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C
O bservatório
N acional

Edição 04/2009
A partir de 12 anos

O bservat ó rio Ministério da


N acional Ciência e Tecnologia
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro de Estado da
Ciência e Tecnologia
Sergio Machado Rezende

Secretário - Executivo do
Ministério da Ciência e Tecnologia
Luiz Antônio Rodrigues Elias

Subsecretário de Coordenação
das Unidades de Pesquisa
José Edil Benedito

Diretor do ON
Sergio Luiz Fontes

Observatório Nacional - MCT


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Criação e desenvolvimento da revista


Divisão de Atividades Educacionais - DAED
Dr. Antares Kleber (Idealizador da série de revistas)
Luzia Ferraz Penalva Rite
Thiago Moeda Sant'Anna
Rodrigo Cassaro Resende
Edilene Ferreira
Vanessa Araújo Santos (Estagiária)
Igor Cordeiro de Souza Jardim (Estagiário)

Revisão Técnico-Científica
Dr. Carlos Henrique Veiga (Chefe da Divisão de Atividades Educacionais)
Dr. Dalton de Faria Lopes (Pesquisador da Coordenação de Astronomia e Astrofísica)

Programação Visual
Edilene Ferreira

Caros Leitores,

Esta série de revistas, editadas pela Divisão de Atividades Educacionais O O bs er vat ó rio N ac i on al n ão se
do Observatório Nacional/MCT, projeto apoiado pelo Conselho de responsabiliza pelos dados e opiniões
Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, tem como meta a expressos nesta publicação, sendo estes
difusão de informações gerais sobre os vários temas da Astronomia. de inteira responsabilidade dos autores.
Levar o leitor ao pensamento científico, à imaginação e à criação,
atraindo-o a pesquisar os conceitos aqui abordados ou sugeridos, é um A revista já está utilizando as alterações
dos objetivos desta publicação. introduzidas na ortografia da língua
portuguesa.

Boa Leitura! As informações que constam nesta revista


Divisão de Atividades Educacionais (DAED) foram atualizadas até a data desta edição.

O bservat ó rio Ministério da


N acional Ciência e Tecnologia
O que é a gravidade?
O que é a gravidade?

Se a Terra é uma esfera por que não caímos


Se a Terra é uma esfera por que não caímos dela?
dela?

Por que todos os planetas e satélites têm a


Por que todos os planetas e satélites tem a forma
formadede uma
uma esfera?
esfera?

Existe antigravidade?
Existe antigravidade?

D
urante séculos o ser humano olhou para o espaço e viu dois
objetos cujas formas chamaram a sua atenção: a Lua e o Sol.
Ambos distinguiam-se dos outros corpos celestes, os pe-
quenos pontos luminosos que marcavam o céu noturno, por
mostrarem uma forma bem definida.

Ambos podiam ser vistos com a forma de um disco que ocupava uma
certa região do espaço. A Lua apresentava eventualmente formas dife-
rentes, dependendo da época do ano, mas sempre voltava a ter em algum
instante a mesma forma de disco brilhante no céu. O Sol, a despeito da
dificuldade de observá-lo em razão de seu brilho intenso, também po-
dia ter o seu disco observado tão logo uma nuvem não muito espessa
passasse à sua frente. Lá estava um disco semelhante ao da Lua, só que
com a característica de possuir um brilho intenso, quase cegante, e não
o brilho ameno da Lua.
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O que seriam esses corpos? Discos no céu ou teriam a forma de uma es-
fera? Com o uso do telescópio para observações astronômicas, iniciado
em 1609 pelo astrônomo italiano Galileu Galilei, os astrônomos percebe-
ram que os corpos celestes eram esferas e não discos colocados no céu.

E a forma da nossa Terra?


E a forma da nossa Terra?

