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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

ARQUITETURA E URBANISMO

RUDIANE ZACARIA

EVOLUÇÃO URBANA DO BATALHÃO FERROVIÁRIO COM VISTAS AO


INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DA CIDADE DE BENTO
GONÇALVES - RS

Bento Gonçalves
2021
RUDIANE ZACARIA

EVOLUÇÃO URBANA DO BATALHÃO FERROVIÁRIO COM VISTAS AO


INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DA CIDADE DE BENTO
GONÇALVES - RS

Relatório apresentado como requisito final


para obtenção de aprovação na disciplina
de Estágio Curricular, necessária ao curso
de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de Caxias do Sul.
Campo de estágio: Museu do Imigrante
Bento Gonçalves (RS).

Orientador: Profa. Me. Arq. e Urb. Pauline


Fonini Felin

Supervisor: Arq. e Urb. Cristiane Bertoco

Bento Gonçalves
2021
EVOLUÇÃO URBANA DO BATALHÃO FERROVIÁRIO COM VISTAS AO
INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DA CIDADE DE BENTO
GONÇALVES - RS

Relatório apresentado como requisito final


para obtenção de aprovação na disciplina
de Estágio Curricular, necessário ao Curso
de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de Caxias do Sul.

Bento Gonçalves, 2021.

Aprovada em __/__/2021.

Banca Examinadora:

____________________________________
Profa. Me. Arquit. e Urb. Pauline Fonini Felin
“Uma vida sem memória não seria uma
vida, assim como uma inteligência sem
possibilidade de exprimir-se não seria uma
inteligência Nossa memória é nossa
coerência, nossa razão, nossa ação, nosso
sentimento, sem ela não somos nada.”

Luis Buñuel – Cineasta Espanhol


RESUMO

O presente relatório tem como objetivo a realização de uma pesquisa com foco
na evolução urbana do Batalhão Ferroviário de Bento Gonçalves (RS). O estudo parte
de uma síntese teórica que aborda a conceituação do patrimônio além dos valores
que podem ser atribuídos a ele, a fim de destacar a importância de sua proteção como
forma de perpetuar a memória e identidade local. Também são abordados aspectos
referentes a história evolutiva do município. Além do mais serão publicadas junto a
este levantamento fichas de inventário referente as edificações de importância
institucional do Batalhão Ferroviário. Por fim, o presente trabalho discorre sobre a
importância da Educação Patrimonial para que haja, nas novas e futuras gerações, a
conscientização sobre a relevância da preservação da memória e da identidade
deixadas como legado através do patrimônio edificado.

Palavras-chave: Evolução Urbana. Memória. Inventário. Patrimônio. Educação


Patrimonial.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: APPAC Bairro São Roque e destaque ao BCom.........................................23


Figura 2: Chegada dos trilhos do Tronco Ferroviário a Lages (SC), km 292, 1963......28
Figura 3: Registro da construção do túnel em Y no encontro do Tronco Principal Sul
com o ramal Bento Gonçalves/Jaboticaba..................................................................29
Figura 4: A locomotiva do 1º Batalhão, com o maquinista Antonio Pedro dos
Santos........................................................................................................................30
Figura 5: Malha ferroviária do Rio Grande do Sul em 1910.......................................31
Figura 6: Ferrovias em trafego no Rio Grande do Sul, 1920......................................32
Figura 7: Mapa dos trilhos da região sul da Viação Férrea do Rio Grande do Sul em
1954, com destaque no município de Bento Gonçalves..............................................33
Figura 8: A estação de Bento Gonçalves logo após sua abertura, em 1919.............34
Figura 9: O trem turístico da Giordani Turismo na plataforma da estação de Bento
Gonçalves, em 1996...................................................................................................34
Figura 10: Estação de Bento Gonçalves, 2019...........................................................34
Figura 11: Localização do Município de Bento Gonçalves..........................................35
Figura 12: Italiano chegando de navio no Brasil em 1907............................................36
Figura 13: Início da construção da vila de Dona Isabel, cerca de 1880........................38
Figura 14: Centro de Bento Gonçalves, 1906..............................................................38
Figura 15: Ocupação Urbana entre 1925 e 1943, demarcada sobre sistema viário
atual............................................................................................................................39
Figura 16: Marcação dos distritos em 1976, com divisão de lotes em 1884.................40
Figura 17: Primeiro transformador de energia elétrica, instalado na Cidade Alta, em
1922............................................................................................................................41
Figura 18: Inauguração Hospital Dr. Bartholomeu Tacchini, 1927..............................41
Figura 19: Ocupação Urbana em 1976, demarcada sobre sistema viário atual...........42
Figura 20: Sede do Batalhão Ferroviário em meados dos anos 1960.......................44
Figura 21: Projeto Laços Patrimoniais........................................................................50
Figura 22: Valores para preservação do Patrimônio Arquitetônico.............................52
Figura 23: Locação do quartel de Santa Maria (RS)...................................................53
Figura 24: Conjunto do Batalhão Ferroviário, década de 60.......................................55
Figura 25: Mapa evolutivo Batalhão Ferroviário, anos 60...........................................56
Figura 26: Complexo do Batalhão Ferroviário - vista leste. Visualizam-se o estádio e o
cinema no centro da foto, o rancho à esquerda e as casas de sargentos à direita.
Aproximadamente década de 1950............................................................................58
Figura 27: Conjunto do 1º Batalhão de Ferroviário de Bento Gonçalves. Ao fundo da
imagem nota-se a Igreja São Roque e Cinema do Batalhão, 1963.............................58
Figura 28: Vista geral do Complexo do Batalhão Ferroviário......................................59
Figura 29: Imagem da esquerda: Igreja São Roque, década de 1950, com a primeira
Igreja; Imagem da direita: Igreja São Roque, 1963, com as duas Igrejas
construídas.................................................................................................................60
Figura 30: Hospital Militar, 1959.................................................................................61
Figura 31: Antigo Hospital, atualmente abria a 8º Cia Com.......................................61
Figura 32: Mapa evolutivo 3º Batalhão de Comunicações Ferroviário, 1987.............62
Figura 33: Mapa evolutivo 6º Batalhão de Comunicações Ferroviário, 2021..............64
Figura 34: 6º Batalhão de Comunicações...................................................................64
Figura 35: Ocupação Urbana atual, demarcada sobre sistema viário.........................66
LISTA DE SIGLAS

IPHAN Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional


IPHAE Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
FAC Fundo de Apoio a Cultura
UCS Universidade de Caxias do Sul
RFFSA Rede Ferroviária Federal AS
SEDAC Secretaria de Estado da Cultura
PRESERFE Programa de Preservação do Patrimônio Histórico Ferroviário
MUSIBG Museu do Imigrante de Bento Gonçalves
RS Rio Grande do Sul
SC Santa Catarina
PR Paraná
INRC Inventário Nacional de Referências Culturais
DEP Departamento de Ensino e Pesquisa
DPHCEx Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército
OMDS Organizações Militares Diretamente Subordinadas
Icomos Conselho Internacional de Monumentos e Sítios
IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPURB Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano
VFRGS Viação Férrea do Rio Grande do Sul
EF Estrada de Ferro
BCom Batalhão de Comunicações
BComDiv Batalhão de Comunicações Divisionário
BComEx Batalhão de Comunicação do Exército
SAE Sistema de Agendamento Eletrônico
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................10
1.1 DEMANDA DO CAMPO DE ESTÁGIO...........................................................11
1.2 OBJETIVOS GERAIS.....................................................................................11
1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..........................................................................11
1.4 JUSTIFICATIVA.............................................................................................12
1.5 MÉTODOS DE PESQUISA............................................................................12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................13
2.1 CONCEITUAÇÃO DE PATRIMÔNIO CULTURAL E DE INVETÁRIO.............13
2.2 CONCEITUAÇÃO DE PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO....................................15
2.3 CONCEITUAÇÃO DE PATRIMÔNIO CULTURAL MILITAR...........................16
2.4 CONCEITUAÇÃO DE MEMÓRIA E IDENTIDADE.........................................18
2.5 ATRIBUIÇÃO DE VALORES..........................................................................19
2.6 ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL DAS NAÇÕES UNIDAS...........20
2.7 PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL.........................................................22
2.8 PATRIMÔNIO MISTO.....................................................................................23
3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL COM BREVE
HISTÓRICO DAS CONSTRUÇÕES FERROVIÁRIAS NO
BRASIL......................................................................................................................25
3.1 ORIGENS DO BATALHÃO FERROVIÁRIO NO BRASIL................................29
3.2 CARACTERIZAÇÃO PATRIMÔNIO FERRORIVÁRIO RIO GRANDENSE....31
3.3 RAMAL FERROVIÁRIO DE BENTO GONÇALVES........................................33
4 SOBRE O TEMA FERROVIÁRIO NO MUNICÍPIO DE BENTO
GONÇALVES.............................................................................................................35
4.1 A COLONIZAÇÃO..........................................................................................35
5 HISTÓRICO DO PRIMEIRO BATALHÃO FERROVIÁRIO EM BENTO
GONÇALVES.............................................................................................................43
5.1 HISTÓRICO DO 3º BATALHÃO DE COMUNICAÇÕES EM BENTO
GONÇALVES.......................................................................................................45
5.2 HISTÓRICO DO 6º BATALHÃO DE COMUNICAÇÃO EM BENTO
GONÇALVES.......................................................................................................46
6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................................47
7 A ARQUITETURA DOS PAVILHÕES ADMINISTRATIVOS DOS QUARTEIS E
BATALHÕES FERROVIÁRIOS.................................................................................53
8 ESTUDOS DE EVOLUÇÃO URBANA DO 1º BATALHÃO FERROVIÁRIO AO 6º
BATALHÃO DE COMUNICAÇÕES EM BENTO
GONÇALVES.............................................................................................................55
9 LEVANTAMENTO DE PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO............................67
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................73
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................75
ANEXOS
1. PRANCHA PLANTA BAIXA E FACHADAS DO 6º BATALHÃO DE
COMUNICAÇÕES DE BENTO GONÇALVES
2. FICHA DE INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO –
PROJETO LAÇOS PATRIMONIAIS DE BENTO GONÇALVES
3. FICHA DE INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO URBANO DE
VERANÓPOLIS
10

1 INTRODUÇÃO

Ao pesquisar a palavra patrimônio no dicionário, refere-se a uma coleção


de ativos que pertencem a uma empresa, associação ou pessoa comum. Ao
procurar a origem da palavra, descobre-se que tem origem do latim de "pater",
que significa pai. Portanto, é usado no sentido de herança ou herança do pai
para deixar a seus filhos.

Se tratando de patrimônio cultural, o significado vai ainda mais longe, pois


representa um conjunto de obras produzidas por várias gerações, essas obras
são o resultado das mais diversas experiências coletivas da humanidade e
esperam sobreviver como gerações futuras. Portanto, olhar o patrimônio cultural
é procurar vestígios da identidade da comunidade, é a resposta de como viver
nos mais diversos tempos, espaços e momentos culturais, e protegê-lo tornando
o patrimônio perpétuo. Para NUNES (2004):

Desse modo preservamos o que é possível para manter a integridade


dos traços que definem um bem cultural, pois, eles constituem a nossa
herança patrimonial, e é justamente esse legado a nossa identidade
cultural, que nos torna participantes: tanto coletiva, como
individualmente da formação de nossa cultura e no exercício pleno de
nossa autonomia e cidadania (NUNES, 2004).

O presente relatório visa contribuir com a proteção dos bens edificados


que são capazes de preservar a história e compreender a estrutura da cidade de
Bento Gonçalves ao longo dos anos. Visa também, analisar e dar continuidade
aos estudos já iniciados pelo Museu do Imigrante, juntamente apoiar o projeto
Laços Patrimoniais: construindo um inventário colaborativo para Bento
Gonçalves, cujo projeto foi selecionado no âmbito do Edital SEDAC nº01/2019
“FAC Educação Patrimonial”.

A base do projeto é ampliar o conhecimento e a valorização do patrimônio


histórico principalmente, neste caso, a evolução urbana do conjunto do Batalhão
Ferroviário e de Comunicações de Bento Gonçalves (RS), através de mapas
evolutivos e levantamento de conjuntos de edificações institucionais de
relevância patrimonial. Por esse motivo, esta pesquisa parte de uma síntese
teórica que aborda a conceituação de patrimônio e atribuição de valores para os
mesmos.
11

Para auxiliar o projeto foi necessário o preenchimento de fichas de


inventário com dados pesquisados e dispostos pela gestão do Batalhão
Ferroviário e modelo disponibilizado pelo Museu do Imigrante. Estas fichas
contém a inserção e entorno da edificação, as fotos do local, a síntese histórica,
bem como interpretação sobre a linguagem arquitetônica. Para contribuir no
preenchimento, o presente relatório conta com a descrição de como deve ser
feito o planejamento de um inventário patrimonial, através do manual fornecido
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.

A metodologia utilizada nesta elaboração ocorrerá através de bibliografias


específicas sobre o tema, coleta de dados realizadas em levantamento de
campo, entrevistas, registros fotográficos, informações cedidas pelo Museu do
Imigrante e Museu Ferroviário de Lages (SC), além de reuniões com a Secretaria
de Turismo – Museu do Imigrante. O conteúdo que será apresentado a seguir
reforça a importância da preservação como forma de perpetuar a memória,
cultura e identidade para as próximas gerações.

1.1 DEMANDA DO CAMPO DE ESTÁGIO

Dar continuidade a pesquisa do Projeto Laços Patrimoniais e a evolução


urbana do Batalhão Ferroviário de Bento Gonçalves (RS) e preenchimento de
fichas de inventários.

1.2 OBJETIVOS GERAIS

Elaboração da evolução urbana do Batalhão Ferroviário, e inventariação


através da ficha do Pavilhão Administrativo do conjunto do Batalhão Ferroviário
de Bento Gonçalves (RS).

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Para atender ao objetivo geral do trabalho, foram definidos os seguintes objetivos


específicos:

1) Analisar e atualizar os estudos já iniciados anteriormente pelo Museu do


Imigrante;
2) Caracterizar os conjuntos arquitetônicos com interesse patrimonial;
12

3) Preencher ficha de inventário de uma edificação com importância


institucional, seguindo ficha modelo encaminhada pelo Museu do
Imigrante;
4) Realizar e analisar registros fotográficos dos espaços definidos;
5) Analisar e atualizar mapas com evolução urbana do Batalhão Ferroviário
de Bento Gonçalves;

1.4 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho tem por finalidade atualizar o inventário de Bento


Gonçalves iniciado entre 1994 e 1996 analisar e dar continuidade aos estudos já
iniciados pelo Museu do Imigrante, juntamente com o projeto Laços Patrimoniais
construindo um inventário colaborativo para Bento Gonçalves (RS), cujo projeto
foi selecionado no âmbito do Edital SEDAC nº 01 2019 “FAC Educação
Patrimonial”.

Busca também, contribuir para base da evolução urbana do conjunto do


Batalhão Ferroviário de Bento Gonçalves e levantamento de conjuntos de
edificações institucionais de relevância patrimonial.

A evolução urbana, objeto de estudo deste estágio, pode ser


compreendida como resultado de diversas mudanças ocorridas desde 1943 na
mancha urbana do local em estudo. Assim, será iniciado o estudo a fim de
possibilitar a preservação e valorização do patrimônio histórico da cidade.

