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As Vítimas-Algozes - Quadros da escravidão, de Joaquim Manuel de Macedo

O livro As Vítimas-Algozes, de Joaquim Manuel de Macedo, foi escrito na segunda metade do século XIX, em 1869, 19
anos antes da Abolição da Escravidão. O livro pertence ao Romantismo, que foi uma escola literária de grande importância
para a história de nossa literatura.
A obra não agradou o público oitocentista e recebeu várias críticas publicadas na imprensa, sendo considerado por
Ubiratan Machado como “o livro mais atacado pela crítica durante o período romântico”.
As Vítimas-Algozes é, ao seu modo, um romance abolicionista. Não daquele abolicionismo que encontramos nas obras dos
poetas acima relacionados. Como explica Macedo, na nota “Aos Nossos Leitores”, não lhe interessou, nas “educativas” e
“moralizantes” histórias que entregava aos consumidores de sua vasta obra, pintar “o quadro do mal que o senhor, ainda
sem querer, faz ao escravo”, mas, sim, o “quadro do mal que o escravo faz de assento propósito ou às vezes
irrefletidamente ao senhor”. Dito de maneira mais direta, o romance antiescravista de Macedo quer convencer os seus
leitores de que é preciso libertar os escravos não por razões humanitárias, mas porque os cativos, sempre imiscuídos nas
casas-grandes e sobrados, introduzem a corrupção física e moral no seio das famílias brancas.
Na obra o autor expressa a idéia de que a escravidão faz vítimas algozes e deve ser gradualmente extinta, sem prejuízo
para os grandes proprietários de terra. Num tom conservador e usando personagens como a escrava Lucinda, o autor
defende a tese de que a escravidão cria vítimas oprimidas socialmente, mas com uma perversão lógica, imoral e com
influência corruptora.
O tratamento entre patrão e escravo nos últimos anos do cativeiro, uma intimidade que beira o sado-masoquismo foi
retratada por Joaquim Manuel de Macedo neste livro. Ele denuncia que, se o escravo é inegavelmente vítima de um regime
desumano, a sua presença igualmente desagrega a sociedade branca no que ela teria de mais recomendável. 
A obra é um retrato perfeito do Brasil pós-abolicionista.

De acordo com o contexto histórico da época, Joaquim Manuel alertava ao leitor burguês de que o melhor a fazer era
gradualmente abolir a escravidão. Depois da abolição, ele explica que os negros foram 'largados' nas favelas, como
acontece no início do filme "Cidade de Deus".

Desfilam pelas páginas das três histórias que compõem o livro: o negro feiticeiro, o “moleque” traiçoeiro, a escrava
assassina, as negras que se amasiam com seus patrões, a mucama lasciva, os negros desocupados dos botequins, os
mulatos espertalhões, enfim, um sem número de tipos que demonstram ao leitor o quão comprometedor da estabilidade
social era a presença do escravo na intimidade doméstica.

O objetivo político das três histórias que compõem o livro está claro desde a nota inicial aos leitores. Professando narrar
apenas “histórias verdadeiras”, queria firmar, na “consciência” do público, “as verdades que vamos dizer”. Obra de
convencimento, portanto, As vítimas-algozesera tentativa de obrigar os leitores a “encarar de face, a medir, a sondar em
toda sua profundeza um mal enorme que afeia, infecciona, avilta, deturpa e corrói a nossa sociedade, e a que nossa
sociedade ainda se apega semelhante a desgraçada mulher que, tomando o hábito da prostituição, a ela se abandona com
indecente desvario”. A retórica é semelhante àquela dos conselheiros de Estado em 1867, e Macedo recita as estrofes do
isolamento internacional do país, do exemplo da guerra civil americana, do processo de emancipação em Cuba, e do
caráter “implacável” da reforma, “exigência (...) da civilização e do século”. Afirma que a escravidão é “cancro social”, que
se não “estirpa (...) sem dor”; mas o “adiamento teimoso do problema” agravaria o mal, pois o país poderia ter de enfrentar
a “emancipação imediata e absoluta dos escravos”, colocando “em convulsão o país, em desordem descomunal e em
soçobro a riqueza particular e pública, em miséria o povo, em bancarrota o Estado”. 

O cenário apocalíptico que Macedo antevê como decorrência de uma possível emancipação imediata dos escravos revela
já de início o que seria esta obra, a forma como faz desfilar uma galeria medonha de escravos astuciosos, trapaceiros e
devassos, sempre dispostos a ludibriar os senhores e ameaçar os valores e o bem-estar da família senhorial. Preocupado
em não deixar nada por explicar, Macedo esclarece que havia dois caminhos a seguir para mostrar aos leitores “a
reprovação profunda que deve inspirar a escravidão”. O primeiro consistiria em narrar as misérias e os sofrimentos dos
escravos, suas vidas “de amarguras sem termo”, o “inferno perpétuo no mundo negro da escravidão”. Seria o quadro do
mal que o senhor faz ao escravo, “ainda sem querer”. O segundo caminho, aquele escolhido por Macedo, mostraria “os
vícios ignóbeis, a perversão, os ódios, os ferozes instintos dos escravos, inimigo natural e rancoroso do seu senhor”. Seria
o quadro do mal que o escravo faz ao senhor, “de assentado propósito ou às vezes involuntária e irrefletidamente”. 

