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O morrer social: suas implicações subjetivas nas relações sócias de um auxiliar de

autopsia

INTRODUÇÃO

Neste presente artigo iremos tratar sobre a influência de alguns aspectos da profissão do
Perito Criminal na construção e modificação da subjetividade deste indivíduo e sua
relação com a realidade concreta. Com base nisso, buscamos compreender as formas
como a relação de trabalho e morte é vivenciada por este indivíduo e, em que aspectos
essas vivências constituem elementos significativos de sua identidade individual, suas
relações sociais cotidianas, com familiares e amigos, a mudança da percepção da
dinâmica social que implica esta relação com o corpo sem vida e a consideração de tudo
o que abrange este corpo até sua chegada ao IML. E tem como objetivo de delinear essa
dimensão subjetiva deste fenômeno social que é a morte e a implicação desta na relação
Indivíduo/ Sociedade.

Referencial teórico

- trabalho e subjetividade

“Homem e sociedade vivem, portanto, uma relação de mediação, em que cada


pólo expressa e contém o outro, sem que nenhum deles se dilua no outro ou
perca sua singularidade. Dessa forma, a tarefa da Psicologia reside justamente
na tentativa de compreender esse indivíduo em sua singularidade,
singularidade essa que contém tanto a internalização como a expressão de sua
condição histórica e social, sua ideologia e relações vividas. O resgate da
singularidade do sujeito consiste, em última instância, na apreensão do
processo particular pelo qual se dá a construção de sua consciência”

“Segundo o mesmo autor, a realidade objetiva não depende de um homem em


particular: ela preexiste e, nessa condição, passará a fazer parte da
subjetividade de cada homem em particular. Nesse momento, ao mesmo
tempo que é realidade objetiva, inde- pendente do sujeito em particular, ela “se
nega enquanto tal” (como realidade objetiva), justamente porque passa a ser
realidade subjetiva. Na passagem de “fora” para “dentro”, a realidade objetiva,
como coloca o autor, transforma-se: “representa o objetivo no subjeti- vo, uma
forma particular de existir do mundo exterior no interior” (1978, p. 98). Nega-se,
assim, a dicotomia objetividade-subjetividade, que passa a ser vista em uma
relação de mediação, na qual um existe por intermédio do outro, sem que um
se dilua no outro, perdendo sua identidade.”

“Os signos, entendidos como instrumentos convencionais de natureza social,


são os meios de contato com o mundo exterior e, também, do homem consigo
mesmo e com a própria consciência. As palavras desempenham um papel
central não só no desenvolvimento do pensamento, mas também na evolução
histórica da consciência como um todo. Uma palavra é um microcosmo da
consciência humana. (Vygotski, 1993, p.132)”

“corpo por meio da fala, e só é fenômeno da fala na medida em que a palavra


está ligada ao pensamento, sendo iluminada por ele” (Freitas, 1994, p.94). A
linguagem é, portanto, instrumento fundamental no processo de mediação das
relações sociais, por meio do qual o homem se individualiza, humaniza-se,
apreende e materializa o mundo das significações que é construído no
processo social e histórico. Na tentativa de melhor explicitar a constituição da
consciência pelas relações de mediação (em que o sujeito constitui-se pelo
outro e pela linguagem), parece oportuno considerar a forma como Smolka,
Góes e Pino (1995) discutem o conceito de intersubje- tividade. Segundo tais
autores, esse conceito vem recebendo interpretações que, de uma maneira
geral, convergem para uma compreensão harmoniosa de intersubjetividade:
um espaço de “entendimento mútuo”, de “diálogo simétrico”. Os autores acima
discordam dessa interpretação, visto ela não contemplar conflitos, oposição de
idéias, resistência à comunicação e outros aspectos não harmônicos da
comunicação.”

