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Natureza do livro: Este volume foi inicialmente publicado pela revista francesa
L’ Histoire Nele colaboram historiadores e médicos dentre os quais
podemos destacar Claude Mossé, Jean Bottéro, Robert Delort e Pierre
Darmon (historiadores). Mais diretamente ligados à área médica Jean-
Charles Sournia (membro da Academia de Medicina, de França), Anne-
Marie Moulin e Marie-José Imbault.
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sido afetado mas também para o historiador que leda com aquilo
que ele cama de “uma idéia”. Segundo Lê Goff “a doença
pertence à história, em primeiro lugar, porque não é mais do
que uma idéia, um certo abstrato numa ‘ complexa realidade
empírica’ (M. D. Grmek), e porque as doenças são mortais. (...)
A doença pertence não só à História superficial dos
progressos científicos e tecnológicos como também à História
profunda dos saberes e das práticas ligadas às estruturas
sociais, às representações, às mentalidades. Desde a Idade
Média, o jogo da doença e da saúde joga-se cada vez menos
em casa do doente e cada vez mais no palácio da doença, o
hospital”.(pp. 7- 8) De acordo com o autor, as atitudes face às
doenças não se alteraram desde a mais remota antiguidade e
exemplifica afirmando que “por um lado, a ardente pesquisa do
saber científico e de uma prática médica que não para de
alcançar grandes vitórias, da trepanação pré-histórica às
vacinas, soros, antibióticos, etc., dos tempos modernos. Por
ouro, a crença inveterada na eficácia da magia (orações ou
ervas) e nos mágicos (bruxas, milagreiros, curandeiros de
toda a espécie). E mesmo hoje será fácil estabelece a
fronteira?” (P. 7). O autor ainda argumenta que na trajetória da
doença existe uma história do sofrimento e isto porque a história
das doenças, “É uma historia dramática que revela através dos
tempos uma doença emblemática unindo o horror dos
sintomas ao pavor de um sentimento de culpabilidade
individual e coletiva: lepra, peste, sífilis, tísica, cancro e, num
pequeno território fortemente simbólico, a SIDA” (p.8). Afirma
que a sociedade ainda tem um difícil caminho a percorrer face às
doenças.
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“Pasteur: as verdadeiras razões de uma glória” de Anne de Saint Romain.
(pp. 85-90).
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Tese central: A tese central do artigo é de que com os avanços médico
científicos, a figura do médico e as instituições de saúde adquiriram
tamanha importância no tecido social a ponto de interferir direta ou
indiretamente nas vidas de qualquer indivíduo estando ele doente ou
não. “O doente já não era um grande consumidor, mas desde que
a medicina se infiltrou nas estruturas sociais, desde que não é
possível casar, ter filhos, praticar um esporte (nem que seja só
ginástica!), arranjar um emprego, sem recorrer a um especialista,
a França conta cinqüenta milhões de clientes para esta nova
medicina”. (p. 91). Além disso, toda cientificidade que reveste o
discurso e a figura do médico também faz dos tratamentos cada vez
mais impessoais. “À medida que o médico de família perdia a sua
importância, o poder médico tornava-se mais sábio e mais
abstrato e o seu caráter administrativo, mesmo policial, era
vivamente sentido. O mérito do conhecimento médico acabou
mais por impacientar do que por maravilhar” (p.100). “Os médicos
são um grupo que desempenha um papel na representação social
e o seu discurso científico pode contribuir para deslocar os
verdadeiros problemas dando uma imagem falsificada da
patologia. Tomemos o exemplo da clorose, ou anemia essencial
das jovens. A doença aparece no século XVIII, difunde-se no
século XIX e desaparece por volta de 1920. Parece ter um
substrato material bem determinado: a diminuição do número de
glóbulos vermelhos e a carência de ferro, o que origina fraquezas,
vertigens, desmaios das jovens desocupadas. Mas esta anemia
será realmente o apanágio das jovens burguesas à espera de
casamento?” Baseada nas estatísticas, a autora afirma que essa
doença é bastante freqüente entre as mulheres de trabalho ou
camareiras, mantidas entre quatro paredes. Também entre aprendizes
de lavadeiras vindas do campo, bem como em costureiras, que nada
tem de desocupadas. Porém, “mais do que denunciar a condição
feminina no seu conjunto, os médicos preferem ver nesta doença
a expressão de uma idade difícil, a puberdade, com os seus
desejos recalcados no quarto burguês do casamento tardio,
discurso mais aceitável para eles e pra a sua clientela. Assim se
explica o crescimento e a morte de certas doenças”. (p. 104)
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segundo ela, é preciso considerar que neste período a única coisa de
que os cientistas médicos dispunham para chegar as possíveis causas
das doenças, era “sua escuta atenta das queixas dos doentes, das
suas mãos e de todos os seus sentidos, do olfato assim como da
vista e do ouvido”. E com isso, “espera-se que (o médico) receite
medicamentos drásticos; ele purga, sangra, receita mezinhas, e
escarifica. As terapêuticas são raramente específicas” (p. 93).