1.5 MÉTODOS DE PESQUISA

Quanto à sua abordagem - Pesquisa qualitativa: tem como princípio


produzir informações e explicar o porquê das coisas. Analisa dados que não
podem ser medidos numericamente e nem se submetem à prova de fatos. Sua
função é compreender e explicar as dinâmicas das relações sociais. Esta
pesquisa possui o intuito de estudar e levantar dados da iniciação das linhas
férreas no Rio Grande do Sul, com enfoque no Batalhão Ferroviário de Bento
Gonçalves (RS), assim, analisando evolutivamente a área que se encontra
desde 1943. Dessa forma, não há comparativo numérico e nem dados
estatísticos, não havendo uma resposta definida a esta questão.
13

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo tem como objetivo dar suporte à coleta e análise de dados
que deverão sustentar este relatório. Além disso, será feita a conceituação dos
seguintes termos para a melhor compreensão dos mesmos: Patrimônio Cultural
Inventário, Origens da Inventariação do Patrimônio Cultural e Métodos de
Inventários de Bens Patrimoniais do IPHAN e IPHAE, História Evolutiva da
Cidade de Bento Gonçalves (RS) e do Batalhão Ferroviário de Bento Gonçalves
(RS), bem como Valores Culturais segundo a UNESCO.

2.1 CONCEITUAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL E DE INVENTÁRIO

O artigo 216 da Constituição Federal de 1988, define patrimônio cultural


como “bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”.

O patrimônio cultural representa todas as expressões de uma nação,


incluindo seu ambiente natural. Portanto, o patrimônio é toda demonstração
cultural significativa para um grupo social organizado. Isso pode representar uma
sociedade, história ou relação com o meio ambiente, é a herança deixada por
nossos ancestrais que nos mostra o legado que eles criaram.

Segundo o IPHAN (2014), o Patrimônio Mundial Cultural e Natural é


composto por monumentos, edifícios e sítios arqueológicos, e é essencial para
a memória, identidade e criatividade das pessoas e para a rica cultura. Já
“Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural”
elaborada na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 1945) realizada em Paris (França)
em 1972 definiu esta composição e foi aprovada por decreto em 1977.

A Convenção também estipula que o património natural é composto por


relíquias naturais que, para além dos sítios naturais, incluem estruturas físicas e
biológicas, estruturas geológicas e fisiológicas. Entre eles, a proteção do meio
ambiente, o patrimônio arqueológico, o respeito à diversidade cultural e a
população tradicional são objetos de atenção especial. (IPHAN, 2014).
14

De acordo com o IPHAN (2014) o inventário é uma ferramenta de


preservação projetada para identificar várias expressões culturais de
propriedades imateriais e materiais e ativos de preservação de interesse. O
objetivo principal é compor uma base de dados para avaliação e manutenção,
planejamento e pesquisa, conhecimento potencial e formação patrimonial.

A divisão regional do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC)


é baseada nas referências existentes em uma determinada área. Essas áreas
podem ser identificadas em diferentes escalas, e podem corresponder a uma
vila, a um bairro, a zonas ou a regiões urbanas, a áreas geográficas
culturalmente diferenciadas ou a um grupo de conjuntos históricos. Os projetos
do INRC são classificados como implementados e em andamento de acordo com
a distribuição das várias regiões do país e as autoridades regulatórias do Estado
do IPHAN.

Para aplicação da metodologia proposta pelo projeto Laços Patrimoniais,


foi necessário um ponto de partida, cujo foi a definição da palavra inventário, que
segundo o dicionário Aurélio (Novo Dicionário da Língua Portuguesa), significa:

Inventário, do latim jurídico inventarium, “encontrar”:

(1) relação dos bens deixados por alguém que morreu;

(2) por extensão, descrição e enumeração minuciosa;

(3) levantamento individuado e completo de bens e valores.

Dessa forma, o inventário é entendido como um documento necessário


para a identificação e compreensão do patrimônio. A concretização do mesmo
depende de um bom processo de investigação e de referências específicas
consideradas relevantes. Este relatório descreve as etapas de um inventário com
base no manual de aplicação “Educação Patrimonial: Inventários Participativos”,
publicado pelo IPHAN em 2016.

O inventário é definido como modelo de pesquisa, que deve coletar e


organizar informações sobre coisas que precisam ser investigadas. Por meio
delas, é possível registrar uma série de referências culturais que compõem a
comunidade, seu território e o patrimônio que a compõem. Nessa abordagem, é
15

necessário olhar os costumes que podem identificar o patrimônio local. Também


é importante observar que a lista não substitui quaisquer instrumentos de
proteção propostos por órgãos de proteção ao patrimônio (IPHAN, 2016).

Essa prática deve ser uma ação de cidadania e participação social, pois
contribui para a valorização e preservação do patrimônio cultural brasileiro.
Portanto, o inventário é considerado uma atividade de educação patrimonial,
pois visa gerar conhecimento por meio do diálogo entre pessoas, instituições e
comunidades que possuem referências culturais para o inventário (IPHAN,
2016).

2.2 CONCEITUAÇÃO DE PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO

Em 2007, a Lei 11.483, atribuiu ao IPHAN a responsabilidade de receber


e administrar os bens móveis e imóveis de valor artístico, histórico e cultural,
oriundos da extinta Rede Ferroviária Federal SA (RFFSA), bem como zelar pela
sua guarda e manutenção (IPHAN, 2014).

O patrimônio ferroviário oriundo da RFFSA engloba bens imóveis e


móveis, incluindo desde edificações como estações, armazéns, rotundas,
terrenos e trechos de linha, até material rodante, como locomotivas, vagões,
carros de passageiros, maquinário, além de bens móveis como mobiliários,
relógios, sinos, telégrafos e acervos documentais. Segundo inventário da
ferrovia, são mais de cinquenta e dois (52) mil bens imóveis e quinze (15) mil
bens móveis, classificados como de valor histórico pelo Programa de
Preservação do Patrimônio Histórico Ferroviário (PRESERFE), desenvolvido
pelo Ministério dos Transportes, instituição até então responsável pela gestão da
RFFSA (IPHAN, 2014).

Segundo o IPHAE (2002), as pesquisadoras Alice Cardoso e Frinéia


Zamin, relatam que na década de 1990, a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA)
foi incluída no Plano Nacional de Desestatização formulado pelo governo Collor
e depois dividido em seis (6) redes regionais para fins de privatização.
16

Relatam ainda que as pessoas não adquiriram memórias coletivas ao


viajar de trem. Mas, que esse tipo de memória é evocado por uma variedade de
elementos materiais, que provam silenciosamente o momento em que, por
exemplo, o apito do trem causava alvoroço em qualquer lugar que passava.

Esse componente material que existe em várias áreas do estado constitui


o patrimônio ferroviário, que está em processo de abandono e destruição há
décadas. No entanto, diversas comunidades estão se mobilizando para
reconhecer e preservar esse patrimônio cultural (IPHAE, 2002).

2.3 CONCEITUAÇÃO DE PATRIMÔNIO CULTURAL MILITAR

De acordo com Antônio Duarte (2015), o patrimônio é gerido pelas Forças


Armadas brasileiras, e compõe-se de um considerável acervo de bens materiais
e imateriais, que reclama contínua tutela protetiva.

No ano de 2014, o Ministério Público da União envolveu a temática da


preservação do patrimônio cultural militar, o que ambiciona justamente
dimensionar esse campo tão particular. Pressupõe-se que existe uma ampla
gama de bens de valor cultural, sendo eles históricos, artísticos, paisagísticos ou
até mesmo arqueológicos, despertando a atenção de diferentes órgãos,
especialmente do Ministério Público brasileiro.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), destaca


que, além das próprias instâncias militares que têm a responsabilidade de
interferir diretamente nas ações à preservação desses conjuntos de bens, outras
instituições que atuam concomitantemente nessa empreitada guarnecedor dos
interesses possam atuar sobre e bens militares no que tange o registro,
inventário ou tombamento.

A Força Terrestre Brasileira, prima pela busca da preservação do


patrimônio cultural militar, a qual, em 1970, incentivou a valorização da cultura,
criando o Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP). Este departamento,
buscou a centralização do pensamento cultural no âmbito do Exército Brasileiro.
No ano de 2008, foi criada a Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do
17

Exército (DPHCEx), com o propósito de preservar e proteger o patrimônio


histórico e cultural militar, tornando-se também referência nacional em termos
culturais no Exército Brasileiro.

As Organizações Militares Diretamente Subordinadas (OMDS), como o


Museu Histórico de Exército tem principal vocação de preservar, salvaguardar e
disseminar valores, tradições e memória histórica do exército brasileiro,
fornecendo cultura, entretenimento e conhecimento aos visitantes.

De acordo com Duarte, existem subdivisões do Exército Brasileiro, sendo


elas:

1) Casas históricas: edificações de interesse da cultura militar, aqui


está a vida de figuras importantes da história militar, parte da estrutura da
organização militar ou ocorreram grandes eventos relacionados ao passado da
instituição;

2) Memorial: espaço utilizado para comemorar fatos históricos,


constituído por coleções, objetos ou documentos relativos a pessoas, cidades ou
tempos com características militares e culturais;

3) Monumento: obras ou edifícios projetados para transmitir as


memórias e memoriais em gerações posteriores ou a história militar para as
gerações futuras;

4) Parque histórico: conjunto de espaços militares e culturais


articulados em um determinado espaço geográfico, com o objetivo de proteger o
local onde se encontram;

5) Sítio histórico: local onde ocorreram coisas relacionadas à


organização militar ou à história do exército;

6) Fortalezas, fortes e fortins: redutos e edifícios de alvenaria,


preparações de pedras no terreno que visavam a defesa territorial.
18

2.4 CONCEITUAÇÃO DE MEMÓRIA E IDENTIDADE

Filosoficamente, significa a capacidade de manter uma certa experiência


ou conhecimento adquirido e levá-lo à mente. E isso é necessário para o
estabelecimento de experiências e conhecimentos científicos. Toda a produção
de conhecimento é baseada nas memórias de um passado que é consolidado
no presente. Hilton Japiassú, no Dicionário de Filosofia, afirma: “A memória pode
ser entendida como a capacidade de relacionar um evento atual com um evento
passado do mesmo tipo, portanto como uma capacidade de evocar o passado
através do presente.” (JAPIASSÚ, 1996, p.128).

Para Michael Pollak (1992):


“Existem lugares da memória, lugares particularmente ligados a uma
lembrança, que pode ser uma lembrança pessoal, mas também pode
não ter apoio no tempo cronológico. Pode ser, por exemplo, um lugar
de férias na infância, que permaneceu muito forte na memória da
pessoa, muito marcante, independentemente da data real em que a
vivência se deu.” (POLLAK, 1992, 202).

A memória histórica constitui um fator de identidade humana, sinal ou


marca da cultura. Reconhecemos nesta memória com o que distingue e com o
que se aproxima. Identificamos a história e acontecimentos marcantes, desde as
divergências até as ações mais comuns. E o conteúdo de identidade define o
que cada grupo é e o que é inútil entre si.

De acordo com Wehling (2003), a memória tem finalidade:


“A memória do grupo sendo a marca ou sinal de sua cultura, possui
algumas evidências bastante concretas. A primeira e mais penetrante
dessas finalidades é a da própria identidade. A memória do grupo
baseia-se essencialmente na afirmação de sua identidade”
(WEHLING, 2003, 13).

A conexão entre memória e identidade é tão intensa que o imaginário


histórico-cultural são renovados para a autossustentar e identificar como uma
expressão especial e particular de um determinado povo.

A memória não pode ser entendida como apenas um ato de busca de


informações do passado, tendo em vista a reconstituição deste
passado. Ela deve ser entendida como um processo dinâmico da
própria rememorização, o que estará ligado à questão de identidade
(SANTOS, 2004, 59).
19

A identidade cultural e a memória reforçam-se reciprocamente.


Conhecemos as nossas raízes e de onde viemos, distinguimos o que nos divide
e o que nos une. Estamos capacitados a entender nossa cultura e a nossa
memória, são rostos da mesma moeda e aquela atitude cultural por excelência
e com o que nos cercou, dos testemunhos construídos ou as expressões da
natureza para viver depoimentos à qual são essências para a construção dessa
identidade. Para Santos (2004):
“A definição da própria identidade cultural implica em distinguir os
princípios, os valores e os traços que a marcam, não apenas em
relação a si própria, mas frente a outras culturas, povos ou
comunidades. Memória e identidade estão interligados, desse
cruzamento, múltiplas pelas possibilidades poderão se abrir ora
produção de imaginário histórico-cultural.” (SANTOS, 2004, 59).

A memória é um elemento fundamental da identidade e auxilia para a


formação da condição de cidadão.

2.5 ATRIBUIÇÃO DE VALORES

Para determinar se o patrimônio edificado tem potencial de preservação,


é necessário avaliá-lo por meio da atribuição de valor. “Esses valores são
atribuídos pelo uso simbólico que os grupos sociais definem de seus bens”
(SALVADORI, 2008, p.11).

A atribuição de valor diz respeito a uma determinada história, identidade


e memória que se quer construir. E essa escolha sempre envolverá disputas e
conflitos de posições e interesses diferenciados, pois a “a memória coletiva não
é somente conquista, é também um instrumento e um objetivo de poder” (LE
GOFF, 1984, p. 46).

A Constituição Federal de 1988 (Art. 216), ressalta que, apesar de possuir


uma hierarquia em mente, a integridade de um lugar não significa
necessariamente a preservação de todos os monumentos individuais e sim, a
consciência da manutenção e proteção da paisagem. É necessário preservar e
proteger o patrimônio histórico, pois ele guarda informações sobre as tradições
e saberes da cultura de um povo. Desta forma, fontes de pesquisa à partir de
diversas áreas do conhecimento são importantes para um reconhecimento mais
aprofundado (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).
20

Para que os resultados obtidos cheguem o mais próximo da realidade de


preservação destes imóveis, torna-se importante conhecer cada atributo e suas
constantes. Em 2012, o IPHAE (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico do
Estado) instituiu o Sistema de Rastreamento Cultural - metodologia de inventário
que estabeleceu critérios indicativos à atribuição de valores aos bens
inventariados. Este Sistema estabelece seis grupos de valores: cultural;
paisagístico; morfológico; funcional; técnico e legal. (IPHAE, 2020).

2.6 ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL DAS NAÇÕES UNIDAS

A Convenção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, adotada pela


UNESCO em 1972, visa incentivar a preservação de bens culturais e naturais de
grande importância para a humanidade. Trata-se de um esforço internacional de
valorização dos bens que, por sua importância como referência e identidade
nacional, podem ser considerados patrimônio dos povos de todos os países. O
Estado signatário tem a responsabilidade de indicar os bens culturais e naturais
que serão incluídos na Lista do Patrimônio Mundial. As informações sobre cada
inscrição são avaliadas pelas agências de consultoria de órgãos da Convenção
(Icomos e IUCN), e sua aprovação final é realizada anualmente pelo Comitê do
Patrimônio Mundial.

A principal força motriz para a adoção da Convenção do Patrimônio


Mundial foi a construção da Barragem de Alto Aswan. Em 1959, a República
Árabe Unida (União Soviética) e o governo sudanês buscaram ajuda da
UNESCO para preservar as ruínas e monumentos antigos da Núbia, Egito. O
grande lago a ser construído atrás da nova Barragem de Aswan ameaçava a
destruição do local. A UNESCO respondeu ao apelo pela comunidade
internacional por assistência e o resultado foi a maior operação de resgate
arqueológico da história.

