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ARQUITETURA E URBANISMO
RUDIANE ZACARIA
Bento Gonçalves
2021
RUDIANE ZACARIA
Bento Gonçalves
2021
EVOLUÇÃO URBANA DO BATALHÃO FERROVIÁRIO COM VISTAS AO
INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DA CIDADE DE BENTO
GONÇALVES - RS
Aprovada em __/__/2021.
Banca Examinadora:
____________________________________
Profa. Me. Arquit. e Urb. Pauline Fonini Felin
“Uma vida sem memória não seria uma
vida, assim como uma inteligência sem
possibilidade de exprimir-se não seria uma
inteligência Nossa memória é nossa
coerência, nossa razão, nossa ação, nosso
sentimento, sem ela não somos nada.”
O presente relatório tem como objetivo a realização de uma pesquisa com foco
na evolução urbana do Batalhão Ferroviário de Bento Gonçalves (RS). O estudo parte
de uma síntese teórica que aborda a conceituação do patrimônio além dos valores
que podem ser atribuídos a ele, a fim de destacar a importância de sua proteção como
forma de perpetuar a memória e identidade local. Também são abordados aspectos
referentes a história evolutiva do município. Além do mais serão publicadas junto a
este levantamento fichas de inventário referente as edificações de importância
institucional do Batalhão Ferroviário. Por fim, o presente trabalho discorre sobre a
importância da Educação Patrimonial para que haja, nas novas e futuras gerações, a
conscientização sobre a relevância da preservação da memória e da identidade
deixadas como legado através do patrimônio edificado.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................13
2.1 CONCEITUAÇÃO DE PATRIMÔNIO CULTURAL E DE INVETÁRIO.............13
2.2 CONCEITUAÇÃO DE PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO....................................15
2.3 CONCEITUAÇÃO DE PATRIMÔNIO CULTURAL MILITAR...........................16
2.4 CONCEITUAÇÃO DE MEMÓRIA E IDENTIDADE.........................................18
2.5 ATRIBUIÇÃO DE VALORES..........................................................................19
2.6 ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL DAS NAÇÕES UNIDAS...........20
2.7 PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL.........................................................22
2.8 PATRIMÔNIO MISTO.....................................................................................23
3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL COM BREVE
HISTÓRICO DAS CONSTRUÇÕES FERROVIÁRIAS NO
BRASIL......................................................................................................................25
3.1 ORIGENS DO BATALHÃO FERROVIÁRIO NO BRASIL................................29
3.2 CARACTERIZAÇÃO PATRIMÔNIO FERRORIVÁRIO RIO GRANDENSE....31
3.3 RAMAL FERROVIÁRIO DE BENTO GONÇALVES........................................33
4 SOBRE O TEMA FERROVIÁRIO NO MUNICÍPIO DE BENTO
GONÇALVES.............................................................................................................35
4.1 A COLONIZAÇÃO..........................................................................................35
5 HISTÓRICO DO PRIMEIRO BATALHÃO FERROVIÁRIO EM BENTO
GONÇALVES.............................................................................................................43
5.1 HISTÓRICO DO 3º BATALHÃO DE COMUNICAÇÕES EM BENTO
GONÇALVES.......................................................................................................45
5.2 HISTÓRICO DO 6º BATALHÃO DE COMUNICAÇÃO EM BENTO
GONÇALVES.......................................................................................................46
6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................................47
7 A ARQUITETURA DOS PAVILHÕES ADMINISTRATIVOS DOS QUARTEIS E
BATALHÕES FERROVIÁRIOS.................................................................................53
8 ESTUDOS DE EVOLUÇÃO URBANA DO 1º BATALHÃO FERROVIÁRIO AO 6º
BATALHÃO DE COMUNICAÇÕES EM BENTO
GONÇALVES.............................................................................................................55
9 LEVANTAMENTO DE PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO............................67
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................73
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................75
ANEXOS
1. PRANCHA PLANTA BAIXA E FACHADAS DO 6º BATALHÃO DE
COMUNICAÇÕES DE BENTO GONÇALVES
2. FICHA DE INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO –
PROJETO LAÇOS PATRIMONIAIS DE BENTO GONÇALVES
3. FICHA DE INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO URBANO DE
VERANÓPOLIS
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1 INTRODUÇÃO
1.4 JUSTIFICATIVA
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo tem como objetivo dar suporte à coleta e análise de dados
que deverão sustentar este relatório. Além disso, será feita a conceituação dos
seguintes termos para a melhor compreensão dos mesmos: Patrimônio Cultural
Inventário, Origens da Inventariação do Patrimônio Cultural e Métodos de
Inventários de Bens Patrimoniais do IPHAN e IPHAE, História Evolutiva da
Cidade de Bento Gonçalves (RS) e do Batalhão Ferroviário de Bento Gonçalves
(RS), bem como Valores Culturais segundo a UNESCO.
