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UM ENFOQUE CONTEXTUAL PARA MUDANÇA

TERAPÊUTICA1
Steven C. Hayes
University of Nevada, Reno2

O movimento da terapia comportamental não era, inicialmente, um


movimento para introduzir o behaviorismo na psicologia aplicada. Se alguma vez
houve alguma dúvida em relação a isto, a tendência nos últimos 10 anos, dentro da
terapia comportamental, deveriam ter resolvido essa dúvida. Temos vistos a escalada
das análises cognitivistas, análises "self-based" e do mero empirismo como substitutos
para uma verdadeira análise comportamental dos problemas clínicos.
Talvez não haja nada de errado com isto. As análises cognitivistas, por
exemplo, têm uma longa tradição tanto dentro da psicologia como da cultura geral.
Presumivelmente, elas não teriam sobrevivido se não tivessem algum valor. O que
parece inadequado porém, é que os terapeutas do comportamento têm,
frequentemente, pouca facilidade com o behaviorismo e com a teoria behaviorista.
Devido a isto, a possível contribuição de uma perspectiva bastante diferente sobre o
comportamento humano foi consideravelmente atenuada.
Meu propósito neste capítulo é mostrar uma maneira pela qual o que eu
considero a essência do behaviorismo radical poderia ser aplicada aos problemas
clínicos de adultos. Não estou afirmando que ela é a única forma de aplicar esta
perspectiva à problemas de adultos - é apenas uma das formas que eu espero ser de
algum valor. Antes de descrever o próprio enfoque terapêutico, será necessário
discutir brevemente os pressupostos filosóficos básicos que eu suponho constituem o
coração do bahaviorismo radical. Muitos psicólogos frustram-se facilmente com a
filosofia e esperam escapar da responsabilidade de terem que assumir posições
filosóficas refugiando-se no empirismo (Adams, 1984). Não há maneira, porém, de
entender o presente enfoque terapêutico sem entender, também, os pressupostos que o
fundamentam sem distinguir estes pressupostos daqueles que são encontrados na
cultura dominante. O leitor perceberá rapidamente que eu não tenho interesse em
promover a caricatura do behaviorismo radical apresentada tão frequentemente em
nossas revistas e textos behavioristas. Precisarei explorar os aspectos periféricos
(fringes) da teoria comportamental para visualizar (gleen) princípios e análises que
possam ser aplicadas a humanos com habilidades verbais. Muitos princípios
comportamentais são desenvolvidos a partir de organismos não verbais. Há boas
razões para acreditar que os organismos verbais são muito diferentes dos não verbais.
Esta é uma razão pela qual muitos terapeutas comportamentais se "tornaram
cognitivistas". Na minha opinião este é o problema certo, mas a solução errada.

BEHAVIORISMO RADICAL
A essência do behaviorismo radical pode ser resumida em quatro palavras:
contextualismo, monismo, funcionalismo e antimentalismo. Esta não é, obviamente, a
ocasião adequada para envolver-se em uma discussão prolongada acerca do

1
HAYES, S.C. (1987) A Contextual approach to therapeutic change. In: N. Jacobson (ed.) Psychotherapists in clinical practice:
cognitive and behavioral perspectives. New York: Guilford, p.327-387.
2
Tradução experimental: Adriana C. B. Barcelona e Verônica Bender Haydu

1
behaviorismo radical, mas, felizmente, para os nossos propósitos presentes, podemos
focalizar somente uns poucos aspectos da natureza do comportamento e da
causalidade dentro da análise do comportamento e, então, aplicar isto ao possível
papel que os pensamentos teriam na ação humana.

O QUE PODE A CIÊNCIA ESTUDAR?


É comum, em nossa linguagem do dia-a-dia, distinguir comportamentos de
pensamentos, sentimentos, intenções, etc. Todo o movimento cognitivo-
comportamental baseava-se, originariamente, nesta distinção. Se a terapia do
comportamento trata o comportamento, então surge a questão que necessitamos
alguma maneira de tratar também os pensamentos. Mesmo o título deste livro baseia-
se na distinção entre comportamento e cognição.
Para entender o contexto histórico desta distinção em Psicologia, é útil
distinguir quatro perspectivas: o behaviorismo metafísico Watsoniano, o
behaviorismo metodológico Watsoniano, o behaviorismo metodológico
contemporâneo e o bahaviorismo radical. Como Skinner destacou (Skinner, 1969)
Watson criou diversos problemas extensos para o behaviorismo devido a perspectivas
filosóficas que adotou. Eles foram úteis na época, mas faz-se necessário avançar. A
maioria dos psicológicos avançaram mas, infelizmente, eles assumiram, com
frequência, perspectivas filosóficas ainda mais deficientes. Nesse ínterim, a palavra
"behaviorismo" reteve muito do "tempero" dessas posições iniciais.
Watson, reagindo aos fundamentos do introspeccionismo, disse duas coisas:
(1) os eventos observáveis não públicos não existem, (2) tudo que a Ciência pode
estudar, de qualquer maneira, são os eventos públicos, observáveis. A primeira
posição pode ser chamada o behaviorismo metafísico Watsoniano. Realmente, uma
leitura simpática e cuidadosa de Watson não leva a interpretá-lo como tendo assumido
tal posição, mas foi amplamente entendido que ele de fato a assumiu (to have
advanced it). É obviamente uma posição que a maioria das pessoas rejeitará, desde
que a realidade de nossos próprios sentimentos dificilmente pode ser negada. A
segunda posição proporcionou os fundamentos do bahaviorismo metodológico, uma
posição que influenciou profundamente a psicologia americana durante este século.
Basicamente, esta posição indica que há uma distinção a ser feita entre os
pensamentos, sentimentos e outros eventos privados, por um lado, e comportamento e
outros eventos observáveis publicamente, por outro. De acordo com esta posição, só
os eventos publicamente observáveis podem ser considerados em ciência, devido aos
requisitos da metodologia científica. Outros tipos de eventos podem existir, mas são
cientificamente ilegítimos ou, pelo menos, não analisáveis. Originariamente, esta
posição foi usada para excluir da consideração científica os eventos "mentais" visados
pelos introspeccionistas. Ao longo do tempo, porém, teve um segundo efeito mais
danoso. Uma vez que o behaviorismo metodológico não afirma que os eventos não
analisáveis do ponto de vista científico não existem - só que não são analisáveis - foi
possível para os psicólogos agir como se houvesse duas categorias ontológicas no
mundo. Em outras palavras, o behaviorismo metodológico é implicitamente dualista
(Moore, 1951; Skinner,1969). O behaviorismo metodológico contemporâneo
(Mahoney, 1974) tem procurado obter vantagem dessa brecha óbvia. No
behaviorismo metodológico contemporâneo a definição do que é cientificamente
analisável é, mais uma vez, os eventos publicamente observáveis, mas que diz que
somos capazes de usar o mundo cientificamente analisável para fazer inferências

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acerca do mundo cientificamente não analisável. Assim, por exemplo, podemos não
ser capazes de ver os pensamentos diretamente, mas podemos ver a influência dos
pensamentos em outros tipos de comportamento humano, tais como os relatos em um
inventário. O mesmo argumento pode ser aplicado a eventos que são completamente
inferidos e, em princípio, nunca podem ser observados diretamente por ninguém, nem
mesmo pela pessoa que "o que está fazendo", tais como os níveis de processamento
ou de estruturas mentais profundas. Ao longo do tempo, a influência do behaviorismo
metodológico contemporâneo tem levado a mais e mais modelos inferenciais, desde
que devemos permitir, convenientemente, uma grande quantidade de inferência
simplesmente para endereçar questões de significado humano fundamental.
O dualismo literal não é frequentemente adotado por cientistas, devido a suas
deficiências científicas óbvias. Se o espírito é "imaterial" não pode ter as qualidades
da matéria, tais como: começo e fim, massa, aceleração, tamanho ou nenhuma
propriedade discernível. Mesmo como "o espírito" poderia ser conhecido é
problemático nestas condições (Hayes, 1984; Hayes & Brownstein, 1980). Os
seguidores do behaviorismo metodológico, que infelizmente incluem a maioria dos
terapeutas comportamentais, frequentemente negam o dualismo literal, enquanto
mantêm que a metodologia científica força um tipo determinado de dualismo em
todos nós. O problema com este tipo determinado de dualismo em Ciência é que
coloca algemas na análise científica deixando alguns dos fenômenos mais
interessantes fora de seu alcance direto.
O behaviorismo radical é mais frequentemente confundido com as posições de
Watson. Os textos da terapia comportamental contemporânea ainda agem como se, de
alguma maneira, Skinner considerasse que os pensamentos, sentimentos, etc,. fossem
objetos ilegítimos de estudo científico. O problema existe porque a posição de
Skinner é muito sofisticada e muda, de maneira fundamental, a forma como
encaramos esta questão. A posição de Skinner é basicamente esta: o comportamento é
a atividade observável dos organismos. Note que a palavra "publicamente" não
aparece nesta definição. No behaviorismo radical um evento que mesmo uma única
pessoa pode observar está aberto a uma análise científica (Skinner, 1945). Como isto
é possível, será discutido brevemente, mas a implicação é que os pensamentos não são
substancialmente diferentes em virtude de sua natureza privada. Eles podem ter
propriedades especiais porque são verbais, mas eles ainda são comportamentos.
Em resumo, o behaviorismo metafísico Watsoniano é monista, mas exclui o
mundo privado da consideração por direito próprio (intrínseco). O behaviorismo
metodológico (em ambas variedades) é implicitamente dualista. O behaviorismo
radical é monista, mas inclui o mundo da experiência privada. Note-se que desde a
perspectiva do behaviorismo radical, a distinção entre o físico e o mental é falsa. A
distinção entre o público e o privado é uma distinção real, mas não tem nenhuma
relação com a dicotomia mental-física e não é, em absoluto, o mesmo que a distinção
entre o subjetivo e o objetivo. É bem possível, por exemplo, fazer análises objetivas
da experiência privada ou análises subjetivas (e, em consequência, não válidas do
ponto de vista científico) de eventos publicamente observáveis.

CAUSALIDADE E A ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

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Se os behavioristas radicais consideram os pensamentos como
comportamentos, por que eles frequentemente fazem objeções aos tipos de análises
tão populares na literatura cognitiva-comportamental? O problema não é com o
fenômeno que está sendo estudado, mas com (1) o dualismo implícito inerente à
maioria das abordagens científicas, e (2) com o tipo de análises realizadas (Hayes &
Brownstein, 1986a, 1986b).
O behaviorismo radical adota o contextualismo, o pragmatismo e o
funcionalismo. Entre outras coisas, isto significa que o comportamento somente pode
ser entendido no contexto. Literalmente, o comportamento pode não fazer sentido -
mesmo suas unidades de análise podem não ser conhecidas - a menos que seja
entendido o contexto no qual o comportamento acontece. Contexto é somente uma
outra palavra para designar as contingências de reforçamento, sobrevivência e
evolução cultural. As contingências simplesmente descrevem a relação funcional do
comportamento com eventos no espaço e tempo que precedem e seguem o
comportamento durante a vida do indivíduo (reforçamento), durante a vida das
espécies (sobrevivência) ou durante a vida de um grupo cultural (evolução cultural).
Assim, uma análise comportamental estará sempre ligada à tarefa da análise de
contingências. Esta é a razão pela qual a concordância pública não é um requerimento
de observações cientificamente válidas, dentro de uma análise comportamental
radical. Mesmo o comportamento dos cientistas está sujeito à análise de
contingências. Uma observação cientificamente válida acontece quando as
contingências que controlam a observação estabelecem o controle pelos estímulos
ambientais descritos na observação (Skinner, 1945). Pode-se chegar a uma
concordância pública acerca de determinados eventos, mas, mesmo assim, essa
observação pode não ser válida como quando um grupo de adolescentes concordam
erroneamente que um estranho que entreviram é, realmente, um astro de rock muito
conhecido. Inversamente, os eventos podem ser privados, mas válidos, como quando
um marinheiro experiente faz anotações diárias e cuidadosas acerca da diminuição do
suprimento de água disponível. Em poucas palavras, as observações são
cientificamente válidas até o ponto em que estão baseadas em "Tatos" (Skinner,
1957): comportamento verbal sob o controle da presença ou ausência de estímulos
específicos em vez de o controle pela audiência, estados de privação ou outros fatores
semelhantes (Hayes & Brownstein, 1980). Os adolescentes de que falamos acima
"vêm" o astro de rock porque estão motivados para fazê-lo e porque seus colegas
"vêm" a mesma coisa. A observação do marinheiro é controlada pela própria água,
mesmo que poderia ser mais reforçador "ver" o suprimento de água permanecer
estável.
De acordo com o que tem sido dito até aqui, uma pergunta como "Que papel
tem os pensamentos no controle do comportamento humano?" deveria ser mudada
para: "Que tipos de contingências levariam um comportamento a acontecer e a
influenciar um outro comportamento?". Alguns autores (Killeen, 1983) criticaram a
utilidade de chamar as ações privadas de "comportamentos", mas há fortes razões
para fazê-lo assim. Primeiro, enfatiza que é o trabalho da Psicologia explicar estes
eventos. Se tentarmos entender o comportamento de um indivíduo, considerando os
pensamentos como comportamentos, requer que entendamos, também, os
pensamentos. Segundo, impede as explicações incompletas que são inúteis para a
predição e o controle (ver Hayes & Brownstein, 1986a para uma discussão detalhada
deste tópico). Reconhecemos intuitivamente que a explicação de um comportamento
através de outro, é incompleta. Por exemplo, se afirmarmos que uma pessoa joga

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"racquetball" bem porque joga "squash" bem, nos perguntaríamos imediatamente
porque ela joga "squash" bem e porque os dois estão relacionados. Podemos usar a
relação para predizer que será bom no "racquetball", mas esta relação não pode nos
dizer, em si mesma, como produzir um excelente desempenho no "racquetball".
Suponha, porém, que mudemos o alcance (realm) destes dois eventos relacionados.
Suponha que afirmemos que essa pessoa jogava um bom "racquetball" porque era
confiante, entusiasta e tinha alta auto-estima. Note que esta explicação não parece tão
obviamente incompleta como a primeira. Parece como se os eventos explanatórios
fossem de uma classe diferente que o evento explicado e, assim, são possivelmente
completos. Usando o termo "comportamento" para toda atividade organísmica, é
menos provável que este auto-engano aconteça. As características operantes dos
relacionamentos como explicações científicas são as mesmas se considerarmos uma
relação entre duas ações abertas, ou entre um pensamento e uma ação aberta. Note
que neste último exemplo poderíamos predizer diretamente baseados nas relações
entre os pensamentos e os comportamentos abertos, mas não poderíamos usá-los
diretamente para controlar o evento em questão.
Há uma razão final para considerar as ações primitivas como comportamentos.
Uma vez que nos acostumamos a pensar sobre o controle cognitivo como em uma
relação comportamento-comportamento, podemos começar a pensar nas relações de
comportamento-comportamento em termos de análise de contingências. Fazer isto
requer que entendamos as contingências que dão lugar (giving rise) a cada
comportamento e - isto é o âmago da questão - a relação entre eles. Assim, devemos
perguntar "Quais são as contingências que dão suporte à relação entre pensamentos e
outras formas de ação humana”. Neste ponto de vista, os pensamentos não produzem
necessariamente nenhum efeito em outros comportamentos. É só devido ao contexto
(as contingências) que uma forma de comportamento se relaciona à outra. Tudo que
tenho dito até aqui tem sido dito simplesmente para justificar a sensibilidade
comportamental deste ponto. Como tentarei mostrar, pode fazer uma diferença
enorme na maneira como enfocamos a terapia.

PRINCÍPIOS COMPORTAMENTAIS RELEVANTES PARA O CONTROLE


COGNITIVO
Não é uma análise comportamental adequada dos pensamentos simplesmente
falar, de uma maneira geral, que os pensamentos são comportamentos. Por que, além
da questão da privacidade, é dada tanta atenção aos pensamentos, sentimentos,
atitudes, intenções, propósitos, planos, etc?. Uma das principais possibilidades é que
estes comportamentos são todos, até certo ponto, verbais. Examinando cada uma das
palavras acima citadas podemos ver que, com a possível exceção dos sentimentos (e
termina não sendo uma exceção), cada um desses termos acrescenta pouco, a menos
que pensemos sobre eles como acontecendo em um organismo verbal. Suponhamos,
por exemplo, que uma pessoa diga "tenho um plano". Quando lhe seja pedido explicar
o plano, diz: Não posso, porque não tenho idéia de qual é o plano". Isto pareceria
muito estranho. Quando os humanos verbais tem planos, intenções ou pensamentos,
etc., esperamos que eles tenham estes comportamentos de uma maneira verbalmente
sensível. Consideremos, então, a possibilidade de que o controle cognitivo seja
realmente uma questão de controle verbal.
Por que seria o controle verbal diferente de qualquer outro tipo de controle?.
De acordo com Skinner, todo comportamento é, em última instância, modelado pelas

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contingências, mas diz-se que o importante sub-conjunto de comportamentos é
governado por regras (1966, 1969). Uma regra, para Skinner, é um estímulo
especificador de contingências. Acredito que deveríamos definir uma regra como um
estímulo verbal especificador de contingências. O que eu quero dizer por "verbal"
será discutido brevemente. Skinner (1969, p.140) provê um exemplo interessante de
comportamento governado por regras. Um jogador (outfielder) move-se para pegar
uma bola. Seguindo sua trajetória, ele move-se por baixo dela e pega-a com sua luva.
O jogador tem feito isto centenas ou milhares de vezes. Seu comportamento é
presumivelmente modelado amplamente pelas contingências em sua maior parte - isto
é, o movimento em direção à bola é controlado pela posição e trajetória da mesma e a
história do jogador de pegar bolas sob situações similares. Um cachorro pode
facilmente adquirir o mesmo comportamento quase da mesma maneira (por exemplo,
ao pegar um biscoito). Consideremos agora o comportamento de um capitão que está
movendo seu barco para pegar um satélite cadente. A trajetória do objeto que cai é
analisada em detalhes. Modelos matemáticos que levam em conta uma série de
fatores, tais como, a velocidade do vento e coeficientes de "drag" são consultados. O
lugar de impacto é predito com base nestas regras verbais, e então especificado. Se as
regras são adequadas e se são seguidas cuidadosa e corretamente, o satélite será
apanhado (caught) - não devido aos sucessos passados do capitão do barco na reação à
trajetória dos satélites, senão devido a seu sucesso passado em seguir as regras e a
adequação da própria regra.
De início pode parecer que as regras, uma vez que são estímulos, devam
operar através de processos de controle de estímulos identificados no laboratório com
animais. Skinner foi consideravelmente insistente com relação a que o controle verbal
sobre o ouvinte não é verbal em si mesmo, porque é simplesmente uma questão de
controle discriminativo (1957). Não há nada na Terapia Comportamental, porém, que
torne necessária tal solução. Trinta anos atrás, isso parecia bastante plausível, mas
evidências mais recentes sugerem que o controle verbal tem propriedades que são
difíceis de extrapolar a partir do controle discriminativo, como tem, sido visto no
laboratório com infra-humano. Há um crescente corpo de evidências que indicam que
diferentes processos ocorrem no controle de estímulos em humanos. O sentido que os
não behavioristas têm dado há muito tempo de que os processos comportamentais que
influenciam os humanos são diferentes daqueles que influenciam os infra-humanos,
podem vir a ser considerados corretos somente quanto ao grau de influência
envolvido. Paradoxalmente, a teoria do comportamento pode ser melhor posicionada
para estudar as diferenças exatas entre o desempenho humano e infra-humano,
precisamente porque ela tem seguido um enfoque indutivo do comportamento
humano, enfatizando sua continuidade com o comportamento infra-humano.

O EFEITO DAS REGRAS


O comportamento humano operante com frequência, difere significativamente
do comportamento de outras espécies. Em muitas situações os humanos tendem a ser
relativamente insensíveis à mudanças de contingências, enquanto que os animais
seriam, com certeza, totalmente sensíveis (Ader & Tatum, 1961; Harzem; Lowe &
Bagshaw, 1978, Hayes, Brownstein, Zettle, Rosemfarb & Korn 1968a; Matthews,
Shimmff, Catania & Sagvolden, 1977; Shimoff, Catania & Mattews, 1981). Os
humanos mostram padrões de resposta que diferem marcadamente daqueles
apresentados pelos infra-humanos, mesmo nos esquemas mais simples de

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reforçamento (Leander, Lippman & Meyer, 19968; Lowe, Harzen & Huhhes, 1978;
Weiner, 1964, 1969). Existem diferenças muito similares, todas as quais enfatizam o
fato de que as respostas dos humanos e infra-humanos podem, às vezes, ser
controladas por diferentes variáveis (Hayes, no prelo). Nos últimos anos tem ficado
mais e mais plausível que algumas destas diferenças podem ser explicadas como
sendo devidas aos efeitos das regras sobre as ações humanas (Baron & Galizio, 1983;
Lowe, 1983).
As evidências em favor deste ponto de vista vêm a partir de diversas
descobertas. Primeiro, os humanos se comportam como os infra-humanos o fazem,
em esquemas simples de reforçamento, antes de adquirirem habilidades de linguagem
extensivas (Lowe, Beasty & Betall, 1983). Há considerável evidência de que os
humanos verbais são extraordinariamente sensíveis ao controle instrucional (ver
Baron & Galizio, 1983 para uma revisão recente). Em geral, o desempenho humano é
mais semelhante àquele de outros animais quando a tarefa é indireta ou complexa, e
quando seguem-se passos para tornar menos provável o uso direto de habilidades
verbais na realização da tarefa (por exemplo, Lowe et al., 1978 Lowe, Harzen &
Bagshaw, 1978). Comparados à resposta modelada, os desempenhos instruídos são
muito sensíveis às mudanças de contingências, mesmo em adultos verbais (Matthews
et al., 1977; Shimoff et al., 1981). Com instruções adequadas, os humanos verbais
podem ser levados a responder de maneiras que parecem imitar o comportamento de
infra-humanos (Baron & Galizio, 1983), mas outras pesquisas tem mostrado que
diferente do responder de infra-humanos, estes desempenhos também serão muito
rígidos quando as contingências mudarem subsequentemente (Hayes, Brownstein,
Haas & Greemway, 1980b; Shimoff, Matthews & Catania, 1980).
O que acontece com as regras que podem levar a tais efeitos profundos e
generalizados sobre as maneiras pelas quais o meio ambiemte tem um impacto sobre
o comportamento humano?. Em certo sentido, esta é a questão central do movimento
cognitivo dentro da psicologia comportamental. De maneira mais geral, é a questão
que necessitamos responder para entender os fenômenos clínicos adultos.
Uma possível explicação é que as regras podem gerar padrões de respostas que
impedem o contato efetivo com as contingências (Galizio, 1979). Isto não requer uma
análise especial do comportamento governado por regras em si. É bem conhecido que
são as contingências atuais com as quais entramos em contato e não as contingências
programadas que influenciam o comportamento (por exemplo, Anger, 1956;
Herrnstein, 1970). Assim, se somos levados por uma regra a nos comportarmos de
maneira que nos impeça de contactar com o meio ambiente de forma efetiva, não
seria surpreendente ver efeitos a longo prazo e generalizados das regras. Diversos
estudos, porém, tem mostrado que as instruções tem efeitos generalizados e danosos
sobre o comportamento, mesmo quando as contingências são conectadas (por
exemplo, Hayes et al., 1986). Também é sabido que as regras podem facilmente
estabelecer (engage) contingências sociais que podem, então, influenciar
profundamente o comportamento - uma noção para a qual eu retornarei mais tarde no
capítulo.
Uma alternativa interessante e uma possibilidade mais exótica tem aparecido
na última década. Pesquisas recentes têm demonstrado que os humanos podem
facilmente desenvolver um tipo especial de controle de estímulos. Consideremos uma
situação na qual um humano é ensinado que alguns estímulos arbitrários acompanham
vários outros. Por exemplo, suponhamos que mostremos a uma criança pequena uma

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figura de diversos animais imaginários. Pedimos à criança para escolher o "wheezu" e
dizemos "correto" somente quando ela aponta um animal de oito pernas. Depois
pedimos à criança para escolher o nome "wheezu" de uma lista de nomes e dizemos
"correto" quando a palavra escrita "wheezu" é selecionada. Em outras palavras,
ensinamos a criança que A vai com B, e A vai com C, onde A refere-se ao nome
falado, B à figura e C ao nome escrito. Animais podem aprender discriminações deste
tipo muito bem. Porém, se agora pedimos à criança para selecionar a figura que
corresponde a palavra escrita WHEEZU (por exemplo, escolher B diante de C), ela
fará isto bem rapidamente (Sidman & Tailby, 1983), mesmo que a escolha de B na
presença de C nunca tenha sido explicitamente reforçada. De maneira similar, a
criança rapidamente escolherá a figura de um Wheezu comparada com ela mesma
(isto é, escolherá B dado B) e será capaz, provavelmente, de dizer "Wheezu" em
resposta à figura ou à palavra (isto é, selecionará A dado, ou B ou C). Este fenômeno
é chamado "equivalência de estímulos" e parece representar um tipo
fundamentalmente diferente de controle de estímulos. Tanto quanto sabemos, os
humanos são os únicos animais que mostram esta habilidade prontamente. Mesmo em
primatas não tem sido encontradas estas associações não treinadas (Sidman, Rouzin,
Lazar, Cunningham, tailby & Carrigan, 1983).
É possível interpretar a equivalência de estímulos como um caso especial de
um fenômeno mais geral (Hayes, 1980; Hayes & Brownstein, 1983). Quando um
sujeito humano aprende que A "é o mesmo que B", isto sempre significa que B é o
mesmo que A. Encontramos muitos exemplos em que os humanos podem aprender a
responder aos estímulos com base em uma história com uma particular relação
arbitrária entre os estímulos, ou o que temos chamado um "quadro relacional". Por
exemplo, se a relação é sinonímica, quando uma pessoa escolhe B diante de A, a
estrutura implica que escolher A diante de B também será reforçado. A combinação
de duas estruturas sinonímicas como estas constituem o caso especial chamado
"equivalência de estímulos", mas, em princípio muitos outros tipos de relações podem
ser treinadas (por exemplo, opostos). Em resumo, os humanos podem aprender que os
estímulos arbitrários simbolizam outros estímulos porque podem responder a
indicações de uma relação em si, sem a necessidade de uma história direta com um
exemplo particular, (Hayes, 1986; Hayes e Brownstein, 1985).
Voltemos à minha afirmação de que o comportamento governado por regras
envolve o controle por estímulos que são eficazes devido a sua natureza verbal.
Podemos, agora, definir um estímulo verbal como um estímulo que tem suas
propriedades eliciadoras, estabelecedoras (establishing), reforçadoras, ou
discriminativas devido a sua participação em quadros relacionais (Hayes &
brownstein, 1985). O comportamento verbal pode ser definido como comportamento
que fornece estímulos verbais e tem sido estabelecido e mantido porque ele assim o
faz (it does so). Se esta perspectiva é conveniente, deveria haver uma clara relação
entre a habilidade para falar e a habilidade para responder a estímulos baseada em
relações arbitrárias. Há dados que sugerem isto. Tem sido recentemente mostrado que
as crianças sem linguagem ou sinalização (signing) produtiva não formam classes de
equivalência (Devany, Hayes & Nelson, 1986). Se a presente análise tem validade,
também deveríamos ser capazes de mostrar que os humanos podem responder aos
estímulos baseados na participação desses estímulos em classes relacionais e não a
partir do treino direto. Tais efeitos parecem ser comuns no controle verbal. Por
exemplo, suponhamos que uma garota tem uma classe de equivalência estabelecida
entre a palavra escrita GATO, a palavra falada GATO, e os próprios GATOS.

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Suponhamos ainda, que esta criança gosta de brincar com gatos e que se ela vê um
gato, se aproximará dele e brincará com o animal. Tendo esta história, se a criança vê
alguém olhando atrás da porta enquanto diz: "Oh, um gato!", ela pode ir atrás da porta
SEM NUNCA TER RESPONDIDO A TAL REGRA NO PASSADO E, TAMBÉM
SEM TER RECEBIDO REFORÇAMENTO PRÉVIO POR RESPONDER A ESTES
ESTÍMULOS. De maneira similar, se a palavra "BOM" é um reforçador
condicionado para a criança e agora lhe é dito que em Espanhol a palavra para
"BOM" é "BUENO" e que em Francês a palavra para "BUENO" é "BON", parece
bem provável que ela responderá à "BON" como a um reforçador condicionado, SEM
QUE "BON" TENHA SIDO EMPARELHADO PREVIAMENTE COM REFORÇO.
Esta transferência automática do controle dentro de quadros relacionais foi
demonstrada recentemente, em experimentos, para efeitos reforçadores condicionados
e discriminativos (Hayes, Brownstein, Devane, Kohlenberg & Shelby, 1985).
Baseado nesta análise, o controle verbal é realmente uma forma especial de
controle de estímulo. Os estímulos verbais são essencialmente efetivos devido a sua
relação arbitrária com outros estímulos - em resumo, devido a sua natureza simbólica.
Quando os estímulos verbais são efetivos porque eles especificam contingências, eles
são chamados regras. Os estímulos verbais também podem ter outros efeitos, como
quando funcionam como reforçadores, mas por causa da importância das regras,
limitarei minha discussão do controle verbal ao comportamento governado por regras
no restante do capítulo.
Para resumir, considero que a questão do controle cognitivo em humanos é
reduzível à seguinte questão: Quais são as contingências que poderiam produzir
regras verbais e poderiam determinar a influência destas sobre outras formas de ação
humana? Esta é uma classe de questões diferente daquela levantada pelos
behavioristas-cognitivistas que tratam a cognição como não sendo comportamento, ou
quem analisa o controle cognitivo em termos da influência de um comportamento
sobre outro, sem examinar adequadamente as contingências que deram lugar e
mantêm essa relação. Essencialmente, a posição cognitiva tradicional parece-se mais
com uma posição estímulo-resposta, porque a resposta aberta é automática e
diretamente produzida por pensamento.
Para dar uma sugestão acerca de onde isto nos levará, notemos que em minha
análise, uma modificação do controle exercido por regras pode envolver a alteração
das contingências envolvendo o controle verbal: SEM TER PRIMEIRO QUE
MUDAR AS PRÓPRIAS REGRAS. Mas ainda, pode envolver a alternação da
natureza, novamente SEM MUDAR, REALMENTE, A FORMA DA REGRA EM SI
MESMA. Enquanto um leitor cético poderia colocar que a natureza especial do
controle verbal ao qual eu aponto é exatamente o que os cognitivistas teóricos
sustentaram o tempo todo, a ocorrência desta análise em um contexto comportamental
dá lugar à conclusões e técnicas fundamentalmente diferentes.
Necessitarei discutir diversos outros aspectos das regras para tornar
compreensível minha abordagem à terapia, mas deverei discutir as regras no próprio
enfoque terapêutico. É a esse enfoque que me voltarei agora.

