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O MANDARIM

ALICE FERNANDES
MARÍLIA DUKA
PERSONAGENS

• Teodoro: protagonista, bacharel amanuense do reino


Português, típico burguês nacional, medíocre, frustrado e de
baixos valores morais.
• Ti Chin-Fu: o mandarim assassinado por Teodoro;
• O diabo
• Vladimira (generala): mulher do general Camilloff e amante
de Teodoro por um breve período.
• General Camilloff: representante do Império Russo na China
• Sá-Tó: intérprete de Teodoro durante a viagem na China.
• Dona Augusta: a dona da pensão onde Teodoro morava
antes de enriquecer.
• Meriskoff: representante do Governo Alemão na China,
culto e gordo, companhia intelectual de Teodoro na China.
ENREDO
Teodoro é um amanuense do Governo Português. Tem uma vida
medíocre, típica de funcionário público que tem a
oportunidade de mudar sua vida ao ler uma proposta em um
livro antigo. Ele precisaria escolher matar ou não um mandarim
rico.
Depois de apertar o botão e matar o mandarim, Teodoro
recebe uma fortuna de um chinês misterioso e começa a usufruir
dos privilégios de ser um milionário.
No entanto, a culpa de ter matado uma pessoa o consome e
ele resolve ir para a China e doar parte da fortuna à família do
velho chinês.
A narrativa na China tem um tom mais fantástico e relata o
tempo que Teodoro ficou na companhia de Camilloff, sua
mulher Vladimira e Meriskoff, enquanto o governo chinês
tentava localizar a família do mandarim.
Teodoro viaja pela China na tentativa de aliviar sua culpa, mas
não é bem sucedido e volta a Portugal da mesma forma em
que saiu. Por fim, arrependido, aceita sua condição.
QUESTIONAMENTO MORAL

“No fundo da China existe um mandarim


mais rico que todos os reis de que a fábula
ou a história contam. Dele nada conheces,
nem o nome, nem o semblante, nem a
seda de que se veste. Para que tu herdes
os seus cabedais infindáveis, basta que
toques essa campainha, posta a teu lado,
sobre um livro. Ele soltará apenas um
suspiro, nesses confins da Mongólia. Será
então um cadáver: e tu verás a teus pés
mais ouro do que pode sonhar a ambição
de um avaro. Tu, que me lês e és um
homem mortal, tocarás tu a campainha?”
(QUEIROZ, 2001, p.25)
O PROBLEMA DO MANDARIM –
CHATEAUBRIAND
• Em 1802, Chateaubriand questiona: O conscience! ne
serois-tu qu’un fantôme de l’imagination, ou la peur des
châtiments des hommes?
• E postula o problema:
• Si tu pouvais par un seul désir tuer un homme à la Chine
et hériter de sa fortune en Europe, avec la conviction
surnaturelle qu’on n’en saurait jamais rien, consentirais-
tu à former ce désir?
• O problema filosófico de dimensão ética é saber se a
consciência moral corresponde a alguma coisa, se é
algo real e tem força de ação, ou se não passa de uma
fantasia. Quando agimos moralmente é pela moral ou
pelo medo de sermos castigados? Por fim, qual e a
eficiência da consciência moral?
O PAI GORIOT – BALZAC

Os argumentos de Vautrin faziam-no refletir sobre a vida social,


no momento em que encontrou seu amigo Bianchon no Jardin
du Luxembourg.
– Que é que te deu esse ar tão sério? — perguntou-lhe o
estudante de medicina, tomando-o pelo braço e levando-o a
passear diante do palácio.
— Ando atormentado por más ideias.
— De que natureza? As ideias se curam.
— Como?
— Sucumbindo-se a elas.
— Estás rindo sem saber de que se trata. Leste Rousseau?
— Li.
— Lembras-te daquela passagem em que ele pergunta ao leitor
que faria se pudesse enriquecer matando, apenas pela
vontade, um velho mandarim da China, sem sair de Paris?
— Lembro-me.
— E então?
— Pois já estou no meu trigésimo terceiro mandarim.
— Não gracejes. Dize-me uma coisa: se te provassem que isso é
possível e que bastaria fazeres um gesto com a cabeça, tu o
farias?
— É muito velho, o mandarim? Mas não, jovem ou velho,
paralítico ou sadio, de modo algum... eu não faria esse gesto!
— És um rapaz digno, Bianchon! Mas se amasses uma mulher a
ponto de por ela virar a alma pelo avesso e se precisasses de
dinheiro, muito dinheiro, para seus vestidos, sua carruagem, para
todos os seus caprichos, enfim?
— Mas tu me privas de todo o raciocínio e queres que eu
raciocine!
— Pois bem, Bianchon. Estou louco. Cura-me. Tenho duas irmãs
que são uns anjos de beleza e de candura e quero que elas
sejam felizes. Onde arranjar duzentos mil francos para seu dote,
daqui a cinco anos? Há circunstâncias na vida, como vês, em
que é preciso jogar forte e não empregar a sorte em ganhar
alguns soldos.
— Ora, estás formulando a questão que preocupa a toda
gente no começo da vida e queres cortar o nó górdio[87]
com a espada. Para agir assim, meu caro, é preciso ser
Alexandre. De outro modo, acaba-se na cadeia. Quanto a
mim, sinto-me feliz com a existência modesta que levarei
na província, onde sucederei simplesmente a meu pai. As
afeições do homem podem ser plenamente satisfeitas,
tanto no menor círculo, como numa imensa circunferência.
Napoleão não jantava duas vezes nem podia ter mais
amantes do que um estudante de medicina, que trabalha
como interno nos Capuchinhos. Nossa felicidade, meu
caro, estará sempre entre a planta dos nossos pés e a
nossa cabeça. Quer ela custe um milhão ou cem luíses por
ano, sua percepção intrínseca, em nosso íntimo, será
sempre a mesma. Concluo pela vida do chinês.
O ANEL DE GIGES – PLATÃO

• Em seu livro A República, Platão discute esse problema


da moralidade por meio do mito do anel de Giges
(359b-360d). O anel de Giges permitia àquele que o
usasse se tornar invisível, podendo fazer tudo o que
quisesse e cometer todos os crimes que desejasse sem
medo das consequências.
• O cerne do problema é: se dermos a alguém o poder
de fazer o que quiser sem medo das consequências,
será que essa pessoa vai se comportar de modo justo,
ou será que vai agir apenas de acordo com seus
interesses? Gláuco, a personagem de Platão que
apresenta o mito, defende que ―não haveria ninguém
[…] que permanecesse no caminho da justiça‖.
O SELO ADQ* APROVOU ISSO.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• BALZAC, H. O pai Goriot. in: A Comédia Humana: estudos de


costumes: cenas da vida privada. Orientação, introduções e notas
de Paulo Rónai; tradução de Gomes da Silveira e Vidal de Oliveira;
3. ed. – São Paulo: Globo, 2012.
• CHATEAUBRIAND, F. A. Génie du Christianisme, ou Beautés de la
Religion Chrétienne, tome premier, Paris: Chez Migneret, 1802.
• QUEIROZ, E. O Mandarim. Porto Alegre: L&PM, 2001
• PLATÃO. A República, trad. Maria Helena da Rocha Pereira, 9ª
edição, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.

* Alice de Qualidade

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