Durante milhares de anos, os poucos seres humanos que se dedicaram


a estudar a sua forma, obtiveram resultados que criaram enormes po-
lêmicas. Para todos os efeitos, a Terra era plana. Isso era óbvio: se ela
possuísse qualquer outra forma certamente cairíamos dela. Essa ideia
gerava medo até mesmo em alguns destemidos desbravadores que na-
quela época já se aventuravam pelos oceanos desconhecidos.
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Viajar cada vez mais a oeste, até se deparar com o fim da Terra e cair
com seus navios e tripulação em um vazio sem fim no espaço? No en-
tanto, muito tempo antes de Galileu ter olhado para o céu com o seu
perspicillum, o nome que ele deu ao equipamento óptico que o permitiu
ver os satélites de Júpiter, as crateras da Lua e até mesmo as manchas
solares, alguns geniais geômetras gregos já haviam demonstrado que a
Terra tinha a forma de uma esfera.

Ao que parece os seguidores de Pitágoras, no século V a.C., foram os


primeiros a produzir uma teoria astronômica na qual uma Terra esférica
girava em torno de seu próprio eixo assim como se movia em uma órbita.

Os Pitagóricos estavam muito à frente do seu


tempo ao proporem a única verdade de sua
teoria - o fato de que a Terra é esférica e gira.
Futuramente Copérnico desenvolveria esta
ideia não deixando de reconhecer que os Pi-
tagóricos foram os seus criadores. Aristóteles
acreditava, assim como Pitágoras, que a Ter-
ra, o Sol, a Lua e os planetas deviam ser esferas.
Entretanto, Aristóteles diferia de Pitágoras por
basear a sua suposição de uma Terra esférica em
fenômenos capazes de serem observados.
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Aristóteles propôs 4 provas observacionais de que a Terra era
uma esfera:

• Os navios desaparecem lentamente no horizonte.

• Durante os eclipses lunares a sombra lançada sobre a Lua pela


Terra parece circular.

• Estrelas diferentes são visíveis em latitudes mais ao norte e


mais ao sul. Ele notou que, à medida que uma pessoa viaja para o nor-
te, as estrelas polares se colocam cada vez mais alto no céu e outras
estrelas vão se tornando visíveis ao longo do horizonte. Isto só poderia
acontecer se a Terra fosse esférica.

• Elefantes são encontrados tanto na Índia, que estava na sua


direção leste, como no Marrocos, na sua direção oeste. Sua ideia era que
ambos as regiões estão a uma distância razoável na superfície de uma
esfera de tamanho moderado.

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No entanto, a despeito desses ar- É importante lembrar que o conhe-
gumentos na Idade Média (sécu- cimento de que a Terra era redonda
lo V ao século XV) houve um gran- não foi perdido nos séculos seguin-
de retrocesso no pensamen- tes. Assim, nem Vasco da Gama,
to sobre a forma da Terra. nem Cristóvão Colombo, nem
Para o homem comum a Ter- Pedro Álvares Cabral, nem qual-
ra voltava a ter a forma de um quer outro dos grandes nave-
tabernáculo retangular, plano, gadores ou qualquer dos seus
circundado por um abismo de contemporâneos com cul-
água. Felizmente alguns pen- tura, tinham medo de cair
sadores mantiveram o da borda da Terra duran-
conhecimento herdado te suas viagens para
dos gregos antigos tra- o oeste, na tentati-
duzindo os antigos textos va de achar um ca-
para o latim. minho marítimo
para as Índias.

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H
oje, ninguém mais pode ter dúvidas sobre a forma da Terra.
Ela não é perfeitamente esférica uma vez que o diâmetro de
um polo ao outro é 42 quilômetros menor do que o diâmetro
no equador. No entanto, está errado dizer que a Terra tem a
forma de uma tangerina. O diâmetro da Terra no equador é de cerca de
6500 quilômetros e a diferença de 42 quilômetros não significa muita
coisa, a não ser que a Terra é muito menos achatada do que qualquer
tangerina ou parente dela. Se quiser ser técnico, diga que a Terra tem a
forma de um esferóide oblatado.

Isso nos traz um curioso


problema: por que os
objetos se mantém en-
tão na superfície da
Terra? Por que eles
não caem? Tente
colocar algo sobre
a superfície de
uma esfera (chi-
clete não vale!).
Você logo vai no-
tar que embora o
objeto possa estar
equilibrado instan-
taneamente sobre a
esfera, esse equilíbrio
é absolutamente instável:
qualquer pequeno movimen-
to na esfera fará o objeto cair da
sua superfície.

