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A centenária Freda Galanodel

Freda sempre fora diferente, pensara. Ao nascer, seus cabelos cresceram escuros, em vez
de platinados como os dos seus pais. O único resquício capilar que entregava sua
descendência eram as mechas à frente da cabeça. No começo, esse detalhe deixou seus
pais apreensivos. Seria uma maldição? Um aviso? Uma profecia esquecida? Mas os
profetas de Summerset lhes garantiram que não era nenhum castigo dos Divinos, Freda era
apenas…diferente.

A linhagem de sua família, os Galanodel, eram tradicionalmente magos. A magia fluia fácil
em seus descendentes e com os estudos, se tornaram a família de magos mais poderosa da
Ilha dos Altos Elfos. Isso lhes garantiu prestígio e poder, principalmente em relação aos
Aldmeri, a realeza de Summerset.

Como membro de uma corte pomposa e de uma linhagem tão notória, Freda recebeu
orientações desde criança para seguir os caminhos dos estudos da magia. Estudar magia
para ela era satisfatório, prazeroso até certo ponto, mas não conseguia ir muito além quando
se tratava de decorar símbolos arcanos, era tedioso. Seu único momento de prazer, era
quando largava seus estudos e ia nos bailes escutar música. Todas elas… das valsas, às
quadrilhas. Da mais fina música ao rimbombar dos tambores. Toda aquela afinação
melodiosa a enchia de alegria, esperança, pertecimento.

Não chegara a relatar aos pais que não gostava das runas. Afinal, a magia também nascera
com ela. E era só estudar que a magia se transformava ao recitá-las e ao gesticular das
mãos. Ela com certeza era uma Galanodel. Ela só não queria ser só mais uma.

Então houve uma reunião no Castelo Real. E depois mais e mais reuniões… Sua família
estava presente, assim como outros magos e guerreiros importantes de Summerset.

(atual regente de Summerset), vossa Alteza, convocou os mais fortes Altmer para
combater a raça do homem, que há muito estavam destruindo o continente e cultuando um
divino humano, Kord. Cultuar um humano era uma blasfêmia aos divinos, os Elfos não
conseguiam tolerar tamanho desrespeito aos deuses.

As reuniões se seguiram, assim como as disputas nos salões de treinamento. Por um


tempo, a cidade estava em polvorosa, nem parecia a cidade plácida dos Elfos. Chegavam
mais e mais elfos de toda a ilha, adentrando os portões da cidade de Alinor para fazer seus
alistamentos. Ela poderia fazer parte do exército também, mas ainda não completara a idade
adulta e existia um temor geral em perder os mais jovens em guerras. Freda aproveitou a
pausa em seus estudos - já que seu mestre teve que incorporar o exército e treinar novos
guerreiros e magos - e começou a observar os outros grupos de combatentes. Por isso
usou seu tempo livre entre os salões de treinamento à guerra iminente e a biblioteca central
de Alinor.

Numa dessas visitas, algo lhe chamou a atenção. Ao adentrar um corredor dos salões de
treinamento, em vez das palavras rúnicas de sempre, ouviu uma música que fez estremecer
seu coração. A voz era maravilhosa e Freda se sentiu atraída, quase que cegamente, a ir de
encontro com o seu emissor. Simplesmente fechou os olhos e sentiu que, mesmo no escuro,
conhecia o caminho apenas por seguir a canção. Ao adentrar a sala, abriu brevemente os
olhos e viu um cavalheiro com uma flauta apoiada, cantando e tocando também de olhos
fechados. E por um breve momento, eles ficaram ali, a sós, apenas contemplando cada
melodia de forma prazerosa, como se nunca tivessem ouvido nada na vida antes.

Ao terminar da canção, Freda estampava um sorriso no rosto. Brevven Hartford, o


cavalheiro à sua frente, era um bardo conhecido. Ela lembrava dele nas festas, sempre com
alguma notícia do continente cantada de forma alegre e às vezes, dramática demais. O
cavalheiro à sua frente se apresentou e lhe ofereceu o violino, mas ela logo disse que não
sabia tocar. Apenas aprendera harpa e atabaque - o último para o desespero dos seus pais,
que não achavam nada melodioso. Ele então ofereceu a harpa que tinha no salão e a
convidou para tocarem juntos. Freda exitou um pouco, mas logo estava formando um dueto
com Brevven.

Os dias de preparação para a guerra se seguiram e os encontros com Brevven também.


Freda às vezes achava que não tinha direito de se sentir tão feliz e alegre diante da angústia
que logo viria com a guerra, mas pensou que se era para aproveitar a vida, que fosse antes
de qualquer tragédia, não depois. Os pais logo iriam também ao continente, e tentavam
manter Freda a par das runas, nas poucas vezes que se viam. Mas Freda estava cada vez
mais apaixonada pela arte de Brevven - e talvez por ele também.