Essa prática deve ser uma ação de cidadania e participação social, pois
contribui para a valorização e preservação do patrimônio cultural brasileiro.
Portanto, o inventário é considerado uma atividade de educação patrimonial,
pois visa gerar conhecimento por meio do diálogo entre pessoas, instituições e
comunidades que possuem referências culturais para o inventário (IPHAN,
2016).
• Forma e concepção;
• Materiais e substâncias;
• Uso e função;
• Localização e ambiente;
• Espírito e sentimento;
Totalizando, são trinta e oito (38) bens mundiais mistos em todo o mundo. A
cidade de Paraty é particularmente importante por se tratar de um bem vivo.
25
1
A Blitzkrieg (“guerra relâmpago”) foi o apelido dado por observadores internacionais, partindo
da imprensa britânica, à forma intensamente móvel e rápida com a qual as forças armadas
alemãs – Wehrmacht – conduziram as operações nas fases iniciais da Segunda Guerra Mundial.
Após a carnificina das trincheiras da guerra anterior (1914-1918), a velocidade e a aparente
facilidade das vitórias alemãs, sobretudo aquela sobre a França, então considerada a maior
potência militar do continente, causaram grande impacto, fomentando até mesmo mudanças de
orientação da doutrina militar em diversos países à luz do que faziam os alemães pelos campos
de batalha europeus.
26
diretamente a cadeia produtiva, que por sua vez afetou a prestação de serviços
como o transporte.
Mas, por outro lado, nesse mesmo período de 1940, teve início a
construção da Estrada de Ferro (EF) 116, Ferrovia do Tronco Principal Sul, que
inicialmente, ligaria Porto Alegre - RS a São Paulo - SP, e a Rodovia BR 116,
Porto Alegre à Natal – RN.
28
Figura 7: Mapa dos trilhos da região sul da Viação Férrea do Rio Grande do Sul em 1954, com
destaque no município de Bento Gonçalves.
Fonte: I Centenário das ferrovias brasileiras - IBGE / CNG, Rio de Janeiro, 1954. Apresentação:
Flavio R. Cavalcanti. Disponível em: < http://vfco.brazilia.jor.br/mapas-ferroviarios/1954-
VFRGS-1-norte.shtml>
4.1 A COLONIZAÇÃO
A colônia Dona Isabel, era cercada pelo Rio das Antas, pela Estrada
Geral, ligava São João de Montenegro à Vacaria, pela Colônia Conde D’Eu (atual
município de Garibaldi), e pela Colônia Caxias. Dona Isabel exercia algumas
atividades comerciais e produtivas nesta época, pois a Colônia precisava
produzir seus próprios bens para garantir seu sustento. Algumas atividades,
como ferrarias, alfaiatarias, cantinas, moinhos, tecelagens, entre outras,
garantiam a qualidade de vida neste árduo começo, pois, segundo alguns relatos
bibliográficos, nada foi fácil para os imigrantes nesta nova terra.
A reforma da Igreja Santo Antônio aconteceu entre 1878 e 1887 (1ª Igreja). A rua em frente é a
Marechal Deodoro
Fonte: Gelvazia Zila Sandrin Nodari (Memórias de Bento Gonçalves)
Em primeiro plano, pode-se ver os parreirais da Família Ross. Ao fundo, a igreja Santo Antônio
sem a torre e o prédio da Prefeitura Municipal.
Fonte: Museu do Imigrante
Figura 15 - Ocupação Urbana entre 1925 e 1943, demarcada sobre sistema viário atual.
No ano de 1971, oriundo de Rio Negro (PR), foi instalado o Terceiro Batalhão de
Comunicações do Exército, que permaneceu de 16 de março de 1971 a 22 de fevereiro de 1976.
Sua missão era explorar e conservar o sistema de comunicação do Exército, com sede em Porto
Alegre.
O município de Bento Gonçalves foi escolhido por ser considerada uma região em
ascensão, pela necessidade de escoar sua produção e por integrar o comércio da região com o
centro do país. E foi a chegada dos militares, transferidos do 1º Batalhão Ferroviário de Santiago,
que incrementou o desenvolvimento da cidade.