UM ENFOQUE CONTEXTUAL À MUDANÇA TERAPÊUTICA


Para centralizar melhor esta discussão, limitarei o que tenho a dizer ao
seguinte esquema situacional: um cliente procura a terapia queixando-se de certos

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problemas. Quando os problemas são examinados, fica claro que o cliente acredita
que seus problemas são certos comportamentos privados: pensamentos, sentimentos,
atitudes, crenças, lembranças, etc. Por exemplo, ele poderia dizer que está deprimido,
ansioso, aborrecido ou bravo. Ele também poderia dizer que acredita nas coisas
erradas ou não consegue acreditar nas coisas certas - ele poderia, por exemplo,
acreditar que ele não é bom, ou não consegue confiar nos outros. Usualmente, se o
terapeuta o testa, descobrirá que o cliente sente que estas coisas são más devido a
outros efeitos que parece ter. A pessoa ansiosa pode acreditar que sua ansiedade está
causando comportamentos de esquiva, e a pessoa deprimida que a depressão está
causando isolamento social ou falta de atividade. O obsessivo-compulsivo pode sentir
que as obsessões estão levando-o a rituais sem sentido ou a uma inabilidade para
concentrar-se em outras coisas. O marido ciumento pode sentir que seu ciúme o está
levando a brigar. É somente clientes deste tipo que eu planejo discutir neste capítulo,
mas isto não representa uma restrição importante porque qualquer terapeuta clínico
verá rapidamente que a grande maioria dos adultos que são pacientes externos
voluntários podem ser incluídos nesta definição.

O SISTEMA
Quando os clientes chegam à terapia eles trazem um excesso de bagagem com
eles. Eles não só têm problemas, eles têm lutado com seus problemas, acreditam que
seus problemas são causados por isto ou por aquilo, acreditam que o que eles têm que
fazer para resolver seus problemas é uma coisa ou outra, ou acreditam que seus
problemas são insolúveis. Estas ações e crenças originaram-se em comunidade sócio-
verbal que, indubitavelmente contribuíram para que elas surgissem. Ao falar com os
clientes eu gosto de chamar este contexto todo "o sistema no qual seus problemas
estão sendo mantidos". Lembremos que em uma perspectiva comportamental, os
comportamentos devem ser analisados em contexto. O "sistema" aponta um aspecto
importante do contexto no qual os problemas dos clientes acontecem: os contextos
"lógicos" da comunidade sócio-verbal.
Este sistema pode muito bem ser expressado como um silogismo lógico. Não
quero dizer que os clientes realmente reconhecem a lógica disto - é mais implícito que
explícito - mas simplesmente que o silogismo expressa a essência da questão.
Realmente, eu uso este silogismo na terapia, mas não no início. Estou colocando-o no
início agora para estabelecer um contexto intelectual para o capítulo.
O primeiro aspecto do silogismo é que TODO COMPORTAMENTO É
CAUSADO. Apesar do fato de que a maioria dos clientes não são deterministas eles
se posicionariam dessa maneira (for so they would claims), a sua presença na terapia
sugere que, pelo menos até certo ponto, eles acreditam que seu comportamento é
controlado. De outra maneira, por que eles pagariam a alguém entre 55 e 60 dólares a
hora para tentar produzir algumas mudanças?. Os behavioristas tenderão a ter pouco
problema com este aspecto do sistema.
A segunda proposição neste silogismo é que RAZÕES SÃO CAUSAS. Por
razões entendo, simplesmente, as explicações e justificativas verbais que as pessoas
dão por suas ações, crenças, sentimentais, etc. Tipicamente, estas razões são dadas em
resposta a questões que, se tomadas literalmente, indagam acerca das causas, de
maneira que parece sensato considerar as respostas como tentativas de descrições de
relações causais. Assim, por exemplo, uma pessoa pode perguntar para alguém: "Por

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que você brigou com seu marido?". A resposta pode ser "Ele me deixou louca" ou
"Eu não tenho gostado da maneira como ele vem me tratando". Um agorafóbico,
quando se lhe pergunta: "Por que você evitou a avenida?" poderia dizer "Por que
estava muito ansioso". Um depressivo, quando indagado "Por que você está
restringindo tanto suas atividades?”, poderia responder: “Porque não sinto vontade de
fazer mais nada".
Existem, entretanto, problemas maiores quando consideramos razões como
causas (Skinner, 1974). Parece extraordinariamente improvável que as pessoas
tenham acesso a grande parte do material necessário para entender seu próprio
comportamento. Como eu digo a meus clientes, se isto não fosse verdade, seríamos
todos doutores em Psicologia. Os cientistas comportamentais têm apenas começado a
entender o mais simples comportamento, do mais simples dos organismos nos mais
simples dos ambientes. Vidas acadêmicas inteiras têm sido gastas na compreensão de
porque um platielminte vira à esquerda em um labirinto em forma de T. Os seres
humanos são organismos extremamente complexos com histórias extremamente
complexas. Sabemos muito pouco acerca de tópicos chaves do comportamento
humano, tais como comportamento verbal. A idéia de que o tipo de explicação verbal
que damos acerca de por que fazemos coisas tem muito haver com por que realmente
fazemos as coisas, é simplesmente absurda. Mesmo se uma razão for verdadeira ela é
uma parte tão pequena do quadro, que é funcionalmente falsa. De maneira que, por
exemplo, se uma pessoa diz que uma briga com o marido aconteceu porque "ele me
deixou louca". Pode ser literalmente verdade - uma reação chamada raiva pode
realmente ter estado presente - mas é funcionalmente falsa porque não sabemos (1)
por que a raiva ocorreu, (2) o que mais, além da raiva, contribuiu para a briga, e (3)
como a raiva veio a controlar a briga desta maneira. Presumivelmente, uma resposta
compreensiva deveria analisar as contingências filogenéticas e ontogenéticas que
deram lugar a todas essas considerações. Poderíamos necessitar saber, por exemplo,
dados da história da pessoa em relação à raiva, brigas, controle social, etc.
Infelizmente, a maioria das pessoas dificilmente conseguem lembrar o que comeram
no desjejum de ontem, e muito menos que eventos no passado remoto pertencem à
sua história de aprendizagem em relação a uma situação determinada. A dificuldade é
maior que o mero acesso aos eventos. Mesmo se conhecêssemos TODOS os eventos
da vida de uma pessoa, ainda não saberíamos como organizá-los em unidades
funcionais significativas. Por todos estes motivos parece impossível que as razões
possam ter muito a ver com as causas.
Isto não quer dizer que as razões não sejam um fenômeno comportamental
muito interessante por seu próprio direito. As razões têm, indubitavelmente, um papel
importante. Gastamos uma grande quantidade de tempo ensinando crianças a darem
razões. Uma criança muito pequena, por exemplo, frequentemente responderá:
"Porque sim", em resposta a um pedido de razão, mas isto não seria permitido a uma
criança mais velha. Nós devemos ter uma razão para dar, em parte porque as razões
são a maneira como a comunidade verbal pode determinar se uma pessoa pode ou não
justificar seu comportamento consistentemente e em termos de regras de conduta
socialmente estabelecidas. Assim, por exemplo, se é perguntado a uma criança
pequena: "Por que você bateu em tua irmã?" e ela responde "Porque ela me deixou
louco", podemos explicar à criança o que fazer quando ela "fica louca". Não estamos
pedindo à criança para engajar-se em especulações científicas acerca do que causou o
seu comportamento. É fácil de ver, quando examinamos respostas que podem ser
mais corretas cientificamente, mas que perdem contato com as normas sociais.

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Suponhamos que esta mesma criança responda à mesma pergunta, da seguinte
maneira: "Porque ela faz coisas que eu experimentei como aversivas". A estimulação
aversiva é uma operação estabelecedora (establishing operation) que leva a um estado
aumentado de reforçabilidade (maior susceptibilidade ao reforço), em relação à
estimulação sensorial provida pelo bater fortemente os nós dos meus dedos contra sua
cara. Além do mais, eu tenho tido uma extensa experiência em relação às
consequências sociais imediatas da agressão que têm reforçado o meu "bater". Parece
provável que tal resposta - mesmo que possa estar mais perto de uma descrição de
causalidade na situação - teria obtido menos suporte por parte da comunidade verbal
do que a resposta anterior, obviamente inadequada. Tudo isto não seria um problema
tão grande não fosse o fato de que as pessoas, eventualmente, começam a levar suas
razões muito à sério e as tratam como se fossem causas. Para a comunidade verbal
isto é desejável porque significa que o comportamento que não pode ser justificado
em termos de normas sociais é menos provável que seja emitido - não é "razoável",
emití-lo.
Clinicamente, parece como se a maioria dos clientes explicasse seu
comportamento parte com base em pensamentos, sentimentos, atitudes, lembranças,
crenças, sensações corporais, etc. Mesmo quando os clientes não parecem estar
tentando explicar o comportamento por si, eles avaliam sua vida em termos desta
mesma coisa. Por exemplo, se diz que a vida da pessoa não vai bem se ela ou ele está
"deprimida" ou "ansiosa". Este é um tipo de razão dada em um nível mais elevado.
Para encurtar a lista, permitimos que as palavras PENSAMENTOS e
SENTIMENTOS valham (stand for all) para todos os comportamentos privados que
são comumente apontados como as razões para as ações humanas ou como a base
para a avaliação do sucesso ou fracasso humanos. A terceira proposição do silogismo
é que PENSAMENTOS e SENTIMENTOS SÃO BOAS RAZÕES.
A experiência clínica sugere a ubiquidade (onipresença) desta parte do
sistema. Os clientes frequentemente vêm à terapia queixando-se de "ansiedade" ou
"depressão". De maneira típica, há muitos problemas da vida real que são explicados
através destes comportamentos privados. Tais pessoas podem estar isolando-se
daqueles que estão em volta deles, fracassando em seus relacionamentos, evitando
certas situações necessárias, etc. No caso mais raro quando uma pessoa está se
comportando de maneira muito eficaz a um nível aberto e está queixando-se de
depressão ou ansiedade, essa pessoa usualmente não está respondendo somente ao
pensamento ou ao sentimento, mas a seu significado, de acordo com a comunidade
verbal. A presença de ansiedade, por exemplo, "significa" que a vida da gente não
está indo bem. Nossa área tem aceito de tal maneira este contexto geral, que nós
rotulamos as desordens e os tratamentos nesses termos. Se é dito que alguém tem uma
"desordem de ansiedade" estamos obviamente implicando que a própria ansiedade é o
problema. Segundo meu ponto de vista, porém, é o próprio sistema que faz parecer
sensato que a ansiedade seja o problema. Que evidências temos de que as pessoas
tendem a utilizar os eventos privados para explicar o comportamento, e que estas
explicações são vistas como "boas" razões?. Uns poucos anos atrás, Elga Wulfert,
Suzanne Brannon e eu coletamos dados acerca desta questão. Elaboramos uma série
de situações clínicas comuns, nas quais um cliente engajava-se em comportamento
clinicamente indesejável. Depois, pedíamos a um número de estudantes da graduação
que lessem a descrição e escrevessem diversas razões que o cliente provavelmente lhe
daria se lhe perguntassem porque o comportamento tinha acontecido. Por exemplo, se
um cliente alcoólatra ficasse bêbado, que razão ele poderia dar por este

12
comportamento?. Cerca de 80% das razões que as pessoas listavam para uma ampla
variedade de situações referiam-se somente a eventos privados, e não a eventos
externos nos quais o comportamento poderia ser uma função. Quando pedíamos às
pessoas que escrevessem as razões que eles próprios dariam se eles estivessem em tal
situação, as respostas eram similares. Mesmo as poucas razões que apontavam a
eventos externos também incluíam, tipicamente, eventos privados (por exemplo, "Ele
me deixou louco quando fez X"). Pedimos, depois, a estes mesmos sujeitos, para
avaliarem a validade de cada razão em uma escala de 1. (baixa validade) a 7 (alta
validade). As avaliações médias eram muito altas (cerca de 5,8) e não diferiam entre
as razões que envolviam puramente comportamentos privados e aquelas que
envolviam o ambiente externo. Em resumo, as pessoas nos disseram que os
pensamentos e os sentimentos são as razões mais comuns dadas por elas mesmas ou
por outras em relação a comportamento clinicamente indesejável e que estas razões
eram completamente válidas. Por favor note que, os auto-relatos nesta situação são,
de fato, o comportamento de interesse. Isto mostra que a comunidade social verbal
(que estabelece o sistema que estou discutindo) sustentará razões deste tipo.
A quarta proposição no silogismo flui muito naturalmente das três primeiras:
OS PENSAMENTOS E OS SENTIMENTOS SÃO CAUSAS: Já tenho discutido de
que maneira isto não é uma perspectiva bahaviorista radical. Em tal perspectiva, só
contingências são causas. Isto não é tão arbitrário como poderia parecer. Obviamente
o comportamento influencia o ambiente o qual, por sua vez, influencia o
comportamento futuro. No caso das relações comportamento-comportamento,
obviamente o primeiro comportamento tem propriedades de estímulo que podem
contribuir para o controle do segundo. Podemos notar nossos próprios pensamentos,
por exemplo, justamente como poderíamos ouvir instruções dadas por outros. Porém,
há uma boa razão para levar a sequência de volta ao nível ambiental antes de chamar
um evento de causa. Do ponto de vista pragmático da ciência adotada pelo
behaviorismo radical, o propósito da análise de contingências é permitirmos a
predição, o controle e a compreensão dos fenômenos. Se permitirmos que o
comportamento seja considerado a causa do comportamento, isto pode levar
diretamente à predição mas não ao controle. Não podemos manipular o
comportamento diretamente - somente podemos manipular os eventos ambientais (ver
Hayes e Brownstein, 1986a, 1986b) para discussões mais detalhadas destas questões.
Assim, os comportamentos - e seus produtos, os estímulos privados - podem
participar completamente nas relações causais, mas não deveriam ser vistos em si
próprios como causas de outros comportamentos do mesmo indivíduo. Em qualquer
caso, eu só quero notar aqui que a perspectiva que estamos analisando difere
dramaticamente de uma perspectiva behaviorista radical, mas não de uma perspectiva
cognitivista-comportamental.
A quinta proposição é um requisito lógico: PARA CONTROLAR O
RESULTADO DEVEMOS CONTROLAR SUAS CAUSAS: Para que a palavra
CAUSA signifique o diz, este é um truísmo.
Com estas cinco proposições a armadilha está acionada, porque deve seguir-se
logicamente que PARA CONTROLAR O RESULTADO DEVEMOS CONTROLAR
OS PENSAMENTOS E SENTIMENTOS. No início, pode não ser evidente por que
isto é uma armadilha. Realmente, o campo da psicoterapia (especialmente a terapia
comportamental) tem definido frequentemente seus procedimentos em termos de
controlar os pensamentos e sentimentos. Assim, por exemplo, falamos facilmente de

13
"procedimentos de manejo (management) da ansiedade", ou de "re-estruturação
cognitiva". A Psicologia tem sido quase completamente inserida dentro da corrente
cultural predominante que dita a necessidade de controlar os eventos privados para
viver uma vida bem-sucedida. Há boas razões para acreditar porém, que a intenção de
controlar os pensamentos e sentimentos é frequentemente contra-produzente
(counterproductive) particularmente com pessoas que apresentam desordens clínicas.
Até certo ponto, a última afirmação é o tema central de todo capítulo; eu
posso, assim, fazer somente uma defesa parcial desta colocação, no presente. O fato
de que tentativas deliberadas de fazer alguma coisa são, de fato, instâncias de
comportamento governado por regras. Quando acrescentamos qualificadores à ação
humana, tais como, "deliberada, proposital, consciente, intencional", etc., fazemos
assim porque reconhecemos que o comportamento não é somente modelado pelas
contingências. Não se diz, por exemplo que os infra-humanos fazem alguma coisa
"deliberadamente" - eles o fazem ou não o fazem baseados na situação atual e na sua
história prévia. Assim, tentativas deliberadas para controlar os sentimentos e os
pensamentos resumem-se em tentativas de controlar os pensamentos e os sentimentos
seguindo uma regra (por exemplo, "Não sinta X"). Na maioria das situações clínicas o
sentimento ou o pensamento que estamos tentando controlar é visto como
problemático e, assim, a meta é livrar-se deles ou, de alguma maneira diminuí-los.
Consideremos o que é provável que aconteça, porém, se usamos uma regra
para, por exemplo, livrar-mos de um pensamento. Para conseguir isso, devemos
especificar o pensamento a ser eliminado. O pensamento, porém, deve estar em uma
classe relacional com a regra, para ser especificado. Isto é, as palavras contidas na
regra devem, até certo ponto, serem equivalentes à forma do próprio pensamento. Sob
estas condições, a regra em si mesma realmente ajudará a criar o próprio evento
privado que a pessoa está tentando evitar. Os obsessivos-compulsivos tentam,
frequentemente, seguir regras tais como: "Você não deve pensar acerca de ferir outras
pessoas". Uma regra desta classe provavelmente criará pensamentos acerca de ferir
outras pessoas porque contêm eventos que estão em uma classe de equivalência com o
pensamento. Assim, quanto mais tentamos seguí-la fica pior. Discutirei este concento
e a base teórica do mesmo com maior profundidade quando eu descrever minha
aproximação à terapia.
Por enquanto só é necessário reconhecer que estou levantando a questão de
que há um problema: de acordo com o sistema em que estamos inseridos em virtude
da nossa participação nesta comunidade verbal, a meta de um cliente provavelmente
seja eliminar pensamentos e sentimentos através do seguimento de uma regra. Isto
pode ser fundamentalmente falho por que, apesar das aparências em contrário, não
necessitamos mudar os pensamentos e sentimentos para mudar outros
comportamentos ou levar uma vida bem sucedida; assim, os pensamentos e
sentimentos não são o problema, de qualquer maneira. Além do mais, tentar eliminar
os pensamentos e sentimentos deliberadamente é, com frequência, ineficaz. Se isto é
assim, o sistema sócio-verbal que temos estado descrevendo cria uma armadilha que
pode frustar as tentativas de mudar a situação de vida atual de uma pessoa. Ver os
pensamentos e os sentimentos como o "problema" é, em si mesmo, parte do
problema. Além disso, as soluções geralmente propostas para este "problema"
também são parte do problema.

DISTANCIAMENTO COMPREENSIVO (Comprehensive Distancing)

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Durante os últimos sete anos tenho desenvolvido um enfoque particular à
terapia baseado na intenção de enfraquecer o sistema que tenho descrito. Ele não é
tanto um conjunto de técnicas como um contexto no qual diversas técnicas podem ser
incluídas. Cada cliente que chega e que se encaixa na descrição que dei no início
desta seção é provavelmente tratado dentro deste contexto. O enfoque é chamado
distanciamento compreensivo. De maneira típica, as primeiras sessões depois da
avaliação inicial serão utilizadas para o estabelecimento deste contexto de trabalho.
Depois disso, faço muitas das coisas que outros terapeutas fazem, mas deste contexto.
Eu acredito que este enfoque transcende a distinção entre terapia cognitiva e terapia
comportamental na medida em que é um enfoque organizado em bases
comportamentais que pode incorporar os conjuntos de técnicas dos dois tipos de
terapia. O distanciamento compreensivo tem diversas metas que podem ser arranjadas
mais ou menos de acordo com a sua sequência normal em terapia.

META 1: ESTABELECER UM ESTADO DE DESESPERANÇA CRIATIVO


Quando as pessoas vêm à terapia elas prontamente descreverão aspectos de sua
vida que elas sentem que devem ser mudados. Os problemas são identificados e são
propostas soluções com base em nossa história com uma comunidade verbal que nos
ensina a avaliar nossa vida e a modificar eventos de acordo com isto. Este é o
"contexto sócio-verbal" de nossos problemas. Por "contexto" eu considero
simplesmente as contingências e conjuntos de contingências; as contingências são
sócio-verbal no sentido de que elas são estabelecidas e mantidas por uma comunidade
de organismos verbais . Em um enfoque contextual à mudança terapêutica, não são
necessariamente os "problemas" que são problemáticos, mas o contexto sócio-verbal
em que ocorrem.
Há três contextos maiores e relacionados (i. e., conjunto de contingências) que
são estabelecidos pela comunidade sócio-verbal. Primeiro há o contexto de
literalidade. As palavras têm significados e os eventos são categorizados do ponto de
vista conceitual com base na maneira como a comunidade verbal refresca
constantemente as relações entre vários estímulos. Por exemplo, a palavra
ANSIEDADE é usada mais e mais vezes na conversação do dia-a-dia e cada vez que
é usada uma outra unidade (bit) de aprendizagem ocorre. A ansiedade significa que,
isto é chamado ansiedade, a ansiedade é ruim, etc. É como no exemplo anterior de
escolha de acordo com o modelo, envolvendo uma criança e o wheezu, com a
diferença de que as tentativas nunca terminam. Isto é o que quero dizer com "contexto
de literalidade". É tão onipresente que é difícil vê-lo como um contexto - é como um
peixe tentando ver água como água. Realmente, à medida que você lê este capítulo
você está nadando no próprio mar que estou apontando. Você não vê estas palavras
como rabiscos em um papel; você vê (ou, mais frequentemente, quase "escuta") as
"próprias palavras". Exatamente da mesma maneira, quando uma pessoa tem um
pensamento, ele imediatamente "significa alguma coisa" quer este significado
contribua ou não para a vida bem sucedida. A pessoa pode aparentemente ter que
responder ao significado do pensamento DADO ESTE CONTEXTO. Uma
determinada relação comportamento-comportamento é estabelecida.
Segundo, há o contexto de dar razões. Eu já expliquei este contexto com
algum detalhe. De acordo com a comunidade sócio-verbal, certos eventos explicam
outros eventos. Este contexto pode, então, contribuir para o controle pela presença ou
ausência destes mesmos eventos, Por exemplo, uma pessoa deprimida pode explicar

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com toda sinceridade que é impossível desempenhar alguma ação devido a uma falta
de energia. De fato, a pessoa receberá algum grau de sustentação em relação ao
sentido da explicação. Assim, um sentimento chamado "falta de energia" pode
realmente vir a controlar o comportamento DADO ESTE CONTEXTO. Uma
determinada relação comportamento-comportamento é estabelecida. O contexto de
dar razões é tão poderoso e permeia tudo, tanto que o leitor pode pensar que é
estranho colocar que uma pessoa poderia realizar uma ação sem alguma energia.
Estou sugerindo que, dados outros contextos, as podem de fato comportar-se
energicamente E SENTIR que elas não têm qualquer energia. Se isto parece
improvável temos aí a evidência de um contexto de dar razões na comunidade sócio-
verbal que nos influencia a todos. Dado tal, contexto, se nós sentíssemos que não
tínhamos nenhuma energia, pareceria "razoável" refrearmo-nos de fazer qualquer
coisa que demandasse energia.
O contexto final é o do controle. Baseando nossa lógica na literalidade e em
dar razões, chegamos a acreditar que certas coisas devem mudar antes que outras
possam fazê-lo. Isto é, devemos controlar A para que aconteça B. Uma pessoa deve
livrar-se da depressão para ser feliz. Uma pessoa deve se livrar da ansiedade para
poder realizar coisas assustadoras. Assim, a presença de A deve aparentemente levar a
esforços para livrar-se de A, DADO ESTE CONTEXTO. Outro tipo de relação
comportamento-comportamento é estabelecida.
Eu acredito que cada um destes contextos pode produzir resultados
patológicos em determinados momentos. Desde que cada um deles é um conjunto de
contingências estabelecidas e mantidas pela comunidade verbal dominante, a primeira
meta da terapia deve ser criar uma nova comunidade verbal, que opera dentro de um
contexto diferente -isto é, dentro de um conjunto diferente de contingências. Isto é
muito difícil porque o cliente traz uma história comportamental consigo. Assim,
quando um terapeuta diz alguma coisa para um cliente isso é ouvido nos contextos
que necessitam ser mudados.
Por estas razões, minha primeira meta na terapia é desafiar estes contextos. A
única maneira que eu conheço de fazer isso é comportar-se de maneira que não se
encaixe nestes contextos. Os contextos de literalidade, de dar razões, e de controle são
tão fundamentais que é impossível alterá-los comportando-se "razoavelmente".
Muitas das intervenções comportamentais "hard-nosed" tradicionais, por exemplo,
tentam ignorar estes contextos sem desafiá-los diretamente. A longo prazo, esta
estratégia parece fadada a fracassar se os próprios contextos são parte do problema,
porque deixa tais contextos ignorados mas intactos. A única maneira de alterá-los é
fazer coisas que não se encaixam neles.
A seção seguinte é uma aproximação grosseira do que deveria ser dito na
primeira sessão terapêutica depois da fase de avaliação inicial. Ao longo de grande
parte do restante do capítulo, irei alternando as descrições de sessões, com textos à
parte para o leitor. Pressuporei que o cliente tem uma "desordem de ansiedade", tal
como agorafobia, uma vez que esta desordem representa muito bem algumas das
principais dinâmicas do sistema no qual os clientes funcionam. Apesar de que a
maioria das descrições de casos será hipotética (no interesse da eficiência e clareza),
virtualmente toda sentença dentro destas descrições são afirmações que eu tenho
realmente dito, ou um cliente tem realmente dito. Elas não são meramente
“inventadas”.

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TERAPEUTA: Quero começar a estabelecer algum trabalho de base em relação a
seus problemas. Você vê, você veio aqui procurando uma solução para estes
problemas, mas eu me preocupo (worried lest) que acabemos fazendo primeiro coisas
que te afundarão mais ainda nesses problemas. Pode ser difícil visualizar que parte do
problema é o que você tem estado chamando "a solução". Você tem uma idéia do que
você necessita para ser capaz de lidar com estes problemas, mas você teve estas idéias
antes de vir aqui. Você tem tentado isto e aquilo. Você não se pergunta algumas vezes
por que estas coisas não funcionam? É claro, algumas vezes parecem funcionar, mas
ultimamente não - de outra maneira, você não estaria aqui. Bem, o que aconteceria se
o problema fossem as próprias soluções que você tem tentado. É como se uma pessoa
que veio ao médico com dor de cabeça tenha estado tentando curar essa dor batendo-
se na cabeça. O primeiro trabalho que o médico teria, seria parar com os golpes. Bem,
nós estamos numa situação exatamente como essa. De maneira que eu não posso
simplesmemte correr e tentar ajudar. Primeiro tenho que parar com o que tem estado
fazendo com que as coisas paralisassem. Para conseguir isso você terá que permitir
que eu assuma considerável controle sobre as próximas sessões. Eu quero que você
saiba, porém, que isto não é maneira como a terapia será permanentemente. Você
pode pensar, por momentos, em relação às próximas sessões que eu estou somente te
confundindo ou que não estou mesmo te ouvindo. Isto é parte do que precisa
acontecer para quebrar o sistema que tem te mantido paralisado.
Meu propósito, nestas afirmações de abertura, tem a ver com duas coisas: colocar
sobre a mesa que eu não farei o que o cliente espera que eu faça e que eu quero a
permissão do cliente para assumir temporariamente o controle que necessito para
conseguir que um bom trabalho seja realizado. Quero que o cliente entre para a
terapia com advertências justas.
TERAPEUTA: Se deixamos de lado todos os detalhes, você está dizendo que o que
você necessita para ser capaz de avançar em sua vida é livrar-se de uma emoção
indesejável: a ansiedade. Se você pode eliminar, reduzir, manejar ou de alguma outra
forma controlar sua ansiedade, ENTÃO você poderá avançar. Em outras palavras, a
ansiedade é o problema: enquanto está aqui, pelo menos enquanto ela é tão intensa,
sua vida nunca funcionará.
CLIENTE: É isso mesmo. Ninguém pode viver com a ansiedade que eu sinto.
TERAPEUTA: O.K. E o que você quer perceber é que uma grande quantidade de
comportamento tem emergido desde esta perspectiva. Você tem realmente se
esforçado para atingir esta meta. Você fez tudo o que você sabe à respeito.
CLIENTE: Sim, mas nada tem realmente funcionado. Algumas coisas funcionam um
pouco - não sei o que faria sem tranquilizantes, por exemplo. Porém, não tenho feito a
lista ainda.
TERAPEUTA: E você está aqui para que eu te ajude a fazer isso, mas o que eu quero
que você saiba desde o começo é que eu não posso e não o farei. Você pensa que há
uma saída; que você só não tem a técnica certa. De maneira que eu suponha que você
quer que te forneça a técnica certa. NÃO TENHO ESSA TÉCNICA PARA DAR. Ela
não existe. Não há saída. Dentro do sistema em que você está funcionando você está
preso. Olha, você não tem o sentimento de que você não tem esperanças? Você não
tem pensado nisso?. E isso assustou você, não é?. Bem, sinto muito por ser eu aquele
que lhe diga isso, mas seus temores são adequados. Mantida a situação da maneira

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como você o faz, a situação não tem esperanças. Sem brincadeira. Sei o que estou
falando. Não há saída.
CLIENTE: Bem, então por que estou vindo ver você? Por que pago a você para que
me ajude?. O que você pode fazer por mim?
TERAPEUTA: Não sei. Eu certamente não vou te ajudar a se livrar da sua ansiedade,
a se livrar de seus temores, a colocar todos os seus pensamentos enfileirados. Você
tem jogado esse jogo durante anos e NÃO TEM FUNCIONADO. Você sabe disso.
Bem, eu estou aqui para te dizer que nunca funcionará.
CLIENTE: Você quer dizer que estou sem esperanças. Deveria desistir.
TERAPEUTA: De certa maneira, sim. Realmente, VOCÊ não está sem esperanças.
Mas o sistema dentro do qual você funciona não tem esperança de funcionamento. Ele
nunca fará você funcionar.
CLIENTE: Então, qual é o outro sistema?. Você parece implicar que há outro
caminho?
TERAPEUTA: Bem, primeiro, não há outra maneira de conseguir realizar o que você
quer. Há uma maneira pela qual sua vida deixe de estar paralisada, mas neste
momento não posso lhe dizer qual é, porque você não me ouviria. Você ouviria as
palavras e em primeiro lugar as colocaria rapidamente dentro do mesmo velho
sistema em que está o problema real. Esse sistema está em todo lugar. Está neste
quarto exatamente agora. De fato, posso dizer em completa confiança que o que você
pensa que estou tentando dizer não é o que estou dizendo em absoluto. Se você pensa
que você me entende neste momento, quero que você saiba que o que você pensa que
estou falando não é o que estou dizendo.
O uso de "paradoxos" desta maneira, se feito com moderação, é uma das
maneiras mais rápidas de afrouxar o sistema verbal com o qual o cliente chaga à
terapia. Coloca os clientes em uma posição insustentável: se eles o entendem, eles não
o entendem. Este é um ataque direto ao contexto da literalidade. A medida que os
clientes percebem suas opiniões acerca do que o terapeuta está dizendo, eles também
não podem tomá-las literalmente porque o que quer que eles pensem lhes é dito que
não é assim. Isto permite ao terapeuta dizer coisas aos clientes que não teriam um
impacto se a afirmação tivesse primeiro que ser entendida para ser útil.
TERAPEUTA: Permita-me lhe dar uma metáfora que poderia ajudar você a ver o que
estou dizendo. A situação em que você está é algo semelhante a isto. Imagine um
grande campo. Você está com os olhos vendados, lhes são dadas algumas
ferramentas, e lhe é dito para correr pelo campo. Você não sabe, mas há buracos no
campo eles estão bem espaçados, mas você acaba caindo dentro de um deles e tenta
sair. Você não sabe exatamente o que fazer, de maneira que você pega a ferramenta
que parece mais útil e você tenta sair. Infelizmente, a ferramenta que lhe deram é uma
pá. E você cava e cava. Mas cavando, com uma ação que faz buracos e não com uma
ação que vai ajudá-lo a sair. Você pode tornar o buraco mais profundo ou mais largo,
ou pode haver toda uma classe de passagens que você pode construir, mas
provavelmente ficará preso dentro do buraco. Então você tenta outras coisas. Você
tenta calcular como foi que caiu no buraco. Tenta pensar: "se eu não tivesse virado à
esquerda naquela elevação, não teria caído no buraco". E, é claro, isso é estritamente
verdade, mas não faz nenhuma diferença. Mesmo se você soubesse cada passo que
você tomou, você não sairia do buraco. De maneira que não vamos perder tempo