No entanto isso não ocorre conosco. Vivemos na superfície de uma


esfera e ninguém anda “caindo” pelo espaço! Nem mesmo se você pu-
lar o mais alto possível com a força de suas pernas, seu retorno à su-
perfície terrestre está assegurado. Você não irá vagar pelo espaço.
Por que isso acontece?

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O que é a gravidade?
O que é a gravidade?
O que é a gravidade?
O que é a gravidade?
Ao observarmos o movimento dos corpos celestes no espaço vemos que
eles não são objetos errantes que seguem trajetórias quaisquer no espa-
ço. Todos eles percorrem órbitas bem determinadas obedecendo a leis
gerais que presumimos serem válidas em todo o Universo. Isto é im-
portante por nos indicar que os corpos celestes es-
tão sob a ação de forças que os mantém em suas
órbitas. Melhor ainda, sabemos que os objetos na
Terra interagem e conhecemos as leis que regem
essas interações.

Observamos que ao aplicarmos uma força sobre um


corpo qualquer, uma pedra por exemplo, atirando-a
para cima ela retorna à Terra.

Por que isso acontece? Se a única força atu-


ante sobre a pedra após o seu lançamen-
to fosse o atrito com o
ar da nossa atmos-
fera, a pedra dimi-
nuiria a sua velo-
cidade, pararia e
então permanece-
ria flutuando no ar.
No entanto, isso não
ocorre. A pedra volta para a superfície da Terra. Uma si-
tuação tão simples quanto essa, nos mostra que a Terra
está exercendo algum tipo de força que atrai a pedra de
volta para ela. O mesmo tipo de interação deve ocorrer
entre todos os corpos celestes e a ela damos o nome de
interação gravitacional.

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Descobrindo
Descobrindo a mecânica
a mecânica dos corpos dos
celestes
corpos celestes.
Descobrindo a mecânica dos corpos celestes
Sempre intrigou os astrônomos por que os planetas descreviam suas ór-
bitas da maneira como observamos. Isso levou a diversos modelos que
procuravam descrever o Sistema Solar. Para uns, a Terra estava no cen-
tro e os planetas se moviam em torno dela. Esse era o modelo geocêntri-
co criado e defendido por Ptolomeu no século II a.C.

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Ocorreu então a revolução criada por Nicolaus Copernicus, no
século XVI, ao sugerir que o Sol ocupava o centro do Sistema
Solar e todos os planetas, inclusive a Terra, giravam em torno dele. Este
era o modelo heliocêntrico do Sistema Solar.

A controvérsia entre as duas teorias exigiu que os astrônomos obtives-


sem dados de observação mais precisos.

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Surgiu então o astrônomo Tycho Brahe que se notabilizou por realizar
excelentes registros celestes.

Brahe foi o último astrônomo a realizar observações sem o auxílio


de telescópios. Os dados obtidos por Tycho Brahe, de excelente quali-
dade para a época, foram estudados durante 20 anos pelo astrônomo
Johannes Kepler.

Marte
Sistema Ptolomeu

Sol
Terra
Marte

Sol

Marte Terra

Sistema Copérnico

Sol

Terra

Sistema Tycho Brahe

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Foi então que Kepler sugeriu três importantes leis do movimento plane-
tário que são conhecidas como Leis de Kepler:

1 - Lei das órbitas: Todos os


planetas se movem em órbitas
elípticas e o Sol se localiza em
um dos focos dessa elipse.

Semi-eixo maior

SOL Centro
F1 F2
(foco) (foco)

Planeta

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2 - Lei das áreas: a linha traçada do Sol a qualquer planeta descreve
áreas iguais em tempos iguais.

Planeta

Sol

3 - Lei dos períodos: o quadrado do período de qualquer planeta em tor-


no do Sol é proporcional ao cubo da distância média do Sol ao planeta.

Entretanto, essas leis foram obtidas a partir das observações, sendo por-
tanto, empíricas. Elas descreviam o movimento observado dos planetas,
mas não davam qualquer explicação teórica do porquê isso acontecia.
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Foi preciso surgir no cenário científico o filósofo e matemático
inglês, Isaac Newton, para que as leis de Kepler fossem deduzidas
matematicamente.

