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Vários autores
Texto em português e espanhol
Inclui bibliografias
ISBN : 978-85-7014-072-2
APRESENTAÇÃO 11
PRESENTACIÓN 27
Marilia Gomes de Carvalho
1 ¿PRESENTES Y ECLIPSADAS?
Maria Carme Alemany
43
4 O XV CONGRESSO INTERNACIONAL DE
MEDICINA DE 1906, LISBOA, PORTUGAL:
99
6
Silvia García Dauder
MUJERES PIONERAS EN LA 149
CIENCIA ARGENTINA
15
Diana Maffía DICTADURA DEL CUERPO, PUBLICIDAD, 325
GÉNERO Y TRASTORNOS ALIMENTARIOS
7
Olga Bustus Romero
PIONERAS DE LA CIENCIA EN MÉXICO. 169
EL CASO DE LA UNIVERSIDAD NACIONAL
AUTÓNOMA DE MÉXICO • POLÍTICAS PÚBLICAS DE GÉNERO
Norma Blazquez y Olga Bustus Romero
• CONCLUSIÓN
11 ÉLITES PROFESIONALES FEMENINAS.
EL CASO DE LAS ACADÉMICAS Y LAS
251
CONCLUSÃO - ESTUDOS DE GÊNERO, CIÊNCIA 407
CIENTÍFICAS: UN ANÁLISIS SOBRE EL
E TECNOLOGIA: ROMPENDO PARADIGMAS?
BINOMIO GÉNERO & PODER
Marilia Gomes de Carvalho
María Antonia García de Léon Álvarez
• CUERPOS Y DIFERENCIAS
SOBRE AS AUTORAS / SOBRE LAS AUTORAS 417
12 CUERPOS Y DIFERENCIAS
Eulalia Pérez Sedeño
291
La composición gráfica de la portada del libro está basada en la Este livro foi organizado com a finalidade de divulgar as conferên-
perspectiva de la complexidad y transdisciplinariedad de la ciencia, cias e as palestras apresentadas nas mesas redondas do VIII Con-
tecnología y género, en el contexto de la diversidad cultural. Abier- gresso Iberoamericano de Ciência, Tecnologia e Gênero, na cidade
ta a múltiples interpretaciones, expresa – a través de la imagen de de Curitiba – Paraná/Brasil de 5 a 9 de abril de 2010.
un conjunto de clips con variadas configuraciones y colores – la di- Foi um evento importante para nosso país, pois pela primeira
versidad que coexiste con patrones dinámicos y en la cual se cons- vez recebeu um grupo significativo de cientistas das mais diferentes
truyen prácticas, teorías y reflexiones. Aún expresa la desconstruc- áreas do conhecimento e também de diferentes países, interessados
ción de conceptos, ideas, representaciones y conductas de carácter em trazer resultados de seus estudos e pesquisas, com a finalidade
reduccionista, determinista y discriminatorio de género, ciencia y de trocar experiências e conhecimentos relativos ao gênero e suas
tecnología, representando su tejido singular, interdependiente y intersecções com a ciência e a tecnologia.
profundo, en el ámbito del conocimiento y de la sabiduría – por Os temas e trabalhos apresentados e discutidos durante o
intermedio de la imagen del tejido de fondo y del bote de piedra Congresso revelaram os avanços que vêm acontecendo na produ-
con agua que reflete y refracta luz, representando la cultura material ção de conhecimento quando se trata de desvendar realidades que,
e imaterial / espiritual, el tangible y el intangible, la mirada atenta, muitas vezes por questões histórico-culturais, ficaram na invisibili-
en búsqueda de descubrimientos e innovaciones – que conjugan la dade ou não fizeram parte de interesses de pesquisas no decorrer da
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transdisciplinariedad y transdimensionalidad del saber tácito y ex- história da ciência.
plícito, el hacer, las adaptaciones y transformaciones individuales y Temos certeza que o Congresso atingiu os objetivos propos-
colectivas a lo largo de la historia y de la pluralidad de existencias. tos que foram: criar um espaço de discussão entre pesquisadoras e
pesquisadores sobre a participação das mulheres no campo científi-
co-tecnológico das universidades e institutos de pesquisa dos países
iberoamericanos; visibilizar a participação feminina nas pesquisas
científico-tecnológicas em todas as áreas do conhecimento, propor-
cionando novas discussões epistemológicas e críticas, provenientes
tanto da crítica feminista da ciência, como das ciências sociais, bio-
lógicas e físicas; possibilitar o intercâmbio entre pesquisadoras e,
parcerias, estudos comparativos, enriquecendo assim as áreas da
ciência tecnologia e gênero; ampliar a inserção de pesquisadoras das conferências e mesas redondas, além das atividades culturais
e pesquisadores brasileiras/os no grupo de estudos iberoamerica- programadas. O número de participantes inscritos ultrapassou 350,
nos sobre ciência, tecnologia e gênero, ressaltando a importância dos quais a maioria foi de brasileiros, mas contamos também com
de se construir genealogias, redes e comunidades de conhecimento inscrições provenientes de outros países, especialmente dos países
que valorizem os contextos da sua produção, construção e trans- vizinhos.
missão; debater sobre a participação paritária de cientistas homens É importante trazer os títulos dos eixos temáticos que nor-
e mulheres nos postos de decisão de órgãos de fomento à pesquisa tearam as comunicações de pesquisa para que se possa conhecer e
científico-tecnológica, identificando os obstáculos que impedem avaliar a diversidade de assuntos tratados e problemáticas pesqui-
hoje a equidade de gênero nestes postos; e, finalmente, inserir na sadas. São questões relevantes para as mulheres que, muito prova-
discussão da ciência, tecnologia e gênero a temática da educação velmente, se fosse um Congresso organizado nos moldes da ciência
científico-tecnológica, propondo a criação de políticas públicas que clássica e androcêntrica, não seriam objeto de estudo. Foram em
conduzam à participação mais efetiva e igualitária das mulheres na número de 14 que apresentamos a seguir:
ciência e na tecnologia.
A quantidade de comunicações de pesquisa que prestigiaram Gênero da História, Filosofia e Sociologia da Ciência e da
os diferentes eixos temáticos estabelecidos para o Congresso reve- Tecnologia.
la uma participação significativa de pesquisadores de vários países Mulheres Pioneiras em Áreas Científicas e Tecnológicas
iberoamericanos que estiveram no Brasil representados. Dentre
Educação Científico-Tecnológica e Gênero
eles podemos citar, por exemplo, o México, com 43 trabalhos apre-
sentados, a Espanha, com 23 comunicações de pesquisa, pesqui- Gênero e Divulgação Científica e Tecnológica
sadores/as de Cuba enviaram 17 comunicações, Argentina esteve Discursos e Práticas Femininas na Ciência e Tecnologia
representada com 8 pesquisadores que participaram dos grupos de
comunicação, Portugal também se fez presente com a apresentação Gênero e o Sistema de Pesquisa e Desenvolvimento Cientí-
de 8 resultados de pesquisa, da Venezuela recebemos 5 trabalhos, fico e Tecnológico
do Chile, apesar das dificuldades que o país enfrentava com o re- Divisão Sexual do Trabalho e Profissões Científicas e
cente terremoto ocorrido em 27 de fevereiro (dois meses antes do Tecnológicas
12 13
Congresso), recebemos 3 pesquisadores que apresentaram suas
Saúde, Ciência, Tecnologia e Gênero
pesquisas. Costa Rica, Honduras, Peru, Colômbia e Uruguai todos
com 2 representantes de cada país, também enriqueceram o debate Inovações Tecnológicas (Biotecnologia, Nanotecnologia,
que se estabeleceu naqueles dias do evento. Do Brasil, país sede do etc) e Gênero
evento, foram recebidos 113 comunicações, totalizando o número Design, Tecnologia e Gênero
de 227 trabalhos enviados para debate e discussão.
Além das apresentações destes trabalhos de pesquisa, tive- Mídia, Gênero e Tecnologia
mos ainda a inscrição de pesquisadoras e pesquisadores, dentre Gênero e Apropriações da Ciência e da Tecnologia
eles, professores universitários, estudantes de graduação e pós- Gênero e Tecnologias de Informação e Comunicação
graduação que estiveram presentes, assistindo e participando com
comentários e perguntas nos diferentes grupos dos eixos temáticos, Ciência e Tecnologia: Inclusão / Exclusão das Mulheres
Todos os trabalhos enviados para apresentação estão publi- var a pensar que as mulheres não tenham deles participado. Para
cados na íntegra no site http://www.ppgte.ct.utfpr.edu.br/even- ela “fazer ciência e criar tecnologia fazem parte do que significa ser
tos/cictg/ de modo que podem ser consultados via internet. Da humano”. No entanto, historicamente os homens passaram a ter
mesma forma, foi publicado um CD que foi distribuído a todos os o domínio sobre estes saberes e as mulheres foram excluídas das
inscritos no Congresso para que pudessem levar a seus países e suas escolas e das universidades.
instituições os artigos escritos. Neste capítulo a autora explora como a presença ou ausên-
A riqueza dos conteúdos apresentados nas conferências e as cia das mulheres na ciência e tecnologia afetaram a direção tomada
instigantes questões trazidas para debate pelas participantes das nestas áreas. Para ela investigações sobre a saúde e enfermidades
mesas redondas programadas nos estimularam à organização des- poderiam ser diferentes caso fossem realizadas por mulheres. Shir-
te livro, pois seus textos não estão publicados no site e tão pouco ley Malcom não chega a afirmar categoricamente que caso as pes-
compuseram o CD. O livro está organizado de maneira a trazer nos quisas fossem realizadas por mulheres, seus resultados seriam dife-
primeiros capítulos os textos das conferências, seguidos dos temas rentes, mas chama a atenção para a necessidade de realizar análises
das mesas redondas. Por esta razão, alguns capítulos possuem sub- para sabê-lo. A autora ressalta a importância de que as investigações
títulos que correspondem aos temas das referidas mesas. médicas não se baseiem apenas no corpo masculino, mas que levem
Com o primeiro capítulo, Presentes y Eclipsadas? Carme em consideração as especificidades do corpo feminino, tanto nos
Alemany fez a abertura do Congresso. A autora questiona o fazer diagnósticos como nos tratamentos.
científico baseado em princípios masculinos que deixaram as mu- Ela considera que a diversidade dos gêneros no campo da
lheres excluídas deste processo. Alerta para os perigos que o modelo ciência e da engenharia enriqueceria os trabalhos relacionados à
de desenvolvimento científico e tecnológico que se pauta naqueles tecnologia, contemplando outras questões, ausentes nos interes-
princípios trazem para o futuro do planeta e a continuidade da es- ses de muitos engenheiros homens. O resultado desta diversidade
pécie humana. Critica o modelo patriarcal de ciência e tecnologia, seria, por exemplo, a promoção do desenvolvimento sustentável.
onde há uma separação entre a humanidade e a natureza. Finalmente ela diz que o planeta necessita da visão das mulheres
O trabalho tradicionalmente realizado pelas mulheres de cui- e de suas vozes, unidas às dos homens, para buscar soluções aos
dar da vida, assim como a natureza, segundo Carme Alemany, não problemas existentes.
são considerados como parte do sistema econômico, o que permite O capítulo três, Viajeras, Exploradoras y otras Intrépidas
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aos homens exercer seu domínio sobre ambos. Porém é o trabalho y sus contribuciones a la ciencia de Patricia Tovar, é o texto de
delas que sustenta a vida. A autora encerra este capítulo clamando uma conferência que chama atenção para a participação das mulhe-
as mulheres cientistas para buscarem novos métodos e novas pes- res em expedições científicas que têm sido comumente apresenta-
quisas a fim de que, ao deixarem de estar eclipsadas, possam encon- das como expedições compostas exclusivamente por pesquisadores
trar novos conhecimentos que garantam a sustentabilidade da vida homens. Ela faz uma retrospectiva histórica, desde a Grécia Antiga,
e da natureza. Idade Média, grandes navegações dos descobrimentos, expedições
Com a conferência Ciencia y Tecnología: trabajo de mu- científicas, a expansão marítima, as viagens do século XIX, até as
jeres, voces de mujeres, Shirley Malcom fez o encerramento do pioneiras na aviação e a conquista espacial.
Congresso. No início deste segundo capítulo ela questiona que Por meio desta trajetória a autora traz paulatinamente nomes
apesar de geralmente serem considerados saberes masculinos, tan- de mulheres, seus feitos e contribuições para a ciência e o conheci-
to a ciência como o conhecimento tecnológico, não nos podem le- mento dos novos territórios sob a ótica feminina. Dentre elas cita
antropólogas pioneiras, como por exemplo, a intrépida Margaret portância do uso da língua materna nos escritos científicos. Para a
Mead que com sua pesquisa entre os Samoa da Nova Guiné, trouxe comunidade científica tudo que não é escrito em língua inglesa é
material para a antropologia norte americana com conhecimentos considerado “ciência doméstica” ou de “circulação nacional” e não
sobre crescimento e adolescência e uma abordagem inusitada na- recebe o prestígio da comunidade dos cientistas. Consuelo Miqueo
quela sociedade com respeito à construção cultural dos mundos diz que centenas de homens e mulheres pensam, lêem e escrevem
masculinos e femininos. Outros feitos das mulheres viajantes e suas em espanhol, mas o fazem sentindo sua inferioridade científica, tal-
contribuições à ciência estão ressaltados no capítulo de Patrícia vez até mesmo depreciando sua língua materna.
Tovar. Partindo da história dos idiomas predominantes na constru-
Os capítulos que seguem a partir do número quatro referem- ção da ciência ocidental ele apresenta “os resultados de uma análise
se às falas das participantes das mesas redondas que ocorreram bibliométrica da literatura científica em espanhol, português e ou-
durante o Congresso. A mesa intitulada “Gênero na História, Filo- tros idiomas, em correlação com outros países, as áreas científicas e
sofia, Sociologia e Política Científica e Tecnológica” compõe dois instituições produtoras, o impacto e periodicidade das revistas ou
capítulos. O quarto capítulo O XV Congresso Internacional de o ilo de artigos”.
Medicina de 1906, Lisboa, Portugal: uma abordagem de gêne- Outra mesa redonda tratou sobre as mulheres pioneiras na
ro foi escrito por um grupo de pesquisadoras de Portugal, Maria ciência e tecnologia em diferentes países. O capítulo seis, escrito
Margaret Lopes, Madalena Esperança Pina e Maria de Fátima Nu- por Diana Maffía trata das Mujeres pioneras en la ciencia argen-
nes, onde elas trazem uma descrição deste Congresso e a pequena tina. Os registros sobre matrícula e titulação universitária segundo
participação das mulheres que encontravam diversas dificuldades o sexo surgem na Argentina somente a partir de 1940. A autora traz
para se inserirem no meio das ciências médicas da época. Dentre informações sobre a participação das cientistas argentinas nas ciên-
elas, a maioria eram francesas e norte-americanas, mas muitas eram cias médicas, ressaltando as mais reconhecidas, trata das mulheres
inscritas apenas com os sobrenomes de seus maridos e seus títu- astrônomas, citando seus nomes e feitos científicos, traz as cientistas
los – Dra. ou Professora – não eram mencionados como o eram na área de química e suas descobertas. Há ainda referências às mu-
para os homens. Eram anunciadas apenas como Madame ou Ma- lheres pioneiras na Antártida onde muitas delas (biólogas) fizeram
demoiselle, o que revela uma forma de discriminação. Em que pese pesquisas, contribuindo com descobertas importantes. Apesar das
esta diferença de tratamento e promoção entre cientistas homens e vicissitudes das viagens para esta região do globo, estas mulheres
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cientistas mulheres no congresso de medicina, as autoras revelam mostraram que foram capazes de participar das expedições científi-
que congressos feministas da época, que reuniam mulheres cien- cas, abrindo espaço para outras que as sucederam. Depois de trazer
tíficas profissionais, marcavam a contribuição das mulheres para a à visibilidade muitas outras cientistas argentinas, Diana Maffía con-
ciência. Elas concluem dizendo que o cruzamento dos nomes, so- clui este capítulo referindo-se à Dra. Ana Galimberti, uma médica
brenomes, temáticas de estudo destes diversos congressos repre- que se destacou na obstetrícia, sendo a primeira mulher que obteve
sentam um vasto campo de investigação para conhecer as relações uma cátedra como titular na Faculdade de Medicina da Universida-
entre os congressos científicos e os congressos feministas do início de de Buenos Aires. Ela destaca que estas mulheres pioneiras foram
do século XX. exemplos para outras mulheres que seguiram seu caminho.