Dolmires Lunardi, relata em entrevista para o Jornal Semanário (2018), que ajudou a
construir as ferrovias que atravessam os municípios da região, na década de 60 e relata, “a
construção da ferrovia foi fundamental para o progresso da cidade de Bento Gonçalves, porque
facilitou a circulação e o escoamento da produção.” E, se emociona relembrando dos fatos, “fez
parte da minha história, da minha vida. Não sai da lembrança. Foi um trabalho prazeroso, porque
era para o desenvolvimento do país”.
6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Segundo o autor citado (2007, p. 44), esta é a era da "criatividade do pesquisado", que
deixou sua marca pessoal ao expor teorias, deixando seu pensamento e método ao responder
a questões específicas.
Quanto a este método, trata-se de um estudo qualitativo exploratório que visa melhorar a
familiaridade com as questões acima mencionadas e torná-las mais claras. Ainda segundo
Minayo (2001, p.21), “trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos
e dos fenômenos”.
Célia Ferraz de Souza (2007) compreende virtudes ao andar pelas ruas. Manifesta a
importância sobre viajar pela cidade como método de ensino e oportunidade de aprendizado
como estratégia e pesquisa para solucionar a complexidade dos fenômenos urbanos e seu
processo de configuração.
teórica, compreensão e percepção sobre o tema abordado e as conexões entre eles. Outros
trabalhos deram alicerce necessário para o significado de determinados conceitos, e
proporcionam o entrelaçamento entre a bagagem teórica trazida no curso de Arquitetura e
Urbanismo e as novas teorias aprendidas, além de contribuir e orientar a análise e o fechamento
de ideias.
Com base nesses estudos, foram necessárias investigações para definir um pré-roteiro
para o complexo, com base na pesquisa da fonte principal. Visitas, registros fotográficos,
levantamentos de campo foram realizados por meio de croquis para melhor embasar, bem como
compreender o local para posteriormente realizar a elaboração de mapas.
A escolha do tema foi baseada no interesse pessoal pela pesquisa histórica do patrimônio
histórico material e imaterial, além da colaboração para continuidade de estudos iniciados pelo
Museu do Imigrante de Bento Gonçalves.
Desde 1937, o Brasil apoia a proteção do patrimônio histórico na forma de leis, mas tem
percebido que a comunidade atual tem pouco interesse em preservar as edificações históricas.
Para uma maior compreensão da estrutura plural da área, outros objetivos serão
perseguidos, tais como a elaboração de fichas de inventários, de uma edificação com
importância institucional, seguindo ficha modelo encaminhada pelo Museu do Imigrante de Bento
Gonçalves. A referência utilizada para a elaboração do modelo final da ficha de inventário do
Museu do Imigrante, foi baseada no inventário de Caxias do Sul da Equipe ECIRS e TaliesEM,
escritório modelo do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Caxias do Sul que
surgiu em 2003, através de uma iniciativa estudantil com objetivo de promover o papel social da
Arquitetura.
historiadores e fotógrafos, selecionou locais rurais e urbanos para mapeamento, definiu a história
e os métodos arquitetônicos de pesquisa e organizou conversas através de oficinas de Educação
Patrimonial.
O Projeto Laços Patrimoniais foi aprovado pela Secretaria Nacional da Cultura (2019) e
tem como objetivo contabilizar os edifícios históricos e culturais de interesse da comunidade do
interior de Bento Gonçalves. O objetivo principal do projeto é valorizar a história da comunidade,
resgatando a memória dos moradores e avaliando as construções antigas e importantes desses
locais.
Assim, por meio do mapeamento inicial (incluindo consulta bibliográfica e lista atualizada
sobre o tema patrimônio de Bento Gonçalves), foi levantada a localização geográfica do conjunto
de pesquisa e as lacunas do estudo anterior foram consideradas como recortes. A museóloga
Deise Formolo destacou a continuidade desta pesquisa: “buscou-se, antes, tecer um debate
inicial, amplo e questionador sobre os diferentes aspectos patrimoniais da cidade, voltado às
premissas de uma educação para o patrimônio, ao aprofundar análises sobre origens históricas
e características arquitetônicas dos bens de forma isolada. Também por esses motivos,
abordaram-se as edificações inventariadas inseridas em conjuntos arquitetônicos e/ou roteiros
culturais”.
