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Introdução
O vírus não tem um único foco radiador ou núcleo que o difunde e nem um
circulo concêntrico que o espraia. É esta dificuldade de localizar uma forma singular e
regular de percepção comum ou em outros termos ausência de uma sintomatologia, é
uma das características da pandemia. Por isto a distinção entre endemia e pandemia é
de suma importância. Endemia é relativa a algo endêmico de uma determinada
geografia e restrita aos seus elementos, um determinado clima, solo e população. A
pandemia é algo que não tem suas proporções delimitadas, pois a disseminação do
vírus pelos diversos países não tem um único foco radiador, podendo ter sim um pais
com um nível mais alto de casos de contaminação pelo vírus, mas não que esta parte
seja tomada como responsável pelo todo, porque outros países, que não possuem
altos índices também desenvolvem casos autóctones. O vírus é como um campo
minado que implica a conexão entre heterogêneos: qualquer ponto pode ser
conectado com qualquer outro; ele não pode ser compreendido em relação a um único
ponto, pois este pode ser rompido em qualquer lugar e dividir-se segundo outra lógica
de transformação, podendo ser somente mapeado.
Tal fluidez viral. Quebra com os sólidos paradigmas que orientam nossa
civilização. Como as divisões entre natureza e cultura, entre política “domestica” e
política “externa”, racionalismo e empirismo gerando a crise do progresso como
resultado da autopropulsão do desenvolvimento técnico. Na distinção política
“domestica” e política “externa”. Na política “domestica” seriam as boas leis. O Estado
que concentra o monopólio da violência sobre uma autoridade legitima, no sentido de
Weber. Fazendo com que os homens possam viver em paz no interior de uma
coletividade, tal Estado ou unidade de poder é una e indivisível, indispensável para
viver em sociedade, como Hobbes à consagrou. Na política externa são as boas
armas, a sobrevivência do Estado diante da ameaça virtual de outros Estados. Nas
relações entre os Estados estes não possuem um centro de poder ou unidade de
justiça. Assim o que se encontra é uma guerra de leviatã contra leviatã, “estado de
natureza”, cada Estado julga o que é mais favorável ao seu interesse. Os Estados
ficam em uma situação de guerra perpétua e contínua vigília de suas fronteiras. Na
ausência da conscientização clara entre política “domestica” e política “externa” uma
tende a se confundir com a outra, deixando uma de ser essencialmente pacifica e a
outra de ser radicalmente belicosa, logo o inimigo não pode ser circunscrita como
aquele que esta para além da fronteira. O inimigo não é mais relativo a um
determinado espaço ou localizado. Assim todos e qualquer um podem ser um inimigo
em potencial. O vírus flui como o medo que penetra em qualquer canto ou fresta de
nossas casas, ruas, nas telas luminosas dos meios de comunicação, locais de
trabalho e no ir e vir do metro. Flui do corpo e até está no ar que respiramos. É há não
visibilidade do inimigo que gera a ubiqüidade/onipresença do medo.
Por isto é possível antes da tempestade das águas, ou das ondas “virulentas”,
a virtù poder construir os diques e canais, de modo que as águas corram para estes
canais, ou se utilizar da ciência e da tecnologia de modo politizado. O fato é que não
dá para anular a tempestade, mas pode se mostrar ao menos virtuoso para usar
expressões de Maquiavel. E é por estas considerações que a biossegurança não pode
ser um produto de uma política isolacionista de um Estado autárquico, que se volta pra
si. Porque a possibilidade de uma política de segurança producente requer considerar
a situação do vírus H1N1 que é uma situação pandêmica, exigindo interdependência
complexa entre Estados demandando, uma estratégia que necessita dos canais de
comunicação e um nível significativo de solidariedade internacional. Biossegurança é
antes de tudo uma estratégia de poder formada por um conjunto de mecanismos que
operam no serviço de saúde (em sentido lato) com medidas técnicas, administrativas,
educativas, medicas e psicológicas. Por isto não só aborda medidas de controle de
infecções laboratoriais e a saúde dos infectados. Esta para ser uma política de
segurança deve fazer a contenção de agentes patogênicos é a predominância da
“medicina preventiva” sobre a “medicina curativa” que de modo algum pode dispensar
a curativa. Devido está predominância da prevenção/contenção, faz-se necessário
edificar uma consciência coletiva. Quando dissemos que a biossegurança é antes de
tudo uma estratégia. É dizer que o movimento de contenção existe dentro da área de
influencia do microorganismo patogênico. “Não é uma estratégia como movimentos
fora do alcance do tiro dos canhões inimigos ou do contagio. Mas uma estratégia
norteada pela contenção do H1N1.
Por isto a biossegurança não pode ser pensada como mera acumulação de
informação progressiva, está tem que ser re-significada, atualizada e especialmente
supervisionado conforme as exigências patogênicas. Por isto não inclui uma conclusão
em sua própria terminologia diante das necessidades concretas. É diante do perigo
que se forma e se sujeita o próprio conceito de segurança, que aqui é exigido no
combate a microorganismos patogênicos. A biossegurança como questão provoca um
abalo nuclear no campo do saber medico. Pois este entra em catarse. Empregamos o
termo catarse segundo Gramsci para indicar a passagem do momento meramente
egoístico-passional para o momento ético-político, ou seja, a elaboração superior da
estrutura em superestrutura na consciência dos homens. O processo pelo qual os
intelectuais superam seus interesses corporativos imediatos ou seu campo de saber
se a uma dimensão universal. Seria “catártico” o momento no qual o campo se articula
com outros saberes.
Na escuridão tudo pode acontecer não há como prever o que vira. A escuridão é a
imagem e semelhança da incerteza não só sua metáfora, porque nem sempre dentro
da escuridão se encontrou o perigo-real, mas sim o gene da incerteza, portanto
habitat/moradia do medo. O medo não resulta da perda dos dispositivos de segurança,
mas da "nebulosidade" da segurança alcançar seu objetivo. Não é por acaso que o
termo risco e usado no lugar de medo durante a política de biossegurança.
COSTA, M.A .F. & Costa, M.F.B. Biossegurança: elo estratégico de segurança
e saúde no trabalho. Revista CIPA, Ano 23, N.266, p.86-90, 2002.