Em 1678, Isaac Newton publicou o seu mais famoso livro, “Principia”,


no qual apresentava suas ideias fundamentais que se tornariam o ali-
cerce sobre o qual foi construída a mecânica. Ele também apresenta-
va três leis, hoje chamadas Leis de Newton, que descreviam a interação
dos corpos da natureza por meio do conceito de força.

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As Leis de Newton para o
As Leis de Newton para o movimento dos corpos
movimento dos corpos

Primeira Lei de NewtoN

Esta lei, também chamada de Lei da Inércia, nos fala sobre a ação que
deve ser feita para manter um corpo em movimento.

“ Um corpo permanece em repouso ou em movimento reti-


líneo uniforme a menos que haja uma influência externa
ou seja, uma força atuando sobre ele.


Assim, se não há nenhuma força agindo:

• Um corpo em repouso permanecerá em repouso.

• Um corpo que se move continuará se movendo com a mesma


velocidade e na mesma direção.

Então por que quando eu empurro um carro ele anda um pouco e para?
Isto ocorre devido à presença de forças, também externas, que atuam
sobre o carro no sentido contrário ao seu movimento. Estas forças, cha-
madas de forças de atrito, são as responsáveis pelo fato do carro parar.
Se as forças de atrito não existissem, ao aplicarmos uma força sobre um
corpo, ele iniciaria um movimento que duraria para sempre.
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Observações:

(1) Veja que a Primeira Lei de Newton fala de “movimento retilí-


neo uniforme”. A palavra “uniforme” chama a atenção para o fato
de que a velocidade do corpo é constante. A palavra “retilíneo”
significa obviamente que o corpo não está realizando qualquer
curva, uma vez que o corpo que segue uma trajetória curva está
acelerado.

(2) Não confunda velocidade com aceleração. A aceleração é uma


variação da velocidade de um corpo em um intervalo de tempo.
No entanto, esta variação, que dá origem à aceleração, tanto pode
ser no “valor” da velocidade quanto na “direção” da velocidade.

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SeguNda Lei de NewtoN

Esta lei estabelece uma relação entre os conceitos de força, massa e ace-
leração, fundamentais para a física:

• Massa: é uma medida da inércia de um corpo. Ela está rela-


cionada com a dificuldade que temos para colocar um corpo em
movimento. A massa de um corpo é representada pela letra “m”.

• Força: é a influência externa sobre um corpo. Ela é representa-


da pela letra “F”.

• Aceleração: é uma variação no movimento. Esta variação pode


ser de aumento ou diminuição na velocidade de um corpo e/ou
de mudança na direção de deslocamento do corpo. Ela é repre-
sentada pela letra “a”.

Se considerarmos corpos que se movem com velocidades muito menores


que a velocidade da luz, a massa do corpo é constante e a segunda Lei de
Newton pode então ser escrita como:

F=ma
Observações:

(1) Não confunda massa com peso: massa é a quantidade de matéria


em um corpo. Massa é uma grandeza fundamental da física. Peso é
a ação da gravidade sobre um corpo de massa “m”. Desse modo, o
peso de um corpo na Terra é dado pela massa do corpo multiplicada
pela aceleração da gravidade na superfície do nosso planeta.

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(2) O conceito de força não está associado apenas a algo exter-
no a um corpo. Também existem forças atuando no interior de
todos os corpos.

terceira Lei de NewtoN

Também é conhecida como Lei da Ação e Reação.

“ Quando um corpo “A” exerce uma força sobre um corpo “B”,



o corpo “B” exercerá uma força igual e em sentido oposto
sobre o corpo “A”.

Se chamarmos de FAB a força que um corpo “A” exerce sobre um corpo


“B” então a Terceira Lei de Newton nos assegura que o corpo “B” exer-
cerá uma força de mesmo valor e de sentido contrário sobre o corpo “A”,
que representamos por -FBA

O sinal negativo caracteriza o sentido contrário que esta força tem em


relação à primeira força.

A Terceira Lei de Newton pode então ser escrita como:

FAB = -FBA 17
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Essa terceira lei, na verdade, nos revela como é conservado o
“momentum” de um corpo. “Momentum” (também chamado de “mo-
mentum linear”) é definido como o produto da massa do corpo pela sua
velocidade.

