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SEGURANÇA
DO PACIENTE
GANHOS DE
SEGURANÇA NA
IMPLANTAÇÃO DE
PROTOCOLOS DE
PROF. DR. MARCELO
POLACOW BISSON
Farmacêutico pela FCFRP-USP,
FLUIDOTERAPIA
Mestre e Doutor em Farmacologia
pela UNICAMP
Presidente da Sociedade Brasileira
de Farmácia Hospitalar-SBRAFH
www.sbrafh.org.br
2. Protocolos...............................................................................................................................6
4. Modalidades de fluidoterapia......................................................................................... 10
8. Bibliografia............................................................................................................................ 17
A prescrição de soluções de manutenção faz parte da mentos sejam eficazes e farmacoeconômicos viáveis e,
rotina de todos os hospitais. Tradicionalmente, estas neste contexto, é recomendável a aplicação de Protoco-
soluções são preparadas nos postos de enfermagem los Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDTs).
ou nas farmácias hospitalares, processo que demanda
Os PCDTs têm o objetivo de estabelecer claramente os
tempo, espaço apropriado e pessoal treinado. Além dis-
critérios de diagnóstico de cada doença, o algoritmo de
so, por se tratar de um procedimento que utiliza como
tratamento das doenças com as respectivas doses ade-
um dos componentes a solução concentrada de cloreto
quadas e os mecanismos para o monitoramento clínico
de potássio, associa-se a considerável risco no preparo,
em relação à efetividade do tratamento e a supervisão
que pode ter desfecho letal.
de possíveis efeitos adversos. Observando ética e tec-
A padronização do uso de medicamentos é um dos nicamente a prescrição médica, os PCDTs, também, ob-
pontos abordados no Programa Nacional de Seguran- jetivam criar mecanismos para a garantia da prescrição
ça do Paciente (PNSP, Portaria 529/2013, Ministério segura e eficaz. Portanto, no âmbito do CEAF (Compo-
da Saúde). Segundo o programa, preconiza-se que a nente Especializado de Assistência Farmacêutica), os
farmácia disponibilize, em meio hospitalar, o maior nú- medicamentos devem ser dispensados para os pacien-
mero de medicamentos prontos para uso (dose unitária) tes que se enquadrarem nos critérios estabelecidos no
e que dispense a manipulação prévia à administração. respectivo Protocolo Clínico e Diretriz Terapêutica.
Além disso, destaca como intervenção específica, que
Além de nortearem uma assistência médica e farma-
sejam removidos dos estoques das unidades de inter-
cêutica efetiva e de qualidade, os PCDTs auxiliam os ges-
nação os eletrólitos concentrados (especialmente o clo-
tores de saúde nas três esferas de governo, como instru-
reto de potássio injetável).
mento de apoio na disponibilização de procedimentos e
No fascículo anterior, tivemos acesso à informações im- na tomada de decisão quanto à aquisição e dispensação
portantes sobre a segurança do paciente e também so- de medicamentos, tanto no âmbito da atenção primária
bre a importância do manejo correto da fluidoterapia no como no da atenção especializada, cumprindo um pa-
ambiente hospitalar. A criação de protocolos clínicos na pel fundamental nos processos de gerenciamento dos
área de fluidoterapia é uma importante estratégia para programas de assistência farmacêutica, na educação em
garantir a segurança do paciente e evitar eventos adver- saúde, para profissionais e pacientes, e ainda, nos aspec-
sos que culminem em desfechos desfavoráveis para o tos legais envolvidos no acesso a medicamentos e na
paciente e instituições hospitalares, além de orientar a assistência como um todo.
padronização de medicamentos, atenuar a variabilidade
Na elaboração de um protocolo, deve ser descrita de-
de condutas clínicas e auxiliar no atendimento às exigên-
talhadamente a estratégia de busca utilizada na revisão
cias do PNSP, reduzindo de forma substancial o risco ao
de literatura, citando as bases de dados consultadas,
paciente.
palavras-chave, período no tempo e limites de busca
Desde o início do movimento chamado medicina base- (se utilizados), tipos e número de estudos identificados
ada em evidências, iniciado nos anos 1990, na Universi- e critérios de inclusão dos estudos. São priorizadas as re-
dade MacMaster no Canadá, a protocolização de trata- visões sistemáticas (com ou sem metanálise), os ensaios
mentos vem ganhando espaço em todos os países do clínicos randomizados e, na ausência destes, a melhor
mundo. Em países como o Brasil, que tem dimensões evidência disponível, sempre acompanhada de uma
continentais e com uma população de cerca de 200 análise da qualidade metodológica e sua implícita rela-
milhões de habitantes, torna-se necessário que os trata- ção como estabelecimento de relação de causalidade.