1ª narrativa - "Simeão, o crioulo"

O protagonista, Simeão, perdera a mãe, que fora ama-de-leite da sinhazinha, aos dois anos, tendo sido criado pelos
patrões. Até os oito anos de idade Simeão teve prato à mesa e leito no quarto de seus senhores, e não teve consciência de
sua condição de escravo.

Tinha algumas regalias em função disso, mas não deixava de ter o estatuto e o tratamento de escravo, fator que se
agravava e se tornava mais claro conforme ele se fazia adulto.

Depois dos oito anos apenas foi privado da mesa e do quarto em comum; continuou, porém, a receber tratamento de filho
adotivo, mas criado com amor desmazelado e imprudente, e cresceu enfim sem hábito de trabalho.

Devia ter 20 anos, crioulo de raça pura africana, cabelos penteados, vestido com asseio e certa faceirice, era calçado e
tinha vícios de linguagem.

Havia, no entanto, a expectativa de que seria alforriado quando o patrão morresse, o que não acontece, tendo este, em seu
testamento, transferido a alforria certa para o momento em que a esposa falecesse.

Simeão, que já alimentava ódio contra os patrões, trama e realiza, juntamente com um comparsa, o assassinato da família
toda e o saque do ouro e da prata que guardava. O quadro se reveste de maior crueldade porque os proprietários de
Simeão se achavam, no íntimo, protetores bem-intencionados do mesmo, tendo, inclusive, na véspera do crime, decidido
que iriam alforriá-lo imediatamente. Não eram, no entanto, capazes de questionar o sistema que os privilegiava, em todos
os sentidos, e desumanizava o outro pólo (os escravos) da sociedade. Sistema que, Macedo diz com todas as letras,
produz o ódio e o crime, no que o romancista estava se apoiando em dados da sociedade real.

Sua personalidade era ingratidão perversa, indiferença selvagem, inimizade, raiva, vícios, era vadio, dissimulado, ladrão,
tinha instintos animais e era atrevido.

Seus senhores eram: Domingos Caetano, Angélica, Florinda e Hermano de Sales. Eram bons e humanos, tinham
delicadeza de sentimentos e sentimentos generosos. Honestos e trabalhadores.

O autor constrói um perfil aterrorizante para o escravo, misto de tigre e serpente, de vítima e algoz, capaz de atacar quando
menos se espera. Claramente procura amedrontar os brancos senhores de escravos e sugere como solução o fim da
escravidão. Solução que configura a tese básica que passa pela conclusão de cada um dos três quadros da escravidão.

A novela não tem por final um desfecho romanesco, mas a reafirmação da tese do autor:

Simeão foi o mais ingrato e perverso dos homens.


Pois eu vos digo que Simeão, se não fosse escravo, poderia não ter sido nem ingrato, nem perverso.
A escravidão degrada, deprava, e torna o homem capaz dos mais medonhos crimes.

O narrador é didata: ele explicita a conduta, a forma de agir a ser adotada pelo leitor: Se quereis matar Simeão, acabar
com Simeão, matai a mãe do crime, acabai com a escravidão.

2ª narrativa - "Pai-Raiol"

O feiticeiro. Algumas considerações do autor: o feitiço, como sífilis, veio da Àfrica; o escravo africano é o rei do feitiço.

Paulo Borges era um rico fazendeiro. Casara-se aos quarenta anos com Teresa, uma senhora ainda jovem que já lhe dera
2 filhos.

A compra de 20 escravos, entre eles Pai Raiol e Esméria. É o ano fatal de Paulo Borges. Acontece o adultério.

Os personagens são:
Paulo Borges - 46 anos. Alto, cabelos castanhos e crespos; fronte baixa sob sobrancelhas bastas; olhos pretos e belos,
nariz aquilino; boca rasgada, lábios grossos e eróticos; rosto oval e bronzeado; seco de músculos; peitos largos e mãos
engrandecidas e calejadas pelo trabalho. O tipo do lavrador honesto que hoje raramente se encontra, do pobre rico que se
subtraia ao mundo, e só queria conhecer a roça e a casa, os escravos e a família, trabalhando sempre, gastando pouco,
ajuntando muito, e não pesando a nenhum outro homem como ele. Não comprava homens, comprava máquinas; queria
braços e não corações; gabava-se de senhor severo e forte, entrava nos seus timbres amansar os negros altanados e
incorrigíveis.
Teresa - Jovem, simples de costumes, honesta, laboriosa, afeita à vida rural dos fazendeiros. Dirigia a dispensa, a
enfermaria, e a grosseira rouparia dos escravos.