No capítulo cinco, de Consuelo Miqueo, Leer y escribir Norma Blazquez e Olga Bustus Romero escreveram o ca-
en lengua materna: análisis del uso del español en la comuni- pítulo sete intitulado Pioneras de la ciencia en México. El caso
dad científica internacional, a autora chama a atenção para a im- de la Universidad Nacional Autónoma de México. O capítulo
está baseado em uma pesquisa cujos resultados são quantitativos apropriadas pelos homens. Segundo ela a ginecologia passou de
e qualitativos. O objetivo da pesquisa foi gerar referenciais para uma atividade exclusivamente feminina para a mão de médicos,
docentes e estudantes que buscam a equidade entre homens e através do uso de instrumentos como o fórceps ou medicalizando
mulheres na ciência e na academia. Foram entrevistadas mulhe- o corpo das mulheres. Ela diz que esta masculinização da gine-
res cientistas de diferentes áreas do conhecimento e os detalhes cologia e obstetrícia existe até os dias de hoje, pois não há uma
sobre suas carreiras e suas vidas particulares apresentados neste única catedrática desta especialidade na Universidade espanhola.
capítulo, segundo as autoras, poderão ajudar outras mulheres que O capítulo segue trazendo à visibilidade nomes de inúmeras cien-
estão iniciando suas atividades científicas. Além disso, com esta tistas espanholas de diferentes épocas e áreas do conhecimento,
pesquisa Norma Blazquez e Olga Bustus Romero deram visibili- ressaltando suas contribuições à ciência, mas que muitas ficaram
dade às mulheres pioneiras da UNAM. até então desconhecidas. Ainda há dificuldades de inserção de
No oitavo capítulo Lourdes Fernández Rius traz um tema mulheres na academia espanhola e os dados trazidos por Eulália
interessante para esta discussão. Com o título Las precursoras: Pérez Sedeño no final do capítulo são reveladores. Contudo, ela
tensión y subversión ela insere a questão da tensão que se cria ressalta a importância de se conhecer suas histórias a fim de enri-
com a participação cada vez maior das mulheres nas ciências e quecer as mulheres em todos os sentidos.
nas universidades. As tensões e contradições quase sempre levam O décimo capítulo foi escrito por María José Barral Morán,
a exclusões e discriminações que ao longo da história têm sido Isabel Delgado Echeverría, Teresa Fernández Turrado y Carmen
reproduzidas pela sociedade patriarcal. Sua pesquisa foi realizada Magallón Portolés, um grupo de pesquisadoras da Universida-
em Cuba e, assim como a do México, foi quantitativa e qualitativa. de de Zaragoza – Espanha. Com o título Científicas que dejan
A autora faz uma série de questionamentos sobre as dificuldades huella: interacción entre experiencia vital y contribución
de inserção das mulheres nas ciências em seu país, a falta de re- a la ciencia as autoras apresentam uma pesquisa realizada com
conhecimento pelo trabalho feminino por parte da comunidade mulheres cientistas daquela Universidade. Depois de explicarem
científica, universitária e da sociedade. Os dados quantitativos detalhes sobre os objetivos e a metodologia adotada nesta pes-
revelam como as mulheres cubanas estão em minoria não só nas quisa, elas apresentam alguns de seus resultados. A pesquisa foi
áreas científicas de maior prestígio, mas também nos níveis mais feita através da historiografia de mulheres cientistas do início do
altos de titulação e reconhecimento acadêmico. De acordo com século XX que já faleceram e através de entrevistas em profundi-
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Lourdes Fernández Rius os homens seguem sendo os protago- dade realizadas com cientistas atuais. Há uma comparação com
nistas da ciência. Por outro lado, a discriminação das mulheres as trajetórias das cientistas espanholas do início do século e as
nas ciências existe, porque o trabalho científico requer tempo e atuais. Para as primeiras, o grande obstáculo para seguirem uma
dedicação, mas elas sentem-se muito atingidas pela discriminação carreira científica eram os afazeres domésticos, a carga familiar,
a nível pessoal, envolvidas na esfera privada e familiar, além dos em particular o casamento. No grupo das cientistas atuais há uma
preconceitos sociais que enfrentam. minimização do assunto doméstico que não surge como um pro-
No capítulo de número nove, Eulália Pérez Sedeño fala blema a resolver. Se elas têm filhos, dividem com seus parceiros os
das Mujeres pioneras en las ciencias: una mirada a la realidad cuidados das crianças ou contam com a ajuda de outros familia-
en Iberoamérica. A autora inicia sua apresentação chamando a res. Muitas são colegas de seus maridos e compartilham com eles
atenção para o fato de que muitas atividades antes exercidas por dos mesmos interesses profissionais. Para as autoras deste capí-
mulheres, como por exemplo, a cura de doenças ou o parto, foram tulo os caminhos abertos que as mulheres cientistas pesquisadas
deixam para as que estão começando suas carreiras científicas não tação dos temas que serão debatidos nesta mesa e que comporão
é somente no âmbito da produção científica direta, mas também os próximos capítulos deste livro. Tomo aqui emprestadas as pa-
na sustentação e no engrandecimento da comunidade científica. lavras de Eulália Pérez Sedeño para apresentá-los.
O capítulo onze é o último que compôs esta mesa redon- Diana Maffía no seu trabalho Tecnología y control social
da. Foi escrito por María Antonia García de Léon Álvarez, que de los cuerpos sexuados, o capítulo treze, centra-se na discus-
lhe deu o título de Élites Profesionales Femeninas. El caso de são de como as diferenças visíveis entre os corpos (a genitalidade,
las académicas y las científicas: un análisis sobre el binomio a cor, as características étnicas, etc) serviram de suporte para a
Género&Poder. O conteúdo do capítulo está composto em pri- desigualdade política. O extraordinário avanço que a ciência e a
meiro lugar por uma comparação que a autora considera relevan- tecnologia proporcionaram para a reprodução, controle e preser-
te entre mulheres políticas e mulheres cientistas. Em seguida ela vação da vida, tem sua contrapartida quando na sua aplicação se
trata do poder acadêmico e científico como poderes androcêntri- produzem alguns estancamentos e retrocessos ideológicos. Por
cos. Traz detalhes biográficos de mulheres cientistas, ressaltando isso, Diana nos leva a refletir sobre a necessária conciliação entre
desafios que elas enfrentam para desenvolver suas carreiras e se igualdade e diferença, especialmente nas diferenças de gênero ba-
afirmarem no mundo científico e político e também as visões dife- seadas nos corpos, em casos complexos como intersexualidade.
rentes de homens e mulheres sobre suas atividades diante do po- Como construir a cidadania em corpos tutelados pela ciência que
der e da careira científica. Maria Antonia García de León Alvarez constrói violentamente a verdade de seu sexo? Os paradoxos que
conclui seu capítulo apresentando nove chaves de um problema se criam em crianças e adultos que não podem decidir sobre seus
que tem uma só origem: a divisão do trabalho e dos papéis de gê- próprios corpos demonstram, como indica Diana Maffía, onde
nero em uma sociedade patriarcal que projeta sua sombra sobre está o problema: não na tecnologia e na ciência, mas na autori-
toda a atividade humana. dade que detêm aqueles que decidem sobre o uso terapêutico de
A mesa redonda sobre cuerpos y diferencias compõe mais determinadas tecnologias.
quatro capítulos do livro. No décimo segundo capítulo, cujo tí- O trabalho de Silvia García Dauder compõe o capítulo qua-
tulo é Cuerpos y diferencias, Eulália Pérez Sedeño faz uma apre- torze e se intitula Tecnologías, cuerpos sexuados y diferencias.
sentação do tema desta mesa, ressaltando que a idéia surgiu a partir Centra-se na análise do “corpo múltiplo”, que não parte de uma
de um projeto de investigação dirigido por ela que se chama “Car- ideia pré-concebida do que é um corpo e quais são suas fronteiras,
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tografías del cuerpo: Biopolíticas de la ciencia y la tecnología”. mas dos muitos corpos produzidos por diferentes práticas biomédicas
Este projeto está no campo de estudos de Ciência, Tecnologia e as conexões parciais entre eles. Silvia se centra nos corpos se-
e Sociedade (CTS) e possui uma abordagem multidisciplinar. A xuados das tecnologias biomédicas e sua relação com as tecnolo-
autora chama a atenção que dentro deste campo de estudos abre- gias de comunicação, como mediadoras na produção de discursos,
se a possibilidade dos estudos de Ciência, Tecnologia e Gênero corpos e subjetividades em torno a intersexualidade e, portanto, nos
(CTG). Neste âmbito os processos e produtos das biociências e ideais reguladores sexo/gênero. Para isso, escolhe como caso de
biotecnologias estão condicionados por preconceitos de gênero estudo a evolução e a utilização dos testes de verificação de gêne-
e de sexo que contribuem para reforçar ou modelar os corpos e ro no esporte olímpico, como aparecem na imprensa esportiva.
seus significados sociais e de gênero, por isso o objetivo da mesa Olga Bustos Romero, no capítulo quinze, com o título:
foi trazer as contribuições mais recentes em torno dos assuntos Dictadura del cuerpo, publicidad, género y trastornos ali-
de ciência, tecnologia e corpo. Em seguida a autora faz a apresen- mentarios também incide em como os meios de comunicação,
concretamente a propaganda, tratam os corpos sexuados. Histo- mos chegar a uma sociedade mais justa. Ela não deixa de lembrar
ricamente existe uma ditadura dos corpos, especialmente das mu- que o movimento feminista tem um forte papel neste processo de
lheres, traduzida em vários tipos de violência. Estas diferenças se conquista por direitos iguais para as mulheres.
evidenciam na mídia, especialmente na propaganda, onde ainda A divisão sexual do trabalho no mercado e na família, que
se fomenta o culto antidemocrático à magreza extrema, que oca- estabelece o lugar do homem no primeiro plano e o da mulher no
siona o aparecimento de transtornos alimentares como a bulimia segundo, é uma das formas de minimizar as atividades femininas,
e a anorexia. A discussão no trabalho de Olga Bustus Romero se pois o trabalho doméstico realizado para a família pela mulher não
centra na importância de formar uma visão crítica das mídias, na possui o mesmo valor que o trabalho para o mercado, mantendo-
necessidade de formular e levar à prática políticas públicas e ele- a em uma posição desprivilegiada. Finalizando o capítulo a autora
var à categoria de lei a iniciativa já existente no México sobre o diz que é preciso que o Estado adote políticas que incorporem a
tema. perspectiva de gênero para que a sociedade busque um caminho
A última mesa redonda a ser apresentada é a que se refere verdadeiramente democrático.
às políticas públicas de gênero. Depois que todos os capítulos que Liliam Álvarez Díaz e Mayda Álvares tratam no capítulo
compõem este livro nos mostraram a situação de exclusão que dezessete de Las mujeres cubanas: experiencias de 50 años de
historicamente as mulheres sofreram nas ciências e na tecnologia políticas de equidad, ciencia y tecnología, barreras y desafíos.
e também depois de lermos acerca das conquistas já realizadas Parafraseando o resumo do capítulo enviado pelas autoras, afir-
por elas para que esta participação seja mais equitativa à dos ho- mam que neste artigo são apresentadas as políticas e ações con-
mens, resta um debate sobre as políticas de governo para saber- cretas de fundação e desenvolvimento da ciência e tecnologia em
mos quais medidas são ou poderiam ser tomadas a fim de agilizar Cuba, as oportunidade abertas de igualdade para todos e todas
este processo, criando condições para que aumente o número de para alcançar os conhecimentos e as carreiras de ciências e tecno-
mulheres principalmente nas áreas mais androcêntricas da ciên- lógicas. Apresentam-se indicadores de participação das mulheres
cia e da tecnologia, e assim se atinja o equilíbrio de gênero na pro- em diferentes países do mundo, segundo dados da UNESCO de
dução científico-tecnológica. 2009, e se aprofunda no caso de Cuba.
O capítulo dezesseis, escrito por Nanci Stancki da Luz cujo Experiências e avaliações realizadas nos diferentes anos
título é Políticas públicas de gênero: desafios para efetivar de pesquisa demonstram que, apesar de alguns dados estatísticos
22 23
a igualdade, parte de aspectos jurídicos sobre a importância de serem favoráveis, que demonstram o avanço das cubanas e das
concretizar direitos humanos. A autora desenvolve uma discussão ações afirmativas para a promoção da mulher, ainda existem al-
sobre igualdade e diferença, inserindo a questão da justiça para gumas discriminações, às vezes não tão claras, que corroboram os
alcançar a igualdade entre homens e mulheres. Segundo ela este é processos de consciência herdados de um mundo androcêntrico
um grande desafio, especialmente em sociedades que se pautaram e patriarcal, que não se transforma em poucas décadas.
no modelo patriarcal, apesar dela considerar que este modelo não As autoras consideram que a Federación de Mujeres
é o único princípio estruturador da sociedade (se bem que preva- Cubanas, fundada no início da Revolução, tem uma grande histó-
lente), pois há também homens dominados por mulheres. Nanci ria de luta e conquista a nível político, jurídico e social. Seu Cen-
Stancki da Luz considera que a mudança cultural não acontece tro de Estudios de la Mujer tem importantes estudos realizados
apenas com uma legislação, mas ressalta a importância de fomen- ao longo de toda a ilha e que foram apresentados na mesa redon-
tar uma cultura de proteção aos direitos das mulheres, se quiser- da.
Finalmente, no décimo oitavo capítulo, Hildete Pereira de América Central e parte da América do Sul), há também um país
Melo traz um programa desenvolvido pela Secretaria de Políticas de língua portuguesa.
para Mulheres do Governo Federal brasileiro que promovia um Outra observação a ser feita é que os textos estão publica-
prêmio aos melhores trabalhos escritos sobre gênero de estudan- dos na forma original, tal como as autoras nos enviaram, portanto
tes do ensino médio, graduação, graduados, especialistas, estu- delegamos total responsabilidade a elas sobre a linguagem que
dantes de mestrado, mestres, e estudantes de doutorado. Com o seus capítulos apresentam.
título O prêmio Construindo a Igualdade de Gênero: uma po-
lítica pública feminista, ela desenvolve a descrição deste progra-
AGRADECIMENTOS
ma de governo, nas edições de 2009 e 2010. Os/as ganhadores/
as deste prêmio recebiam valores monetários e bolsas de iniciação Em primeiro lugar queremos agradecer às instituições financiadoras do
científica, mestrado e doutorado, além de computadores e outros VIII Congresso Iberoamericano, especialmente à Secretaria de Políticas
equipamentos importantes para o trabalho acadêmico. para Mulheres do Governo Federal Brasileiro, financiadora também
Após a descrição dos critérios e regras da premiação, a au- deste livro. Agradecemos ainda à Secretaria de Ciência e Tecnologia do
tora apresenta vários dados estatísticos sobre a participação dos Estado do Paraná, à Fundação Araucária, ao Sistema da Federação
estudantes de diferentes níveis de ensino desde o ano de 2005 das Indústrias (FIEP), à Empresa Itaipu Binacional, à Companhia de
até 2010, ou seja, em todas as suas edições. Nos itens finais deste Energia Elétrica do Paraná (COPEL), à Volvo do Brasil, pelo apoio
capítulo Hildete Pereira de Melo explora os conteúdos de alguns financeiro. Ao Magnífico Reitor da Universidade Tecnológica Federal do
trabalhos escritos que concorreram a este prêmio. Houve uma su- Paraná - UTFPR, Professor Carlos Eduardo Cantarelli, ao Diretor do
premacia feminina dentre as/os participantes e, segundo a autora, Campus Curitiba desta Universidade, Professor Dr. Marcos Flávio de
as inscrições foram crescendo ano a ano. Oliveira Schiefler Filho, aos professores e funcionários do Programa de
Na conclusão, Marília Gomes de Carvalho faz um balanço Pós-Graduação em Tecnologia da UTFPR, pelo apoio institucional. Ao
dos conteúdos do livro, propondo a seguinte questão: Estudos Comitê organizador, principalmente à doutoranda em Tecnologia e Se-
de ciência, tecnologia e gênero: rompendo paradigmas? Es- cretária do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia - PPGTE, Lin-
creve sobre os desafios e avanços da participação das mulheres damir Salete Casagrande, pelo competente apoio administrativo e por
na ciência e tecnologia, explora a diversidade de possibilidades “apagar os incêndios” que sempre acontecem na organização de eventos
24 deste porte. À Profa. Dra Maristela Mitsuko Ono, pela qualidade na 25
de estudos neste campo do conhecimento e sugere a necessidade
de explicações específicas para os estudos de CTG na América elaboração do design gráfico e pela supervisão do trabalho de informa-
Latina. Finalmente a autora indaga: a maior participação das mu- tização do Congresso e à bolsista estagiária Camila Hanako Nishihara
lheres na produção científico-tecnológica pode trazer alterações de Albuquerque pela sempre pronta disponibilidade de realização deste
nos paradigmas científicos? trabalho. À Profa. Dra. Nanci Stancki da Luz, pela organização das
Antes de encerrar esta apresentação deve-se explicar que o apresentações dos trabalhos dos eixos temáticos, à mestranda do PPG-
livro traz capítulos em espanhol e português, de acordo com a na- TE, Joyce Luciane Correia Muzi, pelo trabalho de tradução português-
cionalidade de suas autoras. Como o Congresso é Iberoamerica- espanhol-português, à Dra. Cristina Tavares da Costa Rocha, pesqui-
no, estamos assim contemplando a língua dos países da Península sadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Relações de Gênero e
Ibérica (Espanha e Portugal) e também dos países latino-ameri- Tecnologia - GeTec, pela organização e seleção da mostra de vídeos,
canos que, apesar de serem a maioria de língua hispânica (toda a à doutoranda do PPTGE, Maria Aparecida Fleury Costa Spanger
pela organização das atividades culturais e à também doutoranda do
PPGTE, Giovana Pezarico, pela confecção dos certificados. Agradece-
mos ainda às pesquisadoras e pesquisadores do GeTec que colaboraram
nos trabalhos que envolviam o Congresso desde o início deste processo e PRESENTACIÓN
às empresárias da Lazuli Eventos, pelo esforço e eficiente apoio no tra-
balho de organização do evento. Agradecemos também a todos e todas Marilia Gomes de Carvalho
bolsistas do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (Mestrado e
Doutorado) pelo trabalho logístico durante todos os dias do Congresso.
