instinto de morte e visão política da prática
clínica
ELEMENTOS TEÓRICOS
• Neurose é epidemia
• Condições sociais de vida, p. ex., pobreza, impactam saúde mental
• Diferença entre clientela privada, de hospitais e centros públicos de
saúde
• Psicoterapia individual: raio de alcance sócio-político limitado
• Tipo de neurose mais comum em certas classes sociais (histeria é
típica de uma classe social)
• Alguns quadros eram inofensivos em ricos e adquiriam outra
conotação em pessoas pobres
• Estudos de antropologia (Malinowsky): repressão sexual não existia
nas tribos da Polinésia
ELEMENTOS TEÓRICOS
• Trabalho com jovens em orientação sexual (contracepção,
função da genitalidade, aborto, homossexualidade).
• Existe orientação sexual hoje???
• Conflito da puberdade: resultado da negativa que a sociedade
impõe à vida sexual dos jovens. Quando o amor sadio e normal
não segue seu curso, o adolescente regride à neurose infantil de
forma mais intensa [estudos antropológicos]
• Família reproduz a moral vigente em dada sociedade: visão da
sexualidade de crianças e adolescentes.
ELEMENTOS TEÓRICOS
• Mecanização do comportamento = couraça caracteriológica
• Couraça do caráter: proteção contra perigos que ameaçam do
exterior e impulsos interiores reprimidos [semelhante aos
mecanismos de defesa (Freud)]. Pela rigidez, a defesa torna-se
crônica, diminuindo a mobilidade psíquica total
• Observação do trabalho operário: couraça permitia ao operário
suportar o trabalho mecânico, sem sentido
• Sublimação via trabalho: cientistas, engenheiros, etc. (a elite)
PSICANÁLISE E POLÍTICA
• Reich rompe com Psicanálise porque esta não levava em
consideração elementos sócio-econômicos (era elitista).
Psicanálise: burguesia vienense.
• Posteriormente rompe com o Partido Comunista e com os
social-democratas que tinham visão estreita sobre saúde
mental [partido era lar para os que não tinham lar].
Slogans e ideologias não conseguem trazer a “grande
política” para a “pequena vida pessoal”.
SOCIAL CLINIC

•First social clinic was Vienna's Psychoanalytic


Policlinic.
•Founded by S. Freud in 1922, it was the place
where W. Reich began his work as first assistant,
and started to build “Analysis of Character”,
considered as his main work.
“The consultations schedule was always full of
people… Each psychoanalyst had agreed to give
one daily session for free. But that was not
enough...

One thing became suddenly clear:


psychoanalysis is not fit to be applied to the
mass.” (Reich, A Função do Orgasmo.1978 p.
72/73).
BIBLIOGRAFIA: WILHELM REICH
• Reich, W. A Função do Orgasmo. Ed. Brasiliense, 1995.
• Reich, W. Materialismo Dialético e Psicanálise. Ed. Presença,
1973.
• Reich, W. Análise do caráter. Ed. Martins, 2001.
• Reich, W. Psicologia de massas do fascismo. Ed. Martins,
2001.
• Rycroft, Charles. As idéias de Reich. Ed. Cultrix, 1973.
DAVID
WINNICOTT

1896 – 1971
Grã-Bretanha
WINNICOTT: Brincar e Criar
• Freud: princípio do prazer e da realidade
• Princípio da transformação
• 3ª via: criatividade como um sistema de pulsões e
funções psíquicas com traços distintivos próprios, não
necessariamente derivados dos outros sistemas,
princípios do prazer e da realidade
• Objeto transicional
• Espaço potencial
Espaço potencial
Área intermediária de experiência, situada entre a
realidade interna e externa, na qual participam tanto
uma quanto a outra; ele está fora do indivíduo, mas não
é o mundo externo. Em continuidade direta com a área
do brincar da criança pequena, nele tem lugar tanto o
brincar da criança quanto, no ser adulto, as artes, a
religião, o viver imaginativo e o trabalho científico
criador, ou seja, a cultura.
Objeto transicional
• Transição de um estado em que o bebê está fundido com a
mãe para outro em que está em relação com algo externo e
separado
• Objeto transicional “guarda consigo a possibilidade
concreta de ser o ´não-eu´ ao mesmo tempo em que
verdadeiramente representa o ´eu´
• “Faz de conta que...”
• Evolução direta dos fenômenos transicionais para o brincar,
do brincar para o brincar compartilhado e deste, para as
experiências culturais.
Criatividade: eu - não eu
• Nos fenômenos transicionais entrelaça-se um mundo de
experiências internas com outro mundo de experiências de
relações com objetos exteriores e, no enlace desses mundos
emerge uma terceira zona, a chamada zona intermediária de
experiência.
• Fenômenos criativos emergem no encontro ou intersecção
entre diferentes ordens de processos, eles acionam um sistema
capaz de produzir estes efeitos a partir da construção “entre”
mundos diversos.
• Zona intermediária entre os processos internos da pessoa e a
relação com objetos externos a ela.
CRIATIVIDADE X REPRESSÃO
• “O objeto da criatividade se define por sua mobilidade potencial”,
o que contrasta com a noção freudiana de fixação, pertencente ao
mundo do reprimido para a psicanálise.
• Pessoa criativa: funções egóicas envolvidas na capacidade de
suportar incerteza, frustração, tolerar certa quantidade de
angústia, exercendo o controle dos impulsos.
• Lei do movimento, antagônica à repetição compulsiva,
identificada pela psicanálise como base dos processos
neuróticos. A repetição é antagônica à lei deste sistema.
Brincar e criar (Winnicott)
A análise do acontecimento criador deve se apoiar em
um tripé:
• o potencial criador,
• a experiência criativa e
• as condições afetivas que favorecem a ocorrência do
acontecimento (o clima)
Criar e brincar
• Possibilidade das coisas serem diferentes do que são!
• Aspecto lúdico (faz-de-conta, imaginação)
• Percepção de novos ângulos, novos significados (o objeto e a
subjetividade humana);
• Picasso: “Quando eu era uma criança, eu podia pintar como
Rafael, mas levou um tempo enorme (quase a vida toda) para
aprender a desenhar como uma criança”
BIBLIOGRAFIA

• FIORINI, Hector Juan. Criatividade: dinamismos fundantes de um


sistema no psiquismo humano. In: Estruturas e abordagens em
psicoterapias psicanalíticas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
• FIORINI, Hector Juan. Teoria e técnica de psicoterapias. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1995. 233 p.
• KAMOTO, Cleusa Kazue. Três vértices da criatividade segundo
Winnicott: o potencial, a experiência e a atmosfera criativa. Boletim
de Psicologia, v. 50, n. 112, p. 75-84, 2000.
• WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago,
1975.

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