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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

ESCOLA DE ENGENHARIA
ENGENHARIA CIVIL

ISADORA BORGES SCUDELER

ESTUDO DE SOLUÇÃO ALTERNATIVA PARA O CASO DE REAPRUMO DE


EDIFÍCIOS INCLINADOS DEVIDO AO ADENSAMENTO DE SOLO NA ORLA DE
SANTOS

São Paulo
2020
ISADORA BORGES SCUDELER

ESTUDO DE SOLUÇÃO ALTERNATIVA PARA O CASO DE REAPRUMO DE


EDIFÍCIOS INCLINADOS DEVIDO AO ADENSAMENTO DE SOLO NA ORLA DE
SANTOS

Projeto do Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de Engenharia Civil da Escola
de Engenharia da Universidade Presbiteriana
Mackenzie como requisito parcial para a obtenção
do título de Engenheiro.

ORIENTADOR: PROF. MSc. PAULO AFONSO DE CERQUEIRA LUZ

São Paulo
2020
RESUMO

Na cidade de Santos, problemas de recalque vem ocorrendo desde o início dos anos 50. Devido à
acelerada urbanização e expansão da economia local, os arredores do porto, hoje considerado o
principal porto de exportação do país, foram rapidamente ocupados, sem que houvesse um estudo
aprofundado e técnico sobre as caracteristicas geotécnicas da região. Acreditou-se que a camada
superficial do solo, caracterizada por areia compacta fosse suportar os esforços requeridos por
fundações rasas. Após o aparecimento de recalques e a realização de estudos mais aprofundados
no tema, entre as décadas de 60 e 70, descobriu-se abaixo da camada de areia está presente uma
camada de solo argiloso marinho, não adequada como solo de fundação para os edificios nessa
região. Dentre as soluções presentes para o reaprumo de edifícios inclinados, o reforço de fundação
é uma delas e foi adotado no caso do edificio Núncio Malzoni, localizado na cidade de Santos (SP),
tanto no Bloco A (MAFFEI, 2006) quanto no Bloco B (MAFFEI, 2019). O edifício apresentou um
deslocamento horizontal de 2,2 metros devido ao recalque. Foram realizadas subfundações e
utilização de macaco hidráulico para correção do prumo. O presente trabalho apresenta um estudo
de uma solução alternativa ao reforço de fundação para a correção do recalque por adensamento e
reaprumo de edifícios, como a aplicação de carga na superfície do terreno, do lado menos recalcado
do prédio, que poderia ser aplicada à situação de caso estudada, assim como uma análise dos
possíveis resultados da aplicação de tal solução e um estudo detalhado de todos os aspectos
envolvidos.

Palavras-chave: Fundação. Edifícios inclinados. Reaprumo. Recalques. Santos. Solução.


ABSTRACT

In the city of Santos, settlement problems have been occurring since the early 1950s. Due to the
accelerated urbanization and expansion of the local economy, the surroundings of the port, now
considered the main export port in the country, were quickly occupied, without there being an in-
depth and technical study on the geotechnical characteristics of the region. It was believed that the
topsoil, characterized by compacted sand, would withstand the efforts required by shallow
foundations. After the emergence of settlements and further studies on the subject, between the 60s
and 70s, a layer of marine clay soil was found below the sand layer, not suitable as foundation soil
for buildings in this region. Among the solutions present for the readjustment of inclined buildings,
the foundation reinforcement is one of them and it was adopted in the case of the Núncio Malzoni
building, located in the city of Santos (SP), both in Block A (MAFFEI, 2006) and in Block B
(MAFFEI, 2019). The building had a horizontal displacement of 2.2 meters due to settlement. Sub-
foundations were carried out and hydraulic jack was used to correct the plumb. The present work
presents a study of an alternative solution to the reinforcement of the foundation for the correction
of settlement by densification and readjustment of buildings, such as the application of load on the
land surface, on the less repressed side of the building, which could be applied to the situation of
case studied, as well as an analysis of the possible results of applying such a solution and a detailed
study of all aspects involved.

Keywords: Foundation. Readjustment. Santos. Settlements. Sloping buildings. Solution.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Galpão com recalques de fundação............................................................................. 11


