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Aula 3 – Responsabilidade civil

Pressupostos da responsabilidade civil – teoria subjetiva

Culpa “Lato Sensu”

Conceito, segundo a teoria subjetiva: “A reparação de danos injustos resultantes da


violação de um dever geral de cuidado”

A responsabilidade com ou sem culpa, nos remete a culpa lato sensu, que
engloba tanto o dolo, quanto a culpa estrita.

DOLO:
O dolo constitui uma violação ao dever jurídico, de maneira intencional, visando
o prejuízo de outrem. É uma ação ou omissão voluntária, conforme art. 186.

*Importante: Não podemos confundir o dolo da responsabilidade civil com o


dolo como defeito do negócio jurídico (ex.: vício de vontade).

O atual código civil, adotou a teoria da causalidade adequada, ou seja, o fato tem
que ter nexo de causalidade (causa + efeito).

“somente considera como causadora do dano as condições por si só aptas a


produzi-lo. Ocorrendo certo dano, temos de concluir que o fato que o originou era capaz
de lhe dar causa. Se tal relação de causa e efeito existe sempre em casos dessa natureza,
diz-se que a causa era adequada a produzir o efeito. Se existiu no caso em apreciação
somente por força de uma circunstância acidental, diz-se que a causa não era adequada”

Quanto à indenização, essa deve ser fixada de acordo com o grau de culpa dos
envolvidos, ou seja, segundo a sua contribuição causal, conforme art. 944 e 945 do c.c.
Dessa forma, existindo dolo, a reparação deve ser integral, sem qualquer redução;
tendo em vista que na maioria dos casos, não se pode falar na culpa concorrente da
vítima ou de terceiro, fazendo com que gere a redução concorrente por equidade da
indenização. Contudo, havendo à vítima do dano concorrido culposamente para
o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua
culpa em confronto com a do autor do dano.

Obs.: O dolo merece o mesmo tratamento da culpa grave ou gravíssima (culpa


lata).

Obs².: O princípio da reparação integral dos danos pode ser retirado do art. 944
c.c e do art. 6º, VI do CDC.
CULPA ESTRITA OU STRICTO SENSU:
A culpa pode ser conceituada como um desrespeito a um dever preexistente
(tanto derivado de culpa contratual, quanto extracontratual), não havendo
propriamente a intenção de violar o dever jurídico, que acaba sendo violado por
outro tipo de conduta.

Elementos na caracterização da culpa:

a. Conduta voluntária com resultado involuntário;


b. Previsão ou previsibilidade;
c. Falta de cuidado, cautela, diligência e atenção.

*Enquanto no dolo o agente quer a conduta e o resultado; a causa e a consequência - na


culpa a vontade não vai além da ação ou omissão, pois em que pese o agente queira a
conduta, não quer o resultado. DEVE SE RETIRAR DA CULPA O ELEMENTO
INTENCIONAL QUE ESTÁ PRESENTE NO DOLO.

A culpa estrita ainda é relacionada a três modelos jurídicos, retirados do art. 18


do código penal (Contudo, importante é ressaltar que para o direito civil não importa
se o autor agiu com dolo ou culpa, sendo a consequência inicial a mesma: imputação
do dever de reparação do dever de reparação do dano ou indenização dos prejuízos) :

 Imprudência: falta de cuidado + ação (art. 186);


 Negligência: falta de cuidado + omissão (art. 186);
 Imperícia: falta de qualificação ou treinamento de um profissional para
desempenhar uma determinada função (própria dos profissionais liberais, consta
do art. 951 do c.c, para os que atuam na área da saúde).

Os critérios para fixar a indenização são diferentes, os artigos 944 e 945 do


atual código civil, trazem à chamada redução equitativa da indenização (pode ser
chamada também de redução por equidade); consagram a teoria da causalidade
adequada.

Como regra geral para o direito civil, adota-se a teoria da culpa, segundo a qual
haverá obrigação de indenizar somente se houver culpa genérica do agente (teoria
subjetiva), sendo certo que o ônus de provar a existência de tal elemento cabe em regra
ao autor da demanda, conforme o art. 373 do CPC.
PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DA CULPA STRCTO SENSU:

1. Quanto à origem:
1.2 Contratual: Presente nos casos de desrespeito a uma norma contratual ou dever
anexo relacionado com a boa-fé objetiva e que exige uma conduta leal dos
contratantes em todas as fases negociais.

