Você está na página 1de 1

L’homme revient pour ainsi dire à l’état de nature quand il rêve; mais moins les idées acquises ont

pénétré dans encore sur lui l’influence dans le rêve.” (Ibid., 462.) E Maury prossegue relatando, à
guisa de exemplo, como, em seus sonhos, ele é, não raro, vítima da própria superstição que
combate em seus textos com particular veemência.
Essas reflexões penetrantes de Maury, contudo, perdem seu valor na investigação da
vida onírica, pelo fato de ele considerar os fenômenos que observou com tanta exatidão como não
passando de provas de um “automatisme psychologique” que, em sua opinião, domina os sonhos,
e que ele encara como o oposto exato da atividade mental.
Stricker (1879, [51]) escreve: “Os sonhos não consistem unicamente em ilusões.
Quando, por exemplo, num sonho alguém tem medo de ladrões, os ladrões, é verdade, são
imaginários - mas o medo é real.” Isso nos chama a atenção para o fato de os afetos nos sonhos
não poderem ser julgados da mesma forma que o restante de seu conteúdo; e nos confrontamos
com o problema de determinar que parte dos processos psíquicos que ocorrem nos sonhos deve
ser tomada como real, isto é, que parte tem o direito de figurar entre os processos psíquicos da
vida de vigília.

(G) TEORIAS DO SONHAR E DE SUA FUNÇÃO

Qualquer investigação sobre os sonhos que procure explicar o maior número possível de
suas características observadas de um ponto de vista particular, e que, ao mesmo tempo, defina a
posição ocupada pelos sonhos numa esfera mais ampla de fenômenos merece ser chamada de
teoria dos sonhos. Verificaremos que as várias teorias diferem no sentido de selecionarem uma ou
outra característica dos sonhos como sendo a essencial e de tornarem-na como ponto de partida
para suas explicações e correlações. Não precisa ser necessariamente possível inferir uma função
do sonhar (seja ela utilitária ou não) a partir da teoria. Não obstante, visto termos o hábito de
buscar explicações teleológicas, estaremos mais propensos a aceitar teorias que estejam ligadas
com a atribuição de uma função ao sonhar.
Já travamos conhecimento com vários grupos de pontos de vista que merecem ser mais
ou menos intitulados de teorias dos sonhos neste sentido do termo. A crença sustentada na
Antiguidade de que os sonhos eram enviados pelos deuses para orientar as ações dos homens
constituía uma teoria completa dos sonhos, proporcionando informações sobre tudo o que valia a
pena saber a respeito deles. Desde que os sonhos passaram a ser objeto da pesquisa científica,
desenvolveu-se um número considerável de teorias, inclusive algumas que são extremamente
incompletas.
Sem a intenção de fazer qualquer enumeração exaustiva, podemos tentar dividir as
teorias dos sonhos, grosso modo, nos três seguintes grupos, conforme seus pressupostos
subjacentes quanto ao volume e à natureza da atividade psíquica nos sonhos.
(1) Existem teorias, como a de Delboeuf [1885, 221 e seg.], segundo as quais a

Você também pode gostar