O Brasil promulgou a "Convenção do Patrimônio Mundial" em 1978, ou


seja, logo após o previsto nas Diretrizes Operacionais do Patrimônio Mundial. Já
o Programa Integrado de Recuperação das Cidades Históricas (PCH) 15, para
fins turísticos ainda estava em plena implementação e vigor. O país também
21

cooperou com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), assinou uma


parceria.

Embora não afirme claramente o valor das paisagens culturais, a


UNESCO revela interesses artísticos, históricos, sociais, arqueológicos,
religiosos e utilitários, também mencionados em alguns documentos
patrimoniais. Ao utilizar qualidades culturais para descrever paisagens com
significado patrimonial, a UNESCO vinculou claramente a paisagem à existência
do homem, superando assim o conceito ainda enraizado, que é sinônimo de
"natureza" ou "área abarcada pela visão". (ARRUDA E RANGEL, 2016).

Portanto, a paisagem cultural está integrada ao conceito atual de


patrimônio cultural, que tem prioridade sobre a expressão original do patrimônio
histórico, ou seja, a dimensão histórica está inserida na cultura.

A UNESCO salienta o tipo de patrimônio e sua formação cultural, seu valor


expressado de forma verdadeira e credível por meio de diversos atributos
(conforme reconhecido nos parâmetros da proposta de inscrição). Assim, pode-
se considerar que o bem atende às condições de autenticidade, inclusive:

• Forma e concepção;

• Materiais e substâncias;

• Uso e função;

• Tradição, tecnologia e sistemas de gestão;

• Localização e ambiente;

• Linguagem e outras formas de patrimônio imaterial;

• Espírito e sentimento;

• Outros fatores internos e externos.


22

2.7 PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL

O termo patrimônio cultural refere-se a monumentos, edifícios e sítios


arqueológicos e são essenciais para a memória, a identidade e a criatividade das
pessoas e para a riqueza das culturas. Isso foi definido na “Convenção para a
Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural” elaborada na Conferência
Geral da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) realizada em Paris (França), em 1972, e aprovado por Decreto Nº.
80.978, de 12 de dezembro de 1977 (IPHAN).

No Brasil, a discussão sobre o que é Patrimônio Histórico e Cultural surgiu


através da Constituição de 1937.
“Art. 1º - Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto
dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja
de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da
história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou
etnográfico, bibliográfico ou artístico.”

O artigo 134 da Constituição de 1937 afirma que esses monumentos


devem ser protegidos pela Nação e atos danosos a eles devem ser comparados
a um atentado contra o patrimônio nacional.
“Art 134 - Os monumentos históricos, artísticos e naturais, assim como
as paisagens ou os locais particularmente dotados pela natureza,
gozam da proteção e dos cuidados especiais da Nação, dos Estados e
dos Municípios. Os atentados contra eles cometidos serão equiparados
aos cometidos contra o patrimônio nacional.”

Deste modo, o Patrimônio Cultural é conformado por monumentos,


conjuntos e lugares. Já o Patrimônio Natural, contempla monumentos naturais,
formações geográficas, fisiológicas e áreas delimitadas assim como lugares ou
zonas naturais.

De acordo com o Anexo 5.4 – ME, do Plano Diretor de Bento Gonçalves


(2018) dispõe sobre Incentivos à Preservação e Revitalização de Bens
Integrantes do Patrimônio Histórico e Cultural Edificado do Município de Bento
Gonçalves (IPURB, 2018), o Batalhão Ferroviário é considerado conforme o Art.
3º, bem patrimonial com propriedades seculares na área urbana, caracterizados
por edifícios construídos há mais de 50 anos. Estes são membros de áreas
especiais como proteção ambiental, paisagística, histórica, cultural e artística;
23

Áreas de Interesse Histórico e Paisagístico urbanas (APPAC), além das áreas


de proteção da paisagem da ferrovia, identificados em conformidade com o
Anexo 5.3 – ME (IPURB, 2018).

Figura 1: APPAC Bairro São Roque e destaque ao Batalhão de Comunicações.

Fonte: Anexo 5.3 – ME – IPURB, 2018.

Desde a sua fundação em 1855, a Ferrovia Brasileira tem contribuído para


o desenvolvimento econômico do país. Foi um dos alicerces da integração
nacional, ajudou a industrialização que teve papel decisivo na transformação das
cidades ferroviárias, como no município de Bento Gonçalves e influenciou no
transporte de mercadorias, passageiros, informações e cultura. São muitos os
aspectos que a ferrovia, juntamente, com o Batalhão Ferroviário, trouxeram para
Bento Gonçalves, considerando sua importância na economia e na sociedade,
principalmente através da memória social. Dessa forma, é de suma importância
o reconhecimento do patrimônio cultural da estrutura ferroviária no município
como patrimônio cultural no Brasil.

2.8 PATRIMÔNIO MISTO

A Convenção de 1972, que criou as listas de Patrimônios Culturais e


Naturais Mundiais, previu ainda uma categoria mista – sítios cujo valor engloba
características tanto da ação do homem quanto da natureza (IPHAN). Portanto,
refere-se ao patrimônio cultural e patrimônio natural.

O Comitê do Patrimônio Mundial considerou a cidade de Paraty, no litoral


do Rio de Janeiro, e a Mata Atlântica que a circunda, como patrimônio misto.
24

Totalizando, são trinta e oito (38) bens mundiais mistos em todo o mundo. A
cidade de Paraty é particularmente importante por se tratar de um bem vivo.
25

3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL COM BREVE


HISTÓRICO DAS CONSTRUÇÕES FERROVIÁRIAS NO BRASIL

A Segunda Guerra Mundial afetou o mundo de muitas maneiras


diferentes: política, ideologia, economia, sociedade, militar, tecnologia, etc.
Também teve um impacto definitivo no Brasil, que, de certa forma, teve uma
repercussão positiva para o país.

A guerra conhecida na época como Blitzkrieg1 causou uma grande


liberação nos círculos militares ao redor do mundo, especialmente após a queda
da França, muitos exércitos da época usaram a França como referência,
inclusive o Exército Brasileiro. (MORAIS, 2014).

O Exército Brasileiro começou a receber instruções da missão francesa


no início dos anos de 1920. Este fato trouxe uma grande mudança na formação
do corpo de oficiais e a organização militar brasileira foi orientada para um
caminho mais profissional desde então.

No contexto sócio-político dos anos 1940 até os anos 1950, o Brasil


passou por mudanças dramáticas, marcadas pelo fim da Segunda Guerra
Mundial e pela abertura política em 1945. As mudanças na situação econômica,
social e política após esse período são óbvias. No campo econômico, podemos
citar os alicerces da industrialização do Brasil, que moldou os padrões e regras
de trabalho entre empregadores e empregados. Foi por meio dela que os
trabalhadores ganharam alguns direitos, como a criação do Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio, em 1931, e as leis subsequentes sobre a
nacionalidade do trabalhador, oito horas de trabalho, férias anuais e
renumeração sindical. A sociedade deixava-se conduzir por um governo
populista, possuindo campanha oficial como as bases de seu governo.
A partir do Estado Novo o trabalho ferroviário ficou demarcado por
medidas de contenção disciplinar e regulatórias das ações no campo

1
A Blitzkrieg (“guerra relâmpago”) foi o apelido dado por observadores internacionais, partindo
da imprensa britânica, à forma intensamente móvel e rápida com a qual as forças armadas
alemãs – Wehrmacht – conduziram as operações nas fases iniciais da Segunda Guerra Mundial.
Após a carnificina das trincheiras da guerra anterior (1914-1918), a velocidade e a aparente
facilidade das vitórias alemãs, sobretudo aquela sobre a França, então considerada a maior
potência militar do continente, causaram grande impacto, fomentando até mesmo mudanças de
orientação da doutrina militar em diversos países à luz do que faziam os alemães pelos campos
de batalha europeus.
26

profissional. Mas, no caso da VFRGS, a compensação alcançada foi o


reconhecimento como “funcionários públicos”, o que pode ser visto
como o ápice profissional dos ferroviários. Por outro lado, incentivos
patrióticos de defesa da nação e a adoção de meios para refrear
influências ideológicas consideradas nocivas, fortaleceram a visão
governamental de harmonização de classes o que igualmente afetou
esses trabalhadores. (Flôres, 2005, p. 546).

Capelato (2003), destacou que o poder do Novo Estado brasileiro surgiu


no contexto da crítica ao sistema liberal e constituiu a base da política de massas
e seu posterior controle. O período entre as duas guerras mundiais deixou o
mundo preocupado com o sistema liberal, mas ao mesmo tempo também temia
o perigo da revolução socialista.

Brasil e Argentina inspirados no fascismo, nazismo, salazarismo e outros


modelos europeus, buscaram construir um país poderoso com líderes
carismáticos cujo objetivo era controlar e manter a ordem na sociedade,
respondendo às características de cada país. O Estado Novo brasileiro foi
resultado de toda a conjuntura internacional. O "fantasma" da Revolução Russa
e a crise sofrida pela quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929
agravaram os problemas econômicos do país e contribuíram significativamente
para a "tomada" do poder por Getúlio Vargas e todos os seus aliados.
(PANDOLFI, 2003).

Portanto, percebe-se que o Estado Novo não foi um sub-produto da


revolução de 1930 e sim uma consequência das lutas e conflitos travados
durante todo período, lutas estas notadas pelo que estava acontecendo em todos
lugares do mundo. (PANDOLFI, 2003).

O Brasil quase paralisou com sua participação na Segunda Guerra


Mundial. Todos os recursos disponíveis foram usados para fins militares, e o
financiamento aos brasileiros não era representativo a ponto de participar de
uma guerra que não fosse destes. A situação do sistema econômico mundial nos
anos de guerra era muito mais complicada, manifestada na rápida e
desordenada alta dos preços, que ia muito além da simples manipulação
cambial. No acúmulo de reservas cambiais e gastos militares, a incerteza da
época levou a um declínio geral da produtividade. Essa situação afetou
27

diretamente a cadeia produtiva, que por sua vez afetou a prestação de serviços
como o transporte.

A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial dificultou o


desenvolvimento das ferrovias, devido ao conflito, alavancou à falta de interesse
e/ou de recursos. Embora existam poucos dados que mencionem o estágio
inicial da construção da rede ferroviária, pode-se inferir a partir de impressos e
dados orais que, no período que vai do final dos anos 1940 aos anos 1960, a
ênfase foi colocada na construção de viadutos e túneis ao longo da estrada.
(JORNAL INFORMATIVO, 2007, p.7).

O Brasil, após a 2ª Guerra Mundial, país com riquezas minerais, vegetais,


extensas faixas de terras agricultáveis e uma pluraridade cultural, vislumbrou a
necessidade da presença mais eficaz do Estado em todos os seus rincões.
Naquela época, o governo brasileiro iniciou um forte programa de progresso
nacional, com vistas a proporcionar a integração regional.

Como parcela desse para essa interligação regional, foram criados os


Batalhões de Construção. Provenientes da Arma de Engenharia do Exército
Brasileiro. Essas unidades, tinham como propósito principal, promover a
infraestrutura necessária, por intermédio da construção de modais ferroviários e
rodoviários que viabilizassem a comunicação rodoferroviária do interior do Brasil,
com o centro oeste e com as demais regiões portuárias do País, acarretando a
economia e promovendo o transporte inter-regional de produtos industrializados.

O Estado do Rio Grande do Sul necessitava de ligações rodoferroviárias.


Na década de 1940, a economia era voltada para a agropecuária e não havia
ligação rodoviária com o litoral e com as demais regiões do país, essa
segregação impedia o desenvolvimento do Estado. (BIANCHINI, 2021).

Mas, por outro lado, nesse mesmo período de 1940, teve início a
construção da Estrada de Ferro (EF) 116, Ferrovia do Tronco Principal Sul, que
inicialmente, ligaria Porto Alegre - RS a São Paulo - SP, e a Rodovia BR 116,
Porto Alegre à Natal – RN.
28

Na Região Sul do Brasil, o compromisso era a construção de modais, os


quais foram destinados a quatro Batalhões de Engenharia de Construção, sendo
eles, o 1º Batalhão Ferroviário (sediado na época em Bento Gonçalves - RS), o
2º Batalhão Ferroviário (sediado em Rio Negro - PR, atualmente 2º B Fv -
Araguari - MG), o 3º Batalhão Rodoviário (sediado em Vacaria - RS, atualmente,
9º BEC, Cuiabá - MT) e o 2º Batalhão Rodoviário (sediado à época em Lages -
SC, atualmente, 8º BEC – Santarém - PA). Trabalhando em conjunto, esses
quatro Batalhões, arquitetaram e construíram quase a totalidade dos modais
rodoferroviários de todo o Sul do Brasil. (BIANCHINI, 2021).

A construção do Tronco Principal Sul, que posteriormente recebeu a


denominação de Estrada de Ferro 116 (EF 116), rendeu ao Batalhão anos de
atividades e tarefas árduas. Além disso, essa engenharia foi propulsora da
capacidade tecnológica, que o colocaram fronte da construção de ferrovias no
Brasil.

Donezeti (2021) conta que após o encerramento da construção do Tronco


Principal Sul. O 1º B Fv já instalado na cidade de Lages (RS), lá permaneceu,
devido ao fato de que a localização da cidade era e é praticamente no centro da
Região Sul. Com intersecções rodoferroviários, o que facilita a mobilidade para
qualquer localidade onde necessite executar obras.

Na década de 1980, o Batalhão expandiu seus horizontes e iniciou uma


nova empreitada, agora, na construção de rodovias, portos, aeroportos e
edificações. Neste ramo das grandes construções, o 1º B Fv vem, desde então,
se aperfeiçoando e se adaptando às novas tecnologias da construção da era
moderna.
Figura 2: Chegada dos trilhos do tronco ferroviário a Lajes (SC), km 292, 1963.

Fonte: Acervo de Flavio R. Cavalcanti.


29

3.1 ORIGENS DO BATALHÃO FERROVIÁRIO NO BRASIL

O 1º Batalhão de Engenheiros de Construção é originário da Ala Esquerda


do Batalhão de Engenheiros, que foi instituído pela Corte Portuguesa por meio
do Decreto número 1.536, de 23 de janeiro de 1855. É uma das unidades
militares mais antigas e tradicionais do Brasil. A sua primeira sede foi em
Cachoeira do Sul (RS), que sofreu várias alterações ao longo da sua história, até
1º de março de 1971, sendo transferida para Lages (SC), onde localiza-se até
hoje. (PRADO, 2002, p.13)

O 10º Batalhão de Engenharia de Construção tem um grande número de


projetos e realizações no Sul do País, com mais de dois mil quilômetros de
ferrovias, mais de oitenta e seis quilômetros de implantação e pavimentação de
rodovias, dezesseis quilômetros de pontes e viadutos e quase trinta e sete
quilômetros de túneis ferroviários. Entre os muitos projetos importantes, destaca-
se o EF-116 (TPS - Tronco Principal Sul) e EF-491 (Ferrovia do Trigo),
agregando uma fração impressionante de túneis, pontes e viadutos (PRADO,
2002).

Figura 3: Registro da construção do túnel em Y no encontro do Tronco Principal Sul com o


ramal Bento Gonçalves/Jaboticaba.

Fonte: Acervo pessoal de Dolmires Visentin Lunardi.