Ainda na primeira parte, considerando as limitações do saber médico
do período, a autora coloca a seguinte questão: “teria a medicina
ocidental, em 1867, uma verdadeira superioridade em relação às
suas rivais indígenas?” Segundo ela, durante as epidemias de
cólera tanto uma como a outra se revelaram impotentes. Porém a
autora faz uma distinção interessante entre as duas, ou melhor, entre
os instrumentos do qual os dois saberes dispunham. Não só para a
busca da cura como também para sua divulgação enquanto saber
científico e perpetuação da superioridade de uma (medicina) em
relação à outra. “Mas, no Ocidente, estava montada uma infra-
estrutura para a transmissão do saber: escolas de medicina, um
corpo docente entusiasta a defender a corporação e, sobretudo
bibliotecas e os primeiros laboratórios. Se saltasse uma faísca, a
medicina transformava-se” (p. 93). Na segunda parte a autora
salienta que a partir de 1882 intensificam-se os avanços científicos
principalmente os de bacteriologia ajudando a implementar mudanças
significativas aos exames médicos. “ao mesmo tempo sangrias,
ventosas, purgantes, caiam em desuso, sem no entanto
desaparecerem: passavam para o domínio das práticas
populares” (p. 94) Sinaliza também para uma desavença entre
médicos e bacteriologistas que fica explicita no seguinte trecho:
“contudo a ruptura não é brutal. Os médicos compreendem,
rapidamente, os benefícios da nova situação, mas hesitam em
converter-se. Em 1903, quando os laboratórios de bacteriologia
se abrem nas universidades e nos hospitais, um médico alemão
escreve um pequeno panfleto com o título significativo,
Bacteriologista contra médico: ‘Não hesito, mesmo hoje, quando
a febre da batalha passou, em afirmar que nada atingiu a posição
da profissão médica como o zelo imoderado dos bacteriologistas,
apressados em transferir as decisões do leito do doente para o
laboratório e em determinar a etiologia e o tratamento segundo
um esquema artificial, em lugar de dar o seu valor às exigências
das condições reais que só podem ser apreciadas por aqueles
que estão presentes junto do leito do doente’. (pp. 94-95). A autora
também faz um mapa da rede de instituições de formação e
investigação médico científicas. “primeiro a partir de Berlim: os
discípulos de Robert Koch pululam em toda a Alemanha e, graças
ao Kaiser Instituto, eles são os senhores da medicina por muito
tempo!(...) Uma segunda rede é a pasteuriana, da raiva. Os eixos
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são desta vez Paris-Londres, Paris-Sampetersburgo, Paris-Milão.
Institutos Pasteur – leiamos institutos para a pesquisa sobre a
raiva e as doenças infecciosas – formam-se em Inglaterra,
Odessa, Brasil” .(p. 95). “O hospital enfeuda-se a laboratórios aos
quais fornece ‘casos’ e a institutos. Isso já é visível no Hospital
Pasteur, fundado em 1906, mais de dez anos depois do instituto
com o mesmo nome, no Hospital e no Instituto Rockefeller,
fundados simultaneamente, em Nova Iorque, em 1906”. (p. 95).
Nas ultimas partes do artigo, trata de questões mais atuais como a
briga da industria farmacêutica. Não há referências à epilepsia.
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sucumbir de várias maneiras. Estas cenas, sem dúvida, não
deviam ter em conta nem a jurisprudência, nem a teologia, eram
apenas do foro da medicina’” (pp.153-154).