É com base na Terceira Lei de Newton que explicamos porque um fogue-


te consegue voar (tente imaginar como).

A Lei da Gravitação Universal de


Isaac Newton
A descoberta da lei que nos mostra de que maneira os corpos celestes
interagem, foi feita por Isaac Newton, nessa mesma época. Aplicando
uma ferramenta matemática, que ele havia recentemente desenvolvido,
chamada “fluctions” e que hoje é conhecida como “cálculo diferencial”, à
órbita da Lua em torno da Terra, Newton foi capaz de determinar que a
força da gravidade depende do inverso do quadrado da distância entre a
Terra e a Lua.

Ao mesmo tempo, hoje sabemos que, segundo a Terceira Lei de Newton,


uma vez que a gravidade é uma força exercida por um corpo sobre outro,
ela deve atuar de modo recíproco entre as duas massas envolvidas.
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Newton deduziu então que:

“ A força de atração gravitacional entre dois corpos de massas


“M” e “m” é diretamente proporcional ao produto de suas

massas e inversamente proporcional ao quadrado da dis-
tância que os separa.

Para transformar a proporcionalidade em igualdade Newton introduziu


uma “constante de proporcionalidade” na sua equação. Esta constante
de proporcionalidade é a constante de gravitação de Newton, represen-
tada pela letra “G” e que tem o valor.

G = 6,672428 x 10-11 m3/(kg . s2) = 6,672428 x 10-11 (N. m2)/kg2 x M (Kg)


R2 (m)

Na equação acima N significa “Newton”, uma unidade de medida de for-


ças que corresponde a quilograma.metro/segundo2. M é a massa do pla-
neta e R é o raio do planeta. Com essa equação, podemos determinar o
“G” na superfície dos planetas do Sistema Solar.

Pela lei da gravitação universal a força de atração gravitacional entre a


Terra e a Lua é dada por:

F = G Mm
d 2

onde “G” é a constante gravitacional, “M” é a massa da Terra, m é a mas-


sa da Lua, e “d” é a distância entre a Terra e a Lua.
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Observações:

• A gravidade é a mais fraca entre todas as forças fundamentais


(as forças fundamentais são a força gravitacional, a força forte, a
força fraca e a força eletromagnética).

• A gravidade é uma força de longo alcance. Veja, na equação


anterior, que não há qualquer limite para o valor de “d”, que é a
distância entre os corpos.

• A gravidade é uma força somente atrativa. Não existe repulsão


gravitacional.

• Na lei da Gravitação Universal está implícita a ideia de que a


força gravitacional entre duas partículas independe da presença
de outros corpos e das propriedades do espaço que fica entre
elas.

• A história de que Newton teria notado a existência da Lei da


Gravitação a partir da queda de uma maçã é, quase certamente,
apócrifa, ou seja, história não autêntica, que não foi contada por
newton.

É por causa dessas características que a gravidade


domina várias áreas de estudo na astronomia. É a
ação da força gravitacional que determina as ór-
bitas dos planetas, estrelas e galáxias, assim
como os ciclos devido às estrelas e a evolução
do próprio Universo.

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A Constante Gravitacional da
equação de Newton
A gravidade é uma força tão fraca, que a constante “G” que aparece na
equação da gravitação de Newton, não podia ser medida na época em
que a equação foi proposta.

O primeiro a estimar o valor de “G” foi o


astrônomo Nevil Maskelyne. Para fa-
zer isto ele procurou usar duas massas
bastante diferentes de tal modo que a
força gravitacional entre elas pudesse
ser medida. Nada melhor do que a
massa de uma montanha e a de
um pedaço de chumbo preso a
uma linha. Certamente a atração
gravitacional entre estas duas
massas provocaria uma deflexão
na linha que sustentava o chumbo. Em
1774, Maskelyne aproximou o seu peso
de chumbo das encostas inclinadas do
Monte Schiehallion, na Escócia, e mediu
a deflexão da linha ou seja, a ação gravitacio-
nal entre a montanha e o peso de chum-
bo. Como o monte Chiehallion tinha
uma forma muito regular, Maske-
lyne foi capaz de estimar sua
massa e, como ele conhecia a
massa do peso de chumbo,
foi possível então determi-
nar o valor da constante
gravitacional “G”.
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No entanto, o primeiro cientista que conseguiu determinar
de modo preciso o valor de “G” foi o físico inglês, Henry Ca-
vendish, em 1798. Ele mediu o valor de “G” usando a chama-
da balança de torção que havia sido inventada pelo geólogo
inglês, reverendo John Michell.

