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2.1. Recomendações
1 RAMOS, André de Carvalho. Processo internacional de direitos humanos. 5.ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
2 RAMOS, André de Carvalho. Processo internacional de direitos humanos. 5.ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
Resta saber se a prática atual dos Estados não criou um costume internacional de
cumprimento dessas deliberações. Esta obrigatoriedade costumeira seria
particularmente observada nas deliberações oriundas dos mecanismos
extraconvencionais no seio da Organização das Nações Unidas, em especial nas
deliberações do Grupo sobre Detenção Arbitrária e no Grupo contra a Tortura, ambos
da Comissão de Direitos Humanos. Como exemplo, cite-se a comunicação, como
medida urgente de proteção, enviada pelo Relator especial, por exemplo, do grupo de
execução sumária, para que se suspenda a execução de determinada pessoa. Essa
comunicação teria força vinculante, fruto do próprio conteúdo do mandato destinado a
tais grupos. A visão predominante indica que o pedido de soltura, por exemplo, por
parte do relator especial a um determinado Estado é verdadeira ação de “bons ofícios”
e a decisão de soltura do Governo local não é obrigatória. Não haveria força vinculante
em relação a estes pedidos, que seriam atendidos com base em considerações políticas.
De fato, alguns autores, como SIMMA e D’AMATO, assinalam a ausência de
comprovação de um real costume internacional, já que os casos de não cumprimento
das deliberações internacionais destes órgãos apontam para a falta do consenso entre
os Estados sobre a força vinculante destas deliberações. Nesse sentido, houve mudança
da própria denominação da deliberação internacional do Grupo de Trabalho sobre a
Detenção Arbitrária. Abandonou-se o termo “decisão” em prol do termo “opinião”,
optando-se por enfatizar o caráter opinativo da deliberação e não vinculante. Assim,
consolidou-se, de modo indubitável, a posição de não reconhecer qualquer força
vinculante nestas deliberações, agora meras opiniões.3
Tais decisões são expedidas por órgãos responsáveis pela fase de controle do
respeito aos direitos humanos, como resultado de procedimentos iniciados por
3RAMOS, André de Carvalho. Processo internacional de direitos humanos. 5.ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
Para RAMOS4, os que sustentam o caráter não vinculante de tais decisões alegam
que falta disposição expressa sobre obrigatoriedade nos tratados, acrescentando
que a cooperação dos Estados para o cumprimento do DIDH seria mais facilmente
alcançável mediante o convencimento do que mediante coerção.
A segunda corrente, por seu turno, indica que a interpretação sistemática e finalística
dos tratados de direitos humanos deve ser feita em prol do aumento da carga protetiva,
já que os mesmos foram celebrados justamente para proteger o indivíduo e não para
dar vantagens materiais aos contratantes. Além disso, o poder de apreciar as petições
pelos Comitês foi conferido, em geral, graças à adesão à cláusula facultativa. Logo, o
Estado pode aderir ao tratado sem concordar com tais cláusulas, ficando imune ao
sistema de petições. Mas se expressamente aceita tal sistema seria ilógico considerar as
deliberações finais dos mesmos como meros conselhos ou recomendações.5
Se o Estado não a cumprir, o Estado terá violado uma nova obrigação internacional e
estará, já por isto, sujeito a nova responsabilização internacional, agora por
descumprimento de obrigação secundária. Assim, falta executividade a sentenças
internacionais. São obrigatórias mas não autoexecutáveis, ensina RAMOS. No
entanto, pode ocorrer a supervisão internacional do cumprimento de tais decisões,
para chegar-se ao seu cumprimento de boa-fé.
4 RAMOS, André de Carvalho. Processo internacional de direitos humanos. 5.ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
5 RAMOS, André de Carvalho. Processo internacional de direitos humanos. 5.ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
6 RAMOS, André de Carvalho. Processo internacional de direitos humanos. 5.ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
7 PIOVESAN, Flávia. Temas de direitos humanos. 11.ed. São Paulo: Saraiva, 2018.