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Relações, Espaços e Tempos: implicações no processo educativo
Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Denise Jarcovis Pianheri
Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Vera Lidia de Sa Cicaroni
Relações, Espaços e Tempos:
implicações no processo
Caro aluno,
Atenção
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Contextualização
Leia o trecho de um texto bastante curioso, de 1922, que mostra os ideais disciplinares da
instituição escolar da época.
Recomendações Disciplinares
Texto adaptado do livro Indisciplina na Escola de Julio Groppa Aquino (1996, p.42).
Boa leitura!
Introdução
É evidente que a escola de hoje é produto de transformações históricas e sociais. A
organização disciplinar por meio do castigo e controle, como forma de modelar o
comportamento humano, marcou, significativamente, o desenvolvimento da escola como
instituição formativa.
Para Aquino (2007, p.9), “a disciplina dedica-se ao assujeitamento dos corpos dos
indivíduos nas instituições”.
Vejamos um trecho de um texto bastante curioso de 1922, apresentado por Aquino
(1996, p.42) e intitulado “Recomendações Disciplinares”:
Não há crenças refratárias à disciplina, mas somente alunos não disciplinados. A disciplina é um fator
essencial do aproveitamento dos alunos e indispensável ao homem civilizado. Mantém a disciplina,
mais do que o rigor, a força moral do mestre e o seu cuidado em trazer constantemente as crianças
interessadas em algum assunto útil.
Os alunos devem se apresentar na escola minutos antes das 10 horas, conservando-se em ordem no
corredor da entrada, para daí descerem ao pátio onde entoarão o cântico.
Formados dois a dois dirigir-se-ão depois às suas classes acompanhadas das respectivas professoras,
que exigirão que se conservem em silêncio e entrem nas salas com calma, sem deslocar as carteiras.
Deverão andar sempre sem arrastar os pés, convindo que o façam em terça, evitando assim o balançar
dos braços e movimentos desordenados do corpo. (...)
Para Aquino (1996), muitos educadores concebem essa descrição de cotidiano escolar
com certo saudosismo, como um modelo de educação muito almejado.
No caso do ensino público, tal mentalidade mostra suas feições quando, por
exemplo, insiste-se em enaltecer uma época tão remota em que “os
professores eram respeitados e só frequentava escola quem sabia dar valor a
ela” – chavão repetido por 9,9 entre 10 cidadãos brasileiros, sendo eles ligados
profissionalmente ao campo pedagógico ou não (AQUINO, 2007, p.21).
Conforme Aquino (1996, p.43), “O professor não era só aquele que sabia mais, mas
que podia mais, porque estava mais próximo da lei, afiliado a ela”.
A disciplina então imposta pela época ocorria por meio do castigo, medo, coação e
subserviência, principalmente à figura do professor.
De acordo com Taille (1996, p.10):
O tema disciplina pode nos levar mais longe ainda: discutir a própria natureza
humana. Para o filósofo Kant, por exemplo, a disciplina é condição necessária
para arrancar o homem de sua condição natural selvagem. Não se trata,
portanto, apenas de “bons modos”: trata-se de educar o homem para ser
homem, redimi-lo da sua condição animal.
Permanecer parado e quieto na cadeira escolar tornou-se, por muito tempo, necessário
não só para possibilitar o bom funcionamento da escola, mas, principalmente, para ensinar a
criança a controlar os seus impulsos e afetos. Sobre o controle disciplinar na escola, Aquino
(2007) faz referência à instituição como um dispositivo biopolítico, ou seja, que regula os
fenômenos biológicos e políticos ligados à população.
A partir de uma análise crítica acerca da organização dos tempos e ritmos da escola,
Freitas (2004, p. 1) destaca:
Segundo o autor, o sistema seriado por décadas foi utilizado pela escola para classificar
os alunos e organizá-los com base em seus conhecimentos e competências. No entanto, esta
organização sempre esteve intimamente relacionada a uma ordem política e pedagógica
capitalista.
Por outro lado, a organização do ensino por ciclo, coerente aos princípios progressistas
e aos pressupostos de Paulo Freire, diz respeito a um mecanismo de permanência dos
estudantes na escola, com o objetivo de reduzir o índice de evasão e retenção presentes no
regime seriado. Ao ciclo estão agregados a compreensão dos tempos de aprendizagem e o
processo de desenvolvimento das crianças e dos adolescentes.
http://27reuniao.anped.org.br/diversos/te_luiz_carlos_freitas.pdf
Vale ressaltar que é impossível falar sobre espaço e tempo na escola sem
compreendermos como os alunos são organizados e enturmados nos diferentes períodos da
educação básica. Portanto, adiante, apresenta-se como essa organização temporal e espacial
pode acontecer na prática, já que o texto de Freitas (2004) aborda, com detalhes, os regimes
de séries e ciclos adotados, historicamente, por nosso sistema brasileiro.