A medição precisa de “G” é muito difícil uma vez que o apa-


relho de medição não pode ser isolado da influência gravi-
tacional exercida por outros corpos próximos a ele. Como
consequência disso a precisão na medida de G tem aumen-
tado muito pouco desde a experiência pioneira de Caven-
dish. Isso pode ser notado na literatura, onde o valor de G é
apresentado com vários valores.

A aceleração da gravidade

Vimos que a Segunda Lei de Newton nos dá a relação entre força e ace-
leração, a importante equação F=ma. No entanto, a força gravitacional é
antes de tudo uma força e, portanto, pode ser descrita por uma relação
semelhante a essa. Dizemos então que a força gravitacional é o produto
da massa “m” de um corpo pela aceleração da gravidade criada sobre ele
por um corpo de massa “M”. Ou seja:

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Desse modo, a aceleração da gravidade é dada pela equação:

Curiosidades da atração
gravitacional
Vimos que a Lei da Gravitação Universal, postulada por Isaac Newton fala
da interação gravitacional entre duas partículas. Mas, essa lei serve para
o estudo da interação gravitacional entre dois cor-
pos macroscópicos? Certamente sim! Podemos
considerar que todos os corpos macroscópicos
são formado por um número extremamente
grande de partículas e então aplicarmos a
lei. No entanto, isso seria um trabalho deses-
perador uma vez que corpos macroscópicos
possuem muitas partículas. Se quisermos
determinar a força gravitacional existente
entre corpos extensos como, por exemplo, a
Terra e a Lua, deveríamos decompor cada
um desses corpos em partículas e calcu-
lar a interação gravitacional entre cada
par de partículas! Seria um trabalho
impossível de ser feito. No entanto,
como fazemos esse cálculo? Foi
o chamado cálculo diferencial e
integral proposto por Leibnitz
e por Newton que veio salvar
a situação.
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Essa parte da matemática permite que essas interações não sejam feitas
par a par mas, sim de uma maneira contínua, integrada.

A partir do uso do cálculo integral no estudo da teoria da gravitação, foi


possível determinar de que modo corpos materiais exercem atração gra-
vitacional sobre outros corpos situados em suas vizinhanças. Mostrare-
mos agora, embora sem demonstrar, alguns casos curiosos encontrados
na análise desses problemas:

1) Uma grande esfera atrai partículas fora dela, como se toda a massa da
esfera estivesse em seu centro.

Esse é o motivo pelo qual podemos aplicar a Lei da Gravitação Univer-


sal de Newton a corpos macroscópicos tais como o Sol, a Terra, a Lua a
qualquer outro planeta ou estrela. Esses corpos macroscópicos produ-
zem sobre corpos externos a eles, os mesmos efeitos gravitacionais que
seriam produzidos por uma partícula puntiforme, com a mesma massa
que o corpo macroscópico e situada no seu centro.
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2) Uma casca esférica de densidade uniforme atrai uma massa puntifor-
me externa como se toda a massa da casca estivesse concentrada no seu
centro.

3) No entanto, uma casca esférica produz uma força gravitacional igual


a zero sobre uma partícula colocada no seu interior.

Note, entretanto, que as três afirmações acima ocorrem somente se: o


corpo é uma esfera, se sua massa específica for constante por todo o cor-
po ou em função apenas do seu raio.
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A ação da gravidade nas
nossas vidas
E de que modo a ação da gravidade se apresenta na nossa vida? O sim-
ples fato de você permanecer de pé na superfície da Terra é resultado
da existência da força gravitacional. É a ação da gravidade da Terra que
faz você permanecer sobre ela. É claro que você tem até uma pequena
liberdade pois consegue saltar na vertical mas logo é obrigado a retornar
à sua superfície tão logo a Terra sinta “saudades” de você e lhe traga de
volta para pertinho dela.