Os filhos Luís e Inês

Pai Raiol - Negro africano de 30 a 36 anos; baixa estatura, corpo exageradamente maior que as pernas; cabeça grande;
olhos vesgos, mas brilhantes e impossíveis de se resistir à fixidez do seu olhar pela impressão incômoda do estrabismo
duplo e por não sabermos que fruição de magnetismo infernal. Nas faces cicatrizes vultuosas de sarjaduras recebidas na
infância: um golpe de azorrague partira pelo meio o lábio superior, e a fenda resultante deixara a descoberto dous dentes
brancos, alvejantes, pontudos dentes caninos que pareciam ostentar-se ameaçadores. Sua boca era pois como mal
fechada por três lábios; dous superiores e completamente separados, e um inferior perfeito. O rir era hediondo por
semelhante deformidade. A barba retorcida e pobre, mal crescida no queixo, como erva mesquinha em solo árido. Suas
orelhas perdera o terço da concha na parte superior, cortada irregularmente em violência de castigo ou furor de desordem.
Tinha má reputação: desordem com os parceiros, furtos, envenenamentos. Já tivera 4 senhores. O último morrera de
ulcerações no estômago e intestinos. Pai– Raiol acabara por dobrar-se humilde às condições da escravidão. Dizem que
mudara devido aos seus felizes amores com a crioula Esméria, que com ele convivia e o dominava.

Esméria - Era uma crioula de 20 anos com as rudes feições da sua raça abrandadas pela influência da nova geração em
mais suave clima; em seus olhos, porém, e no conjunto de seus traços fisionômicos, havia certa expressão de inteligência
e de humildade que agradou à senhora. Esméria não era o que parecia. Refinara o fingimento. Via nos filhos de seus
senhores futuros e aborrecidos opressores, e beijava-lhes os pés que às vezes desejava morder. Luzia-lhe nos olhos o
amor da senhora, que a amava e distinguia, e lhe dispensava favores, e no fundo do coração maldizia dela. Invejava-lhe os
vestidos, os gozos, a condição. Em sua louca vaidade pretendia ser mais bonita, mais bem feita, mais sedutora que
Teresa. Era possessa do demônio da luxúria; amava os amantes de sua raça, preferia-os a todos os outros, mas
envergonhava-se deles. Aspirava a fortuna do amor, da posse, da paixão delirante de um homem livre e rico. Ao contrário
do que se pensava não havia uma influência benéfica de Esméria sobre o Pai-Raiol e sim uma influência satânica do Pai-
Raiol sobre Esméria.

Tio Alberto

Lourença

O plano de Pai-Rayol: seis meses depois, os bois e as bestas morriam, e não havia peste: tornaram-se evidentes os sinais
de envenenamento.

Em uma noite de ventania, o fogo devorou o imenso canavial. Mais uma vez as bestas, os bois e os carneiros morreram às
dezenas, envenenados.

Paulo Borges amava Teresa, mas grosseiro escravo da sensualidade sucumbiu à sedução de Esméria. O demônio da
lascívia deu poder à crioula. O senhor, o velho senhor ficou escravo da sua escrava.

O adultério hediondo faz da escrava rival da senhora, rival preferida que desordena a casa, enluta a família, e é cratera
aberta do vulcão que espalha a ruína.

Teresa descobre o adultério e a traição: envelhecera 20 anos em 8 dias.

Atropelando a decência, insultando manifestamente a esposa, semeando a indisciplina e a mais perigosa desmoralização
na fazenda, Paulo freqüentou de dia e aos olhos de todos, a senzala de Esméria.

Morre Teresa envenenada por Esméria. Esméria assume a casa do amante. Morre o filho recém-nascido de Teresa e
Paulo, por falta do aleitamento materno; morrem Luís e Inês envenenados; Esméria começa a envenenar Paulo.

Lourença denuncia Esméria e prova a verdade a Paulo. Pai-Raiol é morto em uma luta pelo tio Alberto que é alforriado por
Paulo. Esméria é presa. Paulo Borges arrasta sombria velhice atormentado pelos remorsos.

3ª narrativa - "Lucinda - A mucama"

É o terceiro e último romance em As vítimas-algozes.

