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estação na linha entre San Sebastian e Bilbao, pela qual seu trem havia passado 250 dias antes

de ele ter o sonho.


Creio, portanto, que o agente instigador de todo sonho encontra-se entre as experiências
sobre as quais ainda não se “consultou o travesseiro”. Assim, as relações entre o conteúdo de um
sonho e as impressões do passado mais recente (com a única exceção do dia imediatamente
anterior à noite do sonho) não diferem sob nenhum aspecto de suas relações com as impressões
que datam de qualquer período mais remoto. Os sonhos podem selecionar seu material de
qualquer parte da vida do sonhador, contanto que haja uma linha de pensamento ligando a
experiência do dia do sonho (as impressões “recentes”) com as mais antigas.
Mas por que essa preferência pelas impressões recentes? Teremos alguma idéia sobre
esse ponto, se submetermos um dos sonhos da série que acabo de citar [em [1]] a uma análise
mais completa. Para essa finalidade, escolherei o

SONHO DA MONOGRAFIA DE BOTÂNICA


Eu escrevera uma monografia sobre certa planta. O livro estava diante de mim e, no
momento, eu virava uma página dobrada que continha uma prancha colorida. Encadernado com
cada exemplar havia um espécime seco de planta, como se tivesse sido retirado de um herbário.

ANÁLISE
Naquela manhã, eu vira um novo livro na vitrina de uma livraria, trazendo o título O
Gênero Ciclâmen - evidentemente uma monografia sobre essa planta.
Os ciclâmens, refleti, eram as flores prediletas de minha mulher e me repreendi por
lembrar-me tão raramente de levar flores para ela, que era o que lhe agradava. - A questão de
“levar flores” lembrou-me um episódio que eu repetira recentemente para um círculo de amigos e
que havia usado como prova em favor de minha teoria de que o esquecimento é, com muita
freqüência, determinado por um objetivo inconsciente, e que sempre permite que se deduzam as
intenções secretas da pessoa que esquece. Uma jovem estava habituada a receber um buquê de
flores do marido em seu aniversário. Certo ano, esse símbolo da afeição dele deixou de se
manifestar e ela irrompeu em pranto. O marido chegou em casa e não teve nenhuma idéia da
razão por que ela estava chorando, até que ela lhe disse que era o dia de seu aniversário. Ele
levou a mão à cabeça e exclamou: “Sinto muito, mas eu havia esquecido por completo! Vou sair
agora mesmo para buscar suas flores”. Mas não houve meio de consolá-la, pois ela reconheceu
que o esquecimento do marido era uma prova de que ela já não ocupava o mesmo lugar de antes
em seus pensamentos. - Essa senhora, Sra. L., encontrara minha mulher dois dias antes de eu ter
o sonho, dissera-lhe que estava se sentindo muito bem e perguntara por mim. Alguns anos antes,
ela me procurara para tratamento.
Comecei então outra vez. Certa feita, recordei-me, eu realmente havia escrito algo da
natureza de uma monografia sobre uma planta, a saber, uma dissertação sobre a planta da coca

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