As forças gravitacionais entre corpos na superfície da Terra são ex-


tremamente pequenas e quase sempre podem ser desprezadas. Por
exemplo, dois objetos esféricos cada um com massa de 100 kg, se-
parados por uma distância de 1,0 metro se atraem com uma força de
6,7 x 10-7 Newton = 0,000 000 67 N, um valor realmente muito
pequeno.

E que outra ação da gravidade nos afeta diretamente? A ação gravita-


cional entre a Terra e a Lua e a Terra e o Sol é uma dessas ações. É ela
que produz o conhecido fenômeno das marés. Além disso, como a Lua
é um satélite de grande massa, se comparado com os outros satélites do
Sistema Solar, a atração gravitacional entre ela e a Terra serve como ele-
mento estabilizador da rotação do nosso planeta em torno do seu eixo.
No entanto, a Lua está se afastando da Terra e a mudança desta ação gra-
vitacional, daqui a milhares de anos, provocará uma alteração no eixo de
rotação da Terra. Esta mudança se refletirá sob a forma de fortes altera-
ções climáticas no nosso planeta.

A aceleração da gravidade nos diversos


planetas
Já sabemos que a força gravitacional está intimamente ligada à massa do
corpo que a está produzindo. Ao mesmo tempo, sabemos que os planetas
do Sistema Solar não possuem a mesma massa. Certamente a aceleração
da gravidade na superfície de cada um desses planetas será diferente
daquela que encontramos na Terra.
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O quadro abaixo mostra os diferentes valores da aceleração da gravidade
no Sol, planetas e planetas anões existentes no Sistema Solar.

corPo do SiStema maSSa (x 1024) aceLeração da gravi-


SoLar (em quiLogramaS) dade Na SuPerfície

Sol (*) 1 989 100 274,0 m/s2


Júpiter (P) 1 898,60 23,12 m/s2
Saturno (P) 568,46 8,96 m/s2
Netuno (P) 102,43 11,00 m/s2

Urano (P) 86,832 8,69 m/s2


5,9736 9,78 m/s2
Terra (P)
4,8685 8,87 m/s2
Vênus (P)
Marte (P) 0,6418 3,69 m/s2

Mercúrio (P) 0,3302 3,70 m/s2


(136199) Eris (PA) 0,0166 ~0,80 m/s2

(134340) Plutão (PA) 0,0125 0,58 m/s2

(136472) Makemake (PA) ~ 0,004 ~0,47 m/s2

(136108) Haumea (PA) 0,0042 0,44 m/s2


(1) Ceres (PA) 0,000 946 0,27 m/s2

Observação: (*) significa estrela, (P) significa planeta e (PA) significa


planeta anão.

Como o nosso peso é dado pelo produto da nossa massa pela aceleração
da gravidade no local onde nos encontramos, vemos que o nosso peso vai
variar em cada um dos objetos do Sistema Solar.
Note bem: o nosso peso (P =mg) varia, mas a nossa massa não varia. O
valor da massa de um corpo independe da aceleração da gravidade e,
portanto, é sempre o mesmo.
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Gravidade e as estrelas
Falamos muito sobre a ação do gravidade entre planetas e satélites. No en-
tanto, o conceito de gravidade é fundamental para o estudo das estrelas.
Todo o processo de vida de uma estrela está associado a uma dura disputa
entre a força gravitacional e a pressão do gás que forma a estrela.

Existe no universo imensas regiões de gás e poeira, internamente muito


frias, às quais damos o nome de nuvens moleculares gigantes.

Essa imagem mostra a nebulosa de reflexão NGC 1999, que contém a es-
tela V380 Orionis (o objeto brilhante abaixo e a esquerda do centro), e
está situada na constelação Orion. O que podemos observar nessa ima-
gem? Nesta região existe uma gigantesca nuvem molecular, conhecida
como “Orion A”, que continua gerando novas estrelas. Na parte superior
da imagem vemos um aglomerado formado por estrelas jovens e brilhan-
tes, o aglomerado L1641N, que ilumina uma região formada por densos
amontoados de matéria escura. Nesta região estudos feitos na região es-
pectral do infravermelho revelaram a presença de mais de 50 estrelas em
formação.
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Se existem regiões do meio interestelar que se caracterizam por permi-
tirem grande formação de estrelas, quais são as condições físicas que as
tornam tão especiais?