Os personagens são:
Lucinda - "Engomo, coso, penteio e sei fazer bonecas"; a mulher escrava, uma filha da mãe fera, uma vítima da opressão
social, uma onda envenenada desse oceano de vícios obrigados, de perversão lógica, de imoralidade congênita, de
influência corruptora e falaz, desse monstro de criaturas humanas, que se chama escravidão. Tem 12 anos, um pouco
magra, de estatura regular, ligeira de movimentos, afetada sem excesso condenável no andar. Muito viva e alegre com
pretensões a bom gosto no vestir; com aparências de compostura decente nos modos; diligente e satisfeita no trabalho.
Trazia dissimuladamente escondidos os conhecimentos e noviciados dos vícios e das perversões da escravidão; corrupta,
licenciosa, imoral; indigna de se aproximar de uma senhora honesta, quanto mais de uma inocente menina. 
Plácido Rodrigues - padrinho de Cândida, o mais opulento fazendeiro e capitalista do lugar; pai de Frederico. 
Frederico - perdeu a mãe ao nascer e foi amamentado por Leonídia. Inteligente e estudioso. Reflexão fria e segurança de
juízo. Foi juntamente com Liberato à Europa para fazer estudos regulares de agricultura e pretendiam continuar os estudos
nos Estados Unidos. Fronte magnífica, a face porém descarnada, de ossos salientes, pálida, desproporcionada e
melancólica, os olhos ardentes. Dedicado aos amigos e na dedicação capaz de ir até a heroicidade. Muito racional. Era ele
o planejado noivo de Cândida.
Cândida - loura, olhos azuis e belos, olhar de suavidade cativadora; rosto oval da cor da magnólia com duas rosas a
insinuarem-se nas faces; os lábios quase imperceptivelmente arqueados, lindíssimos, os dentes iguais, de justa proporção
e de esmalte puríssimo; as mãos e os pés de perfeição e delicadeza maravilhosas; o pescoço e o corpo com a gentileza
própria de sua idade. Cândida antes de Lucinda tinha 11 anos e com a perfeita inocência de sua primeira infância; espírito
cheio de luz suave e idéias serenas e preciosas; eeu coração era um altar adornado pelo amor de seus pais. Cândida de
pois de Lucinda era capaz de ser ardilosa e dissimulada para enganar a mãe; "prendeu a alma às palavras venenosas, às
explicações necessariamente imorais da escrava".
Florêncio da Silva - honrado, inteligente e rico negociante; um pouco agricultor por distração e gosto: bom, afável e
generoso, repartindo as sobras da riqueza que acumulava com os pobres que não eram vadios; tinha poderosa e legítima
influência eleitoral e política na sua comarca.
Leonídia - esposa modelo; mãe extremosa.
Liberato - irmão mais velho de Cândida; bonito de rosto e elegante de figura; fazia seus estudos preparatórios na Corte;
muito amigo de Frederico, inteligente e estudioso; possuía brilhantismo de imaginação. 
Alfredo Souvanel - Amigo de Liberato e Frederico. Encontraram–se na Suíça. Tinha 26 anos, estatura regular, louro, de
olhos cintilantes, era de aspecto agradável, bem talhado de corpo. Esmerava-se no trajar, embora não tivesse muitos
recursos. Tinha instrução superficial, mas inteligência fácil, espírito, e gênio alegre. Habilíssimo pianista e excelente voz de
barítono. Era francês, mas esperava ganhar dinheiro no Brasil ensinando piano e canto. Era o mais alegrão, travesso,
original, espirituoso e endiabrado companheiro de folganças. Tornou-se professor de Cândida.

A narrativa conta a história de Cândida, filha de honrado negociante e agricultor do interior da província do Rio de Janeiro.
Em seu aniversário de onze anos, a menina recebera de presente do padrinho, Plácido Rodrigues, “o mais opulento
fazendeiro e capitalista do lugar”, uma escrava crioula chamada Lucinda, de doze anos, que havia sido enviada à Corte
para aprender a servir de mucama. A mucama logo conquistou a senhorinha ao dizer que sabia fazer bonecas e penteá-
las. O padrinho empenhara-se em conseguir uma escrava que pudesse agradar a afilhada porque sabia que a menina
andava triste devido à recente partida de Joana, “uma boa senhora, mulher pobre, mas livre e de sãos costumes, que fora
sua ama de leite e a idolatrava como seus pais”. Joana, que enviuvara ainda moça, encontrara segundo noivo num
“laborioso e honrado lavrador”, deixando por isso a sua adorada Cândida “com o maior pesar”.