Figura 2: Adensamento Primário ............................................................................................... 13
Figura 3: Valores de RSA para Baixada Santista ....................................................................... 15
Figura 4: Curva de variação do nível do mar, trecho Santos-Bertioga ........................................ 17
Figura 5: Perfil geológico da Baixada Santista .......................................................................... 18
Figura 6: Ilustração das camadas de solo e tipos de fundações ................................................... 20
Figura 7: Vista aérea da cidade de Santos com destaque para faixa crítica entre os canais 3 e 6 . 21
Figura 8: Evolução dos recalques no Bloco A ........................................................................... 25
Figura 9: Perspectiva do reforço ................................................................................................ 27
Figura 10:Esquema de colocação de macacos ............................................................................ 28
Figure 11: Sapatas escavadas .................................................................................................... 29
Figure 12: Macacos hidráulicos antes e durante o macaqueamento. ........................................... 29
Figura 13: Bloco A do Edifício Núncio Malzoni antes e após seu reaprumo .............................. 30
Figura 14: Tubulações flexíveis instaladas para permitir as operações ....................................... 31
Figura 15: Macacos instalados para abrir um console ................................................................ 32
Figura 16: Nicho aberto para colocação do macaco para levantar o pilar ................................... 32
Figure 17: Macaco instalado no pilar ......................................................................................... 33
Figura 18: Bloco B do Edifício Núncio Malzoni antes e depois do seu reaprumo ...................... 33
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7
1.1 Definição de recalque .......................................................................................................... 7
1.1.1 Recalques na cidade de Santos ........................................................................................... 7
1.1.2 Soluções para reaprumo de edifícios ................................................................................... 8
1.2 Problema de Pesquisa ......................................................................................................... 8
1.3 Objetivos .............................................................................................................................. 9
1.3.1 Objetivo geral..................................................................................................................... 9
1.3.2 Objetivos específicos .......................................................................................................... 9
1.4 Justificativa ......................................................................................................................... 9
1.5 Estrutura do Trabalho ...................................................................................................... 10
2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................ 11
2.1 MANIFESTAÇÕES DE MAU DESEMPENHO DE EDIFÍCIOS .................................. 11
2.1.1 Diagnóstico ...................................................................................................................... 12
2.2 Recalques ........................................................................................................................... 12
2.2.1 Recalques das edificações com fundações superficiais ...................................................... 12
2.2.2 Tipos de Recalque ............................................................................................................ 12
2.2.3 Recalque por Adensamento Primário ................................................................................ 13
2.3 Problemas de recalque na cidade de Santos ..................................................................... 16
2.3.1 Aspectos históricos, evolução urbana de Santos................................................................ 16
2.3.2 Aspectos geológicos ......................................................................................................... 16
2.3.3 Aspectos geotécnicos ....................................................................................................... 17
2.3.4 Edifícios em Santos .......................................................................................................... 19
2.3.5 Problemas de característica social causados pelo recalque ................................................ 21
2.4 Soluções para correção do desaprumo de edifícios .......................................................... 22
3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 23
4 ESTUDO DE CASO ............................................................................................................. 24
4.1 Reaprumo do edifício Núncio Malzoni ............................................................................. 24
4.1.1 Escolha da solução para o reaprumo do Bloco A .............................................................. 26
4.1.2 Reaprumo do Bloco B ...................................................................................................... 30
5 CRONOGRAMA ................................................................................................................. 35
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 36
7

1 INTRODUÇÃO

1.1 Definição de recalque

De acordo com Pinto (2006), recalques verticais são deformações que ocorrem na superfície
do terreno quando são aplicados carregamentos verticais em cotas próximas à superfície do terreno,
ou seja, quando são utilizadas fundações superficiais na construção da edificação, desde que
existam camadas de solos finos (argilas principalmente) no subsolo. As deformações podem ser
manifestadas rapidamente após a construção ou depois de um tempo de aplicação das cargas.

1.1.1 Recalques na cidade de Santos

Diversos prédios localizados na orla da cidade de Santos, apresentaram problemas de


recalques verticais por adensamento, devido às características de compressibilidade da argila
marinha presente no solo santista.
O solo santista é considerado o segundo mais compressível do mundo, ficando atrás,
apenas, do solo da Cidade do México. Devido ao crescimento e desenvolvimento da cidade, nas
décadas de 1950 e 1960, e sem um conhecimento completo das características do solo para a
construção de edifícios, foram construídos prédios a beira mar utilizando a concepção de projeto
de fundações superficiais (rasas), com menos de 10 metros de profundidade, em uma camada de
areia densa superficial, apoiada sobre uma camada de argila marinha mole, responsável pelas
causas de recalque nas edificações.
Com o surgimento de novos estudos e novas tecnologias, nas áreas de Mecânica dos Solos
e de Fundações, foi possível identificar a causa do problema dos recalques verticais por
adensamento, e assim, executar obras para correção do desaprumo de alguns edifícios, causado
pelo adensamento da camada de argila marinha, de forma que os prédios voltassem ao prumo,
apresentando bom desempenho, segurança e funcionalidade.
Um caso brasileiro que ficou famoso, de edifício que sofreu problemas de recalque e
desaprumo, é do Edifício Núncio Malzoni. Para o reaprumo do edifício foi adotada uma solução
de reforço de sua fundação, tendo sido substituídas as fundações superficiais (sapatas) por
8

fundações profundas (estacas) e realizado o levantamento para nivelamento vertical do edifício


com a utilização de macacos hidráulicos.

1.1.2 Soluções para reaprumo de edifícios

Além da utilização de fundações profundas, como reforço de fundação para correção de


problemas de recalque, existem outros tipos de reforços de fundações que podem ser executados e
devem ser escolhidos, segundo Gotlieb (1998), levando em conta certos aspectos como por
exemplo, as manifestações e danos apresentados pelo edifício, o tipo de solo, o espaço disponível
para a execução das atividades, o tipo de fundação existente, o carregamento e o nível de urgência
com que deve ser executada a solução.
Há, ainda, soluções para reaprumo de edifícios, que não interferem diretamente na fundação
do edifício, como a aplicação de carga na superfície do terreno, do lado menos recalcado do prédio.
Essa alternativa será estudada e detalhada no presente trabalho como possibilidade para correção
do desaprumo de edifícios inclinados na orla da cidade de Santos.

1.2 Problema de Pesquisa

Prédios inclinados na Orla da Cidade de Santos devido a problemas de recalque verticais


por adensamento ocorridos por conta das características de compressibilidade da argila marinha
presente no subsolo, não identificadas na época da construção dos prédios, entre as décadas de
1950 e 1960.
A pesquisa do presente trabalho refere-se ao estudo de uma solução alternativa ao reforço
de fundação, que seja possível de ser adotada para correção do desaprumo dos prédios inclinados,
causado pelo adensamento de solo argiloso existente no seu subsolo.
9

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Identificar uma alternativa de solução ao reforço de fundação do edifício, por meio de


fundações profundas, para corrigir o desaprumo de edifícios inclinados na orla de Santos.