Somos gratas ainda à fotógrafa Socorro Araujo, pela mostra fotográfica
“Poética feminina de Francisco”.
La organización de este libro tiene como finalidad divulgar las con-
ferencias y las ponencias presentadas en las mesas redondas del VIII
Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología y Género realiza-
do en la ciudad de Curitiba – Paraná / Brasil del 5 al 9 de abril de
2010.
El Congreso fue un evento importante para el país que, por
primera vez, recibió un grupo representativo de científicos de di-
ferentes áreas de conocimiento y nacionalidades, motivados por
presentar los resultados de sus estudios e investigaciones, con el
objetivo de intercambiar experiencias y conocimientos relativos al
género y sus relaciones con la ciencia y la tecnología.
Los temas y trabajos presentados y discutidos durante el
Congreso revelaron los últimos avances en la producción del cono-
cimiento en lo que se refiere a desvelar realidades que, muchas ve-
ces por cuestiones histórico-culturales, se mantuvieron al margen o
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no formaron parte del interés de las investigaciones a lo largo de la
historia de la ciencia.
Estamos seguros de que el Congreso alcanzó los objetivos
propuestos, que fueron: crear un espacio de discusión entre las
investigadoras y los investigadores sobre la participación de las
mujeres en el campo científico-tecnológico de las universidades
e institutos de investigación de los países iberoamericanos; hacer
visible la participación femenina en las investigaciones científico-
tecnológicas de todas las áreas de conocimiento, motivando nue-
vas discusiones epistemológicas y críticas provenientes, tanto de la
crítica feminista de la ciencia, como de las ciencias sociales, bioló-
gicas y físicas; posibilitar el intercambio y las asociaciones entre Educación Científico-Tecnológica y Género
investigadores, estudios comparativos, enriqueciendo las áreas de Género y Divulgación Científica y Tecnológica
la ciencia, la tecnología y el género; ampliar la inserción de inves-
tigadoras e investigadores brasileñas/os en el grupo de estudios Discursos y Prácticas Femeninas en la Ciencia y la Tecno-
iberoamericanos sobre ciencia, tecnología y género, destacando logía
la importancia de construir genealogías, redes y comunidades de Género y el Sistema de Investigación y Desarrollo Científi-
conocimiento que valoren los contextos de producción, construc- co y Técnico
ción y trasmisión; discutir la participación paritaria de científicos
División Sexual del Trabajo y Profesiones Científicas y
hombres y mujeres en puestos de decisión de órganos de fomento
Tecnológicas
a la investigación científico-tecnológica, identificando los obstá-
culos que impiden la equidad de género en estos puestos en los Salud, Ciencia, Tecnología y Género
días de hoy; y, finalmente, inserir en la discusión de la ciencia, la Innovaciones Tecnológicas (Biotecnología, Nanotecnolo-
tecnología y el género la temática de la educación científico-tecno- gía, etc.) y Género
lógica, proponiendo la creación de políticas públicas que motiven
a la participación efectiva e igualitaria de las mujeres en la ciencia Diseño, Tecnología y Género
y en la tecnología. Media, Género y Tecnología
Además de las presentaciones de los trabajos de investiga-
Género y Apropiaciones de la Ciencia y de la Tecnología
ción, contamos con la participación de investigadoras e investiga-
dores - profesores universitarios, estudiantes de graduación y pos- Género y Tecnologías de la Información y la Comunica-
grado - que estuvieron presentes, escuchando y participando en las ción
conferencias con comentarios y preguntas en los diferentes grupos Ciencia y Tecnología: Inclusión / Exclusión de las Mujeres
de los ejes temáticos, de las conferencias y mesas redondas, ade-
más de participar en las actividades culturales programadas. Fue- Todos los trabajos enviados para presentación aparecen
ron más de 350 inscritos, de los cuales la mayoría eran brasileños y publicados integralmente en la página web http://www.ppgte.
los demás de otros países, especialmente de los países vecinos. ct.utfpr.edu.br/eventos/cictg/ y allí pueden consultarse. Del mis-
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Es importante presentar los títulos de los ejes temáticos que mo modo, se publicó un CD distribuido a todos los inscritos en
guiaron las comunicaciones, para que se pueda conocer y evaluar el Congreso, que pudieron llevar a sus respectivas instituciones y
la diversidad de los temas abordados y las problemáticas investiga- países todos los artículos escritos para el evento.
das. Se trata de cuestiones relevantes para las mujeres y que, muy La diversidad de contenidos presentados en las conferencias
probablemente, si el Congreso hubiera sido organizado en los mo- y las provocativas cuestiones llevadas a debate por los participan-
delos de la ciencia clásica y androcéntrica, no serían objeto de es- tes de las mesas redondas nos estimularon a organizar este libro,
tudio. Fueron 14 los ejes temáticos, presentados a continuación: pues los textos que aquí presentamos no están disponibles en la
página web ni tampoco en el CD. El libro presenta en los primeros
Género de la Historia, Filosofía y Sociología de la Ciencia y capítulos los textos de las conferencias, seguidos por los temas de
de la Tecnología las mesas redondas. Por esta razón, algunos capítulos llevan subtí-
Mujeres Pioneras en Áreas Científicas y Tecnológicas tulos que corresponden a los temas de las referidas mesas.
El primer capítulo, ¿Presentes y Eclipsadas?, es el texto camente en el cuerpo masculino, sino que consideren las especifi-
de Carmen Alemany, leído en la apertura del Congreso. La auto- cidades del cuerpo femenino, tanto en los diagnósticos, como en
ra cuestiona el trabajo científico basado en principios masculinos los tratamientos.
que excluyeron a las mujeres. Llama la atención sobre los peligros Considera que la diversidad de los géneros en el ámbito de
que el modelo de desarrollo científico y tecnológico que se apoya la ciencia y de la ingeniería enriquecería los trabajos relacionados
en aquellos principios acarrea para el futuro del planeta y la con- con la tecnología, contemplando otras cuestiones ausentes en los
tinuidad de la especie humana. Critica el modelo patriarcal de la intereses de los ingenieros hombres. El resultado de esta diversidad
ciencia y de la tecnología, en el cual se separan la humanidad y la sería, por ejemplo, la promoción del desarrollo sostenible. Final-
naturaleza. mente, afirma que el planeta necesita la visión de las mujeres y sus
Según Carmen Alemany, el trabajo de cuidar de la vida, rea- voces, unida a la de los hombres, para buscar soluciones a los pro-
lizado tradicionalmente por las mujeres, y la naturaleza, no son blemas existentes.
considerados parte del sistema económico, lo que permite a los El capítulo tres, Viajeras, Exploradoras y otras Intrépi-
hombres ejercer el dominio sobre ambos. Sin embargo, es el tra- das y sus contribuciones a la ciencia, de Patricia Tovar, es el
bajo de ellas el que mantiene la vida. La autora concluye este capí- texto de una conferencia sobre la participación de las mujeres
tulo clamando a las mujeres científicas que busquen nuevos méto- en expediciones científicas, comúnmente organizadas exclusiva-
dos y nuevas investigaciones a fin de que dejen de estar eclipsadas mente con la participación de investigadores hombres. La autora
por los hombres y puedan encontrar nuevos conocimientos que realiza un estudio retrospectivo histórico, desde la Grecia Anti-
garanticen la sustentabilidad de la vida y de la naturaleza. gua, Edad Media, grandes navegaciones de los descubrimientos,
Shirley Malcon realizó la clausura del Congreso con la con- expediciones científicas, la expansión marítima, los viajes del siglo
ferencia Ciencia y Tecnología: trabajo de mujeres, voces de XIX, hasta las pioneras en la aviación y en la conquista espacial.
mujeres Al iniciar este segundo capítulo, afirma que, pese a que A través de esta trayectoria, Tovar presenta paulatinamente
la ciencia y el conocimiento tecnológico sean considerados sabe- nombres de mujeres, sus hechos y contribuciones para la ciencia
res masculinos, no podemos pensar que las mujeres no participan y el conocimiento de los nuevos territorios bajo la óptica feme-
de ellos. Para Malcon, “hacer ciencia y crear tecnología forma par- nina. Entre las citadas aparecen las antropólogas pioneras como
te de lo que significa ser humano”. Sin embargo, históricamente la intrépida Margaret Mead, que, con su investigación entre los
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los hombres pasaron a tener el dominio sobre estos saberes y las Samoa de Nueva Guinea, contribuyó a la antropología estadouni-
mujeres fueron excluidas de las escuelas y de las universidades. dense con conocimientos sobre crecimiento y adolescencia y un
En este capítulo la autora discute cómo la presencia o la abordaje inusitado sobre la construcción cultural de los mundos
ausencia de las mujeres en la ciencia y en la tecnología afectaron masculinos y femeninos. Otros hechos de las mujeres viajeras y
a la dirección que siguieron estas áreas. Para la autora, las inves- sus contribuciones para la ciencia se destacan en el capítulo de
tigaciones sobre la salud y las enfermedades podrían ser distin- Patricia Tovar.
tas si hubieran sido llevadas a cabo por mujeres. Shirley Malcom Los capítulos siguientes se refieren a las comunicaciones
no afirma categóricamente que los resultados serían diferentes si realizadas por los participantes de las mesas redondas que tuvie-
las investigaciones fueran realizadas por mujeres, pero llama la ron lugar en el Congreso. La mesa titulada “Género en la Histo-
atención sobre la necesidad de considerarlo. La autora destaca la ria, Filosofía, Sociología y Política Científica y Técnica” compone
importancia de que las investigaciones médicas no se basen úni- los dos capítulos siguientes. El cuarto capítulo, O XV Congresso
Internacional de Medicina de 1906, Lisboa, Portugal: uma Otra mesa redonda trató sobre las mujeres pioneras en la
abordagem de gênero, fue escrito por un grupo de investigadoras ciencia y en la tecnología en diferentes países. El capítulo seis, es-
de Portugal – Maria Margaret Lopes, Madalena Esperança Pina y crito por Diana Maffía, trata de las Mujeres pioneras en la ciencia
Maria de Fátima Nunes. Las autoras presentan una descripción argentina. Los registros sobre la matrícula y la titulación universi-
del Congreso de 1906 y señalan la modesta participación de las taria según el sexo surgen en Argentina solamente a partir de 1940.
mujeres, que encontraban muchas dificultades para inserirse en La autora presenta informaciones sobre la participación de las cien-
las ciencias médicas de la época. De las participantes, la mayoría tíficas argentinas en las ciencias médicas (destacando las más reco-
eran francesas y estadounidenses, pero muchas se inscribían con nocidas), trata de las mujeres astrónomas (citando sus nombres y
los apellidos de sus maridos, y sus títulos – Doctora o Profesora hechos científicos), presenta a las científicas en el área de química
– no se mencionaban como en el caso de los hombres. Eran anun- y sus descubrimientos. También referencia a las mujeres pioneras
ciadas como Madame o Mademoiselle, lo que revela una forma de en la Antártida, donde muchas biólogas realizaron investigaciones,
discriminación. Pese a la diferencia de tratamiento y promoción contribuyendo con importantes descubrimientos. A pesar de las
entre científicos hombres y mujeres en el congreso de medicina, vicisitudes de los viajes a esta región del globo, dichas mujeres de-
las autoras revelan que los congresos feministas en la época, que mostraron ser capaces de participar en las expediciones científicas,
reunían a mujeres científicas profesionales, imprimían la contri- abriendo espacio para otras que las sucedieron. Tras presentar mu-
bución de las mujeres para la ciencia. Concluyen afirmando que chas otras científicas argentinas, Diana Maffía concluyó este capí-
el cruce de nombres, apellidos y temáticas de estudio de estos tulo haciendo referencia a la Dra. Ana Galimberti, una médica que
diversos congresos representa un vasto campo de investigación se destacó en la obstetricia, siendo la primera mujer en obtener una
para conocerse las relaciones entre los congresos científicos y los cátedra en la Facultad de Medicina de la Universidad de Buenos Ai-
congresos feministas del inicio del siglo XX. res. Finalmente, destaca que estas mujeres pioneras sirvieron como
En el capítulo cinco, Leer y escribir en lengua materna: ejemplo a otras mujeres que siguieron sus caminos.
análisis del uso del español en la comunidad científica inter- Norma Blázquez y Olga Bustus Romeno escribieron el capí-
nacional, Consuelo Miqueo destaca la importancia del uso de tulo siete titulado Pioneras de la ciencia en México. El caso de
la lengua materna en los escritos científicos. Para la comunidad la Universidad Autónoma de México. El estudio se basa en una
científica todo lo que no está escrito en lengua inglesa es conside- investigación cuyos resultados son cuantitativos y cualitativos. El
32 33
rado “ciencia doméstica” o de “circulación nacional” y no recibe objetivo de la investigación fue generar referenciales para docentes
el prestigio de la comunidad científica. La autora afirma que cen- y estudiantes que buscan la equidad entre hombres y mujeres en la
tenares de hombres y mujeres piensan, leen y escriben en español ciencia y en la universidad. Fueron entrevistadas mujeres científicas
pero lo hacen sintiendo su inferioridad científica, quizá incluso de diferentes áreas de conocimiento. Según las autoras, los detalles
depreciando su lengua materna. sobre sus carreras y sus vidas privadas, presentados en este capítulo,
Tomando como punto de partida la historia de los idiomas podrán ayudar a otras mujeres que están iniciando sus actividades
predominantes en la construcción de la ciencia occidental, pre- científicas. Además de eso, con esta investigación Norma Blázquez
senta “los resultados de un análisis bibliométrico de la literatura y Olga Bustus Romeno dieron visibilidad a las mujeres pioneras de
científica en español, portugués y otros idiomas, en correlación la UNAM.
con otros países, las áreas científicas e instituciones productoras, En el octavo capítulo, Lourdes Fernández Rius discute un
el impacto y periodicidad de las revistas o el tipo de artículos”. tema interesante. Con el título Las precursoras: tensión y sub-
versión introduce la discusión de la tensión que se crea con la par- embargo, destaca la importancia de que se conozca la historia a fin
ticipación cada vez más efectiva de las mujeres en las ciencias y de enriquecer a las mujeres en todos los sentidos.