30

Em 1934, o 1º Batalhão Ferroviário juntou-se ao 2º Batalhão Ferroviário


e, a partir de 1938, juntou-se aos 2º e 3º Batalhão Rodoviário para construir o
TPS. Na época, o 1º Batalhão Ferroviário localizava-se em Jaguari (RS), o 2º
Batalhão Ferroviário em Rio Negro (PR), o 2º Batalhão Rodoviário em Lages
(SC) e o 3º Batalhão Rodoviário em Vacaria (RS).

Com a conclusão da ferrovia de Santiago a São Luiz, o Batalhão aceitou


a tarefa de implantar a estrada de ferro São Luiz a Cerro Largo (RS), instalando-
se em Bento Gonçalves (RS). Este trabalho promoveu o desenvolvimento de um
pequeno distrito chamado Rolador, que alcançou sua emancipação política em
um curto período de tempo.

Em 1971, o 1º Batalhão Ferroviário e o TPS lançaram mais uma malha


ferroviária que se destaca até hoje, mais um grande feito da Engenharia do
Exército Brasileiro. Na extensão de cento e cinquenta e oito quilômetros, a
Ferrovia do Trigo ligava as cidades de Passo Fundo e Roca Sales, em uma das
áreas mais acidentadas do Rio Grande do Sul. Os membros do 1º Batalhão
Ferroviário, ciosos de seu passado e cheios de confiança no futuro, sem declinar,
cruzando vales, rasgando montanhas, e finalmente mostrando uma série de
construções espetaculares e únicas, formando trinta e quatro túneis, vinte e cinco
pontes e viadutos. Na maior parte do tempo, o Batalhão esteve ligado ao Rio
Grande do Sul, onde foram inaugurados dois mil quilômetros de ferrovias, a
maior parte no Estado gaúcho.

Figura 4: A locomotiva do 1º Batalhão, com o maquinista Antonio Pedro dos Santos.

Fonte: Acervo pessoal de Dolmires Visentin Lunardi.


31

3.2 CARACTERIZAÇÃO PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO RIO GRANDENSE

Em 1874, foi inaugurada a primeira estação ferroviária do Estado, entre a


capital Porto Alegre e São Leopoldo. No final da década de 1950, o modelo
ferroviário começou a ser substituído por modelos rodoviários. Em 1996, a última
viagem do trem de passageiros foi entre Porto Alegre e Uruguai (IPHAE, 2002,
p.19).

Na década de 1990, o RFFSA (Fundo de Poupança e Aposentadoria


Federal) foi incluído no plano nacional de privatizações, por isso foi dividido em
seis redes para fins de privatização. A malha sul tem 6.586 quilômetros de
extensão, passando pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná, e foi licitada em 1996.

Foi elaborada uma norma específica para padronizar a localização das


linhas de produção. No departamento da cidade de Bento Gonçalves, a linha de
produção estava dividida na Linha 1 (um) Porto Alegre-Uruguai, abrangendo
diversos ramais.

No período de 1910, as linhas férreas principais estavam consolidadas,


atravessando o território estadual de norte a sul, leste a oeste, interligando assim
as regiões primordiais.

Figura 5 - Malha ferroviária do Rio Grande do Sul em 1910.

Fonte: IPHAE, 2002, p. 23


32

O período de 1911 a 1919 foi marcado pela eclosão da Primeira Guerra


Mundial na comunidade internacional. Devido ao aumento das exportações para
países em conflito, a demanda por transporte aumentou, o que levou ao
aquecimento da economia local e às dívidas dos belgas causou a transferência
do controle acionário das ferrovias gaúchas para os norte-americanos. A Viação
Férrea do Rio Grande do Sul – VFRGS, surgiu e uma empresa estatal
administrou esse sistema até o final de 1950 (IPHAE, 2002, p.23).

Em 1920, ano da intervenção do Estado, um levantamento foi elaborado


de hereditariedade da rede ferroviária, onde indicava que existiam 165 estações
e/ou paradas, numa extensão de 2.328,205 quilômetros de linhas.

Figura 6 – Ferrovias em trafego no Rio Grande do Sul, 1920.

Fonte: IPHAE, 2002, p.24


33

Figura 7: Mapa dos trilhos da região sul da Viação Férrea do Rio Grande do Sul em 1954, com
destaque no município de Bento Gonçalves.

Fonte: I Centenário das ferrovias brasileiras - IBGE / CNG, Rio de Janeiro, 1954. Apresentação:
Flavio R. Cavalcanti. Disponível em: < http://vfco.brazilia.jor.br/mapas-ferroviarios/1954-
VFRGS-1-norte.shtml>

3.3 RAMAL FERROVIÁRIO DE BENTO GONÇALVES

O ramal de Bento Gonçalves foi construído pelo Governo do Estado em


1918 a partir da estação de Carlos Barbosa, na linha Porto Alegre-Caxias do Sul,
até Garibaldi, e no ano de 1919, até Bento Gonçalves. Na década de 1970, o
ramal foi estendido até a estação Jaboticaba construída no Tronco Principal Sul
(Lages, Vacaria e Roca Sales). Os trens de passageiros funcionaram até o ano
de 1976, e alguns anos depois, uma agência de viagens passou a usar as
locomotivas a vapor para o trecho entre Bento Gonçalves e Jaboticaba, mas na
década de 1990, essas locomotivas só seguiam de Bento Gonçalves até Carlos
Barbosa, na extensão original. O restante deste segmento foi abandonado para
o transporte de cargas.
34

Figura 8: A estação de Bento Gonçalves logo após sua abertura, em 1919.

Fonte: Acervo Maiquel Simonaggio - Bento Gonçalves/RS

Figura 9: O trem turístico da Giordani Turismo na plataforma da estação de Bento Gonçalves,


em 1996.

Fonte: Carlos R. Almeida. Disponível em:


<http://www.estacoesferroviarias.com.br/rs_linhaspoa/bento.htm>

Figura 10: Estação de Bento Gonçalves, 2019.

Fotografia de: Jair Prandi


35

4 SOBRE O TEMA FERROVIÁRIO NO MUNICÍPIO DE BENTO


GONÇALVES

Bento Gonçalves fica situada na Serra Gaúcha, na Mesorregião do


Nordeste Rio Grandense e pertence a Microrregião de Caxias do Sul no Estado
do Rio Grande do Sul. O município está localizado a uma longitude de 51º31’08
Oeste e a uma latitude de 29º10’15 Sul e a 691 metros de altitude, com área de
aproximadamente 274 km² (IBGE, 2020). Tem como municípios limítrofes:
Veranópolis, Cotiporã, Pinto Bandeira, Farroupilha e Garibaldi. Está a 109 km da
capital do Estado, Porto Alegre.

Figura 11 – Localização do Município de Bento Gonçalves.

Fonte: Mapas Prefeitura de Bento Gonçalves, adaptado pela autora.

O município possui população total de 121,803 habitantes, a densidade


demográfica é de 280,86 habitantes/km² com uma área de 273,955 km².

4.1 A COLONIZAÇÃO

A região territorial onde hoje é localizada a cidade de Bento Gonçalves,


em seus primórdios era habitada por imigrantes italianos que foram abrigados
em barracões, na localidade que até hoje é conhecida como Barracão. A
imigração italiana fez desta localidade, que abrigava não mais que 6.081
habitantes, uma Colônia de italianos chamada de Dona Isabel, criada em 1870,
36

já conhecida como região de Cruzinha, primeiro nome da cidade de Bento


Gonçalves. (DE PARIS, 2013, p. 37).

Figura 12 - Italianos chegando de navio no Brasil em 1907.

Fonte: Memorial do Imigrante.

Em 1875, conforme citado por Caprara e Luchese (2005), a colônia Dona


Isabel passou a receber levas numerosas de imigrantes italianos e iniciou uma
ocupação efetiva do território. Originou-se então, as colônias Dona Isabel (Bento
Gonçalves), Conde d’Eu (Garibaldi) e Nova Palmira (Caxias do Sul), tendo esses
nomes por denominação do presidente da Província de São Pedro.

De acordo com De Boni (1985) e Caprara e Luchese (2005), os primeiros


imigrantes, se estabeleceram na Linha Geral, se estabeleceu na Linha Palmeiro
e Linha Leopoldina. A segunda ocupação foi na Linha Geral. O terceiro núcleo
originado pela chegada de imigrantes italianos foi o local onde hoje se encontra
a Igreja Cristo Rei. Finalmente, em 1943, com a chegada do Batalhão
Ferroviário, formou-se o núcleo de ocupação de São Roque.

O relatório de Luighi Petrocchi, em 1905, (De Boni, 1985) mencionou que


os imigrantes foram inicialmente instalados em um vale entre dois cursos d’água,
que estava localizado na área inferior, próximo aos barracões, área mais tarde
denominada Linha Palmeiro. Por conveniência, a administração da colônia foi
transferida para um local mais elevado, no núcleo de Santo Antônio. Com a
37

transferência da administração, muitos moradores se mudaram para o local onde


posteriormente foi instalada a sede da colônia.

A colônia Dona Isabel, era cercada pelo Rio das Antas, pela Estrada
Geral, ligava São João de Montenegro à Vacaria, pela Colônia Conde D’Eu (atual
município de Garibaldi), e pela Colônia Caxias. Dona Isabel exercia algumas
atividades comerciais e produtivas nesta época, pois a Colônia precisava
produzir seus próprios bens para garantir seu sustento. Algumas atividades,
como ferrarias, alfaiatarias, cantinas, moinhos, tecelagens, entre outras,
garantiam a qualidade de vida neste árduo começo, pois, segundo alguns relatos
bibliográficos, nada foi fácil para os imigrantes nesta nova terra.

Além das atividades consideradas comerciais, os novos moradores viviam


também da produção agrícola, pois era dela que o sustento básico era extraído,
ou seja, a alimentação do dia-a-dia.

No ano de 1881 foi iniciada a abertura da primeira estrada de rodagem,


denominada Buarque de Macedo, nome dado em homenagem ao responsável
por essa trilha, ligando a Colônia Dona Isabel e Conde d'Eu a Alfredo Chaves e
região Norte do estado, mais tarde tornando-se a BR 470. Essa via ligava Conde
d’Eu à Vila de São João de Montenegro, servindo para escoamento de produção,
onde em São João de Montenegro a produção era enviada por vapores a Porto
Alegre. Essa via, de grande importância para o desenvolvimento econômico das
colônias, sofreu com o abandono da Província quanto a sua conservação.

Segundo De Paris (1999), a partir de 1910, surgiu o transporte em


carretas entre os municípios da região e Estado, até então, o transporte era feito
no lombo de mulas. Por conseguinte, nos anos de 1919 a 1927, a cidade teve
seu primeiro impulso, a primeira ferrovia foi construída, juntamente com a
instalação da luz elétrica. Após esse marco, o município manteve-se inerte até
1920. (DE PARIS, 2013, p. 39).
38

Figura 13 - Início da construção da vila de Dona Isabel, cerca de 1880.

A reforma da Igreja Santo Antônio aconteceu entre 1878 e 1887 (1ª Igreja). A rua em frente é a
Marechal Deodoro
Fonte: Gelvazia Zila Sandrin Nodari (Memórias de Bento Gonçalves)

O então presidente do Estado, José Antônio de Azevedo Castro, anunciou


em 1876 a existência de 348 lotes rurais de aproximadamente 200 por 1100
metros, medidos e demarcados. Os mesmos eram ocupados pelos imigrantes
que na chegada faziam seu registro na sede da Administração da Colônia.

Figura 14 – Centro de Bento Gonçalves, 1906.

Em primeiro plano, pode-se ver os parreirais da Família Ross. Ao fundo, a igreja Santo Antônio
sem a torre e o prédio da Prefeitura Municipal.
Fonte: Museu do Imigrante

Caprara e Luchese (2005) relatam que entre 1910 a 1950, a cidade


passou a desenvolver atividades vitivinicultoras e comercializar o restante da
produção.
39

Com o desenvolvimento da economia municipal, um novo processo


produtivo foi necessário devido às más condições das estradas. A partir de 1895,
iniciou-se o processo de solicitação da construção de uma ferrovia, inaugurada
em 1919. O local da estação férrea passa a ter inúmeras casas, que eram
ocupadas por operários da construção civil e instalações industriais e comerciais.
Este é o núcleo atual da Igreja Cristo Rei.

Em 1943, o Batalhão Ferroviário foi instalado em Bento Gonçalves, que


trouxe um crescimento demográfico para a cidade, onde desenvolveu o núcleo
de São Roque. A cidade ainda estava com uma estrutura precária, não contando
com água encanada e o transporte era feito por tração animal. O Batalhão
Ferroviário trouxe desenvolvimento em uma grande variedade de segmentos da
sociedade, compreendendo saúde, alimentação, educação, transporte,
financeiro, entretenimento, esportes e material. A extensão ferroviária, que se
conecta a Bento Gonçalves a Jaboticaba com quarenta e oito quilômetros, foi a
principal ferrovia que ligava o Rio Grande do Sul ao centro no país. (CAPRARA
E LUCHESE, 2005).

Figura 15 - Ocupação Urbana entre 1925 e 1943, demarcada sobre sistema viário atual.

Fonte: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPURB).


Mapa adaptado pela autora, 2021.
40

De acordo com a Lei nº 072 de 20 de novembro de 1962, foi criado o


Distrito de São Roque, que devido ao seu desenvolvimento foi transformado
parte em bairro e outra parte em Distrito de Tuiuty. Em 1976, a cidade era
composta por seis distritos: 1º distrito – Sede (em amarelo na figura 8), 2º distrito
– Monte Belo (verde), 3º distrito – Pinto Bandeira (vermelho), 4º distrito – Santa
Tereza (laranja escuro), 5º distrito – Faria Lemos (laranja claro) e 6º distrito –
Tuiuty (azul).

Figura 16 - Marcação dos distritos em 1976, com divisão de lotes em 1884.

Fonte: IPURB - Plano Diretor de Bento Gonçalves.

Conforme Caprara e Luchese (2005), Bento Gonçalves deu seu primeiro


impulso de progresso com a vinda da agência do Banco Nacional do Comércio
e Banco de Pelotas. Entre os anos de 1919 e 1927 ocorreu a instalação da luz
elétrica, da estação transformadora e da rede de distribuição. Foi também
inaugurado o Hospital Dr. Bartholomeu Tacchini. Sendo que em 1950, a
população era de 22.600 habitantes.
41

Figura 17 – Primeiro transformador de energia elétrica, instalado na Cidade Alta, em 1922.

Fonte: Museu do Imigrante

Figura 18 – Inauguração Hospital Dr. Bartholomeu Tacchini, 1927

Fonte: Museu do Imigrante

Caprara e Luchese (2005), apontam que o trem não conseguia atender o


ritmo de desenvolvimento e, em 1970 foi inaugurada a BR 47. Na época, esta
rodovia era chamada de RST 470, totalmente asfaltada, unindo o alto Uruguai a
Porto Alegre. Em 1975, a base econômica continuou sendo a agricultura.
42

Figura 19 - Ocupação Urbana em 1976, demarcada sobre sistema viário atual.

Fonte: Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves.


Mapa adaptado pela autora, 2021.
43

5 HISTÓRICO DO PRIMEIRO BATALHÃO FERROVIÁRIO EM BENTO GONÇALVES

De acordo com o Decreto nº 1.336 da Organização do Batalhão de Engenheiros, o


Primeiro Batalhão Ferroviário é um dos mais antigos departamentos de engenharia de
construção do Exército Brasileiro, tendo sido construído em 23 de janeiro de 1855.