1.3.2 Objetivos específicos

Verificar a influência do solo de Santos no comportamento dos edifícios, por causa da


ocorrência de recalques diferenciais por adensamento.
Analisar uma solução alternativa para correção de recalque diferencial em edifícios, para
correção do seu desaprumo, utilizando como caso real, o do edifício Núncio Malzoni, em Santos.

1.4 Justificativa

São comuns casos de obras que apresentam diversos tipos de manifestações e danos,
causadas pelo mau desempenho da fundação. Uma das formas de manifestação desses danos, é por
meio do recalque de edifícios.
Na cidade de Santos (SP), pode-se observar diversos casos de edifícios que sofreram
recalques diferenciais e perderam seu prumo vertical, por causa do adensamento da camada de
argila marinha, presente no subsolo da região. Casos como esse, além de facilmente perceptíveis,
trazem grande incômodo aos moradores, mau desempenho do edifício, além de desvalorização do
imóvel, necessitando, assim, de ações para estabilização dos recalques e correção do desaprumo,
aumentando o desempenho e a segurança do edifício.
O reforço de fundação é uma das soluções encontradas para a estabilização do recalque e
reaprumo do edifício e foi executado no edifício Núncio Malzoni, na orla de Santos, que chegou a
apresentar deslocamento horizontal de 2,2 metros e necessitou de uma subfundação e reaprumo
utilizando macacos hidráulicos.
A importância do presente trabalho está na análise de uma alternativa de solução para o
reaprumo de edifícios inclinados, causado pela ocorrência de recalques por adensamento. Será feito
10

um estudo comparativo entre a solução executada no edifício Núncio Malzoni e a solução


alternativa a ser pesquisada, ressaltando aspectos econômicos, temporários e de eficiência de
resultado.

1.5 Estrutura do Trabalho

Esse trabalho será estruturado em 5 seções.


A seção 1 apresentará a introdução.
A seção 2 apresentará a revisão da literatura sobre as características geológicas e
geotécnicas e problemas de recalque na cidade de Santos, os tipos de recalque e suas causas e as
soluções adotadas para a estabilização de recalques e correção de prumo de edifícios.
A seção 3 apresentará a metodologia da pesquisa.
A seção 4 compreenderá um estudo de caso do edifício Núncio Malzoni, na cidade de
Santos, que passou pela execução de reforço de fundação.
A seção 5 apresentará a escolha de uma nova solução alternativa ao reforço de fundação,
para o reaprumo de edifícios inclinados, assim como os possíveis resultados obtidos com a escolha
da nova solução, suas vantagens e desvantagens e um comparativo entre a solução alternativa e a
executada no caso estudado.
11

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 MANIFESTAÇÕES DE MAU DESEMPENHO DE EDIFÍCIOS

Em casos de edificações que apresentam mau desempenho, podem sem manifestados


alguns danos. Segundo Gotlieb (1998), esse danos se classificam em:
 Arquitetônicos – aqueles que influenciam na estética da edificação
 Funcionais – são os que geram mau funcionamento da edificação
 Estruturais – referem-se aos que apresentam danos na estrutura da edificação.
Tais danos podem ser encontrados na própria fundação, que apresenta deterioração de suas
peças e perda de resistência, ou na obra como um todo, com a ocorrência de recalques verticais por
adensamento e desaprumo. Na Figura 1 pode-se observar um exemplo de um galpão que sofreu
recalques nas sua fundação.

Figura 1: Galpão com recalques de fundação

Fonte: Gotlieb, 1998

De acordo com Gotlieb (1998, pg. 474) algumas das principais causas responsáveis pelo
mau desempenho de uma fundação e manifestação de recalque dos solos por adensamento, que
podem explicar os problemas de recalque por adensamento na cidade de Santos, são: (...) ausência,
insuficiência ou má qualidade das investigações geotécnicas, má interpretação dos resultados da
investigação geotécnica;
12

2.1.1 Diagnóstico

É de suma importância a etapa de diagnóstico e entendimento das causas, origem,


mecanismo dos danos, assim como a avaliação de magnitude, velocidade e direcionamento dos
movimentos das deformações para a tomada de decisão do tipo de solução escolhida para a correção
do desaprumo de edifícios que sofreram recalque.

2.2 Recalques

2.2.1 Recalques das edificações com fundações superficiais

De acordo com Pinto (2006), recalques são deformações que ocorrem devido a
carregamentos verticais aplicados na superfície do terreno por edificações com fundações do tipo
superficial (sapatas ou radiers). Existem dois tipos de deformações:
 Recalques elásticos (imediatos) – são aqueles que ocorrem inicialmente, logo após o
término da construção, observados em solos arenosos e argilosos não saturados.
 Recalques por adensamento primário – são aqueles que ocorrem de forma lenta, observadas
em solos argilosos saturados, onde ocorre o processo de saída lenta de água dos vazios,
causados pelo processo de adensamento dos solos finos (argilas e siltes). Este tipo de
recalque é o que ocorreu e foi observado nos edifícios da Baixada Santista.

2.2.2 Tipos de Recalque

De acordo com Urbano (2011), o recalque total é composto da seguinte forma:

r = r i + rp + rs

Em que:

 ri é o recalque imediato, calculado pela Teoria da Elasticidade.


13

 rp é o recalque por adensamento primário. Ocorre em solos argilosos saturados, de baixa


permeabilidade, através da redução de volume do solo com a saída de água dos vazios por
conta do aumento da pressão neutra que acontece pela solicitação de cargas na fundação.
Para seu cálculo usa-se a Teoria de Terzaghi.
 rs é o recalque por adensamento secundário, acontece após o primário. Com a dissipação
da pressão neutra o solo, sob ação da carga efetiva constante continua se deformando. Este
tipo é mais raro de ocorrer.

