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Washington Luís Vieira da Silva et al.

MetalurgiaMetallurgy
e materiais
and materials

Desenvolvimento de modelo de
seleção de materiais metálicos
aplicando uma abordagem
logística - o caso de empresas
do setor minerometalúrgico
Development of a metallic material selection
model by applying a logistic approach - the case
of a company in the mining metallurgist sector

Washington Luís Vieira da Silva Resumo


Professor do Departamento de
Engenharia de Produção e Doutorando A logística, ao longo do tempo, tornou-se processo determinante para a
UFOP - Escola de Minas sobrevivência das empresas em função dos seus aspectos. Os aspectos logísticos
Departamento de Engenharia de Produção são responsáveis pelo fluxo de materiais e de informações, desde o fornecedor até
wlvsilva@hotmail.com o consumidor, e impactam, diretamente, no desempenho das empresas, bem como
no custo dos produtos e serviços que oferecem. Isso é razão suficiente para sugerir a
Zirlene Alves da Silva Santos adição dos aspectos logísticos nas ferramentas de análise e seleção de materiais. Esse
Professora do Departamento de estudo tem como objetivo apresentar o desenvolvimento de um modelo de seleção
Engenharia de Produção e Doutoranda de materiais metálicos que considera os aspectos logísticos no processo de decisão.
UFOP - Escola de Minas Para isso, utilizou-se uma adaptação da rede PERT (Program Evaluation and Review
Departamento de Engenharia de Produção Technique), relacionando-se indicadores da variável seleção de materiais com os da
zassantos@gmail.com variável logística. Implementamos o nosso modelo e apresentamos a especialistas de
empresas do setor minerometalúrgico com fins de validação. Esses relataram que não
André Luis Silva possuem sistema gerencial que realize processo de seleção utilizando informações do
Professor do Departamento de material com informações logísticas. Assim, consideraram o modelo proposto um
Engenharia de Produção e Doutorando importante instrumento de tomada de decisão gerencial.
UFOP - Escola de Minas
Departamento de Engenharia de Produção Palavras-chave: Seleção de materiais, logística, setor minerometalúrgico.
andreluismg@gmail.com
Abstract
Adilson Rodrigues da Costa
Professor do Departamento de Logistics has become a decisive process for the survival of companies. Logistic
Engenharia Metalúrgica e de Materiais e aspects are responsible for the flow of materials and information from the supplier
Orientador de Doutorado. to the consumer, and have a direct impact on the performance of companies, as well
UFOP - Escola de Minas as on the costs of the products and services they offer. This is enough to justify the
Departamento de Engenharia addition of logistic aspects as tools for analysis and material selection. This work
Metalúrgica e de Materiais aims at presenting the development of a model for the selection of metallic material,
adilson@em.ufop.br which considers the logistic aspects on the decision process. For this reason, we have
used an adaptation of the PERT net (Program Evaluation and Review Technique),
relating indicators of variables from material selection with those from logistics. For
the purpose of validation, we then implemented the model and presented it to experts
of the mining-metallurgical sector. These experts had previously reported a lack of
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Desenvolvimento de modelo de seleção de materiais metálicos aplicando uma abordagem logística - o caso de empresas do setor minerometalúrgico

management systems that support the selection process relating to material and logis-
tic information. As a result, they considered the proposed model to be an important
instrument for undertaking managerial decisions.

Keywords: Material selection, logistics, mining-metallurgical sector.