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demais tentando descobrir os detalhes de seu passado - muitos destes surgirão por
outros motivos e lidaremos com eles, mas não de maneira que você saia do buraco em
que você está. Outra coisa que você pode fazer quando você está dentro do buraco é
tentar encontrar uma pá realmente grande. Você pensa que talvez esse seja o
problema: você necessita de uma pá a vapor folheada a ouro. Mas eu não o farei, e
mesmo se o fizesse eu não faria nenhum bem porque as pás não ajudam as pessoas a
saírem de buracos. Para sair de um buraco você precisa de uma escada e não de uma
pá.
CLIENTE: Então, qual seria a escada? Como faço para sair?
TERAPEUTA: Veja, a razão pela qual eu não posso responder a isso agora é que não
lhe faria nenhum bem a menos que você deixe de lado sua determinação de cavar para
sair do buraco. Neste momento, se lhe fosse dada uma escada tentaria cavar com ela.
De maneira que me deixe voltar a isso e dizer que não podemos começar a progredir
até que você realmente comece a encarar o fato de que não há saída, devido a forma
como você está agindo. Não importa como você o faça, você não pode cavar para sair
do buraco. Cavar mais depressa não funcionará. Colocar mais reforço nisso, não
funcionará. E não há espaço para fazer o que funcionaria a menos que você deixe de
lado a pá.
Usualmente eu paro neste tópico durante algumas sessões. Utilizo diversos
outros tipos de metáforas para que o ponto seja entendido. As metáforas são
excelentes meios de falar com os clientes porque permitem que o terapeuta utilize a
linguagem sem ter que usá-la literalmente e, assim, sem fortalecer o próprio contexto
que cria, em primeiro lugar, o problema. Tudo quanto os clientes expressam durante
esta parte do tratamento - frustração, determinação, cooperação irrefletida - nada mais
é que outros comportamentos que estão fortalecidos e o único comportamento que
está realmente fortalecido é, por definição, o comportamento que não funcionou no
passado. Assim, eu faço notar o que o cliente está fazendo e aponto que esse
comportamento também é um recurso velho e que não funcionará. A meta é
estabelecer um estado de desesperança criativo. Isto é, quero todas as vias de fuga
cortadas para que o comportamento controlado pelos contextos de literalidade, de dar
razões e de controle possam ser parcialmente enfraquecidos. Isto permite que o
cliente comece a engajar-se em alguns novos comportamentos que existem somente
fora destes contextos e que poderiam realmente funcionar. Também tende a aumentar
grandemente a motivação do cliente para a mudança. Na linguagem do
comportamento governado por regras, serve como um AUMENTADOR
(AUGMENTAL) isto é, como uma regra que trabalha, em parte, mudando o valor
reforçador de certas consequências (Zettle & Hayes, 1982). Neste caso, encontrar uma
nova maneira de abordar esta situação é de importância primordial. É então que os
clientes realmente começam a procurar seus pressupostos de uma maneira como
nunca o fizeram antes.
Indubitavelmente, alguns leitores vêem este enfoque como severo ou mesmo
perigoso. Poderia de fato sê-lo se os clientes sentissem que o terapeuta estivesse
criticando-os ou que o terapeuta estivesse dizendo que eles mesmos não tinham
esperanças. A questão que deve estar presente na sessão, entretanto, é a de que, trata-
se de um desafio ao sistema que os paralisa e não um desafio a eles próprios como
pessoas. Eu conduzo isto de uma forma firme, confrontacional, mas de abordagem
confusa. Eu não os estou atacando - estou atacando o sistema. Um breve piscar de
olhos ajuda a tornar isto claro. A maneira como o enfoque realmente funciona em

19
terapia pode ser vista a partir do seguinte diálogo que consta na transcrição de um
"workshop" que dei para terapeutas clínicos e ao qual estava presente um de meus
clientes agorafóbicos:
COMENTÁRIO DA AUDIÊNCIA: Estou surpreso que eles tenham voltado para uma
segunda sessão.
SCH: Nunca aconteceu que um cliente desistisse neste ponto. Usualmente eles estão
bem interessados - nunca alguém falou com eles desta maneira.
AUDIÊNCIA: Eu detestaria que um cliente saísse e cometesse suicídio quando você
diz que não há saída.
CLIENTE SENTANDO-SE: Junto com essa pancada vem também um sentimento de
esperança. Quando alguém vai à terapia, o faz pensando que fez tudo que podia. Quer
que o terapeuta faça uma mágica, mas no fundo sabe isso não é possível. Se fosse,
você já o teria feito. Você se sente aliviado de ouvir que você já tentou tudo. E com
isto você sente esperança porque calcula que ele deve saber alguma coisa que você
não sabe. De maneira que não se criam sentimentos suicidas. Você não consegue
esperar para descobrir aonde ele quer chegar com tudo isso.
Frequentemente, no começo da terapia tento distinguir culpa de
responsabilidade, o que ajuda a aliviar a possibilidade de uma reação improdutiva a
uma confrontação do sistema do cliente. A metáfora do homem-no-buraco pode
ajudar a entender este ponto, como foi descrito antes.
TERAPEUTA: Há algo que quero que você note em relação a isto. Na metáfora não é
culpa da pessoa o fato de ter caído no buraco e também não é sua culpa que não
pudesse sair. Se não tivesse sido este buraco poderia ter sido outro. Falha e culpa são
estabelecidos quando acrescentamos condenação social para tentar motivar alguém a
mudar. Você não necessita isso. Você já está motivado para mudar. Então, não é
culpa sua. Você não deve ser culpado. Você é, porém, responsável no sentido de
responder habilidosamente. Você tinha uma habilidade para responder de maneira
diferente na situação do que você o fez. Você somente não sabia o que fez. Você não
tinha que cavar anos furiosamente, como você o fez. Se isso não é verdade, então
nada pode ser feito agora, então não tente evitar a responsabilidade - somente saiba
que a habilidade para responder não é o mesmo que culpa. Nós não necessitamos de
culpa por aqui. As próprias consequências são suficientemente aversivas sem ter que
colocar a condenação social no topo disso. Quero que saiba que está muito claro para
mim que você gostaria que sua vida funcionasse. Se você soubesse o que fazer você o
teria feito.
Teoricamente, o propósito de tudo isto é começar a estabelecer um conjunto
diferente de contingências que os contextos de literalidade, de dar razões, e de
controle. Usando afirmações tais como: "O que você quer que eu faça não posso
fazer" ou "O que você me escuta dizer não é o que estou dizendo", eu ataco a
literalidade e o dar razões. Levantar a questão da responsabilidade é feito para dizer à
pessoa que estamos realmente falando de comportamento: há coisas a serem feitas. A
metáfora de cavar é utilizada para começar a atacar o contexto de controle, o qual
abordarei agora.

META 2: O problema é o controle

20
A próxima questão que é tipicamente encoberta é a natureza do sistema que
criou a armadilha. Como é aparente a partir da última seção, acredito que a natureza
disto é a tentativa inapropriada de controlar comportamentos privados. Este esforço é
baseado no ponto de vista de que estes comportamentos são, em si mesmos, causas
das principais dificuldades da vida. Em vez de estender-me em minhas análises
racionais teóricas (theoretical rationale) para fundamentar este ponto, irei diretamente
a uma descrição do enfoque assumido com os clientes.
TERAPEUTA: A situação em que você está é, em parte, semelhante a de uma pessoa
que tenta lidar com um sistema de endereços públicos inapropriadamente laborado
(placed). Você já esteve em palestra e ouviu, de repente um guincho?. Bem, o que
acontece é que o palestrante está muito perto do microfone dada a instalação dos
amplificadores. Quando o palestrante fala no microfone, o som é aumentado pelo
amplificador e é enviado para fora dos autofalentes. Se o som é captado novamente
pelo microfone e está somente um pouco mais alto desta vez, comparando à primeira,
então, tão rapidamente quanto a velocidade do som e da eletricidade, o som será
amplificado, captado, amplificado, captado, amplificado, etc. O resultado é um
guincho de feedback. Você está em um tipo de situação semelhante. O som é emoção.
O guincho de feedback (Feedback screech) está sendo dominado ou controlado por
sua emoção. Mas note que poderíamos facilmente sentir, em tal situação, que o
próprio som é o problema. Assim poderíamos viver nossas vidas ansiosos, tentando
não fazer ruídos. Mas o ruído não é o problema. O problema é o amplificador. Não
quero ajudar a viver sua vida muito quietamente. Eu quero ajudá-lo a encontrar o
amplificador e desligá-lo. Quando você fizer isso, ainda haverá ruídos (i e.,
ansiedade), e talvez ele seja frequente e alto e talvez não. De qualquer maneira não
será dominador.
CLIENTE: Então, o que é o amplificador?. Como posso desligá-lo?
TERAPEUTA: No mundo real, um amplificador é utilizado para regular e modular o
volume de um determinado som. É a mesma coisa aqui. Seu amplificador é a parte de
você que está perdendo seu tempo regulando e modulando suas emoções - ou, pelo
menos, tentando fezê-lo. Em uma palavra: "controle".
Na maior proporção da existência humana, consciência, controle proposital
funcionam muito bem. É o que tem feito a humanidade, tal como ela é hoje. A regra
é: "Se você não quer alguma coisa, calcule como livrar-se dela, e livre-se". Essa regra
funciona maravilhosamente bem no domínio das coisas físicas em nossa vida. Se você
não gosta da pobreza, consiga um trabalho. Se você não gosta de sujeira no chão,
limpe-o. Isto não é para ser ridicularizado ou minimizado. Se você examina o que o
resto dos seres vivos está fazendo, representa um grande avanço. Estamos quentes e
secos devido a nossa habilidade para pensar coisas e seguir tais regras; isto é, devido
ao controle consciente. É um problema, porém, que o mesmo sistema que funciona
tão bem para nós, como espécie, possa ser um desastre para nós nas áreas que
determinam o grau em que estamos satisfeitos com nossas vidas. Quando você aplica
o sistema do controle consciente ao mundo de nossa experiência privada, a regra
muda de maneira fundamental. Neste domínio a regra é: "Se você não quer tê-lo, você
o tem". Em outras palavras, tentativas de controlar seus pensamentos e sentimentos
como para livrar-se dos que são "maus" levará você a estar paralisado e controlado
por estes mesmos pensamentos e sentimentos. Isto é o que eu quis dizer com a pessoa
com a pá: cavar é simplesmente a tentativa de controlar o que você pensa e sente.

21
Imagine isto. Suponha que tivesse amarrado você a um polígrafo muito
sensível. É uma máquina tão refinada que simplesmente não há maneira de você ficar
ansioso sem que eu saiba. Agora imagine que eu elhe tenha dado uma tarefa muito
simples: não sentir-se ansioso. Porém, para ajudá-lo a motivar-se eu pego um
revólver. Eu lhe digo que para ajudá-lo nesta tarefa segurarei o revólver contra sua
cabeça. Enquanto você não ficar ansioso não atirarei em você, mas se você ficar, eu
atirarei. Você pode ver o que acontecerá?
CLIENTE: Com certeza eu levarei um tiro.
TERAPEUTA: Correto. Não há maneira de você seguir esta regra. Se é fundamental
não estar ansioso, adivinha como você estará?. Esta não é uma situação remota. É
exatamente a situação em que você está agora. Em vez de um polígrafo, você tem
algo muito melhor: seu próprio sistema nervoso. Em vez de um revólver, você tem
sua própria auto-estima ou seu sucesso na vida, aparentemente, na linha de fogo.
Então, imagine como você estará?
Você não tem notado que a coisa mais deprimente que existe é tentar aniquilar
sua própria depressão?. A raiva parece deixar você louco, a ansiedade deixa você
ansioso. É uma armadilha. Estamos aplicando uma regra que funciona perfeitamente
bem em uma situação à uma situação na qual a mesma é um desastre. E isto não
acontece só com sentimentos. Suponhamos que você tem um pensamento que você
não permite. De maneira que você tenta não pensá-lo. Isso funciona, não é?. Tente
agora. Não pense em rosquinhas recheadas; não pense em carros de corridas; não
pense em sua mãe. Adivinhe no que você pensa?
CLIENTE: Acredito que vejo o problema. Mas, qual é a alternativa? Ninguém
poderia estar tão ansioso como eu e, ao mesmo tempo, estar calmo.
TERAPEUTA: Bem, uma coisa que você deveria notar é que você realmente não
sabe como seria sentir ansiedade quando você não estivesse também tentando
controlá-la. Seria como uma pessoa que tivesse gasolina pelo chão todo e estivesse
convencida que o fogo é uma coisa horrível. No contexto da gasolina, é. Mas pode ser
que não o seja em um outro contexto. Em outras palavras, quando a ansiedade não é
mantida no contexto de tentativas deliberadas para controlá-la, a ansiedade pode
funcionar de maneira muito diferente.
CLIENTE: Você quer dizer que se eu desejar estar ansioso, a ansiedade irá embora?
TERAPEUTA: Eu não disse isso. Eu disse que poderia funcionar de maneira
diferente. Se a ansiedade está presente ou ausente, isso é uma outra questão. Se você
estar ansioso, uma de duas coisas acontecerão: ela irá embora... ou não.
CLIENTE: Muito engraçado.
TERAPEUTA: Não, olhe. Eu não estava tentando ser engraçado. Se você quisesse
sentir-se ansioso para conseguir que a ansiedade fosse embora, então você NÃO
ESTÁ querendo ser ansioso e a ansiedade não irá embora. Você não pode enganar a si
mesmo. Este não é um truque. Se você deseja estar ansioso, então você estar ansioso.
Quando você considera as coisas desta maneira, as únicas palavras para descrevê-las
são: "Ou você estará ansioso ou não". Em outras palavras, o resultado não é mais a
questão.
CLIENTE: Mas eu quero me ver livre de minha ansiedade.

22
TERAPEUTA: Realmente. E você age como se realmente se importasse, então, se
você resistir, mais cedo ou mais tarde você terá o que quer. Sabe o que?. A realidade
não importa. Sua experiência lhe diz que tentar livrar-se da ansiedade não funciona.
De maneira que, no que você acreditará?. Suas crenças ou sua experiência?. Se você
percebe que você quer livrar-se da ansiedade a questão é: você toma isso de maneira
literal?. Você vai seguir esta regra?. Se a resposta é afirmativa, você ficará paralisado.
E claro, querer ver-se livre da ansiedade é também algo que simplesmente acontece -
você não necessita controlar este pensamento ou sentimento. De maneira que eu não
estou pedindo a você para que pare de querer livrar-se da ansiedade. Estou sugerindo
que você não tome esse pensamento literalmente. Estou sugerindo que o nome da
trama em que você está é "controle", e que se você continuar tentando livrar-se de
seus pensamentos e sentimentos antes de progredir em sua vida, você continuará
paralisado. Estou dizendo que a maneira como funciona é: "Se você não quer tê-lo,
você o tem".
CLIENTE: Estou confuso.
TERAPEUTA: Bom. Se você entende isto intelectualmente, talvez não seja bem isso.
Confusão é o que acontece quando o sistema que paralisou começa a sucumbir. Não
estou sugerindo que você TENTE CALCULAR tudo isto. Se isto tem valor, você
entenderá este valor independentemente de calculá-lo, de especular sobre ele (figuring
it out).
Como deveria estar claro, tudo isto é uma tentativa deliberada de atacar os três
contextos problemáticos" "Se você não quer tê-lo, você o tem", é um bom ditado
porque se o tomamos literalmente, não há nada que possa ser feito com ele. Tentar
usar esta regra para livrar-se da ansiedade viola a regra imediatamente. Ela não pode
ser utilizada razoavelmente e não pode ajudar no controle. Assim, o cliente fica
confuso. Os contextos sócio-verbais normais não se "encaixam". Esta parte da terapia
pode levar uma sessão inteira ou mais. Exemplos múltiplos e metáforas são utilizados.
Por exemplo, com um homem que teve problemas em relação a disfunção sexual, eu
relacionaria o que estou dizendo à tentativa de evitar estar sexualmente
impossibilitado. A maioria dos homens experimentaram a estranha sensação de que
ao tentar evitar a perda de uma ereção inevitavelmente esta situação é criada. Quando
o cliente começa a ver que o controle é o que ele ou ela estiveram tentando fazer
funcionar, começo a expandir esta perspectiva e a apontar uma alternativa.
TERAPEUTA: Pense em duas escalas, cada uma indo de 1 a 10. Chamemos uma de
ansiedade e a outra controle. Por "controle" quero dizer tentativas deliberadas ou
propositais de controlar suas experiências privadas. Você veio aqui com a ansiedade a
10 e o controle a 10. O que você está me pedindo para fazer é baixar a ansiedade a 1.
mas isso é o que você tem tentado fazer o tempo todo. Isso não funcionou. Você sabe
disso. O que você pode não perceber ainda é que nunca funcionará. A ansiedade não
pode deixar de estar paralisada, enquanto a escala de controle estiver a 10. O que eu
quero fazer é baixar o controle a 1; então a ansiedade irá onde quer que vá. Ela fica
livre para mover-se. Quando o controle é alto e a ansiedade é alta, a ansiedade está
paralisada porque agora a ansiedade é algo acerca do qual estar ansioso - ou seja, que
se alimenta a si mesma.
Se o que estou dizendo é verdade, parece estranho que possamos estar
paralizados nisso durante tanto tempo - literalmente anos. Posso pensar em quatro
razões porque isto poderia acontecer. Primeiro, o controle deliberado funciona muito
bem em muitas outras situações. Você aprendeu que se inicialmente você não é bem

23
sucedido, você tenta, tenta de novo. Você sabe que usualmente o esforço consciente
faz diferença. Pode ser difícil ver que a regra não funciona nesta situação. Segundo,
foi-lhe dito que isto é o que você deve fazer. Quando você era muito pequeno você já
ouvia coisas como: "Não tenha medo", ou "Não chore"- "Não há pelo que chorar". A
mensagem era que você podia controlar seus sentimentos e pensamentos e, além
disso, você devia fazê-lo para ser bem sucedido na vida. Era importante ser capaz de
fazer isso, ou assim foi-lhe dito. Terceiro, você olhava em volta e, com certeza, outras
pessoas pareciam ser capazes de conseguir isto muito bem. Outras pessoas não
pareciam estar tão assustadas, ou inseguras ou o que quer que fosse. É claro, isso era
frequentemente só por fora. Agora, estas duas coisas sozinhas provavelmente não o
fariam - não manteriam você paralisado indefinidamente. Mas a pessoa que se queixa
(Kicker) é a última razão: parece até funcionar com você. Parece por exemplo,
suponhamos que você está aborrecido com um "mau pensamento". Você tenta livrar-
se dele distraindo-se. Com certeza, quando você se distraia, ele "irá embora". Assim,
o efeito imediato parece confirmar a regra. O problema é que ele volta e,
frequentemente, volta mais forte. Assim, nós fazemos algo mais isto vai de forma
circular, até que estejamos nesta monstruosa luta com nossos próprios sentimentos.
Por exemplo, eu aposto que em algum momento - provavelmente quando você era
muito novo, você percebeu que, no fundo, deveria haver algo errado com você. O que
você fez então?. Você tentou ser bom, ou revoltar-se - realmente a mesma coisa. Você
"fez fita". Você tentou obter aprovação social. E muito disto pareceu funcionar. Mas
você percebeu que a insegurança básica ainda está aí?. Não só isso, mas agora você
também tem que lidar com fato de ter "enganado" as pessoas todo esse tempo. Não só
há algo errado com você, você também é uma fraude. O problema é este: se é crítico
que, o pensamento de que você não é bom tem que ser eliminado antes que você
possa ser bom, esta tentativa em si confirma o ponto de vista de que há algo de errado
com você, em primeiro lugar. Se você "compra" o pensamento, depois tenta livrar-se
dele, uma vez que já o adquiriu, é tarde demais porque você já o "comprou". Em
outras palavras, você apenas estaria tentando livrar-se do pensamento ou do
sentimento porque você já está considerando-os literalmente como verdadeiros, de
maneira que, o que você consegue ao final baseia-se em (e, em consequência, deve ter
a qualidade de ) ser literalmente verdade. É por isto que o controle não pode
funcionar.
Naturalmente, quando eu faço isto na terapia há muito mais alteração, mas isto
apreende a essência da discussão. Por que no caso de tentar controlar os pensamentos
e os sentimentos poderia ser um esforço destrutivo?. Se estamos usando uma regra
para evitar certos estímulos verbais privados (por exemplo, os pensamentos) isto é
perigoso por duas razões. Primeiro, como já tenho discutido, a própria regra deve
especificar estes estímulos e, assim, a esquiva não pode ser completamente bem
sucedida. Segundo, como eu disse ao cliente antes, mesmo que ela pudesse, a própria
esquiva estabelece uma função controladora para os estímulos verbais evitados. Por
exemplo, se evitamos o pensamento "Eu sou mau", isto dá a este pensamento uma
função controladora que é, em si mesma, consistente com a classe "mau". Se uma
pessoa deve mudar algo para ser boa, significa que exatamente agora a pessoa não é
boa. Faz o pensamento funcionalmente mau e, em consequência, confirma o
pensamento no sentido de evitá-lo. Como eu digo a meus clientes, é como jogar onde
a regra é "Primeiro você perde, depois você joga". A única maneira como os
pensamentos ou sentimentos "maus" podem perder este poder é se eles pararem de
controlar um grande número de comportamentos. Lutar contra os pensamentos é um

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comportamento, assim como fazer o que eles "dizem", também o é. Meu propósito é
enfraquecer a relação destrutiva comportamento-comportamento. Para que isto
aconteça, a pessoa deve ter o primeiro comportamento e não o segundo.
Os sentimentos apresentam o mesmo dilema. A ansiedade, por exemplo, é
uma resposta natural a uma situação na qual a punição é provável. A regra: "é
fundamental não estar ansioso", sinaliza a punição para a ocorrência da reação à
provável punição. Normalmente, isso não seria um problema porque a probabilidade
de uma ansiedade considerável parece muito baixa. Um agorafóbico sabe, porém, que
a ansiedade extrema é possível. Esse conhecimento nunca mudará. Assim, a aparente
probabilidade de punição é muito alta e a regra, assim, produz exatamente aquilo
contra o qual avisa.
É mais difícil explicar por que as atuais contingências não exercem um
controle maior. Se seguir regras deste tipo é contra-produtivo, por que não paramos?.
Para entender isto, é necessário uma aplicação do conceito de comportamento
governado por regras. Parece haver três tipos básicos de regras. A primeira é o
comportamento governado por regras sob o controle de uma aparente correspondência
entre a regra e as contingências naturais (i. e., não arbitrárias) (Zettle & Hayes, 1982).
Este tipo de regras é chamada TRACK (rastror, seguir rastro) e o comportamento que
ele controla chama-se TRACKING (rastreamento), denotando seguir o caminho. Por
exemplo, se dizemos para alguém: "A maneira de chegar a Greensboro é seguir 1-85",
e se chegar a Greensboro fosse um estado de coisas reforçador, ele ou ela podem
seguir a regra como um TRACK. Em certo sentido, este tipo de comportamento
governado por regras simplesmente acrescenta outro estímulo discriminativo (apesar
de ser um estímulo verbal) ao meio ambiente.
Um segundo tipo de regras é chamado PLIANCE (da palavra "compliance":
submissão, condescendência). A própria regra é um "PLY" (aceder, manipular).
PLIANCE é o comportamento governado por regras sob o controle de consequências
aparentemente mediadas socialmente e arbitrárias para uma correspondência entre a
regra e o comportamento relevante (Hayes et al., 1986a). O que é diferente quanto ao
Acedimento (Pliance), quando comparado com Rastreamento (Tracking), não é a
natureza das consequências (consequências sociais podem certamente ser naturais no
sentido de não arbitrárias), mas que estas consequências são para outra unidade de
comportamento. Elas não são liberadas para o comportamento em si mesmo, mas
porque o comportamento é, também, uma instância de seguimento de regras. Assim,
por exemplo, se eu digo para minha filha "Põe tua jaqueta agora mesmo" ela pode
vestir sua jaqueta não por que estará aquecida, senão porque eu liberarei
diferencialmente consequências por seguir ou não minhas instruções.
A terceira unidade é chamada AUGMENTING (Aumentando) e já descrevi
brevemente. Essencialmente, um Aumentador é uma regra que funciona porque é um
estímulo estabelecedor (Michael, 1982); isto é, um estímulo que muda nossa
motivação em relação a uma determinada consequência.
Pode-se considerar que cada uma destas três unidades têm uma interseção
(crossing) com outra dimensão, o grau em que as regras são tomadas literalmente.
Lembremos que as regras são estímulos verbais e que os estímulos verbais têm seus
efeitos baseados, em parte, em sua participação em classes de equivalência (ou em
outras classes relacionais). Estas classes podem ser consideradas como relativamente
compactas, em cujo caso cada estímulo pode essencialmente substituir outros na
mesma classe em uma dada situação, ou relativamente não coesa (loose), em cujo

25
caso os estímulos estão relacionados um ao outro, mas são também funcionalmente
distintos em muitas situações. Os estímulos verbais são estímulos puramente
arbitrários e assim, há pouco impedimento para a emergência de classes de
equivalência realmente coesas (fairly tight). Por exemplo, suponha que eu tenha dito a
um homem que atravessava a rua comigo: "Cuidado, um caminhão!". Considerando
isto como se ele tivesse realmente visto um caminhão, contaria como vantagem para
esse homem.
Nós temos histórias extensas da comunidade verbal por manter uma
equivalência grosseira (rough) entre palavras e eventos. Somos encorajados a nos
engajarmos em análises formais de situações e, então, a responder a estas análises.
Assim, a comunidade verbal está constantemente estreitando a equivalência entre
nossa conversa e o mundo. Nos é dito que nosso ponto de vista está certo ou correto,
ou que uma determinada maneira de conversar é uma boa maneira de falar de eventos.
Também temos extensas histórias de nos comportarmos consistentemente ou
inconsistentemente com nossas regras estabelecidas. Quando pensamos algo, não é
sempre óbvio que é mesmo um pensamento. Em certo sentido, a classe é tão coesa
(tight) que é difícil ver que é uma classe. Por exemplo, se eu penso: "Este
relacionamento interpessoal me machucará"- tenho que acabar com isso", posso agir
como se fosse literalmente verdade. Isto é, posso agir como se eu estivesse realmente
em uma situação na qual eu serei machucado. Posso mesmo não perceber que é só um
pensamento que pode ou não corresponder com o mundo real.
A questão de por que seguimos regras destrutivas pode assim, estar
relacionada com esta questão: sob que condições as regras produzem insensibilidade
às contingências naturais? Rastreamentos literais poderiam produzir insensibilidade
porque a regra é seguida da mesma maneira que os eventos ambientais reais seriam
seguidos, e estes eventos podem, impor (entail) contingências reais. Se eu realmente
necessito evitar ser machucado (Situação A), então sair da situação seria reforçado. Se
penso que necessito fazer isso (Situação B), e respondo da mesma maneira, posso não
ser reforçado, mas a história em relação à equivalência entre A e B pode protelar essa
discriminação.
O ACEDIMENTO também poderia causar prejuízos, especialmente se o
ACEDOR é relativamente literal. Neste caso, as contingências socialmente medidas
são realmente acrescentadas à situação pelo seguimento da regra, de maneira que não
seria surpreendente encontrar insensibilidade às contingências naturais. Há evidências
de que o ACEDIMENTO produz insensibilidade às contingências naturais (Hayes et
al., 1986a).
Os AUMENTADORES também podem criar notável insensibilidade, se são
literais. Por exemplo, se nos é dito que todos deveriam ser capazes de fazer algo (por
exemplo, controlar os sentimentos), o fracasso em fazê-lo pode ser muito mais
punitivo que as próprias contingências naturais teriam estabelecido.
O exame das explicações que dei ao meu cliente pelo fracasso em abandonar a
regra de controle (the control rule) revelará que tais explicações implicam diversos
mecanismos possíveis nestes termos,. Inicialmente, o controle deliberado funciona em
muitas outras situações, que tenderiam a fortalecer o seguimento desta regra em novas
situações. É um RASTROR (track) testado e bem sucedido. Em segundo lugar, como
uma questão de ACEDIMENTO (pliance), somos ensinados a tentar seguir a regra em
situações sociais. Aprendemos que podemos e deveríamos controlar nossos
comportamentos encobertos. Naturalmente, muitas vezes necessitamos apenas

26
controlar a expressão aberta destes comportamentos, mas porque o ACEDOR (ply)
tem uma qualidade literal, continuamos a aplicar a regra mesmo quando a expressão
de comportamentos privados indesejáveis é suprimida. Em terceiro lugar, parece
como se outras pessoas pudessem seguir a regra. Na medida em que a regra também é
um RASTROR, isto tenderia a incrementar o seguimento de regras, desde que implica
que as consequências naturais são como que estabelecidas na regra. Na medida em
que a regra é um ACEDOR, isto pode fortalecer o seguimento de regras
estabelecendo um padrão socialmente disponível em relação ao qual o desempenho
pode ser avaliado (Hayes, Rosenfarb, Wulfert, Munt, Zettle & Korn, 1985; Hayes &
Wolf, 1984; Rosenfarb & Hayes, 1984; Zettle & Hayes, 1983). A comunidade verbal
pode dizer coisas como: "Sei que você pode se sair melhor. Olha o Jhonny. Ele não
está chorando". Na medida em que a regra funciona como um AUMENTADOR
(augmental), o sucesso aparente de outros pode fazer o nosso próprio fracasso
suficientemente aversivo como para que façamos tudo para evitar a horrível
possibilidade de que não possamos controlar nossa experiência privada. Finalmente,
os efeitos a curto prazo de seguir a regra imita a contingência estabelecida na regra, o
que tenderá a reforçar o RASTREAMENTO.
Com base nesta análise, podemos desfazer o dano através de diversos
métodos: (1) ensinar diferentes regras que tenham efeitos mais benéficos. Isto é,
essencialmente, o movimento realizado pela terapia cognitiva. É uma estratégia
razoável, mas eu estou preocupado em relação ao fato de que ela se encaixa no
contexto sócio-verbal de que tenho estado falando. Se temos que mudar nossos
pensamentos para estar bem, o que isso diz de nós agora?
(2) reduzir formas destrutivas de ACEDIMENTO (pliance). Se podemos
eliminar a possibilidade de ACEDIMENTO SOCIAL (social compliance)com regras
literais, as contingências naturais podem exercer um controle maior (to take more of a
hold). Isto é parte do que já venho descrevendo. Colocar um cliente em uma situação
insustentável ou paradoxal em relação a regras dadas pelo terapeuta, por exemplo,
deveria enfraquecer o ACEDIMENTO. Não há mais maneiras determinadas de fazer
"a coisa certa".
(3) reduzir a literalidade das regras. O paradoxo é uma ajuda aqui, mas há técnicas
adicionais. Note, por exemplo, que quando estou falando acerca dos pensamentos dos
clientes, eu digo: "Você está tendo o pensamento de que..." de maneira a acentuar a
diferença entre o pensamento como um pensamento e seu significado literal.
Evitar a armadilha da literalidade de maneira consistente porém, é difícil. Se
nós apontamos logicamente o problema da literalidade, ainda estamos sustentando a
literalidade porque nossa lógica real é baseada nela. O argumento racional, em
consequência, não pode realizar esta tarefa por completo. Mesmo o paradoxo é
baseado, até certo ponto, no significado literal das próprias palavras. Há outra
maneira de enfraquecer a literalidade. Como isso pode ser feito é um tópico ao qual
me voltarei agora.