2.2.3 Recalque por Adensamento Primário

Segundo Urbano (2016):

Seja uma camada de solo compressível saturada, que se estende até uma profundidade H
abaixo da cota de apoio de uma placa flexível sujeita a uma pressão p. Se a pressão efetiva
final σv, a meia altura da espessura H (Figura 2), for superior a pressão de pré-
adensamento σa, ocorrerá recalque por adensamento.

Figura 2: Adensamento Primário

Fonte: Urbano, 2016

Quando o excesso de pressão neutra é dissipado, o recalque primário é composto por duas
parcelas. A primeira demonstra a recompressão do solo até a pressão (tensão) de pré-adensamento
σa, e a segunda demonstra a variação da pressão (tensão) entre σv e σa:

𝑒𝑎 −𝑒𝑜 𝑒𝑣 −𝑒𝑎
𝑟𝑝 = 𝐻+ 𝐻 (1)
1+𝑒𝑜 1+𝑒𝑎
14

Ou, ainda:

𝐶 .𝐻 𝜎
̅ 𝐶𝑐 .𝐻 𝜎
̅
𝑟𝑝 = 1+𝑟 𝑒 log 𝜎̅ 𝑎 + 1+ 𝑒𝑎
log 𝜎̅𝑣 (1.1)
𝑜 𝑣𝑜 𝑎

Em que:
Cr: índice de recompressão (obtido no ensaio de adensamento);
Cc: índice de compressão (obtido no ensaio de adensamento);
eo: índice de vazios correspondente à tensão efetiva inicial (antes de ser aplicada a carga
p);
ea: índice de vazios correspondente à tensão de pré-adensamento;
σv0: tensão efetiva inicial (antes de ser aplicada a carga p);
σv: tensão efetiva total à meia altura da espessura H. É a soma da tensão efetiva geostática
inicial e o acréscimo de tensão provocado pela pressão p da placa.
σa: tensão de pré-adensamento do solo. A relação entre σa / σv0 é denominada como razão
de sobreadensamento (RSA).

Um estudo feito por Massad (1989) mostra o comportamento de argilas moles da Baixada
Santista em função das tensões aplicadas e a RSA, conforme apresentado na Figura 3, a seguir:
15

Figura 3: Valores de RSA para Baixada Santista

Fonte: Urbano, 2016

A partir da expressão 1 pode-se calcular o recalque total, no final do processo de


adensamento.
Caso haja necessidade de calcular o recalque em determinado tempo t, usam-se as
expressões 2, 2.1, 3 e 4 com os seguintes adimensionais: fator tempo (T v) e porcentagem de
recalque (U). As expressões desses dois adimensionais e as correlações entre eles são descritas
abaixo:

𝜋
𝑇𝑣 = (𝑈⁄100)² 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑈 ≤ 60% (2)
4

𝑇𝑣 = 1,781 − 0,933 log(100 − 𝑈) 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑈 > 60% (2.1)


𝑈 = (𝑟𝑒𝑐𝑎𝑙𝑞𝑢𝑒 𝑛𝑜 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑡⁄𝑟𝑒𝑐𝑎𝑙𝑞𝑢𝑒 𝑛𝑜 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑖𝑛𝑓𝑖𝑛𝑖𝑡𝑜)𝑥100 (3)
𝐶𝑣.𝑡
𝑇𝑣 = (4)
𝐻𝑑²
Em que:
16

Cv: coeficiente de adensamento.


t: tempo considerado.
Hd: máxima distância de percolação vertical.

2.3 Problemas de recalque na cidade de Santos

No tópico presente será feito um breve estudo sobre o histórico, formação geológica e os
problemas de recalque manifestados em edifícios da orla da cidade de Santos, com base em estudo
bibliográfico dos autores Faiçal Massad (2009) e Carlos Maffei (2006).

2.3.1 Aspectos históricos, evolução urbana de Santos

De acordo com Massad (2009), houve uma ocupação desorganizada da cidade de Santos
após o descobrimento do Brasil. Em meados de 1860, com o início da construção da estrada de
ferro da São Paulo Railway, e a alta da economia baseada em café, foi uma era de prosperidade da
cidade. Santos exportava aproximadamente 80% do café brasileiro, e isso fez com que a cidade
crescesse cada dia mais e aumentasse o tamanho da população.
Com cerca de 45 mil habitantes, em 1905, segundo Massad (2009), o engenheiro Saturnino
de Brito foi responsável pela elaboração de um planejamento urbano completo, para guiar de uma
forma organizada o crescimento da cidade.
A partir de 1936 iniciou-se a urbanização da orla marítima, que passou a ser considerada
área nobre da cidade. A partir de 1950, houve um boom imobiliário e turístico que impulsionou a
construção de edifícios.

2.3.2 Aspectos geológicos

Até a década de 60, não havia muito conhecimento sobre os aspectos geológicos e
alterações do nível do mar ocorridas no período Quaternário. Após o ano de 1974 foram
intensificados os estudos na área e passou-se a ter mais conhecimento sobre o assunto.
Segundo estudos de Suguio e Martin (1978), na região de Santos-Bertioga, o nível máximo
do mar foi atingido aproximadamente há 5100 anos, nível esse situado a 4,5 m do nível atual. Há
17

3500 anos o nível atingiu 4,0 m e há 2000 anos, o nível do mar estava entre 1,5 e 2,0 metros acima
do nível atual.
A partir das variações do nível do mar formaram-se depósitos sedimentares na Baixada
Santista. Na Figura 4 abaixo pode-se observar a curva de variação do nível relativo do mar nos
últimos 7500 anos.