“Em pesquisas, Smolka, Góes e Pino (1995, p.22) desenvolvem a concepção


de que a constituição do sujeito pelo outro se dá no campo da
intersubjetividade, entendida como“o lugar do encontro, do confronto e da
negociação dos mundos de significação privados (ou seja, de cada interlocutor)
à procura de um espaço comum de entendimento e produ- ção de sentido,
mundo público de significação”. Logo, é no campo da intersubjetividade que se
dá a consciência da subjetividade e a penetração no universo da significação”

“O homem, segundo Rey, quando internaliza o mundo à sua volta, transforma o


social em subjetivo. A subjetividade também tem um papel produtor, pois
coloca o novo no social; de outra forma, não haveria relação dialética”

“Fica claro, portanto, que o social não pode ser definido como externo ao
subjetivo: ele é, antes, um dos seus determinantes essenciais. Por outro lado, o
social é, sim, externo, visto que, como forma de realidade, não se esgota
naqueles aspectos que são significados pelo sujeito individual. De igual modo,
o social é também interno, porque sua significação depende de um processo
de constituição de sentido, no qual interno e externo perdem sua condição de
antinomia e se integram em uma complexa relação de mediação”

“A subjeti- vidade é, assim, histórica: constrói-se ao longo da vida do sujeito e,


por essa razão, não pode refletir o imediato, uma vez que a história da
subjetividade deverá, também, incor- porar e refletir a realidade objetiva”

- o serviço de auxiliar de autópsia


1. O auxiliar de necropsia é um importante profissional que
juntamente com o médico legista desenvolve atividades como: o
preparo para a realização de um autópsia, faz o recebimento de
cadáveres realizando o registro de cada um. Ainda é responsável
por fazer a limpeza da sala de autópsia depois que ela é realizada,
limpando inclusive os instrumentos utilizados, é responsável ainda
pelo preparo do cadáver para o sepultamento. 

2. 2
A carreira de auxiliar de necropsia é bastante importante e tal
importância se revela ao fato de que, se você pretende ser este
profissional deve prestar concurso público, pois não existe um curso
específico para esta profissão. A realização do concurso é ofertada pelas
polícias civis de todos os Estados Brasileiros. Para que você possa se
tornar um auxiliar de necropsia além de realizar o concurso, você deve
ainda ser maior de 18 anos e ter ao menos o ensino médio completo. 
Para a realização do concurso para a profissão de auxiliar de necropsia, exige-se
conhecimentos de Geografia, Historia, Matemática, Biologia, Física, Química e o
mais importante de todos, de Língua Portuguesa, que representa uma grande
porcentagem de acertos ou erros na prova. O profissional que se habilita e começa
a exercer sua profissão, poderá fazer em Institutos Médicos Legais, mais
conhecidos como IML, ou em Funerárias em geral. Há uma parcela de auxiliares
de necropsia que exercem a profissão em hospitais, mas são casos mais raros. 

- morte e sociedade

“Antes de Descartes, a medicina preocupava-se com a interação corpo e alma, tratando


as pessoas no contexto social e espiritual. Com a divisão entre corpo e mente, além da
comparação do corpo humano a uma máquina, os médicos passaram a se concentrar no
corpo, descuidando dos aspectos psicológi- cos, sociais e culturais da pessoa.”

“Apesar de a morte ser o destino de todas as pessoas indiscriminadamente, a duração da


vida e a maneira de morrer são diferentes: dependem da classe socioeconômica em que
a pessoa está inserida”

“Nesse contexto, nas palavras de Maranhão (1996), reali-za-se a “coisificação do


homem”, na medida em que se nega “a experiência da morte e do morrer” (p. 19).”
“os profissionais – que lidam cotidiana- mente com a morte – não estão preparados para
lidar com o indivíduo em sua plenitude enquanto ser humano dotado de emoções e
valores. Baseada no paradigma positivista1, a for- mação e atuação de profissionais na
área da saúde tendem a lidar com a doença e a morte do ponto de vista estritamente
técnico (Klafke, 1991; Kovács, 1991, 2002).”

“Para o homem ocidental moderno, a morte passou a ser sinônimo de fracasso,


impotência e vergonha. Tenta-se vencê- la a qualquer custo e, quando tal êxito não é
atingido, ela é escondida e negada”

“Com o desenvolvimento do capitalismo, a partir do século XVIII, uma preocupação


cons- tante foi isolar, separar e impor um conhecimento especializa- do e uma disciplina
institucional a tipos diferenciados de fe- nômenos. Excluir os mortos dos vivos, neste
contexto, pas- sou a ser um empreendimento fundamental. Uma forte preo- cupação, em
toda a época de transição para a modernidade, foi colocar os mortos, juntamente com o
lixo, cada vez mais longe do meio urbano e do convívio social. Com o desenvolvimento
das sociedades industriais e o desenvolvimento técnico e científico da medicina, a partir
do século XIX, a visão da morte e a interação com o paciente moribundo modificaram-
se ainda mais radicalmente. A revo- lução higienista radicalizou a separação entre vivos
e mortos de tal modo que o convívio entre estas duas condições pas- sou a ser visto
como uma fonte extremamente importante de perigo, contaminação e doença.”