META 3: DISTINGUIR AS PESSOAS DE SEU COMPORTAMENTO


Esta próxima sessão é uma das mais complicadas do ponto de vista
behaviorista. Entre parênteses, também requererá uma maior tolerância ainda em
relação à linguagem não técnica para que eu possa explicar esta questão de maneira
adequada.

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Permitimos que a palavra "VER" (seeing), represente as principais coisas que
fazemos em relação ao mundo (sentir, movermos, etc). Para os organismos não
verbais há somente o mundo e ver. Ver é inteiramente controlado pelas contingências
diretas (de sobrevivência e reforçamento). Ver é simplesmente uma resposta a estas
contingências não arbitrárias (Hayes, 1984).
Com o advento do comportamento verbal isto muda. De acordo com um ponto
de vista Skinneriano algo mais, chamado auto-conhecimento e auto-consciência é
acrescentado. Skinner descreveu isto da seguinte maneira: "Há uma diferença entre
comportar-se e relatar que estamos nos comportando ou relatar as causas de nosso
comportamento. Ao arranjar condições sob as quais uma pessoa descreve o mundo
público ou privado no qual ela vive, a comunidade gera essa forma muito especial de
comportamento chamada conhecimento. O auto-conhecimento é de origem social"
(1974, p.30). Em outras palavras, a comunidade verbal estabelece contingências
arbitrárias adicionais para um comportamento que é difícil de imaginar que poderia
emergir de qualquer outra maneira: não só ver, mas o que poderíamos chamar de
"VER VER"(seeing seeing) ou auto-conhecimento. Supostamente, isto acontece
através de perguntas como "O que você fez ontem?". Emerge uma tendência
generalizada a responder de maneira discriminada ao nosso próprio comportamento
para sermos capazes de dar à comunidade verbal acesso às nossas experiências. Como
Skinner diz: "É somente quando o mundo privado de uma pessoa se faz importante
para os outros, que ele se faz importante para ela" (1974, p.31).
Mas parece que é mais do isso (Hayes, 1984). É também crítico para a
comunidade verbal que este comportamento ocorra a partir de uma perspectiva dada e
consistente. Isto é, nós (a comunidade verbal) não só devemos saber o que VEMOS
VEMOS (sees seing), mas que VEMOS VEMOS do nosso ponto de vista. Desta
maneira, a comunidade verbal cria um sentido de eu (self) que tem algumas
propriedades muitos especiais.
O comportamento de VER VENDO (seeing seeing) de uma perspectiva
determinada poderia emergir de diversas maneiras. Às crianças são ensinadas palavras
diretas, demonstrativas (deictic) (por exemplo, "aqui" e "ali"), que se referem não a
eventos mas à relação entre eventos e o ponto de vista da criança. De maneira similar,
as crianças são ensinadas a distinguirem entre sua perspectiva e a de outras. As
crianças pequenas, quando lhes é perguntado o que comem, podem relatar o que seu
irmão comeu. Se lhes é perguntado o que uma boneca vê, elas relatarão o que elas
próprias vêm e não o que a boneca vê. Gradualmente, porém, a comunidade verbal
nos ensina a relatar de nosso ponto de vista. Finalmente, também é possível que a
perspectiva surja pelo processo de eliminação ou por extensão metafórica. Somos
ensinados a responder, geralmente, a perguntas do tipo: "O que você fez X?, onde X é
uma ampla variedade de eventos tais como: comer, sentir, fazer, olhar, etc. Os
próprios eventos mudam, constantemente. Só o foco da observação não muda. A
invariante é que "você" é colocado nas afirmações quando os relatos devem ser feitos
do ponto de vista de você.
Em um certo sentido estou argumentando que a comunidade verbal cria uma
classe de comportamento “sem significado” ("content-less"), chamado "VER VENDO
A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA" (seeing seeing fron perspective), e lhe dá o
nome de "você". Tenho argumentado em todas as partes que este comportamento é a
base da distinção matéria/espírito, que prevalece em nossa cultura (Hayes, 1984).
Nós, é claro, usamos o termo "você” também de outras maneiras (por exemplo, “você

28
como um organismo físico”), mas o sentido da palavra "você" que é de relevância
para o distanciamento compreensivo é este sentido inicial.
O comportamento de, por exemplo, observar pensamento de uma determinada
perspectiva é bem diferente do comportamento de seguir auto-regras. Ao ajudar a
pessoa a distinguir entre ver vendo de uma perspectiva e as coisas vistas, pode mais
provavelmente gerar uma regra sem que esta regra também seja seguida ou seja
tomada literalmente. Esta é uma distinção difícil e dá um pouco de trabalho em
terapia estabelecê-la solidamente. Entre parênteses (Parentheticaly), na próxima
sessão do capítulo utilizarei o monólogo do terapeuta mais para dirigir-me ao leitor
do que para imitar uma sessão terapêutica. Devido a uma questão de espaço não posso
representar a grande quantidade de interações cliente-terapeuta que realmente
acontece nestas sessões intermediárias no processo terapêutico.
TERAPEUTA: Como está indo tudo bem agora, é muito difícil, se não impossível,
ficar fora da luta para livrar-se de pensamentos e sentimentos. "indesejáveis". Você é
controlado demais por seus próprios pensamentos acerca do que necessita fazer.
Segundo a maneira como operamos normalmente, confundimos o conteúdo de nosso
próprio condicionamento com o comportamento de ver os resultados deste
condicionamento. Devido a isso, quando temos um pensamento, é como se este
pensamento fosse, agora, o que é real, não somente um pensamento, mas como o que
o pensamento diz que é. Quando isso acontece, estamos no que eu chamo o "mundo
em volta" (about world). Ficamos presos naquilo acerca do qual os pensamentos são -
não no que eles são de fato. Em outras palavras, você não está somente notando o
comportamento chamado pensamento, você está realmente na situação descrita pelo
pensamento. Se você pensa que é mau, você é mau. Com frequência, você nem nota
que isso é um pensamento. Correto?. De maneira que se você tem um pensamento
como "Não posso suportar isso. Tenho que cair fora", não está claro que o que
realmente aconteceu é que você experienciou você mesmo, pensado. Você NÃO
experienciou o que o pensamento realmente disse. A forma do pensamento diz uma
coisa, mas você realmente só experienciou que você pensou esse pensamento.
As nuances da "teoria da cópia" do próximo exemplo são devidas a sua
utilização clínica. O leitor não deveria torná-la literalmente demais.
TERAPEUTA: Aqui tenho uma metáfora que pode ajudar. Imagine duas pessoas
sentadas perante dois computadores idênticos. Dado uma programação particular, um
determinado "input" produzirá um dado "output". O programa destes computadores
são semelhantes ao que tem acontecido a você em sua vida. Dada uma certa situação,
é provável que aconteça uma certa resposta. Digamos que digitamos algo no teclado e
o "output" na tecla é "Envergonhe-se, você é uma pessoa má". Em um caso,
imaginemos que a pessoa sentada em frente ao computador está consciente da
distinção entre ela própria e o computador. Quando a saída de informação (readout)
aparece na tela, pode ser interessante para esta pessoa, ou pode ser algo a considerar,
ou algo a ser mostrado para os outros. Provavelmente, não precisa ser encoberta,
seguida, não seguida, etc. A segunda pessoa, porém, é totalmente absorvida pela tela.
Como uma pessoa nos filmes, ela se envolveu tanto que esqueceu que há uma
distinção entre ela como observadora da tela e o que está na tela. Uma saída de
informação (readout), como a que acabei de mencionar, seria muito mais inaceitável
para este homem. Para ele seria, provavelmente, algo a ser negado, esquecido,
mudado, etc. Em outras palavras, quando você se identifica como conteúdo de suas

29
experiências privadas, você será automaticamente controlado por elas, pelo menos até
o ponto em que você tente ver-se livre delas.
Aqui temos outra metáfora que ajudará a demonstrar este ponto. Imagine um
tabuleiro de xadrez que funciona (goes out) indefinidamente em todas as direções.
Neste tabuleiro temos uma série de peças de xadrez, de todas as cores. Para
simplificar isto, concentremo-nos somente nas peças brancas e negras. Agora, no
xadrez, espera-se que as peças se aliem com suas amigas para vencer suas inimigas.
Assim, é como se as peças negras tentassem reunir-se e derrubar as peças brancas do
tabuleiro e vice-versa.
Estas peças representam o conteúdo de sua vida: seus pensamentos,
sentimentos, memórias, atitudes, predisposições comportamentais, sensações
corporais, etc. E se você notar, elas realmente se reúnem. Por exemplo, as "positivas"
podem aglomerar-se - você sabe, aquelas que dizem coisas como "Vou fazê-lo", etc.
E as negativas também trabalham juntas. De maneira que você notará que os "maus"
pensamentos estão associados a "más" lembranças, "maus" sentimentos, etc.
Agora, a maneira como usualmente tentamos trabalhar é considerando uma
das equipes como "nossa equipe". É como se montássemos no lombo da rainha
branca, e galopássemos para lutar contra as peças negras. Porém, há um grande
problema com isso. Tão logo fazemos isto, grandes porções inteiras de nós mesmos
são nossos próprios inimigos. Além disso, se é verdade que "se você não deseja tê-lo,
você o tem, então à medida que você luta com as peças indesejáveis e tenta empurrá-
las para fora do tabuleiro, elas aumentam, aumentam e aumentam de tamanho. E isso
é, de fato, o que tem acontecido, não é? A ansiedade, por exemplo, tem ficado mais, e
mais, e mais, o foco central de sua vida.
Dentro desta metáfora o triste é que quando você age como se somente parte
de sua programação fosse aceitável, você deve, também, ir de quem você é até quem
você não é. Para ser mais preciso ainda, você deve agir como se você não fosse quem
você mesmo experiência que é (as if you are no longer who you experience yourself
to be). Você deve esquecer que, na última metáfora, você não é o computador. Dentro
desta metáfora, você pode ver quem "você" é?
CLIENTE: Não sei. Sempre pensei que eu era as peças. Quem mais eu poderia ser?
TERAPEUTA: Bem, pense acerca disso.
CLIENTE: O tabuleiro?
TERAPEUTA: Sim. Você vê? .Você é o tabuleiro. Você é o contexto no qual todas
coisas podem ser vistas. Se houvesse um pensamento, e ninguém para vê-lo, seria
como se ele não estivesse lá, em absoluto. Agora você nota que um tabuleiro,
enquanto está sendo um tabuleiro, somente pode fazer uma de duas coisas: pode
segurar o que é colocando sobre ele ou pode mover tudo, como quando você recolhe
(apanha) o tabuleiro e o move no meio de um jogo. Note, também, que segurar as
peças não requer esforço. Se o tabuleiro quisesse mover as peças continuamente, uma
por vez, porém, ele teria que ir do nível de tabuleiro ao nível de peça. De maneira que
se você fica no meio das peças a fim de move-las, você tem que esquecer que você é
realmente o tabuleiro. E uma vez que você está no nível de peça, você tem que lutar,
porque a esse nível outras peças parecem ameaçar sua própria sobrevivência. Isto é
porque você não pode, logicamente, forçar você mesmo a não lutar com suas
emoções. É uma causa perdida. O que você pode fazer é distinguir, à medida que

30
você experiência, você mesmo dos eventos que está experienciando. Isto é, você pode
ter certeza de que, de qualquer maneira você realmente está no nível de tabuleiro. A
partir desse nível é possível observar a guerra entre seus próprios pedaços sem ser
fisgado por eles - isto é, sem ter que tomá-los literalmente, ou sem ter que mudá-los
antes que você possa controlar sua vida. É somente percebendo que você não tem
controle sobre os pedaços e você não precisa ter controle sobre eles, que você pode ter
controle sobre sua vida.
Esta metáfora prévia pode parecer estranha, especialmente para um
behaviorista radical. Parece como se eu estivesse encorajando um tipo de eu
desencarnado: uma distinção entre a "pessoa real;" e o comportamento. Mas a
comunidade verbal, que estabeleceu este tipo de eu para começar com ele (which
established this kind of self to begin with), não estava tentando estabelecer uma
verdade científica literal. Há muitas vantagens em ajudar pessoas a manter-se em
contato com elas mesmas, neste sentido. Note que eu falei de "quem você experiencia
que você é" (who you experience your self to be). Meu argumento é que uma pessoa
pode experimentar este sentido de "eu" somente devido `a comunidade verbal. O
"você" que experimentamos como sendo nós mesmos é, primeiramente, "você em
perspectiva", porque é isso que a comunidade verbal está interessada em estabelecer
como "você". A próxima seção é um exercício extraído, em grande parte, de um livro
de Assagioli (1971).
TERAPEUTA: O.K. Quero fazer um pequeno exercício para ajudar você a ficar em
contato com sua experiência real dos eventos de que estivemos falando. Lembre-se,
não quero que você acredite no que tenho estado dizendo aqui. Não é uma questão de
crença. Não quero acrescentar mais pedaços aos que você já tem. O que quero que
você faça é conferir e ver se, em sua experiência atual, as distinções que estiver
fazendo não são evidentes. Quando você faz isso não será uma questão de palavras -
você terá feito um contato com os eventos diretamente. É como se você não tivesse
realmente que acreditar em cadeiras. Você tem conhecimento delas a partir de sua
experiência direta e isso é mais que suficiente. É exatamente como isso.
Quero que você comece fechando os olhos. Note o que o seu corpo está
fazendo exatamente agora... Note se você está tendo sentimentos ou emoções... Veja
se você está pensando em alguma coisa.
Agora eu quero que você note que quando eu fiz estas perguntas você estava aí
notando as reações. Isto é, veja se não é verdade que por trás do conteúdo havia um
sentido de você olhando o conteúdo. Eu chamarei isso de "o observador você". Agora,
do ponto de vista do observador você, quero que você examine diversas áreas.
Comecemos com suas sensações corporais. Quero que você note todas as
coisas que seu corpo está fazendo exatamente agora. Agora pense em todas as
mudanças que seu corpo tem tido através de sua vida. Uma vez foi muito pequeno,
mas agora está crescido. Algumas vezes ele está doente, e outras vezes está bem.
Algumas vezes, seu corpo é forte, outras é fraco. E agora quero que você note que seu
corpo mudou, que o sentido de você sendo você - esse observador você - tem
permanecido o mesmo. Lembre quando você tinha, digamos, 10 ou 11 anos. Agora
permita-me lhe fazer uma pergunta. Você se lembra de ser você, então?. Você se
lembra de olhar para o mundo lá fora?. Agora permita-me fazer-lhe outra pergunta.
Quem está aqui, agora, não é o mesmo você que estava ali, então?. Não responda de
maneira lógica. Não estou perguntando acerca de suas crenças. Estou perguntando: "É
essa experiência de observar sua vida que está (acontecendo) aqui, agora, o mesmo

31
que era lá, então?. Não é verdade que você tem sido você sua vida inteira? Agora, se
você experimentou seu corpo mudando rapidamente e mesmo assim o você que você
chama você (the you that you really call you) tem permanecido o mesmo, isto deve
significar que enquanto você tem um corpo, você não experimenta você mesmo como
sendo o seu corpo. Por favor não acredite nisto. Não estou dando a você mais dogmas
em que acreditar. Somente estou pedindo-lhe que reconheça sua experiência. Pense
nestas questões. Se você perdesse uma mão, você ainda não seria você?. Se você
sofresse uma operação cirúrgica e um órgão fosse removido, você ainda não seria
você?. De fato, enquanto você estiver aqui para ver suas próprias experiências, você
será você, não é?. Passe, então, uns poucos momentos olhando seu corpo, depois note
quem está olhando.
O.K., vamos agora para uma outra área. Olhemos para suas emoções. Pense
em todas as emoções que você experimentou em sua vida. Algumas vezes você está
feliz, outras triste. Algumas vezes você está bravo, outras tranquilo. Mas, note que
você ainda está "vendo" suas emoções. De maneira que, se suas emoções estão
mudando rapidamente e, ainda, o você que você chama você - este observador você
(observer you) - permanece o mesmo, deve ser que, enquanto você tem emoções,
você não deve experienciar você mesmo como sendo suas emoções. Novamente, não
acredite nisto. Não é uma questão de crença. Somente preste atenção em suas
emoções justamente agora, e depois perceba quem as está notando. Gaste uns poucos
instantes somente notando isto.
Agora, vamos para outra área: seus pensamentos. Esta é uma área difícil
porque o próprio sistema que nos permite saber que sabemos é o sistema que estamos
observando quando estamos olhando para nossa própria linguagem privada. Pense em
todos os pensamentos que você tem em um dia. Note como eles também estão
constantemente mudando. De fato, mesmo enquanto falo, seus pensamentos estão
mudando, e mudando, e mudando novamente. Assim que você acabou de ter um
pensamento acerca do que está experienciando, você já está pronto para mudar para
algo mais. Note como seus pensamentos tem mudado ao longo dos anos. Quando
você era pequeno, costumava pensar em coisas que não pensa mais. E você tinha
áreas de ignorância que agora não tem mais. À medida que você vive sua vida isto
continua acontecendo e acontecendo novamente. Agora note mais uma vez que,
enquanto seus pensamentos estão constantemente mudado o sentido de ser você tem
se mantido o mesmo. Isto deve significar que enquanto você tem pensamentos, você
não experimenta você mesmo como se você fosse seus pensamentos. Então, continue
notando seus pensamentos por um momento. Agora perceba quem os está notando.
Este exercício pode ser ampliado para incluir qualquer comportamento que o
terapeuta queira distinguir. Eu começo tipicamente com papéis, por exemplo, e
comumente incluirei lembranças e outros comportamentos. Também gasto muito mais
tempo em cada sessão do que a versão abreviada, aqui, sugere.
Em que sentido é possível que o sentido de "você" socialmente criado possa
ser independente de todos estes comportamentos?. Isto somente é possível porque o
comportamento de VER VENDO a partir de uma perspectiva é, em si mesmo,
conteúdo livre. Isto é, é um comportamento que não pode, em si mesmo, ser
considerado como uma coisa pela pessoa que se comporta dessa maneira (HAYES,
1984). Uma pessoa não nota este comportamento antes que o comportamento tenha
mudado fundamentalmente. Se os organismos conscientes fossem ver (a partir de) sua
própria perspectiva, de que perspectiva poderia ser vista?. Assim, o sentido do eu

32
estabelecido pela comunidade verbal pode ser observado a partir de, mas não ser
simplesmemte observado - ou, pelo menos, assim que é simplesmente observado, o
comportamento sendo examinado não está mais acontecendo no mesmo lugar. O
"exercício do observador", citado acima, simplesmente permite que os clientes
tenham um rápido relance daquilo que as pessoas conhecem de qualquer maneira
muito bem, que o sentido de ser "você" permanece o mesmo através da vida. Tem que
permanecer porque tudo o que ele é, é o sentido de ver (viewing) a partir de uma
perspectiva. Se isso devesse mudar, nós não mais seríamos aquele "você".
Há algo que realmente acalma em relação a este exercício. Eu tenho tido
muitos clientes que ficaram muito diferentes depois desta sessão. Para dar uma idéia
de como eu uso este exercício, relatarei como o concluo.
TERAPEUTA: Agora então, note que, como uma questão experimental (além de
qualquer outra coisa que você acredite), você sabe que você não é seus sentimentos,
seus papéis, suas emoções ou seu corpo. Você é o contexto em que todas as coisas
podem ser vistas como coisas. Sem você elas não existiriam. Elas estão em sua vida,
mas elas não são o que você é. De maneira que todas estas coisas com as quais você
tem estado lutando, todas estas coisas que você tem estado tentando mudar NÃO
SÃO VOCÊ HOJE. Quero que note que você é suficientemente grande para que todas
estas coisas estejam ali. Você não tem que mudar nada para progredir - para tornar
seu dinheiro aceitável. Você é aceitável do jeito que você é.
A questão é que somente quando é feita uma distinção entre este sentido do eu
e as coisas em nossa vida, é possível fazer qualquer outra coisa com estas coisas, além
de lutar com elas, seguí-las, tentar livrar-se delas, etc. Nós temos muitas regras
socialmente estabelecidas acerca do auto-valor. As pessoas querem ser aceitáveis para
si mesmas e para os outros. Infelizmente, devido à avaliação verbal, ao nível de
conteúdo, ninguém é realmente aceitável. Algumas vezes, eu peço a meus clientes
para que nomeiem uma coisa no universo físico que eles possam considerar perfeita.
Usualmente, não conseguem. Depois, eu pergunto: "Por que, então você deveria ser
uma exceção?".
Se o "você" que consideramos como sendo nós mesmos é este observador
"você", estas regras de auto-valor são manejadas muito facilmente. Desde que o
observador "você" é, em certo sentido, "conteúdo livre", não há nada em relação a
"você” que seja inaceitável. Somente as coisas podem ser avaliadas e, ao nível mais
profundo, não se pode ter a experiência de nós mesmos no sentido de "você como
perspectiva" sermos uma coisa.

META 4 : PERMITIR QUE A LUTA PARE


Há muitas maneiras pelas quais os clientes podem ser fisgados para entrarem
em uma luta com seus pensamentos e sentimentos. Neste ponto da terapia, de maneira
típica, aponto diversas maneiras pelas quais podemos ser "pegos" pelo sentido literal
de nossos pensamentos e descrições de experiências. Tratarei brevemente algumas das
mesmas, mas o leitor deveria saber que, obviamente, estou pulando um pouco
(skipping quite a bit) em todas estas seções. Como provavelmente dá para notar, um
enfoque contextual difere de muitas maneiras básicas não só da Terapia
Comportamental ou da Terapia Cognitiva, mas também de nossa cultura dominante.
Por essas razões, não posso descrever o enfoque por inteiro, mesmo dentro dos limites
de um capítulo comprido.

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Uma maneira pela qual as pessoas podem acabar entrando novamente em uma
luta é confundindo a avaliação com as coisas avaliadas. Quando dizemos: "Essa é
uma xícara", e quando a afirmação é controlada pela própria xícara, esta afirmação é
um TATO. O tato é um caso em que a equivalência entre os estímulos verbais e o
mundo pode ser muito estreita, se todos os rastrores se baseiam em tatos, a
literalidade não seria problema, porque a regra estaria presente somente quando os
eventos de que a palavra tateia também estivessem presentes. Infelizmente, muitas
outras descrições aparentes não são realmente tatos mas, não obstante, podem ser
rasteados (ZETTLE & HAYES, 1982). Por exemplo, uma pessoa poderia dizer: "Essa
é uma boa xícara". A palavra boa não é, com toda probabilidade, um tato. Não há
nenhum estímulo "BOM" presente. Realmente, estamos reagindo a coisas, tais como
gostarmos ou não da xícara. Em vez de descrever nossas reações à xícara, porém,
parecemos estar descrevendo a própria xícara: "Essa é uma boa xícara".
Há duas coisas, em relação a isto, que são destrutivas. Primeiro, é provável
que rastreemos esta regra literalmente, mesmo quando não é literalmente verdade: não
é um tato. Segundo, não podemos permitir que os tatos mudem muito rapidamente.
Se eu digo de uma xícara: "Esse é um carro de corrida", a comunidade verbal não
pode permitir-se reforçar esse tipo de afirmação. Fazer isso resultaria no caos. Em
outras palavras, os termos parecidos a tatos devem ser muito resistentes à mudança.
Se é permitido que "BOM" seja tratado como um tato, também não se pode mudar.
Assim, nossas avaliações devem ser afirmadas (held on to), defendidas, seguidas,
acertadas, etc. Podemos ver a terrível ironia disto quando os clientes tem sido
fisgados por pensamentos tais como: "sou mau". Os pseudo-tatos não podem mudar
facilmente, de maneira que, uma vez que pensamos que somos maus devemos
continuar sendo maus. Se uma pessoa focaliza isto como uma questão de ser como
nós somos e, também, de ter o pensamento de que somos maus, então não é criada tal
rigidez artificial. A pessoa pode, algumas vezes, pensar "sou mau" e, algumas vezes,
não. À medida que os pensamentos vem e vão, assim o fazem os termos "mau” e
"bom" desde que eles perderam o seu status literal.
Na área da avaliação, eu encorajo os clientes a nomear as avaliações. Por
exemplo, em vez de dizer: "meu trabalho é horrível, eu tenho que pedir demissão", o
cliente aprende a dizer: "minha avaliação do meu trabalho é que ele é horrível, e eu
estou pensando que tenho que pedir demissão". Depois de diversas semanas, esta
prática incômoda pode ser reduzida, mas se em qualquer momento, parecer que os
clientes estão sendo puxados novamente a uma luta, esta convenção pode ser re-
estabelecida durante um curto período de tempo. Pode fazer uma diferença notável no
controle exercido por este tipo de conversação por parte do cliente.
As avaliações também podem apresentar um problema quando os clientes
confundem o desejo de experimentar determinados sentimentos (isto é, deixar o
controle de lado) com a avaliação de que a experiência é desejável. Uma metáfora que
eu uso é a de uma "festa de casa aberta" á qual todos na vizinhança são convidados.
Infelizmente, o beberrão que dorme atrás do supermercado "dá um show". Ainda é
possível DAR AS BOAS-VINDAS a ele sem ter que gostar do fato dele ter "dado um
show". Se o anfitrião não gosta disso, esse próprio desgosto é somente outro beberrão
na porta, ou o que um de meus estudantes chamou de "amigo íntimo do beberrão".
Assim, a avaliação não é o mesmo que boa vontade. O cliente não necessita gostar de
sua ansiedade - a questão é a boa vontade para ter a ansiedade quando ela aparece.

34
Outra maneira pela qual os clientes encorajam a luta é pelo uso da linguagem
que implica que a luta é necessária. O exemplo mais claro disto é o uso da palavra
"MAS". "Mas" é tipicamente usada para denotar algum tipo de incompatibilidade
entre um evento e outro. A incompatibilidade, porém, surge a partir da convenção
social acerca da consistência e da compatibilidade. Por exemplo, se um cliente diz
"quero ir à alameda, mas estou com medo", isso sugere que o medo é incompatível
com a aproximação. Isto não é nada mais que dar uma razão emocional como causa
do comportamento. Assim, "MAS" quase sempre dá sustentação ao contexto de dar
razões. Na terapia, eu encorajo os clientes a mudarem todas as palavras "MAS" para a
palavra "E". Em que quase toda situação a palavra "E" ajusta-se melhor e é mais
verdadeira já que descreve a experiência do cliente de maneira mais estreita. Além do
mais, devido a que o contexto de controle é baseado no contexto de dar razões,
enfraquecer este último contexto enfraquece notavelmente esforços desnecessários
para mudar eventos antes que sejam possíveis mudanças na vida. Um cliente que diz:
"Quero ir à alameda, e estou com medo" está, exatamente, descrevendo dois eventos
emocionais. Nada deve mudar antes de que uma ação seja realizada. A próxima
pergunta ao cliente é: "Você quer ir à alameda E sente medo?