Em agosto de 1888, o Exército foi reorganizado e deixou o departamento de engenharia


do 1º e 2º Batalhões. A organização do 2º Batalhão de Engenharia iniciou-se a 24 de abril de
1889 em Cachoeira do Sul. Foi o primeiro quartel-general do batalhão, tendo como primeiro
comandante o Tenente Coronel Antonio Alvez Salgado. No seu organograma constam também
uma empresa ferroviária e telégrafo como suas prescrições para a construção de linhas
ferroviárias e telegráficas. A lenda da engenharia militar começou com o propósito de implantar
infraestrutura viária no sul do Brasil. Cento e sessenta e quatro (164) anos depois, o Segundo
Batalhão de Engenharia mudou repetidamente de nome e localização, e acumulou conquistas
valiosas no departamento ferroviário nacional.

Em março de 1909, o Segundo Batalhão recebeu o nome do 3º Batalhão de Engenharia,


e em janeiro de 1918 foi nomeado de Batalhão Ferroviário - 6ª Engenharia. Em 1971, foi
reorganizado e entregue à sua sede atual na cidade de Lages, Santa Catarina (PRADO, 2002).

O município de Bento Gonçalves teve em 1943, um impulso de desenvolvimento cultural


e econômico, por motivo da chegada do 1º Batalhão Ferroviário, vindo de Santiago (SC). Os
jovens do município foram convocados para fornecer serviços militares e, em troca, educação
para treinamento pessoal e encorajar a orientação familiar. O Batalhão Ferroviário desenvolveu-
se demoradamente no sul do país, onde constituiu cerca de 1.500 quilômetros de ferrovias,
acantonando em catorze (14) cidades e espalhando seus trabalhos em mais de quarenta
municípios.

Devido à falta de infraestrutura básica, o município sofreu com algumas dificuldades,


como transporte de locomoção que era feito pela tração animal e combustível, que era raro em
razão da Segunda Guerra Mundial.

Em seguida de sua implantação, o Batalhão iniciou diversos setores, sendo eles de


alimentos, de saúde, de educação, de transporte e de cultura. Por esta razão, eles foram
importantes na sociedade e foram considerados propulsores no crescimento do município
(CAPRARA E LUCHESE, 2005). A atuação do Batalhão em Bento Gonçalves, foi de 25 de
fevereiro de 1943 a 28 de fevereiro de 1971. Sua missão era explorar e manter o sistema de
44

comunicação do Exército baseado em Porto Alegre. Atualmente, o sexto batalhão de


comunicações está no município.

No ano de 1971, oriundo de Rio Negro (PR), foi instalado o Terceiro Batalhão de
Comunicações do Exército, que permaneceu de 16 de março de 1971 a 22 de fevereiro de 1976.
Sua missão era explorar e conservar o sistema de comunicação do Exército, com sede em Porto
Alegre.

O município de Bento Gonçalves foi escolhido por ser considerada uma região em
ascensão, pela necessidade de escoar sua produção e por integrar o comércio da região com o
centro do país. E foi a chegada dos militares, transferidos do 1º Batalhão Ferroviário de Santiago,
que incrementou o desenvolvimento da cidade.

Dolmires Lunardi, relata em entrevista para o Jornal Semanário (2018), que ajudou a
construir as ferrovias que atravessam os municípios da região, na década de 60 e relata, “a
construção da ferrovia foi fundamental para o progresso da cidade de Bento Gonçalves, porque
facilitou a circulação e o escoamento da produção.” E, se emociona relembrando dos fatos, “fez
parte da minha história, da minha vida. Não sai da lembrança. Foi um trabalho prazeroso, porque
era para o desenvolvimento do país”.

Figura 20: Sede do Batalhão Ferroviário em meados dos anos 1960.

Fonte: Acervo do 1º Batalhão Ferroviário

As vilas militares do Batalhão Ferroviário são denominadas como Próprios Nacionais


Residenciais (PNRs) apresentam usos diversos aos cargos de maiores classificações, ocupando
as seguintes organizações:
45

1) Diretor de organização militar, chefe ou comandante; 2) Chefe de Estado-Maior; 3)


assistente de oficial-general; 4) Ajudante-de-ordem e chefe da segurança do Comando do
Exército; 5) Motorista do oficial-general; 6) Outros cargos específicos.

Por serem propriedade do Exército Brasileiro, os conjuntos compõem uma área


segregada em defesa das suas estratégias, como: 1) tipologias das residências militares por
nível hierárquico; 2) arquitetura preservada ou patrimônio edificado; 3) urbanismo próprio por
causa das ocupações em extensos terrenos próximo aos quartéis; 4) privatização de espaços
públicos; 5) comportamento social dos soldados os quais são obrigados a cumprir normas de
conduta e de segurança própria.

Estes conjuntos são visivelmente notáveis na sociedade, priorizando as obras originais,


sem quaisquer alterações impostas pelo mercado imobiliário ou privado. Entretanto, as
residências necessitaram de adaptações ao longo das décadas para que proporcionassem
qualidade de vida aos oficiais. As vilas possuem normas rígidas que precisam ser respeitadas e
seguidas.

Quanto às tipologias arquitetônicas, as edificações possuem padrões que são distinguidas


pela hierarquia da corporação dos oficiais, iniciando em ordem de cargos superiores. Estas são
as hierarquias dos Oficiais: 1) General do Exército; 2) General de Divisão; 3) General de Brigada;
4) Coronel; 5) Tenente Coronel; 6) Major; 7) Capitão; 8) 1º Tenente; 9) 2º Tenente. Já a hierarquia
dos Praças, são: 1) Subtenente; 2) 1º Sargento; 3) 2º Sargento; 4) 3º Sargento; 5) Cabo; 6)
Soldado EP. (SOARES, 2021).

5.1 HISTÓRICO DO 3º BATALHÃO DE COMUNICAÇÕES EM BENTO GONÇALVES

O 3º Batalhão de Comunicações (3º B Com), formou-se com base na Companhia de


Sinaleiros e Telégrafos, subunidade do 3º Batalhão de Engenharia, criada no ano de 1917, em
São Gabriel – RS, na colina histórica onde Caxias do Sul armou tendas das Forças Imperiais na
Guerra dos Farrapos.

É considerado uma Organização Militar Diretamente Subordinada ao Comando Militar do


Sul, e possui três companhias de combate. Tem capacidade de estabelecer centros de
comunicações para apoiar o comando do Corpo de Exército e da Força Terrestre Componente
nas operações.

O Decreto Nº 57.159 (1965), criou o 3º Batalhão de Comunicações que herdou o acervo


da extinta 6ª Companhia de Comunicações e estabeleceu seu aquartelamento em Rio Negro –
46

PR (1965-1970). A Organização Militar, mudou para Bento Gonçalves – RS em 1970, onde


permaneceu até 1976.

Finalmente, em 1976, Dia da Arma de Comunicações, assumiu as instalações existentes


em Porto Alegre – RS. A Unidade é pioneira na implantação do Sistema de Comunicações de
Área do Exército Brasileiro, cujos integrantes têm muito orgulho.

O 3º Batalhão de Comunicações está localizado atualmente em Porto Alegre (RS).


Homens e mulheres integram os serviços do Exército Brasileiro, além de licenciados que prestam
serviços a eles com alfaiatarias, barbearia e cantina no interior do local.

5.2 HISTÓRICO DO 6º BATALHÃO DE COMUNICAÇÕES EM BENTO GONÇALVES

As instalações que hoje são ocupadas pelo 6° Batalhão de Comunicações eram do


1°Batalhão Ferroviário, hoje 10° Batalhão de Engenharia de Construção, cujo, permanência em
Bento Gonçalves foi entre 25 de fevereiro de 1943 a 28 de fevereiro de 1971, conforme citado
no capítulo 8. Após sua saída, foi substituído pelo 3º Batalhão de Comunicações de Exército até
1976.

Antes de ser intitulado como 6°Batalhão de Comunicações, foi nomeado de 6°Batalhão


de Comunicações Divisionário, antigo 6°BComDiv, a nomenclatura foi alterada em 2003, pela
portaria n° 364 do Comandante do Exército.

A partir de 1°de novembro de 2014, o 6º Batalhão passou a apoiar à 8ª Brigada de


Infantaria Motorizada, pois teve sua subordinação alterada devido a desativação da 6ª Divisão
de Exército, como eles mudaram sua subordinação devido à desativação da 6ª divisão do
exército, servindo a comunicação.

Em 16 de agosto de 2019, por intermédio da Portaria nº 256 do Comandante do Exército,


a 6ª Divisão de Exército foi reativada com sua sede mantida em Porto Alegre - RS.

Em 19 de maio de 2020, por intermédio da Portaria nº 498 do Comandante do Exército, a


6ª Divisão de Exército foi reorganizada, passando o 6º Batalhão de Comunicações a constituir,
novamente, a “Divisão Voluntários da Pátria”.
47

6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para Minayo (2007, p. 44), metodologia é o "caminho de pensamento" da abordagem


epistemológica exigida pelo sujeito ou objetivo. Esta é também uma “apresentação adequada e
justificada dos métodos, técnicas e dos instrumentos operativos que devem ser utilizados para
as buscas relativas às indagações da investigação”.

Segundo o autor citado (2007, p. 44), esta é a era da "criatividade do pesquisado", que
deixou sua marca pessoal ao expor teorias, deixando seu pensamento e método ao responder
a questões específicas.

Quanto a este método, trata-se de um estudo qualitativo exploratório que visa melhorar a
familiaridade com as questões acima mencionadas e torná-las mais claras. Ainda segundo
Minayo (2001, p.21), “trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos
e dos fenômenos”.

Célia Ferraz de Souza (2007) compreende virtudes ao andar pelas ruas. Manifesta a
importância sobre viajar pela cidade como método de ensino e oportunidade de aprendizado
como estratégia e pesquisa para solucionar a complexidade dos fenômenos urbanos e seu
processo de configuração.

O método abrange desde a construção de um percurso, desde a ideologia norteadora a


partir da pesquisa bibliográfica em consideração aos antecedentes históricos da cidade. Ao
aprofundamento da participação no campo da pesquisa. Esses, realizados por meio de técnicas
de pesquisa direta e de registro, e finalmente uma análise específica do espaço percorrido com
ênfase em formas e tipos de vida aí desenvolvidos explicam certas partes do percurso.

Aqui se produz e reproduzem informações necessárias para a compreensão do


surgimento do Batalhão Ferroviário e sua importância para o município de Bento Gonçalves (RS),
bem como o patrimônio histórico edificado e a valorização do mesmo. Busca-se o resgate
memorial com o intuito de despertar o interesse da população em relação ao patrimônio
edificado, de Bento Gonçalves.

Como técnica, adotou-se a pesquisa bibliográfica consultada, trabalhos acadêmicos


desenvolvidos na disciplina de Evolução Urbana, orientados pela docente Patrícia Souza Cruz
(UCS), além de teses e relatórios científicos que abordavam o tema estudado, possibilitando a
investigação de conceitos e temas. Alguns dos autores citados contribuem para a construção
48

teórica, compreensão e percepção sobre o tema abordado e as conexões entre eles. Outros
trabalhos deram alicerce necessário para o significado de determinados conceitos, e
proporcionam o entrelaçamento entre a bagagem teórica trazida no curso de Arquitetura e
Urbanismo e as novas teorias aprendidas, além de contribuir e orientar a análise e o fechamento
de ideias.

Com base nesses estudos, foram necessárias investigações para definir um pré-roteiro
para o complexo, com base na pesquisa da fonte principal. Visitas, registros fotográficos,
levantamentos de campo foram realizados por meio de croquis para melhor embasar, bem como
compreender o local para posteriormente realizar a elaboração de mapas.

A escolha do tema foi baseada no interesse pessoal pela pesquisa histórica do patrimônio
histórico material e imaterial, além da colaboração para continuidade de estudos iniciados pelo
Museu do Imigrante de Bento Gonçalves.

Desde 1937, o Brasil apoia a proteção do patrimônio histórico na forma de leis, mas tem
percebido que a comunidade atual tem pouco interesse em preservar as edificações históricas.

Dessa forma, propõe-se analisar de que modo foram as transformações do Batalhão


Ferroviário de Bento Gonçalves, no tocante às evidências que possam sinalizar mudanças nas
formas e maneiras de morar, direcionadas à construção de um habitat, no período de ascensão
e desenvolvimento das atividades. Através do levantamento e análise de mapas e imagens de
sua representatividade, serão investigadas, certas constâncias e aspectos de transição e de
alterações no núcleo do Batalhão e seu entorno imediato.

Para uma maior compreensão da estrutura plural da área, outros objetivos serão
perseguidos, tais como a elaboração de fichas de inventários, de uma edificação com
importância institucional, seguindo ficha modelo encaminhada pelo Museu do Imigrante de Bento
Gonçalves. A referência utilizada para a elaboração do modelo final da ficha de inventário do
Museu do Imigrante, foi baseada no inventário de Caxias do Sul da Equipe ECIRS e TaliesEM,
escritório modelo do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Caxias do Sul que
surgiu em 2003, através de uma iniciativa estudantil com objetivo de promover o papel social da
Arquitetura.

Em maio de 2020, o Museu da Imigração deu início ao projeto “Vínculos do Legado:


Construindo um Inventário Colaborativo para Bento Gonçalves”. A lista de inventário mais
recente foi produzida em 1996, e mais pesquisas são necessárias para entender a dinâmica
hereditária da cidade. Desde então, a equipe da instituição obteve recursos materiais, contratou
49

historiadores e fotógrafos, selecionou locais rurais e urbanos para mapeamento, definiu a história
e os métodos arquitetônicos de pesquisa e organizou conversas através de oficinas de Educação
Patrimonial.

O Projeto Laços Patrimoniais foi aprovado pela Secretaria Nacional da Cultura (2019) e
tem como objetivo contabilizar os edifícios históricos e culturais de interesse da comunidade do
interior de Bento Gonçalves. O objetivo principal do projeto é valorizar a história da comunidade,
resgatando a memória dos moradores e avaliando as construções antigas e importantes desses
locais.

Assim, por meio do mapeamento inicial (incluindo consulta bibliográfica e lista atualizada
sobre o tema patrimônio de Bento Gonçalves), foi levantada a localização geográfica do conjunto
de pesquisa e as lacunas do estudo anterior foram consideradas como recortes. A museóloga
Deise Formolo destacou a continuidade desta pesquisa: “buscou-se, antes, tecer um debate
inicial, amplo e questionador sobre os diferentes aspectos patrimoniais da cidade, voltado às
premissas de uma educação para o patrimônio, ao aprofundar análises sobre origens históricas
e características arquitetônicas dos bens de forma isolada. Também por esses motivos,
abordaram-se as edificações inventariadas inseridas em conjuntos arquitetônicos e/ou roteiros
culturais”.

Além disso, o site da Prefeitura de Bento Gonçalves contará com uma série de notícias e
matérias, explanando este projeto que foi selecionado no âmbito do Edital SEDAC nº 01 2019
“FAC Educação Patrimonial”. Ao ser concluso o trabalho, será publicado um livro, juntamente
com uma exposição fotográfica.

Um artigo publicado em uma matéria disponibilizada no site de Bento Gonçalves,


repercute os resultados que serão atingidos dos oito eixos encontrados para auxiliar no diálogo
entre a história e a arquitetura.

O primeiro eixo envolve o Bairro Centro, referente ao Conjunto da Igreja Metodista, Bairro
Cidade Alta, Bairro São Roque, incluindo nesse o Complexo do Batalhão e o Conjunto da Igreja
São Roque.