Além disso, o site da Prefeitura de Bento Gonçalves contará com uma série de notícias e
matérias, explanando este projeto que foi selecionado no âmbito do Edital SEDAC nº 01 2019
“FAC Educação Patrimonial”. Ao ser concluso o trabalho, será publicado um livro, juntamente
com uma exposição fotográfica.
O primeiro eixo envolve o Bairro Centro, referente ao Conjunto da Igreja Metodista, Bairro
Cidade Alta, Bairro São Roque, incluindo nesse o Complexo do Batalhão e o Conjunto da Igreja
São Roque.
O eixo um é destinado a Sede urbana – Bairro São Roque. O Bairro Centro (Cidade
Baixa), o Bairro Cidade Alta e o Bairro São Roque constituem o primeiro núcleo da ocupação
urbana da cidade e um marco da evolução do seu território, onde se localizam as principais
empresas, indústrias, instituições e clubes sociais. Dada a complexidade de patrimônio que
representam, essa abordagem é processada por meio da análise perceptual das localizações e
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da análise da evolução urbana, por meio de fotos e mapas. Além disso, os locais são avaliados
procurando outra visão relacionada à visão tradicional, buscando representatividade e
diversidade das minorias.
No Bairro São Roque, foram identificados edifícios anteriores à chegada do Batalhão, que
passaram a fazer parte da lista, registrando as características dos imigrantes italianos,
distribuídos na Avenida São Roque, anteriormente conhecida como Estrada Buarque de
Macedo.
A relação entre o Batalhão e a ferrovia, é um ponto que pode ser melhor compreendido,
pois os mesmos perderam o acesso devido à construção de uma cerca. Além da importância
dessa relação paisagística, também pode abrir possibilidade de acordos de cooperação para
trabalhos conjuntos na preservação e melhoria dos arquivos, acervos e paisagismo ferroviário
da área.
Se a medida for aprovada, entre outros efeitos, cerca de oitenta (80) prédios da cidade
passarão a ser patrimônio histórico. Por meio dessa divisão, regras foram aplicadas a essas
estruturas para garantir sua proteção, como por exemplo as fichas de inventário tomada como
embasamento para preenchimento das fichas desse relatório.
A julgar pela ordem cronológica dos fatos, a pauta partiu do Ministério Público, que
encaminhou a proposta à secretaria, comprovando a necessidade de promulgação de lei que
examine o patrimônio histórico do município. Foi realizado na Prefeitura Municipal de
Veranópolis, antes da criação do projeto, um estudo de cooperação com a Universidade de
Caxias do Sul para catalogar e pesquisar o patrimônio (BELLO E XAVIER, 2019).
Com a conclusão das pesquisas e propostas, desde então, os parlamentares têm ouvido
as opiniões de entidades ligadas à cultura urbana e proprietários de imóveis afetados, a fim de
atender às necessidades sociais de pesquisa, após o projeto será votado. (DAL PAI, 2021).
52
Fonte: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL. Inventário arquitetônico de Veranópolis/RS. Caxias do Sul: UCS,
2019.
53
Fonte: BONATES.
SIMONSEN, op. cit., 1931
No caso dos quartéis, pela sua composição clássica simétrica e empenas, os elementos
encontram-se parcialmente apropriados em edifícios monumentais, mas ao mesmo tempo
podem refletir rigidez e eficiência, a condizer com a imagem de uma organização militar que se
esforça por transmitir.
Além do pavilhão administrativo, o pátio conta com outras construções, como tanques de
água, alojamentos, salas de informações, instalações sanitárias e outros edifícios menos
comuns. Embora em circunstâncias normais, apresentam-se como estruturas retangulares
simples, acredita-se que as distribuições internas não sejam mais complicadas. As caixas de
água, localizadas em diversos locais do complexo são um elemento importante na construção
em termos de ferrovia, especialmente durante a operação de locomotivas a vapor. Ao lado do
Pavilhão Administrativo, encontram-se algumas caixas para fins de abastecimento dessa área.
No ano de 1943, um batalhão de força militar foi criado pela primeira vez na Serra Gaúcha.
A cidade de Bento Gonçalves, foi escolhida por ser considerada uma região em ascensão, pela
necessidade de escoar sua produção e por integrar o comércio da região com o centro do país.
Além disso, conforme relato de Vânia Kratz Mendes (2021), o local escolhido para sediar o
Batalhão Ferroviário era em Jaboticaba, mas acabou sendo na zona urbana da cidade, pois o
prefeito da época pediu para o comandante e incentivou dizendo que na área central da cidade
seria melhor. Dessa forma, a chegada dos militares, transferidos do 1º Batalhão Ferroviário de
Santiago (RS), incrementou o desenvolvimento da cidade.