META 5: ASSUMINDO UM COMPROMISSO DE AÇÃO


Depois do trabalho acima, o cliente está, agora, mais preparado para
empreender (to take) uma ação diretiva para mudar a qualidade de sua vida. Desde
que as razões são, agora, somente comportamento verbal e não causas literais, a
pessoa pode fazer promessas e saber que não haverá excusas para um fracasso ao
concretizar um projeto (to follow through).
É neste ponto que as técnicas do behaviorismo tradicional tornam-se
importantes. Elas estão, entretanto, sempre situadas no contexto de um enfoque
contextual à experiência privada. Algumas vezes, isto requer alguma reorganização
conceitual, desde que muitas destas técnicas originariamente emergiram dentro do
contexto do controle, e o controle é o que limita os horizontes dos clientes, em
primeira lugar. Eu não conheço nenhuma técnica corportamental que não possa ser
relacionada dentro de um enfoque contextual, com exceção de algumas formas de
Terapia Cognitiva.
Por exemplo, quando estou trabalhando com agorafóbicos, geralmente
começamos a realizar exercícios de aproximação deliberada, aproximadamente neste
ponto (cerca de 6 sessões terapêuticas). O trabalho de exposição, porém, não se
destina a reduzir a ansiedade. Em vez disso, a exposição dá às pessoas uma
oportunidade de treinar a experiência da ansiedade sem, ao mesmo tempo, lutar com a
ansiedade. É, também, uma oportunidade para fazer e manter compromissos. A
pergunta que eu formulo aos clientes antes de tentarem a exposição deliberada é:
"Fora da situação em que há uma distinção entre você e as coisas que você
experiencia, quer você experienciar seus pensamentos e sentimentos sem defesa,
negação, encobrimento, esquiva, tentativa de mudança, ou qualquer outro tipo de luta
- e fazer o que realmente funciona para você nesta situação, mantendo seu
compromisso?". Se a resposta é "não", voltaremos à parte inicial da terapia e
descubrimos qual é o problema. Se a resposta é "sim", é tempo de se expor. Durante a
exposição trabalho continuamente com o cliente para reconhecer a diferenciação entre
ele com uma pessoa e os comportamentos privados que está experienciando. Encorajo
o cliente a sentir qualquer que seja seu sentimento, incluindo a ansiedade, e o

35
encorajo a não lutar com ela. O compromisso de experimentar nossos próprios
sentimentos deve ser realmente forte. Eu utilizo o exemplo de uma criança fazendo
birra para obter doces. Se a criança sabe que o pai tem um limite e que se renderá se
chegar ao mesmo - talvez 5 minutos - adivinhe quanto durará a birra? Da mesma
maneira, se um cliente deseja ficar ansioso, é importante que não deixe que seja uma
meia medida. Como a criança, as emoções de um cliente "conhecerão” os limites e
provavelmente os excederão. Não há como auto-enganar-se.
A exposição imaginária tal como dessensibilização é, agora, uma oportunidade
tanto para sentir ansiedade como para aprender a deixar de lutar com a mesma. Como
digo a meus clientes, "somente mantenha seus olhos abertos, seus pés no chão e suas
mãos abertas". Quero dizer com isso que o cliente deveria ver a emoção ou o
pensamento, mas não fugir dele e nem lutar com o mesmo. A metáfora sugerida
originalmente por um cliente, que algumas vezes utilizo é esta: "Imagine que você
está em um cabo-de-guerra com um monstro enorme, que parece tentar empurrar
você numa fossa. Você luta mais e mais, mas quanto mais você luta, mais forte o
monstro se faz. Em vez de lutar, você pode fazer algo mais eficaz: soltar a corda.
Somente se você entrar na batalha (por exemplo a ansiedade), o monstro terá o
controle". Algumas vezes, uso deliberadamente exercícios de boa vontade para treinar
o "soltar a corda". Por exemplo, algumas vezes eu peço ao cliente para sentar-se a
uma distância de aproximadamente 30cm (um pé) de mim e lhe peço para olhar-me
nos olhos durante dois minutos sem falar ou rir. A medida que faço isso, encorajo o
cliente a experimentar, mas não a "comprar" nenhum sentimento, pensamento, etc; se
tomado literalmente, interferiria com o exercício (incluindo pensamentos "úteis”
como "Eu farei isto corretamente").
Algumas formas de Terapia Cognitiva, segundo é ensinado, também podem
ser utilizadas até certo ponto. A Terapia Racional Emotiva (RET) é muito difícil de
ser integrada dentro desta perspectiva porque ela chega muito perto de dizer que você
não deveria pensar certos pensamentos. Isto parece provavelmente aumentar o
controle patológico de regras socialmente estabelecidas, apesar de que estas próprias
regras são, agora, aquelas estabelecidas pela própria terapia (ver Zettle & Hayes,
1980; 1982). A RET procura mudar os pensamentos. O distanciamento compreensivo
procura mudar o contexto dentro do qual acontecem os pensamentos.
O enfoque de BECK (por exemplo, Beck & Emery, 1983) é mais compatível,
ao menos em alguns de seus elementos. Certamente, há muito a ser dito para ensinar
clientes a formular regras de maneira testável, e para testar a exatidão das regras.
Essencialmente, isto pode ser considerado como um treino de rastreamento (Zettle &
Hayes, 1982). BECK também tem o seu "distanciamento" apesar de que não é tão
compreensivo como o presente enfoque.
O distanciamento compreensivo compartilha muitos atributos com diversas
terapias experienciais. Frequentemente, utilizo os exercícios da Gestalt, por exemplo,
porque eles levam bem naturalmente a algum senso de distância entre o conteúdo das
experiências e a pessoa que se engajou no processo de experienciá-las.
Essencialmente, os exercícios da Gestalt são maneiras de fazer exposição imaginárias
a eventos privados com os quais os clientes estão lutando, evitando ou tentando
mudar. Por exemplo, frequentemente eu tenho clientes que colocam suas emoções à
sua frente e as descrevem fisicamente.
Ocasionalmente utilizo também, algumas técnicas psicoanalíticas. Uma forma
de exercício de livre associação que eu gosto é aquela que um de meus clientes criou.

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Ela a chamou de exercício dos "soldados no desfile". Ela imaginou que seus
pensamentos eram soldados marchando, carregando sinais com os pensamentos sobre
eles. O jogo consistia em olhar o desfile como de um palanque, e ver quão longe ela
poderia ir sem parar o desfile. Invariavelmente, os clientes descobrem que o desfile
parará quando um dos pensamentos for tomado literalmente. Nesse momento, o
cliente perde o que FREUD chamou de atitude apropriada de "auto-observação
quieta, não reflexiva". Em vez que olhar PARA o pensamento, o cliente está, agora,
olhando A PARTIR do pensamento, e o desfile termina. Este é um exercício que pode
facilmente ser feito em casa.
Outro exercício de associação, que pode ser feito nas sessões, começa
selecionando um evento privado com o qual o paciente esteja lutando. Com os olhos
fechados, o cliente põe-se em estreito contato como o mesmo. O terapeuta então, pede
ao cliente para nomear uma sensação corporal que pareça associado com o evento.
Quando um sintoma específico isolado (single) é nomeado, o terapeuta encoraja o
cliente a ver se é possível sentir somente esse sintoma corporal sem defesa, negação
ou luta - isto é sem a intenção de controlá-lo. Desta maneira, o terapeuta conduz o
cliente através de diversas sensações corporais, depois, diversas emoções, diversos
pensamentos, diversas predisposições comportamentais e, finalmente, diversas
lembranças. Em cada caso, o terapeuta ajuda o cliente a experienciar completamente o
ítem associado. Pode ser um poderoso exercício. Há muito mais metáforas e
exercícios que se ajustam bem dentro do enfoque contextual, mas a explicação destes
terá que esperar outro fórum ainda mais extenso.

DIFERENCIANDO A TÉCNICA DA TEORIA


O presente livro pergunta: "Qual é a relação entre Terapia Comportamental e
Terapia Cognitiva?" Do ponto de vista do behaviorismo radical, uma terapia eficaz é
a behaviorista. Por isto, eu não quero dizer que somente técnicas chamadas
"Comportamentais" funcionarão. Quero dizer, se nós tentamos dar uma explicação
compreensiva do comportamento humano, e se chamamos a todos os princípios que
explicam o comportamento de “princípios comportamentais”, e se a terapia muda o
comportamento, então deve ter acontecido devido a tais princípios comportamentais.
Isto não significa que conheçamos corretamente todos os princípios necessários para
explicar a ação humana. Não os conhecemos. Nossa tarefa é descobri-los. Algumas
vezes, os behavioristas agem como se todo o comportamento devesse ser explicado
através de princípios comportamentais conhecidos, mas isto não é realmente em
absoluto, inerente à posição. É uma aberração arrogante da mesma.
Na minha opinião, a Terapia Comportamental não é um conjunto de técnicas.
Mas sim, é um enfoque à terapia que é organizado, racionalizado e avaliado em
termos de filosofia, conceitos e metodologia comportamental. Assim, a
"Psicodinâmica", a "Gestalt" ou "qualquer outro conjunto de técnicas" pode ser parte
da terapia do comportamento quando (mas somente quando) isto acontece. De fato,
muitas técnicas chamadas técnicas terapêuticas comportamentais, não são realmente
behavioristas em um sentido comportamental radical do termo.
Dentro do behaviorismo metodológico contemporâneo, somente dois usos
sensatos do termo "terapia comportamental" parecem possíveis. Poderíamos
reivindicar que todas as técnicas empiricamente estabelecidas são comportamentais.
Essencialmente, então, a Terapia Comportamental faz-se uma Psicologia Clínica

37
empírica. Inversamente, poderíamos ver as técnicas que obviamente tratam o
comportamento aberto como "comportamental". Neste caso, porém, a terapia do
comportamento será, para sempre um mero subconjunto de enfoques terapêuticos, e
ecleticismo teórico será confundido inextrincavelmente com o ecleticismo técnico.

O PAPEL DO TERAPEUTA
Dentro de uma perspectiva contextual, o terapeuta deve ser capaz de discernir
e reagir a fontes de controle sobre o comportamento, que estão quase onipresentes em
nossa cultura. Os contextos de literalidade, de dar razões e de controle são os
contextos dominantes dentro dos quais todos funcionamos. Desde que a meta do
distanciamento compreensivo é mudar estes contextos, significa que não podemos
apoiarmo-nos na forma do comportamento, mas devemos discernir sua função.
Os behavioristas têm, particularmente, a tendência a distinguir entre forma e
função de maneira que parece que eles estariam extremamente bem preparados para
esta terefa. Em geral, isto parece ser verdade, mas não sempre. O trabalho bem-
sucedido dentro desta perspectiva parece requerer o seguinte:
(1) Sensibilidade ao controle destrutivo por regras. Os clientes podem
aprender a funcionar dentro de uma perspectiva contextual, mas não é fácil. Os
terapeutas precisam estar atentos a (to be on the look out for such) afirmações como
"Finalmente, estou aprendendo a ignorar esta ansiedade". Tal afirmação
profundamente inócua é perigosa porque usualmente significa que a pessoa pensa que
a ansiedade deve ser ignorada para que seus efeitos se enfraqueçam. Isto inicia
novamente uma luta para reduzir ou eliminar a ansiedade. De maneira similar, os
clientes podem dizer, em resposta a uma pergunta acerca de como as coisas vão:
"sinto-me extremamente bem". Isto é algo preocupante porque implica que a medida
do sucesso ou fracasso deveriam ser os sentimentos. Há um passo curto de "Quero
sentir-me bem" para "Não quero sentir-me mal". Não há nada errado com estes
desejos em si, mas se eles são tomados literalmente, a luta recomeçará.
Frequentemente, advirto os clientes que se a ansiedade cai depois que a "escala de
controle" caiu (como quase sempre faz), este é o momento traiçoeiro. Vendo que a
ansiedade caiu, os clientes frequentemente agem como se agora eles soubessem como
controlar sua ansiedade. Eles sentem-se gratos porque ela finalmente foi embora.
Assim que os clientes começam a tomar esta auto-conversação literalmente, a escala
de controle move-se para cima novamente. Então, quando a ansiedade aumenta mais
uma vez, como com certeza, eventualmente o faz, em vez de simplesmente permitir
que ela chegue a um nível natural apropriado ao momento, a luta começa novamente
devido à atitude que diz: "Pensei que a tinha vencido, mas não o fiz". Os terapeutas
devem, em consequência, ser muito sensíveis aos estágios iniciais deste tipo de luta e
aos múltiplos caminhos que podem elevá-la.
(2) Um enfoque rápido e flexível (mas não dominante). Os terapeutas
também devem ser capazes de reagir rapidamente às suas observações. O terapeuta
deve ser capaz de expor de maneira diferente as questões básicas, de forma a se
adaptarem `a situação presente, sem simultaneamente dominar o cliente. O terapeuta
deve permitir que o cliente descubra algumas destas coisas, mas o terapeuta também
deve ser flexível e criativo ao fomentar essa descoberta. Os bons terapeutas estão
prontos a adaptar seus pontos a uma forma que não é dominante e, frequentemente,
não literal, quando o cliente o requer. O uso criativo da metáfora e da alegoria, por

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exemplo, é extensivo neste enfoque. Isto tende a permitir que os clientes descubram
pontos sem uma racionalidade linear. Muito deste capítulo pode parecer ter indicado
que se pode contar às pessoas somente umas poucas histórias e esperar que criem a
mudança. Na realidade, a própria interação é crítica. O material didático
simplesmente estabelece as bases lógicas para fazer o trabalho realmente importante:
discriminar e reagir ao "sistema" do cliente, momento a momento. Na sessão regular,
na parte inicial do processo terapêutico (mas após as primeiras cinco ou seis sessões
que são relativamente didáticas), posso ter que reorientar um cliente, apontando as
lutas implícitas que ele está travando, talvez quatro ou cinco vezes e cada vez pode
tomar uns poucos minutos para lidar com isso. Assim, a avaliação rápida e um
enfoque flexível é essencial para o sucesso nesta terapia.
(3) Colocar as técnicas em um contexto apropriado. Uma área difícil neste
enfoque é a necessidade de adequar técnicas e exercícios a um contexto geral que não
está bem estabelecido dentro da cultura. Eu verifico que terapeutas inexperientes
frequentemente deslizam para o uso de técnicas, em nome de seus efeitos, que não se
ajustam dentro deste enfoque. Por exemplo, eles frequentemente propõem o treino em
relaxamento como uma maneira de ajudar o cliente a relaxar, em vez de usá-la como
uma prática para permitir abandonar a luta com a ansiedade. De maneira similar,
terapeutas inexperientes dirão aos clientes que ser mais assertivos fará com que eles
se sintam melhor quando, de fato, não é esse o propósito (nem é o efeito necessário)
do treinamento dentro deste contexto.
(4) Praticar o que pregamos. Esta última característica do terapeuta é, talvez,
a mais difícil. Porque um enfoque contextual choca-se com o ponto de vista da
cultura dominante a maioria dos terapeutas passam momentos difíceis no início,
praticando o que pregam. Em geral, um terapeuta que pretende praticar a partir deste
contexto não deve fazê-lo como uma técnica ou como um golpe a ser desferido em
outrem, mas como um contexto para o comportamento tanto do terapeuta como do
cliente.
Os problemas citados acima (sensibilidade, intervenção flexível, e o uso
criativo de técnicas específicas) provavelmente todas fluem a partir deste ponto.
Podemos ser mais sensíveis às armadilhas que os outros colocam somente quando
percebemos algumas das que nós mesmos colocamos. Assim, os terapeutas podem
apontar a relevância deste contexto para eventos específicos somente se eles
examinarem tal relevância frequentemente e em detalhe - como será o caso se eles o
estiverem aplicando a suas próprias vidas. Finalmente, os terapeutas utilizarão
técnicas de forma coerente somente quando o enfoque geral estiver completamente
integrado com suas próprias vidas. Um enfoque contextual não é uma técnica.

ERROS CLÍNICOS COMUNS


Até certo ponto já lidei com esta questão acima, mas ali eu estava concentrado
mais nos erros cometidos dentro deste enfoque. Se eu examino os erros a partir deste
enfoque, a lista se expande. De longe, o erro mais facilmente cometido é tomar o
conteúdo, em vez do contexto, como a questão-alvo. Isto é, podemos nos sentir
tentados a tomar o relato do cliente, do que incomoda a ele ou a ela, como uma
avaliação exata do que necessita ser mudado, quando de fato este evento é
problemático somente dentro de um contexto determinado. Isto é especialmente
lamentável quando leva o cliente a ter um problema contínuo e uma melhora

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superficial. Por exemplo, muitos dos assim chamados procedimentos de manejo da
ansiedade parecem levar somente a melhoras limitadas. Acredito que isto ocorre
porque eles procuram mudar apenas a forma do comportamento, não alterando o
comportamento em um sentido funcional completo. Outros enfoques algumas vezes
funcionam, mas deixam intacto o sistema que está , em primeiro lugar, criando o
problema. Por exemplo, instruções paradoxais (Weeks & L'Abate, 1982) podem dar
"curto circuito" na tentativa de controlar a experiência privada, mas deixa no seu
lugar o suporte sócio-verbal para que este tipo de controle emerja mais uma vez.
Um segundo tipo de erro pode acontecer quando terapeutas agem como se os
problemas que os clientes estão enfrentando indicassem que, de alguma maneira, eles
estão quebrados ou deficientes ou que eles necessitam, de alguma forma básica, que
lhes ensinem como comportar-se. Comumente, isto releva por mesmo em uma
tendência a dar conselho desnecessariamente ou de instruir as pessoas acerca da
FORMA que seu comportamento deveria tomar. Quando nós, terapeutas, tomamos
este papel paternalista em relação aos clientes, algumas vezes incapacitamos suas
habilidades para experienciar as contingências de maneira direta e verificar que eles
têm recursos para aprender e crescer. Em relação à toda conversação diretiva que
alguns leitores podem ter discernido neste capítulo, notemos que muito pouco da
mesma diz ao cliente que forma de comportamento adotar. A confrontação parece-se
mais com apresentar um dilema ao cliente, que uma prescrição.
Eu desconfio de conselhos e instruções. Frequentemente, o que nós dizemos
aos clientes são coisas que eles já ouviram. Se o problema é falta de instruções
adequadas, por que isto não tem sido suficiente?. É claro, há alguns tipos de
problemas que são sensíveis a simples intervenções instrucionais mas, provavelmente,
bem menos do que pretendemos. Além do mais, as instruções parecem ter uma grande
probabilidade de fazer com que os clientes caiam em uma armadilha, mesmo que
essas armadilhas funcionem (Hayes et al, 1986b). Por exemplo, quando dizemos a
uma pessoa o que fazer para comportar-se de uma maneira socialmente habilidosa,
podemos estar colocando limite máximo sobre a excelência do desempenho que a
pessoa possa ter. Eles estão muito ocupados seguindo a regra para conseguirem
aprender à partir das contingências diretas (Azrin & Hayes, 1984).
Um tipo final de erro que é crucial neste enfoque é a inconsistência. Um
terapeuta não pode esperar conseguir uma mudança permanente ou duradoura no
contexto do comportamento do cliente se o contexto estabelecido na terapia fica
mudando. Em um enfoque orientado em relação às técnicas, no qual diferentes
técnicas estão disponíveis mais ou menos independentemente uma da outra, a
inconsistência não é um grande problema. O distanciamento compreensivo é o
enfoque mais ousado que procura alterar fundamentalmente o mecanismo básico do
controle comportamental. Para isto, se requer uma maior consistência.

QUESTÕES CLÍNICAS COMUNS


RESISTÊNCIA
Em certo sentido, todo meu enfoque está orientado para lidar com os
problemas da resistência. O cliente é, de certa maneira, resistente antes mesmo de vir
à terapia. Por que o comportamento problemático não mudou quando as
consequências negativas foram contactadas? Como já coloquei, acredito que
usualmente este tipo de resistência vem de um problema do controle por regras.

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No distanciamento compreensivo, a resistência é impedida pelo
distanciamento do cliente, como um organismo consciente, do conteúdo do que nós
experienciamos. Isto NÃO é feito para diminuir estas experiências, ou para fazê-las
menos poderosas, importantes ou sentidas. O propósito da distância não é afastar os
eventos do cliente, mas para dar-lhes espaço para experienciá-los completamente
como eles são, sem tomá-los verdadeiramente pelo que eles dizem que são
literalmente. Assim, por exemplo, tristeza é tristeza - nada mais nem menos - é algo a
ser sentido, não é para fugir disso ou para ser controlado por isso. Muito da
resistência é, realmente, um "control move" assim, o distanciamento pode,
automaticamente, reduzir a resistência.
Ao enfraquecer o contexto de dar razões e a procura por explicações inúteis, o
terapeuta é capaz de reduzir a habilidade para invocar as normas ou padrões sociais
que são utilizados para justificar ou explicar a resistência. mesmo se uma razão
grande é dada para a resistência, a questão ainda voltará: "Comprar essa regra
funciona para você? Assim uma explicação pode ser grande e, mesmo assim,
irrelevante, e não alguma coisa a ser seguida. A resistência não funciona. Quando
enfrentamos isso e vemos nossas intenções de explicar nossa saída somente como
mais comportamento, a defesa criada pela resistência desmorona.
Também impeço a resistência fazendo com que os clientes façam
compromissos pessoais para mudar. Explico que não serei eu o prejudicado se seus
problemas continuarem. Ainda pensarei bem deles como pessoa, apesar de que
lamentarei o fato deles estarem paralisados. Assim, o compromisso não é comigo - é
um simples reconhecimento e o conhecimento da forma como as coisas são. Quando
um cliente admite que "X" não funciona e "Y" funciona, a pergunta simples é: “Você
concorda em fazer o que funciona?” Se é assim, assim deverá ser feito. Quero deixar
claro que eu não adianto que os clientes me dêem as razões pelas quais eles não
podem fazer o que funciona. Se os clientes não concordam, então que assim seja -
mas então eles devem ser honestos consigo mesmo acerca de o por quê eles estão
aonde estão. Este tipo de elaboração e seguimento de regras é, essencialmente, uma
questão de elaboração de TATOS e de rastreamento. Quando se retira as defesas
verbais, como este enfoque o faz, as pessoas são levadas muito naturalmente a este
tipo de controle por regras. Uma metáfora que algumas vezes utilizo é a de um
motorista de ônibus. Os passageiros são os pensamentos e sentimentos. Eles dirão ao
motorista (a pessoa que tem esses pensamentos e sentimentos) onde virar, e
ameaçarão o motorista se ele não os obedecer, virão e o obrigarão a olhá-los. Tentar
empurrá-los para fora do ônibus não funciona - e, além do mais, o motorista teria que
parar o ônibus para tentar isso. A solução é o que "greyhound" (galgo) faz. O
motorista põe um sinal em frente do ônibus dizendo onde está indo e depois vai até lá.
Isso é chamado compromisso. Se os passageiros não gostam do destino ou do
caminho, eles podem descer, mas descendo ou não, o motorista irá ao lugar indicado
pelo sinal. O motorista só pode fazer isto, é claro, se ele não fizer um acordo com os
passageiros de que eles se manterão fora da vista se o motorista for onde eles
disserem.
Uma questão final não foi descrita ainda, mas também é fundamental para este
enfoque. As pessoas têm uma longa história de engajar-se em análises formais. Eles
explicam a calculam coisas. Eles também têm uma longa história de reforçamento
social pela adequação de tais análises. Isto é o que é chamado "estar certo". Ao longo
do tempo, estar certo fez-se um reforçador muito poderoso. As pessoas recrutam

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ativamente os membros da comunidade verbal para dar sustentação às suas análises,
de tal forma que, o reforçamento por este comportamento é tanto penetrante quanto
muito rico.
O problema com isto é que as consequências sociais de estar certo podem
superar as consequências naturais do comportamento. Assim, trabalharemos
frequentemente para manter a aparente segurança de nossas análises, mesmo se as
consequências forem totalmente negativas. Por exemplo, se o marido tem o ponto de
vista de que sua esposa está pressionando (screwing up) o relacionamento, ele pode
necessitar manter o relacionamento pressionado, para manter a sua análise correta.
Trabalhamos ativamente contra nossos próprios interesses porque nossos interesses
estão divididos entre as consequências sociais de estar certos e as consequências
naturais de comportar-se de maneira eficaz.
Eu lido com esta questão apontando este sistema, e pedindo para a pessoa que
faça sua escolha. Se mesmo somente uma pessoa conhece a natureza do jogo, de certa
forma o jogo termina. Por exemplo, uma vez um cliente veio à sessão terapêutica
dizendo que ia se matar porque sua ex-mulher, de quem tinha se separado
recentemente, estava morando com alguém. Eu fiquei bravo. Eu lhe disse: "Olhe, se
você está tão interessado em fazer com que sua esposa esteja errada e você certo, a
ponto de querer sacrificar sua vida, vá em frente. Mas eu quero que você saiba que
ficará uma pessoa neste mundo que saberá a verdade - que sabe o que você está
fazendo. Você pode até enganar sua esposa - ela pode mesmo "comprar" esta mentira
- mas você e eu sabemos o que realmente está acontecendo aqui". Com isto, ele
começou a chorar. A questão deslocou-se muito rapidamente para aquilo do que ele
queria se defender, estando certo. Ele me deu sua arma. Anos depois, ele me disse que
aquele tinha sido um momento decisivo em sua vida. Se nós não tivéssemos lidado
com a questão do certo e do errado, previamente, eu não teria sido capaz de assumir e
defender essa posição de maneira tão determinada. Ele teria pensado que eu estava
dizendo que ele estava errado - e eu não estava fazendo isto. Eu estava somente
dizendo que o que ele estava fazendo (tentando estar certo e fazendo com que outros
estivessem errados) não estava dando certo para ele.
Isto mostra a estratégia geral que eu sigo quando a resistência emerge na
terapia. Eu a enfatizo, incluindo a maneira na qual o que está sendo produzido por
velhas programações que têm causado danos ao cliente em outras condições. Eu faço
com que o cliente focalize os custos e corto os caminhos verbais de fuga. Procuro ter
certeza de que o cliente veja que não o estou desafiando, mas ao sistema que o
persegue. Assim, o cliente não está errado ao ser controlado por isto, entretanto, isto
tem um custo. Tento ter certeza de que essa questão não desliza para a questão do
cliente versus eu mesmo, porque é invariavelmente o programa do cliente versus o
cliente. Então eu deixo o cliente escolher. ESCOLHER pode parecer uma palavra
estranha para ser usada por um behaviorista, mas eu a considero apenas de maneira
descritiva. O cliente escolhe. Isso é um comportamento, não uma explicação. Nós
usualmente não conhecemos a explicação. Pessoalmente, gosto de usar a linguagem
da escolha com os clientes porque permite que não haja justificativa ou explicação:
escolhemos porque escolhemos, não escolhemos por determinadas razões. Algumas
vezes dizemos, "É uma escolha livre". Isto pode soar mentalista, mas realmente é a
maneira mais comportamental de falar. Se se "escolhe livremente", não há razões que
se possa dar por fracassar na execução de um projeto quando se fala em escolhas.
Assim, a palavra LIVRE em "escolha livre" mantém a conversação de escolha ao

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nível da descrição, uma vez que ela impede a habilidade de dar explicações.
Descrição é prerrogativa a qual escolha pertence. Entre parênteses, este é um exemplo
de como as palavras podem, literalmente, entrar em conflito com o behaviorismo e,
mesmo assim sustentar funcionalmente mudanças comportamentais profundas por
parte do cliente.

Generalizações e Manutenção
O enfoque à terapia que estou descrevendo, aplica-se a muitas situações na
vida das pessoas. Quando você a usa completamente, os empregos, a escola, os
amigos, o relacionamento, os hábitos de saúde, etc, são influenciados pela tendência
de tentar usar estados mentais para explicar e justificar nossas ações. Eu descobri,
repetidamente, que as principais áreas de generalização simplesmente emergem assim
que a natureza da similaridade se torna evidente. Por exemplo, recentemente conclui
meu trabalho com uma obsessiva-compulsiva que veio ver-me exatamente depois de
sua segunda hospitalização psiquiátrica devido a sua desordem. Ela tinha muito medo
de ferir outras pessoas, e tinha múltiplos rituais de conferir (checking). Por exemplo,
ela refazia repetidamente seu caminho ao dirigir para verificar se não tinha atropelado
alguém. A cliente já tinha recebido quase todos os tipos de terapia imagináveis, desde
tranquilizantes à eletrochoque. Depois de seu tratamento, seu problema de 25 anos
clarificou-se (ver Figura 2, cliente 1). Ela parou de tentar lutar contra a ansiedade.
Depois que sua terapia concluiu, lhe pedi que falasse a uma classe de estudantes de
pós-graduação da qual eu era professor, o que ela fez. Um estudante lhe perguntou:
"Qual foi a coisa mais importante que o Dr. Hayes fez por você?". Ela respondeu: "A
coisa mais importante, penso eu, foi que eu pensei que para ficar boa tinha que, de
alguma maneira, nem mesmo pensar que eu poderia ter feito alguma coisa para ferir
alguém. Eu não pensava que eu podia ter esses pensamentos e viver com eles. Eu
pensava, vocês sabem, que "o pensamento não pode estar ali porque não posso viver
com ele, de maneira que tenho que ter influência sobre eles". E, imediatamente, o Dr.
Hayes disse: "Não precisa ser desse jeito. Os pensamentos, provavelmente, não
diminuam nada. Você não pode pensar menos do que pensa agora, mas não é
necessário que eles controlem você". E ele acrescentou que as únicas coisas que eu
poderia mudar eram meu desejo de estar ansiosa e meu comportamento. Penso que foi
aí que decidi que estava O.K. ser ansiosa e que era preferível, a praticamente matar
meu eu cada vez que queria livrar-me da ansiedade, então, algumas vezes eu estava
ansiosa e outras não".
Este tipo de "insight" é do tipo que parece generalizar-se naturalmente. Por
exemplo, durante a terapia, à medida em que ela se faz mais desejosa de sentir
ansiedade pelo que a ansiedade era realmente, ela repentinamente também começou a
ser mais assertiva. Ela começou a levar coisas quebradas de volta às lojas, a lidar com
problemas de relacionamento no trabalho e, em geral, a mostrar uma forma mais
comovente de generalização. Todavia, gastamos muito pouco tempo trabalhando isto
de maneira direta, na terapia. Quando lhe perguntei como é que estava pronta para ser
mais assertiva, ela explicou que estava, simplesmente, mais desejosa de experimentar
os pensamentos de que ele não deveria ser assertiva, os sentimentos de que seria
desastroso ser assertiva, e comportar-se de acordo com a realidade de que ser
assertivo funciona.
Eu encorajo este processo de quatro maneiras. Primeiro, ampliando
deliberadamente o escopo dos tópicos terapêuticos, à medida que a terapia progride.

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Velhas questões que podem não ter levado o cliente à terapia, mas são, não obstante,
irritantes, são levantadas e lida-se com elas. Segundo, permito que surjam conexões
em terapia e tenho realmente vontade de desviar-me, periodicamente, à áreas que não
estão associadas de maneira estreita com o tópico da terapia. Por exemplo, falo de boa
vontade de velhas lembranças, questões de família, problemas financeiros ou somente
acerca de qualquer coisa que o cliente levanta. Ao final, eles usualmente estão mais
relacionados do que pareciam no início. Em certo sentido estou seguindo o conselho
de Stokes & Baer (1977) de "treinar de maneira frouxa". Terceiro tento mostrar como
cada questão é realmente a mesma coisa: aplica-se os mesmos princípios. À medida
que novas questões emergem é difícil, às vezes, para os clientes observarem isto, mas
depois de ter lidado com várias questões, da mesma maneira, a generalização faz-se
mais provável. Em certo sentido, eles aprendem a estratégia e não somente o exemplo
específico. Finalmente, faço com que muitos de meus clientes participem de um
grupo, lá pelo final do processo terapêutico individual. O grupo é constituído por
clientes mais antigos e clientes que entraram posteriormente na terapia. Esse grupo se
encontra uma vez por mês, e tende a focalizar maneiras de ampliar o progresso que
eles fizeram em outras áreas. Devido a uma mudança, eu tive que encerrar um grupo
deste tipo depois de dois anos e meio. O último ano não foi gasto diretamente com a
ansiedade, mas em questões escolhidas pelo grupo, tais como, amigos, dinheiro, sexo,
trabalho, relacionamentos íntimos, etc. Examinando a relevância deste enfoque para
as questões gerais da vida, os clientes parecem fazer-se mais capazes de generalizar à
tópicos novos o que eles estão aprendendo na terapia.
Dada a sustentação por parte da cultura dominante, de razões e luta emocional,
pensaríamos que a manutenção seria difícil, a partir deste enfoque. O reforçamento
para o seguimento normal de regras, continua. Neste enfoque, o terapeuta não pode
abordar os principais problemas de uma só vez. Porém, quando os clientes finalmente
"rompem" as linhas inimigas, o problema parece mudar. A manutenção continua a ser
uma problema, mas um problema surpreendentemente moderado. Uma vez que o
sistema é visto claramente, é difícil retornar a ele por completo. É difícil acreditar
100% em uma crença, depois que ficar claro que uma crença é, somente, mais um
comportamento. Os dois mecanismos que utilizo para a manutenção são o grupo que
mencionei acima e sessões de encorajamento, à medida que são necessários. Cerca da
metade de meus clientes me verão uma ou duas vezes no ano seguinte ao término da
terapia, só para esclarecer algum ponto difícil de resolver. Usualmente, isto pode ser
feito de forma rápida, porque eles simplesmente têm que fazer contato com o
repertório estabelecido anteriormente na terapia. Por exemplo, um cliente agorafóbico
(com mais de dois anos pós terapia) recentemente tivera um ataque de pânico em um
cinema e, depois, rapidamente começou a deslizar para uma luta com a ansiedade. Em
três sessões, realizadas em uma semana só, conseguimos reverter o deslize e descobrir
que o ataque tinha sido deflagrado por algum tipo de luta que o precedera. Não foi
necessário tratamento adicional.