1. Introdução
Com o passar dos anos, a seleção de des ou desejos de pessoas ou organiza- cativo dos custos. A seleção do melhor
materiais se tornou etapa imprescindível ções”. Segundo Barnett e Clark (1998), material envolve um grande número de
do projeto e da fabricação de novos pro- os produtos têm uma vida útil limitada fatores, como os requisitos funcionais
dutos, sendo alvo de estudos de entidades e precisam ser aperfeiçoados, desenvol- do produto, propriedades dos materiais
públicas e privadas, devido à sua grande vidos e inovados, se a empresa deseja que especificam esses requisitos, o custo
importância econômica. É estimado que manter-se competitiva. e o processo de fabricação (Ljungberg
haja mais de 80.000 tipos de materiais Lobach (2001), Roozemburg e & Edwards, 2003; Deng & Edwards,
no mundo incluindo vários tipos de ligas Eekels (1995), Pahl et al. (2005)
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e Ro- 2007). Dessa forma, objetiva-se apresen-
metálicas e não-metálicas (Chatterjee et zenfeld et al. (2006) abordam o Processo tar o desenvolvimento de um modelo de
al., 2011). A partir desse número de ma- de Desenvolvimento de Produtos (PDP) seleção de materiais metálicos que con-
teriais disponíveis, necessidades específi- como sendo atividades, etapas e decisões sidere os aspectos logísticos no processo
cas para cada projeto fazem do processo que envolvem o projeto de desenvolvi- de decisão.
de seleção de materiais um desafio para mento de um novo produto ou serviço, Ao analisar os modelos de seleção
as empresas. Logo, a seleção de materiais ou a melhoria em um já existente, desde de materiais criados pelos teóricos Dieter,
passa a ser uma prática realizada pelas a idéia inicial até a construção final do Callister e Ashby, verificou-se a necessida-
empresas que desenvolvem ou aprimo- produto, com o objetivo de sistematizar de de ferramentas gerenciais para auxiliar
ram seus produtos, no sentido de asse- esse processo. Durante o desenvolvimen- o projetista no processo de seleção de ma-
gurar a qualidade, a funcionalidade, o to de um determinado produto, é neces- teriais. Diante disso, escolhe-se a logística,
desempenho e a redução dos custos em sário selecionar um material apropriado por ser uma área da gestão responsável
todas as etapas do projeto do produto. frente a diferentes requisitos do produto pelo fluxo de materiais e pelas informa-
Back et al. (2008, p. 25) definem produto e propriedades dos materiais. Todavia, ções do fornecedor ao consumidor final,
como “um objeto concebido, produzido caso a escolha do material seja inade- a qual oferece condições ao projetista de
industrialmente com determinadas ca- quada, tal fato pode ocasionar, para a avaliar, no processo de seleção, aspectos
racterísticas e funções, comercializado e empresa, graves consequências, desde a que são decisivos no fluxo do material em
usado de modo a satisfazer as necessida- falha do produto até o aumento signifi- toda cadeia de suprimentos da empresa.

Modelos de seleção de materiais

Para iniciar um projeto de um pro- sentada pelo produto final. Também leção de materiais envolve as seguintes
duto, ou um estudo de um novo pro- direciona o processamento para atender etapas: projeto do componente, análise
cesso, é necessário selecionar materiais a essas necessidades. Na década de 80, de materiais e processamento. Percebe-
adequados que estabeleçam uma relação Dieter apud Assunção (1999) desenvol- se que o modelo proposto por Callister é
de processamento, estrutura, proprieda- veu seu modelo de estudo na área de um desdobramento daquele de Dieter. A
de, desempenho e que atendam as exi- materiais, o qual serviu de base para a diferença principal entre os modelos está
gências do consumidor final. Estabelecer formulação de estudos mais recentes, no enfoque e nas ferramentas utilizadas
uma relação entre esses componentes utilizados em várias empresas e centros para se atingir um número de materiais
não é tarefa fácil. É necessário conhe- de pesquisa. Assim, Dieter organiza o possíveis. Em função desses fatores,
cer a estrutura química do material, seu processo de seleção de um material em julga-se importante analisar-se o mode-
arranjo atômico, seu fator de empaco- três etapas: análise dos requisitos fun- lo proposto por Ashby et al. (2007), no
tamento cristalino, suas propriedades cionais para os materiais, eliminação de qual os autores sistematizaram e agrupa-
físicas e mecânicas. Tem-se, ainda, de se materiais e processos candidatos e sele- ram em um banco de dados propriedades
conhecer a função a ser desempenhada ção de materiais candidatos. Segundo de materiais e vários estudos de caso. A
pelo produto final. Callister (2006), existem outros critérios criação desse banco de informações per-
Para Ashby et al. (2007), a seleção importantes que devem ser levados em mitiu aos profissionais da área visualizar
de materiais envolve, entre outros itens, consideração no desenvolvimento de no- o equilíbrio entre necessidades do mer-
a análise do projeto do produto, comu- vos produtos para maximizar a chance cado, possibilidades dos processos de fa-
mente chamado de design. Essa análise de tal produto se tornar comercializável. bricação e propriedades dos materiais. A
é feita levando em consideração qua- Vários desses critérios são de natureza aplicação desse modelo se dá por meio de
tro fatores essenciais: material, função, econômica e, de certa forma, não es- duas etapas: etapa de eliminação e etapa
processo e forma. Quando se projeta o tão relacionados a princípios científicos de informações complementares. Os re-
produto, o projetista analisa os materiais ou a práticas de engenharia, entretanto sultados da etapa de eliminação são exi-
que entram na fabricação do produto, são relevantes para a competitividade bidos sob a forma gráfica, nos chamados
relacionando a forma e a função apre- do produto. Para Callister (2006), a se- mapas das propriedades dos materiais.
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Esses mapas representam uma das gran- materiais quanto às suas propriedades dos produtos. Na etapa de informações
des contribuições do modelo de Ashby específicas, as quais apresentam valor complementares, são avaliadas questões
para as pesquisas em seleção de mate- para o processo de seleção e, consequen- referentes a custos, disponibilidade, for-
riais, uma vez que relacionam inúmeros temente, para as características finais necedores, manuseio, entre outras.

