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Revisão

PBE

1. Definição
Infecção bacteriana de liquido ascítico previamente estéril na ausência de
foco intra-abdominal de infecção.

2. Epidemiologia

É uma das infecções mais comuns nos pacientes cirróticos com sangramento
gastrointestinal agudo (20%) e podem desenvolver também durante a hospitalização
(30-40%). Pode ocorrer com menor frequência nas síndromes nefróticas e, muito
raramente, insuficiência cardíaca congestiva.
Pacientes que no início do tratamento não apresentam a disfunção renal ou
choque, possuem mortalidade de 0-10%, chegando a > 60% naqueles com doença
renal grave. Entretanto, a recorrência de PBE aumenta para 70% a mortalidade em
1 ano.

3. Fisiopatologia

Ocorre uma translocação bacteriana a partir do tubo digestivo e a deficiência


de opsoninas no líquido ascítico, que está com baixas concentrações proteicas (< 1
g/dl). As bactérias migram do lúmen intestinal para os linfonodos mesentéricos ou
via ducto torácico, ocorrendo então bacteremias espontâneas transitórias, com
posterior deposição do patógeno no líquido ascítico.

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Outra explicação aceita é o supercrescimento bacteriano intestinal,


frequentemente encontrado em cirróticos, e uma disfunção do sistema fagocítico
reticuloendotelial, permitindo uma bacteremia mais prolongada.
As bactérias aeróbicas Gram-negativas são responsáveis por 60% dos casos (E. coli
30-47% e K. pneumoniae 10-15%) e 25% Gram-positivos (Streptococcus
pneumoniae). Em crianças com ascite nefrogênica, o S. do grupo A, S. aureus e S.
pneumoniae. Recentemente tem aumentado o número de infecções por enterococos
e resistência a cefalosporina de 3a geração.
A infecção polimicrobiana e ausência de resposta ao tratamento pode indicar
a presença de abscessos intra-abdominais ou perfuração de vísceras oca e ser uma
peritonite bacteriana secundária.

4. Clínica

O quadro clínico costuma ser inespecífico e 10-30% são assintomáticos no


momento do diagnóstico. Não se apresenta com sintomas abdominais, mas com
piora da função renal ou encefalopatia hepática. Os sintomas mais comuns são:
• Febre (69%)
• Dor abdominal difusa (59%), hipersensibilidade abdominal (49%)
• Alteração do estado mental (54%)
• Diarreia 32%, íleo paralítico 30%
• Hipotensão 21-29%, hipotermia 17%
• da respiração e rebaixamento do nível de consciência, incluindo o coma.

5. Diagnóstico

É feita uma paracentese para analisar o líquido ascítico. O critério diagnóstico é


a contagem de polimorfonucleares ≥ 250/mm3. A partir deste achado e o resultado
da cultura, a PBE pode ser dividida em:

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• Clássica: PMN ≥ 250/mm3 e cultura positiva monobacteriana


• Ascite neutrocítica cultura-negativa (PMN ≥ 250/mm3)
• Bacteriascite não neutrocítica monobacteriana: neste caso, os PMN <
250/mm3
• Peritonite bacteriana secundária: PMN ≥ 250/mm3 e cultura positiva para
vários germes ou anaeróbico. Outros achados no líquido ascítico:
- Glicose < 50 mg/dL
- Concentração de proteínas > 1g/dL
- LDH elevado
- Fosfatase alcalina > 240 U/L
- Antígeno carcinoembrionário (CEA) > 5ng/mL

6. Tratamento

Antibioticoterapia empírica: deve ser iniciada após o resultado de PMN ≥ 250/mm3


e mesmo com o atual aumento da resistência, as cefalosporinas de 3a geração ainda
são a primeira escolha.
→ Cefotaxima, IV, 2g de 8/8h durante 5 dias
→ Ceftriaxona, IV, 1-2 mg, 1x ao dia, durante 5 dias

Albumina: A utilização de 1,5 g/kg a 20% nas primeiras 6h e infusão de 1g/kg a 20%
no terceiro dia de tratamento com cefotaxima, reduziu disfunção renal e mortalidade
intra-hospitalar.
O alto custo da albumina e a falta de consistência deste estudo restringe o seu
uso para pacientes com:
→ Creatinina sérica > 1 mg/dL
→ Ureia > 60 mg/dL
→ Bilirrubina total > 4 mg/dL

Betabloqueadores não-seletivos: É aconselhado descontinuar esses medicamentos


devido ao mal prognóstico associado comparado aos que não utilizam.

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Resposta ao tratamento: Caso o paciente esteja respondendo ao tratamento com


melhora do quadro clínico, não é necessário realizar a paracentese de controle após
48h.
Caso não ocorra uma melhora do quadro clínico, paracentese de controle
deve ser realizada e se apresentar diminuição > 25% do valor inicial, o tratamento é
considerado adequado e uma nova paracentese após 48h está indicada. Se não
houver redução significativa, uma nova cultura deve ser realizada.
Se a paracentese de controle apresentar PMN < 250/mm3 e manutenção dos
sintomas, deve-se procurar outros focos de infecção. No entanto, se houver aumento
do valor de PMN, está indicado realizar TC de abdome com contraste para avaliar a
presença de abscessos ou perfuração de vísceras ocas.
Profilaxia de PBE: É recomendada por tempo indeterminado nos pacientes cirróticos
após PBE. Os medicamentos de escolha são:
→ Norfloxacina, 400 mg, 1x ao dia
→ Ciproflixacina, 750 mg, 1x por semana

Pacientes com ascite e hemorragia digestiva sem PBE também devem ser
submetidos a profilaxia, devido à grande prevalência nesses pacientes. Os
medicamentos de escolha são:
→ Norfloxacina, 400 mg, via oral, 12/12h por 7 dias
→ Ciproflixacina, 200 mg, IV, 12/12h por 7 dias
→ Ceftriaxona, 1-2 mg, IV, 1x ao dia por 7 dias

Referências bibliográficas

1. Townsend CM et al. Sabiston Textbook of Surgery. 20th ed. Philadelphia: Elsevier


Saunders, 2016.
2. Martins HS et al. Emergências clínicas: abordagem prática. 12a edição. São Paulo:
Manole, 2017.
3. Coelho AP et al. Diagnóstico diferencial entre peritonite bacteriana espontânea e
secundária. Rev Med Minas Gerais 2010; 20(4 Supl 2): S81-S83.
4. Mandorfer M et al. Nonselectiveβblockers increase risk for hepatorenal syndrome
and death in patients with cirrhosis and spontaneous bacterial peritonitis.
Gastroenterology. 2014;146(7):1680.

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