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA
Já tenho explicado por que o distanciamento compreensivo não é somente algo
que possa ser apresentado como um conjunto de histórias. É necessário ter o terapeuta
ali para modelar o cliente diretamente. Um relacionamento terapêutico parece muito
importante. Mas, para modelar, também necessitamos ter algum poder social. Em
minha opinião, uma das maneiras mais rápidas de ganhar isto é respeitar os clientes.

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Os seres humanos têm problemas. Quando lidamos com nossos problemas de
deficiências, surgem outros problemas chamados "desafios". Estes nunca param, e
também não é necessário. Neste contexto, não há diferença real entre clientes e
terapeutas. Não é uma questão de uma pessoa como um todo e de uma pessoa
"quebrada". Não é uma questão daqueles que sabem e daqueles que não sabem. Em
vez disso, é simplesmente mais fácil ver as armadilhas do outro e não as nossas
próprias. Algumas vezes, eu apresento uma metáfora a meus clientes para ilustrar o
ponto. Eu peço a eles que imaginem uma equipe escalando uma montanha. Do outro
lado de uma profunda garganta, senta-se outro membro da equipe que está olhando o
progresso de subir a montanha. Ele pode falar à equipe pelo rádio para avisar-lhes de
blocos de pedra em seu caminho em direção ao cume da montanha. Se ele estivesse
na montanha, ele estaria tendo, provavelmente, tantos problemas como os membros
da equipe. A terapia é, frequentemente, assim.
O relacionamento terapêutico é, assim, estabelecido entre dois seres humanos,
um dos quais está sustentando o outro não à partir de uma posição de superioridade,
mas à partir de uma posição de perspectiva vantajosa. Respeito meus clientes -
realmente os amo. Os valorizo como seres humanos e não vejo seus problemas como
deficiências de sua parte. O tipo de relacionamento que isto fomenta naturalmente é
um de sustentação, mas orientado pela tarefa - estamos aqui com o propósito. Uma de
minhas clientes chamou isso, uma vez, de "coleguismo" Entendi o que ela queria
dizer.

AMBIVALÊNCIA
O dicionário define a ambivalência como a existência de "sentimentos
mutualmente conflitivos acerca de uma pessoa ou coisa". É uma questão clínica
comum em todos os problemas: desde dificuldades maritais à desordens tais como,
esquizofrenia ou personalidade limítrofe. Em uma abordagem contextual, a
ambivalência é vista como problemática somente porque o contexto de literalidade
faz com que os sentimentos pareçam literalmente conflitivos. A meta é permitir que o
cliente experiencie os dois tipos sentimentos sem que um tenha que se impor sobre o
outro e, ao mesmo tempo, escolher um curso consistente de ação, sem levar em
consideração qual lado parece mais forte no momento.
Quanto isto funciona, pode ter efeitos dramáticos. Um de meus estudantes
(Zamir Korn) tratou com sucesso um cliente que foi diagnosticado como portador de
uma desordem de "personalidade limítrofe" (borderline). Ele tinha uma longa história
de relacionamentos problemáticos e inabilidade em manter o emprego. Ele alternava-
se entre querer estar perto das pessoas e odiá-las. Ele queria ter sucesso no trabalho,
para estar totalmente aborrecido em pouco tempo depois. Ele tinha um auto-conceito
extremamente negativo a maior parte do tempo. A ambivalência pode ser pensada em
termos de analogia ao tabuleiro de xadrez. Era como se, algumas vezes, ele visse as
coisas do ângulo das peças brancas e, algumas vezes, das negras - o que é chamado de
"divisão".
A meta na terapia era ajudá-lo a ver ambos os lados à partir do "nível de
tabuleiro" e, então, enquanto ele estivesse vendo ambos os lados, estabelecer um
curso de ação. O cliente aprendeu a dar espaço para a ambivalência e fazer e manter
compromissos. Próximo ao final da terapia, por exemplo, o cliente escolheu casar-se
novamente com sua ex-esposa. Ele descreveu sua viagem de 4 horas para encontrá-la

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como cheia de "fantasmas e duendes" (pensamentos e sentimentos acerca de casar-se
novamente ou não). Em vez de tentar lutar contra esses sentimentos, ele os admitiu e
manteve seu compromisso. De fato, ele casou-se novamente e tem mantido seu
emprego durante três anos. Seis das sete escalas no MMPI muito elevadas que
estavam presentes no começo da terapia, diminuíram ao nível normal ao final do
tratamento. Perto do final da terapia, o cliente leu um poema que ele mesmo tinha
escrito e que descobria sua experiência terapêutica e que deixa clara a relevância desta
abordagem da ambivalência.
Tenho vivido esta vida por 33 anos.
Tenho visto a alegria e tenho experimentado as lágrimas.
Tenho vivido com pessoas e tenho vivido sozinho.
Tenho sido preguiçoso e tenho posto mãos à obra.
Nunca segui muito minha intuição.
Minha vida tem estado cheia de indecisão.
Mas agora penso que tenho arranhado a superfície.
Do que eu sou e de meu propósito como um todo.
Odiar a mim mesmo não é realmente um crime.
Me sinto feliz e triste ao mesmo tempo.

ENCERRAMENTO
O final de algo implica um estado de coisas permanente ou solidificado. Na
terapia, usualmente, isso não funciona dessa maneira. Quando nossos problemas são
solucionados permanentemente?. Quando estão estabilizados?. Minha meta não é
fixar as pessoas, mas conseguir que deixem de estar paralisadas. As contingências
naturais moverão nossas vidas para frente. Assim, o "final" da terapia é o ponto no
qual um processo de aprendizagem é estabelecido. Temos a esperança de que esse
processo sempre continuará.
Eu tento facilitar o encerramento da terapia certificando-me que os clientes
sabem que poderão voltar se for necessário, provendo recursos a longo prazo como o
grupo e incrementando os intervalos entre as sessões de terapia, durante os últimos
meses de terapia. Mas que tudo, porém, tento deixar claro o que o término da terapia
é: ele é um processo e não o resultado.

SUCESSOS E FRACASSOS
Neste ponto, minha impressão é que o enfoque é realmente bem-sucedido em
relações a desordens de ansiedade e depressão. Também o tenho utilizado com
sucesso com o uso de drogas ou outros problemas de autocontrole. O tenho utilizado
em caso de manejo com esquizofrénicos e como não pretendo que ela trate da própria
psicose, tem parecido ajudar os clientes a serem um pouquinho menos controlados
por pensamentos ilusórios (delusional) e alucinações.
É claro que nem todos os clientes serão responsivos a este enfoque. Os clientes
que não sofrem considerável dor ou estão, de alguma outra forma, prontos para uma

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grande mudança, não darão ao terapeuta o espaço necessário para tal desafio
fundamental na nossa perspectiva em relação às coisas. Por exemplo, fui incapaz de
tratar um homem de negócios altamente bem sucedido que não podia urinar em
público. Ele via sua própria vida de forma tão positiva que não tinha interesse em
alterar a sua maneira geral de lidar com as emoções. Também falhei, porém com um
enfoque comportamental mais tradicional, com este mesmo cliente. Apesar de alguns
dos meus casos mais bem sucedidos terem sido com clientes obsessivos-compulsivos,
outros parecem ter um sistema de controle verbal tão rígido que eu não pude
"atravessá-lo" suficientemente para desempenhar o trabalho a contendo. Tenho, como
a maioria dos outros clínicos, golpeando minha cabeça contra os muros das desordens
de personalidade de todos os tipos, com apenas poucos sucessos, mas o fracasso, aqui,
parece mais relacionado ao poder da desordem do que a um pobre ajuste a este
enfoque.
As pessoas que houvem falar do distanciamento compreensivo pela primeira
vez, frequentemente, acreditam que o enfoque poderia ser utilizado somente por
clientes muito intelectualizados. De fato, tenho usado-o com sucesso com crianças
bem novas (apesar de a linguagem ter que ser completamente mudada, elas entendem
o processo muito rapidamente), e com pessoas não instruídas com Q.I.s limítrofes. Os
clientes têm que desejar examinar questões básicas, mas parece não precisarem de
graus incomuns de inteligência para conseguir isso. Poucos clientes não conseguem,
em absoluto, relacionar as metáforas e com estes pareço ter muito mais dificuldade.
Não sei exatamente o que distingue estas pessoas de outras. Sei que não é uma
questão de status sócio-econômico ou qualquer outra variável demográfica óbvia,
desde que tenho tido êxito com clientes com uma variedade de repertórios básicos.
Parece haver uma espécie de rigidez no pensamento destas pessoas que não lhes
permite ver o significado das metáforas. É como se tudo tivesse que ser tomado
literalmente.

O IMPACTO DO DISTANCIAMENTO COMPREENSIVO


Tentamos avaliar este enfoque de diversas maneiras. A maioria dos dados que
existem para sustentar a posição, já foram publicados, isto é, a variedade de
descobertas básicas que parecem tornar esta análise plausível. Temos despendido
algum tempo avaliando especificamente o enfoque terapêutico. Devido ao fato destes
dados terem dado relativo apoio, a maior parte dos nossos esforços em pesquisa
continuam sendo colocados no sentido de desenvolver os princípios básicos
necessários para analisar o comportamento verbal desta maneira. À medida que temos
aprendido mais sobre classes de equivalência, comportamento governado por regras,
etc, nossas técnicas terapêuticas têm sido modificadas.
Temos desenvolvido dados de pesquisas de três tipos: de estudos análogos,
repetições clínicas e estudos formais de dados comparativos.

ESTUDOS ANÁLOGOS
Um dos primeiros estudos que tentamos foi acerca da tolerância à dor (Hayes,
Korn, Zettle, Rosenfarb & Cooper, 1982). Isto parecia um bom ponto de partida
porque a medida comportamental é precisa, os estudos de tolerância à dor podem ser

47
realizados com sujeitos análogos (analogue subjects), e parecia que a dor era
frequentemente dada como uma razão para diversos comportamentos. Testamos este
último pressuposto, apresentando uma descrição, a diversos estudantes universitários,
de diferentes situações comuns nas quais a dor era usada como uma escusa. Por
exemplo, descrevíamos uma situação na qual alguém concordou em ajudar a limpar o
quarto que compartilha com outros, mas não mantém o compromisso. A razão dada é:
"comecei a limpar o chão, mas meus joelhos doem". Foi pedido aos sujeitos para
avaliar a validade da razão dada. Encontramos que razões desse tipo recebiam
avaliações muito altas. Isto parece adequar-se às análises das razões dadas antes, e
sustenta a utilização da tolerância à dor como uma tarefa análoga.
Nós convocamos estudantes universitários, testamos sua tolerância à dor
através de uma tarefa de resistência ao frio, e depois os destinamos a três grupos: um
grupo placebo (controle), um de enfoque congnitivo e um de distanciamento
compreensivo. O grupo "cognitivo" era uma combinação de procedimentos
apresentados na literatura (ver Hayes et al., 1982, para uma descrição mais completa).
O grupo de distanciamento compreensivo incluía uma análise das razões dadas, do
controle emocional e disposição. Não era pedido aos clientes comprometerem-se em
relação à tarefa de tolerância. Os dados de todos os sujeitos são apresentados na
Figura 9. 1. Como pode ser observado, havia uma diferença significativa na tolerância
à dor entre os grupos, do pré ao pós-teste. O grupo "cognitivo" produziu uma melhora
significativamente maior que o grupo "placebo" e com o grupo de "distanciamento
compreensivo" apresentando um progresso significativamente maior que os outros
dois grupos.

Inserir Figura 9. 1
Posteriormente tentamos utilizar o distanciamento compreensivo com um
grupo grande para tratamento de problemas de estudos, mas sem sucesso. Parece
como se um contato muito estreito entre o terapeuta (ou experimentador) e o cliente
fosse necessário para evitar que o cliente utilize defesas verbais do tipo que o enfoque
tenta enfraquecer.

REPLIAÇÃO CLINICA
Até a presente data tenho utilizado este enfoque, principalmente, com
desordens de ansiedade, depressão, e outras poucas desordens (por exemplo, bulimia,
desordens de personalidade) em minha prática particular. Alguns de meus alunos
também têm utilizado este enfoque com clientes do mesmo tipo. Na figura 9.2
apresento os dados dos primeiros 12 clientes com desordens de ansiedade tratados
desta maneira. Estes dados são as avaliações médias da ansiedade sentida em relação
às diversas cenas particulares em uma escala de 1 (nenhuma ansiedade) a 10
(ansiedade total). As características destes pacientes são mostradas na Tabela 9.1. O
quadro apresentado na Figura 9. 2 mostra resultados semelhantes ao quadro obtido
através das medidas comportamentais e as medidas dos resultados clínicos gerais.

-Inserir Figura 9. 2

48
-Inserir Tabela 9. 1

RESULTADOS CLÍNICOS COMPARATIVOS


Até hoje, foi relatado somente um estudo comparativo de resultados clínicos
acerca de distanciamento compreensivo (Zettle & Hayes, 1984). Neste estudo, 18
mulheres clinicamente deprimidas foram designadas para tratamento através do
distanciamento compreensivo. Além disso, à alguns dos clientes foram dadas tarefas
comportamentais e a outros não. Os resultados foram bem consistentes. Na maioria
das medidas, o distanciamento compreensivo era superior ao enfoque de Beck. Em
uma das medidas, o distanciamento compreensivo foi menos efetivo. A figura 9.3, por
exemplo, apresenta os dados para a Escala de Avaliação Hamilton, uma escala de
avaliação de depressão baseada em entrevistas. Com esta escala, o distanciamento
compreensivo foi significativamente superior tanto no final de um período de 12
semanas de terapia quanto ao acompanhamento posterior à terapia. Também, quando
comparamos o grupo de distanciamento compreensivo com os dados dos sujeitos do
estudo bem conhecido de Rush, Beck, Kovacs e Hollon (1977), o distanciamento
compreensivo revelou ser superior.

-Inserir Figura 9. 3

Naturalmente, ainda há muito a ser feito, mas os dados até o presente são
suficientemente bons, de tal forma que, eu posso sentir que estou no caminho certo e
que a análise deveria continuar para ser testadas e refinada. Infelizmente, este é um
enfoque muito difícil para ensinar aos outros porque seus pressupostos e técnicas
diferem muito da cultura dominante. Por esta razão, eu esperei até que pudesse
apresentar a análise em um capítulo longo. Não obstante, sou realista em relação ao
que é possível aqui. Enquanto alguém que está lendo este capítulo pode ter algumas
boas idéias, não pretendo que um terapeuta seja capaz de usar um enfoque de
distanciamento compreensivo somente com base neste capítulo. E nem acredito que
um terapeuta cauteloso seja necessariamente convencido ou pela análise ou pelos
dados. Eu acho que o que eu espero é que os leitores considerem a necessidade de
novos enfoques à terapia, o possível papel que o bahaviorismo radical pode ter na
organização de tal procura. Estas duas considerações, de fato, guiam minha
abordagem à terapia. Uma vez que este livro trata do que os terapeutas do
comportamento realmente fazem na prática clínica, se eu consegui mostrar aos
leitores a maneira como me guio por essas considerações, eu atingi minha meta.

49
Cap.10 - EVITAR E ALTERAR O CONTROLE POR REGRA COMO
UMA ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO CLÍNICA
Steven Hayes, Barbara Kohlenberg & Susana Melancon
(Tradução: Lydia Akemy)

INTRODUÇÃO:
Se o comportamento governado por regra é tão onipresente como parece, é
lógico que muitas desordens clínicas envolvam problemas no controle verbal de um
tipo ou outro. Pelo menos, 4 tipos de problemas podem ser distinguidos.

1-1-TIPOS DE PROBLEMAS NO CONTROLE POR REGRA


1-1-1- Problemas na formulação de auto-regra.
Uma pessoa verbalmente competente é falante e ouvinte ao mesmo tempo. É
bem possível ouvir a sua própria fala. Esta conversa pode então participar no controle
de outro comportamento.
Existem diferenças naturalmente entre seguir as auto-regras e as regras feitas
pelos outros. Em particular as contingências sociais envolvidas no acedimento (veja o
capítulo 6 neste volume) não pode operar da mesma forma quando uma pessoa está
ouvindo seu próprio discurso. Contudo, a formação de auto-regra é provavelmente
muito importante no controle comportamental da impulsividade de outras ações. Sob
um controle maior de contingências diretas.
Desordens na formulação de auto-regras podem ocorrer, pelo menos de duas
formas básicas. Primeiro, uma pessoa poderia falhar em formular regras quando é
possível fazê-lo. Segundo, uma pessoa poderia formular regras mas o faz erradamente
ou irrealisticamente. Muito da literatura de terapia cognitiva pode ser interpretada
como numa tentativa em treinar indivíduos na formulação da própria regra (veja
Poppen. capítulo 9 neste volume: Zettle & Hayes, 1982) Uma ênfase sobre o
desenvolvimento de auto-regras precisas pode ser também discriminada na terapia
orientada para o insight. Neste caso, a relação está estruturada de forma que o cliente
é encorajado a trazer o comportamento verbal sob o controle de contatos diretos com
eventos experenciados e não estados de habilidade-reforço (ex. esperanças ou medos)
ou controle de audiência (ex. tentar agradar os outros).

1-1-2- Problemas na formulação de regra de grupo


Muitas das regras que guiam nosso comportamento podem ser aprendidas dos
outros. Da mesma forma que a formulação de auto-regras pode causar problemas, os
problemas podem ocorrer nas práticas de formulação de regras da comunidade verbal.
Mas geralmente Culturas e subculturas particulares podem falhar em desenvolver
regras adequadas ou podem desenvolver regras imprecisas. Por exemplo, uma
subcultura religiosa pode desenvolver regras verbais sobre a fé curatista, que proíbe
os adeptos a procurarem atendimento médico para doenças que ameaçam a vida.
Igualmente, uma cultura pode falhar em dar qualquer guia verbal sobre questões
importantes de saúde.

50
1-1-3- Uma falha em seguir regras
Não basta formular regras válidas. Elas devem também aprender a serem
compreendidas e seguidas. Sem um repertório de ambos os aspectos de seguimento de
regras, os padrões de comportamentos perturbados parecem prováveis. Em algumas
circunstâncias; é desejável que as regras compitam efetivamente com os efeitos
destrutivos de alguns tipos de controle de contingências imediatas. Por exemplo, um
adolescente pode saber que tomando drogas adicionais provavelmente conduz a um
final extremamente indesejável. Contudo a contingência social imediata e os efeitos
imediatos da droga em si podem levar o adolescente a um padrão de drogadição. A
regra "não tome drogas aditivas" significa estabelecer uma insensibilidade àquelas
contingências diretas. Sem um padrão suficientemente forte do seguimento de regra, é
muito mais provável que a pessoa tenha seu comportamento capturado pelas
contingências imediatas, mesmo que o resultado seja destrutivo.
Seguir regras, neste sentido, envolve dois aspectos distintos: compreender a
regra e ativação verbal das funções comportamentais em termos de regra (veja o
capítulo 6, neste presente volume). Algumas técnicas clínicas tem sido orientada para
um aumento da compreensão, mas a maioria dos procedimentos assume que as
pessoas podem organizar eventos em termos de uma regra. O foco da maioria das
intervenções clínicas, portanto, é estabelecer o seguimento de regras em si, uma vez
que a regra seja compreendida.
Algumas das técnicas usadas com pessoas impulsivas ou com alterações de
caráter podem ser entendidas como uma tentativa de estabelecer um grau maior de
seguir regras. Por exemplo, os programas de tratamento de drogas, tais como o
Synanon, são altamente regulamentados, com muitas regras de conduta claramente
fixadas. Obediência às regras é promovida através das reuniões de grupo focadas nas
infrações das regras pelos membros do grupo. Este intenso controle social pode ser
compreendido como uma tentativa de estabelecer o acedimento em relação às regras
da casa. Contingências sociais fortes e consistentes são dadas para o seguimento das
regras, talvez com a esperança de que resultem num maior grau de insensibilidade às
contingências indesejáveis e imediatas.

1-1-4- Excessivo seguimento de regra


Chegamos agora ao foco deste capítulo. O comportamento governado por
regra não pode captar completamente, o refinamento do comportamento controlado
diretamente pela experiência. Dirigir um carro depois de ter lido um livro sobre
direção não é o mesmo que dirigir depois de ter dirigido por muitos meses. Interagir
com membros do sexo oposto após ter lido um livro sobre isso, não é o mesmo que
uma interação individual socialmente experenciada.
Contudo, não é apenas uma questão de ter experiência suficiente. Algumas
regras podem estar apoiadas tão difusamente pela comunidade verbal que a
experiência direta não pode, contudo, superar os efeitos da regra. Em outros casos, o
uso prévio de uma regra pode interferir no controle pela experiência direta de forma
que os benefícios da subsequente experiência direta sejam atenuados.
A literatura revisada neste livro leva em conta que a insensibilidade ao
controle da contingência direta é um efeito secundário típico do controle verbal. Mas

51
há muitas vezes, em que o controle pelo contato direto com o mundo é desejável.
Naquele contexto, é extraordinária a frequência com que os terapeutas confiam na
instrução direta para produzir benefícios terapêuticos. Terapias diretivas, tal como a
Terapia Racional Emotiva (Fllis, 1962) e quase todas as técnicas de terapia
comportamental aplicadas em adultos (ex. Lutzker & Martin, 1981: Rimm & Masters,
1979) confiam fortemente em instruir diretamente o comportamento do cliente.
Avanços em nossa compreensão no governamento por regra está, gradualmente,
cortando fora as bases de muitas destas técnicas comportamentais.
Por outro lado, as terapias "não comportamentais" começaram a se mostrar
mais consistentes com a literatura comportamental básica. Por exemplo; a Gestalt
terapia (Perls, 1969; Perls, Hefferline & Goodman; 1951) defende os aspectos
experimentais da aprendizagem: deve-se experienciar o "agora" antes real, assim uma
mudança permanente pode ocorrer. Similarmente, as psicoterapias orientadas para o
relacionamento(ex. Strupp & Rinder, 1984): Woiss & Sampson, 1984) também
enfatizam muito as experiências que ocorrem durante o relacionamento terapêutico
como sendo crítico na produção da mudança do comportamento.
Quando o controle instrucional é indesejável, dois rumos parecem disponíveis:
evitar o controle verbal ou alterá-lo de forma a diminuir seus efeitos produtores de
insensibilidade. Neste capítulo, focaremos as duas estratégias. Não é, naturalmente,
que o controle verbal em si seja prejudicial. A própria civilização é baseada no
controle verbal. Além do mais, alguns dos métodos descritos neste capítulo tentam
usar os efeitos das regras produtoras de insensibilidade de formas mais úteis. Sua
ênfase primária; contudo, está na esquiva e na alteração do controle por regra.

2-1- EVITANDO O CONTROLE POR REGRA: A ESTRATÉGIA DA


MODELAGEM DIRETA
Consideraremos dois típicos como exemplo da estratégia de modelagem
direta. Primeiro; discutiremos a área do treinamento de habilidades sociais e
mostraremos como as questões sobre o comportamento governado por regra e
modelado por contingência se aplicam. Alguns resultados preliminares de uma
abordagem e modelagem direta para o treinamento das habilidades sociais serão então
descritos. Segundo uma terapia comportamental orientada para o relacionamento
chamado Psicoterapia Funcional Analítica (Kohlenberg & Tsai, 1987) será descrita e
discutida à luz desta distinções.

2-1- TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS


As abordagens comportamentais para o treinamento de habilidades sociais,
tradicionalmente tem sido conduzidas pelas seguintes suposições. Primeiro, o
indivíduo sendo treinado é visto como sendo deficiente ou excessivo em determinadas
áreas particulares de habilidade. Segundo, supõe-se que o terapeuta/experimentador
pode identificar e descrever as habilidades sociais que são necessárias para o
cliente/sujeito adquirir ou mudar. Terceiro, supõe-se que o terapeuta será capaz então,
de usar instruções verbais (as vezes em conjunto com dramatização e modelação) para
estabelecer os comportamentos especificados. Quarto, o terapeuta pode
posteriormente, modelar o desempenho dando Feedback à medida que o desempenho
aproxima-se do ideal ordenado (ensinado) (Devany & Nelson, 1986), criando assim

52
no indivíduo um comportamento novo e mais efetivo. Embora esta tradicional
abordagem de "habilidades componentes" para o treinamento de habilidades sociais
tenham demonstrado alguns sucessos, permanece problemática pelas seguintes razões:

2-1-1 -Operacionalização do comportamento alvo


A abordagem de componentes de habilidade para o treinamento de habilidades
sociais constrói a noção de que é possível operacionalizar o comportamento particular
que se deseja estabelecer. Descrever os componentes específicos da "habilidade
social" é muito difícil, contudo (Ciminero, Calhoun &Adams, 1977; Conyer &
Conger, 1982). Devido a supor-se que somente quando o comportamento alvo pode
ser operacionalizado, então o terapeuta ou experimentador pode modelar
aproximações sucessivas ao comportamento desejado, literalmente centenas de
estudos tem sido feitos durante os últimos 20 anos para identificar os componentes da
habilidade social (Rosenfarb, Hayes & Linchan, no prelo). Assim, somente um
punhado de componentes foram identificados que juntos, são responsáveis por
somente uma fração da variância nos desempenhos sociais.
O problema parece ser que, os comportamentos sociais são extremamente
complexos e difíceis de numerar. Habilidades sociais podem envolver classes totais de
comportamentos que tem similaridades funcionais mas poucas similaridades
estruturais. Além da forma dos comportamentos envolvidos, questões complexas
como tempo certo, controle situacional, etc, torna difícil desenvolver uma lista dos
componentes das habilidades sociais.
Dada a nossa suposição de que uma resposta não tem significado independente
de seu contexto (Skinner, 1969), a especificação dos comportamentos alvos é
impossível sem a referência do contexto. Quando o contexto é ignorado, nós só
podemos confiar nas descrições topográficas do comportamento, ou seja, sobre a
estrutura ao invés da função do comportamento. Tal abordagem distorce uma
perspectiva comportamental totalmente. Um sorriso que apareceu após ser dito
"sorria" e eu te darei uma moeda" é realmente um comportamento diferente do que
um sorriso que aparece depois de ver uma carta de um velho amigo na caixa do
correio.
Lidando com alguns tipos altamente discrimináveis de dificuldades sociais,
tais como comportamento envolvendo violência ou auto-destruição ou higiene
precária, definições estruturais podem ser adequadas devido a um contexto social
consistente pode ser assumido. Higiene precária tem maior probabilidade de ter
resultados similares numa grande variedade de situações sociais e a mensuração das
topografias comportamentais não podem, neste caso, produzir confusões.
Outros atos são altamente variáveis na forma e os efeitos são dependentes do
contexto. Por exemplo, quando se tenta responder questões tais como "como eu posso
me aproximar das pessoas?" ou "por que eu atraio pessoas que eventualmente me
abandonam?", a dificuldade com a confiança sobre a estrutura torna-se óbvia. Assim,
embora a literatura das habilidades sociais tradicionalmente tenha valorizado a
operacionalização topográfica dos comportamentos alvos, há muitos problemas com
esta abordagem quando tenta permanecer consistente com uma abordagem
funcionalista do problema.

53
Se alguém está comprometido com a mensuração do contexto, a natureza
deselegante de uma abordagem de déficits de habilidade também se torna óbvia.
Mesmo se fosse possível nomear cada componente da habilidade e relacionar cada um
a cada contexto concebível, o livro de regras resultante poderia aparentemente conter
milhares de regras e seria virtualmente impossível ensiná-las. Finalmente por que
muitos comportamentos sociais são convencionais, parece provável que o papel de
muitos componentes mudaria com o tempo, de forma que o livro de regras teria que
ser readaptado continuamente.

2-1-2- Generalização
Um problema adicional que tem atormentado a literatura tradicional de
habilidades sociais comportamentais é o da generalização. Apesar da mudança
comportamental ser vista frequentemente dentro do contexto que ocorreu o
treinamento, é difícil obter mudanças que generalizam-se a outras situações (Devany
& Nelson; 1986; Gallassi & Gallassi, 1979).

2-1-3- Treinamento governado por regra


Dada a literatura básica sobre o governo por regra, segue-se que se alguém
tenta instruir um comportamento particular, então o comportamento pode tornar-se
relativamente insensível a muitas outras contingências que estão operando num dado
momento. Mesmo se pudessem identificar um conjunto particular de comportamentos
que poderia beneficiar um indivíduo a adquirir, estabelecer este conjunto através de
instruções verbais poderia funcionalmente tornar o comportamento insensível à
situação que difere da situação de treino. Em outras palavras, o comportamento
estaria sob o controle das instruções do terapeuta e não na situação social em que o
indivíduo se encontra (Azrin & Hayes, 1984).
Em alguns aspectos, isto deixa a abordagem dos comportamentos das
habilidades num dilema. Mesmo que a dificuldade da tarefa em identificar os
comportamentos alvos apropriados possa ser superada, instruindo estes
comportamentos alvos pode induzir uma insensibilidade indesejável aos afeitos da
experiência social direta. Como podem ser avaliadas e tratadas as habilidades sociais
se os componentes específicos são, ao mesmo tempo, desconhecidos e não ensináveis
(instruíveis?).

2-1-4- Treinamento modelado por contingências


Vários estudos emergiram de nossos laboratórios que atestaram para o
problema do treino de habilidades sociais, apesar de permanecer em contato com as
questões anteriormente descritas. Nossa estratégia geral tem sido expor os clientes às
condições sob as quais as habilidades sociais podem ser adquiridas pela experiência
direta.
Nosso primeiro estudo focalizou-se sobre a sensibilidade do cliente às dicas
sociais indicando interesse. Raciocinamos que se os sujeitos poderiam saber quando
eles teriam um impacto positivo sobre os outros, então eles seriam capazes de
aprender pela experiência direta quais os comportamentos sociais relacionados com
tais efeitos.