Figura 4: Curva de variação do nível do mar, trecho Santos-Bertioga

Fonte: Suguio e Martin, 1978

Segundo estudos de Massad (1999), durante um longo período, em que o conhecimento


sobre o solo da cidade de Santos ainda era escasso, as argilas sedimentares da Baixada eram
consideradas moles e normalmente adensadas, formadas por um único ciclo de sedimentação.
Após estudos de Suguio e Martin (1978), em que foram apresentados dois ciclos de
sedimentação, descobriu-se a existência de duas faixas horizontais de argila orgânica com
diferentes características. A primeira, constituída de argila mole e média de espessura de 15 metros
e a segunda constituída de argila de consistência rija e mais uniforme, com espessura de 10 metros.
Abaixo de tais camadas havia uma camada arenosa compacta. Portanto, a formação de tais
sedimentos marinhos na costa ocorreu pela variação do nível do mar.

2.3.3 Aspectos geotécnicos

Com o passar dos anos e aprimoramento dos estudos geotécnicos, foram realizadas diversas
sondagens e estudos sobre o perfil geológico dos solos de Santos, bem como sobre as camadas em
que é constituído. Sendo assim, foi possível traçar um perfil geotécnico da cidade de Santos.
18

Entre as profundidades de 6 e 20 m, a partir da superfície do terreno, encontra-se areia


medianamente compacta, predominantemente entre 10 e 15m e com SPT (Standard Penetration
Test ou ensaio de penetração padrão, realizado nas sondagens a percussão) variando de 9 a 30
golpes.
Na camada abaixo encontra-se argila muito mole, classificada, segundo Massad (1985)
como argilas SFL (Sedimentos Flúvio-lacustres), presentes em uma profundidade entre 10 e 30 m
e com valores de SPT entre 0 e 4 golpes.
Na camada mais abaixo desta última é encontrada novamente areia medianamente
compacta, como na camada mais superficial.
Entre 20 e 25 metros são encontradas as argilas transacionais (AT), classificadas por
Massad (1985). São caracterizadas pela consistência média a rija e com valores de SPT acima de
5 golpes.
Ainda abaixo das argilas transacionais são encontrados areia compacta e sedimentos
continentais e, mais abaixo, solo residual.
Na Figura 5, a seguir, é apresentado o perfil geológico da Baixada Santista.

Figura 5: Perfil geológico da Baixada Santista

Fonte: Massad, 2003


19

2.3.4 Edifícios em Santos

Segundo Massad (2009), entre os anos de 1946 a 1975, houve um grande crescimento
imobiliário na cidade de Santos, e vários edifícios foram construídos na orla santista. Em quase
todos foram adotadas fundações rasas projetadas em sapatas ou radiers, e apoiadas na camada mais
superficial de areia medianamente compacta.
Na época havia escassez de tecnologia disponível e limitações em termos de fundações
profundas. As soluções de fundações disponíveis, estacas Franki e tubulões pneumáticos, não eram
viáveis de serem utilizadas no solo de Santos por não conseguirem penetrar na primeira camada.
Além de que os construtores acreditavam que a primeira camada composta por areia compacta
resistiria às cargas solicitadas pelo edifício, pois não sabiam da existência de argila marinha abaixo
da camada superficial.
Por conta das características do solo santista e dos tipos de fundações utilizadas
mencionadas, além da acelerada e densa construção de edifícios próximos um do outro, houve um
aumento das tensões transferidas ao subsolo e interferência do bulbo de tensões nas construções
vizinhas, desencadeando recalques verticais diferenciais e consequentemente o desaprumo dos
edifícios.
Na Figura 6, a seguir, pode-se notar a situação dos edifícios da época, construídos sobre
fundação rasa, comparado com os edifícios atuais, sobre fundação profunda, além das diferentes
camadas de solo.
20

Figura 6: Ilustração das camadas de solo e tipos de fundações

Fonte: Site Programa de Educação Tutorial (PET))

De acordo com Massad (1985), há uma faixa crítica onde ocorreram a maioria dos
recalques. Nessa faixa a camada de argila mole é mais espessa do que em outras partes e se localiza
entre os canais 3 e 6, como é apresentado na Figura 7.
21

Figura 7: Vista aérea da cidade de Santos com destaque para faixa crítica entre os canais 3 e 6

Fonte: Google Earth – Adaptada

2.3.5 Problemas de característica social causados pelo recalque

Além do recalque ser classificado como um dano estrutural e funcional, pode-se manifestar
sendo um dano arquitetônico que influencia na estética do edifício e implica problemas de
característica social, deixando de ser um problema só de engenharia e passando a ser um incômodo
para proprietários e moradores desses edifícios. Segundo Teixeira (1994), o desaprumo de edifícios
pode gerar problemas como:
 Desnivelamento de pisos e consequentemente de ralos, fazendo com que a água não corra
na direção correta.
 Desnivelamento de elevadores, dificultando ou impedindo sua operação.
 Aparecimento de fissuras na alvenaria e nos revestimentos.
22

 Deformação nas paredes de alvenaria, assim como em caixilhos de janelas e batente de


portas.
Além dos problemas citados, outro grande inconveniente é a desvalorização econômica que
os edifícios sofrem.