O eixo um é destinado a Sede urbana – Bairro São Roque. O Bairro Centro (Cidade
Baixa), o Bairro Cidade Alta e o Bairro São Roque constituem o primeiro núcleo da ocupação
urbana da cidade e um marco da evolução do seu território, onde se localizam as principais
empresas, indústrias, instituições e clubes sociais. Dada a complexidade de patrimônio que
representam, essa abordagem é processada por meio da análise perceptual das localizações e
50

da análise da evolução urbana, por meio de fotos e mapas. Além disso, os locais são avaliados
procurando outra visão relacionada à visão tradicional, buscando representatividade e
diversidade das minorias.

No Bairro São Roque, foram identificados edifícios anteriores à chegada do Batalhão, que
passaram a fazer parte da lista, registrando as características dos imigrantes italianos,
distribuídos na Avenida São Roque, anteriormente conhecida como Estrada Buarque de
Macedo.

As edificações do Batalhão também possuem arquitetura característica e própria, que


sofreu algumas modificações ao longo do tempo, mas manteve as características de uma
edificação militar de madeira e bem conservada. Sua importância é dividida pelo complexo
formado por prédios administrativos, que inclui monumentos, prédios do clube dos sargentos e
oficiais, as residências dos mesmos, a antiga vila olímpica, hoje conhecida como Vila Nova, bem
como o antigo hospital, o escritório de projetos, grupo escolar, depósitos, locais de munições e
explosivos, além dos reservatórios e cisternas.

A relação entre o Batalhão e a ferrovia, é um ponto que pode ser melhor compreendido,
pois os mesmos perderam o acesso devido à construção de uma cerca. Além da importância
dessa relação paisagística, também pode abrir possibilidade de acordos de cooperação para
trabalhos conjuntos na preservação e melhoria dos arquivos, acervos e paisagismo ferroviário
da área.

Figura 21: Projeto Laços Patrimoniais

Fonte: Museu do Imigrante


Crédito das fotos: Wagner Meneguzzi
51

Além, da metodologia aplicada pelo Laços Patrimoniais, consultamos a ficha de inventário


da Universidade de Caxias do Sul, com valores para preservação do patrimônio arquitetônico,
valores que foram utilizados do preenchimento das fichas de inventário de Veranópolis em 2019.

O Ato Administrativo nº 67, de 26 de abril de 2021, ingressou na Câmara Municipal de


Veranópolis uma lei que prevê a proteção, preservação e promoção do patrimônio arquitetônico,
histórico, artístico e cultural da cidade. Este tema está na agenda da cidade há muitos anos e
tem causado conflitos na comunidade, porque interfere nos pertences e bens dos proprietários.

Se a medida for aprovada, entre outros efeitos, cerca de oitenta (80) prédios da cidade
passarão a ser patrimônio histórico. Por meio dessa divisão, regras foram aplicadas a essas
estruturas para garantir sua proteção, como por exemplo as fichas de inventário tomada como
embasamento para preenchimento das fichas desse relatório.

A julgar pela ordem cronológica dos fatos, a pauta partiu do Ministério Público, que
encaminhou a proposta à secretaria, comprovando a necessidade de promulgação de lei que
examine o patrimônio histórico do município. Foi realizado na Prefeitura Municipal de
Veranópolis, antes da criação do projeto, um estudo de cooperação com a Universidade de
Caxias do Sul para catalogar e pesquisar o patrimônio (BELLO E XAVIER, 2019).

Com a conclusão das pesquisas e propostas, desde então, os parlamentares têm ouvido
as opiniões de entidades ligadas à cultura urbana e proprietários de imóveis afetados, a fim de
atender às necessidades sociais de pesquisa, após o projeto será votado. (DAL PAI, 2021).
52

Figura 22: Valores para preservação do Patrimônio Arquitetônico.

Fonte: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL. Inventário arquitetônico de Veranópolis/RS. Caxias do Sul: UCS,
2019.
53

7 A ARQUITETURA DOS PAVILHÕES ADMINISTRATIVOS DOS QUARTEIS E


BATALHÕES FERROVIÁRIOS

A edificação do pavilhão administrativo, hoje pertencente ao 6º Batalhão de


Comunicações de Bento Gonçalves, tem forte relação com à topografia. Está localizado no local
mais plano do complexo, distribuído em um bloco retangular. Os edifícios próximos estão
dispostos geometricamente ao redor do pátio, modelo também utilizado nas Forças Armadas
dos Estados Unidos na segunda metade do século XIX e início do século XX, sendo denominado
quadrilátero ou foursquare shape. (BONATES, 2018).

Figura 23: Locação do quartel de Santa Maria (RS)

Fonte: BONATES.
SIMONSEN, op. cit., 1931

O movimento arquitetônico dos pavilhões é consistente, principalmente os de função


administrativa. Geralmente, ficam localizados próximos à entrada dos quartéis, apresentam uma
estrutura plástica, marcada por uma forma retangular, principalmente com cobertura de quatro
águas. As fachadas, são baseadas no princípio da composição clássica (simetria e frontão, com
acesso bem marcado). No entanto, não possui ornamentos, e incorpora parcialmente alguns
elementos geométricos, assim como em diversos edifícios institucionais construídos no processo
de modernização do país nas décadas seguintes.
54

Dependendo do uso, eram adequados como "pretensões de monumentalidade", como em


edifícios institucionais, ou ainda para refletirem "imagem de modernidade com parcimônia de
meios e economia de custos", como em fábricas.

No caso dos quartéis, pela sua composição clássica simétrica e empenas, os elementos
encontram-se parcialmente apropriados em edifícios monumentais, mas ao mesmo tempo
podem refletir rigidez e eficiência, a condizer com a imagem de uma organização militar que se
esforça por transmitir.

Quer sejam tradicionais ou desmontáveis, os quartéis mudaram a paisagem em que foram


implantados e criaram marcos usando materiais de construção razoáveis e habilidade para
construir edifícios saudáveis. (BONATES, 2018).

Quanto a composição do Pavilhão Administrativo do 6º Batalhão de Comunicações de


Bento Gonçalves, nota-se que a distribuição interna ocupa um lugar importante na construção
de ideias particularmente relacionadas com edifícios ferroviários. Dentre as várias combinações
e possibilidades de organização interna geradas pelas diversas tipologias pesquisadas, destaca-
se a combinação horizontal formada pela integração da parte central do edifício com as alas
laterais, dispostas quase que simetricamente, conforme anexo demonstra através de fachadas
e plantas técnicas.

A composição de um pavilhão central com duas alas é considerada a mais recomendada


do que outras disposições possíveis. Além de apresentar um "aspecto de fachada bastante
satisfatório", a solução também permite uma construção mais simplificada, que contém apenas
o bloco central, e posteriormente acrescenta-se mais duas alas. (MOREIRA, 2007).

Além do pavilhão administrativo, o pátio conta com outras construções, como tanques de
água, alojamentos, salas de informações, instalações sanitárias e outros edifícios menos
comuns. Embora em circunstâncias normais, apresentam-se como estruturas retangulares
simples, acredita-se que as distribuições internas não sejam mais complicadas. As caixas de
água, localizadas em diversos locais do complexo são um elemento importante na construção
em termos de ferrovia, especialmente durante a operação de locomotivas a vapor. Ao lado do
Pavilhão Administrativo, encontram-se algumas caixas para fins de abastecimento dessa área.

Portanto, constata-se que o Pavilhão Administrativo de um quartel ou batalhão é de


extrema importância, tendo em vista sua imponência comparada com os demais edifícios do
conjunto.
55

8 ESTUDOS DE EVOLUÇÃO URBANA DO 1º BATALHÃO FERROVIÁRIO AO 6º


BATALHÃO DE COMUNICAÇÕES EM BENTO GONÇALVES

No ano de 1943, um batalhão de força militar foi criado pela primeira vez na Serra Gaúcha.
A cidade de Bento Gonçalves, foi escolhida por ser considerada uma região em ascensão, pela
necessidade de escoar sua produção e por integrar o comércio da região com o centro do país.
Além disso, conforme relato de Vânia Kratz Mendes (2021), o local escolhido para sediar o
Batalhão Ferroviário era em Jaboticaba, mas acabou sendo na zona urbana da cidade, pois o
prefeito da época pediu para o comandante e incentivou dizendo que na área central da cidade
seria melhor. Dessa forma, a chegada dos militares, transferidos do 1º Batalhão Ferroviário de
Santiago (RS), incrementou o desenvolvimento da cidade.
A base construída pelo batalhão ferroviário no bairro São Roque contava com várias
instalações de oficinas, alojamentos, pavilhões administrativos e técnicos, vilas residenciais,
hospital, ginásio, campo de futebol, cinema, açude e granja. Instalações essas que atendiam a
infraestrutura necessária naquele período.

Figura 24: Conjunto do Batalhão Ferroviário, década de 60.

Fonte: Museu Ferroviário de Lages (SC).


56

Figura 25: Mapa evolutivo Batalhão Ferroviário, anos 60.

Legenda: 1) Administrativo; 2) Hospital; 3) Grupo Escolar; 4) Cia Comando Sv; 5) Almoxarifado; 6) Oficinas Gerais; 7) Estádio
e Cinema; 8) Clube e Residências de Oficiais; 9) Clube e Residências de Sargentos; 10) Vila Olímpica Residências Civis; 11)
Vila Operária Residências Civis; 12) Vila Primavera Residências Civis; 13) Açude; 14) Granja; 15) Sistema de Agendamento
Eletrônico (SAE).

Fonte: Elaborado pela autora.

Desde a construção do conjunto, as edificações do Batalhão encontravam-se organizadas


em nichos, mesclando as edificações institucionais com residências de diversas patentes do
exército, conforme figura 23. Nota-se que as edificações com classificação mais imponente,
eram maiores e ficavam em um único conjunto e mais próximas da sede administrativa.
57

A Companhia Construtora de Santos (BONATES, 2018), estabeleceu um método de


construção baseado em padrões de implementação e padronização e processos de produção
em massa. Existem cinco padrões de implementação, sendo eles:

1) terrenos localizados em situação dominante sobre a cidade em termos de facilidade


de acesso, de transporte e de infraestrutura;

2) composição do solo quanto à resistência;

3) condições topográficas e orientação geográfica, considerando-se os ventos


dominantes;

4) necessidades internas de bom funcionamento; e

5) cuidados em relação às povoações.

Dessa maneira, observa-se o posicionamento estratégico das edificações, como o


pavilhão administrativo, que está implantado em um local mais plano do complexo e com um
visual privilegiado. Assim este edifício, por ser o primeiro, distribuiu todos os demais usos do seu
entorno, seguindo a lógica das edificações imponentes e, centralizadas. Já as residências, por
necessitarem de privacidade foram situadas no perímetro da implantação. Pode-se observar, a
economia e racionalidade da construção, bem como a unidade estética do conjunto construído.

As habitações do local foram produzidas em massa, com casas unifamiliares e de baixo


custo. Segundo Bonduki (2017, p.81), projetos como estes foram desenvolvidos nacionalmente
na era Vargas, na qual a habitação era considerada uma condição básica para a reprodução do
trabalho e, portanto, um fator econômico na estratégia de industrialização do país. Além disso, a
habitação era um elemento na formação da ideologia da política e da moralidade trabalhista.

O autor ainda relata que reduzir as despesas efetivas dos trabalhadores com habitação,
reduziria significativamente os custos trabalhistas, racionalizando a construção e diminuindo
padrões legais. (BONDUKI, 2017, p. 85).

Desse modo, além das edificações do Batalhão Ferroviário serem de baixo custo, (visando
a produção em massa), as mesmas, eram de madeira, pois a qualquer momento poderiam ser
transportadas para outro local. Ou seja, estas casas precisavam ser adaptáveis para o transporte
rápido, como que ainda estão presentes no primeiro Batalhão Ferroviário, que “vieram
transportadas de Santiago (RS) pelo trem em módulos e instaladas no complexo” (Mendes,
2021).
58

O Capitão Donizete Luiz Bianchini, responsável pela comunicação social do 1º Batalhão


Ferroviário de Lages (SC) - em entrevista concedida a autora em junho de 2021), acredita que a
Vila Primavera, dos Residenciais Civis (12), não existe mais no conjunto do Batalhão Ferroviário.
Logo, acredita que o que se pode encontrar são resquícios dessas construções.

Figura 26: Complexo do Batalhão Ferroviário - vista leste. Visualizam-se o estádio e o cinema no centro da foto, o
rancho à esquerda e as casas de sargentos à direita. Aproximadamente década de 1950.

Fonte: Museu do Imigrante

Figura 27: Conjunto do 1º Batalhão de Ferroviário de Bento Gonçalves. Ao fundo da imagem nota-se a Igreja São
Roque e O Cinema do Batalhão, 1963.

Fonte: Cópias digitais doadas por Altair Fernandes ao Museu do Imigrante, 2020.
59

Ao analisar as figuras apresentadas a cima, identificam-se alterações na praça à direita,


juntamente com a ampliação do cinema, a Igreja de São Roque já construída e a evolução do
Bairro São Roque ao fundo.

Conforme entrevista feita por alunas do Curso de Arquitetura e Urbanismo (UCS), Duani
Michellon Mazoco e Juliana Ceccon (2002/2), moradora há oitenta anos do bairro São Roque,
Doroti Viana Nunes, acompanhou o desenvolvimento do bairro através do apoio do Batalhão
Ferroviário. Nascida em Santiago, ela é filha de Tadeu Nascimento Viana, que foi servidor do
batalhão, trabalhando como carpinteiro, além de ter sido voluntário na construção da Igreja de
São Roque. Sua mãe, Aurora Antunes, era costureira, fazia os uniformes dos soldados.

Ao chegar no bairro, relembra que era apenas mato, haviam somente as colônias, Dona
Doroti morou quase dez anos em uma cabana (barraco). Os militares moravam nas casas da
vila militar, já os empregados civis, com o passar dos anos, ganharam terrenos para construir
suas casas, originando as vilas.

Figura 28: Vista geral do Complexo do Batalhão Ferroviário (sem data).

Fonte: Museu do Imigrante – MUSIBG

Lucas Lucca, entrevistou o administrador Roque Coser, para a edição especial Integração
da Serra. Coser, era filho e neto de soldados do 1º Batalhão Ferroviário, o grupamento teve
atuação destacada nos mais diferentes segmentos da sociedade. Ressalta ainda que a
corporação foi responsável pela construção da Igreja São Roque e de capelas nas linhas
Veríssimo de Matos e São Luís das Antas.
60

Caprara e Luchese (2005), ainda fazem destaque sobre a Igreja de São Roque, “A
pequena capela, primeiramente construída no lote 29 (atual bairro Aparecida), era de madeira e
servia para a reza do terço em torno da imagem de São Roque, santo protetor das doenças. A
segunda capela foi construída onde hoje está a atual praça São Roque. Por volta de 1939, no
outro lado da praça, foi construída a terceira capela, que, em 1956, foi elevada à condição de
paróquia”.

Figura 29: Imagem da esquerda: Igreja São Roque, década de 1950, com a primeira Igreja;
Imagem da direita: Igreja São Roque, 1963, com as duas Igrejas construídas e o edifício do cinema.

Fonte: Museu do Imigrante.