54
Focalizamos sobre as pistas de interesse em interações heterossociais (Azrin &
Hayes, 1984). Aos sujeitos masculinos foi pedido que eles assistissem uma
conversação em videotape de uma mulher com um homem desconhecido (invisível).
Os sujeitos poderiam ver o rosto e o corpo da mulher: a porção sonora da fita
desligada. Após um minuto os sujeitos classificaram o quanto eles pensaram que a
mulher estava interessada no homem com quem ela estava conversando.
Uma variedade de mulheres foram observadas. No videotape original, a
conversação entre o homem e a mulher foi suspensa a cada minuto e a ambos era
pedido que confidencialmente classificassem seu interesse no parceiro durante o
minuto anterior. Usando as classificações das mulheres como critério, as
classificações dos sujeitos masculinos poderiam ser avaliadas para sua precisão. Isto
permitiu uma avaliação de sensibilidade masculina às pistas sociais de interesse. Não
sabemos a que pistas especificadas os bons classificadores estavam respondendo, mas
não precisamos sabe-las a fim de avaliar o grau de sensibilidade social dos sujeitos.
Um tratamento experiencial foi desenvolvido com base no critério de
classificação. Após os sujeitos classificarem o grau de interesse da mulher no seu
parceiro invisível, metade dos sujeitos receberam feedback de como a mulher
realmente estava enquanto que a outra metade não recebeu feedback.
Os resultados sugerem que como um resultado do treino, os sujeitos,
melhoraram a sua habilidade: para discriminar o interesse; que esta habilidade
generalizou-se para mulheres previamente invisíveis (não vistas); e que os sujeitos na
condição de feedback demonstraram progresso nas atuais habilidades sociais em
condições subsequentes de dramatização. O mais importante é que esta melhora
ocorreu sem qualquer tentativa de operacionalizar que comportamentos constituíam
sensibilidade social e, dessa maneira nenhuma tentativa foi feita para instruir (ensinar)
estes comportamentos.
Este estudo não tentou competir as instruções contra a experiência, mas ele
efetivamente demonstrou que uma habilidade social pode ser avaliada e treinada sem
ter que determinar os componentes da habilidade e sem usar qualquer instrução verbal
sobre tais componentes.
Rosenfarb, Hayes e Linchan (no prelo) comparou o treino de habilidades
sociais experenciais e instrucionais no treinamento de adultos com dificuldades
sociais. Neste estudo, 36 adultos receberam treinamento voltado para melhorar suas
habilidades assertivas. No contexto de repetidas dramatizações de cenas sociais, um
terço do grupo recebeu instruções de como tornar-se mais assertivo, um terço foi
auxiliado a desenvolver suas próprias regras de como melhorar e um terço não
recebeu regras e não foram encorajados a desenvolver as suas próprias. Um quarto
grupo serviu como controle de lista de espera. À metade dos sujeitos através das 3
principais condições (regras, auto-regra e sem regras) foi dada também feedback não
instrucional sobre seus desempenhos: à metade não foi dado feedback. Na condição
de feedback, o experimentador simplesmente afirmou sua "reação atrevida" sobre a
qualidade do desempenho dramatizado. Nenhum feedback foi dado sobre os
comportamentos que o terapeuta gostou ou não.
Os resultados deste estudo sugerem que os sujeitos recebendo feedback
melhoraram mais do que os sujeitos que não o receberam e foi mais provável terem
desenvolvido comportamentos que se generalizam para situações.

55
Neste estudo, os sujeitos foram capazes de aprender habilidades sociais
efetivas sem instruções ou feedback diretivo verbal. O experimentador não precisa
saber que componentes leva a uma classificação alta. Tudo o que era exigido é que o
experimentador fosse capaz de distinguir os desempenhos socialmente efetivos dos
inefetivos de um modo global. De fato classificações globais de habilidades sociais
são como frequência, altamente confiáveis entre os classificadores, mesmo quando
eles eram ingênuos sobre as definições formais de habilidade social. Apenas pela
participação virtual da cultura, a maioria de nós conhece as boas habilidades sociais
quando as vemos. Assim, as habilidades sociais foram avaliadas e tratadas, mas sem
primeiro ter que saber quais habilidades necessitariam ser melhoradas.
Esta linha de pesquisa está ainda nos seus estágios iniciais. Ela demonstra
contudo, que as abordagens instrucionais não são necessárias na terapia
comportamental, por mais onipresente que possam ser. É interessante que tanto
esforço tenha sido colocado neste caso sem êxito, na geração das regras de conduta
para o uso clínico. A literatura no governo por regra debilita o racional para o
esforço; trabalhos tal como o relatado aqui abala sua necessidade.

2-2- PSICOTERAPIA FUNCIONAL ANALÍTICA


Psicoterapia Funcional Analítica é de interesse porque é uma técnica de
tratamento que conscientemente tenta evitar a dependência de instrução. Ao invés
disso, o relacionamento terapêutico em si é usado para modelar comportamentos mais
efetivos.

2-2-1- Base teórica


Kohlenberg e Tsai (1987) descreveram a Psicoterapia Funcional Analítica
como uma abordagem à Psicoterapia que é derivada diretamente de uma estrutura
conceitual skinneriana. Ao contrário de Ferster (1972) e Skinner (1953), que
escreveram as descrições behavioristas radicais da psicoterapia psicanalítica, a
Psicoterapia Analítica Funcional distingue-se significadamente destas tentativas
iniciais para analisar psicoterapia uma vez que ela oferece um novo conjunto de
diretrizes para a prática da psicoterapia que estão amarradas ao contato dos autores
com os escritos de B.F Skinner (1945, 1953 e 1957).
Embora as escoras conceituais da Psicoterapia Funcional Analítica sejam
atribuídas ao bahaviorismo radical, as técnicas incluindo-as são ditas também para
serem modeladas por contingência. Kohlenberg e Tsai são psicólogos clínicos que
notaram durante anos que alguns de seus clientes demonstraram mudanças dramáticas
e difusas (penetrantes), "muito além dos objetivos fixadas para a terapia" e que para
estes clientes, o relacionamento terapêutico era particularmente intenso. Psicoterapia
Funcional Analítica foi desenvolvida em parte então, a fim de ..."levar o terapêuta a
um relacionamento de suporte, sensibilidade genuína, envolvente e emocional com
seu cliente, enquanto que ao mesmo tempo capitalizando definições do behaviorismo
radical em termos de clareza e lógica.
2-2-2 -Linhas norteadoras e razão.
A Psicoterapia Funcional Analítica enfatiza o papel de reforçamento na
mudança do comportamento operante. Reforçamento, como é bem conhecido, é mais

56
efetivo quando ocorre imediatamente após o particular comportamento de interesse.
Portanto, os procedimentos da Psicoterapia Funcional Analítica são orientados para
aumentar a discriminação de comportamentos clinicamente relevantes como eles
ocorrem durante a sessão, um passo necessário ao estabelecimento do estágio onde
comportamento pode ser imediatamente reforçado.

2-2-3- Reforçamento
Emprestando os conceitos de Ferster (1967), os autores sugerem que sempre
que possível, reforçamento natural e não arbitrário deveriam ser usados no ambiente
da terapia. Ferster sugeriu essencialmente que o reforçamento deveria combinar, tão
intimamente quanto possível, o que poderia ocorrer no ambiente natural, de forma a
facilitar a generalização quando o tratamento parar e evitar poderosos combates e
resistências .Reforçadores que formalmente estão tão próximos do que é visto no
ambiente natural são identificados por Ferster; como naturais. Reforçadores que são
diferentes do que é naturalmente encontrado no ambiente como consequência de um
particular comportamento são descritos como reforçamento arbitrário. Contudo no
ambiente da terapia, gratificando um contato visual apropriado com dinheiro, fichas
ou por dizer "Bom! Eu gosto quando você me olha!" seria arbitrário, enquanto que
gratificar o comportamento com maior atenção do terapeuta seria um exemplo de um
reforçamento natural. Assim a atenção sedimentada do terapeuta seria uma
consequência natural para um contato visual pobre, enquanto que uma multa
financeira ou um grito "não" seria uma consequência arbitrária.
Embora o reforçamento seja extremamente importante na Psicoterapia
Funcional Analítica, a habilidade para discriminar os comportamentos a serem
reforçados é igualmente importante. Psicoterapia Funcional Analítica enfatiza que
existem vários tipos de comportamentos.

2-2-4- Comportamento Clinicamente Relevante -1


Quando instâncias reais do comportamento de interesse ocorrem na terapia,
estas são denominadas de "Comportamentos Clinicamente Relevantes -1". Por
exemplo, os autores descrevem um homem cujo principal problema era evitar cair em
relacionamentos amorosos. Durante a hora da terapia, ele vigiava o relógio de forma
que ele pudesse terminar na hora, ele cancelou a próxima, a sessão após fazer uma
importante auto-exposição e ele sempre decidiu antes da hora sobre o que falar
durante a sessão. Através do curso do tratamento estes comportamentos clinicamente
relevantes deveriam diminuir.

2-2-4- b - Comportamento Clinicamente Relevante -2


Quando os indivíduos vêm à terapia basicamente porque eles estão deficientes
em certos repertórios, estes repertórios baixos ou não existentes são rotulados de
"Comportamentos Clinicamente Relevantes 2". Por exemplo; se um cliente sente-se
mal porque ele é frequentemente ignorado nas conversas, ele pode ter vários tipos de
deficiência de repertório. Se durante a sessão, o terapeuta o interrompe ou o ignora, o
cliente poderia desenvolver, possivelmente a habilidade de discriminar o declínio no
interesse do terapeuta e então mudar o tópico ou dirigir a atenção do terapeuta de

57
volta à conversa. Comportamentos Clinicamente Relevantes 2 são comportamentos
que poderiam aumentar através de todo o curso da terapia.

2-2-4- c -Comportamento Clinicamente Relevante 3


Este comportamento refere-se aos Clientes que verbalizam sobre seu próprio
comportamento e o que parece causá-lo. Comportamento Clinicamente Relevante 3,
envolve a observação de seu próprio comportamento e os estímulos reforçadores,
discriminativos e eliciadores que o cercam. Pode também incluir a identificação de
eventos que ocorrem na terapia como funcionalmente equivalentes aos eventos que
ocorrem fora da terapia. Por exemplo, "Eu estou reagindo à sua sugestão de me vestir
melhor da mesma forma que eu reajo quando meu namorado me critica".
Desenvolvendo o comportamento de descrever relações funcionais pode ajudar na
obtenção de reforçamento.

2-2-5- Regras de Terapia


A fim de conduzir de fato a Psicoterapia Funcional Analítica, os autores
oferecem 5 regras estratégicas de técnicas terapêuticas. São regras estratégicas no
sentido de que elas não proscrevam a forma específica de comportamento, mas ao
invés disso, apontam para as estratégias a serem adquiridas amplamente através da
experiência direta. Regras tais como "a prática faz a perfeição" são regras que em si
mesmas são pouco prováveis de induzir insensibilidades nocivas no clínico.
2-2-5- a -Regra 1: Desenvolver um Repertório para observar Possíveis exemplos
(amostras) de comportamento clinicamente relevantes que ocorrem durante
a sessão de terapia.
O autor afirma que teoricamente esta regra sozinha seria suficiente para um
tratamento bem sucedido. O desenvolvimento de repertório de observação num
tratamento é muito difícil de instruir e é muito provavelmente modelado por
contingência.
2-2-5-b -Regra 2: Construir um ambiente terapêutico que intensifique a evocação de
comportamento clinicamente relevante.
Na maioria dos casos, os autores argumentam que, os comportamentos
clinicamente relevantes ocorrem sem o terapeuta ter que tomar medidas especiais. As
vezes, contudo, ambientes especiais necessitam ser construídos. Se os clientes relatam
ter problemas de relacionamento que somente emergem quando seus cônjuges estão
presentes, por exemplo, os comportamentos clinicamente relevantes podem aparecer
em terapia de casais, mas não em terapia individual.
2-2-5-c -Regra 2: Arranjos para reforçamento positivo do comportamento
clinicamente relevante 2.
Dada a sensibilidade que os autores tem com as questões de reforçamento
arbitrário/natural ,eles hesitam em especificar quaisquer formas particulares de
comportamento por parte do terapeuta que poderia agir potencialmente como
reforçadores. Se eles o fizerem assim, eles poderiam interferir realmente com a
disponibilidade dos reforçadores "mais naturais" ao terapeuta.

58
Os terapeutas são membros da comunidade social, além de serem terapeutas.
Contudo, as respostas espontâneas que eles tem para os clientes seriam representativas
das respostas dos indivíduos com quem o cliente interesse fora da terapia. As reações
privadas do terapeuta são portanto dados importantes.
Embora o ambiente terapêutico seja, em muitos aspectos, idênticos ao
ambiente diário do cliente, existem diferenças importantes. No ambiente terapêutico,
o terapeuta esperançosamente, tem as habilidades de ampliar suas reações privadas,
de forma a serem mais benéficas ao cliente. Fazendo isso, o terapeuta está emitindo
um comportamento verbal que é "autoclítico" (Skinner, 1957) - ele serve para
"aumentar e aguçar o efeito sobre o ouvinte" (p.369).
Dada a importância das reações privadas do terapeuta por ocasião de seu
próprio comportamento na sessão, certos traços do terapeuta tornam-se importantes
de acordo com Kohlenberg e Tsai. Primeiro. O terapeuta deve discriminar o que
reforçar (regra 1). Segundo, os esforços deveriam ser feitos para combinar os clientes
com os terapeutas que são mais prováveis de serem reforçados pelo progresso em
direção aos comportamentos alvos do cliente. Por exemplo, uma cliente interessada
em aprender a se auto-repor mais em seus relacionamentos pessoais ficaria melhor
com um terapeuta que tenha tais habilidades em seu próprio repertório.
2-2-5-.d-Regra 4: Desenvolver um repertório para observar as propriedades potenciais
de reforçamento do comportamento do terapeuta que são contingências à
ocorrência do comportamento clinicamente relevante do cliente.
Se os terapeutas tem emitido comportamento que eles pensam estar agindo
como reforçador, seria importante que eles observassem se estão de fato no momento,
aumentando, diminuindo ou não tendo efeito sobre um comportamento particular do
cliente. Feedback deste tipo levaria a mudanças nos comportamentos do terapeuta que
poderia torná-los mais efetivos.
2-2-5-.e-Regra 5: Desenvolver um repertório para descrever relações funcionais entre
as variáveis controladoras e o comportamento clinicamente relevante.
Os autores sugerem que, fortalecendo os repertórios verbais pelo cliente que
descrevem relações funcionais envolvendo comportamentos clinicamente relevantes
(ocorrendo dentro ou fora da terapia), seria um importante passo no aumento das
chances do cliente em obter reforçamento. O terapeuta pode auxiliar o cliente a
construir este tipo de repertório por si mesmo, emitindo frases sobre as relações
funcionais sobre os eventos na sessão de terapia. Por exemplo, dizendo ao cliente
"sempre que eu pergunto sobre seus sentimentos em relação a mim, você muda de
assunto" (Kohlenherg & Tsai, 1987, p.411) ou " quando eu lhe falo que eu realmente
me importo com você e que eu gostaria que você soubesse dos meus sentimentos,
você reage de um modo impessoal. Esta reação faz-me sentir como se meus
sentimentos não fossem válidos e punida por eu dizer que eu me importo, eu acho que
é por que você reagiu da forma que fez, ou seja, você não quer que eu exponha
minhas preocupações e meus sentimentos positivos por você". (Kohlenherg & Tsai,
1987, p.412).
Afirmação deste tipo serviriam para criar um contexto no qual as emoções não
seriam vistas como ocorrências randômicas, mas ao invés disso, como o resultado dos
reais eventos discriminativos, que seriam reduzidos ou aumentados, se assim fosse
desejado. Assim como a terapia orientada para o insight, tais procedimentos poderiam

59
desenvolver um repertório mais preciso de auto-regras, baseado no contato direto com
o fenômeno de interesse.

2-2-6- Psicoterapia Funcional Analítica e Governo por regra


Os procedimentos ressalltados aqui são destinados a produzir mudanças nos
comportamentos do cliente e do terapeuta que são amplamente modelados, não
instruídos. Em vez de criticar a terapia comportamental anterior que confia no
controle instrucional, a Psicoterapia Funcional Analítica é orientada para modelagem
e o reforçamento. O terapeuta evita utilizar as “regras” para criar mudança no
comportamento, amplamente porque, as regras podem produzir comportamento que é
funcionalmente diferente do comportamento que foi modelado.
O único tipo de regra que é formalmente encorajada nesta abordagem é o
rastreamento de tatos precisos. Tanto o cliente como o terapeuta são encorajados a
verbalmente descrever as contingências que cercam experiências particulares
(comportamento clinicamente relevante 3). Eles são encorajados a estarem em contato
direto com as experiências que ocorrem na sessão e a gerar frases sobre as relações
contingênciais que parecem existir.
Psicoterapia Funcional Analítica é uma terapia difícil para muitos terapeutas,
pois exigem que o terapeuta produza efeitos, em parte pelas suas reações "naturais" ao
comportamento do cliente. Exige que o terapeuta esteja bem envolvido com o cliente
e que suas reações privadas ao cliente sejam examinadas continuamente. Isto é muito
diferente de outras abordagens comportamentais à terapia, onde o terapeuta pode
utilizar instrução enquanto permanece pessoalmente fora e distante da sessão.
Como anteriormente discutido, muito da literatura sobre as habilidades sociais
é baseada na noção de que comportamento particular que se deseja estabelecer ou
reduzir pode ser operacionalizado. Contudo, habilidade social pode ser afetada sem
esta ocorrência, como nós demonstramos (Azrin & Hayes. 1984; Rosemfarb, Hayes &
Linchan, no prelo).
A Psicoterapia Funcional Analítica lida com esta questão selecionando
terapeutas que já tem os comportamentos-alvos globais dos seus clientes em seus
repertórios. A idéia é que sem ter que definir os componentes de, dizermos "ser capaz
de ter intimidade com outros", os terapeutas provavelmente são mais capazes de
modelar aproximações em direção a estas habilidades, se eles mesmos forem efetivos
nisto. O repertório e a história do próprio terapeuta é usada como um método para
definir categorias funcionais do comportamento. Continuando com o exemplo, uma
descrição estrutural, topográfica de certos comportamentos necessários para a
intimidade não é necessária, por que os terapeutas podem notar as reações em si
mesmos que, por exemplo, funcionalmente produzem a intimidade ao invés de
comportamentos que então tem sido estruturalmente definidos como “componentes do
comportamento íntimo”.
A abordagem de Kohlenberg e Tsai (1987) é planejada para produzir
mudanças que são "além dos objetivos fixados na terapia". Por enquanto, isto não foi
demonstrado empiricamente. A literatura sobre governo por regra fornece entretanto
um suporte conceitual para a possibilidade. Ao contrário de regras específicas
orientada para problemas específicos, o produto desta abordagem é pelo menos
planejada para ser uma habilidade geral de observar a experiência direta de uma

60
pessoa e a produção de auto-regras que intimamente correspondem a ela. Esta
habilidade geral naturalmente pode ser aplicada a qualquer problema que a vida
apresenta. Naturalmente, não podemos saber de antemão o que um cliente confrontará
durante o curso da terapia ou o que ocorrerá depois da terapia. Contudo, treinando
uma "abordagem" que pode generalizar a uma ampla variedade de coisas que alguém
se confronta é particularmente valioso.
Skinner (1972) em seu ensaio "Criando o Artista Criativo" apresenta uma
análise de produção da criatividade que pode ser análoga ao clínico criando as
condições exigidas para um cliente a abordar a vida de uma maneira flexível, criativa
e adaptativa. Skinner sugere que "O artista jovem pode ser ensinado, por exemplo, a
tolerar os efeitos que anteriormente rejeitou, de forma a permitir alguns traços para o
bem dos outros, parar de pintar no tempo, etc."(p. 340). Em outras palavras, existem
alguns elementos do processo de criação de alguma forma significativos que podem
ser ensinados, mas o produto real que o artista produz não é algo que poderia ser
especificado de antemão. A terapia, semelhantemente, pode ser mais generalizável
quando o objetivo é modelar uma abordagem para a vida, alguns (mas não todos) os
aspectos dos quais são difíceis de especificar.
A Psicoterapia Funcional Analítica é, ainda, de valor desconhecido. Seus
princípios operantes tem, contudo, sido divulgados pela literatura atual sobre o
governo por regra. Poucas técnicas comportamentais são sensíveis às desvantagens
(downside) do governo por regra e pouco trabalho empírico tem sido ainda feito sobre
estas técnicas. A Psicoterapia Funcional Analítica é, então oferecida, não ainda como
uma clara alternativa, mas como um desafio às suposições das técnicas de terapia
comportamental existentes.

3 -ALTERAÇÃO DO CONTROLE POR REGRA: A ESTRATÉGIA DE


RECONTEXTUALIZAÇÃO
Voltamo-nos para as técnicas que tem como sua meta uma alteração dos
modos nos quais as regras funcionam. Algum tipo de controle por regra precisa ser
diminuído; outros tipos aumentados. Na abordagem que se segue, tentaremos alterar
os meios pelos quais as regras funcionam alterando o contexto no qual elas ocorrem.

3-1 RELAÇÕES COMPORTAMENTO-COMPORTAMENTO


A maioria das psicoterapias de adultos lida, implícita ou explicitamente, com o
papel dos pensamentos e sentimentos dos clientes. Na medida em que os pensamentos
são reconhecidos como comportamentos, a questão "que papel os pensamentos
desempenham" no controle do comportamento humano?" seria mudado para "que
tipos de contingências levaria um comportamento a ocorrer e a influenciar outro
comportamento?" esta reformulação tem um enorme impacto sobre os tipos de.???

3-3-2- Controle
O segundo objetivo do Distanciamento Compreensivo é focar as questões do
controle emocional e cognitivo. Como mencionado antes no momento em que o
cliente vem à terapia, ele já está bem inclinado a ver muitos dos seus problemas como
relacionados à falha no controle de pensamentos e sentimentos em sua vida (ex.

61
temperamento, ansiedade, depressão). Este ponto de vista tem sido amplamente
apoiado pela comunidade sócio-verbal e recentemente, por muitas teorias psicológicas
que estiveram bastante expostas entre os leitores não-profissionais. Por exemplo os
clientes podem pegar qualquer revista no consultório do médico e aprender técnicas
para substituir a ansiedade por relaxamento, pensamentos depressivos por felizes,
uma auto-imagem baixa por pensamento positivo, etc.
Vemos tais tentativas de controlar eventos privativos (pensamentos,
sentimentos, opiniões, etc) como as próprias causas de muitas das grandes
dificuldades da vida. Aos clientes é dito que a regra "Se eu não quero fazer isso,
livro-me disso" é inefetiva no mundo da experiência privada, a despeito de suas
razões óbvias e vantagens no mundo físico em torno delas. Ou melhor, no mundo
dentro da pele, a regra pode ser mais precisamente expressa: "Se você não está
querendo isso, você já conseguiu". Tentando livrar-se da ansiedade, inevitavelmente
conduzirá aos pensamentos sobre a ansiedade; produzindo deste modo a verdadeira
causa que o cliente está procurando eliminar: tentando não estar depressivo, está se
deprimindo. Uma metáfora é usada para explicar este ponto:
TERAPEUTA: Suponha que eu tivesse amarrado você a um polígrafo muito refinado.
É uma máquina tão refinada que não há simplesmente meios de você provavelmente
tornar-se ansioso sem o meu conhecimento disso. Imagine agora que eu tenha lhe
dado uma tarefa muito simples: Não fique ansioso. Contudo, para ajudar a motivá-lo,
eu saco uma arma. Eu lhe digo que para ajudá-lo a trabalhar nesta tarefa eu segurarei
meu revólver na sua cabeça. Durante o tempo que você não ficar ansioso, eu não
atirarei em você, mas se você ficar ansioso, você será fuzilado. Você pode imaginar o
que poderia acontecer?
CLIENTE: Eu certamente seria fuzilado
TERAPEUTA: Certo. Não há como você seguir esta regra. Se é crítico não estar
ansioso, advinha o que você conseguirá?. Esta não é uma situação forçada. É
exatamente a situação que você está nesse exato momento. Ao invés de uma
polígrafo, você tem algo até melhor: seu próprio sistema nervoso. Ao invés de um
revólver, você tem sua auto-estima ou seu sucesso na vida aparentemente à mostra.
Assim, o que você consegue?. Você não percebeu que a coisa mais deprimente a fazer
é tentar eliminar sua depressão?. A raiva parece deixá-lo louco - a ansiedade deixa-o
ansioso. É uma estrutura. Estamos aplicando uma regra que funciona perfeitamente
bem numa situação dentro de uma situação em que a mesma regra é um desastre. E
não é apenas sentimentos. Suponha que você tenha um pensamento que você não
pode permitir. Assim você tenta não pensar nele. Isto funciona realmente bem, não
é?. Tente agora. Não pense em "donuts" de geleia; não pense em corridas de carros;
não pense em sua mãe. O que você consegue? No mundo fora da pele a regra pode ser
"Se você não quer isso, livre-se dele" mas dentro da pele ela permanece ser mais
como "Se você não está querendo isso, você o tem".
Na afirmação, "Se você não está querendo isso, você o tem" é impossível para
o cliente fazer uso da literalidade. Por exemplo, à agorafóbica é dito que se ela
expressa um desejo de ter ansiedade mas somente porque tal desejo servirá
basicamente para eliminar a ansiedade, então ela realmente está relutante e como
consequência, a ansiedade certamente continuará. Desta forma, o resultado paradoxal
em si ataca a base literal do qual ele depende.

62
3-3-3- "EU" VERSUS O QUE "EU" FAÇO
O terceiro objetivo identificado no Distanciamento Compreensivo é o de
ajudar o cliente a distinguir entre a pessoa que ele chama de "EU" e os
comportamentos problemas que o cliente quer eliminá-los. O objetivo primário do
Distanciamento Compreensivo é estabelecer um novo contexto sócio-verbal dentro do
qual as verbalizações podem funcionar de formas novas e mais produtivas. O
paradoxo é uma grande ajuda aqui porque ele ataca o significado literal. O ataque, em
si, contudo é baseado no significado literal. Uma distinção entre "EU" e o que "eu"
faço é útil por permitir ao cliente discernir auto-verbalizações mais rapidamente para
o que elas são; não apenas o que elas dizem que são. Isto é, a distinção produz alguma
"distância" entre a pessoa e seus próprios pensamentos. Da mesma forma como nos
afastamos de um quadro (uma pintura) para vê-la claramente, o propósito não é
diminuir o pensamento, mas simplesmente em parte, vê-lo com um pensamento.
Assim o propósito do distanciamento não é evitar, mas sim um contato mais rico,
mais variado e mais útil com o seu próprio comportamento.
A seguinte análise é retirada em parte de um tratamento mais detalhado de
Hayes (1984, 1987). Deixe a palavra “ver” representar todas as coisas maiores que
fazemos com relação ao mundo (sentir, mover, etc). Aos organismos não verbais há
apenas o mundo e a visão. A visão é inteiramente controlada pelas contingências
diretas (de sobrevivência e reforçamento). Com o advento do comportamento verbal,
isto muda. A disponibilidade de equivalência e outras classes relacionais permite à
comunidade verbal colocar eventos passados em classes com estímulos presentes. A
uma pessoa pode se perguntar coisas como "o que você tomou hoje no café da
manhã?" ou "ou o que você fez no circo?". Se a criança responde incorretamente, o
controle sobre a resposta pode ser refinado verbalmente, contando com classes
relacionais aprendidas em situações mais simples. Por exemplo, se a criança diz que
ela brincou com cubos no circo, a questão pode ser "não, você fez isso na escola. O
que você fez no circo? Você viu elefantes?". Assim, a comunidade verbal estabelece
uma tendência generalizada para responder verbalmente ao próprio comportamento:
não somente vendo, mas o que podemos chamar de "ver - vendo", ou auto-
conhecimento.
É também crítico à comunidade verbal, contudo, que este comportamento (ver
vendo) ocorre de uma perspectiva dada e consistente, locus ou ponto de vista. A
comunidade verbal não deve saber somente o que você vê vendo, mas que você vê
vendo do seu ponto de vista. Deste modo, a comunidade verbal cria um "sentido do
eu" que tem algumas propriedades muito especiais.
O comportamento de ver vendo de uma perspectiva pode emergir de várias
formas. As crianças são ensinadas a identificar palavras opostas (ex. aqui e lá) que
não se referem a eventos, mas à relação entre os eventos de um lado e o ponto de vista
da criança de outro. As crianças devem ser ensinadas a distinguir suas perspectivas
das dos outros. Crianças jovens, quando perguntadas o que elas comeram, podem
relatar o que seus irmãos comeram. Se estão sentados ao lado de uma boneca e
perguntados sobre o que a boneca vê, elas podem dizer o que elas mesmos vêem, não
o que uma boneca poderia ver. Finalmente, somos ensinados a responder geralmente
às questões como "o que você x" onde x é uma grande variedade de eventos tais como
comer, sentir, fazer, observar, etc. Os eventos em si mudam constantemente. Somente
o locus da observação que não. O invariante é que “você” é colocado em sentenças
quando os relatos estão para serem feitos do seu ponto de vista.

63
Assim a comunidade verbal cria um tipo de comportamento "de conteúdo-
menos" chamado ver-vendo da perspectiva e dá o nome de você. Este comportamento
pode até ser a base da distinção matéria/espírito tão prevalente em nossa cultura
(Hayes, 1984). O termo “você” é usado também de outras maneiras (ex. você como
um organismo físico), mas o sentido da palavra você é de relevância especial ao
distanciamento compreensivo em seu sentido anterior.
Por que isto poderia fazer diferença?. O comportamento de observar
pensamentos de uma perspectiva é muito diferente de comportamento de
compreender e seguir auto-regras. Ajudando a pessoa a distinguir entre ver-vendo-de-
uma-perspectiva e as coisas vistas, isto poderia torná-lo mais propenso a gerar e
compreender uma auto-regra sem também seguir aquela regra (conforme Ryle, 1949,
p.166). Esta é uma distinção difícil e toma um bom tempo de trabalho na terapia para
estabelece-lo solidamente. Um monólogo do terapeuta que explica como distinguir
entre você e o que você faz, poderia ser usado deste modo:
TERRAPEUTA: Como exatamente agora, é muito difícil, se não impossível estar
fora da luta de livrar-se de pensamentos ou sentimentos "indesejáveis". Você é muito
controlado por seus próprios pensamentos sobre o que você precisa fazer. A maneira
que normalmente operamos, confundimos o conteúdo de nosso próprio
condicionamento com o comportamento de ver os resultados daquele
condicionamento. Por causa disso, quando temos um pensamento, é como se aquilo
fosse também agora o que é real, não apenas como um pensamento, mas como o que
o pensamento diz que é. Quando isso acontece, estamos no que eu chamo de sobre o
mundo. Nós conseguimos compreender a que os pensamentos se referem - não o que
eles são. Em outras palavras, você não está apenas percebendo o comportamento
chamado pensar, você está realmente na situação descrita pelo pensamento. Se você
pensa que você está mal, você está mal. Frequentemente, você nem percebe que isto é
um pensamento, certo?. Assim, se você tem um pensamento como "Eu não posso
suportar isto. Eu preciso sair daqui", não está totalmente claro que o que realmente
aconteceu, é que você experimentou a si mesmo pensando. Você não experenciou o
que o pensamento realmente disse. A forma do pensamento diz uma coisa, mas você
realmente experenciou somente aquilo que você pensou que pensou.
Eis aqui uma metáfora que pode ajudar. Imagine duas pessoas sentadas em
frente a dois computadores idênticos. Dado a um conjunto particular de programação,
um certo input produzirá um certo output. A programação destes computadores é
como o que lhe aconteceu em sua vida. Dada uma certa situação, uma certa resposta é
provável. Digamos que digitamos no teclado alguma coisa e o ouput na tecla é "caia
fundo, você é uma pessoa má". Em um caso, imaginemos que a pessoa sentada em
frente ao computador está bem atenta da distinção entre si e o computador. Quando o
texto para leitura aparece na tela, pode ser interessante, ou talvez algo a considerar, ou
talvez algo a mostrar aos outros. Provavelmente não tem que ser mudado, escondido,
seguido, desacreditado. etc. A segunda pessoa, contudo, está totalmente absorvida
pela tela. Como uma pessoa no cinema, ela se envolve tanto que se esquece da
existência da distinção entre ela como um observador da tela e o que está na tela. A
leitura como já mencionei, poderia ser mais inaceitável para este sujeito. Para ele,
provavelmente será algo a ser negado, esquecido, mudado, etc. Em outras palavras,
quando você se identifica com o conteúdo de suas experiências privadas, você quase
que automaticamente será controlado por elas, pelo menos com relação a tentar livrar-
se delas.