REFERENCIAL TEÓRICO

Metodologia

A pesquisa em questão Através da pesquisa exploratória ;

Utilizamos como referência para análise a psicologia social sócio-histórica que


possui como abordagem metodológica do homem, da história e da sociedade o
materialismo histórico e dialético. Tal método implica que a realidade material
tem existência independente em relação à ideia, ao pensamento, à razão; que
existem leis na realidade; pela concepção dialética: que a contradição é
característica fundamental de tudo o que existe, de todas as coisas; que a
contradição e sua superação constante é a base do movimento de
transformação constante da realidade; que o movimento da realidade está
expresso nas leis da dialética (leis do movimento e relação universal; lei da
unidade e luta de contrários; lei da transformação da quantidade em qualidade;
e lei da negação da negação) e em suas categorias; pela concepção histórica:
que só é possível compreender a sociedade e a história através de uma
concepção materialista e dialética; ou seja, que a história deve ser analisada a
partir da realidade concreta, e não a partir das ideias, buscando-se as leis que
a governam (visão materialista) e que as leis da história, além de materiais, são
as leis do movimento de transformação constante, que tem por base a
contradição; portanto, não são leis perenes e universais, mas são leis que se
transformam; não expressam regularidade, mas contradição (visão dialética);
nesse sentido, as leis que regem a sociedade e os homens não são naturais,
mas históricas; não são alheias aos homens porque são resultado de sua ação
sobre a realidade (trabalho e relações sociais); mas são leis objetivas, porque
estão na realidade material do trabalho e das relações sociais; entretanto, essa
objetividade inclui a subjetividade porque é produzida por sujeitos concretos,
que são, ao mesmo tempo, constituídos social e historicamente.

O homem define-se então a partir de sua ação concreta; essa ação está
inserida em um contexto de relações materiais que obedecem a leis objetivas;
nesse sentido, o homem é determinado. Com a visão dialética, essas leis
objetivas são leis do movimento, da transformação, que se dá a partir da ação
do homem. Através de sua ação, o homem transforma e é transformado; é
determinado e determinante ao mesmo tempo; a relação indivíduo-sociedade é
entendida como um processo, onde a transformação do indivíduo e da
sociedade é constante. O homem é ativo, social e histórico. ( BOCK, p. 87,88,
2003.)

Instrumento de pesquisa

Também utilizado pesquisa bibliográfica

METODOLOGIA

Utilizamos como referência para análise a psicologia social sócio-histórica. Tal


método implica que a realidade material tem existência independente em relação à ideia,
ao pensamento, à razão, existindo leis na que atuam na realidade. Pela concepção
dialética, a contradição é característica fundamental de tudo o que existe. Neste sentido
a história deve ser analisada a partir da realidade concreta, buscando-se as leis que a
governam (visão materialista), as leis da história, que além de materiais, estão em
movimento de transformação constante (dinâmica); portanto, não são leis perenes e
universais, mas são leis que se transformam que não expressam regularidade, mas
contradição.

Nesse sentido, as leis que regem a sociedade e os homens não são naturais, mas
históricas; não são alheias aos homens porque são resultado de sua ação sobre a
realidade (trabalho e relações sociais); são leis objetivas, porque estão na realidade
material; na qual a objetividade inclui a subjetividade, porque é produzida por sujeitos
concretos que constituem e são constituídos sóciohistoricamente.

Quanto à classificação desta pesquisa, baseada em seus objetivos gerais, este


estudo pode ser definido como exploratório, que conforme define Gil (2002), “tem
como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torna-lo
mais explicito ou a construir hipóteses”(p.41).

Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, será classificada como


qualitativa, que, conforme descreve Silva e Menezes (2005), considera-se:
que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto
é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números.
A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são
básicas no processo de pesquisa qualitativa. P. 20
A pesquisa em questão utilizou como instrumento de análise a realização de
entrevistas semi-estruturada com roteiro pré-estabelecido sendo entrevistado um auxiliar
de autópsia do IML de Catalão-GO.
Para analise da entrevista, utilizaremos o método Vigotskiano de pesquisa, na
qual a linguagem é categoria central. A linguagem possui sentidos e significados, sendo
sua analise fundamental para compreensão dos aspectos intrínsecos a subjetividade
humana, segundo Souza e Tavares, (2010):
Nessa perspectiva, o método de Vigotski (2011) atribui à
linguagem a unidade de análise. A linguagem é o pensamento
verbalizado, é o instrumento de mediação da relação do sujeito
com o mundo. A análise do significado da palavra permite,
assim, a compreensão da produção e reprodução da cultura, do
processo de objetivação humana, pois os significados contem a
experiência histórica de varias gerações. (...) Já o sentido,
formado pela experiência pessoal e social de cada individuo, é
extremamente dinâmico e se refaz constantemente em cada ato
discursivo (p. 86). Para Vigostki (2001), tanto as estruturas
mentais quanto as estruturas sociais têm raízes históricas bem
definidas (p.87).

Ainda quanto sua delimitação técnica, também será utilizada como método a
pesquisa Bibliográfica que conforme Gil (2002), neste tipo de procedimento de pesquisa
permite ao investigador cobrir uma gama de fenômenos mais ampla do que aquela que
se pode investigar diretamente

Análise dos Dados

Começamos a entrevista pedindo sua identificação, o interessante é que ele


não quis se identificar, alegando que era para sua própria segurança, por ser
policial e nos disse que nessa classe a maioria dos policiais age assim com o
desejo intenso de se resguardar, proteger a sua própria vida e da família. Há
dez anos que ele trabalha como perito da policia Técnica científica e foi nessa
vivencia que sua de forma enxergar a vida por ter uma relação tão próxima
com a morte, seu modo de sentir, pensar e agir foi sendo transformada.
Segundo Karl Marx o ser humano é:
O ponto de partida lógico, nas considerações de Marx, é a convicção
de que o homem existe como espécie e como indivíduo, que é um exemplar
desta espécie, um resultado, um produto do desenvolvimento histórico, e,
portanto, um produto social. (1987, p. 69)

O homem é, assim, visto como um ser inerentemente social e, como tal,


sempre
ligado às condições sociais. Homem que, além de produto da evolução
biológica das espécies, é também produto histórico, mutável, pertencente a
uma determinada sociedade, em uma determinada etapa de sua evolução. Não
se está simplesmente afirmando, no caso,que o homem se encontra ligado ao
mundo e à sociedade ou que é influenciado por ela, mas sim que se constitui
sob determinadas condições sociais, resultado da atividade de
gerações anteriores.Trata-se, neste caso, de adotar uma visão de indivíduo
concreto, mediado pelo social, determinado histórica e socialmente, que não
pode, jamais, ser compreendido independentemente de suas relações e
vínculos. Fala-se de um homem ativo que, como afirma Marx, não tem sua vida
determinada pela própria consciência. Ao contrário, sua consciência é que é
determinada por sua vida. Essa afirmação, para ser compreendida, exige,
segundo Adorno (1978), a negação da teoria das mônadas, segundo a qual
tudo o que acontece ao ser humano não passa de mera consequência de suas
ideias ou noções. Por outro lado, é preciso também que se evite a visão de
homem que considera o ser humano como reflexo imediato do meio social,
como um ser passivo, desprovido da possibilidade de criar, inovar. Trata-se,
enfim, de encarar o homem como mediação, justamente pelo fato de se
considerá-lo um ser histórico, mais do que cultural ou determinado pelas
condições sociais presentes em seu tempo e espaço.

Quando lhe perguntamos sobre o motivo da escolha da profissão, a resposta


foi: “olha é que eu acho mais fácil mexer com morto do que com vivos, o ser
humano é muito difícil de lhe lidar.” Com esta frase vemos como a sociedade
influencia o se humano e sua forma de pensar que consolida na manifestação
da sua identidade. A manifestação empírica da identidade passa pelo processo
de relação com o outro e pelo processo de relação consigo mesmo. É possível
observar nessa fala, que somos produtos das ações que realizamos nessa
relação com outro, criando-se um personagem num mundo que me identifica. E
possível verificar aqui o processo de formação de identidade de forma
cristalizada nessa classe ( Da policia técnica cientifica) . Em seguida lhe
perguntamos qual que é a visão que tem do impacto dessa profissão na
sociedade? Ele nos respondeu que é relevante, apesar dos preconceitos, esse
trabalho porque se eles não fizessem quem faria.