Não demorou muito para Freda abandonar as runas de vez. Ela, mais do que nunca, estava
mais interessada na música e nos seus encontros com Brevven… até o dia que ele não
aparaceu ao seu encontro. Freda apenas encontrou um bilhete endereçado a ela e sua
flauta em seu banco. Ele precisou ir às pressas ao continente, por ondem de (atual regente
de Summerset), mas tinha deixado sua flauta para Freda. Tinha lhe lançado o desafio de
aprender a tocá-la até a sua volta. Naquele mesmo dia, os elfos alistados foram convocados
ao porto, incluindo seus pais.

E então, os Elfos navegaram rumo à Tamriel.

***

A Grande Guerra havia durado 5 anos. Acordos foram feitos, homens reis foram rendidos.
Elfos e elfos pereceram, mas o continente - quase todo ele - estava em paz. Os pais de
Freda, Arkodyr e Belladyne Galanodel, conseguiram voltar intactos das batalhas e, por hora,
se aposentaram, o trabalho estava feito.

Já Brevven, não voltou.

Freda desistiu de ter notícias suas desde que as mensagens pararam de chegar dois anos
depois do início da guerra. Ela tinha cumprido a sua parte da promessa. Ele não conseguiu.

Vinte e cinco anos, o silêncio mortal de Brevven e a distância dos pais mudaram a vida de
Freda de rumo. Ela tinha decidido se dedicar às artes bardicas, desde o dia que a magia
fluiu dela ao tocar a flauta de Bravven. Foi, de modo tolo, mágico. Se dedicou à Escola do
Conhecimento de Lillandril, e começou a fazer apresentações e missões em toda ilha, desde
a busca de artefatos com alguns grupos de aventureiros, até resgates de aristocratas
sequestrados. Por Corellon, ajudara a matar até monstros e fantasmas!

Um ano se passara desde o fim de sua formação, e havia estourado uma guerra civil em
Skyrim. Os humanos revoltosos não aceitavam a paz que Elfos levaram e se negaram a
deixar de cultuar seu falso deus. Seu pai embarcou para Skyrim, mas não voltou também.

Durante a guerra, nenhuma canção conseguiria por em palavras rimadas o que se seguiu no
ano seguinte.

***

Alduin, o Deus dos dragões, havia retornado do seu exílio durante a guerra - e Freda
suspeitara que o Deus-dragão fora responsável pela morte de seu pai - e ressuscitara seus
filhos que foram mortos pelos antigos heróis de Skyrim.

O Deus que assolava a região norte, poderia muito bem descer e arrasar o restante do
continente, acabando com o trabalho árduo de tantos elfos, que transformaria a morte de
seus entes em nada.

Freda, a partir desse dia, jurou que acabaria com Alduin. Não sabia como, mas acabaria.

Começou a estudar a língua antiga dos dragões. Quem sabe no meio de suas palavras,
existia alguma magia que os traísse? Buscou na biblioteca de sua ilha algo que pudesse
ajudar contra os monstros, mas só existia histórias, pequenas até, dos heróis humanos que
lutaram contra eles. Rumou ao continente e passou por várias bibliotecas, sempre buscando
algo que se relacionasse às mais antigas histórias de criação do mundo e das dinvidades
para achar um ponto fraco, mas sem muito sucesso. Conheceu os Elfos da Floresta, mas
eles também tinham pouca - ou a mais comum - informação sobre Alduin.

Então recebeu notícias de um grupo que foi entitulado “Caçadores de Dragões”. De alguma
maneira, esse grupo havia matado alguns dragões. Mas matar os filhos do Deus-Dragão
não era páreo para um Deus que a morte não era o limite.

Foi na Biblioteca Central de Vivec, que Freda conseguiu uma informação importante: as
músicas primordiais poderiam conter transcriçoes da criação do universo, ou uma magia
poderosa que poderia ressuscitar qualquer ser, apenas por palavras recitadas. Lembrou que
existiam poucas pessoas que conseguiam controlar tal magia, as poucas que tiveram
acesso - seu mestre - Melyor Glimmerfield - e um dos integrantes do grupo épico, Hedan
Nauryan. Sabia que os deuses naturalmente sabiam controlar essa magia. Sabia também
que essa magias tinham transcrições guardadas em tumbas e templos perdidos. Sabia que
o lugar mais provável de existir um artefato do tipo seria na terra arrasada por Alduin.

Era isso. Freda iria para Skyrim e ajudaria a levar a paz novamente para a província. Traria
paz eterna para Tamriel. Ela conseguiria, porque sempre disseram que ela era…diferente!

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