Toda conduta clínica deve ser tomada com base em evidências que garantam a segurança, a
efetividade e a reprodutibilidade do que se protocola ou orienta. No caso da fluidoterapia, que é
o tema deste fascículo, é importante conhecer as linhas gerais da situação clínica, diagnóstico e
opções de tratamento, como por exemplo, em que situações clínicas exigem tratamento de flui-
dos, como se avalia ou categoriza os pacientes em cada situação e quais são os tipos de fluidos
indicados para cada tratamento.
3) Critérios de inclusão - correspondem aos critérios a Tempo de tratamento – definição do tempo de tratamen-
serem preenchidos pelos pacientes para serem incluí- to, assim como dos critérios de interrupção do mesmo.
dos no protocolo de tratamento. Podem ser apenas clí- Benefícios esperados - relato, de forma objetiva, dos
nicos ou incluir exames laboratoriais. A subdivisão em desfechos esperados com o tratamento.
itens pode ocorrer de acordo com a necessidade.
6) Monitorização - descrição de quando e como mo-
4) Critérios de exclusão - correspondem aos critérios nitorizar a resposta ao tratamento. Efeitos adversos e
que contra-indicam a participação do paciente no pro- contraindicações significativas que possam orientar uma
tocolo de tratamento. Em geral são contra-indicações mudança de opção terapêutica são também relatados.
relacionadas ao medicamento ou a situações clínicas
peculiares. 7)Referências Bibliográficas - referências utilizadas
para a elaboração do protocolo clínico e da definição
5) Tratamento - indicação das opções de tratamento das condutas.
medicamentoso e não medicamentoso e discussão das
3.1. Visão global sobre a homeostase normais, a totalidade de líquidos corporais e sua
hidroeletrolítica composição permanecem constantes a despei-
O equilíbrio hidroeletrolítico não deve ser consi- to de trocas contínuas entre os compartimentos
derado apenas como o equilíbrio entre o organis- e entre o corpo e o meio externo. Assim, a inges-
mo e o meio externo, mas também aquele entre tão de líquidos é equilibrada com a eliminação
os compartimentos intracelular e extracelular. dos mesmos, evitando a diluição ou concentra-
ção excessiva dos fluidos internos.
A água do organismo se distribui em dois gran-
des compartimentos (Figura 1): o comparti- Como mostra a Figura 2, o adulto normal recebe
mento intracelular (aproximadamente 40% do e elimina 1500 a 2500 mL por dia.
peso corporal total de um adulto jovem do sexo
Ganhos diários Perdas diárias
masculino) e compartimento extracelular (apro-
Urina
ximadamente 20% do peso corporal do mesmo Alimentos líquidos (800-1500 mL)
(700-1500 mL)
indivíduo), o qual inclui o espaço intravascular Respiração
Alimentos sólidos Meio (200-300 mL)
e o intersticial. Como se observa na Figura 1, a (600-700 mL)
Interno Pele
(400-500 mL)
composição eletrolítica dos fluidos intracelular e Água de oxidação
(200-300 mL) Fezes
extracelular é diferente, em decorrência funda- (100-200 mL)
Os fluidos podem ser administrados aos pacien- A terapia de manutenção garante o fornecimento
tes pelas vias oral, enteral, subcutânea ou intra- básico de energia, água e eletrólitos para manter o
venosa, a depender da situação clínica. O objetivo equilíbrio de indivíduos euvolêmicos impossibili-
da fluidoterapia pode ser a expansão do volume tados de receber nutrientes pela via oral. Caso al-
intravascular, a reposição de algum dos seus com- gum déficit hidroeletrolítico já tenha se instalado
ponentes ou ainda a manutenção do equilíbrio hí- (por consequência do próprio jejum ou da doença
drico e eletrolítico. de base), adiciona-se a reposição à manutenção.
