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3. A ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS.

A proposta da Base Nacional Comum Curricular para o ensino médio constitui


em mudanças consideráveis, entre elas, uma das mais drásticas, quiçá, a maior de todas
em relação ao ensino, é esta, a ocorrência de agregar Filosofia, Sociologia, Geografia e
História em um corpo integrado, nomeado homogeneamente Área de Ciências Humanas
e Sociais Aplicadas1. Esta área pretende-se enquanto mecanismo de “ampliação” e
“aprofundamento” da base dos conhecimentos construídos, até então, no percurso do
ensino fundamental nas disciplinas supracitadas. Onde a proposta central encontra-se no
desenvolvimento de uma “educação ética”, sendo esta ética baseada em conceitos que
visam à aplicação de discursos e práticas diplomáticas, em vista de serem eles
fundamentados,

(...) como juízo de apreciação da conduta humana, necessária para o


viver em sociedade, e em cujas bases destacam-se as ideias de justiça,
solidariedade e livre arbítrio, essa proposta tem como fundamento a
compreensão e o reconhecimento das diferenças, o respeito aos
direitos humanos e à interculturalidade, e o combate aos preconceitos
(BRASIL, 2018, p. 547).
Portanto, a ACHSA, pode ser entendida como uma nova disciplina que utiliza
dos produtos e objetos das disciplinas humanísticas e sociais na elaboração de uma
retórica de igualdade entre os diferentes, uma retórica da diplomacia.
Para tal empreitada, considera que, o ensino fundamental já constitui base
suficiente ao arcabouço de conhecimentos sobre as áreas de sua pesquisa, e, mais
importante, que os alunos do ensino médio têm desenvolvido, em seu quadro cognitivo,
a “capacidade de articular informações e conhecimentos” com base em uma “ampliação
significativa (...) de seu repertório conceitual”, dessa forma, indagações mais elaboradas
vão corroborando em esquemas mais complexos de “abstração e simbolização” sobre as
relações sociais, culturais e econômicas que integram o convívio coletivo. Dessa forma,
o “domínio de conceitos e metodologias” da ACHSA é direcionado à capacidade de um
bom “dialogar” entre os indivíduos e os grupos (BRASIL, 2018).
Além da educação diplomática proposta pela BNCC na etapa do Ensino Médio
para a ACHSA, o documento também visa o desenvolvimento do sujeito determinado,
proativo. Esse sentido é enfatizado quando o projeto educacional entende que o

1
Daqui em diante, a Área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas será representada pela sigla ACHSA
sempre que referida.
mecanismo de “aprender a indagar” suscita o desenvolvimento intelectual, assim como,
por consequência,

A pergunta bem elaborada e a dúvida sistemática contribuem


igualmente para a construção e apreciação de juízos sobre a conduta
humana, passível de diferentes qualificações. Elas também colaboram
para o desenvolvimento da autonomia dos sujeitos de suas tomadas de
decisão na vida cotidiana, na sociedade em que vivem e no mundo no
qual estão inseridos (BRASIL, 2018, p. 549).
E assim surge a problemática em: como construir o cognitivo capaz de abstrair
tais comportamentos e ainda ser ético? Para tal, a proposta está bem clara dentro das
linhas legíveis ao primeiro olhar do documento, e, trata-se do alargamento das
discussões alinhadas, no Ensino Fundamental, sob as categorias delimitadas às
disciplinas escolares, como é o caso da disciplina escolar História, sendo a
concretização da interdisciplinaridade entre as disciplinas dentro da ACHSA.
Para o caso da discussão acerca da interação do conhecimento histórico com
outros, é notória na tradição, que sempre fez parte da produção de História, uma vez,
que, na construção do conhecimento do “homem no tempo”, são utilizadas várias
contribuições de outras vertentes do estudo sobre ser humano e o meio, bem como a
relação dessas duas categorias, tendo como objetos diferentes aspectos dessa relação, a
saber: tempo e espaço, território e fronteira, indivíduo, natureza, sociedade, cultura e
ética, e, política e trabalho. Esses aspectos são constituintes da esfera global da vivencia
em sociedade, contudo, o problema que é evidenciado no contexto da BNCC é a
incapacidade do aluno experienciar tais conjecturas e entende-las como um corpo
comum, mas que se apresentam diferentes, isso, em decorrência do método
empreendido sobre o objeto de análise, o ser humano e suas ações. Com isso, temos a
clara noção de que a ACHSA empreende esforços no intuito de “possibilitar o acesso a
conceitos, dados e informações que permitam aos estudantes atribuir sentidos aos
conhecimentos da área” (BRASIL, 2018, p. 550).
Os idealizadores e intelectuais por trás da elaboração da BNCC defendem que, o
documento em si, não se apresenta nem pretende ser entendido enquanto currículo,
contudo, como nos aponta Jorge Luis Umbelino de Sousa,

(...) o currículo é uma produção cultural que vai além de seleção de


saberes ou determinação de conhecimentos válidos, ou seja, [...]
definindo a postura e os pilares basilares da instituição escolar
(SOUSA, 2015).
Seguindo essa perspectiva, é evidente a intenção de construção de sujeito, o
sujeito ideal, que a BNCC expressa. Essa construção é possível por meio do
estabelecimento de metas a serem alcançadas, assim como, no caso especifico do
Ensino Médio, da circunscrição das discussões específicas das ciências humanas e
sociais, com a premissa de que os estudantes já possuem carga de conhecimentos
suficientes para uma sistematização de discussões e olhar crítico sobre as esferas sociais
e culturais.
Apesar da homogeneização das disciplinas em um corpo único, ainda a ACHSA
é repartida por categorias que se desenvolvem em relação com as vertentes citadas
anteriormente nesse estudo, expressando a continuidade dos sentidos construídos no
Ensino Fundamental, e, a serem aprofundados no Ensino Médio. Destes, embora os
demais ainda assim sejam objetos de estudo pertinentes, cabe maior minúcia no trato de
duas em especial para os adeptos do conhecimento histórico, que são Tempo e Espaço e
Política e Trabalho.

Daqui em diante, pretendo, em no máximo três ou quatro parágrafos, descrever essas


duas categorias citadas acima. Então terminar o capítulo com a apresentação das seis
competências específicas da ACHSA e sua relação com suas respectivas habilidades.

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