en las universidades. Las tensiones y contradicciones casi siempre El décimo capítulo fue escrito por María José Barral Morán,
llevan a exclusiones y discriminaciones que a lo largo de la historia Isabel Delgado Echeverría, Teresa Fernández Turrado y Carmen
fueron reproducidas por la sociedad patriarcal. Su investigación Magallón Portolés, un grupo de investigadoras de la Universidad
fue realizada en Cuba y, como el estudio mexicano, fue de carácter de Zaragoza – España. Bajo el título Científicas que dejan huellas:
cuantitativo y cualitativo. La autora cuestiona las dificultades de interacción entre experiencia vital y contribución a la ciencia,
inserción de las mujeres en las ciencias en su país, la falta de reco- las autoras presentan una investigación realizada con mujeres cien-
nocimiento del trabajo femenino por parte de la comunidad cien- tíficas de la Universidad de Zaragoza. Tras explicar detalles sobre
tífica universitaria y de la sociedad. Los datos cuantitativos revelan los objetivos y la metodología adoptada en la investigación, la ilus-
cómo las mujeres cubanas son minoría no sólo en las áreas cientí- tran con algunos de los resultados. La investigación fue realizada a
ficas más prestigiadas, sino también en los niveles más altos de ti- través de la historiografía de mujeres científicas del inicio del siglo
tulación y reconocimiento académico. Según Lourdes Fernández XX, que ya han muerto, y de entrevistas realizadas a científicas de
Ruis, los hombres siguen siendo los protagonistas de la ciencia. la actualidad. Se comparan las trayectorias de las científicas espa-
Por otra parte, la discriminación de las mujeres existe porque el ñolas del inicio del siglo y de las actuales. Para las primeras el gran
trabajo científico exige tiempo y dedicación, y ellas se sienten muy obstáculo para seguir una carrera científica eran los quehaceres do-
afectadas por la discriminación a nivel personal, involucradas en mésticos, la carga familiar, en particular, el matrimonio. En el grupo
la esfera privada y familiar, además de los prejuicios sociales que de las científicas actuales hay una minimización del tema domésti-
enfrentan. co, que no aparece como un problema pendiente. Si tienen hijos,
En el capítulo nueve, Eulalia Pérez Sedeño escribe sobre las comparten con sus parejas los cuidados de los niños o cuentan con
Mujeres pioneras en las ciencias: una mirada a la realidad en la ayuda de familiares. Muchas son compañeras de trabajo de sus
Iberoamérica. La autora inicia su texto llamando la atención so- maridos y comparten los mismos intereses profesionales. Para las
bre el hecho de que muchas actividades que eran realizadas por autoras de este capítulo los ejemplos que las mujeres científicas in-
mujeres, como la cura de enfermedades o el parto, se las apropia- vestigadas dan a las que están empezando sus carreras científicas
ron los hombres. Según la autora la ginecología dejó de ser una ac- no se resumen al ámbito de la producción científica directa, sino
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tividad exclusivamente femenina para caer en manos de médicos también a la manutención y al engrandecimiento de la comunidad
hombres, con el uso de instrumentos como el fórceps y medicinas. científica.
Comenta que la masculinización de la ginecología y de la obste- El capítulo once es el último de esta mesa redonda. Fue es-
tricia existe hasta nuestros días, pues no existe ninguna catedrá- crito por María Antonia García de Léon Álvarez, que le dio el títu-
tica de esta especialidad en la Universidad española. El capítulo lo Élites Profesionales Femeninas. El caso de las académicas y
sigue dando visibilidad a innumerables científicas españolas de las científicas: un análisis sobre el binomio Género&Poder. El
diferentes épocas y áreas de conocimiento, destacando sus contri- contenido del capítulo se compone, en primer lugar, de una com-
buciones para la ciencia, pese a que muchas sigan siendo ilustres paración realizada por la autora entre mujeres políticas y mujeres
desconocidas hasta ahora. Aún existen dificultades en la inserción científicas. En seguida, trata sobre el poder académico y científico
de mujeres en la universidad española y los datos presentados por como poderes androcéntricos. Presenta detalles biográficos de mu-
Eulalia Pérez Sedeño al final de su capítulo son reveladores. Sin jeres científicas, destacando los desafíos con los que se enfrentan
para desarrollar sus carreras y afirmarse en el mundo científico y po- los cuerpos, en casos complejos como la intersexualidad. ¿Cómo
lítico, y también las diferentes visiones de hombres y mujeres sobre construir la ciudadanía en cuerpos tutelados por la ciencia, que
sus actividades ante el poder y la carrera científica. María Antonia construye violentamente la verdad de su sexo? Las paradojas que
García de León Álvarez concluye su capítulo presentando nueve se producen en niños o adultos que no pueden decidir sobre sus
respuestas al problema que tiene un único origen: la división del propios cuerpos señalan, como indica Diana Maffía, dónde está
trabajo y de los roles de género en una social patriarcal que proyec- el problema: no en la tecnología y la ciencia, sino en la autoridad
ta su sombra sobre toda actividad humana. que detentan quienes deciden el uso terapéutico de determinadas
La mesa redonda sobre cuerpos y diferencias es la que da tecnologías.
origen a los cuatro capítulos siguientes de este libro. En el déci- El trabajo de Silvia García Dauder, compone el capítulo ca-
mo segundo capítulo, cuyo título es Cuerpos y diferencias, Eula- torce y se llama Tecnologías, cuerpos sexuados y diferencias.
lia Pérez Sedeño presenta el tema de esta mesa, destacando que la Se centra en el análisis del “cuerpo múltiple”, que no parte de una
idea surgió a partir de un proyecto de investigación dirigido por idea prefijada de lo que un cuerpo es y cuáles son sus fronteras, sino
ella, titulado “Cartografías del cuerpo: Biopolíticas de la ciencia y de los muchos cuerpos producidos y realizados por diferentes prácticas
la tecnología”. Este proyecto se inscribe en el campo de estudios bio-médicas y las conexiones parciales entre ellos. En especial, Sil-
de Ciencia, Tecnología y Sociedad (CTS) y consiste en un aborda- via se centra en los cuerpos sexuados de las tecnologías biomédi-
je multidisciplinar. La autora destaca que dentro de este campo de cas en intersección con las tecnologías de la comunicación, como
estudios se abre la posibilidad de los estudios de Ciencia, Tecnolo- mediadoras en la producción de discursos, cuerpos y subjetividades en
gía y Género (CTG). En este ámbito, los procesos y productos de torno a la intersexualidad y, por tanto, en los ideales reguladores
las biociencias y biotecnologías se condicionan por prejuicios de sexo/género. Para ello escoge como caso de estudio la evolución
género y sexo que contribuyen a reforzar o a modelar los cuerpos y utilización de los tests de verificación de género en el deporte
y sus significados sociales y de género. El interés de la mesa era pre- olímpico, en concreto tal y como aparece en la prensa deportiva.
sentar las contribuciones más recientes sobre los temas de ciencia, Olga Bustos Romero en el capítulo quince, con el título:
tecnología y cuerpo. A continuación, la autora presenta los temas Dictadura del cuerpo, publicidad, género y trastornos alimen-
que serán discutidos en esta mesa y que componen los capítulos si- tarios, también incide en cómo los medios de comunicación, en
guientes de este libro. Tomo prestadas las palabras de Eulalia Pérez concreto a través de la publicidad, tratan a los cuerpos sexuados.
36 37
Sedeño para presentarlos. Históricamente ha habido una dictadura sobre los cuerpos, en es-
Diana Maffía en su trabajo Tecnología y control social de pecial los de las mujeres, que se traduce también en varios tipos
los cuerpos sexuados, el capítulo trece, se centra en cómo las di- de violencia. Estas diferencias quedan evidenciadas en los media,
ferencias visibles entre los cuerpos (la genitalidad, el color, los ras- específicamente en la publicidad, donde se sigue fomentando el
gos étnicos y otros) han sido el soporte material de la desigualdad culto a la hiper-delgadez, que resulta de lo más antidemocrático,
política. El extraordinario avance que la ciencia y la tecnología han incidiendo asimismo en los trastornos alimentarios como bulimia
aportado a la reproducción, al control y a la preservación de la vida, y anorexia. La discusión en el trabajo de Olga Bustus Romero se
pero tiene su contrapartida cuando en su aplicación se producen centra en la importancia de formar audiencias críticas hacia los
algunos estancamientos y retrocesos ideológicos. Por eso, Diana media, en la necesidad de formular y llevar a la práctica políticas
nos lleva a reflexionar sobre la conciliación necesaria entre igual- públicas y elevar a rango de ley la iniciativa ya existente sobre el
dad y diferencia, en especial en las diferencias de género basadas en tema en México.
La última mesa redonda es la que se refiere a las políticas pú- Lilliam Álvarez Diaz y Mayda Álvarez tratan en el capítulo
blicas de género. Después que todos los capítulos que componen diecisiete sobre Las mujeres cubanas: experiencias de 50 años
este libro nos enseñaron la situación de exclusión que sufrieron his- de políticas de equidad, ciencia y tecnología, barreras y desa-
tóricamente las mujeres en las ciencias y en la tecnología y también fíos. Parafraseando el resumen del capítulo enviado por las auto-
tras leer sobre las conquistas realizadas por ellas en una participación ras, afirman que en este trabajo se presentan las políticas y acciones
más equitativa con los hombres, falta un debate sobre las políticas de concretas de fundación y desarrollo de la ciencia y la tecnología en
gobierno para saber qué medidas son o podrían ser tomadas a fin de Cuba, las oportunidades abiertas por igual para que todas y todos
acelerar este proceso, creando condiciones para que se aumente el accedan a los conocimientos y a las carreras de ciencias y técnicas. Se
número de participación de las mujeres principalmente en las áreas muestran indicadores de participación de las mujeres en diferentes
más androcéntricas de la ciencia y de la tecnología y que así se alcan- países del mundo, según datos de la UNESCO del 2009 y en parti-
ce el equilibrio de género en la producción científico-tecnológica. cular se profundiza en el caso de Cuba.
El capítulo dieciséis, escrito por Nanci Stancko da Luz cuyo Experiencias y valoraciones recogidas en varios años de inves-
título es Políticas públicas de gênero: desafio para tornar efeci- tigación demuestran que, a pesar de tener algunas estadísticas acep-
va a igualdade, parte de aspectos jurídicos sobre la importancia de tables que muestran los avances de las cubanas y de las acciones
concretizar los derechos humanos. La autora lleva a cabo una discu- afirmativas para la promoción de la mujer, subsisten aún rezagos
sión sobre igualdad y diferencia, incluyendo la cuestión de la justicia y discriminaciones a veces no tan obvias, y que corroboran que los
para alcanzar la igualdad entre hombres y mujeres. Según la inves- procesos de la conciencia, heredados de un mundo androcéntrico y
tigadora este es un gran desafío, especialmente en sociedades que patriarcal, no se transforman en pocas décadas.
se basaron en el modelo patriarcal, a pesar de considerar que este Las autoras consideran que la Federación de Mujeres Cu-
modelo no es el único principio estructurador de la sociedad (aun- banas, fundada justo al comienzo de la Revolución, tiene una larga
que sea el prevaleciente), pues también existen hombres dominados historia de luchas y logros en los planos político, jurídico y social.
por mujeres. Nanci Stancki da Luz considera que el cambio cultural Su Centro de Estudios de la Mujer muestra importantes investiga-
no se lleva a cabo solamente con la legislación, sino resalta la impor- ciones y estudios realizados a lo largo y ancho de la Isla, que fueron
tancia de fomentar una cultura de protección a los derechos de las expuestos en la mesa redonda.
mujeres si queremos llegar a ser una sociedad más justa. Resalta que Finalmente, en el décimo octavo capítulo, Hildete Pereira de
38 39
el movimiento feminista tiene un papel de destaque en el proceso de Melo presenta un programa desarrollado por la Secretaría de Políti-
conquista por derechos iguales para las mujeres. cas para Mujeres del Gobierno Federal brasileño, que otorgaba un
La división sexual del trabajo en el mercado laboral y en la premio a los mejores trabajos sobre género escritos por estudiantes
familia, que establece al hombre en primer lugar y a la mujer en se- de enseñanza secundaria, graduación, graduados, especialistas, estu-
gundo, es una de las formas de minimizar las actividades femeninas, diantes de maestrías, másters y estudiantes de doctorado. Con el tí-
pues el trabajo doméstico realizado para la familia por la mujer no tulo O prêmio Construindo a Igualdade de Gênero: uma políti-
recibe el mismo valor que el trabajo para el mercado, manteniéndo- ca pública feminista, desarrolla la descripción de este programa de
la en una posición desfavorecida. Finalizando el capítulo, la autora gobierno, en las ediciones de 2009 y 2010. Los/as ganadores/as de
afirma que es necesario que el Estado adopte políticas que incorpo- este premio recibían valores monetarios y becas de iniciación cien-
ren la perspectiva de género para que la sociedad busque un camino tífica, maestría y doctorado, además de ordenadores y otros equipos
verdaderamente democrático. importantes para el trabajo académico.
Después de la descripción de los criterios y reglas de premia- financia este libro. Nuestros agradecimientos a la Secretaria de Ciência e
ción, la autora presenta varios datos estadísticos sobre la participa- Tecnologia do Estado do Paraná, a la Fundação Araucária, al Sistema
ción de los estudiantes de diferentes niveles de enseñanza desde el da Federação das Indústrias (FIEP), a la empresa Itaipu Binacional, a
año 2005 al 2010, es decir, en todas sus ediciones. En los apartados la Companhia de Energia Elétrica do Paraná (COPEL), a la Volvo de
finales de este capítulo Hildete Pereira de Melo discute los conte- Brasil, por el apoyo financiero. Al Excelentísmo Rector de la Universida-
nidos de algunos de los trabajos presentados para el premio. Hubo de Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, Profesor Carlos Eduardo
una supremacía femenina entre los/as participantes y, según la auto- Cantarelli, al Director del Campus Curitiba de esta Universidad, Pro-
ra, las inscripciones fueron creciendo año tras año. fesor Dr. Marcos Flávio de Oliveira Schiefler Filho, a los profesores y
En la conclusión, Marília Gomes de Carvalho realiza un ba- funcionarios del Programa de Posgrado en Tecnología de la UTFPR,
lance de los contenidos del libro proponiendo la cuestión: Estudos por el apoyo institucional. Al Comité organizador, principalmente a
de ciência, tecnologia e gênero: rompendo paradigmas? Escribe la doctoranda en Tecnología y secretaria del Programa de Posgrado en
sobre los desafíos y avances de la participación de las mujeres en la Tecnología - PPGTE, Lindamir Salete Casagrande, por el competente
ciencia y la tecnología, explora la diversidad de posibilidades de es- apoyo administrativo y por “apagar fuegos” que siempre ocurren en la
tudios en este campo de conocimiento y sugiere la necesidad de ex- organización de eventos de este porte. A la Profa. Dra Maristela Mit-
plicaciones específicas para los estudios de CTG en América Latina. suko Ono, por la calidad de la elaboración del diseño gráfico y por la
Finalmente, la autora indaga: ¿la mayor participación de las mujeres supervisión del trabajo de informatización del Congreso y a la becaria
en la producción científico-tecnológica puede acarrear alteraciones Camila Hanako Nishihara de Albuquerque, por su disponibilidad para
en los paradigmas científicos? realizar este trabajo. A la Profa. Dra. Nanci Stancki da Luz, por la or-
Antes de concluir esta presentación me gustaría explicar que ganización de las presentaciones de los trabajos de los ejes temáticos, a la
el libro presenta capítulos en español y en portugués, según la nacio- estudiante de maestría del PPGTE, Joyce Luciane Correia Muzi, por el
nalidad de las autoras. Como el Congreso es Iberoamericano, con- trabajo de traducción portugués-español-portugués, a la Dra. Cristina
templamos las lenguas de los países de la Península Ibérica (España Tavares da Costa Rocha, investigadora del Grupo de Estudos e Pesqui-
y Portugal) y también de los países latinoamericanos que, a pesar sas sobre Relações de Gênero e Tecnologia - GeTec, por la organización
de ser en su mayoría de lengua española (toda América Central y y selección de la muestra de vídeos, a la doctoranda PPTGE, Maria
parte de la América del Sur), cuentan con un país representante de Aparecida Fleury Costa Spanger, por la organizacion de las actividades
40 41
la lengua portuguesa. culturales y también a la doctoranda del PPGTE, Giovana Pezarico,
Otra observación importante es que todos los textos apare- por la confección de los certificados. Agradecemos también a las inves-
cen publicados en su forma original, como fueron enviados por las tigadoras e investigadores del GeTec que colaboraron con los trabajos
autoras, y es de su total responsabilidad el lenguaje y las discusiones desde el principio y a las empresarias de Lazuli Eventos, por el esfuerzo y
realizadas en los capítulos que presentan. eficiente apoyo en la organización del evento. Nuestros agradecimientos
a todos y todas las becarias del Programa de Posgrado en Tecnología
(maestría y doctorado) por el trabajo logístico durante todos los días del
AGRADECIMIENTOS
Congreso. Damos las gracias también a la fotógrafa Socorro Araujo, por
Queremos agradecer en primer lugar a las instituciones financiadoras la muestra fotográfica “Poética feminina de Francisco”.
del VIII Congreso Iberoamericano, especialmente a la Secretaria de
Políticas para Mulheres del Gobierno Federal Brasileño, que también
1
¿PRESENTES Y ECLIPSADAS?