2.4 Soluções para correção do desaprumo de edifícios

No momento do estudo das soluções existentes para a correção do prumo de um edifício,


além da eficiência da solução devem ser levados em conta a facilidade de execução e o custo da
solução, que deve ser acessível aos moradores do edifício.
Em casos de recalque por adensamento e desaprumo de edifícios é comum a utilização de
soluções de reforço de fundação para a estabilização do recalque e correção do prumo, como foi
executado na obra do edifício Núncio Malzoni, que será detalhada como estudo de caso
posteriormente, no presente trabalho.
Na obra literária de Gotlieb (1998), são apresentados diversos tipos de soluções para o
reforço de fundações. Alguns exemplos são: reparo ou reforço dos materiais da fundação;
enrijecimento da estrutura; aumento da área de apoio do elemento de fundação; implantação de
estacas prensadas; execução de estacas injetadas; utilização de estacas convencionais; acréscimo
de estacas adicionais, sapatas e tubulões (solução utilizada no caso do edifício Núncio Malzoni),
sangria e injeções para expandir o solo.
Outro tipo de solução para correção do prumo de edifícios que sofreram recalque, como
uma alternativa ao reforço de fundação, que será mais aprofundada e detalhada no presente trabalho
é o carregamento superficial do lado menos recalcado do edifício, a fim de que esse lado sofra
recalques por adensamento iguais ao lado mais recalcado, proporcionando um nivelamento no seu
prumo vertical.
23

3 METODOLOGIA

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma nova solução, alternativa ao reforço
de fundação empregado no edifício Núncio Malzoni, da cidade de Santos, para a estabilização de
recalques por adensamento e correção do prumo de edifícios inclinados na orla da cidade de Santos.
Partindo desse princípio, foi realizada uma pesquisa bibliográfica descritiva sobre o solo da
cidade de Santos, os aspectos geológicos e geotécnicos e os problemas de recalque e desaprumo
dos edifícios localizados na orla da praia, além de pesquisa bibliográfica sobre os tipos de recalque,
recalque dos solos por adensamento primário e exemplos de soluções possíveis de serem adotadas
para correção do prumo de edifícios inclinados.
Será realizado um estudo de caso do reaprumo do edifício Núncio Malzoni, da cidade de
Santos, através de pesquisa bibliográfica, para melhor entendimento do método utilizado para
correção do prumo e estudo de nova alternativa.
Será estudado através de pesquisa bibliográfica exploratória uma alternativa ao método de
correção de recalque e reaprumo de edifício utilizando reforço de fundação, executado no edifício
Núncio Malzoni. A pesquisa servirá de base para apresentação dos possíveis resultados, vantagens
e desvantagens da utilização do método, análise e detalhamento dos aspectos envolvidos.
24

4 ESTUDO DE CASO

Nessa seção será apresentado um estudo do caso de reaprumo do edifício Núncio Malzoni
através de pesquisa bibliográfica, utilizando como recurso o artigo técnico publicado em 2006 por
Carlos Maffei, Heloisa Gonçalves e Paulo Pimenta, que se refere ao renivelamento do Bloco A do
edifício e outro artigo técnico publicado no 9º Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e
Geotecnia da 3ª Feira da Industria de Fundações e Geotecnia em 2019, referente ao reaprumo do
Bloco B do edifício Núncio Malzoni, elaborado pelos autores Carlos Maffei e Heloisa Gonçalves.

4.1 Reaprumo do edifício Núncio Malzoni

O condomínio Núncio Malzoni, localizado a cidade de Santos-SP, foi concluído em 1967,


é constituído por duas torres, com 17 pavimentos cada. Do seu lado esquerdo se encontra o
condomínio Jardim Europa, constituído por seis blocos de 15 pavimentos e do lado direito a
Pinacoteca da cidade, uma casa de dois pavimentos. Logo após a construção do edifício Núncio
Malzoni e do condomínio Jardim Europa, que foi finalizado em 1968, os prédios começaram a se
inclinar uns em relação aos outros, os recalques dos edifícios Núncio Malzoni começaram a ser
acompanhados em 1971, de acordo com Maffei, Gonçalves e Pimenta (2006).
A fundação do edifício Núncio Malzoni foi executada em sapatas apoiadas entre 1,5 metros
e 2,0 metros de profundidade, portanto eram assentadas na camada de areia compactada localizada
sobreposta à camada de argila marinha mole, responsável pelas ocorrências de recalque por
adensamento. As sapatas foram interligadas por vigas de rigidez de 0,5 metros de largura por 1,5
metros de altura para evitar distorções na estrutura.
De acordo com Maffei, Gonçalves e Pimenta (2006), a primeira tentativa para correção dos
recalques do edifício foi realizada em 1978. Como solução, foram executadas estacas raiz de 25
cm de diâmetro e comprimento superior a 50 metros em todas as sapatas do lado esquerdo, o mais
recalcado do Bloco A, e utilizando o método de rebaixamento de lençol, foram aumentadas as
tensões efetivas do lado direito do edifício. Como resultado ouve uma diminuição da velocidade
de recalque após a adoção da solução, porém alguns meses depois, no final do ano de 1979 as
velocidades de recalque retornaram aos valores anteriores, entre 8 e 13 mm/ano.
25

Na Figura 8 abaixo, pode ser observada a evolução dos recalques de quatro pilares externos
do Bloco A ao longo do tempo.