A base construída pelo batalhão ferroviário no bairro São Roque contava com várias
instalações de oficinas, alojamentos, pavilhões administrativos e técnicos, vilas residenciais,
hospital, ginásio, campo de futebol, cinema, açude e granja. Instalações essas que atendiam a
infraestrutura necessária naquele período.
Legenda: 1) Administrativo; 2) Hospital; 3) Grupo Escolar; 4) Cia Comando Sv; 5) Almoxarifado; 6) Oficinas Gerais; 7) Estádio
e Cinema; 8) Clube e Residências de Oficiais; 9) Clube e Residências de Sargentos; 10) Vila Olímpica Residências Civis; 11)
Vila Operária Residências Civis; 12) Vila Primavera Residências Civis; 13) Açude; 14) Granja; 15) Sistema de Agendamento
Eletrônico (SAE).
O autor ainda relata que reduzir as despesas efetivas dos trabalhadores com habitação,
reduziria significativamente os custos trabalhistas, racionalizando a construção e diminuindo
padrões legais. (BONDUKI, 2017, p. 85).
Desse modo, além das edificações do Batalhão Ferroviário serem de baixo custo, (visando
a produção em massa), as mesmas, eram de madeira, pois a qualquer momento poderiam ser
transportadas para outro local. Ou seja, estas casas precisavam ser adaptáveis para o transporte
rápido, como que ainda estão presentes no primeiro Batalhão Ferroviário, que “vieram
transportadas de Santiago (RS) pelo trem em módulos e instaladas no complexo” (Mendes,
2021).
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Figura 26: Complexo do Batalhão Ferroviário - vista leste. Visualizam-se o estádio e o cinema no centro da foto, o
rancho à esquerda e as casas de sargentos à direita. Aproximadamente década de 1950.
Figura 27: Conjunto do 1º Batalhão de Ferroviário de Bento Gonçalves. Ao fundo da imagem nota-se a Igreja São
Roque e O Cinema do Batalhão, 1963.
Fonte: Cópias digitais doadas por Altair Fernandes ao Museu do Imigrante, 2020.
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Conforme entrevista feita por alunas do Curso de Arquitetura e Urbanismo (UCS), Duani
Michellon Mazoco e Juliana Ceccon (2002/2), moradora há oitenta anos do bairro São Roque,
Doroti Viana Nunes, acompanhou o desenvolvimento do bairro através do apoio do Batalhão
Ferroviário. Nascida em Santiago, ela é filha de Tadeu Nascimento Viana, que foi servidor do
batalhão, trabalhando como carpinteiro, além de ter sido voluntário na construção da Igreja de
São Roque. Sua mãe, Aurora Antunes, era costureira, fazia os uniformes dos soldados.
Ao chegar no bairro, relembra que era apenas mato, haviam somente as colônias, Dona
Doroti morou quase dez anos em uma cabana (barraco). Os militares moravam nas casas da
vila militar, já os empregados civis, com o passar dos anos, ganharam terrenos para construir
suas casas, originando as vilas.
Lucas Lucca, entrevistou o administrador Roque Coser, para a edição especial Integração
da Serra. Coser, era filho e neto de soldados do 1º Batalhão Ferroviário, o grupamento teve
atuação destacada nos mais diferentes segmentos da sociedade. Ressalta ainda que a
corporação foi responsável pela construção da Igreja São Roque e de capelas nas linhas
Veríssimo de Matos e São Luís das Antas.
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Caprara e Luchese (2005), ainda fazem destaque sobre a Igreja de São Roque, “A
pequena capela, primeiramente construída no lote 29 (atual bairro Aparecida), era de madeira e
servia para a reza do terço em torno da imagem de São Roque, santo protetor das doenças. A
segunda capela foi construída onde hoje está a atual praça São Roque. Por volta de 1939, no
outro lado da praça, foi construída a terceira capela, que, em 1956, foi elevada à condição de
paróquia”.
Figura 29: Imagem da esquerda: Igreja São Roque, década de 1950, com a primeira Igreja;
Imagem da direita: Igreja São Roque, 1963, com as duas Igrejas construídas e o edifício do cinema.
