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INSTITUTO DE HISTÓRIA
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Subversiva porque representava o terceiro estado francês.
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do Brasil durante o segundo reinado, onde a nação era representada “pelo rei, a
natureza e seus belos naturais” (SCHWARCZ, 2014), ao passo que os negros
escravizados eram excluídos, esquecidos.
A forma de percepção temporal é um elemento fundamental para se
compreender a relação entre a preservação e a perda. Em oposição ao regime clássico
de tempo, onde o passado pode ser projetado diretamente no presente; o regime
moderno pensa o tempo como continuidade e se projeta para o futuro (KOSELLECK,
2006). O tempo mítico é aquele onde o patrimônio existiu integralmente, o presente é
tempo em que o patrimônio se encontra ameaçado e fragmentado, a preservação é,
portanto, a escolha dos objetos que dão sentido a uma narrativa construída para o
futuro (GONÇALVES, 2002), no sentido de evitar que eles se percam.
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Conclusão
A questão do patrimônio é um campo de disputas e também de muitas
possibilidades. Se por um lado, foi a nação que institucionalizou a preservação do
patrimônio (FONSECA, 2009), como nos casos francês e brasileiro, a possibilidade de
reivindicação de um patrimônio por grupos além do estado também contribuiu com o
alargamento do conceito. Os processos de patrimonialização se complexificaram na
medida em que foi necessário considerar outras concepções de tempo, cultura, e
formas de conhecimento. A questão das diferentes formas de conhecimento é também
exemplar nas conversas com os Hune Kuĩ, para quem o conhecimento é apreendido
pelo corpo, diferente da concepção universalizante que relaciona a mente ao
conhecimento (LIMA; KAXINAWA; MATOS; FERREIRA, 2014). Outro aspecto
indispensável à questão do patrimônio é compreender qual o seu propósito. Serve ele a
uma política nacional? Identitária? Turística? Se ele está a serviço do Estado ou de
outros grupos da sociedade civil? Responder essas questões é algo indispensável
(GONÇALVES, 2012).
A retórica da perda foi parte fundamental no discurso que legitimou a construção
de um patrimônio nacional, tanto na primeira fase do Iphan com Rodrigo de Melo
Franco de Andrade, quanto na segunda, de Aloísio Magalhães. Todavia, o discurso da
perda deixou de ser o fundamento do patrimônio, e foi deslocado para uma modalidade
entre as muitas possíveis, na medida em que as crises das percepções do tempo, o
deslocamento do conceito de cultura pela antropologia e a própria prática da
patrimonialização, impuseram como necessidade o alargamento no conceito de
patrimônio. A complexidade de possibilidades da patrimonialização traz também a
urgência de se pensar em um chão comum do conceito de patrimônio, para além do
esquematismo binário (GONÇALVES, 2015). Além disso, essa forma ampliada do
conceito também estabeleceu como necessidade repensar as formas de atuação das
instituições, na medida em que elas se colocam, referenciando Gonçalves (2015),
como mediadoras na encruzilhada dos tempos.
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Bibliografia
DE ALMEIDA, Maria Regina Celestino. Metamorfoses indígenas: identidade e
cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Presidencia Da Republica Arquivo
Nacional, 2003.
FONSECA, Maria Cecília Londres. A construção do patrimônio: perspectiva histórica. O
patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no Brasil, v.
2, 2009.
GONÇALVES, José Reginaldo Santos. A retórica da perda: os discursos do
patrimônio cultural no Brasil. Editora UFRJ, 2002.
___________. As transformações do patrimônio: da retórica da perda à reconstrução
permanente. TAMASO, I. e LIMA FILHO, M. Antropologia e patrimônio cultural:
trajetórias e conceitos. Brasília: ABA, p. 59-73, 2012.
___________. O mal-estar no patrimônio: identidade, tempo e destruição. Estudos
Históricos, v. 28, n. 55, p. 211-211, 2015
KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos
históricos. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2006.
LIMA, J. M; Kaxinawa, J. B. F.; MATOS, M. A.; FERREIRA, R. N. In: CUNHA, Manuela
Carneiro. Políticas culturais e povos indígenas: uma introdução.. São Paulo:
Cultura Acadêmica, 2014.
SCHWARCZ, L. K. M.. Nacionalidade e patrimônio. Revista do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, Brasília, v. 34, p. 337-359, 2012.