Macedo oferece uma primeira ilustração de sua tese no romance ao contrastar a virtuosíssima Joana com a mucama
Lucinda. Joana é descrita como uma “segunda mãe”, “criada amiga”, “companheira do seu quarto de dormir”, mulher
“simples, boa e religiosa”. Cândida perdera “a companhia da mulher que era nobre, porque era livre” e que servia com o
“coração cheio de amor generoso”, algo só possível “quando a liberdade exclui toda imposição de deveres forçados por
vontade absoluta de senhor”. Em substituição, a menina recebera a crioula quase de sua idade, “a mulher escrava, uma
filha da mãe fera, uma vítima da opressão social, uma onda envenenada desse oceano de vícios obrigados, de perversão
lógica, de imoralidade congênita, de influência corruptora e falaz, desse monstro desumanizador de criaturas humanas, que
se chama escravidão”. Diante desse quadro os acontecimentos desenrolam-se naturalmente, sendo que o maior desafio é
entender o porquê de Macedo ter achado necessário escrever quase quatrocentas páginas para contar essa história. A
mucama tem uma influência nefasta sobre a donzela, de quem se torna a única confidente nos anos seguintes. Ensina-lhe
o que ocorre quando a menina vira moça, desperta-lhe a curiosidade pelos rapazes, ministra-lhe lições de flerte e namoro,
mostra-lhe ser mais divertido namorar vários rapazes ao mesmo tempo, e assim por diante, num desfilar constante de
idéias destinadas a “excitar os sentidos” da donzela cândida e pura. As lições de amor da mucama eram inspiradas “pelo
sensualismo brutal, em que se resume todo o amor nos escravos”; portanto, “a mucama escrava ao pé da menina e da
donzela é o charco posto em comunicação com a fonte límpida”.

Com a mucama escrava infiltrada no quarto da donzela, foi possível a um conquistador barato, um francês estróina e
ladrão, insinuar-se aos amores de Cândida, conquistá-la efetivamente e tirar-lhe o maior símbolo da honestidade feminina.
Lucinda, criatura ruim como nunca se viu mesmo em folhetins televisivos hodiernos de horário nobre, tornara-se ela mesma
amante de Souvanel, tramara tudo com ele, e até abrira o quarto da virgem para a consumação do delito. A idéia dos biltres
era forçar o casamento de Souvanel com Cândida; dado o golpe do baú, Lucinda ganharia a liberdade e ficaria teúda e
manteúda do francês. No final, Frederico, criatura virtuosa como nunca se viu mesmo em folhetins televisivos hodiernos de
horário nobre, filho do padrinho de Cândida, apaixonado por ela desde menino, perdoa o erro da amada e casa com ela.
Descobrira-se que Souvanel era na verdade Dermany, criminoso procurado na França. O vilão é preso e deportado.
Lucinda e o pajem do pai de Cândida, também envolvido na trama para aproximar Souvanel da donzela, fogem dos
senhores, são capturados, mas acabam abandonados ao poder público pela família. Frederico, o anjo, fecha o romance e o
nosso martírio com um discurso abolicionista que aqui transcrevo, para martirizar o leitor, ou ao menos para dividir com ele
o meu sofrimento. O discurso aparece nas páginas 388 e 389 do segundo volume de As vítimas-algozes (o primeiro
volume, com outras duas histórias). Referindo-se a Lucinda e ao pajem, “esses dous traidores e perversos”, Frederico
disse:

- Árvore da escravidão deram seus frutos. Quem pede ao charco água pura, saúde à peste, vida ao veneno que mata,
moralidade à depravação, é louco. Dizeis que com os escravos, e pelo seu trabalho vos enriqueceis: que seja assim; mas
em primeiro lugar donde tirais o direito da opressão? ...em face de que Deus vos direis senhores de homens, que são
homens como vós, e de que vos intitulais donos, senhores, árbitros absolutos? ... e depois com esses escravos ao pé de
vós, em torno de vós, com esses miseráveis degradados pela condição violentada, engolfados nos vícios mais torpes,
materializados, corruptos, apodrecidos na escravidão, pestíferos pelo viver no pantanal [“patanal”, no original] da peste e
tão vis tão perigosos postos em contato convosco, com vossas esposas, com vossas filhas, que podereis esperar desses
escravos, do seu contato obrigado, da sua influência fatal? ...Oh! bani a escravidão!... a escravidão é um crime da
sociedade escravagista, e a escravidão se vinga desmoralizando, envenenando [“evenenando”, no original], desonrando,
empestando, assassinando seus opressores. Oh! ...bani a escravidão! bani a escravidão! bani a escravidão!....

Nota: Ainda que Macedo atribua os defeitos morais de Lucinda e seus pares à instituição da escravidão, a sua descrição
dos cativos é tão impiedosamente desfavorável que torna-se difícil pensar na possibilidade de que essas pessoas, uma vez
libertas, possam usufruir de direitos de cidadania e participar da vida política. De fato, uma característica intrigante de
vários pronunciamentos favoráveis à lei de 1871 era a descrição dos escravos como seres quase destituídos de
humanidade, pois a violência da instituição os desprovia de cultura, de regras de comportamento; por conseguinte, não
desenvolviam laços de família, relacionavam-se sexualmente como animais, atacavam os senhores como bestas feras.
Enfim, pareciam condenados a uma espécie de coisificação moral, resultado direto de sua condição de propriedade, de sua
representação como coisa no direito positivo.

A Correspondência de Fradique Mendes, de Eça de Queirós


O romance A correspondência de Fradique Mendes, de Eça de Queirós, aborda o contexto de Portugal. 