“não é só morrer, tem outros custos (...) você paga para nascer, paga para viver e
paga para morrer” {fala que diz do atual modelo econômico de sociedade em que o
perito está inserido, onde o corpo é mercadoria, a vida é mercantilizada até mesmo
depois da morte e de como o estado e a empresa privada controla o corpo antes
durante e depois da morte, ou seja, um claro exemplo da relação entre
indivíduo/sociedade, e como a realidade concreta determina a subjetividade}

 “10 anos que a gente trabalha nessa área da anatomia”; trabalha Goiânia (atende
a região metropolitana) e Catalão (atende as cidades vizinhas) {são diferentes
contextos – contingente populacional, diversidade, economia, etc, o que
influência na conduta profissional, em Goiânia e região tem que em média 15
cadáveres vítimas de homicídio por dia enquanto Catalão e região não chega a
ter 1 por dia}
 “cada caso é um caso, cada morte é uma maneira de ser vista, de trabalhar com
ela” {apresenta singularidade na morte – o morrer diz da história de vida- e de
como essa individualidade está inserida na sociedade – a morte é individual, mas
socialmente concebida; individual quanto ao fim desse corpo/subjetividade e
social sendo o morrer produzido pelas relações sociais, todavia, não há uma
possibilidade de estudo desvinculando um do outro, visto que, ambos se
confluem em uma relação dialética -, por exemplo, se for vítima de acidente
automobilístico tem um procedimento, se for vítima de troca de tiro outro; Cada
procedimento atende a uma demanda específica como também cada profissão
vai atuar de uma maneira diferente frente a cada morte, como um coveiro vai
atuar diferente de um auxiliar de autopsia que vai atuar diferente de um
maquiador de defunto.
 “Olha, mexer com morto é mais fácil que mexer com vivo. Vivo dá trabalho
demais. Morto você já chega e remove, faz o que tem que fazer. Acabou seu
problema alí.Vivo é totalmente diferente; dá trabalho demais.” {vê-se a frieza
que o entrevistado se coloca na relação com o outro, isto é, tendo como seu
objeto de trabalho o corpo frio, a matéria inerte em relação a ele (decomposição
natural), mas mesmo assim é ele quem ajuda decidir sobre o destino da vida e da
morte, pois dentro da organização societária ele desempenho uma função social
de identificar e reconhecer a morte institucional do cidadão. O corpo do morto
tem subjetividade? A subjetividade é a percepção que os outros tem do eu ou a
subjetividade é a percepção do eu para com o outro (realidade concreta)? Se o
corpo morto não tem subjetividade por que então há uma necessidade de uma
determinada conduta social para conduzi-lo ao túmulo ou cremação?}
 “ver é uma coisa. Você está presente, mexer é outra coisa” (concursado –
funcionário público) { diferenciação do que a mídia e os meios de comunicação
mostram e o que é de fato a profissão, cotidiano}
 “nosso serviço acho que é muito relevante.” (auxiliar de autópsia) {a morte é
relevante! A morte é importante para o funcionamento da dinâmica social. A
morte que gera trabalho que transforma o mundo }
 “ela é mal vista.(...) ‘vocês não tem sensibilidade?!’” “Pra sociedade é horrível”
{uma profissão que trabalha com um dos maiores tabus da sociedade é de difícil
aceitação ainda por ser entrecortada pela afetividade}
 “70% que chegam ao IML são violência doméstica, Lei Maria da Penha, vítimas
de acidentes, , agressão” “como foi que horas que foi”
 “corpo ignorado” – indigente polícia federal coleta as 10 digitais para pesquisar
no banco de dados “passa a ser identificado”
 Não levo serviço pra casa. A gente fica triste quando é o corpo de uma criança.
{nota-se uma clássica separação entre trabalho que se insere no âmbito do
público e a vida pessoal referente ao âmbito privado, entretanto, se pode separar
ao que concerne a ética, mas quanto a moral não há uma separação, como o
próprio entrevistado diz quando reflete sobre o que é certo e errado a partir do
ponto de vista de sua formação religiosa, e o que esse certo e errado influencia
na produção de objeto de seu trabalho }
 “você está levando uma prova que vai incriminar alguém” “pra sociedade somos