Dissemos que uma nuvem molecular gigante colapsa e forma estrelas.


Mas, por que ela colapsa? Os astrofísicos acreditam que vários proces-
sos podem dar início a esta contração de parte da nuvem molecular. Por
exemplo, em algum momento, regiões dessas nuvens são perturbadas de
modo que o gás e poeira que as forma fica mais concentrado. Isso é sufi-
ciente para que a força gravitacional entre as partículas de gás da nuvem
supere as forças de repulsão e comecem a fazer o gás se contrair. Esse gás
vai se contraindo cada vez mais até que em um determinado momento
a pressão existente nele consegue equilibrar o puxão gravitacional para
dentro. É assim que se forma uma estrela.

Durante toda a vida da estrela existe uma grande luta entre a força
gravitacional que procura comprimi-la cada vez mais e as forças inter-
nas do gás (mostradas pela pressão) que, ao contrário, querem fazê-la
se expandir.

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Em alguns momentos, a força gravitacional vence a disputa e a estrela
se contrai. As reações nucleares que ocorrem no interior das estrelas
produzem energia, que aumenta a pressão gasosa e equilibra de novo
o corpo celeste. Outras vezes a estrela se expande tanto que seu gás
esfria. Isso faz com que a pressão no seu interior diminua e novamente
a força gravitacional faz a estrela contrair de novo.

É assim que vive uma estrela até que, em um dado momento, após re-
alizar a queima nuclear de vários elementos químicos que a compõe,
ela atinge os estágios finais de sua evolução. Neste caso a estrela pode
expulsar todo o gás que envolve sua região central, formando uma ne-
bulosa planetária (que, apesar do nome, não tem qualquer relação
com planetas).

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A região central da estrela não é destruída. Ela ejeta todo o gás que a
envolve mas ainda se mantém como uma estrela muito quente que vai
continuar a contrair (ação da força gravitacional) cada vez mais até se
transformar em uma estrela anã branca.

Outras estrelas bem maiores têm finais diferentes. Algumas explodem


como supernovas e deixam como resíduo um objeto compacto com
um intenso campo gravitacional. Estas são as chamadas estrelas de
nêutrons.

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Outras, com massas ainda maiores, explodem e o que resulta é a forma-
ção de um buraco negro, uma região do espaço-tempo com um campo
gravitacional tão intenso que nem mesmo a luz pode sair dele. Nesse
caso temos o domínio completo da força gravitacional.

A Gravitação Quântica

Já vimos que a teoria clássica da gravitação é descrita pela lei de Newton


da Gravitação Universal. Sua generalização relativística é a teoria da Gra-
vitação de Einstein, também chamada de Teoria da Relatividade Geral
de Einstein. Na verdade, a interação gravitacional seria melhor chamada
de Geometrodinâmica, termo proposto pelo físico norte-americano John
Wheeler, uma vez que a relatividade geral geometriza a gravitação.
Para descrever os estágios iniciais da formação do Universo precisamos
de uma teoria quântica da gravitação.

Até agora os físicos ainda não possuem uma teoria como essa, apesar
dos enormes esforços desenvolvidos para isto. As dificuldades para criar
uma teoria quantizada para a gravitação têm sido muito grandes: a ma-
temática envolvida é muito sofisticada e os conceitos físicos estão na
fronteira do nosso conhecimento e imaginação.

A teoria das partículas elementares nos diz que todo processo de intera-
ção existente na natureza é mediado por uma ou várias partículas que
recebem o nome de mediadores. Assim, a interação eletromagnética
tem como mediador o fóton e a interação forte é mediada pelos gluons. A
interação fraca tem as partículas W+, W- e Z0 como mediadores.

Dentro desse espírito, os cientistas propuseram que a interação gravi-


tacional teria também uma partícula mediadora à qual deram o nome
de graviton. Muitas tentativas foram feitas sem que, até agora, fosse
possível detectar o gráviton. Atualmente estão sendo preparados vários
conjuntos de satélites com o objetivo primário de detectar ondas gravi-
tacionais no espaço. Dentre esses projetos destacamos o LIGO (Laser
Interferometer Gravitacional - Wave observattory).

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