Fradique é um verdadeiro heterônimo de Eça, sendo óbvias as semelhanças ideológicas com o seu criador, é um
documento de própria trajetória existencial e psicológica de Eça.

Tal como descreve Eça, Fradique era um aventureiro, atormentado diante das injustiças sociais e da decadência da
sociedade lusitana causada pelas constantes
transformações sociais, políticas e econômicas. Fradique foi um veemente crítico da sociedade lusitana, que não se deixou
abater pela força das formas totalitárias, um incansável reconstrutor de um Portugal novo. Esse ser que Eça disse ter feito
com pedaços de seus amigos é um ser plasmado com os anseios e ideais de uma geração de escritores que representava
a vanguarda intelectual portuguesa do final do século XIX.

Era um grande homem, uma idealização de um conceito de humanidade cosmopolita, ainda que de raiz provinciana.
Nasceu na Ilha Terceira, possivelmente por volta de 1867, tendo à data das cartas 33 anos. Por morte prematura dos pais,
Fradique foi educado pela avô - D. Angelina Fradique, com a presença constante de um frade beneditino, de um coronel
francês e um alemão que lhe fala de Kant. Aos 16 anos entra para a Universidade, sendo colega (virtual) de Antero e Eça.
Em 1867 já era um homem viajado e experiente, um modelo para os demais intelectuais da Geração de 70. Fradique tem
preocupações de ordem social e política.

Carácter enigmático e um pouco controverso, interessado e observador. Romântico pela primeira educação, orientalista,
trotamundos, "touriste" da inteligência, «homem que passa, infinitamente curioso e atento», «superiormente apetrechado
para triunfar na Arte e na Vida, ele constitui um juiz do mundo e da sociedade portuguesa. Um revolucionário, educado,
robusto, culto, de bom gosto, mas também um desiludido, um pessimista.

Em rigor, Fradique Mendes pode ser considerado 3 personagens: a primeira é um heterônimo coletivo criado entre 1868 e
1869, por Jaime Batalha Reis, Antero de Quental e Eça, no tempo do Cenáculo de Lisboa. A segunda, surge
episodicamente em O Mistério da Estrada de Sintra, em 1870, e finalmente a que Eça retoma individualmente com a
publicação de Correspondência de Fradique Mendes, em 1888-1900.

Eça: "Este novo Fradique que eu relevo é diferente - verdadeiro grande homem, pensador original. Temperamento indicado
às ações fortes, alma requintada e sensível".

Aristocrata rico, descendente de antigos navegadores, de uma "velha e rica família dos Açores". Estudara em Coimbra e
em Paris. Acompanhou Garibaldi na conquista da duas Sicílias. Com 34 anos, fez parte do Estado-Maior de Napier, na
campanha de Abissínia. Era "o português mais interessante do século XIX", com "curiosas parecências com Descartes".
Mas faltava-lhe um objectivo definido na vida. Lia Sófocles, conhecedor de muitas línguas, entre as quais francês, alemão,
inglês e até um pouco de árabe.

Expressão de uma incontida admiração pela figura do gentleman, personificação simbólica de uma elite intelectual que se
opunha à vulgaridade e à chateza de um país em declínio, Eça, através de Fradique, tornou evidente também essa
oposição pela sátira e pela critica: às liturgias que atravancavam e contrariavam o puro espírito com que as religiões se
deveriam exprimir, à vacuidade de certos políticos do parlamento (carta ao Sr. Mollinet, onde retracta Pacheco), a um certo
tipo de capitalistas (carta a Mme de Jouarre, onde retracta o Comendador Pinho) e ainda à classe eclesiástica portuguesa,
inteiramente vinculada e dependente do estado, personificada genericamente no "horrendo" Padre Salgueiro - carta a Mme
de Jouarre.

Fradique Mendes é uma personagem realista de Eça de Queirós que, descontente com a decadência de Portugal nas três
últimas décadas do século XIX, saiu em incursão pelo mundo em busca não só do seu próprio reconhecimento como,
também, da sua própria nação. Era, acima de tudo, um nacionalista que não suportava ver a sua pátria relegada a um
limbo sem precedente. Diante de tal situação, Fradique voltou-se para o Portugal das grandes navegações com o objetivo
de resgatar as raízes nacionais autênticas. Fradique, então, retomou o passado distante na expectativa de recuperar a
verdadeira identidade portuguesa que outrora impulsionou outras civilizações a conquistar o mundo e a colonizar outras
nações. 

Fradique é a típica personagem representante de uma narrativa que rompe com a forma autoritária e fixa e, em vez disso,
instaura-se a polifonia da narrativa contemporânea, que abre espaço a múltiplas vozes narradoras e – desafiando a
estabilidade ilusória do romance realista – revela o sujeito textual como processo contraditório, lugar de contradição. É
nesse espaço de contradição que Fradique dialoga com os grandes homens do seu tempo, onde várias vozes
plenivalentes emergem acerca do mesmo problema. Através do diálogo que Fradique estabelece com os grandes homens
do seu tempo, é possível saber, não só o que pensava Fradique, mas também o que pensavam todos os grandes homens
do seu tempo sobre a crise pela qual passava Portugal. Fradique era um homem apegado à tradição de sua terra,
sobretudo, à tradição desfigurada no decorrer do tempo.