Dessa forma, percebe-se que desde o início da vinda do Batalhão a cidade teve um
impulso no crescimento populacional e urbano desse perímetro. A vinda da população para essa
região era a promessa de um bom trabalho e melhores condições de vida, cujo o Batalhão
oferecia. As edificações administrativas, construídas pelo Batalhão Ferroviário em 1943
permanecem até hoje no conjunto, apenas com algumas funcionalidades diferentes, conforme
figura 30:
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11
Tendo em vista os dois mapas apresentados, é possível perceber que entre os anos de
1860 e 1987, diversas foram as modificações do complexo, usos foram alterados para melhor
atender a infraestrutura necessária para o 3º Batalhão de Comunicações e consequentemente
para o 6º Batalhão de Comunicações, conforme Vânia Kratz Mendes (2021), relatou em
entrevista. Como exemplo, o Curumin (6) era nos anos 60 o clube dos Oficiais, onde reuniam-se
para festas, e qualquer pessoa podia entrar. Atualmente, encontra-se o Espaço Cultural
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Presidente Geisel (11), qual era o clube dos Sargentos e Subtenentes, na década de 40, e
somente convidados de classe alta poderiam participar dos encontros. Vânia (2021) relata que
nesse espaço era o sonho das mulheres solteiras, pois ali conheceriam um futuro namorado que
fosse um Oficial.
Relata ainda, que aos fundos do cinema, havia um espaço conhecido como clube do
bolão, cujo denominação era 26 de Julho, um clube dos civis. Além disso, o ginásio de esportes
que havia no tempo do Batalhão Ferroviário e o cinema, foram demolidos, pois teoricamente não
tinham dinheiro suficiente para manter essas estruturas no local. E que o campo de futebol da
época recebeu vários times grandes, por ser o único que contava com uma arquibancada.
O Batalhão Ferroviário, sempre procurou prestar serviços para toda comunidade, por isso
teve grande relevância para o Bairro São Roque e toda a cidade de Bento Gonçalves. O pai de
Vânia, o Sr. Valto Kratz era responsável pelas fotografias dos locais. Além disso, ele fotografava
os cidadãos que residiam próximos as áreas que estavam sendo construída a linha férrea e os
túneis, para a emissão de documentos, pois o deslocamento para o centro era limitado. Além de
todas essas modificações, o hospital também teve alteração de seu uso para auditório.
Nota-se pouca diferença dos anos de 1987 para os dias atuais, o conjunto, permanece
como antigamente, apenas com melhorias arquitetônicas nas edificações, e o entorno do bairro
continua a expandir no sentido norte, novos lotes foram criados e muito deles ainda estão
desocupados.
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Dessa forma, conclui-se que o 1º Batalhão Ferroviário foi um vetor de força para o
desenvolvimento do município de Bento Gonçalves, no sentido norte, o qual incentivou o
progresso na região. Através de histórias, pesquisas e análises, percebe-se a expansão do
núcleo central da cidade, pois o centro estagnou de certa forma com a chegada do Batalhão e o
núcleo de maior fluxo passou a ser o Bairro São Roque.
Além deste bairro ser de grande importância para o município, a Avenida São Roque
também é, como nota-se na figura 33, pois praticamente corta o município de norte a sul e sua
origem é de suma relevância. (CÉSAR, 2016).
Em 1881 a abertura da estrada de Buarque de Macedo entre Bento Gonçalves e São
João de Montenegro, expandiu-se para o norte e construiu linearmente o núcleo. Na região leste,
o projeto de expansão gira em torno da rodovia Júlio de Castilhos, que liga Farroupilha ao
Barracão da ex-Colônia Dona Isabel. A partir da rodovia Júlio de Castilhos, a rodovia Silveira
Martins, também conhecida como Linha Palmira, é a primeira ligação direta entre Bento
Gonçalves e o núcleo de Caxias do Sul. (KAUTZMANN, 1986).
A ligação ferroviária, em 1919, de Bento Gonçalves a Porto Alegre propiciou a expansão
da cidade na vertente Sul. Graças à ferrovia, do ponto de vista visual, é possível observar a
expansão ao Norte pela Buarque de Macedo, o distrito de São Roque (Av. São Roque), e a leste,
pela estrada Júlio de Castilhos, a Linha Palmira.