En primer lugar quiero dar las gracias a las organizadoras del Con-
greso por haberme invitado a impartir esta conferencia de aper-
tura del VIII Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología y
Género. Estoy muy contenta de estar entre todas vosotras y voso-
tros y de poder compartir estos días de intercambio y de reflexión
colectiva.
Cuando acepté dar esta conferencia, me propuse elaborarla
tomando como punto de partida las propuestas que presenté en
la conferencia que impartí en Brasilia en el 2º Encontro Nacional de
Núcleos e Grupos de Pesquisa en junio de 2009 sobre la evaluación
de la ley de Igualdad en España y su aplicación en la Universi-
dad.
En aquel momento dije que la igualdad entre hombres y
mujeres en la Universidad es ante todo una cuestión de justicia. 43
Sin embargo, añadí que la igualdad no debe reducirse a la pers-
pectiva cuantitativa, sino que la igualdad a la cual quise referirme
no corresponde a las correcciones menores o a los gestos de in-
clusión en las políticas contra la discriminación, sino a la reivin-
dicación del derecho de que las mujeres negras, indias, blancas,
mestizas puedan acceder a la Universidad con voz propia.
Patricia Tovar
Este artículo trata sobre las mujeres que se atrevieron, solas o acom-
pañadas, a cruzar el umbral de sus casas y de sus vidas y empren-
dieron un camino que contribuyó a expandir la gran aventura del
conocimiento. Viajar y explorar el mundo no ha sido un exclusivo
privilegio de hombres, a ellas las hemos encontrado atravesando
selvas y desiertos, recorriendo el planeta, sumergidas en el fondo de
los océanos, subiendo a las montañas más altas o embarcándose en
naves espaciales. Aunque los libros de historia no las hayan tenido
en cuenta, y aparezcan poco en las enciclopedias o en los cánones
de literatura de viajes, y en la escuela nos enseñen tan poco sobre
sus contribuciones, muchas de ellas han sido destacadas cartógra-
fas, arqueólogas, geólogas, antropólogas, biólogas, aviadoras, cos-
monautas, o de muchas otras profesiones, que las han llevado por
caminos sorprendentes e inesperados. Por eso, a continuación haré 81
un pequeño homenaje a esta legión de osadas y valerosas damas.
Hablaré de sus hazañas, de lo que ha significado llegar a sitios des-
conocidos y ver por primera vez cosas que otros no han visto y ade-
más documentar esa experiencia en relatos autobiográficos, cartas,
diarios y en otros tipos de escritos que han quedado para la posteri-
dad. Se trata de hacer un breve recorrido que mostrará las muchas
excepciones a la asumida ausencia de las mujeres en la ciencia.
Las narrativas de viaje han ocupado un importante lugar en
la imaginación de la humanidad, sirviendo también de inspiración
de grandes hazañas que han permitido traspasar las fronteras del
conocimiento. Dentro de lo que nos han contado en el colegio o que hacerlo constantemente. Por eso cuando veamos más ade-
en la universidad sobre Heródoto en la Grecia Antigua, o Plinio en lante que motivó a estas viajeras famosas, es necesario entender
Roma, o Marco Polo en la Edad Media, o las descripciones de los el contexto histórico en que vivieron, de donde vienen y si tenían
grandes navegantes en la era de los descubrimientos, o apenas unos algunas características personales que les permitieran llegar a los
siglos atrás las expediciones científicas del siglo XVIII y XIX y de lugares hasta donde llegaron.
la importancia que estas tuvieron en sentar las bases de disciplinas El viaje no es solo un desplazarse de un lugar a otro, implica
modernas como la geografía, la biología, la geología o la antropo- también una liberación de las ataduras de lo cotidiano, entrar en
logía, pero raras veces aparecen mujeres como protagonistas. Nos lo desconocido, traspasar los límites del cuerpo y de la cultura. Es
ha quedado apenas la imagen de Penélope hilando sus recuerdos y por tanto una ruptura simbólica que se convierte en una experien-
espantando a sus pretendientes, noche tras noche, durante veinte cia sublime de observaciones y descubrimientos que puede inclu-
años, mientras espera el retorno a casa de su marido, demorado so alcanzar el ámbito místico y religioso. Por eso, también tiene
por cantos de sirenas seductoras y hechiceras. Y así aprendemos un componente penitencial, de sufrimiento, de penuria, de fatiga
sobre grandes argonautas que heroicamente viajan y logran vencer y finalmente de salvación. No siempre el viaje ha sido voluntario,
terribles obstáculos. Pero si miramos más de cerca, encontramos hubo quienes en castigo fueron forzados a andar errantes por el
que no solo los hombres viajaban. En la expedición de Jasón en mundo. Veinte años duró el poeta Camoens condenado a viajar en
busca del Vellocino de oro, iba Atalanta, famosa corredora, y hábil los barcos portugueses, pero como resultado de ese trasegar por
cazadora que se rebeló a las ataduras patriarcales de la Grecia anti- los oceanos escribió la epopeya marítima del Siglo XVI. También
gua. hay noticias de mujeres que viajaron o vivieron vidas nómadas
Por eso a partir de ese olvido surgen varias preguntas que como cautivas, prisioneras, sirvientes, esclavas o en las diferentes
nos servirán de ruta en el rápido recorrido por la historia que sigue modalidades de la trata de personas, antigua o moderna. Conside-
a continuación. La primera, es ¿quiénes eran esas mujeres y cómo remos el caso de la historia de Lady Wenji, que se cree ocurrió en
hicieron para salir del confinamiento de sus casas? Y la segunda, es la época de la dinastía Han en la China del Siglo III1. Ella era hija
¿qué ganó la ciencia con esto? Me propongo entonces dar algunas de un académico y fue robada de su casa durante una incursión
respuestas a estos interrogantes, examinando lo que ha significado tártara, logrando regresar doce años después, dejando atrás a los
ser viajera y ser mujer en diferentes momentos históricos y sobre hijos que tuvo durante su cautiverio. Las detalladas descripciones
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la herencia que nos han dejado estas pioneras. que hizo de la vida de las estepas sirvieron para que este enemigo
Viajar, aun en nuestra época, y más para mujeres solas, ha de la China se conociera mejor, lo que ayudó a que se protegiera
implicado riesgo y peligro y muchas incomodidades. Los recorri- mejor el imperio.
dos en la antigüedad eran costosos, arduos y lentos. Las travesías Hay muchos nombres, leyendas e historias de mujeres a
necesitaban de grandes equipajes, las enfermedades eran frecuen- quienes, gracias a sus viajes a lugares remotos se les atribuyen im-
tes, las aguas eran impuras y la alimentación poco confiable, los portantes intercambios culturales y contribuciones. Ese es el caso
bandidos, los huracanes y otras dificultades, hacían que muchas de Wencheng quién vivió hacia el año 700 de nuestra era y quién
personas perdieran la vida en las variadas contingencias que en- fue enviada como novia para establecer relaciones diplomáticas
contraban en estas empresas. Aunque movilizarse es hoy en día en el Tibet. Además de una considerable dote, llevó el arte de
más rápido y fácil, pensamos que viajar sigue siendo un privilegio la manufactura de la seda, el alfabeto, la escritura y la tecnología
de las clases altas, o de personas que por sus profesiones tienen para hacer papel y tinta. En esta categoría, que podría llamarse de
“emisarias culturales” también encontramos siglos más tarde, a la daron solas durante largas temporadas gobernando o sosteniendo a
portuguesa Catarina de Braganza (1638-1705), casada con Carlos sus familias, esperando a hombres que no siempre regresaban.
II de Inglaterra y quién llevó, además de su extensa dote donde se La literatura de viaje está compuesta por una suma de recuen-
incluía la ciudad de Bombay, la práctica de beber el té a ese país. tos de hazañas individuales y de aventuras colectivas, que en el caso
Muchas mujeres viajaron acompañando a esposos, enviados de la escrita por mujeres ha sido considerado un género literario
como embajadores, militares o funcionarios de gobierno, antes de menor, casi de segunda clase. Entre lo más antiguo que se conoce
hacerlo más tarde solas, como profesionales, misioneras, educado- es el manuscrito parcial, especie de guía de viaje de una monja espa-
ras, o enfermeras. El “gran tour” o la moda de viajar por placer, se ñola llamada Egeria, quien realizó una peregrinación de tres años a
popularizό entre las clases altas de Europa solo a partir de finales del Costantinopla y a la Tierra Santa en los años 381-384.
Siglo XVIII y fue gracias al imperialismo que se abrieron espacios Leonor de Aquitania, otra importante figura de la Edad Me-
seguros para aquellas que querían ir a conocer Tierra Santa, o luga- dia, es también conocida por el viaje que realizó, a los diecinueve
res exóticos como India o el lejano oriente. Hubo también quien años, acompañada de 300 damas a esos mismos lugares santos y
prefiriera asumir un traje y postura masculina para poder salir de por su participación en Las Cruzadas. Otra obra que ha llegado has-
su casa hacia los confines del mundo, como la española Catalina ta nuestros días es “El libro de Margery Kempe,” escrito en 1436,
de Erauso (n.1592), conocida como la “Monja Alferez” pues iba donde la autora nos narra las impresiones de lo que conoció en su
disfrazada de soldado. Un recurso similar fue también escogido por viajes y de las dificultades que tuvo durante treinta años en varios
Enriqueta (Enrique) Faber, (n. 1791) española, y primera mujer en lugares sagrados, a donde llegó motivada por la devoción, como le
ejercer la medicina en Cuba, hasta que fue descubierta y detenida, al era permitido hacerlo a muchas otras mujeres de la época.
igual que Carmen Bravo-Villasante ( 1918 - 1994), filóloga, folclo- Mientras que los cristianos se dirigían en romería a los luga-
rista y traductora española y muchas otras que prefirieron hacer sus res de peregrinación, el mundo musulmán se movilizaba con gran
recorridos vestidas de hombre para proteger su honra y los avances dificultad hacía la Meca. Se le atribuye a la Reina Zubaydah, con-
sexuales indeseados que desafortunadamente continúan existiendo sorte del eminente califa Harun al-Rashid de Bagdad, la expansión
en nuestra época y que son uno de las principales preocupaciones de las rutas y el diseño de un acueducto para llevar agua a la Meca y
cuando las mujeres viajan solas. almacenarla en pozos para calmar la sed de los caminantes.
Los viajes y las exploraciones han sido un ingrediente impor- El legado que nos dejaron aquellas antiguas mujeres nos
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tante en la construcción del mundo y del conocimiento, para descri- muestra su curiosidad por las costumbres de esos pueblos desco-
bir a otros y para entendernos mejor a nosotros mismos. El alcance nocidos para occidente y su preocupación con las condiciones so-
del viaje va paralelo a la invención de herramientas y de tecnologías, ciales y el trato dado a las mujeres en esos lugares. Un caso es el de
que han permitido mejorar la movilidad y sobrepasar obstáculos, la aristócrata Mary Wortley Montagu (1689-1786), quien viajó con
que nos han dejando un universo cada vez más estrecho y al parecer su esposo, nombrado como embajador de Inglaterra en Turquía en
más fácil de alcanzar. Y aunque muchas, por diversas razones, no el año 1716, y quien se impresionó con los mundos separados de
se alejaron más allá del umbral de sus hogares, desde ahí también las mujeres, entrando en ellos y pudiendo de esta manera apreciar
contribuyeron a que sus hombres lograran llegar a los confines de y describir las costumbres femeninas inaccesibles para los hombres
la tierra y más allá. Como lo hizo Isabel la Católica, otras también del mundo occidental. Además trajo de vuelta a Europa una nove-
han empeñado sus dotes y sus joyas, para financiar no solo las tres dosa práctica que encuentra entre las ancianas de ese país, y que ella
carabelas al mando de Colón, sino muchas otras travesías, y se que- misma prueba pinchándose un brazo con la punta de una aguja un-
tada de pus de una persona enferma de viruela2 previniendo así esta llos. La invención del estribo por parte de los hunos, permitió la
mortal enfermedad y expandiendo el conocimiento sobre esta. expansión mongólica hacia Europa occidental y su poderío militar
Alexandra David-Neel escribe sobre cómo logró ser la prime- y económico. En la Edad Media un mercader llegado del oriente
ra mujer occidental en llegar a Lhasa, la ciudad prohibida del Tibet por el Mediterráneo, podía desembarcar en el importante puerto
y sobre las cosas que vio y aprendió por el camino. Esta literatura de de Venecia y viajar por tierra durante dos meses hasta los países ba-
mujeres viajeras, que nos sirve también como fuente de datos histó- jos. O si algún peregrino lo hacia por rutas como la de Santiago de
ricos, se benefició poco a poco con las contribuciones que llegaron Compostela, se permitía con comodidad un recorrido de un mes a
de diferentes partes del mundo documentando las experiencias y las pie desde los Pirineos franceses, por vías habilitadas desde la anti-
impresiones de viaje de ojos femeninos occidentales que lograban güedad por los romanos. Sin ir más lejos, los caminos de herradura
observar de primera mano nuevas especies de plantas y de anima- de los antiguos Incas y muiscas, de los que aun sobreviven vestigios,
les, costumbres exóticas, paisajes, alimentos, tecnologías, sistemas usados hoy en día por caminantes ecológicos, les permitían mover-
políticos y muchas otras cosas más que enriquecieron la ciencia de se desde las altas sierras de los Andes hasta las zonas calientes de la
variadas maneras. Es importante en este punto mencionar dos con- costa en pocos días. Se sabe que los chasquis o correos de los incas
ceptos esenciales para entender las contribuciones de estas mujeres transportaban pescado fresco desde la costa Pacífica hasta donde
desde el género y la cultura, estos son los conceptos sobre “el otro” fuera necesario, en un sistema de carreras de relevos.
y “la mirada”. En este caso hablaré del viaje con “mirada femenina” El desarrollo de la navegación marítima que permitió el
desde diferentes posiciones, ya sea a través de la mirada colonial, descubrimiento de América fue posible gracias a la ayuda de ins-
religiosa, occidental o desde la orilla que haya sido. trumentos como el astrolabio, del cual, sentó las bases la famosa
Quiero además de hacer un inventario de intrépidas, tomar Hypatia de Alejandría en la antigüedad. Cuando era conveniente
varios momentos históricos que nos permitan no sólo ver sus con- a las mujeres las dejaban subir a los barcos y cuando no, se inven-
tribuciones en esos contextos, sino tener en cuenta elementos de taban supersticiones aduciendo que su presencia era de mal agüe-
género y poder en la discusión sobre el avance de la ciencia. Co- ro, a algunas llegaron incluso a tirarlas por la borda, para apaciguar
menzaré por la época de la expansión marítima y la posterior con- tormentas, pero eso no fue un impedimento para las muchas que
quista de nuevos territorios, para seguir con el significado de esos lo hicieron. Tuvieron que pasar muchos siglos hasta que a las
viajes en las épocas coloniales, hasta llegar a la época moderna. Las mujeres finalmente se les permitiera subirse a los barcos y entrar
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nuevas formas de viajar desarrolladas en el siglo XIX, ya sea en tren oficialmente, con uniforme, y con altos rangos, a comandar en la
o en barcos de vapor abren inmensas posibilidades y reducen los marina de sus países.
costos de moverse de un lugar a otro. Pero todo esto se sobrepasa Una rápida mirada a las listas de pasajeros de los barcos que
con los avances en los viajes aéreos y a partir de los años sesenta con llegaron al nuevo mundo, de fácil acceso por Internet3, nos mues-
la carrera espacial. Veremos entonces que oportunidades se les han tra como desde muy tempranas épocas de la conquista, a los hom-
presentado a las mujeres en esos nuevos destinos. bres se les permitió traer a sus mujeres, a sus sobrinas y a otras
parientes e incluso a sus sirvientas, como acompañantes o para
La expansión marítima que desempeñaran diversos oficios domésticos. Las mujeres espa-
Recordemos que antes de la expansión marítima la gente se movi- ñolas contribuyeron al encuentro de los dos continentes a través
lizaba a pié, en compañía de recuas de animales de carga, o como de la preparación de alimentos, de traer y adaptar sus productos
se hacía en las tierras de África o de oriente en caravanas de came- como el pan, el vino, las gallinas y las ovejas a las condiciones de
climas antes desconocidos. En la ciudad de Zaragoza hay un con- caso de Ysabel de Guevara quien narra y reclama en una hermosa
vento que se enorgullece por ser el primer lugar del país y tal vez carta enviada desde Asunción, Paraguay, por las penurias que la
de toda Europa donde se tomó por primera vez chocolate traído aquejaron tras la muerte de su marido Pedro Mendoza y el drama
de las Indias, en 1535. En 1509, se documenta que la primera mu- que vivió en la fundación de Buenos Aires4.