Através de Fradique, Eça exprimiu também um amargo ceticismo perante angústias sociais para as quais não encontrou
remédio.

Contexto histórico
É uma narrativa escrita nas últimas décadas do século XIX e abarca um conturbado momento histórico da sociedade
portuguesa, sobretudo, no que se refere ao modelo liberal. A depressão que se instaurou no país causou a instabilidade e
a rotatividade do poder. As contradições da monarquia constitucional começavam a se tornar evidentes para a nação. Esta
situação acarretou transformações sociais, políticas e econômicas no país como a marginalização das camadas populares,
o anticlericalismo como catalisador de descontentamento e de oposição às instituições vigentes, descrença nos
governantes. Essas contradições terminam acentuando as diferenças de Portugal em relação aos demais países europeus.
Portugal estava distante dos demais países da Europa.

Observa-se o esforço da personagem-narrador, Fradique Mendes, em firmar os valores de Portugal relacionados à cultura
e aos costumes como valores sociais iguais enquanto nação que ocupa um espaço potencialmente privilegiado. As
carências e as incertezas são decorrentes dessa contradição que, por sua vez, é o ponto central da obra A
correspondência de Fradique Mendes. Elas acabam por acentuar as diferenças. Por conta disso, a consciência da
marginalidade e da diferença constitui o principal foco de tensão, uma vez que acentua o sentimento de pessimismo4 no
imaginário do povo, solapando a consciência de nacionalidade.

Um outro problema abordado na obra e que contribui, negativamente, para a consolidação da consciência nacional é a
ausência de dirigentes com idéias originais e com aspirações voltadas para o povo. Tratam-se de questionamentos
centrados nas motivações ideológicas que levaram a personagem-narrador a investir na desconstrução de mitos. Estamos,
portanto, diante de textos dialéticos, nos quais a personagem-narrador revolve criticamente os problemas da realidade,
vislumbrando através deles a razão de ser dos problemas do seu tempo. Desse modo, desvenda-se a situação
contraditória.

Em A correspondência de Fradique Mendes, no espaço social de Portugal, a cultura e os fragmentos do passado
permanecem vivos. A realidade do país, com seus costumes, suas normas, suas verdades essenciais é uma realidade
carregada de episódios dramáticos, como se pode observar em carta de Fradique escrita a Madame de Jouarre.

Em meio à realidade rústica, os elementos próprios da terra são ressaltados, evidenciando o empenho de Fradique em
deixar transparecer os valores firmados na cultura, na tradição, num realismo nacional. No plano da ficção, o rompimento
dessa realidade banal se dá através da parodização da realidade histórica. O método dialógico é estabelecido através das
estruturas ambivalentes. A ambigüidade se instaura pela associação metafórica. Dessa forma, rompe-se com as formas
institucionalizadas e, em contrapartida, põe-se à mostra a luta pelos valores nacionais autênticos. A “densa treva” marca o
obscurantismo daquela racionalidade, enquanto as “lanternas de faluas dormindo no rio”, os fragmentos da realidade
nacional. Essas remetem, por associação, às antigas embarcações usadas para transportar mercadorias e pessoal. No
entanto, já não existia mais o transporte de mercadorias e de pessoal, havia apenas por entre a densa treva “luzinhas
remotas e vagas” remanescentes do Portugal antigo. Daí o fato de Fradique deixar entrever o ceticismo apreendido na
história e o realiza, ocupando-se da ironia, do sarcasmo e do pessimismo.

A obra

A correspondência de Fradique Mendes compõe-se de duas partes distintas: uma narrativa e outra epistolar (cartas). A
primeira parte, à guisa de “Notas e Memórias”, faz a apresentação biográfica de um suposto intelectual português Fradique
Mendes.

Um narrador, que se presume ser Eça de Queirós, conta como, quando e onde conheceu “esse homem admirável”, com
quem partilhou momentos de intimidade e por quem nutria a mais viva admiração. Mal se inicia o texto, atém-se o narrador
à apreciação das LAPIDÁRIAS – cerca de cinco ou seis poesias, reunidas em folhetim, e sob esse título publicadas na
Revolução de Setembro como da autoria de Fradique.