Figura 8: Evolução dos recalques no Bloco A

Fonte: Maffei, 2006

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), responsável pela leitura dos recalques, emitiu
em 1995, um relatório descrevendo a gravidade dos problemas de recalque apresentados pelo
edifício Núncio Malzoni, que apresentava um elevado grau de desaprumo. O Bloco A apresentava
inclinação de 2,2° em direção ao condomínio Jardim Europa e 0,6° na parte de trás do edifício, em
direção ao Bloco B. Os recalques se apresentavam em 45 cm na direção transversal e 25 cm na
longitudinal, o que totalizava uma diferença de 70 cm na direção diagonal.
Após uma análise de segurança estrutural do edifício, foram propostas as seguintes
alternativas para solução do problema de recalque:
 Reforço dos elementos estruturais para o edifício suportar por mais tempo o aumento da
inclinação.
 Reforço dos elementos já comprometidos com a execução de uma subfundação para
interromper o processo evolutivo dos recalques.
 Reaprumo do edifício.
 Demolição e construção de um novo edifício.
26

Após o estudo das soluções, foi escolhido o reaprumo do edifício que, apesar de não ser a
solução de menor custo financeiro seria a melhor opção para que os apartamentos voltassem a ser
valorizados, já que, na época, estavam valendo cerca de 10% do valor de um apartamento similar
na região, segundo Maffei, Gonçalves e Pimenta (2006).
A análise estrutural do edifício foi verificada pelo programa de computador PORCA
(Pórticos de Concreto Armado), desenvolvido pelo Prof. Dr. Paulo de Mattos Pimenta. Como
resultado, foi definido pelo programa que, caso a estrutura mantivesse a velocidade de recalque
dos últimos 20 anos, atingiria um limite e colapso dentro de 12 anos, por instabilidade, antes de
tombar. No programa PORCA, ainda era possível bloquear as acomodações plásticas, tais
bloqueios foram considerados como correspondentes aos reforços que poderiam ser realizados em
determinados locais. Os reforços foram pré dimensionados para criação de um orçamento.

4.1.1 Escolha da solução para o reaprumo do Bloco A

As soluções que foram consideradas para o reaprumo do edifício foram: carregamento do


lado menos recalcado, sangria, injeções para expandir o solo, e subfundação. Considerando alguns
aspectos como: tempo limitado para a intervenção, soluções usadas anteriormente que não
apresentaram sucesso e não conhecimento de intensidade e duração de recalques futuros optou-se
pela escolha da subfundação.
A solução de carregamento do lado menos recalcado não foi considerada na época a melhor
escolha pelo fato de sua melhoria ocorrer mais lentamente.
A sangria foi considerada uma solução complexa e onerosa pelo fato de ter que ser bem
controlada, já que a quantidade de material retirada deve ser proporcional ao recalque que se
pretende impor ao edifício.
Em relação ao estudo da aplicação de injeções no maciço, para um levantamento controlado
do lado recalcado, as análises realizadas indicaram a inviabilidade dessa solução.
É importante ressaltar que durante a tomada da decisão para a escolha da solução deve-se
levar em conta os prédios vizinhos, pois o problema de recalque nunca está restrito a um único
edifício, mas ao conjunto de edifícios cujas cargas se sobrepõem.
27

4.1.1.1 Projeto de reaprumo do Bloco A

Levando em consideração todos os aspectos abordados para a escolha da melhor solução, o


projeto de reaprumo do Bloco A, desenvolvido pela Maffei Engenharia, tinha como princípio a
execução de uma subfundação para a transferência das cargas do edifício e colocá-lo novamente
no prumo utilizando macacos hidráulicos. Como subfundação foram executadas 16 estacas, com
diâmetros entre 1 e 1,4 metros, escavadas em uma profundidade mínima de 55 metros e, executadas
7 vigas de transição, tipo Vierendeel, de concreto armado, apoiadas nas fundações profundas nos
dois lados do prédio.
A Figura 9 apresenta uma perspectiva do edifício com a solução adotada e a Figura 10 a
seção transversal do edifício, com o esquema de colocação dos macacos.

Figura 9: Perspectiva do reforço

Fonte: Maffei, 2006


28

Figura 10:Esquema de colocação de macacos

Fonte: Maffei, 2006

Foram considerados alguns aspectos importantes na escolha das novas fundações: as cargas
que seriam transferidas para as vigas de transição eram de 7.000 kN; o subsolo da região era
composto por camadas alternadas de areia e argila mole; não havia grande espaço para o
posicionamento dos equipamentos especialmente do lado mais inclinado do edifício; não havia a
possibilidade de execução da fundação com vibrações, já que os moradores continuariam em seus
apartamentos durante a execução da obra.

4.1.1.2 Correção do edifício – Bloco A

Toda a obra de correção do prumo do Bloco A do Núncio Malzoni foi executada sem que
os moradores precisassem desocupar o edifício. Foram utilizados tubos flexíveis para substituição
de ligações elétricas e hidráulicas na parte inferior do edifício para que os serviços não precisassem
ser cortados durante o período de levantamento do edifício, de acordo com Maffei, Gonçalves e
Pimenta (2006).
Foram utilizados 14 macacos hidráulicos de capacidade entre 5.000 kN e 9.000 kN, cada
macaco foi colocado entre a viga e o bloco de fundação e nas laterais foram construídos pilaretes
para a colocação dos calços, que serviam de apoio as vigas.
As sapatas não foram desligadas do edifício depois de liberadas, assim, poderiam trabalhar
em conjunto com a nova fundação, aumentando ainda mais a rigidez da parte inferior do edifício,
que se apresentou eficiente, já que o prédio não apresentou nenhuma trinca durante o reaprumo.
29

Figure 11: Sapatas escavadas

Fonte: Maffei, 2006

O início da execução do reaprumo do edifício foi dia 2 de janeiro de 2001, e no final do


mês, dia 26 de janeiro, o edifício já apresentava as laterais alinhadas, então foi executado o restante
do alinhamento entre a frente e o fundo do edifício.
Após avaliações e leituras de recalque foi observada a não ocorrência de recalque após a
obra de reaprumo.
Nas Figura 12 abaixo, pode-se observar a instalação dos macacos entre bloco e viga antes
e durante o macaqueamento.