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É importante lembrar que os fluidos intrave- quantidade de 2-3 mEq por 100 mL de água, e
nosos são soluções prescritas e administradas 2 mEq por 100 mL de água, respectivamente,
no paciente com a finalidade de fornecer o flu- sob a forma de sais de cloreto. Uma vez que a
ído e os eletrólitos necessário e/ou contribuir quantidade é calculada, a taxa horária pode ser
na entrega de medicamentos intravenosos determinada dividindo o cálculo final por 24.
(IV). Vale ressaltar que a administração contí- A tabela 2 mostra como é feito o cálculo das
nua de uma pequena quantidade de fluído IV, necessidades diárias de água e eletrólitos em
pode ser usada para manter uma via venosa crianças.
(aberta) para uso futuro.
Tabela 1. Método de Holliday e Segar para deter-
Fluidos IV vêm em formas diferentes e têm minar as necessidades de água e eletrólitos em 24
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A prescrição médica hospitalar pode ser definida Conforme já apontado em tópicos anteriores, inde-
como uma etapa no processo de fornecimento pendente da habilidade e competência profissional,
de medicamentos para um paciente internado. os erros acontecem em toda e qualquer instituição,
Esse processo é multidisciplinar, envolvendo o que vai diferenciar a frequência com que estes er-
médicos, farmacêuticos, nutricionistas e equipe ros acontecem são barreiras estabelecidas, proto-
de enfermagem. colos de prática institucionalizados e envolvimento
multiprofissional.
A prescrição é a primeira etapa do processo, sen-
do o médico o responsável pela sua execução. O Dentro do contexto de avaliação das prescrições
farmacêutico pode participar colaborativamente de fluidos, a primeira etapa é verificação de coe-
do processo de prescrição de acordo com a reso- rência entre justificativas clínicas para uso e flui-
lução do Conselho Federal de Farmácia Nº 585/13, dos prescritos. Assim sendo, faz-se necessário
quando houver protocolos clínicos que prevejam que o paciente apresente uma das justificativas
esta possibilidade. Além disso, o farmacêutico gerais (quadro 3) ou condições clínicas especiais
pode participar do processo de validação da pres- como: fornecimento de fluidos, pós cirurgia de
crição que consiste na verificação de todos os me- grande porte, hemorragia grave, sepse e choque
dicamentos prescritos, incluindo a fluidoterapia, séptico, lesão em região central e lesão renal
conferindo as dosagens, via de administração, aguda ou manutenção.
tempo de infusão no caso de fluidoterapia e das
misturas endovenosas, interações medicamento- A Promover reposição normal de fluidos ou
recuperar perda de eletrólitos.
sas e a adequação do tratamento medicamentoso
em relação ao quadro clínico do paciente. Sabe-se B Fornecer ressuscitação adicional, fluidos
que muitos dos pacientes que recebem terapia para corrigir os efeitos de patologia adjas-
com fluído por via intravenosa estão internados cente.
em ambiente hospitalar. C Manter o débito cardíaco, pressão san-
guínea, metabolismo tecidual ou permitir
A prescrição de fluidos intravenosos realizada adequada remoção de resíduos.
pelo profissional médico é adequadamente reali-
zada quando respeitado princípios de compreen- D Assegurar equilíbrio hídrico e iônico entre
meios intra e extracelular, visando preser-
são de processos fisiológicos e fisiopatológicos e
var o potencial de membrana e mecanis-
individualização clínica de pacientes. Respeitando
mos de transporte.
estes princípios e mediante competência técnica,
torna-se grande a chance de adequada evolução E Prevenir a ocorrência de edema e compli-
cações associadas.
clínica do paciente e minimização de iatrogenias.
Quadro 3: Justificativas gerais para uso de fluidoterapia.
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SEGURANÇA
DO PACIENTE
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