Aspectos logísticos
Os aspectos logísticos compreen- custo. As empresas, em busca de suces- da de sistemas de informação, das quais
dem o tempo do ciclo do pedido, prazo so nos mercados em que atuam, devem se destacam: melhoria no acesso às in-
de entrega, quantidade mínima e máxi- aplicar a logística de forma integrada formações e criação de relatórios mais
ma para compra, tipo de transporte, pre- por toda a cadeia de suprimentos. Se- rápidos; melhoria nas tomadas de deci-
ço do frete, entre outros. Ao analisar os gundo Bowersox e Closs (2001), a logís- sões, através do fornecimento de infor-
aspectos logísticos, no processo de sele- tica integrada é vista como a competên- mações mais rápidas e precisas; forneci-
ção de materiais, para o desenvolvimento cia que vincula a empresa a seus clientes mento de melhores projeções dos efeitos
do produto, o projetista evita que acon- e fornecedores. Esse vínculo deve levar das decisões; melhoria na estrutura
teçam graves problemas para a empresa, à integração das operações internas da organizacional, por facilitar o fluxo de
como, por exemplo: atraso na entrega, corporação como compras, gerencia- informações; melhoria da adaptação
indisponibilidade do material, transporte mento de estoques e produção. Em sua da empresa para enfrentar os aconteci-
inadequado, aumento do preço do frete, obra, Fleury (2000) afirma que, para se mentos não previstos a partir das cons-
fornecedores ineficientes, entre outros. gerenciar a logística de forma integra- tantes mutações nos fatores ambientais;
Nesse sentido, os aspectos logísticos pas- da, ela deve ser tratada como um siste- otimização na prestação dos serviços
sam a assumir valor estratégico para o ma. Esse sistema permite à gerência ter aos clientes; redução dos custos opera-
bom desempenho das corporações nos uma visão completa do processo logís- cionais da mão-de-obra administrativa.
mercados onde atuam. tico da corporação, cobrindo estoques, Empresas do setor minerometalúr-
De acordo com Christopher emissão de papéis, entregas, transporte, gico estão cada vez mais aderindo aos sis-
(2001), a logística é o processo de ge- entre outras atividades já mencionadas. temas logísticos para conseguir competir
renciar, estrategicamente, aquisição, Resumidamente, são esses sistemas que no mercado nacional e internacional. Tal
movimentação e armazenagem de qual- possibilitam o fluxo de informações fato reforça a ideia proposta nesse estu-
quer tipo de material, através da organi- necessárias para se fazerem previsões e do, ou seja, a ideia de que é necessário
zação e através da utilização dos canais para se darem respostas em tempo há- inserir os aspectos logísticos, no processo
de marketing, de modo a maximizar a bil a clientes e fornecedores. Na obra de de seleção de materiais metálicos, para
lucratividade presente e futura através Oliveira (2001, p.45), são apresentadas que as empresas desse setor tornem-se
do atendimento dos pedidos a baixo várias vantagens da utilização apropria- mais competitivas.