*desrespeito à boa-fé objetiva conforme enunciados nº 25 e 170: pode gerar


responsabilidade nas fases:
1.2.1. Pré-contratual: jurisprudência: vendedor que convidou para ver o carro
em outro estado, alegando que estava impecável, quando constatado como
inverídico pelo potencial comprador, que se deslocou com a família para vê-lo.
Vendedor arca com reparação da viagem.
1.2.2. Contratual;
1.2.3. Pós contratual: ex.: empresa fabricou o carro mas não fabricou peças
para manutenção.
1.3 Extracontratual (aquiliana): Resulta da violação de um dever fundado em
norma do ordenamento jurídico ou de um abuso de direito.
Ex.: acidente de trabalho, acidentes de trânsito...
“culpa contra legalidade é o comportamento do agente que viola as regras
impostas pela lei, contrato ou por regulamentos administrativos que objetivam
reduzir os riscos de determinada atividade. Para a sua aplicação correta é
fundamental a demonstração de que a infringência de tais regras representou a
causa do dano”.

2. Quanto à atuação do agente:


2.1. Culpa “in comittendo”: relaciona-se com a imprudência (ação ou omissão).
Ex.: motorista bêbado, em alta velocidade, comete um acidente de trânsito.

2.2. Culpa “in omittendo”: relaciona-se com a negligência (omissão). Ex.: médico
que esquece gaze na barriga do paciente após uma cirurgia.

3. Quanto ao critério da análise pelo aplicador do direito:


3.1. Culpa “in concreto”: é analisada a conduta de acordo com o caso concreto, o
que é sempre recomendável, tendo em vista o sistema adotado pelo código civil.

3.2. Culpa “in abstrato”: é levado em conta a pessoa natural comum (o critério do
homem médio).

As duas formas de culpa (in concreto + in abstrato) devem interagir entre si, ou seja,
deve-se analisar o caso concreto levando-se em conta a normalidade do comportamento
humano. Isso, para que a conclusão do aplicador do direito seja justa e razoável.
4. Quanto à sua presunção:
4.1. Culpa “in vigilando”: Haveria uma quebra do dever legal de vigilância. Ex.:
responsabilidade do pai pelo filho;

4.2. Culpa “in eligendo”: Era a culpa decorrente da escolha/ eleição feita pela
pessoa a ser responsabilizada. Ex.: responsabilidade do patrão por ato de seu
empregado.

4.3. Culpa “in custodiendo”: Decorria da falta de cuidado em se guardar uma coisa
ou animal.

Como está isso atualmente (Livro Flávio Tartuce, 2020):

Deve-se concluir, como parcela majoritária da doutrina, que não se pode falar mais
nessas modalidades de culpa presumida, são hipóteses anteriores de responsabilidade
subjetiva.

a. As hipóteses de culpa in vigilando e culpa in eligendo estão regulamentadas


pelo art. 932 do CC, consagrando o art. 933 a adoção da teoria do risco, ou
seja, que tais casos são de responsabilidade objetiva, não se discutindo
culpa. Nessa linha, propus enunciado na V Jornada de Direito Civil, assim
aprovado: “a responsabilidade civil por ato de terceiro funda-se na
responsabilidade objetiva ou independente de culpa, estando superado o
modelo de culpa presumida” (Enunciado n. 451).

b. No tocante à antiga culpa in custodiendo por ato de animal, o art. 936 do CC


traz responsabilidade objetiva do dono ou detentor de animal por fato danoso
causado, eis que o próprio dispositivo prevê as excludentes de responsabilidade
(culpa exclusiva da vítima e força maior), situação típica de objetivação,
conforme também reconhecido por enunciado aprovado na V Jornada de Direito
Civil (Enunciado n. 452). No que concerne à culpa in custodiendo por outras
coisas inanimadas (incluindo os produtos), os arts. 937 e 938 do CC e o próprio
Código de Defesa do Consumidor também consagram a responsabilidade sem
culpa (objetiva).

De início, na doutrina, vejamos as palavras de Anderson Schreiber: “o Código Civil


