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BLOG DO VLAD
16/05/2020
VLADIMIR
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18/05/2020 A convenção de Palermo contra o crime organizado – BLOG DO VLAD
1. Introdução
Se o século XX assistiu ao fortalecimento de várias organizações de tipo mafioso – fato que ocorreu
inclusive no Brasil, com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e outros grupos semelhantes –, o
século XXI significativamente se iniciou com um instrumento internacional de enorme importância
para o combate à delinquência organizada transnacional: a Convenção de Palermo.
Não foi por acaso que a Organização das Nações Unidas (ONU) elegeu a cidade siciliana de Palermo
como sede de sua conferência sobre crime organizado, realizada em dezembro de 2000. Em pleno
território da Cosa Nostra, foi assinada a Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade
Organizada Transnacional (United Nations Convention against Transnational Organized Crime), ou
UNTOC na sigla em inglês.
O simbolismo é evidente. Foi ali que em 1992 dois membros da magistratura do Ministério Público
italiano, Giovane Falcone e Paolo Borselino, foram chacinados pela Cosa Nostra, nos massacres de
Via Capaci e Via d’Amelio. Os atentados fatais foram uma represália dessa organização criminosa ao
chamado Pool Antimafia, que levou à prisão dezenas de mafiosi, inclusive o boss Salvatore Riina.
2. A Convenção de Palermo
c) o Protocolo Adicional Relativo à Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo, suas Peças,
Componentes e Munições.
Segundo o art. 37, a Convenção de Palermo pode ser completada por um ou mais protocolos Para se
tornar Parte num protocolo, um Estado ou uma organização regional de integração econômica deve
igualmente ser Parte da UNTOC. Os protocolos são facultativos para os Estados Partes da UNTOC.
Embora nos últimos quatrocentos anos tenham existido, em quase todo o globo, diferentes espécies
de grupos criminosos estruturados, foi no século XX que o crime organizado assumiu uma nova
dimensão, com a sua profissionalização. Estudiosos da sociologia, da economia e do direito passaram
a ocupar-se do tema, em suas mais variadas formas e manifestações.
Para a evolução do crime organizado, a globalização da economia teve e vem tendo grande
importância, na medida em que todo o aparato desenvolvido para a economia formal e para trocas
capitalistas legítimas foi apropriado por esquemas criminosos ao redor do globo. Crimes antes
praticados apenas no âmbito doméstico das nações passaram a ser cometidos também no plano
transnacional, em razão das facilidades da nova economia global. O tráfico de armas, de drogas, de
pessoas e órgãos e tecidos humanos, de animais silvestres e de bens culturais, junto com a
prostituição, a exploração de jogos de azar, a violação de direitos de autor e a biopirataria, são
negócios explorados pelas novas máfias e que produzem lucros assombrosos, maiores do que o
Produto Interno Bruto (PIB) de diversos países.
É evidente que as organizações criminosas, cada vez mais poderosas, acabariam procurando ganhos
de escala, para ampliação dos seus mercados consumidores de entorpecentes, de produtos
contrabandeados, de armas e outros bens e serviços ilícitos. Do mesmo modo, tais grupos não
deixariam de se valer dos sucessos da integração econômica mundial, decorrente das novas
tecnologias e dos cada vez mais eficientes sistemas globais de telecomunicações e de transportes. Essa
logística pensada para o mercado legítimo de produtos e serviços foi fundamental para a ampliação
do poder de tais organizações.
Componente principal de um dos mais importantes regimes globais de proibição, a UNTOC lida com
o direito penal, o direito processual, o direito administrativo e o direito internacional.
De acordo com a Convenção de Palermo, os Estados partes devem tipificar certos crimes em seu
ordenamento jurídico, como a associação em organização criminosa (art. 5º), a lavagem de dinheiro
(art. 6º), a corrupção (art. 8º) e a obstrução da justiça (art. 23). Devem também afirmar sua jurisdição
territorial ou extraterritorial para julgar tais crimes (art. 15), para os quais devem ser previstas penas
proporcionais e dissuasivas. Deve ser possível punir autores e coautores, assim como pessoas
jurídicas, sendo que estas, ao menos, no âmbito civil ou administrativo (art. 10). Este é o primeiro
grupo de dispositivos.
O segundo grupo de normas dispõe sobre os meios especiais de obtenção de prova e medidas de
proteção a vítimas, testemunhas, peritos e réus colaboradores. Entre as primeiras, estão a colaboração
premiada (art. 26), assim como as entregas vigiadas, a vigilância eletrônica e a infiltração policial (art.
20). Quanto às medidas protetivas, estas atendem vítimas (arts. 24.4 e 25), testemunhas (art. 24) e
colaboradores (art. 26.4).