O 1º Batalhão Ferroviário foi indicado como um símbolo de “progresso e desenvolvimento”
da comunidade, localização privilegiada, a qual foi planificada para melhor dispor da
infraestrutura. Vânia (2021) lembra que seu pai comentava que com a chegada dos militares,
tudo mudou. “Em termos de infraestrutura, o acampamento trouxe grandes mudanças para a
área local durante seu tempo. Além de estruturas públicas, como estradas e veículos, a estrutura
das moradias das famílias também passou por mudanças positivas”. (MENDES, 2021)
Deve-se destacar que essas moradias são elementos importantes da cultura, que se
desenvolveu claramente no entorno do Batalhão, de acordo com o período e a trajetória histórica
testemunhada e sofreu uma autorreforma ao longo dos anos. Hoje, essas construções são a
principal fonte de memória e preservação histórica da região. Para Bento Gonçalves, estas
constituem o patrimônio arquitetônico da cidade.
O perímetro do Batalhão Ferroviário existente desde a época de sua construção é um
entrave urbano, não permitindo que as edificações subam em alturas, com pouca densidade.
Dessa forma, gera um “congelamento” do crescimento urbano nessa região. Por esse motivo,
deve ser valorizado e protegido para que esse histórico não seja comprometido por falta de
legislação.
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A definição do objeto de estudo para levantamento foi realizada em conjunto com a equipe
administrativa do Museu do Imigrante de Bento Gonçalves. A participação das responsáveis pelo
projeto Laços Patrimoniais, na visita ao complexo do Batalhão Ferroviário foi crucial para a
compreensão do local.
Abaixo segue o levantamento da edificação escolhida: o pavilhão administrativo do
complexo. Ressalta-se que foi seguida fielmente a ficha de inventário do Projeto Laços
Patrimoniais.
2. IDENTIFICAÇÃO
Denominação: Complexo Administrativo
Endereço/ Localização: Avenida São Roque, nº 1935, Rua Giácomo Baccin, Ruas
Antônio Zatt, Ário Dall’Omo, Lino Lunelli, Arcângelo Morassutti, Frederico Ziero e
Constantino Grando
Roteiro Turístico: Roteiro São Roque APPAC: São Roque e Batalhão
Latitude: 29º08’23”S Longitude: 51º32’16”O
Proprietário: União - 6º Batalhão de Comunicações
Uso original: Pavilhão Administrativo Uso atual: Pavilhão Administrativo do 6º
Batalhão Ferroviário Batalhão de Comunicações
Recorte Temático: Patrimônio ferroviário
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3. MAPA
Figura 01: Mapa Conjunto Batalhão Ferroviário com edificação analisada demarcada.
Veranópolis
Garibaldi
PERCURSO DEFINIDO PARA ROTEIRO BR 470
4. LOCALIZAÇÃO
Figura 02: Localização Pavilhão Administrativo.
5. FOTOS DA EDIFICAÇÃO
Figura 03: Fachada Norte – possível identificar a troca de material de cobertura e
nova pintura, comparando com a fachada do antigo Batalhão Ferroviário (Figura 09).
6. SÍNTESE HISTÓRICA
O 1º Batalhão de Engenheiros de Construção é originário da Ala Esquerda do
Batalhão de Engenheiros, que foi instituído pela Corte Portuguesa por meio do Decreto
número 1.536, de 23 de janeiro de 1855. É uma das unidades militares mais antigas e
tradicionais do Brasil.
O 10º Batalhão de Engenharia de Construção tem um grande número de projetos
e realizações no Sul do País, com mais de dois mil quilômetros de ferrovias, mais de
oitenta e seis quilômetros de implantação e pavimentação de rodovias, dezesseis
quilômetros de pontes e viadutos e quase trinta e sete quilômetros de túneis ferroviários.
Entre os muitos projetos importantes, destaca-se o EF-116 (TPS - Tronco Principal Sul)
e EF-491 (Ferrovia do Trigo), agregando uma fração impressionante de túneis, pontes e
viadutos (PRADO, 2002).
O município de Bento Gonçalves teve em 1943, um impulso de desenvolvimento
cultural e econômico, por motivo da chegada do 1º Batalhão Ferroviário, vindo de
Santiago (SC). Os jovens do município foram convocados para fornecer serviços
militares e, em troca, educação para treinamento pessoal e encorajar a orientação
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Descrição:
Volume retangular de madeira, com combinação horizontal formada pela integração da
parte central do edifício com as alas laterais, dispostas quase que simetricamente (norte e
sul), com base em alvenaria rebocadas e pintadas. Há presença de varanda,
compreendido por uma cobertura apoiado sob pilares de alvenaria com revestimento de
pedra basalto.
com o Projeto Esperança, uma vez que já sediou oficinas para artistas da cidade.