2. Metodologia

A partir do fluxo ilustrado na Fi- para compor o modelo. Na sexta etapa, os aspectos logísticos como critério de
gura 1, observam-se, de forma sequen- elaborou-se, em forma de fluxograma, o seleção. A Figura 1 resume as etapas que
ciada, as etapas que foram necessárias modelo teórico por meio dos indicadores foram necessárias para a realização da
para a realização da pesquisa. A etapa selecionados. Na sétima etapa, discutiu- pesquisa.
inicial foi a formulação do problema de se o modelo e se verificou a necessidade No questionário, contemplou-se in-
pesquisa, onde se realizou uma interface de otimizá-lo, aplicando, novamente, a formações referentes aos principais mate-
entre a área de seleção de materiais e a rede PERT, originando, assim, mais duas riais metálicos adquiridos; quantidade de
logística. Em seguida, foram elaborados redes e dois fluxos. O último fluxograma fornecedores para cada material; à função
os objetivos geral e específicos. Na ter- elaborado definiu o modelo otimizado e exercida pelo material adquirido; às espe-
ceira etapa, fez-se o estudo teórico, como este foi traduzido em modelo computa- cificações dos materiais exigidos na aquisi-
forma de conhecer o estado da arte so- cional, para se verificar a possibilidade de ção; ao processo de seleção realizado pela
bre as áreas de interface, seleção de ma- interrelação entre os indicadores presen- empresa; ao uso de informações logísticas
teriais e logística. Na quarta etapa, por tes no modelo teórico. A oitava etapa foi na seleção do material; aos detalhes ad-
meio do estudo teórico, determinou-se direcionada para a elaboração do ques- vindos dos catálogos; à visão da empresa
o quadro geral de variáveis e indicado- tionário, com o intuito de se verificar, na sobre um sistema que selecione ao mesmo
res. Aplicou-se, na quinta etapa, a rede nona etapa, como as empresas do setor tempo, material e fornecedor, a partir da
PERT para selecionar a partir do quadro minerometalúrgico selecionam seus ma- interrelação entre informações técnicas do
de variáveis e indicadores, os candidatos teriais e de como tais empresas utilizam material e informações logísticas.

3. Resultados e discussões
Para a discussão dos resultados ção a visão das empresas do setor mine- de treze indicadores da variável seleção
abordou-se a elaboração da rede PERT, rometalúrgico em relação ao modelo. de materiais, dos quais, nove foram se-
do modelo teórico, do modelo computa- As discussões baseadas na funda- lecionados para compor a rede inicial,
cional. Também levou-se em considera- mentação teórica levaram à identificação enquanto para a variável logística foram
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Desenvolvimento de modelo de seleção de materiais metálicos aplicando uma abordagem logística - o caso de empresas do setor minerometalúrgico

Formulação do problema: modelo de seleção de


materiais metálicos aplicando uma abordagem logística Elaboração dos objetivos geral e específicos

Determinação do quadro de variáveis e indicadores Criação de uma base teórica sobre


Seleção de Materiais x Logística

Aplicação da rede de indicadores e PERT para


selecionar os indicadores presentes no modelo Elaboração do fluxograma do modelo

Elaboração do questionário para aplicação em


empresas do setor minerometalúrgico Elaboração do modelo teórico e computacional

Verificação de como se dá o processo de seleção


de materiais das empresas e de como elas Figura 1
utilizam o aspecto logístico nesse processo
Etapas para a realização da pesquisa.