Conforme explicitado por Freitas (2004), algumas decisões foram implantadas há tanto
tempo na história da escola que já não nos damos o trabalho de examiná-las com criticidade
e, muitas vezes, com rigor pedagógico.
É muito comum, nas escolas, a ausência dos alunos na composição dos diferentes
espaços, salas, corredores, bibliotecas, pátio etc. Em outros momentos, também nos
deparamos com uma organização do espaço dirigida estritamente para o público adulto, como
materiais e trabalhos expostos numa altura imprópria para a criança, o que impede a
exploração do espaço com mais intensidade e entusiasmo.
O Parecer CNE/CEB n. 20/2009 faz uma revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil e, assim, refere-se ao importante papel do professor na organização
do tempo e do espaço nas instituições, em especial de Educação Infantil:
A professora e o professor necessitam articular condições de organização dos
espaços, tempos, materiais e das interações nas atividades para que as
crianças possam expressar sua imaginação nos gestos, no corpo, na oralidade
e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no desenho e em suas primeiras
tentativas de escrita. A criança deve ter possibilidade de fazer deslocamentos e
movimentos amplos nos espaços internos e externos às salas de referência das
classes e à instituição, envolver-se em explorações e brincadeiras com objetos
e materiais diversificados que contemplem as particularidades das diferentes
idades, as condições específicas das crianças com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, e as
diversidades sociais, culturais, étnico-raciais e linguísticas das crianças, famílias
e comunidade regional (BRASIL, 2009, p. 14).
Nossas rotinas são flexíveis para garantir às crianças o tempo para as brincadeiras livres?
Quando ela está envolvida nesse tipo de atividade ela toma decisões, faz escolhas, admite
consensos com o (a) professor (a), vivenciando situações essenciais a uma formação cidadã?
Quando está em grupo, aprende a dividir, a ouvir e a aceitar visões de mundo diferentes da
sua? E o planejamento diário? O chamado plano do dia, situação em que a criança tem
oportunidade de saber, participar e dar opiniões sobre o que vai acontecer naquele dia,
aprendendo a lidar com suas ansiedades e expectativas, está garantido?
A nova perspectiva atribuída à educação busca superar a ideia de que o aluno precisa
adaptar-se e/ou ajustar-se às exigências de organização da escola. Pelo contrário, a
organização está intimamente ligada à concepção de infância como uma fase de
desenvolvimento humano que requer uma composição de um ambiente próprio para atender
às suas particularidades e não à de um adulto em miniatura.
Sintetizando:
ESCOLA
ESPAÇO TEMPO
Embora diferentes entre si, aluno e professor estão envolvidos num mesmo processo,
em que um existe em detrimento do outro. Sendo assim, é preciso que a relação entre ambos
seja construída de forma colaborativa e dialógica, em que todos se constituem como sujeitos
aprendentes e ensinantes, conforme é apresentado no documento RECEI (2011).
Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a
indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser
crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não
a de transferir conhecimento.
Por outro lado devemos reconhecer que o professor não pode eximir-se da sua tarefa
educativa. A prática escolar cotidiana deve dar condições para que as crianças não somente
conheçam as expectativas em relação a elas, como, por exemplo, que apresentem atitudes de
solidariedade, respeito e cooperação, mas também que construam e interiorizem esses valores
de forma consciente e conhecedora dos “porquês”. Mais do que obedecerem a com regras
estabelecidas e conformarem-se com elas, os alunos precisam ter a oportunidade de conhecer
as intenções que as originaram.
(...) somente resta à escola uma solução: lembrar e fazer lembrar em alto e
bom tom, a seus alunos e à sociedade como um todo, que sua finalidade
principal é a preparação para o exercício da cidadania. E, para ser cidadão,
são necessários sólidos conhecimentos, memória, respeito pelo espaço
público, um conjunto mínimo de normas de relações interpessoais, e diálogo
franco entre olhares éticos. Não há democracia se houver completo desprezo
pela opinião pública.
Sintetizando
PROFESSOR ALUNO
Neste espaço, você terá acesso a conteúdo complementares ao material da unidade IV.
Aproveite para aprofundar e sistematizar os conhecimentos acerca dos conteúdos teóricos.
Bom estudo e até a próxima unidade!
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