(BERTOCO, Cristiane, 2021).
Descrição:
O Pavilhão Administrativo do 6º Batalhão de Comunicações encontra-se centralizado no
complexo. O edifício está situado próximo a um bairro predominantemente residencial,
São Roque, próximo a escolas, com destaque a Faculdade Cenecista, à Igreja São
Roque, a padarias, a gráficas, a floricultura, ao supermercado Grepar, entre outros.
Divisórias internas, conforme levantado “in loco”, mas sem precisão de medidas
A planta do subsolo, poderia passar por um levantamento mais aprofundado na próxima etapa.
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O patrimônio cultural, quer seja pela sua qualidade arquitetônica, quer seja pela
sua ligação ao local, tem a capacidade de gerar o sentido de pertencimento e dar
continuidade a história, a cultura e aos valores de grupos. A partir do momento em
que a comunidade compreende seu patrimônio e reconhece seu valor, também
reconhece a necessidade e a responsabilidade de protegê-lo e preservá-lo.
Por fim, além de apoiar o projeto “Laços Patrimoniais”, o objetivo foi de ampliar a
compreensão e a valorização do patrimônio histórico. Fica o desejo que esta pesquisa
possa contribuir para pesquisas futuras, bem como ser complementada dentro do
projeto como material educacional voltado a população. Espera-se também estimular
o reconhecimento do patrimônio como elemento de representação da identidade e
memória do Batalhão Ferroviário. As expectativas são positivas, tendo em vista que
há outros edifícios a serem levantados por alunos de estágio, como a antiga escola e
hospital – exemplares apontados pelo Museu como passíveis de inventariação
individual, uma vez que é necessário incentivo turístico no eixo norte da cidade.
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11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELLO, Helton Estivalet & XAVIER, Luiz Merino de Freitas. Oficinas de patrimônio
arquitetônico. In: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL. Inventário arquitetônico de
Veranópolis/RS. Caxias do Sul: UCS, 2019.
CAPELATO, Maria Helena. O Estado novo: o que trouxe de novo? In: FERREIRA,
Jorge, DELGADO, Lucília de Almeida Neves. O Brasil Republicano – o tempo do
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DAL PAI, Cristiano. Câmara estuda projeto de lei que dispõe sobre patrimônio
histórico de Veranópolis. Entrevista concedida a Rádio Studio 87.7 FM de
Veranópolis, 27 de maio de 2021. Disponível em:
<https://www.studiofm.br/2021/05/camara-estuda-projeto-de-lei-que-dispoe-sobre-
patrimonio-historico-de-veranopolis/?fbclid=IwAR1dDH1Vn-
elVPG9galpTh5X23TNWyM8FARBkngy4ELçu12w-Pn-0CJ7AKs>. Acesso em 01
julho 2021.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007.
SOUZA, Célia Ferraz de; MULLER, Dóris Maria. Porto Alegre e sua evolução
urbana. 2. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007.
2. IDENTIFICAÇÃO
Denominação:
Endereço/ Localização:
Roteiro Turístico: APPAC:
Latitude: Longitude:
Proprietário:
Uso original: Uso atual:
Recorte Temático:
3. MAPA
4. LOCALIZAÇÃO
5. FOTOS DA EDIFICAÇÃO
6. SÍNTESE HISTÓRICA
IDENTIFICAÇÃO
NOME DA OBRA Código
Endereço: Uso original/atual:
Propriedade: Datação:
LOCALIZAÇÃO AMBIÊNCIA
EDIFICAÇÃO
INFORMAÇÕES
ICONOGRAFIA
VALORES
ARQUITETÔNICO REFERÊNCIA CONSTRUTIVO CENOGRÁFICO FUNCIONAL SALVAGUARDA
Morfológico Histórico Técnico Contextual Uso Original Federal
Tipológico Antiguidade Constituição Conjunto Reciclagem Estadual
Raridade Bibliográfico Risco Marco Visual Uso Peculiar Municipal
Compatibilidade Reconhecimento Conservação
Integridade Locacional
REFERÊNCIAS
EQUIPE DATA
Coordenação e logística: arquitetos Carlos Eduardo Pedone e Jaqueline Pedone
Pesquisa: arquitetos Helton Estivalet Bello e Luiz Merino de Freitas Xavier
Colaboração: acadêmicos Bruno Giasson, Henrique Zuchetto, Juliana Siqueira,
Nathalia Gonzales e arquiteta Sílvia Nunes