jer Europea en desembarcar en América fue María de Toledo, la A pesar de todas esas noticias que nos llegan de esas viajeras,
esposa del Virrey, Don Diego Colón, el hijo de Cristóbal, quienes fue solo hasta 1766, que se reporta como Jeanne Baret, logró, de
se instalaron en lo que es hoy la República Dominicana y donde nuevo disfrazada de hombre, ser la primera mujer que dio la vuel-
hay una plaza con su nombre en el lugar donde al parecer cons- ta al mundo en la expedición científica liderada por el francés De
truyó su casa. Bougainville. Casi cien años después lady Anna Brassey comanda
Además de ella, otras como Catalina Montejo, ostentaron el primer viaje alrededor del mundo moderno a bordo del yate
cargos como el de “Adelantada de Yucatán” y en Panamá se hizo Sunbeam. Jeanne Baret trabajaba como “naturalista” es decir co-
famosa Isabel de Bobadilla, esposa de Pedrarias Dávila. A pesar de leccionando especímenes de plantas, animales, insectos, conchas
la imagen del conquistador que llegó solo a las costas del Nuevo que serian llevados a Europa para su estudio y exposición en los
Mundo, hay extensos documentos que nos muestran como mu- gabinetes e incipientes museos. En Tahití se descubrió su verdade-
chos llegaron a asentarse con sus familias completas. Y sabemos ra identidad, pero debido a la calidad de su trabajo se quedó en la
que cuando ellos fallecían, cosa que ocurría con frecuencia, ellas Polinesia por varios años más completando sus colecciones. Otra
quedaban al mando de las expediciones. Por ejemplo se conoce el mujer del Siglo XVIII que participó en las grandes expediciones fue
caso donde una mujer estuvo a cargo de una expedición marítima la peruana Isabel Grandmason quien estaba casada con Jean Godin,
con título de adelantada y gobernadora, ella era Isabel de Barreto contratado por Charles-Marie de la Condamine, con el propósito
quien dirigió la infortunada expedición a las islas Salomón y a las de ayudar en la medición de la línea Ecuatorial en el Perú. Isabel
Marquesas en el año 1596. En los siguientes años inmediatamen- se adentró en la selva Amazónica en busca de su esposo, hasta que
te al descubrimiento llegarían 308 mujeres, muchas de ellas de finalmente se reunió con el veinte años más tarde, en las Guayanas,
familias principales, entre ellas la esposa de Hernán Cortés. Hubo después de haber sobrevivido a incontables tragedias.
luego restricciones a las mujeres solteras, como las hay hoy en Las contribuciones que las mujeres viajeras han hecho a la
día para la obtención de visas, y de pasaportes en algunos países. ciencia nos han llegado también desde el arte. Por eso además de
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Como sabemos hubo también mujeres indígenas que guiaron a las cartógrafas y geógrafas que dibujaban mapas, están las que, an-
los conquistadores y a otros europeos por lugares desconocidos tes de la invención de la fotografía, ilustraron los libros de botánica
en expediciones exitosas, como el caso de la Malinche en México, y zoología, y para esto viajaron a retratar de primera mano las espe-
y de Sakajawea en Norte América quién guió la famosa expedi- cies desconocidas para la ciencia. La composición, el colorido y la
ción de Lewis and Clark, cargando a su bebé en la espalda y la no belleza del trabajo de algunas de ellas, nos ha dejado un legado de
menos famosa India Catalina, quien acompañó a Pedro de Here- admiración por su habilidad para capturar con precisión el mundo
dia como traductora por los nuevos territorios sin explorar hacia que encontraron. Mencionaré apenas a las más sobresalientes en
adentro del continente desde el sur de Cartagena. este campo como son Marianne North (1830-1890) una inglesa
Hubo en la época de la conquista otras aguerridas damas adinerada que viajo por todos los confines del imperio británico,
que guiaron expediciones y ejércitos y fundaron ciudades como y que dejo al mundo no solo un legado de más de 1000 obras, sino
Inés de Suarez, la compañera de Valdivia en los mares del sur, o el que además dejo el edificio donde guardar y exhibir este material,
hoy en día al cuidado del Royal Botanic Garden en la localidad de la creación de las naciones del Medio Oriente y en la construcción
Kew, en cercanía a Londres. Otra inglesa destacada en este mismo de Irak. Isabella, de familia de misioneros, por su parte, ya había
campo es Margaret Ursula Brown (1909-1988, hija de un natura- recorrido junto con su padre, la campiña Inglesa y desde pequeña
lista, quien viajó al Amazonas y a otros lugares de Sur América y se ajustaba a las incomodidades de la vida fuera de su casa, lo que le
desde su primera expedición en 1956 se convirtió en activista por permitió a los 70 años, realizar un viaje por el norte de África a lomo
la conservación de la selva Amazónica. Pero la más conocida y pio- de caballo. Sus viajes por diferentes lugares del mundo le permitie-
nera de todas estas damas de la ilustración botánica es la holandesa ron ser la primera mujer en llegar a la Royal Geographical Society
Anna Maria Sibylla Merian (1647-1717) quien viaja con su hija a y hoy en día es considerada una de las pioneras de la geografía y de
Surinam a documentar la vida de los insectos, publicando además la antropología.
varios libros donde no solo dibujaba sino que hacia extensas ano- Mary Kingsley nació en Londres, y pasó a la historia como
taciones. una gran exploradora de África Occidental y Central de finales
del siglo XIX5. La ciencia se benefició con sus investigaciones que
El Siglo XIX iban desde el estudio de insectos y peces hasta el de las prácticas
Las principales mujeres que comandaron la gran aventura expedi- religiosas africanas. La especie de peces conocida científicamente
cionaria en el siglo XIX fueron las inglesas. La época victoriana se como Ctenopoma kingsleyae, fue nombrada en su honor. Se internó
caracteriza por considerar inmoral muchas cosas entre ellas el que por el continente hasta lugares que no habían sido conocidos por
las mujeres viajaran solas. Hasta el vestido era un impedimento hombres Europeos y ascendió el Monte Camerún, el más alto de la
para la movilidad, había que liberarse del corsé, de las faldas largas región, con más de cuatro mil metros de altura. Kingsley dejó una
y abultadas, de los miles de botones y lazos que apretaban prendas extensa bibliografía de populares y amenos libros sobre sus recorri-
y calzado y sobre todo de las ataduras mentales del momento. Las dos6. En sus escritos también aparecen críticas al imperialismo in-
más prominentes de las que se atrevieron a transgredir esa norma glés y a las actitudes etnocéntricas del momento que consideraban
fueron Harriet Martineau, Isabella Bird, Gertrude Bell and Mary a las tribus africanas como horribles salvajes, o en los mejores casos
Henrietta Kingsley. Ninguna realmente lo hizo por el simple gusto como tontos menores de edad.
de la aventura hacia lo desconocido si no más bien por razones de También en el siglo XIX encontramos a la gran Florence
trabajo o en alguna misión especial de tipo religioso, pues en esa Nithingale, quien no solo modernizó la enfermería, salvando así
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época muchas mujeres comienzan a tener la oportunidad de viajar muchas vidas, sino que recogió datos de manera tan rigurosa que
como gobernantas, educadoras, enfermeras o religiosas, dentro de se le considera la madre de la estadística. En esa misma guerra tam-
esta categoría encontramos a Ana Lenowens, inmortalizada en la bién estuvo cuidando soldados ingleses, Mary Seacole quién en
película Ana y el Rey en Siam. Harriet era una escritora inglesa de 1857 escribió su autobiografía titulada, “Las maravillosas aventuras
clase alta quien en sus viajes se dedicó a documentar la condición de la señorita Seacole en muchas tierras”7. Mary era una mulata ori-
de la mujer en los sitios por donde pasaba. Gertrude, permaneció ginaria de Jamaica y sus cuidados con ciertas hierbas medicinales
soltera toda su vida y se enorgullecía de haber completado dos via- le permitieron acrecentar fama en la curación de muchos heridos.
jes alrededor del mundo, pero eso no fue lo que la hizo famosa, si Hacia los finales de este siglo encontramos a Julia Margaret Came-
no su estadía en Mesopotamia, su aprendizaje del árabe, sus cono- ron enviándonos desde varios lugares del mundo exóticas fotogra-
cimientos de arqueología y de las tribus del desierto, de tal manera fías, como las que tomó en el antiguo Ceilán. Una vez inventada la
que sus escritos fueron influyentes en las decisiones de Inglaterra en cámara fotográfica, ya no se iba a separar nunca de las viajeras, pues
esta permitía traer una mayor evidencia y credibilidad sobre los lu- formadoras de las nuevas generaciones por las remotas regiones de
gares recorridos con miradas de mujer. La famosa Freya Stark, nos la geografía de su país. Antes que ellas se destaca a Teresa Cuervo
dejó una colección de fotos del sur de Yemen, que aun hoy sirven Borda, primera mujer colombiana en ser integrante de la Sociedad
como documentos etnográficos. Americana de Mujeres Geógrafas en los años cuarenta y quien se
Estas viajeras también se dirigieron a las tierras del continente pasa a la historia por su labor en la conformación y dirección del
americano dejándonos sus excelentes escritos como en el caso de la Museo Nacional.
inglesa Rosa Carnegie-Williams quien escribió el libro “Un año en Las expedicionarias del siglo XX son mucho más numerosas,
los Andes o las aventuras de una lady en Bogotá8” donde narra las peri- la aviación acortó las distancias y el mundo se hizo más pequeño. Las
pecias de su viaje y residencia en este ciudad entre agosto de 1881 y mujeres por su parte ganaron en reivindicaciones educativas, labora-
julio de 1882. A manera de diario nos cuenta su salida de Londres, su les y políticas y comenzaron a sobresalir en empresas consideradas
travesía por el río Magdalena en el primer barco de vapor en surcar anteriormente como no aptas para ellas. Junko Tabei por ejemplo,
sus aguas, cortos recorridos en tren, donde este ya existía, y nos da se destaca por ser la primera mujer en alcanzar la cima del Everest
noticias de los efectos de la trágica avalancha ocurrida en Armero en en 1975, seguida de cerca por la alpinista española Araceli Segarra,
1845, y fue testigo de una terrible creciente en Bogotá. Con minu- quien con solo 26 años de edad, pasó a la historia con ese mérito. Va-
ciosos detalle nos describe la vegetación y la vida de los posaderos rios años atrás, otra mujer, la científica y reivindicadora del derecho
del camino a lomo de mula de Honda a Bogotá, y hace el recuento de al voto, Fanny Bullock, junto con su marido, realizó un total de siete
una visita al Salto de Tequendama y a Zipaquirá, describiendo todas expediciones por el Himalaya, trazando mapas, registrando alturas
sus impresiones del viaje, especialmente relacionadas a la abundan- y cambios de temperatura, documentando movimientos glaciares y
cia de frutas y animales silvestres que vio en todo su recorrido y su tomando las primeras fotos de esas cumbres.
llegada de vuelta sana y salva a su lugar de origen, después de acom-
pañar a su esposo, dedicado a negocios de minería en Colombia. Las pioneras de la aviación
Ya en el siglo XX encontramos a Daisy Bates viviendo con Durante siglos las mujeres levantaron sus ojos al cielo en una cons-
los aborígenes de Australia y documentando su cultura, de manera tante observación de los fenómenos celestes, actividad compatible
que sirvió como referente para los trabajos que se realizaron poste- con las labores domésticas y con el cuidado de los hijos, que por lo
riormente por el reconocido antropólogo Radcliffe Brown. Pero ya general, no requería de moverse de la casa. La astronomía tiene una
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que estamos hablando de antropología no podemos dejar de lado larga lista de mujeres destacadas, pero lo que quiero resaltar es la par-
los viajes de Margaret Mead a Samoa, donde recogió el material para ticipación de la mujer en la historia de la aviación y en los programas
sus libros sobre crecimiento y adolescencia y los mundos masculi- espaciales. Amelia Earhart es la aviadora que más profundamente
nos y femeninos, que se convertirían en los libros más populares de nos ha marcado, por sus historias románticas, por el lanzamiento de
la antropología en Estados Unidos. Desde sus inicios la antropolo- diseños de moda espeialmente para ella, pero también por su des-
gía tiene una fuerte presencia de mujeres viajeras. La afroamericana aparecimiento mientras volaba sobre el Pacífico, propiciando toda
Zora Neale Hurston se adentró en el sur profundo de los descen- clase de teorías que van desde su trabajo para el gobierno como espía
dientes de los esclavos en Norte América, recogiendo material in- hasta su captura por los japoneses durante la Segunda Guerra Mun-
valuable. La lista de antropólogas es bastante larga, menciono a las dial. Beryl Markham, que lograron records importantes en este cam-
pioneras colombianas Virginia Gutiérrez de Pineda, Alicia Dussan, po. Beryl se especializó en viajes por remotas regiones de África, y
Blanca Ochoa y muchas otras incansables viajeras, investigadoras y en recorridos turísticos.
En un viaje que hice de Brasil a Bogotá me sorprendió que por celulares y otras tecnologías de la comunicación para estar al tanto
primera vez viajaba en un avión comercial donde tenía como Capi- de lo que ocurre ya sea en sus hogares o en los lugares que visitan y
tana a Julieta Mendoza, quien me invitó a pasar a la cabina del avión se valen de guías y de redes que las conectan con otras mujeres que
a conversar sobre su experiencia y los obstáculos que ha tenido en su ya han hecho el camino y que pueden ofrecer algún consejo para el
carrera. Además de explicarme los instrumentos y de dejarme que- recorrido. Hasta los materiales modernos usados para ropas ultrali-
dar para el aterrizaje me contó como en Colombia, muchas mujeres vianas, abrigadas y de fácil lavado y secado se han sumado a facilitar
como ella han tenido que entrar a las Fuerzas Armadas para lograr el viaje con ligeros equipajes que van en pequeñas maletas de ruedas
sus sueños como pilotos de aviones comerciales, el entrenamiento o en morrales a la espalda.
es duro y riguroso y aún se encuentran con obstáculos, a veces de los Para las mujeres a diferencia de los hombres el embarazo y la
mismos pasajeros quienes no se sienten seguros con ellas al mando. crianza de los bebés era una limitante, aunque para algunas eso no
A algunas les cuesta más trabajo ascender en su carrera pues son en- fue obstáculo, pues se llevaron a sus hijos con ellas. En el siglo XIX
viadas a las regiones alejadas a cubrir rutas poco atractivas. era más fácil viajar en el caso de las que eran solteras, pues podían ya
en esa época escoger carreras como gobernantas o enfermeras y to-
La conquista del espacio maban por su cuenta las riendas de sus vidas, aunque aun en muchos
Cuando pensamos en los logros espaciales la primera mujer que nos países se necesitaba el permiso del esposo para obtener pasaportes y
viene a la mente es por supuesto la cosmonauta rusa Valentina Te- visas. Muchas como Mary Kingsley, quien vivió recluida parte de su
reshkova quien en 1963 le dio la vuelta a la tierra 48 veces. Antes juventud pues tuvo al cuidado a sus ancianos progenitores por mu-
de saltar a la fama mundial trabajaba en una fábrica de textiles y era chos años hasta que estos fallecieron y ella pudo finalmente dispo-
aficionada al paracaidismo, razón por la cual fue reclutada en el pro- ner de una pequeña fortuna que le permitió convertirse en ictióloga
grama espacial. Valentina fue la fuente de inspiración de las nuevas en África.
generaciones de mujeres que han participado o estado a cargo de Quiero terminar este inventario de intrepidas navegantes ha-
misiones espaciales, como en el caso de Christa Mcauliffe, la prime- ciendo un breve recorrido por el mundo de la exploración científica
ra educadora en el espacio, quien murió a bordo del transbordador moderna, donde las fronteras hacia lo desconocido se siguen expan-
espacial Challenger, junto con la ingeniera Judy Resnick. También diendo en direcciones antes impensadas. Se trata en este caso de los
recordamos a la astronauta India, Kalpana Chawla quien pereció en viajes y las misiones espaciales y la exploración del fondo del mar,
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el desastre del transbordador Columbia. Pero esas tragedias no han donde encontramos a la valiente bióloga marina Sylvia Alice Ear-
sido impedimentos para que muchas otras mujeres se hayan dedica- le. Hay varios nombres que resuenas en las profundidades marinas
do a la astrofísica y a la navegación espacial. y en las profundidades de las cavernas. En la navegación antartica
Aunque los tapujos y restricciones de épocas pasadas se han encontramos a Elizabeth Ann Arthur, como ella misma se describe,
superado y de que los recorridos de grandes distancias ya no son una persona ordinaria en una situación extraordinaria, en donde se
privilegio de mujeres adineradas, y a pesar de los inconvenientes comjugan las penurias del viaje con el momento místico y trascen-
que ha dejado el terrorismo, se puede decir que hoy se viaja más dente que produce el estar sola rodeada por la inmensidad cubierta
que todo por placer o por asuntos de trabajo. Una mujer que quiera de nieve del Polo sur. Muchas de estas expediciones requieren de un
aventurarse sola puede hacerlo de manera segura y con comodidad. estado físico excelente y de un entrenamiento especial para soportar
La industria hotelera y turística se ha adecuado a las necesidades de los rigores del clima, y las condiciones especiales de las travesías, o
este grupo, donde se usan cada vez más frecuentemente el Internet, del descenso a profundidades inexploradas.
