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RESENHA CRÍTICA

HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade.


São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017. P. 253 – 273. Por Artur Ferreira da
Silva. Laboratório de Ensino e Aprendizagem de Teatro III. 2019.2.
No penúltimo ensaio do livro Bell Hooks se dedica a falar sobre eros e
erotismo na sala de aula. Incialmente fala sobre paixão, sobre se sentir atraída por
alunos e despertar atração nestes. Este ponto da discussão permanece ainda vago.
Parece uma tentativa de dar espaço para esse tipo de sentimento na sala de aula
sem recrimina-lo partindo do pressuposto da superação da cisão corpo-mente.
Ponto interessante, mas que não muito se aprofunda. Mais adiante, mesmo
com a citação de fragmentos de alunos que ela considera terem sido, de alguma
forma, apaixonados por ela não fica clara ou se adensa uma reflexão a cerca deste
tema. Na realidade, o sentido dado a eros e erotismo tem uma ampliação para além
dos interesses ditos sexuais. Os termos muitas vezes parecem serem usados como
sinônimo para paixão.
Predomina ainda uma certa necessidade de justificar o uso dessas palavras,
como se tirando delas seu sentido que costumeiramente é mais “problemático”. O
que, em retrospectiva, pode ser notado no livro todo. Bell não se arrisca a falar sobre
sexualidade, que estaria diretamente imbricada no assunto do eros, mesmo que este
extrapole os campos do sexual. No máximo acontecem considerações pontuais
sobre “práticas sexuais” e as vezes a certos interesses românticos, em sua maioria
os interesses heterossexuais.
Essa categoria nem mesmo chega a ser citada como relevante na maioria das
vezes que elenca questões não hegemônicas. Fala-se de classe, mas não de
sexualidade. De raça, mas não de sexualidade. E, sempre, de gênero, mas nunca
de sexualidade. Sua exortação as paixões na sala de aula parecem não incluir essas
paixões em específico. Todos devemos ser apaixonados pelo conhecimento, discutir
com paixão, as vezes até nos apaixonamos mulheres e homens, é uma relação
muito citada pela autora ao pensar a relação entre os gêneros. Mas não parecem
haver dissidências e menos ainda uma problematização sobre essas relações do
cunho da sexualidade. Ressalta-se de certa maneira a velha polícia do gênero, para
fazer referência aqui a Berenice Bento, se não podemos caçar a sexualidade por ser
dita privada, o fazemos a partir do gênero que forçamos uma correspondência
natural.
Em seu último capítulo, nos lembra de como a pedagogia costumeiramente é
esquecida enquanto estudo acadêmico. Mas ainda nos exorta ao êxtase da sala de
aula e a construção de um paraíso possível na academia.

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