identificados vinte e nove e selecionados responsáveis pela elaboração do modelo representa a caixa de materiais candida-
para rede inicial vinte e dois. Posterior- teórico em forma de fluxograma. tos que faz conexão com a caixa fornece-
mente numa segunda fase, rede 2, foram Observa-se, na Figura 2, a interação dores candidatos, pertencente à variável
selecionados dez indicadores, e, na última entre os indicadores I1-I9, os quais repre- logística, com a finalidade de continuar
fase, rede 3, selecionaram-se sete, para sentam a variável seleção de materiais e a o fluxo e selecionar os materiais por meio
se comporem os indicadores da variável interação entre os indicadores I10-I21, os da varredura do banco de dados da vari-
logística na rede final. Como observado, quais, por sua vez, representam a variável ável logística. O fluxo, a partir da caixa
as etapas de seleção de indicadores, atra- logística. A interação dos indicadores da fornecedores candidatos, prossegue com
vés das redes 1, 2 e 3, possibilitaram a variável seleção de materiais resulta no as etapas: localização, tipo de transporte,
redução de treze para nove indicadores indicador I9, materiais candidatos, en- preço do frete, tempo de ciclo de pedido,
para compor o modelo da variável sele- quanto que o indicador I10, fornecedores quantidade mínima e máxima para com-
ção de materiais e uma redução de vinte candidatos, é o resultado da interação da pra, prazo de entrega, resultando nas cai-
e dois para sete da variável logística para variável logística. xas materiais selecionados e fornecedores
compor o modelo, totalizando dezenove O fluxo, representado pela Figura selecionados. A Figura 3 corresponde ao
eliminados a partir da aplicação da rede 3, inicia-se pela caixa seleção de mate- fluxograma do modelo em função dos in-
PERT. A proposta de utilizar as redes riais, seguindo-se as seguintes etapas: dicadores selecionados a partir da Rede
foi gerar a interrelação entre as variá- função a ser desempenhada pelo ma- PERT-3.
veis para a formação do fluxograma que terial, materiais metálicos cadastrados O modelo teórico foi traduzido em
traduz o modelo proposto, tendo, como (especificações), vida útil do material, modelo computacional. Nesse modelo
resultado final, os materiais candidatos e propriedades, especificações do produto computacional, foi utilizado o programa
seus respectivos fornecedores. A Figura 2 e processo. O resultado da avaliação pre- Microsoft Office Access 2007, ilustrado
ilustra a rede 3, resultado da otimização liminar, a partir da varredura do banco na Figura 4. Pode ser observado que cada
das redes 1 e 2, e apresenta indicadores de dados da variável seleção de materiais, caixa representa indicadores que, auto-

I1
I11
I2
I13
I3
I7
I9 I10 I14 I21
I4
I8

I15
I5
I16
I6
1. Variável – seleção de materiais 2. Variável – logística
I1 - Função desempenhada pelo produto I10 - Fornecedores candidatos
I2 - Especificações físicas do produto I11 - Origem do material
I3 - Tipo de processo I13 - Tipo de transporte utilizado
I4 - Caracterização da Estrutura do Material I14 - Preço do frete
I5 - Propriedades esperadas da matéria-prima I15 - Prazo de Entrega Figura 2
I6 – Fabricação I16 - Quantidade mínima e máxima para compra Variáveis e indicadores.
I7 - Vida útil do material I21 - Tempo de ciclo do pedido Rede PERT-3 - relação entre
I8 - Critérios de desempenho do produto final as variáveis Seleção de
I9 – Materiais Candidatos. Materiais x Logística.
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Seleção de Logística
materiais

Materiais metálicos
Função Vida útil
cadastrados
(Especificação) do material

Processo Especificação
Propriedades
do produto

Materiais Logística Fornecedores


candidatos candidatos

Tipo de
Preço do frete Localização
transporte

Quantidades
Tempo do ciclo
mínima e máxima Prazo de entrega
do pedido
para compra

Figura 3
1º Fluxograma elaborado Materiais Fornecedores
do modelo a partir da Rede PERT -1. selecionados selecionados