brasileiro de 2002 converteu em hipóteses de responsabilidade objetiva inúmeras
situações de culpa presumida a que a jurisprudência vinha dando um tratamento
rigoroso. É o que se verifica na responsabilidade por fato de terceiro, como a dos pais
pelos atos dos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia
(art. 932, inciso I), ou a já mencionada responsabilidade dos tutores e curadores, por
pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições (art. 932, inciso II).
Também foi o que ocorreu com a responsabilidade por fato de animais, em que se
eliminou a excludente fundada na demonstração de que houvera guarda e vigilância do
animal ‘com cuidado preciso’, constante da codificação de 1916”.21 No mesmo sentido,
as lições de Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, em sua tese de livre-docência,
defendida na Universidade de São Paulo: “o colossal art. 933 do novo Código, em
caráter coadjuvante, determina que as pessoas indicadas no artigo antecedente (os pais,
o tutor, o curador, o empregador) responderão pelos atos daqueles indicados e a eles
relacionados (os filhos menores, os pupilos, os curatelados e os empregados), ainda que
não haja culpa de sua parte. Trata-se da tão ansiada transição da culpa presumida e
do ônus probatório invertido para uma objetivação efetiva dessa responsabilidade
in casu”. Outros doutrinadores nacionais, em reforço, veem com bons olhos a superação
do modelo anterior, não se falando mais em culpa presumida em tais situações, mas em
responsabilidade sem culpa (objetiva).

A partir dessas ideias, deve ser tida como totalmente cancelada, doutrinariamente,
a Súmula 341 do STF, mediante a qual seria presumida a culpa do empregador por ato
do seu empregado. Na verdade, o caso não é mais de culpa presumida, mas de
responsabilidade objetiva (arts. 932, inc. III, e 933 do CC). Espera-se que o STF
efetivamente cancele a citada Súmula 341, para que não pairem dúvidas entre os
aplicadores do Direito, especialmente diante da suposta força vinculativa das súmulas
dos Tribunais Superiores, reconhecida por vários dispositivos do CPC/2015.

Qual seria a diferença prática entre a culpa presumida e a responsabilidade


objetiva, tema que sempre gerou dúvidas entre os aplicadores do Direito?

De comum, tanto na culpa presumida como na responsabilidade objetiva, inverte-se


o ônus da prova, ou seja, o autor da ação não necessita provar a culpa do réu. Todavia,
como diferença fulcral entre as categorias, na culpa presumida, hipótese de
responsabilidade subjetiva, se o réu provar que não teve culpa, não responderá. Por seu
turno, na responsabilidade objetiva essa comprovação não basta para excluir o dever de
reparar do agente, que somente é afastado se comprovada uma das excludentes de nexo
de causalidade, (culpa ou fato exclusivo da vítima, culpa ou fato exclusivo de terceiro,
caso fortuito ou força maior).

5. Quanto ao grau de culpa:


5.1. Culpa Lata (ou grave): há uma negligência ou imprudência grosseira. Embora
o agente até não quisesse o resultado, ele agiu com tanta culpa que até parecia que
queria. O efeito é o mesmo do dolo, ou seja, o ofensor deverá pagar indenização
integral (culpa lata dolo aequiparatur – a culpa grave equipara-se ao dolo). Não
havendo culpa concorrente da vítima ou de terceiro, não faz jus à aplicação da
redução proporcional da indenização dos arts 944 e 945 c.c.

5.2. Culpa leve (ou média): é a intermediária. Nessa situação a conduta se


desenvolve sem a atenção normalmente devida. Utiliza-se como padrão a pessoa
humana comum (culpa in abstrato). Havendo culpa intermediária e concorrente em
relação a terceiro ou à própria vítima, merecem aplicação os arts. 944 e 945 do CC,
pelos quais a indenização mede-se pela extensão do dano e pelo grau de culpa dos
envolvidos. E mais: havendo excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o
dano poderá o juiz reduzir equitativamente a indenização, especialmente se a vítima
tiver concorrido para o evento danoso.

5.3. Culpa levíssima: é o menor grau possível, situação em que o fato só teria sido
evitado mediante o emprego de cautelas extraordinárias ou de especial habilidade
(não poderia ser observada nem mesmo por um diligentíssimo chefe de família). No
Direito Civil, em regra, responde-se inclusive pela culpa levíssima, porque se tem
em vista a extensão do dano (art. 944 do CC). Continua valendo, portanto, aquele
antigo norte romano, baseado no brocardo in lex Aquili et levíssima culpa venit, ou
seja, “na lei aquiliana, até a culpa levíssima é levada em consideração”. No
entanto, presente a culpa levíssima, a indenização a ser paga deverá ser
reduzida mais ainda, eis que o art. 945 do CC enuncia que a mesma deve ser
fixada de acordo com o grau de culpabilidade.

Essencialmente, no que interessa aos danos morais, o grau de culpa deve


influir no quantum indenizatório arbitrado, por não se tratar de um
ressarcimento em sentido estrito, mas de uma compensação satisfativa (reparação).
Ademais, o grau de culpa exerce influência na questão de causalidade, o que traz a
conclusão de que não se pode diferenciar o tratamento diante da modalidade de dano
presente.

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