Figure 12: Macacos hidráulicos antes e durante o macaqueamento.

Fonte: Maffei, 2006


30

Na Figura 13 está apresentada uma comparação do Bloco A, antes e após seu reaprumo.

Figura 13: Bloco A do Edifício Núncio Malzoni antes e após seu reaprumo

Fonte: Maffei, 2006

Deve-se ressaltar a importância do reaprumo na valorização dos imóveis do Bloco A. Antes


do reaprumo, o último apartamento foi vendido por R$ 36.000,00 e após o reaprumo, os
apartamentos estavam avaliados em, no mínimo R$ 400.000,00, em valores da época.

4.1.2 Reaprumo do Bloco B

Em paralelo à realização da obra de reaprumo do Bloco A, foram executadas novas


fundações no Bloco B do condomínio, em 1999. As obras para o reaprumo do bloco B tiveram
início somente em novembro de 2010, pois não havia recursos financeiros suficientes para
execução total da obra logo após a obra do Bloco A, e além disso, o Bloco B estava menos
comprometido. O reaprumo foi realizado em dezembro do mesmo ano.
No caso do Bloco B não foi possível adotar, para a fundação, a mesma solução do Bloco A,
ou seja, estacas escavadas de grande diâmetro, pela falta de espaço para posicionamento dos
equipamentos utilizados na execução.
31

No projeto do Bloco B, segundo Maffei e Gonçalves (2019), foram projetadas estacas raiz
com 40 cm de diâmetro e armação com tubo metálico de 7 polegadas e 55 metros de comprimento,
para suportar carga máxima de 1080 kN. Para que a utilização das estacas raiz fosse efetiva no caso
do Bloco B, foram realizadas provas de carga em 5 estacas teste, numa área livre do terreno. O
projeto e execução dos testes das provas de carga são de autoria do Eng. Armando Caputo.
Após a execução das estacas raiz do Bloco B, a obra foi interrompida, por fatores já citados,
e então, retomada em 2010. Os recalques foram monitorados durante esse período (entre 1971 e
2010).
Após o termino do reaprumo do Bloco A, e execução da fundação em estacas raiz do Bloco
B, houve uma diminuição considerável das velocidades de recalque do Bloco B.
Da mesma forma que no Bloco A, o edifício B não precisou ser desocupado durante o
processo de reaprumo e as instalações prediais (hidráulicas e elétricas) foram substituídas por
tubulações flexíveis, conforme está apresentado na Figura 14.

Figura 14: Tubulações flexíveis instaladas para permitir as operações

Fonte: Maffei, 2019

O processo de reaprumo do Bloco B foi executado da mesma maneira que no Bloco A.


Foram utilizados macacos hidráulicos instalados nos nichos dos pilares, conforme é indicado nas
Figuras 15 a 17, a seguir.
32

Figura 15: Macacos instalados para abrir um console

Fonte: Maffei, 2019

Figura 16: Nicho aberto para colocação do macaco para levantar o pilar

Fonte: Maffei, 2019


33

Figure 167: Macaco instalado no pilar

Fonte: Maffei, 2019

Após a instalação dos macacos deu-se início à etapa de macaqueamento, em que foram
aplicadas cargas nos macacos para levantar o prédio. Foi instalado um medidor de nível em um
andar intermediário do prédio para o acompanhamento do nível durante a etapa. O prédio voltou
ao prumo dentro de 4 dias.
A Figura 18 apresenta uma comparação do Bloco B, antes e depois do seu reaprumo.

Figura 178: Bloco B do Edifício Núncio Malzoni antes e depois do seu reaprumo

Fonte: Maffei, 2006


34

Concluiu-se que as intervenções no Bloco B melhoraram consideravelmente seu


comportamento, e após 8 anos o edifício não voltou a sofrer recalques perceptíveis.
35

5 CRONOGRAMA

AGO SET OUT NOV DEZ


RevisãoBibliográfica x x
Determinação dos Objetivos x x

Determinação de caso de estudo x x


Escolha de fonte para coleta de
dados x

Análise e interpretação dos dados x x x


Redação do TCC x x x
Preparação da Apresentação x

Impressão e revisão da redação x


Apresentação do TCC x
36

REFERÊNCIAS

ALONSO, Urbano Rodriguez. Previsão e Controle das Fundações. 2. ed. São Paulo:
Bluncher, 2011.

GOTLIEB, Mauri; GUSMÃO FILHO, Jaime de Azevedo. Reforço de Fundações. In:


Fundações: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2019.

MAFFEI, Carlos Eduardo Moreira; GONÇALVES, Heloisa Helena Silva. Reaprumo do Bloco
B do Condomínio Núncio Malzoni Influência das Estacas-Raiz nas Velocidades de
Recalques. 9º Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia 3ª Feira da
Industria de Fundações e Geotecnia SEFE 9 – 4 a 6 de junho de 2019.

MAFFEI, Carlos Eduardo Moreira; GONÇALVES, Heloisa Helena Silva; PIMENTA, Paulo de
Mattos. Renivelamento do Edifício Núncio Malzoni com 2.2° de desaprumo. Geotecnia, São
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MASSAD, Faiçal, Baixada Santista: Implicações da História Geológica no Projeto


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PINTO, Carlos de Sousa. Curso básico de Mecânica dos Solos. São Paulo: Oficina de
Textos, 2000/2006.

SUGUIO, K. & MARTIN, L. 1978a. Formações quaternárias marinhas do litoral paulista e


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TEIXEIRA, Alberto H. – Fundações Rasas na Baixada Santista. In: Solos do Litoral de São
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