Processo 6 Especificação 4
id_processo 1
Propriedade 5 1 id_especificação
id_propriedade composição_química
descrição
resistência comprimento
id_propriedade limite_ruptura
modulo_elasticidade largura
viscosidade peso
resiliência espessura
densidade
id_especificação
id_material

Produto 3 1
Função 2
id_função
id_produto descrição
descrição id_material
id_função
11
Material 1
id_material
Preço 7 descrição
Localização-Transporte 8 1 id_preço
vida-útil
id_localização_transporte valor_km
id_transporte id_material
id_localização id_localização_transporte
Transporte 9
1 id_transporte
descrição
Material_Localização 12
id_material_localização

1
Localização 10 1
id_material
id_localização id_localização
Fornecedor 11 1 endereço quantidade_mínima
Figura 4 id_fornecedor
nome
id_fornecedor
quantidade_máxima
prazo_entrega
Protótipo do modelo desenvolvido. CNPJ clico_pedido

maticamente, foram interrelacionados ou a relação computacional é apresenta- cações pertinentes ao material. A caixa
entre si, formando um banco de dados, do pela simbologia 1→∞, isso quer dizer 4 está vinculada às caixas 1 e 5. A cai-
o qual auxilia na seleção dos materiais que o material da caixa 1 pode obter xa 5 (propriedades) representa o campo
candidatos e oferece uma melhor relação n resultados da interação com a caixa de cadastro das principais propriedades
entre as variáveis seleção de materiais e 2,4,7 e 8. Outra forma de apresentar a do material, como: resistência, limite de
logística. relação é verificar, nas caixas que estão ruptura, módulo de elasticidade, viscosi-
As caixas foram enumeradas de 1 interligadas à caixa 1, a palavra id_do dade, entre outras. A caixa 5 está vincu-
a 12, com a finalidade de facilitar a dis- material. Segue a mesma explicação para lada às caixas 3 e 6. A caixa 6 (processo)
cussão do modelo computacional. A cai- as demais caixas em relação aos vínculos indica o campo para o cadastramento
xa 1 (material) representa a descrição do estabelecidos. A caixa 2, intitulada fun- dos principais processos que envolvem
material a ser introduzido no banco de ção apresenta o campo “função desem- os materiais. A caixa 7 (preço) destaca o
dados com o valor de vida útil, a qual é penhada do material”. Esta, por sua vez, campo de cadastro do preço do material
especificada dentro da caixa por id_ma- está vinculada às caixas 1 e 3. A caixa em função do valor da quilometragem.
terial. Adicionou-se ao campo id_mate- 3 (produto) representa o campo das es- A caixa 7 possui vínculo com as caixas
rial uma chave primária para possibilitar pecificações do produto final. A caixa 4 1 e 8. A caixa 8 (localização_transporte)
a localização desse campo no sistema (especificação) contempla as informações é o campo de conexão que possibilita o
global, tanto na fase de seleção, quanto em relação: à composição química, ao vínculo entre as caixas 7, 9 e 10, forma
no cadastramento. A caixa 1 possui vín- comprimento, à largura, ao peso, àes- encontrada para se manter a relação en-
culo com as caixas 2,4,7 e 8. O vínculo pessura, à densidade e à outras especifi- tre as demais caixas e, dessa forma, fa-
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vorecer o resultado esperado. A caixa 9 concentrada em dois segmentos princi- os seguintes procedimentos de seleção:
(transporte) lista os meios de transporte pais: níquel e zinco, com produção vol- análise de especificação técnica, teste
utilizados para distribuir os materiais. A tada para o abastecimento do mercado laboratorial, teste industrial, normas
caixa 9 possui vínculo com a caixa 8. A nacional e internacional. A empresa B ISO, avaliação comercial e avaliação
caixa 10 (localização) representa o cam- é uma empresa brasileira de mineração, logística. A avaliação logística reali-
po de cadastro das localidades dos for- de capital fechado, produtora de pelotas zada pela empresa C é baseada apenas
necedores, especificando os endereços e de minério de ferro. A empresa C é líder no aspecto custo, sendo que os ou-
possui vínculo com a caixa 11 (fornece- mundial na produção de minério de ferro tros fatores não são verificados, pois