nada (...) mas para nós que estamos lá dentro sabemos o impacto que temos na
sociedade” { relação claro entre indivíduo/sociedade; é preciso entender que
lugar o sujeito ocupa para entender sua fala.}
 A polícia técnico-científica cuida da identificação
 Não é só a parte da anatomia tem que tá preparado pra dar um respaldo a
sociedade { mesmo diante do corpo frio há o calor dos corpos vivos, que a morte
é circundada pela vida – morte se configura sendo um fenômeno social, nesse
sentido como se pode observar em estudos de Malinowisk com tribos nas ilhas
da indonésia que a morte na comunidade tem uma representação ritualística e
cumpre uma função social importante quanto parte da metafísica do existir, quer
dizer: o sentido social da vida.}
 Minha vida é da casa para o trabalho e igreja não faço a mesma rota todo dia
sempre estou atento ao que está acontecendo, não sento de costas pra rua, pra
mim toda pessoas é suspeita olho na cintura pra vê se não está armada penso
muito antes de falar {fica claro de como o trabalho afeta concretamente na
constituição da subjetividade desse indivíduo, alterando sua consciência para
com o oceano social, constatando a máxima que o trabalho organiza o mundo }
 Mudou de casa para apartamento pela incerteza do horário de trabalho
 O que as pessoas muito criticam é o usa da arma como necessário, é minha
segurança, é a minha vida que estou resguardando. { a segurança é a linha tênue
que amarra a vida e a morte, controlando da estabilidade.
 Não procuram nós no local pra saber o que aconteceu não perguntam nossa
visão {justifica porque a profissão é mal vista, porque não há um compromisso
dos meio de comunicação para com os casos de morte pois não coloca o
especialista do caso para falar }
 Super carga de trabalho pela aumento da demanda falta de efetivo poucas
equipes {falta de atendimento psicológico e assistência social para com esses
profissionais. Através da sobrecarga de trabalho e da própria pressão que a
rotina deste impõem esses profissionais desenvolve stress, paranóia, etc}
 Examinar o corpo (vivo ou morto) - o auxiliar de autópsia é um arqueólogo
social, que busca compreender e delinear o percurso que aquele corpo percorreu
até ser encontrado morto e como foi concebida aquela morte; investigando os
detalhes, provas e vestígios através da anatomia e fisiologia do corpo, mas
também da posição social que este corpo assume tanto vivo quanto morto.
 O corpo está em via pública ou local privado?. Via pública tem prioridade
porque aglomera pessoas, tem outras equipes envolvidas que precisam voltar a
suas atividades como a policia depois na troca de tiro acaba ocorrendo a morte
do bandido.
 Depois dos 18 anos a pessoas tem que conhecer dois lugares a CPP e IML pra vê
como as coisas são. A CPP para pessoa conhecer o lugar pra onde ela vai se
fazer coisa errada e como funciona lá e IML pra ver como é a realidade a mãe
chorando pelo filho, os acidentes
 Postura profissional – ética
 O corpo depois da morte e sua exposição na via pública/ meios midiáticos {a
profissão é mal vista e pouco conhecida, no entanto está presente na maioria das
reportagens de telejornais, revistas, jornais, entre outros, sendo assim, inaugura-
se a contradição entre a popularidade do objeto de trabalho do auxiliar de
autópsia, mas não necessariamente a valorização deste, como mesmo exemplo a
propaganda de um carro, em que se valoriza o objeto fabricado por operários,
mas não há a valorização da profissão. }
 Você tem o livre-arbítrio – visão moral que explica o caminho para morte
{demonstra como a religiosidade do entrevistado afeta no julgamento e
entendimento da dinâmica social}
 Morreu acabou ali e começa o sofrimento da família sofre porque perdeu um
ente querido sofre por não ter dinheiro pra fazer um velório digo sofre porque
quando o corpo é encontrado está em decomposição {a partir do encontro com a
morte na rotina o indivíduo se depara com a contradição da realidade social; ora
tem que recolher um indigente assassinado a queima-roupa ora um empresário
que sofre acidente de carro }

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