Delia Akeley decidio adentrarse en la selva para recoger es- NOTAS
pecímens de animales, los cuales aun adornan las salas del Museo 1 La historia se inmortalizó en un popular poema y en la ópera de 1950 “Eighteen Re-
de Historia Natural de Nueva York y Ossa Johnson decidió llevar frains to a Barbarian Flute.”
su camara y plasmar su mirada a esos lugares. 2 Leo Hamalian, ed, Ladies on the Loose: Women Travelers of the 18th and 19th
Las primatologas como Birute Galdikas, Diane Fossey y Jane Centuries, 1981. Selections from Lady Mary Wortley Montagu letters, 1716 - 1718.
Goodal has sido absolutamnete instrumentales en la creación de 3 El antiguo Instituto de Cultura Hispánica, fusionado con el Instituto Colombiano de
programas de protección, y en el cambio de manera de ver a es- Antropología e Historia, ICANH, han mantenido esas bases de datos.
tos animales en su estado natural, lo que por lo menos en el caso 4 La carta completa se puede leer en el siguiente enlace: http://www.buenosairesanti-
de Fossey le costó la vida. Marie Reiche, una matematica alemana, guo.com.ar/notasdebuenosaires/mujeresdelaconquista.html.
vivió hasta la interesante edad de 96 años, 50 de los cuales dedicó 5 Cristina Morató nos narra en el libro “Las Reinas de África, Viajeras y exploradoras por
al estudio de las famosas líneas de Nazca, declaradas como Patri- el continente negro” (2003. Barcelona, Plaza y Janés), varias de las apasionantes vidas de
estas exploradoras.
monio de la Humanidad, gracias a sus esfuerzos, trabajó conjunta-
6 Mary Kingsley, Travels in West Africa (London: Thomas Nelson, 1965). Una página
mente con Marilyn bridges, destacada fotógrafa con quien realizó web recomendada es: http://www.loe.org/series/discovery_women/kingsley.php.
el monumental esfuerzo de elaborar mapas aéreos de la zona. Pero Ver también: Patricia Romero (ed.), Women Voices on Africa. A century of travel writings
como siempre, las discrimiaciones u obstáculos no se hacían espe- (Princeton, 1992).
rar. Marie Tharp, american oceanographer cartográfa, fue relagada 7 El título original es “The Wonderful Adventures of Mrs. Seacole in Many Lands.” No co-
a la parte de atrás de los observatorios geologicos y no se le permi- nozco una traducción al castellano.
tió hacer trabajo de campo si no hasta después de trabajar durante 8 Publicado en 1990 por la Academia de Historia de Bogotá/Tercer Mundo editores.
Colección viajantes y viajeros.
más de 15 años en a Universidad de Columbia. ¿e alegra ver a las
nuevas generaciones as interesadas en lo que ocurre a su alrededor.
Además de esto, nuevas carrera se han abierto donde se conjugan
el viaje y la rtecnologia, como en el caso de la biologia acustica Katy
Pyne, donde el estudio de los sonidos es lo más importante en eco-
sistemas que están en vías de extinción.
A pesar de todas las hazañas mencionadas y de las herencias
96 97
que nos dejaron todas las intrépidas que se asomaron a estas pági-
nas, y de que pensamos que hoy en día quedan pocas fronteras por
traspasar y que las mujeres hemos avanzado en una larga marcha,
acabando con los últimos prejuicios y desigualdades que aun que-
dan, todavía pareciera que lo inexplorado sigue siendo una senda
reservada para los hombres. Pero el lugar de una mujer ya no solo
es su casa, si no es en el sitio hasta donde quiera llegar.
4
O XV CONGRESSO INTERNACIONAL DE MEDICINA DE 1906,
LISBOA, PORTUGAL: UMA ABORDAGEM DE GÊNERO
Introdução
O XV Congresso Internacional de Medicina de 1906, realizado em
Lisboa, Portugal, é tomado nesse artigo como ponto de partida
para uma análise mais ampla a ser desenvolvida sobre as relações
de gênero nos congressos científicos da primeira metade do século
XX. Integra o projeto Congressos Internacionais de Ciência, Por-
tugal: 1880-19501, cujo objetivo central é analisar as redes que a
comunidade científica portuguesa foi capaz de sustentar, em dife-
rentes conjunturas políticas, para fazer deslocar para o espaço por-
tuguês europeu a realização de congressos científicos internacio-
nais, como o XV Congresso Internacional de Medicina em 1906
ou o 3º Congresso Internacional de História das Ciencias de 1934,
99
ou o XII Congresso Internacional de Zoologia de 1935, entre di-
versos outros.
No caso português uma ótica historiográfica centrada em
um apregoado isolacionismo nacional do perído do Estado Novo,
tem dificultado esse tipo de análise sobre a internacionalização
das ciências em Portugal (Nunes, 2004). Esse projeto incorpo-
ra também, no quadro geral de avanço do fascismo na Europa e
na Península Ibérica, uma série conjunta de Congressos das As-
sociações Espanhola e Portuguesa para o Avanço das Ciências
(1921-1934), bem como análises sobre uma série de congressos
de caráter nacional marcados pela consagração do colonialismo e
do nacionalismo do Estado Novo, como o Congresso do Mundo capitalizados pelos participantes locais para avançar suas próprias
Português (1940) ou 1º Congresso Nacional de Ciências Naturais agendas, ampliar a visibilidade de suas áreas profissionais, disputar
(1941) que incorporaram de forma simbólica, política e cientifica espaços localmente (Doel et al., 2005).
o Império Colonial. Subjacente a essa pesquisa está uma idéia inspirada em Lud-
Embora em todas as áreas disciplinares haja referências a milla Jordanova (1989), que alertando para a importância da análises
congressos acontecidos, é ainda bastante escassa uma bibliogra- engendradas das imagens sexualizadas em Medicina, lembrava que já
fia mais abrangente que trate os congressos em si, como o foco havia um consenso em torno de que era impossível se tratar a filosofia
de suas análises (Söderqvist, 1994). Mais escassas ainda são abor- natural no século XVII - isto é no início das ciências modernas - sem
dagens que incorporem perspectivas de gênero na análise de tais a mediação da religião e dos conflitos políticos gerados. Alertava que
congressos científicos, como essas que iniciamos. estávamos longe ainda (como consideramos que, em larga medida,
Não se trata aqui, de analisar esse e outros congressos em si 20 anos depois, ainda estamos) de incorporar como um consenso,
ou como um todo, porque para isso, metodologicamente e eviden- a idéia de que é impossível ignorar as mediações dos papeis sexuais,
temente seria necessário toda uma contextualização, local, inter- das relações de gênero em todas as áreas do conhecimento e desca-
nacional, disiciplinar, da situação de tais congressos no conjunto radamente presentes nas construções das ciências bio-médicas desde
das séries em que se inserem, por exemplo. Mas levando isso em então.
conta, alguns aspectos do XV Congresso Internacional de Medici- Também estruturando nossa pesquisa, consideramos fun-
na realizado em Lisboa em 1906, são apresentados, considerando damentais, em termos de políticas e micropolíticas das ciências, os
também vínculos que se pode buscar entre congressos científicos equacionamentos entre nome, status e prestígio, a partir de suas his-
e feministas nas primeiras décadas do século XX. toricidades e articulações com as convenções sobre autoria e autori-
dade. Partilhamos o pressuposto de que a nomeação pessoal é uma
Mediações de Gênero, nomeação pessoal “porta de entrada privilegiada para o estudo da forma como os gran-
Os Congressos Científicos foram e são uma das mais evidentes des fatores de diferenciação social, política, científica se operacionali-
expressões da internacionalização das ciências que contribuiram zam através da ação pessoal” (Pina-Cabral 2005).
para a reorganização da profissionalização da vida científica. Suas Assim essa pesquisa pretende se desenvolver tanto no encon-
organizações foram em muito favorecidas pelas facilidades cada tro das mulheres corporificadas que têm nome, sobrenome e renome
100 101
vez maiores dos meios de transporte e comunicações, desde me- e que estiveram presentes nesses congressos, como particularmen-
ados do século XIX. Nesses eventos internacionais conjuntos de te, nas relações de gênero que moldavam esses eventos e, eviden-
fenômenos pouco conhecidos, dispersos ou locais - transformados temente, no peso e na importância que as metáforas e estereótipos
em comunicações científicas, geraram novas questões teóricas e associados a gênero assumiram nesses congressos. Acompanhemos
empíricas de áreas específicas, mas também das práticas herdadas brevemente alguns dos itens que estão sendo considerados nessa in-
até hoje de nossas políticas científicas. A análise das novas formas vestigação, como por exemplo, as mesas de abertura, os comitês de
de negociações de interesses, circulação de informações, imple- damas e a participação das mulheres nesses eventos.
mentação de políticas, que se constituíram e ou se amplificaram
nesses espaços podem permitir um mapeamento das dinâmicas Mesas de abertura
de funcionamento de comunidades consolidadas e ou em cons- As mesas de abertura dos congressos – como em todos congressos
tituição, bem como o quanto esses eventos internacionais foram ontem e hoje – refletiam o prestígio acadêmico da área disciplinar, o
status dos organizadores do evento, a amplitude de suas capacidades medicamentos, bem como a assistência. Madalena Esperança Pina
de alianças e de articulações politico-científicas, a densidade das re- (2010) discutiu em profundidade esses azulejos, dos pontos de vista
des de apoios que conseguiam mobilizar. artístico, científico e simbólico. Nos azulejos também estão fixados
No XV Congresso Internacional de Medicina de 1906, reali- os estereótipos de gênero mais comumente atribuídos às mulheres: a
zado quatro anos antes da implantação da República em Portugal, representação do milagre de santa Isabel e as bruxas que são afastadas
os reis Dona Amélia e Dom Carlos e a rainha-mãe Dona Maria Pia pela imagem da ciência feminina que inspira um jovem doutor em
compuseram a mesa de abertura, ao lado da comissão organizado- seus estudos.
ra do evento. Dona Maria Pia e Dona Amélia não tiveram voz entre Em seu discurso ainda na mesa de abertura, Miguel Bombarda
os discursos do rei, do presidente (Costa Allemão), do secretario do ressaltará o êxito alcançado pela capacidade dos médicos portugue-
Congresso (Miguel Bombarda) e dos representantes dos delegados ses organizadores do evento em suas articulações político-científicas.
dos países estrangeiros presentes. O rei foi louvado pelo conjunto dos De fato, muitas das principais autoridades do campo médico estavam
atributos emprestados a masculinidade: ser simultaneamente um es- presentes, como entre outros, Santiago Ramon y Cajal que ganharia
portista, um artista e um savant. Foi enaltecido pela precisão de seus prêmio Nobel com Camilo Golgi por suas pesquisas sobre a estrutura
tiros nas caçadas, pela maestria do seu pincel e por seus reconhecidos do sistema nervoso naquele mesmo o ano de1906; Charles Laveran,
trabalhos em suas explorações oceanográficas. prêmio Nobel de 1907, pelos estudos da malária como doença cau-
Como esposa bem amada Dona Amélia (1865-1951) foi no- sada por protozoários e por seus trabalhos sobre trypanosomas; Ilya
meada pelo rei, e como ativista da causa contra a tuberculose, tam- Metchnikoff que ganharia prêmio Nobel em 1908 por seus estudos
bém por todos os oradores da mesa. Uma áurea de santidade, lhe foi sobre fagocitose e Karl Landsteiner – que ganharia prêmio Nobel em
atribuída por Costa Allemão que comparou a ação da rainha, em uma 1930, por seu trabalho sobre a classificação de grupos sanguíneos e a
metáfora de multiplos sentidos, a rainha Santa Isabel - Isabel de Ara- presença de aglutininas no sangue.
gão (c.1270-1336), casada com D. Dinis. Segundo a lenda, a rainha O êxito das articulações se expressava nos números de 1.818
santa Isabel distribuia pães ou moedas aos pobres, que se transforma- savants e praticantes inscritos, no 134 temas de estudo, nas 500 co-
vam em rosas por milagre, quando era surpreendida pelo marido. O municações livres e na enumeração das delegações dos países pre-
presidente do Congresso, associando a rainha a santa, fazia alusão as sentes, em que não faltarão embora com menor ênfase que aos países
imagens que ficariam fixadas até hoje nos azulejos que ornamentam alemães, a França e Inglatera e a América, a nomeação dos “países do
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a Sala dos Passos Perdidos do edifício que recebeu as sessões científi- outro hemisfério Brasil, México, Argentina, Chile, etc.”
cas do congresso, actual Faculdade de Ciências Médicas. As vertentes de análises desse único congresso são múltiplas,
A realização do Congresso serviu de pretexto para uma inau- e em termos das redes de relações que estes congressos nos permi-
guração simbólica do novo edifício, construído para a Escola Médi- tem identificar, por exemplo, as delegações latino-americanas não in-
co-Cirúrgica de Lisboa, que tardava em se instalar, e as sessões ocor- cluiam mulheres médicas, ou que teriam apresentado comunicações,
riam aí. O cenário dos painéis de azulejos remete-nos para este papel embora essa já começassem a participar dos congressos latino-ame-
fundamental da rainha no apoio a cura da tuberculose em Portugal. ricanos. Evidentemente esses foruns internacionais eram altamente
Trata-se da varanda do Dispensário de Alcântara (que foi visitado seletivos e não é novidade que nesses congressos, particularmente
pelos congressistas), criado no âmbito das actividades da Assistência do inicio do século são poucas as mulheres que participam. E, entre
Nacional aos Tuberculosos, fundada em 1899. O dispensário aten- outros, os médicos latino-americanos presentes são justamente: o
dia crianças até aos 12 anos, que alí tinham acesso a alimentação e brasileiro Antônio Augusto de Azevedo Sodré, diretor da Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro, especialista em sífilis e Emilio Coni, estruturas atuantes já bem adentrado o século XX, não só nos con-
higienista argentino, ambos organizadores dos Congressos Médico gressos internacionais de Medicina, como também de Zoologia, de
Latino-Americanos do período. Geologia e mesmo de Geografia. Estudos sobre as relações de gê-
Em função dos interesses desse fórum, cabe aqui uma rápida nero e a organização das mulheres geógrafas, mencionam que nos
observação sobre esses congressos médicos latino-americanos que congressos internacionais de Geografia, muitasvezes as chamadas
já foram mais estudados, embora nem sempre incorporando suas atividades ‘for ladies’, ficavam sobre a responsabilidade mesmo de
marcas de gênero, mas que tinham suas agendas próprias de afirma- profissionais geógrafas (Robic and Rössler, 1996).