O terceiro conjunto de dispositivos traz regras sobre congelamento ou bloqueio de bens, direitos e
valores ligados às atividades de organizações criminosas, para fins de eventual confisco. É o que se vê
nos arts. 12 e 13 da UNTOC, que cuidam, respectivamente, de normas sobre indisponibilidade,
perdimento e cooperação para confisco de ativos, assim como sobre sua destinação (art. 14).
No quarto agrupamento, estão as normas sobre assistência jurídica internacional em geral (art. 18),
extradição (art. 16), formação de equipes conjuntas de investigação (art. 19), transferência de
processos penais (art. 21), transferência de pessoas condenadas (art. 17) e repatriação de ativos (art.
13). Tais dispositivos formam um microtratado de cooperação internacional, que funciona como texto
subsidiário caso os Estados Partes da UNTOC não tenham acordos de extradição ou tratados de
Mutual Legal Assistance (MLA) específicos.
Por fim, há um conjunto de normas, o sexto, que contém dispositivos sobre assinatura e ratificação do
tratado e adesão a ele (art. 36), vigência (art. 38), emendas (art. 39), denúncia do tratado (art. 40),
solução de controvérsias (art. 35), depositário do tratado e línguas oficiais (art. 41). São as regras
gerais de DIP, presentes em qualquer tratado multilateral. O art. 32 cria e regula o funcionamento da
conferência das Partes, chamada COP, na sigla em inglês. O art. 34 reforça a necessidade de
cumprimento aos mandados expressos convencionais.
4. Implementação no Brasil
Desde a promulgação do Decreto 5.015/2004, a Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade
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18/05/2020 A convenção de Palermo contra o crime organizado – BLOG DO VLAD
Organizada está em vigor no Brasil. O texto de Palermo é completado por três protocolos adicionais,
que foram incorporados ao direito interno brasileiro, por meio dos Decretos n. 5.016 e 5.017, de 12 de
março de 2004. O terceiro protocolo foi promulgado pelo Decreto 5.941, de 26 de outubro de 2006.
– Decreto 5.015/2004
Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional,
relativo ao Combate ao Tráfico de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea;
– Decreto 5.016/2004
– Decreto 5.017/2004
Protocolo Adicional Relativo à Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo, suas Peças,
Componentes e Munições
– Decreto 5.941/2006
O tratamento da temática a que se refere esse complexo convencional deu-se de duas maneiras:
a) com antecedência, por influxos próprios do legislador nacional, por meio da Lei 9.034/1995, ou da
Lei 9.613/1998, ou da Lei 9.807/1999, ainda antes da conclusão da Convenção de Palermo;
Em vigor desde 2013, a Lei do Crime Organizado – Lei 12.850/2013 (LCO) procura implementar
alguns dos dispositivos de Palermo. O diploma trouxe o conceito legal de crime organizado e o tipo
penal de associação em organização criminosa, além de regular meios especiais de obtenção de prova
e criminalizar condutas que podem prejudicar a operacionalização ou utilização dessas técnicas.
A lei de 2013 detalhou o procedimento da maior parte das chamadas técnicas especiais de
investigação (TEI), muitas das quais instituídas, mas não elucidadas, pela Lei 9.034/1995, antiga lei de
organizações criminosas.
Subproduto de um debate iniciado em 2006 e que privilegiou alguns aspectos de boa legística
material, o texto da LCO foi confirmado pelo Senado no curso da sua agenda positiva – resultado dos
protestos populares de junho de 2013 – e foi sancionado pela presidente Dilma Rousseff em agosto de
2013. De autoria da senadora Serys Slhessarenko, o projeto originalmente aprovado pela Câmara Alta
era superior ao substitutivo chancelado pela Câmara dos Deputados, cuja redação prevaleceu.
Passados mais de seis anos de sua vigência, a Lei 12.850/2013 foi alterada pela Lei 13.964/2019 – Lei
Anticrime, sobretudo na disciplina da colaboração premiada, na introdução da infiltração policial
digital (a distância) e na exigência de maior rigor para o cumprimento de pena de membros de
organizeis criminosas.
Direta ou indiretamente, outras leis brasileiras cumprem o papel de normas implementadoras dos
mandados convencionais de Palermo, como a Lei de Lavagem de Dinheiro (1998), a Lei de Proteção a
Vítimas e Testemunhas (1999), a Lei de Tráfico de Drogas (2003) o Estatuto do Desarmamento (2006).
Procurador Regional da República, Professor de Processo Penal e pesquisador da área de lavagem de dinheiro,
criminalidade organizada e cooperação penal internacional. Ver todos os posts por Vladimir Aras
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