Em termos de saúde, o hospital da Vila Militar prestou serviços de atendimentos


ambulatoriais, de cirurgia geral, traumatologia, ortopedia, ginecologia e obstetrícia, urologia,
fisioterapia e radiologia. O local contava com laboratório e farmácia. No hospital militar também
eram feitos atendimentos odontológicos. Coser salienta que é incalculável o vulto da assistência
à saúde de Bento Gonçalves, prestada pela assistência médica, hospitalar e odontológica do 1º
Batalhão. (LUCCA, 2015).
61

Figura 30: Hospital Militar, 1959.

Fonte: Arquivo pessoal de Roque Coser. Fotógrafo desconhecido.

Após a saída do Batalhão Ferroviário, em 1971, as instalações passaram a servir de


quartel para o 3º Batalhão de Comunicação do Exército (3º BComEx) até o ano 1976, data em
que foi transferido para Porto Alegre. O foco principal do quartel local passou a ser a
comunicação e não mais a construção.

Figura 31: Antigo Hospital, atualmente a 8º Cia Com.

Fonte: Arquivo do Museu do Imigrante (sem data, fotógrafo desconhecido).

Dessa forma, percebe-se que desde o início da vinda do Batalhão a cidade teve um
impulso no crescimento populacional e urbano desse perímetro. A vinda da população para essa
região era a promessa de um bom trabalho e melhores condições de vida, cujo o Batalhão
oferecia. As edificações administrativas, construídas pelo Batalhão Ferroviário em 1943
permanecem até hoje no conjunto, apenas com algumas funcionalidades diferentes, conforme
figura 30:
62

Figura 32: Mapa evolutivo 3º Batalhão de Comunicações Ferroviário, 1987.

11

Legenda: 1) Administrativo; 2) Auditório Presidente; 3) Alojamento; 4) Garagens Viaturas; 5) Estádio; 6) Curumim; 7)


Residência Sargentos – Vila Velha; 8) Residência Civis - Vila Olímpica; 9) 8º Cia Com; 10) Enfermaria; 11) Espaço cultural (clube
dos sargentos e subtenentes).

Fonte: Elaborado pela autora.

Tendo em vista os dois mapas apresentados, é possível perceber que entre os anos de
1860 e 1987, diversas foram as modificações do complexo, usos foram alterados para melhor
atender a infraestrutura necessária para o 3º Batalhão de Comunicações e consequentemente
para o 6º Batalhão de Comunicações, conforme Vânia Kratz Mendes (2021), relatou em
entrevista. Como exemplo, o Curumin (6) era nos anos 60 o clube dos Oficiais, onde reuniam-se
para festas, e qualquer pessoa podia entrar. Atualmente, encontra-se o Espaço Cultural
63

Presidente Geisel (11), qual era o clube dos Sargentos e Subtenentes, na década de 40, e
somente convidados de classe alta poderiam participar dos encontros. Vânia (2021) relata que
nesse espaço era o sonho das mulheres solteiras, pois ali conheceriam um futuro namorado que
fosse um Oficial.

Relata ainda, que aos fundos do cinema, havia um espaço conhecido como clube do
bolão, cujo denominação era 26 de Julho, um clube dos civis. Além disso, o ginásio de esportes
que havia no tempo do Batalhão Ferroviário e o cinema, foram demolidos, pois teoricamente não
tinham dinheiro suficiente para manter essas estruturas no local. E que o campo de futebol da
época recebeu vários times grandes, por ser o único que contava com uma arquibancada.

O Batalhão Ferroviário, sempre procurou prestar serviços para toda comunidade, por isso
teve grande relevância para o Bairro São Roque e toda a cidade de Bento Gonçalves. O pai de
Vânia, o Sr. Valto Kratz era responsável pelas fotografias dos locais. Além disso, ele fotografava
os cidadãos que residiam próximos as áreas que estavam sendo construída a linha férrea e os
túneis, para a emissão de documentos, pois o deslocamento para o centro era limitado. Além de
todas essas modificações, o hospital também teve alteração de seu uso para auditório.

Ao saber da saída do 3º BComEx, em 1976, a população da cidade mobilizou-se. O então


Presidente da República Bento Gonçalvense Ernesto Geisel, criou o Batalhão de Comunicações
da 6ª Divisão (6º Batalhão BcomDiv). A nova equipe começou a ocupar as instalações do 1º
Batalhão Ferroviário e do 3º Batalhão de Comunicações.

Nota-se pouca diferença dos anos de 1987 para os dias atuais, o conjunto, permanece
como antigamente, apenas com melhorias arquitetônicas nas edificações, e o entorno do bairro
continua a expandir no sentido norte, novos lotes foram criados e muito deles ainda estão
desocupados.
64

Figura 33: Mapa evolutivo 6º Batalhão de Comunicações Ferroviário, 2021.

Legenda: 1) Administrativo; 2) 15ª Companhia de Comunicações Mecanizada; 3) Alojamento; 4) Garagens Viaturas; 5)


Estádio; 6) Curumim; 7) Residência Sargentos – Vila Velha; 8) Residência Civis - Vila Olímpica; 9) 8º Cia Com; 10) Enfermaria;
11) Espaço cultural (clube dos sargentos e subtenentes).

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 34: 6º Batalhão de Comunicações

Fonte: 6º Batalhão de Comunicações – Museu do Imigrante. (sem data, fotógrafo desconhecido).


65

Dessa forma, conclui-se que o 1º Batalhão Ferroviário foi um vetor de força para o
desenvolvimento do município de Bento Gonçalves, no sentido norte, o qual incentivou o
progresso na região. Através de histórias, pesquisas e análises, percebe-se a expansão do
núcleo central da cidade, pois o centro estagnou de certa forma com a chegada do Batalhão e o
núcleo de maior fluxo passou a ser o Bairro São Roque.
Além deste bairro ser de grande importância para o município, a Avenida São Roque
também é, como nota-se na figura 33, pois praticamente corta o município de norte a sul e sua
origem é de suma relevância. (CÉSAR, 2016).
Em 1881 a abertura da estrada de Buarque de Macedo entre Bento Gonçalves e São
João de Montenegro, expandiu-se para o norte e construiu linearmente o núcleo. Na região leste,
o projeto de expansão gira em torno da rodovia Júlio de Castilhos, que liga Farroupilha ao
Barracão da ex-Colônia Dona Isabel. A partir da rodovia Júlio de Castilhos, a rodovia Silveira
Martins, também conhecida como Linha Palmira, é a primeira ligação direta entre Bento
Gonçalves e o núcleo de Caxias do Sul. (KAUTZMANN, 1986).
A ligação ferroviária, em 1919, de Bento Gonçalves a Porto Alegre propiciou a expansão
da cidade na vertente Sul. Graças à ferrovia, do ponto de vista visual, é possível observar a
expansão ao Norte pela Buarque de Macedo, o distrito de São Roque (Av. São Roque), e a leste,
pela estrada Júlio de Castilhos, a Linha Palmira.
O 1º Batalhão Ferroviário foi indicado como um símbolo de “progresso e desenvolvimento”
da comunidade, localização privilegiada, a qual foi planificada para melhor dispor da
infraestrutura. Vânia (2021) lembra que seu pai comentava que com a chegada dos militares,
tudo mudou. “Em termos de infraestrutura, o acampamento trouxe grandes mudanças para a
área local durante seu tempo. Além de estruturas públicas, como estradas e veículos, a estrutura
das moradias das famílias também passou por mudanças positivas”. (MENDES, 2021)
Deve-se destacar que essas moradias são elementos importantes da cultura, que se
desenvolveu claramente no entorno do Batalhão, de acordo com o período e a trajetória histórica
testemunhada e sofreu uma autorreforma ao longo dos anos. Hoje, essas construções são a
principal fonte de memória e preservação histórica da região. Para Bento Gonçalves, estas
constituem o patrimônio arquitetônico da cidade.
O perímetro do Batalhão Ferroviário existente desde a época de sua construção é um
entrave urbano, não permitindo que as edificações subam em alturas, com pouca densidade.
Dessa forma, gera um “congelamento” do crescimento urbano nessa região. Por esse motivo,
deve ser valorizado e protegido para que esse histórico não seja comprometido por falta de
legislação.
66

Por fim e como já comentado, a relevância desse complexo é imensurável, desde o


crescimento da cidade, como o crescimento da população que ali pode prestar serviços. É uma
instituição permanente que apoiou e apoia qualquer país em tempos de crise. Em Bento
Gonçalves, os militares ajudaram a restaurar escolas e organizações de assistência social,
realizaram palestras e transmitiram mensagens da sociedade civil aos alunos.

Figura 35 - Ocupação Urbana atual, demarcada sobre sistema viário.

Fonte: Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves.


Mapa adaptado pela autora, 2021.
67

9 LEVANTAMENTO DE PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO

A definição do objeto de estudo para levantamento foi realizada em conjunto com a equipe
administrativa do Museu do Imigrante de Bento Gonçalves. A participação das responsáveis pelo
projeto Laços Patrimoniais, na visita ao complexo do Batalhão Ferroviário foi crucial para a
compreensão do local.
Abaixo segue o levantamento da edificação escolhida: o pavilhão administrativo do
complexo. Ressalta-se que foi seguida fielmente a ficha de inventário do Projeto Laços
Patrimoniais.

GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA
PREFEITURA MUNICIPAL DE BENTO GONÇALVES
SECRETARIA DE CULTURA – MUSEU DO
IMIGRANTE
INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO

1. FICHA Nº: 1 Eixo 8.3 LOCALIDADE: São Roque

2. IDENTIFICAÇÃO
Denominação: Complexo Administrativo
Endereço/ Localização: Avenida São Roque, nº 1935, Rua Giácomo Baccin, Ruas
Antônio Zatt, Ário Dall’Omo, Lino Lunelli, Arcângelo Morassutti, Frederico Ziero e
Constantino Grando
Roteiro Turístico: Roteiro São Roque APPAC: São Roque e Batalhão
Latitude: 29º08’23”S Longitude: 51º32’16”O
Proprietário: União - 6º Batalhão de Comunicações
Uso original: Pavilhão Administrativo Uso atual: Pavilhão Administrativo do 6º
Batalhão Ferroviário Batalhão de Comunicações
Recorte Temático: Patrimônio ferroviário
68

3. MAPA
Figura 01: Mapa Conjunto Batalhão Ferroviário com edificação analisada demarcada.

Veranópolis

Garibaldi
PERCURSO DEFINIDO PARA ROTEIRO BR 470

EDIFICAÇÃO ANALISADA NA FICHA LINHA FÉRREA

AVENIDA SÃO ROQUE


Garibaldi
RUA GIÁCOMO BACCIN (ESTRADA GERAL)

Fonte: Google Earth (2021), adaptado pela autora.

4. LOCALIZAÇÃO
Figura 02: Localização Pavilhão Administrativo.

Fonte: Google Earth (2021), adaptado pela autora.


69

5. FOTOS DA EDIFICAÇÃO
Figura 03: Fachada Norte – possível identificar a troca de material de cobertura e
nova pintura, comparando com a fachada do antigo Batalhão Ferroviário (Figura 09).

Fonte: da autora, 2021.

Figura 04: Detalhes porta acesso principal e janelas da Fachada Norte

Fonte: da autora, 2021.

Figura 05: Fachada Leste

Fonte: da autora, 2021.


70

Figura 06: Fachada Sul

Fonte: da autora, 2021.

Figura 07: Fachada Oeste

Fonte: da autora, 2021.

6. SÍNTESE HISTÓRICA
O 1º Batalhão de Engenheiros de Construção é originário da Ala Esquerda do
Batalhão de Engenheiros, que foi instituído pela Corte Portuguesa por meio do Decreto
número 1.536, de 23 de janeiro de 1855. É uma das unidades militares mais antigas e
tradicionais do Brasil.
O 10º Batalhão de Engenharia de Construção tem um grande número de projetos
e realizações no Sul do País, com mais de dois mil quilômetros de ferrovias, mais de
oitenta e seis quilômetros de implantação e pavimentação de rodovias, dezesseis
quilômetros de pontes e viadutos e quase trinta e sete quilômetros de túneis ferroviários.
Entre os muitos projetos importantes, destaca-se o EF-116 (TPS - Tronco Principal Sul)
e EF-491 (Ferrovia do Trigo), agregando uma fração impressionante de túneis, pontes e
viadutos (PRADO, 2002).
O município de Bento Gonçalves teve em 1943, um impulso de desenvolvimento
cultural e econômico, por motivo da chegada do 1º Batalhão Ferroviário, vindo de
Santiago (SC). Os jovens do município foram convocados para fornecer serviços
militares e, em troca, educação para treinamento pessoal e encorajar a orientação
71

familiar. O Batalhão Ferroviário, desenvolveu-se demoradamente no sul do país, onde


constituiu cerca de 1.500 quilômetros de ferrovias, acantonando em catorze (14) cidades
e espalhando seus trabalhos em mais de quarenta municípios. Foi responsável pela
contrução de parte do Ramal Tronco Principal Sul (TPS), que liga o Rio Grande do Sul a
São Paulo, fixando-se em diferentes locais do município, mas com sua sede no Bairro
São Roque.
Para a construção da linha férrea, o Primeiro Batalhão Ferroviário construiu as
vilas ferroviárias. Durante todo o processo de construção do ramal, os militares e civis
envolvidos nas obras permaneceram nesses locais. É importante notar que o os edifícios
nessas localidades seguem a estética do padrão e fácil de identificar. Por outro lado,
esse modelo estético ainda é visível em todas as militares de estilo antigo, e seu projeto
arquitetônico enfatiza a hierarquia militar, ou seja, a hierarquia e as funções dos
residentes. Atualmente, sua estrutura pertence ao 6º Batalhão de Comunicações do
Exército, que tem sede em Bento Gonçalves (RS). (BERTOCO, 2021).

7. ARQUITETURA - ELEMENTOS FORMAIS, TIPOLÓGICOS E CONSTRUTIVOS


Época construção: Pavimentos: 2
Tipologia: Bandeirista Preservação: Alterado
Aproximadamente 1943 Térreo + subsolo
Materiais: paredes de madeira com base de alvenaria com acabamento
Conservação: bom
de reboco pintado e basalto nos pilares da fachada norte e sul e escada.
Telhado: 4 águas com beiral e telha ficrocimento Porão X Sótão Outro Soco
Esquadrias: madeira e vidros Outros: não se aplica
Acabamentos: Piso, divisórias internas e forro em madeira, base em alvenaria rebocadas e pintadas.

Descrição:
Volume retangular de madeira, com combinação horizontal formada pela integração da
parte central do edifício com as alas laterais, dispostas quase que simetricamente (norte e
sul), com base em alvenaria rebocadas e pintadas. Há presença de varanda,
compreendido por uma cobertura apoiado sob pilares de alvenaria com revestimento de
pedra basalto.

8. OBSERVAÇÕES (Etnológicas, arqueológicas, bens móveis integrados, etc).


X Espaço de memória X Oficinas culturais Gastronomia Agroindústria
típica
Patrimônio imaterial X Outros patrimônios: Acervo de Francisco Pértile e arquivo
Junto ao edifício da administração encontra-se um memorial referente a Segunda
Guerra Mundial, com destaque para o acervo e memórias da Pracinha Francisco Pértile,
fotos, objetos e documentos do acampamento da cidade, bem como a antiga galeria os
ex-comandantes. Existem arquivos internos da época de Comunicações, mas algumas
coleções do Primeiro Batalhão Ferroviário encontram-se atualmente no Museu do Primeiro
Batalhão Ferroviário de Lages. Os desfiles e treinamentos nas ruas da cidade são notáveis,
assim como as ações de interesse público, como o Projeto Social Pelotão Curumim, onde
há potencial para organização e realização de seminários/oficinas culturais, juntamente
72

com o Projeto Esperança, uma vez que já sediou oficinas para artistas da cidade.
(BERTOCO, Cristiane, 2021).