dor) - espaço reservado para o cadastro e pelotas, sendo a segunda maior produ- o transporte é de responsabilidade do
dos fornecedores com seus respectivos tora de níquel no mercado internacional. fornecedor e o preço está diluído nas
CNPJ’s ou demais informações que as Já a empresa D é uma multinacional ca- condições do contrato consolidado,
empresas necessitarem no momento do nadense e atua na exploração de minério enquanto a empresa D considera, na
cadastro do fornecedor. A caixa 10 pos- de ouro desde 2007. avaliação, o custo de transporte. Foi
sui vínculo, também, com as caixas 8 e O processo de seleção de mate- perguntado para as empresas se algum
12. A caixa 12 (material_localização) é riais adotado pela empresa A segue os fornecedor disponibilizou catálogo
um campo que estabelece uma relação seguintes procedimentos: análise e es- ou qualquer instrumento que possua,
entre as informações das caixas 10 e 1 - pecificação técnica, teste laboratorial, além das informações sobre o mate-
fechando o ciclo do sistema, favorecendo teste industrial, normas ISO, avalia- rial e sobre as informações logísticas.
a interrelação entre todos os indicadores ção comercial e avaliação logística. É Os especialistas das empresas respon-
do modelo, incluindo, também, nesse importante observar que, para a ava- deram que nunca fora disponibilizado
campo, as seguintes informações: quan- liação logística, a empresa A utiliza o tal instrumento com as informações
tidade mínima e máxima para compra, mesmo critério da avaliação comercial. relacionadas (Seleção de Materiais x
ciclo de pedido e prazo de entrega. O mo- A empresa B adota, no processo de se- Logística). Além disso, o entrevistado
delo computacional ilustrado na Figura 4 leção, os procedimentos de análise de da empresa. A reforça o potencial des-
demonstra a partir dos vínculos que o especificação técnica e avaliação co- se instrumento como facilitador dos
modelo teórico pode ser aplicado em um mercial. Em se tratando da avaliação processos de tomada de decisão envol-
sistema computacional. logística, a empresa B explica: “que vendo seleção e aquisição de materiais.
Após elaborado o modelo, optou-se essa avaliação não é referência para Já o da empresa B confirma a tendência
em direcionar para quatro empresas do seleção, visto que atualmente possui de que empresas que ainda não utili-
setor minero metalúrgico um questioná- contrato com empresa de transporte zam tal instrumento possuem interesse
rio com o propósito de verificar como que tem pontos de recolhimento em na proposta. Portanto mostra-se que o
essas empresas realizam o processo de toda extensão nacional, desde que haja desenvolvimento do modelo proposto
seleção de materiais metálicos e se utili- o atendimento no prazo necessário, apresenta uma importância significati-
zam dos aspectos logísticos como critério o fator logístico não é predominante va, tanto para as empresas, como para
de seleção. A empresa A tem sua atuação para a empresa B”. A empresa C utiliza a área de seleção de materiais.

4. Conclusões

A principal motivação para o estu- entre a seleção de materiais e a logística. priedades e avaliar os aspectos logísticos
do foi desenvolver um modelo de seleção Demonstrou-se que esta interface é pos- inerentes à sua aquisição. Assim, obser-
de materiais metálicos que associasse aos sível e que contribui, significativamente, vou-se, nesse estudo, a necessidade de
modelos consolidados da seleção de ma- para o processo de seleção de materiais, as empresas reforçarem suas estratégias
teriais os aspectos logísticos. Dessa for- pois oferece condições ao usuário de es- e procedimentos de seleção de materiais
ma, buscou-se estabelecer uma interface colher o material, a partir de suas pro- para projetar e elaborar seus produtos.

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Artigo recebido em 27 de junho de 2011. Aprovado em 21 de novembro de 2011.

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 65(2), 225-231, abr. jun. | 2012 231

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