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Eis aqui uma outra metáfora que ajudará neste ponto. Imagine um tabuleiro de
xadrez que sai indefinidamente em todas as direções. Neste tabuleiro existem muitas
peças de xadrez de todas as cores diferentes. Para torná-lo simples, concentremo-nos
apenas nas peças brancas e pretas. Agora no xadrez, supõe-se que as peças estão
aliadas com seus amigos para surpreender seus inimigos. Assim as peças pretas
aparecem mais ou menos juntas e tentam matar as peças brancas do tabuleiro e vice-
versa. Estas peças representam o conteúdo de sua vida: seus pensamentos, seus
sentimentos, lembranças, atitudes, predisposição comportamental, sensações
corporais, etc. E se você percebe, elas realmente aparecem juntos. Por exemplo,
aqueles "positivos" podem agrupar-se você sabe, com aqueles que dizem coisas como
"Eu vou fazê-lo",????? E os negativos trabalham juntos também. Assim você
perceberá que os "maus" pensamentos estão associados com lembranças "más" e
“maus” sentimentos, etc. Agora a maneira como usualmente nós tentamos trabalhar é
que nomeamos um desses times como "nosso" time. É como se nós montássemos nas
costas da rainha branca e cavalgássemos para guerrear com as peças pretas. Há um
grande problema com isso, contudo. Assim que fazemos isto, todas as grandes
porções de nós são os nossos próprios inimigos, e mais, se é verdade que "se você não
está querendo isso, você o tem "então quando você trabalha com as peças indesejáveis
e tenta tirá-las do tabuleiro, elas parecem maiores, maiores e maiores, e isso é de fato
o que aconteceu, não é?. A ansiedade, por exemplo, tornou-se mais, mais e mais o
foco central de sua vida. Dentro desta metáfora, a coisa triste é que quando você age
como se somente parte de sua programação é aceitável, você deve também mover-se
de quem é para quem você não é. Para ser ainda mais preciso, você tem que agir
como se não fosse por mais tempo quem você experencia ser mesmo. Você tem que
esquecer que você não é o computador, na última metáfora. Dentro desta metáfora,
você pode ver quem "você" é?.
CLIENTE: Eu não sei. Eu sempre pensei que era as peças. Quem mais eu poderia
ser?
TERAPEUTA: Bem, pense a respeito
CLIENTE: O tabuleiro?
TERAPEUTA: Sim, Você vê?. Dentro daquela metáfora, você é o tabuleiro. Você é o
contexto no qual todas estas coisas podem ser vistas. Se existisse um pensamento e
ninguém para vê-lo, seria como se ele não estivesse lá. Agora você percebe que um
tabuleiro, embora seja um tabuleiro, pode fazer somente uma de duas coisas. Ele pode
manter o que está sobre ele e ele pode mover tudo (como quando você pega o
tabuleiro e movimenta-o no meio de um jogo). Note também que isso não exige
qualquer esforço para segurar as peças. Se o tabuleiro quisesse mover as peças num
momento, contudo, teria que ser do nível do tabuleiro ao nível da peça. Assim se você
estiver no meio das peças, para movimentá-las, você tem que esquecer que você é
realmente o tabuleiro. E uma vez que você está no nível da peça, você tem que lutar,
porque naquele nível outras peças parecem ameaçar sua verdadeira sobrevivência.
Esta é a razão de você não poder logicamente forçar-se a não lutar com suas emoções.
É uma causa perdida. O que você pode fazer é distinguir-se como se você
experimentasse a si próprio a estar longe dos eventos que você experiencia. Ou seja,
você pode ter claro que você realmente está no nível do tabuleiro de qualquer forma.
Daquele nível é possível observar a guerra entre suas próprias peças sem realmente
ser despedido por elas ou seja, sem ter que tomá-las literalmente ou sem ter que
mudá-las antes de você obter o controle sobre sua vida. É somente por perceber que

65
você não tem controle sobre as peças e que você não precisa disso, que você pode ter
controle sobre sua vida.
Em que sentido é possível que o "você" socialmente criado pode ser
independente de outros comportamentos? Isto é possível somente porque o
comportamento de ver vendo de uma perspectiva (este sentido de "você") é em si,
livre de conteúdo. Ou seja, é um comportamento que não pode, por si mesmo, ser
visto verbalmente como uma coisa pela pessoa que se comporta desta forma (Hayes,
1984). Tão logo quanto você percebe seu comportamento, ele basicamente já mudou.
Se fóssemos ver nossa própria perspectiva, de que perspectiva poderíamos vê-la?
Assim, o sentido do eu estabelecido pela comunidade verbal pode ser olhado de, mas
não pode ser olhado para - ou pelo menos assim que o fazemos, o comportamento que
estamos olhando não está mais ocorrendo no mesmo lugar. Isto significa também que
"você" neste sentido não pode ser avaliado só porque as coisas podem ter boas ou más
qualidades. Este comportamento não pode ser visto como uma coisa para a pessoa se
engajando nele e então, não pode ser avaliado. Pode ser parte do que os clínicos estão
falando com frases como "você está Ok como um direito inato". Além disso, o sentido
de "ser você" permanece o mesmo através da vida. Isto é assim porque tudo é o
sentido de ver da perspectiva. Se isso fosse para mudar, você não seria mais você.
Este sentido de imutabilidade é importante porque ele ajuda as pessoas a
experienciarem pensamentos negativos e auto-avaliações negativas enquanto que, ao
mesmo tempo, sabendo que a parte básica de "você" nunca mudará e que está além da
avaliação.
A suposição do Distanciamento Compreensivo é que, somente quando uma
distinção é feita entre este sentido de você e as coisas em sua vida é que é
consistentemente possível fazer alguma coisa a mais com os eventos privados
"indesejáveis" do que lutar com eles, segui-los, tentar livrar-se deles, etc. Nós temos
uma grande quantidade de regras socialmente estabelecidas sobre auto-valor. As
pessoas querem ser aceitáveis a si mesmas e aos outros. Infelizmente, devido à
avaliação verbal a nível de conteúdo, nenhuma é verdadeiramente aceitável. Nós, às
vezes, pedimos aos nossos clientes para nomear uma coisa no universo físico que não
pode falhar em qualquer ponto do tempo. Usualmente eles não podem. Então
perguntamos, "então por que você deveria ser sempre uma exceção?".
Neste ponto da terapia, nós frequentemente fazemos exercícios experenciais
programados para ajudar o cliente a tornar-se mais consciente da consciência.
Também adotamos algo da convenção inoportuna de estruturar frases de forma a
tornar clara a distinção entre o eu e o comportamento sendo emitido. Por exemplo,
instruimos os clientes a dizer: "estou tendo o pensamento de que eu não posso ir ao
passeio" (como oposto a simplesmente afirmar: Eu não posso ir ao passeio) ou "Estou
tendo a avaliação de que eu sou uma pessoa má". Esta simples técnica (que os
terapeutas da gestalt usaram para os clientes obterem seus "próprios" pensamentos e
sentimentos) muito poderosamente traz ao cliente a distinção que estamos tentando
fazer entre a pessoa que ela é e as coisas em sua vida.

3-3-4- Livrando-se da batalha


Nesta fase do Distanciamento Compreensivo, encorajamos os clientes a
começarem a experenciar, deliberadamente, os pensamentos e os sentimentos que, se

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tomados literalmente, devem ser evitados. Muitas vezes as auto-regras apontam para
ações inefetivas. Esquiar ladeira abaixo, ilustrar o ponto: Quando uma pessoa está
sobre uma ladeira íngreme, esquiando ladeira abaixo pela primeira vez, a inclinação
natural é para inclinar-se para trás sobre os esquis a fim de diminuir e manter o
controle da velocidade e rota. Entretanto qualquer esquiador experiente sabe que, de
fato, o oposto é verdadeiro - o único meio de obter o controle máximo sobre sua
velocidade e curso é inclinar-se para frente na ladeira. Quando encorajamos os
clientes a desistirem da luta com o controle, não estamos pedindo-lhes para "sorrir e
suportá-lo (tolerá-lo) ou (tough out) seus sintomas até serem capazes de resistir. Ao
invés disso, pedimos ao cliente para inclinar-se dentro dos sintomas; encorajamos não
somente a parar de lutar, mas igualmente a abraçar muito das coisas que eles
verdadeiramente temem.
O único meio possível dos clientes pararem de lutar com a depressão,
ansiedade, auto-depreciação, obsessões é se eles puderem ver estas coisas de um
contexto diferente do que é o usual. Procuramos saltar da literalidade, solapar o dar
razões e reduzir o controle como um compromisso. Neste contexto, o cliente pode
reconhecer as emoções, pensamentos ou sensações corporais como eles são (ex.
emoções, pensamentos, sensações corporais), e não como o que eles parecem ser.
Por exemplo, o pensamento "eu sou uma pessoa má" não é o mesmo como de
fato ser uma pessoa má. Pedimos ao cliente para desistir da luta com o pensamento,
como um pensamento, não resignar-se a ser uma pessoa má. O sentimento que a
agorafóbica tem durante um ataque de pânico de que está ficando louca não é o
mesmo que experiência real de tornar-se psicótica. Pedimos o cliente para experenciar
o medo da loucura não de fato experenciar entrar numa psicose.

3-3-5- Compromisso e Mudança Comportamental


O 5° objetivo do Distanciamento compreensivo é fazer um compromisso para
a ação. Neste estágio da terapia, o cliente foi levado a ver as razões como mero
comportamento verbal, não causas literais. Uma descrição de algo é ainda apenas uma
forma de falar e o valor de qualquer forma de falar está para ser encontrado em sua
função. A correspondência entre a palavra e a coisa não é a questão. Se um cliente
sinceramente explica que as coisas "realmente são" de modo que ele os descreveu, o
terapeuta mais provavelmente pergunta: "e essa forma de falar funcionou para você?".
Em outras palavras, a análises que resultam.
Alguns autores (ex. Killeen, 1984) criticou o uso do chamado comportamento
de ações privadas, mas há fortes razões para isso. Primeiro, ele enfatiza que o trabalho
da psicologia é explicar estes eventos. Se nós procuramos compreender o
comportamento de um indivíduo, considerar pensamentos como comportamento
requer que também compreendamos os pensamentos. Segundo, ele evita explicações
incompletas que não são úteis para a predição e o controle (veja Hayes & Brownstein,
, 1986). Nós, intuitivamente, reconhecemos que a explicação de um comportamento
através de um outro do mesmo tipo é inerentemente incompleta. Por exemplo, se
afirmamos que uma pessoa jogou bem "Scrabble" porque ela jogou bem "Trivial
Pursuit", nós imediatamente imaginaríamos que ela jogou bem Trivial pursuit porque
os dois estão relacionados. Suponha, entretanto, que parece que mudamos os campos
dos dois eventos relacionados. Suponha que afirmamos que a pessoa jogou bem
Scrabble porque ela tinha uma boa inteligência verbal e que era confiante e audaciosa.

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Esta explicação não parece tão obviamente incompleta com a primeira. Parece que
como os eventos explanatórios são de um tipo diferente do que o evento explicado,
são então possivelmente completos. Usando o termo comportamento para toda a
atividade organísmica, esta auto-decepção é menos provável.
Há uma razão final para considerar as ações privadas como sendo
comportamentos. Uma vez que nos acostumamos a pensar do controle cognitivo
como uma forma de relação comportamento-comportamento, podemos começar a
pensar as relações comportamento-comportamento em termos de análise de
contingências. Fazer isto requer que entendamos as contingências causando cada
comportamento e (e isto é o crucial do tema) a relação entre elas. Desta forma
devemos perguntar "quais são as contingências que apoiam a relação entre
pensamentos e outras formas de ação humana?". Nesta visão, os pensamentos e as
auto-regras não necessariamente produzem qualquer efeito sobre os outros
comportamentos. É somente devido ao contexto (as contingências) que uma forma de
comportamento se relaciona ao outro. Quais são as contingências que levam os
pensamentos verbais a controlar outras formas de comportamentos?. Nós apontamos
para três.

3-2- Contextos relevantes ao controle patológico de auto-regras


Os contextos mais característicos nos quais os problemas dos clientes estão
encravados são: 1) literalidade; 2) dar razões; e 3) a tentativa para controlar. O
primeiro destes; a literalidade, estabelece o palco para os outros.

3-2-1- LITERALIDADE
Através dos processos descritos no Capítulo 5 neste volume, frequentemente
as palavras vêm a ser usadas como se elas significassem ou fossem as coisas às quais
elas se referem. Uma palavra e a situação a que ela se refere, pode ser facilmente
confundida. Por exemplo, "Estou doente" literalmente significa que a situação de
doênça chegou. Mesmo o fato mais direto, de dizer "Eu estou doente" está
virtualmente encoberto na avalanche do significado literal.
Se um membro da classe relacional (ex. o "referente") é considerado presente
quando um outro membro (ex. uma "palavra") está presente, as ações apropriadas ao
primeiro são provavelmente ativadas pelo segundo. Por exemplo, o pensamento
"Estou doente" pode resultar num pedido da criança para ficar em casa ao invés da
escola, independente do estado real de sua saúde. Se a mãe é convencida pelas
palavras da criança de que ela se sente mal, provavelmente será permitido a ela ficar
em casa. Uma relação comportamento-comportamento entre dizer coisas (ex. pensar
verbalmente) e uma ação aberta é desse modo estabelecida pelo "contexto da
literalidade" criada e apoiada amplamente pela comunidade verbal.
Temos extensivas histórias da comunidade verbal mantendo uma equivalência
grosseira entre palavras e eventos. Estamos encorajados a engajar-nos em análises
formais de situações e então responder a estas análises. A comunidade verbal está
constantemente apertando a equivalência entre nossa fala e o mundo. Estímulos
verbais são estímulos puramente arbitrários, e existem poucos impedimentos para
amarrar completamente a equivalência de classes emergentes.

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Como resultado final, quando pensamos em algo, não é sempre óbvio que ele
seja mesmo um pensamento. Num sentido, as classes relacionais envolvidas são tão
amarradas que é difícil ver que as funções de um membro de uma classe são de fato
derivadas daquelas de outros membros. A insensibilidade produzida por regras
verbais pode, em parte, ser baseada neste fato verdadeiro. Um dos objetivos do
distanciamento compreensivo é "perder" a equivalência de classes verbais,
particularmente em conversas descritivas ou analíticas. Exatamente porque isto é um
objetivo que se tornará mais claro como o método e as suposições subjacentes são
descritas. Diferente dos outros métodos, contudo, que tenta ensinar tatos preciosos, o
objetivo primário do Distanciamento é ajudar os clientes a ver a conversa como uma
ação que pode ser útil ou não útil, dependendo do contexto.

3-2-2- DAR RAZÃO E CONTROLE


No contexto da literalidade a justificação verbal adquire considerável potência.
É geralmente aceito pela comunidade verbal-social que certos eventos podem explicar
outros eventos. Por exemplo, a agorafóbica diz ao seu marido que ela não vai hoje à
mercearia porque ela está muito ansiosa. Esta explicação para seu comportamento de
esquiva provavelmente gera um apoio simpático da comunidade porque muitas
pessoas podem identificar-se com a experiência de evitar uma situação onde eles
poderiam ficar com medo. Assim, dentro da comunidade verbal-social, uma relação
particular comportamento-comportamento é estabelecida que parece ser de uma
natureza causal: Quando estou ansioso, isto me faz evitar o que é temido e esta
esquiva faz a ansiedade ir embora. "Ansiedade torna-se um evento que aparentemente
pode fazer outros eventos comportamentais ocorrerem, mas ele o faz em parte por
causa do apoio social para esta verdadeira concepção.
O controle é uma extensão da literalidade e de dar razões. Se a ansiedade pode
causar esquiva e a esquiva é prejudicial, então a ansiedade deve ser controlada a fim
de melhorar os fatos. Esta concepção é também maciçamente apoiada pela
comunidade verbal. O apoio social para controlar. "maus pensamentos" ou "maus
sentimentos" é em si parte do contexto no qual estas ações privadas precipitam outras
ações, denominadas tentativas de livrar-se destes verdadeiros pensamentos e
sentimentos.

3-3- O PROBLEMA E A SOLUÇÃO


“Livrar-se de " é a "solução" do cliente. Em nossa visão, é ao contrário, um
aspecto do problema. O Distanciamento Compreensivo, (Hayes, 1987), busca
descobrir uma solução mais praticável através do abalamento dos três contextos de
literalidade, dar razões e controle. A esperança é que, fazendo isso, processos mais
diretos de controle de contingências podem ter mais de um impacto e que as soluções
impraticáveis, mas lógicas podem ser abandonadas. Adicionalmente, certas formas
válidas de controle por regra podem se tornar mais prováveis.
Devido a cada um dos três contextos relevantes não serem somente parte da
perspectiva do cliente, mas também parte da comunidade verbal-social (incluindo o
do terapeuta), eles são muito difíceis de explicar. De fato, o único meio possível de
fazer isso é se comportando de forma que não sejam "lógicas", nem "razoáveis" e,

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dessa forma, ficando fora dos contextos verbais, o terapeuta está buscando a
suspensão do contexto.

3-3-1- Desamparo Criativo


No primeiro estágio do Distanciamento Compreensivo, uma tentativa é feita
para estabelecer um estado de "desamparo criativo" no cliente. O cliente tipicamente
vem para a terapia com um conjunto de problemas identificados e mais
frequentemente, um conjunto de soluções verbais aos problemas. Ao terapeuta é então
pedido para assistir o cliente na implementação destas soluções (ex. clientes ansiosos
desejam ser calmos). Este conjunto de problemas e soluções identificados, surge de
um conjunto de práticas estabelecidas e mantidas pela comunidade de organismos
verbais da qual todos nós somos uma parte. Desamparo Criativo é o nosso nome para
a condição na qual as "soluções" do cliente começam a ser vistas como os problemas
dele, ou pelo menos, como impossíveis de implementar. Quando todas as "soluções"
não são disponíveis, o cliente sente-se sem ajuda, mas é um desamparo criativo
porque, fora deste contexto, fundamentalmente novas abordagens são possíveis.
Nesta primeira parte da terapia, ao cliente é dito que a "solução" que ele está
propondo é parte de seu problema e que o terapeuta não pode fornecer,
possivelmente, uma técnica para eliminar, controlar ou reduzir as emoções ou as
reações aflitivas que o cliente está experimentando. A situação é "desamparado",
porque mesmo se o terapeuta pudesse fazer o que o cliente está pedindo, isto não
produziria o resultado desejado.
Em nossa visão, o cliente está sem ajuda e desamparado dentro do contexto do
qual ele está atualmente operando. Aos clientes é dito que eles não se culpem, mas
que eles são responsáveis, isto é, capazes de responder. Os diversos e variados meios
que o cliente já tentou para mudar, nos quais falhou, são exploradores com o
terapeuta. Devido que as coisas que o cliente já tentou e abandonou são tipicamente
lógicas e de senso comum, torna-se claro que alguma mudança além da lógica verbal
ordinária é necessária. Usando metáfora, o terapeuta descreve o dilema do
"desamparo" em termos que identifica o sistema verbal-social no qual o cliente foi
treinado, não o cliente pessoalmente, como o problema real. Por exemplo, em
terapeuta pode dizer:.
TERAPEUTA: Deixe-me dar-lhe uma metáfora que pode ajudar a ver o que estou
dizendo. A situação em que você está é mais ou menos como esta. Imagine um grande
campo. Você está com os olhos vendados com algumas ferramentas dadas e lhe é dito
para correr através do campo. Embora sem você saber, existem buracos neste campo.
Eles estão amplamente espaçados na maioria dos lugares mas, mais cedo ou mais
tarde, você acidentalmente cai dentro de um. Agora, quando você cai no buraco, você
começa a tentar sair. Você não sabe exatamente o que fazer, assim você pega a
ferramenta que parece ser mais útil e você tenta sair. Infelizmente, a ferramenta que
lhe foi dada é uma pá. Assim você cava. mas cavar é uma coisa que faz buracos, e não
um meio de sair dele. Você pode tornar o buraco mais fundo ou mais largo ou pode
existir todos os tipos de passagens que você pode construir, mas você provavelmente
permanecerá neste buraco. Assim você tenta outras coisas. Você pode tentar descobrir
exatamente como caiu no buraco. "Se eu simplesmente não tivesse virado para a
esquerda na subida, eu não estaria aqui", você pode pensar. E naturalmente que é
literalmente verdadeiro, mas não faz qualquer diferença. Mesmo que você soubesse

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de cada passo dado, isto não tiraria você do buraco. Assim não vamos gastar muito
tempo pensando nos detalhes do seu passado - muitos destes virão à tona por outras
razões e lidaremos com eles, mas não como uma forma de tirar você do buraco em
que está. Uma outra coisa que você pode fazer é tentar encontrar uma pá realmente
grande. Talvez isto seja o problema. Você precisa de uma pá banhada a ouro. É
exatamente por isso que está aqui. Você pensa que eu tenho uma pá banhada a ouro.
Mas eu não tenho e, mesmo que tivesse, isso não faria nenhum bem pois pás não
tiram as pessoas dos buracos. Para sair do buraco você precisa de uma escada, não de
uma pá.
CLIENTE: Então, o que é a escada? Como eu posso sair?
TERAPEUTA: Veja, a razão de eu não poder responder isso agora é que isto não
melhoraria nada até você realmente livrar-se desta determinação de cavar seu
caminho de saída. Nesse exato momento, se lhe fosse dado uma escada, você tentaria
cavar com ela. Assim, deixe-me voltar ao assunto e dizer que não podemos prosseguir
até você realmente começar a encarar o fato de que não há caminho de saída, dada a
forma como você está enfocando isso. Não importa como você o faz, você não pode
cavar sua saída. Cavando rápido não adianta. Pondo mais esforço, não adianta E não
há nada para fazer que funcionará até você jogar fora a pá. Existe alguma coisa mais,
que eu quero lhe falar sobre isto. Na metáfora não é a falha da pessoa que o fez cair
no buraco e não é por sua culpa que ele não pode sair. Se não estiver nesse buraco,
poderá estar em outro. Falha e culpa existem quando acrescentamos uma condenação
social para tentar motivar alguém a mudar. Você não precisa disso. Você já está
motivado a mudar. Desse modo, não é sua culpa. Não deve se culpar. Você é,
contudo, responsável no sentido da habilidade de responder. Você tem uma
habilidade de responder diferencialmente na situação, mais do que você fez. Você
simplesmente não sabia que o tinha feito. Você não precisa passar anos cavando
furiosamente, como você tem feito. Se isto não é verdade, então nada pode ser feito
agora, assim não tente se esquivar da responsabilidade - saiba apenas que a habilidade
de responder não é o mesmo que culpa. Não precisamos de culpa aqui. As
consequências em si já são suficiente aversivas sem ter que despejar mais condenação
social sobre elas. Quero que saiba que está bem claro para mim que você gostaria que
sua vida funcionasse. Se você sabia o que fazer, você já deveria tê-lo feito.
A confusão é mantida deliberadamente para evitar que o cliente intelectualize
e compartimentalize o seu dilema nas mesmas soluções e insights de senso comum
que falharam no passado. Por exemplo, ao cliente é dito que se ele está
compreendendo o que o terapeuta está dizendo, então certamente, ele não está
entendendo-o porque dentro do contexto lógico verbal que ele está operando, o real
significado do terapeuta não pode possivelmente ser entendido. A metáfora é usada
extensivamente para fixar ao cliente que o terapeuta não está apresentando um novo e
diferente sistema de crenças a ser abraçado literalmente.
Verdade não é uma questão de comportamento - é uma questão de utilidade.
Tendo alterado o contexto no qual a fala do cliente é usada, algumas outras
formas de falar podem funcionar de novas formas. Compromissos verbais tornam-se
muito importantes. Dentro deste contexto clínico, o cliente que faz um compromisso
não tem desculpas aceitáveis para um fracasso em seguir adiante. Este estágio do
tratamento não é punitivo: não há tentativa para "punir" o cliente queixoso ou induzi-
lo a manter seus compromissos. Ao invés disso, um ambiente verbal foi criado na
terapia que não permite uma fuga lógica.

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Embora os efeitos produtores de insensibilidade de certos tipos de fala sejam
nocivos, em outros casos a insensibilidade é desejável. Os compromissos são um
exemplo. As promessas normalmente funcionam melhor quando elas são mantidas.
Então o objetivo da terapia neste ponto é a prática de fazer e manter compromissos
varbais bem sucedidos. Os compromissos que os clientes vem a estabelecer para si,
frequentemente suportam pouca semelhança às queixas iniciais apresentadas que os
trouxeram à terapia. A dimensão e a importância rotulada de cada compromisso são
considerados irrelevantes ao processo, enquanto ele estiver salientando o crescimento
ao invés de inibi-lo. Em nossa opinião, este estágio da terapia é possível somente
depois que o cliente alcançou alguma habilidade em distinguir o "eu" dos seus
comportamentos problemas e após o dar razão e a literalidade perderam sua
credibilidade e poder.
Um compromisso, naturalmente, é uma auto-regra. Um compromisso para
mudar um comportamento aberto é uma regra que, no mínimo teoricamente pode ser
seguida. O esforço para sentir ou pensar somente em certas coisas não pode ser
seguido porque muitas destas ações não estão elas próprias sob o controle verbal.
Desta forma procuramos uma discriminação entre as auto-regras que não podem ser
seguidas efetivamente (i. e. regras de esquiva emocional) e as auto-regras que podem
ser seguidas efetivamente (ex. compromissos à mudança de comportamento). O
paradoxo é que, por reduzir a literalidade, os compromissos verbais deste tipo
parecem tornar-se mais efetivos e mais impactantes sobre a mudança do
comportamento.

3-4- EVIDÊNCIA DA EFICÁCIA


O Distanciamento Compreensivo é um novo procedimento, conscientemente
baseado sobre a literatura comportamental analítica sobre a equivalência e o governo
por regra e deliberadamente amarrada à filosofia contextualística. O primeiro relato
formal do procedimento foi em 1987 (Hayes, 1987). Havia somente um punhado de
tentativas para avaliar o resultado do procedimento. O trabalho feito tem sido de
suporte (veja Hayes, 1987).
O Distanciamento Compreensivo pode ser um tratamento efetivo para a
depressão. No primeiro estudo de sua eficácia, ele excedeu a efetividade da "terapia
cognitiva de Beck", amplamente conhecida como a psicoterapia mais efetiva
programada para a depressão (Zettle, 1984). É também sabido que os progressos no
distanciamento compreensivos não ocorrem reduzindo a frequência dos pensamentos
depressivos, como ocorre na terapia cognitiva. Em vez disso, a credibilidade destes
pensamentos diminui radicalmente (Zettle & Hayes, 1986). O Distanciamento
compreensivo também é efetivo com as desordens de ansiedade de vários tipos
(Hayes, 1987). O trabalho é preliminar e ainda não se sabe se o distanciamento
compreensivo provará ser muito efetivo do que outras técnicas. O que é
particularmente interessante à esta altura sobre o Distanciamento Compreensivo não é
a sua efetividade conhecida, mas o fato de que uma terapia baseada em pesquisa
básica contemporânea analítica-comportamental tenha-se desviado tão massiçamente
às abordagens "comportamentais" foram baseadas em princípios comportamentais
disponíveis nos anos 50 e 60.

CONCLUSÃO

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A literatura analítica-comportamental teve uma forte influência sobre o campo
da psicoterapia aplicada, especialmente na análise comportamental aplicada. A série
de princípios analíticos-comportamentais aplicada aos problemas humanos, contudo,
foi primariamente limitada aos princípios de controle direto de contingências; foram
primariamente aplicados em crianças e populações institucionalizadas. A literatura
mais recente sobre governo por regra e classes relacionais é quase desconhecida fora
da área básica. Estas descobertas mais novas parecem ter maior relevância direta aos
adultos verbais. Elas são úteis na interpretação das intervenções existentes em muitas
áreas (ex. veja o capítulo 9 neste volume).
O propósito do presente capítulo foi mostrar que os tipos de análises básicas
desenvolvidos neste livro podem ser úteis em gerar novas idéias e intervenções. Isto é
talvez um resultado da novidade das contribuições básicas feitas na tentativa de
analisar o governo por regra onde a maioria das recentes extensões clínicas desviam
radicalmente do que se pode esperar das intervenções comportamentais. Modelando
habilidades sociais sem instruções, usando a relação terapêutica para modelar
comportamento efetivo e usando intervenções verbais paradoxais para
recontextualizar os pensamentos do cliente é muito diferente do que é usualmente
chamado de terapia Comportamental. Além do mais, elas todas suportam notáveis
semelhanças às intervenções "não comportamentais" por clínicos como Rogers, Frank
ou Perls.
Se esta tendência é uma anormalidade ou a precursora de coisas que estão por
vir, ainda não está claro. A maioria destes esforços são muito preliminares e podem
não provar serem úteis quando sujeitos a posterior avaliação empírica. Ainda, é
interessante que as extensões aplicadas da literatura do governo por regra tenha
tomado esta direção. Se estas extensões se mantém, será fortalecida a importância da
análise básica, demonstrando que as novas abordagens estão emergindo da literatura
analítica-comportamental básica. Alguns destes princípios podem também ajudar a
por uma boa ordem teórica na desarrumada área da Psicoterapia de adulto. É irônico,
mas a análise básica de comportamento pode estar construindo o tipo de base teórica
que muitas das técnicas "não comportamentais" precisaram, a fim de amarrar a
sabedoria clínica aos princípios cientificamente validados.

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