9. CLASSIFICAÇÃO (Lei Complementar 200 de 27/07/2018 – Anexo 5.4. ME – Art. 5º).


X Nível 1 X Nivel 2 Nivel 3 Nivel 4
A forte presença de instituições militares na estrutura econômica de Bento
Gonçalves justifica a proteção do complexo do Batalhão Ferroviário no Bairro São Roque,
sendo considerado o terceiro marco na evolução urbana da cidade. Tendo em conta a sua
arquitetura moderna em madeira e a manutenção do uso original da paisagem, estes
edifícios estão bem protegidos em termos de proteção material e autenticidade.
A classificação das edificações deve ser avaliada por meio de visitas e
levantamentos arquitetônicos, levando em consideração as necessidades da instituição
para modificações e adequações de uso necessários para cada conjunto edificado.
(BERTOCO, Cristiane, 2021).

10. REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA RELACIONADA


CARDOSO, Alice; ZAMIN, Frinéia. Patrimônio Ferroviáriono Rio Grande do Sul: inventário
das estações 1874 -1959. Porto Alegre: IPHAE, 2002. (pte1, pte2, pte3 e pte4);
PARIS, Assunta De (coord). Memórias: Bento Gonçalves – RS –fundamentação histórica.
Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves: Arquivo Histórico Municipal, 2006;
PRADO, Emanuel Marcos Cruz. 10º Batalhão de Engenharia de Construção. Lages, SC:
Grafine. 2002.
BERTOCO, Cristiane. Museu do Imigrante de Bento Gonçalves, 2021.
MENDES, Vania Krotz. Acervo fotográfico. Entrevista concedida a Aline Tessaro e Rudiane
Zacaria em 19 mai. 2021.

11. PESQUISADORES DATA


Rudiane Zacaria 10/07/2021
73

MÓDULO COMPLEMENTAR DE PAISAGEM E ACERVO

1. FICHA Nº: 1 Eixo 8.3 LOCALIDADE: São Roque

12. ENTORNO - ELEMENTOS DA PAISAGEM


Altura edificações: 2 PAVIMENTOS Tipo de parcelamento do solo:
Usos no entorno Agropecuária Residencial X Comercial X Industrial X Turístico
Elementos naturais Rios/ arroios Lagos/ açudes Mata nativa Araucárias X Mirante
Vinhedos² Latada Espaldeira Pérgola Em lira Em Y
Apoio vinhedos² Plátanos Pedras/ muros X Moirões Quebra vento Roseiras
Vegetação/ cultivo Hortas Pomar Jardins X Jerivás Outros X
Criação animais Aves Bovinos Ovinos Suínos Eqüinos
Outros:

Descrição:
O Pavilhão Administrativo do 6º Batalhão de Comunicações encontra-se centralizado no
complexo. O edifício está situado próximo a um bairro predominantemente residencial,
São Roque, próximo a escolas, com destaque a Faculdade Cenecista, à Igreja São
Roque, a padarias, a gráficas, a floricultura, ao supermercado Grepar, entre outros.

13. ICONOGRAFIA/ DOCUMENTOS

Figura 09: Imagem área do antigo Batalhão Ferroviário, nota-se que as


edificações eram todas na cor branca, com cobertura em telhas de barro. (Sem
data, fotógrafo desconhecido).

Fonte: Acervo Vânia Kratz Mendes


74

Figura 10: Vista das edificações do Primeiro Batalhão Ferroviário em 1943.

Fonte: Acervo Vânia Kratz Mendes

Figura 11: Complexo do Batalhão Ferroviário - vista sul. Identificam-se as principais


construções da sede, com frente para a Avenida São Roque. Aproximadamente década
de 1950.

Fonte: Acervo Vânia Kratz Mendes


75

12. VALORES PARA INVENTÁRIO


ARQUITETÔNICO REFERÊNCIA CONSTRUTIVOS CENOGRÁFICOS
Morfológico X Histórico X Técnico Contextual X
Tipológico X Antiguidade X Constituição Conjunto X
Raridade X Bibliográfico X Risco X Marco Visual
Compatibilidade X Reconhecimento X Conservação X
Integridade X Locacional X
FUNCIONAIS SALVAGUARDA
Uso Original X Proteção Federal
Reciclagem X Proteção Estadual
Uso Peculiar Proteção Municipal X
Fonte: BELLO, Helton Estivalet & XAVIER, Luiz Merino de Freitas. Oficinas de patrimônio arquitetônico.
In: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL. Inventário arquitetônico de Veranópolis/RS. Caxias do Sul: UCS,
2019.

13. PESQUISADORES DATA


Rudiane Zacaria 10/07/2021
76

MÓDULO COMPLEMENTAR DE LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO

FICHA Nº: 1 Eixo 8.3 LOCALIDADE: São Roque

14. LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO

Divisórias internas, conforme levantado “in loco”, mas sem precisão de medidas

A planta do subsolo, poderia passar por um levantamento mais aprofundado na próxima etapa.

Fonte: Levantamento feito “in loco”, feito pela autora.


77

Fonte: Levantamento feito “in loco”, feito pela autora.

15. PESQUISADORES 16. DATA


Rudiane Zacaria 10/07/2021
73

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer da pesquisa pode-se compreender que “o patrimônio não é


composto só de coisas belas, só de obras-primas. O patrimônio é o que a gente tem”
(LEMOS, 2013, p. 141).

Para entender a importância da pesquisa realizada, foi necessário primeiro


compreender o significado do termo “patrimônio” e a sua relevância, uma vez que
produz um conjunto de bens instituídos pelas gerações passadas e deixados como
forma de herança a gerações futuras.

O patrimônio cultural, quer seja pela sua qualidade arquitetônica, quer seja pela
sua ligação ao local, tem a capacidade de gerar o sentido de pertencimento e dar
continuidade a história, a cultura e aos valores de grupos. A partir do momento em
que a comunidade compreende seu patrimônio e reconhece seu valor, também
reconhece a necessidade e a responsabilidade de protegê-lo e preservá-lo.

Sob essa premissa, é essencial o incentivo à educação patrimonial em Bento


Gonçalves, para mostrar às pessoas a riqueza do patrimônio existente, através de
imagens, levantamentos evolutivos e histórias. Além disso, faz-se necessário a
implementação de novas políticas públicas para fortalecer esses incentivos e
aumentar as condições de proteção desses exemplares.

Notou-se uma considerável preservação do patrimônio do Batalhão Ferroviário.


Todos os edifícios mantêm-se com sua estrutura original, sofrendo algumas
intervenções, como a troca da madeira de algumas fachadas e elementos que foram
degradados pelas intempéries que precisaram ser trocados. É nítida a necessidade
de realizar um levantamento das edificações com potencial de preservação desse
complexo tão importante para o município de Bento Gonçalves (RS). Ainda ressalta-
se a necessidade de investigação dos edifícios com potencial de proteção em toda a
cidade e implementação de políticas mais rigorosas para proteger esses edifícios.

Dessa forma, este relatório é baseado na pesquisa realizada e visa contribuir


para a investigação e criação de materiais que ajudem a proteger o patrimônio
arquitetônico do Batalhão Ferroviário, salvar a memória coletiva dos moradores e
74

registrar suas características através da evolução urbana e levantamento do pavilhão


administrativo.

Por fim, além de apoiar o projeto “Laços Patrimoniais”, o objetivo foi de ampliar a
compreensão e a valorização do patrimônio histórico. Fica o desejo que esta pesquisa
possa contribuir para pesquisas futuras, bem como ser complementada dentro do
projeto como material educacional voltado a população. Espera-se também estimular
o reconhecimento do patrimônio como elemento de representação da identidade e
memória do Batalhão Ferroviário. As expectativas são positivas, tendo em vista que
há outros edifícios a serem levantados por alunos de estágio, como a antiga escola e
hospital – exemplares apontados pelo Museu como passíveis de inventariação
individual, uma vez que é necessário incentivo turístico no eixo norte da cidade.
75

11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARRUDA, Renato; RANGEL, Márcio. Patrimônio Mundial: Implicações no


Processo de Preservação no Brasil. Florianópolis, 2016.

BENTO GONÇALVES, Plano Diretor Municipal, 2018.

BIANCHINI, Donizete Luiz. Capitão do 1º Batalhão Ferroviário de Lages/RS.


Entrevista concedida a Aline Tessaro e Rudiane Zacaria. 20 abril 2021.

BRASIL. Constituição Federal de 1937. Brasília, DF: Presidência da República,


Getúlio Vargas, [1937]. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm> Acesso em 08
de maio 2021.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Brasília, DF: Presidência da República,


José Sarney, [1988]. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm#:~:text=I%20%2D
%20construir%20uma%20sociedade%20livre,quaisquer%20outras%20formas%20d
e%20discrimina%C3%A7%C3%A3o.> Acesso em 08 de maio 2021.

BRASIL, Decreto Lei nº 11.483, de 31 de maio de 2007. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11483.htm > Acesso em
08 de maio 2021.

BELLO, Helton Estivalet & XAVIER, Luiz Merino de Freitas. Oficinas de patrimônio
arquitetônico. In: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL. Inventário arquitetônico de
Veranópolis/RS. Caxias do Sul: UCS, 2019.

BERTOCO, Cristiane. Museu do Imigrante de Bento Gonçalves, 2021.

BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social no Brasil. Arquitetura Moderna, Lei


do Inquilinato e Difusão da Casa Própria. 7ª Edição. São Paulo: Editora Estação
Liberdade Ltda, 2017.

CAPELATO, Maria Helena. O Estado novo: o que trouxe de novo? In: FERREIRA,
Jorge, DELGADO, Lucília de Almeida Neves. O Brasil Republicano – o tempo do
76

nacional estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, v.2.

CAPRARA, Bernardete S.; LUCHESE, Terciane Ângela; FUNDAÇÃO CASA DAS


ARTES; BENTO GONÇALVES, RS. Da colônia Dona Isabel ao município de Bento
Gonçalves 1875 a 1930: história. Bento Gonçalves: Fundação Casa das Artes, 2005.
583 p.

CARDOSO, Alice; ZAMIN, Frinéia. Patrimônio Ferroviáriono Rio Grande do Sul:


inventário das estações 1874 -1959. Porto Alegre: IPHAE, 2002. (pte1, pte2, pte3 e
pte4);

CECCON, Juliana; MAZOCO, Duani Michellon. Diagnóstico de Projeto: Atelier de


Arquitetura e Urbanismo II. Trabalho acadêmico - Curso de Arquitetura e Urbanismo,
2020/2 - Universidade de Caxias do Sul.

CÉSAR, Pedro de Alcântara Bittencourt. Roteiros turístico-culturais na Serra


Gaúcha (RS-Brasil): escolha e formação dos percursos e seu apelo histórico
memorial. Ver. Bras. Pesq. Tur. Vol 10 no.3. São Paulo Sept./Dec. 2016. Disponível
em: <https://rbtur.org.br/rbtur/article/view/1042/717> Acesso em: 16 junho 2021.

Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e


Cultura. 17 de Outubro a 21 de Novembro de 1972, Paris. Disponível em:
<https://whc.unesco.org/archive/convention-pt.pdf>. Acesso em: 08 maio 2021.

“Convenção sobre a proteção e promoção da diversidade das expressões culturais”.


UNESCO. 2007. Disponível em:
<http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001502/150224POR.pdf>. Acesso em 10
maio 2021.

DAL PAI, Cristiano. Câmara estuda projeto de lei que dispõe sobre patrimônio
histórico de Veranópolis. Entrevista concedida a Rádio Studio 87.7 FM de
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Atlântida.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA
PREFEITURA MUNICIPAL DE BENTO GONÇALVES
SECRETARIA DE CULTURA – MUSEU DO IMIGRANTE
INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO
1. FICHA Nº: LOCALIDADE:

2. IDENTIFICAÇÃO
Denominação:
Endereço/ Localização:
Roteiro Turístico: APPAC:
Latitude: Longitude:
Proprietário:
Uso original: Uso atual:
Recorte Temático:

3. MAPA

4. LOCALIZAÇÃO

5. FOTOS DA EDIFICAÇÃO

6. SÍNTESE HISTÓRICA

7. ARQUITETURA - ELEMENTOS FORMAIS, TIPOLÓGICOS E CONSTRUTIVOS


Época construção: Tipologia: Pavimentos: Preservação:
Materiais: Conservação:
Telhado: Porão Sótão Outro Soco
Esquadrias: Outros: não se aplica
Acabamentos:
Descrição:

8. OBSERVAÇÕES (Etnológicas, arqueológicas, bens móveis integrados, etc).


Espaço de memória Oficinas culturais Gastronomia típica Agroindústria
Patrimônio imaterial Outros patrimônios:

9. CLASSIFICAÇÃO (Lei Complementar 200 de 27/07/2018 – Anexo 5.4. ME – Art. 5º).


Nível 1 Nivel 2 Nivel 3 Nivel 4

10. REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA RELACIONADA

11. PESQUISADORES DATA


MÓDULO COMPLEMENTAR DE PAISAGEM E ACERVO

1. FICHA Nº: LOCALIDADE:

12. ENTORNO - ELEMENTOS DA PAISAGEM


Altura edificações: 2 PAVIMENTOS Tipo de parcelamento do solo:
Usos no entorno Agropecuária Residencial Comercial Industrial Turístico
Elementos naturais Rios/ arroios Lagos/ açudes Mata nativa Araucárias Mirante
Vinhedos² Latada Espaldeira Pérgola Em lira Em Y
Apoio vinhedos² Plátanos Pedras/ muros Moirões Quebra vento Roseiras
Vegetação/ cultivo Hortas Pomar Jardins Jerivás Outros
Criação animais Aves Bovinos Ovinos Suínos Eqüinos
Outros:
Descrição:

13. ICONOGRAFIA/ DOCUMENTOS

12. VALORES PARA INVENTÁRIO

13. PESQUISADORES DATA


MÓDULO COMPLEMENTAR DE LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO

FICHA Nº: LOCALIDADE: Distrito São Pedro

14. LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO

15. PESQUISADORES 16. DATA


PREFEITURA MUNICIPAL DE VERANÓPOLIS
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO URBANO

IDENTIFICAÇÃO
NOME DA OBRA Código
Endereço: Uso original/atual:
Propriedade: Datação:

LOCALIZAÇÃO AMBIÊNCIA

EDIFICAÇÃO

INFORMAÇÕES
ICONOGRAFIA

VALORES
ARQUITETÔNICO REFERÊNCIA CONSTRUTIVO CENOGRÁFICO FUNCIONAL SALVAGUARDA
Morfológico Histórico Técnico Contextual Uso Original Federal
Tipológico Antiguidade Constituição Conjunto Reciclagem Estadual
Raridade Bibliográfico Risco Marco Visual Uso Peculiar Municipal
Compatibilidade Reconhecimento Conservação
Integridade Locacional

REFERÊNCIAS

EQUIPE DATA
Coordenação e logística: arquitetos Carlos Eduardo Pedone e Jaqueline Pedone
Pesquisa: arquitetos Helton Estivalet Bello e Luiz Merino de Freitas Xavier
Colaboração: acadêmicos Bruno Giasson, Henrique Zuchetto, Juliana Siqueira,
Nathalia Gonzales e arquiteta Sílvia Nunes

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