Segue-se um minucioso e completo relato sobre as LAPIDÁRIAS, com a introdução de duas personagens de apoio: J.
Teixeira de Azevedo (Jaime Batalha Reis) e Marcos Vidigal, este, personagem ficcional, aquele, amigo e camarada de Eça
desde a época do Cenáculo (1867). A essa altura do texto, sai de cena o narrador em primeira pessoa e entra outro
narrador, agora em terceira pessoa onisciente, para contar a vida pregressa de Fradique. É com apoio no testemunho
daquele último (Marcos Vidigal, que se confessa parente, patrício e parceiro de Fradique) que o narrador recompõe o
passado do seu biografado. Finda a narrativa retrospectiva, é retomada em primeira pessoa a narrativa progressiva, dentro
de um novo estatuto de narração em que se misturam os discursos indireto, direto e indireto livre, e assim até o final da
primeira parte.

A segunda parte consta do epistolário (cartas) atribuído a Fradique, o qual se correspondia com vários amigos e eminentes
intelectuais da época. Entre estes,
pessoas leais (como Antero de Quental, Oliveira Martins, etc.) e personagens fictícias. Como ensaiado na primeira parte,
realidade e fantasia se alternam e
misturam, figurando o jogo entre o real e o irreal, jogo esse contido, pois, também na pretensa Correspondência.

São 16 cartas ao todo, coligidas sem qualquer critério aparente, com indicação apenas do lugar de procedência e do mês
(“Londres, maio”, “Paris, dezembro”; etc.). Constituem “um conjunto de crônicas em forma epistolar”, na apreciação de
Antônio J. Saraiva.1 Estas “cartas-crônicas” trazem o repertório das opiniões queirosianas acerca de arte, literatura,
política, filosofia e religião. A propósito, afirma Feliciano Ramos que “na criação de A correspondência de Fradique
Mendes, manifesta-se, não o paisagista ou crítico social, mas sim principalmente o ‘ensaísta’ com seu riquíssimo ideário”.

Efetivamente, nenhuma das cartas, nem mesmo as mais breves e despretensiosas (como a primeira, dirigida “Ao Visconde
de A.-T”, recomendando-lhe o alfaiate Tomaz Cook) deixa de servir ao interesse maior de expressar uma opinião ou um
gosto estético. No jogo que se estabelece entre a primeira e a segunda parte da obra, o leitor acaba por descobrir que o
fingimento biográfico e o epistolar servem menos à fantasia do que à oportunidade de um debate sobre os diferentes temas
aí versados. Entre estes, com destaque, o da criação literária.

Pela amostragem até aqui, pode-se verificar que o jogo ideológico se reflete na escrita, e deduz-se que Eça revela
consciência do processo de construção desta sua obra, ao mesmo tempo que trabalha a linguagem com percepção de sua
fragilidade como estabelecedora de sentido. A intenção metaliterária subjaz sob os aspectos meramente lúdicos, através
dos quais Eça simula biografar “um grande homem”), documentando suas “Notas e Memórias” com depoimentos de
amigos e uma coletânea de cartas atribuídas à excêntrica personagem biografada. Em conseqüência, A correspondência
de Fradique Mendes se insere no conjunto daquelas obras em que Eça inscreve o legado de seu “testamento literário”.

Do exposto se deduz que A correspondência de Fradique Mendes não pode ser lida sem a percepção da malha irônica de
que se entretecem as suas duas partes.

O próprio título já é irônico, tendo Eça hesitado entre (primeiro título) e Correspondência (título definitivo). Inicia-se, desse
modo, a partir do título, a colocação do estatuto da palavra reversível e a perplexidade semântica como um pacto de jogo
irônico.

A primeira parte contém várias incongruências (por ex.: o parentesco com Vidigal, o problema alfandegário com a múmia,
etc.) que induzem o leitor à ironia, fazendo pensar que o autor não está falando sério, mas simulando um teatro de
enganos. Além do mais, um intróito biográfico que já de início se põe a falar digressivamente de literatura (e as digressões
literárias se repetem de tempo em tempo interferindo no andamento da narração) presta-se a informar o leitor de que Eça
tenciona falar é de literatura, ou também de literatura. Em verdade o apresentador de Fradique simula biografar quando de
fato intenta teorizar, e não apenas sobre arte, porém ainda sobre filosofia, política e religião.

O leitor mais atento, ou antes, interessado na problemática poética, com pouco percebe que o autor não só teoriza mas faz
experimento, transformando sua narração em texto que se auto-exemplifica. Daí termos selecionado esse filete da
metalinguagem de Eça para campo de nosso estudo e descobertas comparativas.

A correspondência de Fradique Mendes encerra um projeto metaliterário de singular importância para o entendimento do


fenômeno da produção de textos e, mais significativo ainda, para a recepção da obra queirosiana, sobretudo a partir de Os
Maias. As colocações e alusões contidas na primeira parte (à guisa de "Memórias e Notas”) mais a teorização literária,
explícita e implícita nas Cartas de Fradique, produzidas já na maturidade de Eça, representam uma síntese expositiva e
crítica das teorias vigentes, questionadas ou nascentes, a partir da segunda metade do Século XIX. 

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