“A erisipela gangrenosa”. Marie-José Imbault-Huart.
Tese central: autora afirma não haver uma história do cancro do ponto de
vista social e sim científica. A partir daí, utilizando casos remotos
como o da rainha Ana da Áustria, propõe reflexão sobre o estatuto
maldito que o cancro impõe não só aos doentes como também aos
médicos. Neste sentido há alguns trechos bastante significativos.
“Ele (o cancro) é, para o nosso final de século XX, a
tuberculose e a sífilis para o século XIX: o arquétipo da nossa
impotência no controle da doença e da morte. É assim que
cada época investe numa doença a angústia diante da
fragilidade da condição humana e procura por todos os meios
negá-la, ocultá-la, afastá-la do seu horizonte e, ultimo recurso,
fugir daqueles que são atingidos pó ela” (p. 175)
“Era uma doença entre outras, diante da qual os médicos
constatavam a sua impotência (...)” (p. 176).
“A maior parte do tempo, o doente prefere não reconhecer a
sua doença, freqüentemente por meio inconsciente de
acrescentar à sua angústia da morte um estatuto de morte
social. Mesmo no seio da família, os comportamentos de
rejeição podem ser uma terrível crueldade, de tal modo o
cancro é temido”.
• 3. “Do lado dos doentes”. Título do terceiro capítulo que reúne seis
artigos sobre o tema.
“A Vida quotidiana nos hospitais da Idade Média”. Annie Saunier.
Autoria: Assistente da Universidade de Paris.
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Interesses para a pesquisa: seguinte trecho: “O hospital medieval era
uma simples casa de acompanhamento, um espaço para morrer, ou um
verdadeiro estabelecimento de cuidados, representando, na cidade, um
papel sanitário e profilático. Para abreviar, é preciso, antes de mais,
consultar os estatutos e os regulamentos dos estabelecimentos e,
sobretudo, perscrutaras suas contabilidades, que permitem conhecer
as atividades do hospital. Assim compreenderemos a vida quotidiana
num estabelecimento hospitalar”. ( pp. 205-206)
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Autoria: professor de História Contemporânea na Universidade de Rennes-
II.
Tese central: Texto aborda a questão da hipocondria e a atitude médica em
relação ao distúrbio.
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“Banhos de mar por receita médica”. Gabriel Désert.
Autoria: professor de História Contemporânea na Universidade de Caen.
Tese central: trata da verdadeira febre que foram os banhos de mar
indicados por médicos entre os anos de 1820-1830 na Normandia. E
como essa idéia foi mudando até que em 1897 tal terapêutica vai
sendo substituída por aquela que aconselha o ar puro das montanhas.
Isso tem a ver com os avanços médico-científicos que faz com que os
médicos possam perceber os limites da eficácia dos banhos como
terapêutica.
Interesses para a pesquisa: restringem-se a dados papa a cronologia e a
um trecho que aconselha o banho de mar para o tratamento da
histeria. “São excelentes também para tratar a hipocondria, a
histeria o ‘delirium tremens’a tosse, a asma nervosa, a languidez
clorótica, o mal de Pott (tuberculose das vértebras), as diversas
cáries e necroses”. (p. 334).
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humano, que busca, diante de um universo misterioso, nomear,
classificar e simplificar, para organizar.“Mas toda essas noções (...)
tem a ver com um estádio do conhecimento, com uma idéia da
ciência; são forçosamente evolutivos: por natureza a medicina é
história. Seria, portanto, artificial e infantil recriminá-la pelas suas
estagnações, pelas suas cegueiras, pelos seus absurdos”. (p.
360). “A uma medicina que se esforça pela precisão, pela lógica
experimental, opor-se-ão sempre práticas tiradas do fundo dos
tempos, que misturam iluminismo, religiosidade, ingenuidade e
charlatanismo. O cancro a SIDA provocam reações emocionais,
os ‘fervorosos’das medicinas ‘paralelas’são tão numerosos como
no tempo de Hipocrates, o raciocinador. E, contudo, as inovações
da medicina científica não acabarão nunca, porque ela terá de
lutar contra as doenças milenares e contra as que surgirão
amanhã (...)”. (p. 361).
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