ção no enfrentamento internacional de temáticas e de comunidades Na cobertura pela imprensa desse Congresso de Medicina
latino-americanas, rapidamente transformadas, não sem questiona- que foi um verdadeiro acontecimento social na Lisboa do início do
mentos, em panamericanas (Almeida, 2006). Mesmo apregoando século, há todo um conjunto de festas em que se pode constatar a
a exclusiva cientificidade desses eventos, a mesa de abertura do 1º presença de mulheres e por vezes algumas são identificadas como
Congresso Latino Americano de Medicina, realizado em Santiago congressistas. Além das festas, foram comuns a visitas a locais espe-
do Chile, que também reunia a elite local, revestida da mesma im- cíficos (como hospitais) que faziam parte das políticas de estreitar
portância política e simbólica dos Congressos internacionais, teria relações, criar sentimentos de pertencer a uma comunidade, reco-
como participação de destaque o discurso pela paz de quem a lite- nhecer espaços geradores de identidades comuns, com os quais tais
ratura se refere como a escritora e esposa do médico argentino Emi- comunidades podiam se identificar.
lio Coni. Gabriela de Laperrière de Coni tinha nome, sobrenome e
renome. Socialista, ativista da causa operária, inserida no contexto Redes certas: participação científica
da época, como a rainha Dona Amélia, também dedicava-se a causa A grande maioria das mulheres inscritas no XV Congresso Inter-
da tuberculose. nacional de Medicina de Lisboa de 19 a 26 de abril de 1906, tinha
apenas o sobrenome de seus maridos e pagava apenas metade da
Comité des dames taxa de inscrição. Entre essas, na sua maioria esposas dos congres-
O periódico português O Ocidente iniciou com a foto do comitê das sistas, havia também aquelas identificadas como mães, tias, havia
damas sua cobertura do o XV Congresso de Medicina de 1906. E uma viúva e filhas de médicos participantes.
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informava que era a primeira vez que se fazia essa gentileza no país. É certo que as mulheres não presidiram sessões, mas apresen- 105
As informações são de mais dificil acesso nos documentos oficiais, taram trabalhos entre as comunicações livres de algumas sessões.
mas esses comitês reuniam as esposas dos médicos de prestígio, dos Se é indiscutível o peso das redes científicas que se articulavam nes-
organizadores do evento, cujo os papéis em garantir forúns de so- ses congressos, as mulheres que apresentaram comunicações nesse
ciabilidade, em criar e estreitar a cada novo congresso os laços de congresso de 1906, sem dúvida integravam as redes “certas”. Como
amizade não são nada desprezíveis, na organização das culturas das aliás, era de se esperar, por terem chegado lá. E nesse caso, não se
ciências. Um informe do congresso seguinte de Medicina, que se constitui um problema metodológico identificar as pesquisadoras
realizou em Budapest, em 1909, dá conta, de que havia pelo menos nos documentos do congresso. Enquanto para anunciar os nomes
900 mulheres que não estavam interessadas nas atividades científi- de homens há os títulos de Dr. ou Professor monsieur, as mulheres
cas do Congresso. Estes comitês de damas são uma instituição fun- são anunciadas por Madame ou Mademoiselle, sem seus títulos.
damental a ser necessariamene considerada nesses congressos de Entre as inscritas com seus nomes próprios, as congressistas
diferentes áreas disciplinares nesse período. Permaneceram como norte-americanas e francesas que apresentaram comunicações, eram
quase todas pesquisadoras ou médicas com carreiras já bem conso- zações femininas ou feministas que parecem ter mantido – o que
lidadas. Foi possível identificar algumas delas rapidamente, por suas foi uma característica marcante da época, já bastante assinalada na
produções expressivas, sendo algumas inclusive citadas até recente- literatura dessas primeiras profissionais.
mente. Lucy Waite, por exemplo, tinha 46 anos no Congresso de A única médica portuguesa que integra, na categoria de
Lisboa. Já era uma médica reconhecida, que estudara em Chicago, membro, uma sessão a de pediatria foi Sophia Rosa da Silva. For-
Viena e Paris e era Head Physician and Surgeon no Mary Thompson mada em 1891, dela se sabe que era pediatra, clinicava em seu con-
Hospital, (Women and Children’s Hospital). Foi também co-fun- sultório particular na Rua Garrett, no Chiado, em Lisboa e era sócia
dadora do Woman’s Club of Chicago. Harriet Alexander, também da Sociedade de Geografia de Lisboa.
de Chicago, especialista em epilepsia, tornou-se uma autoridade em A participação de pesquisadores e pesquisadoras de áreas
doenças do sistema nervoso, apresentou trabalho sobre Medicina científicas afins era permitida nesse Congresso e esse foi o caso de
legal; Agnes C. Victor, com trabalhos na área de Cirurgia foi uma das Marie Loyez, dra. em Ciências, pesquisadora do College de Fran-
diretoras do Brooklyns Woman’s Homeopathic Hospital e Louise ce que demonstrou uma série de “belas” preparações de ovários de
G. Robinovitch que apresentou sua comunicação na sessão de Neu- répteis. E também de Elizabeth Hopkins Dunn, pesquisadora asssi-
rologia, Psiquiatria foi a conhecida editora do The Journal of Mental tente em neurologia na Universidade de Chicago, que apresentou
Pathology, da American Psychiatric Association. no quadro negro um tabalho sobre o diâmetro e a distribuição das
A conhecida dra. Joséphine-Inèz Gaches-Sarraute, médica fibras nervosas na patas da rã – Rana virescens.
da ópera de Paris criadora de um tipo de espartilhos amplamente re- Mas, a participação de outros e outras profissionais foi mo-
comendado pelos médicos, porque aliviava a pressão no abdomem, tivo de controvérsias e acirradas discussões, em que não faltaram
também estava inscrita no Congresso. Desde a década de 1890, as marcas de gênero. Na assembléia final do Congresso de 1906,
Joséphine-Inèz Gaches-Sarraute publicava artigos particularmente em que Budapest foi escolhida como a sede do próximo - não sem
no Tribune Médicale, alertando sobre os perigos de deformação e disputa com a pretensão de Nova York -, os dentistas não diploma-
comprometimento para os ossos e órgãos internos dos espartilhos dos em Medicina solicitaram sua aceitação como participantes nos
apertados. O questionamento a moda de uso de espartilhos já vinha próximos congressos. Miguel Bombarda, com sua autoridade de se-
desde há alguns ocupando os mais diversos foruns, que se estendiam cretário do Congresso defendeu contra a proposta. Afirmando qua-
da ópera de Paris ao museu Britânico. E apenas para mencionar ou- se como uma ameaça, que caso essa proposta de participação dos
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tro exemplo, “Fashion in Derfomity” - um artigo publicado em 1881 dentistas fosse aceita, ele próprio faria uma outra proposta. Propo-
por William H Flower o influente diretor do Museu Britanico entre ria que representantes de outras profissões que tivessem quaisquer
1884 e 1898, que era médico e anatomista – fazia parte de uma ver- vínculos com a medicina, como as parteiras, massagistas, pedicures
dadeira campanha contra a deformação do corpo das mulheres, para também fossem aceitos. Essas profissões evidentemente agregavam
adequá-los a ‘modas estúpidas’. Suas ilustrações demonstravam cla- mais mulheres e tinham status inferiores. E esse foi um argumento
ramente os efeitos deformadores dos corpos pelo uso de espartilhos decisivo e de peso para determinar o resultado da votação contra a
super apertados, bem como de saltos altos (Stearn, 1981). inclusão dos dentistas não diplomados em Medicina.
A medicina foi uma das portas de entrada para mulheres nas Esta não era uma discussão particular desse fórum. Os con-
ciências e na profissionalização desde o XIX. Essas mulheres eram gresso latino-americanos de Medicina, por exemplo, talvez ainda
conhecidas em suas áreas de atuação, com diversos artigos publica- refletindo um menor grau de institucionalização, incluiam além de
dos e em suas trajetórias também surgem os vínculos com organi- médicos, químicos, farmacêuticos, naturalistas, engenheiros, ar-
quitetos sanitários, demógrafos, veterinários e mesmo os dentistas. sobre o tema, tais legislações foram criadas em função dos núme-
Inclusive do 2o Congreso Médico Latino-Americano de 1904, rea- ros alarmantes de abortos, para o final do século XIX. Médicos es-
lizado em Buenos Aires, participaram 8 mulheres, das quais 5 eram timavam em dois milhões, o número de abortos por ano, por volta
dentistas e 3 médicas. Uma das médicas, Cecília Grierson, estava de 1890. E só em Chicago em 1904, alguns médicos estimavam
inscrita também como representante da Escola de Enfermeiras e em torno de seis a dez mil abortos provocados por ano (Reagan,
Massagistas e Sabina Drocchi de Romanille representava a Socie- 1997). Na Inglaterra, por exemplo até 1837, a legislação distinguia
dade Obstétrica Nacional de Parteiras (Almeida, 2003). e penalizava de formas diferenciadas - até com a morte -, o aborto
O XV Congresso Internacional de Medicina discutiu inúme- provocado, dependendo ou não do reconhecimento da existência
ros temas em suas diversas sessões, tais como: tuberculose, sífilis, de movimento do feto (quick with child). Leis regulamentando as
lepra, higiene, homogeneização das linguagens unificação das no- práticas de aborto foram criadas na Austria em 1852, na Dinamarca
menclaturas (tema de discussão dos congressos das mais diferentes em 1866, na Bélgica em 1867, na Espanha em 1870, na Holanda
áreas disciplinares). Também foram objetos de discussões a pro- em1881, na Noruega em 1885 e na Itália em 1889. Tais legislações
posta de adoção, pelos diferentes países, do modelo dos serviços inseriam-se em todo um contexto de políticas de controle popula-
antropométricos de Portugal para identificação de criminosos; e a cionais, reforço as práticas médicas de controle da saúde e do corpo
proposta de constituição de uma comissão para estudos de câncer, das mulheres, descrédito das práticas das parteiras e poderes das
que impulsionaria os estudos em Portugal. Um dos temas de desta- ervas abortivas, organização dos movimentos feministas (Schiebin-
que foi também a significativa mudança da denominação da área de ger, 2004) e, evidentemente foram temas de destaque nos congres-
estudos de ‘medicina colonial’ para medicina tropical. so médicos.
E também não deixaram de acontecer as discussões em torno
das questões tornadas científicas e medicalizadas, relacionadas as Certas redes: a continuidade da pesquisa
mulheres: não faltaram as menções a importância das mães e enfer- Muitos desses temas foram comuns aos Congressos Feministas que
merias em processo educativos preventivos, discussões sobre pueri- também se realizavam à época. Em Portugal, como em diversos ou-
cultura, higiene, bem como sobre sinais de virgindade e defloração tros países, muitas das primeiras feministas do início do século XX,
nos relatórios de medicina legal ou sobre aborto legal e criminoso. que integraram organizações mais ou menos oficiais2, de classes mé-
Mesmo nessas sessões específicas, como obsetricia e ginecologia, dias, de mulheres que se profissionalizavam, era médicas. As médi-
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por exemplo, as mulheres não participaram como relatoras oficiais cas feministas dras. Adelaide Cabete (1867-1935), Carolina Beatriz
dos temas tratados. E nessa sessão, somente Lucy Wayte apresen- Ângelo (1888-1932) (Castro e Esteves, 2005), Maria do Carmo Lo-
tou seu trabalho “The clinical significance of uterine deviations” na ses- pes, que matriculada na Escola Politécnica de Lisboa, cursou depois
são de comunicações livres. a Escola Médica Cirúgica, Emilia Patacho, Sofia Quintino estavam
No debate em torno do aborto legal e criminoso na sessão de todas inscritas com seus nomes próprios, embora não tenham apre-
Medicina legal, uma das comunicações, justamente tinha por título sentado trabalhos, no XV Congresso Internacional de Medicina de
“Avortement provoqué; quand est-il permis?”. A segunda metade do 1906. Essas mulheres portuguesas - que se profissionalizam na car-
século XIX fora marcada em diversos países europeus pelas legisla- reira de Medicina - e seus movimentos guardam inúmeros paralelis-
ções que passaram a regulamentar o aborto, tornando na maioria mos, com inúmeras mulheres e movimentos de outros países. Essas
dos casos sua prática ilegal, a não ser quando se tratasse de salvar mulheres são consideradas como pertencentes a certos setores de
a vida da mulher. Como é amplamente tratado na vasta literatura elites, justamente em função da profissionalização e dos estudos su-
periores, particularmente em sociedades em que o analfabetismo ses eventos. As fontes historiográficas que estão sendo consultadas
entre as mulheres ainda era expressivo. Republicanas, socialistas ou têm evidenciado um acompanhamento desses eventos julgados de
moderadas e oficialistas a literatura é pródiga em rotulá-las, talvez interesse – até porque, nessas comunidades relativamente reduzi-
porque se distanciavam daquilo que gostaríamos que tivessem sido das essas redes se intercruzavam. O JUS SUFFRAGII, jornal men-
(Lopes, 2006). sal da International Woman Suffrage Alliance de setembro de 1913
E como os médicos ou demais comunidades científicas o entre outros materiais, por exemplo, acompanha de perto temas
faziam (e fazem), as feministas também buscariam capitalizar na- discutidos nos congressos médicos como prostituição e sífilis. O
cionalmente suas inserções internacionais, como estratégias de va- artigo de Hilda Clark M.B, B.S. (late Tuberculosis Medical Officer,
lidação e reforço de suas próprias práticas em seus próprios países. Portamouth) por exemplo, destacava além das discussões sobre
Os congressos feministas foram também fóruns significativos para prostituição, ‘o perigo da sífilis para a comunidade’ como um tema
a organização e consolidação das redes internacionais que sustenta- que merecia a atenção das sufragistas e deveria ser objeto de legis-
ram práticas feministas na primeira metade do século XX. As redes lação e de políticas de saúde pública como fora proposto no XVII
de solidariedade, especialmente as internacionais foram e são uma Congresso Médico Internacional de 1913, realizado em Londres.
das principais características dos feminismos da época. Tais redes O tema foi discutido nas sessões conjuntas de Sifilografia e Medici-
expressariam manifestações conscientes da fragilidade da situação na forense, e uma vez que a sessão de Higiene e Medicina Preven-
dessas mulheres profissionais feministas, que também buscaram tina não estava oficialmente representada nessas sessões conjuntas,
apoio internacional para validar localmente suas causas. se destacou a importância de que a sífilis deveria ser tratada como
No âmbito das dificuldades metodológicas presentes para as uma questão de saúde pública.
análises do campo de gênero em ciências, Mariza Corrêa alerta para Também no Congresso de Lisboa de 1906 a sífilis havia sido
um cuidado na busca de padrões de feminilidade ou masculinida- objeto de trabalhos da sessão VIII - Demartogie et syphiligraphie.
de da época, frente as ciências, nesse tempo tão próximo do nosso. Nos debates dessa sessão, tendo se considerado a grande ocorrên-
Do que se tratava – e continua se tratando, com variações de deta- cia de doenças relacionadas a afecções cutâneas e sifilíticas em Por-
lhes importantes, nuances significativas de conteúdos, é claro – é tugal foi proposto um voto para o maior incremento dos serviços já
de luta, no campo científico, cultural e político, de gênero que se existentes de dermatologia e sifiligrafia para que pudessem garantir
alargava possibilitando a entrada de novas atoras e atores. Mais pro- o ensino clínico, o tratamento e o combate a sua propagação. Esse
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missoras são as tentativas de recolocar essas personagens em seus foram os anos cruciais para a delimitação do ‘fato científico’ da sífi-
próprios cenários e interações, “tentando compreender a leitura que lis. A reação de Wassermann, justamente de 1906, alcançaria ampla
seus interlocutores faziam de sua presença ali e situando-as no contex- repercussão sobre o conceito etiológico da idéia de sífilis, base so-
to de atuação de suas contemporâneas em outros lugares do mundo” bre a qual se definiria a entidade nosológica em seu estado primá-
(Corrêa, 2003: 31). rio. E desta forma se delimitariam as fronteiras do novo conceito
A busca de relações entre Congressos científicos e congres- de sífilis e as novas práticas de tratamento. Estes foram os anos da
sos feministas, nas primeiras décadas do século XX, é um dos recor- ‘gênese e desenvolvimento do fato científico’ da sífilis, magistral-
tes de uma possível investigação que o projeto sobre os congressos mente referidos por Ludwik Fleck, em 1935 (1986). ‘Fato’ que se
científicos realizados em Portugal vem sugerindo. Esses congressos evidentemente pautava os temas dos congressos científicos do perí-
feministas reuniam mulheres que se profissionalizavam nas ciências odo, afetava diretamente as mulheres.As dimensões e repercussões
e aquelas que emprestavam sua autoridade político-científica a es- integradas nacionais e internacionais desses congressos, eviden-
ciam para o caso do Congresso Internacional de Medicina de 1906, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
que capitalização local do evento foi imensa. Entre as resoluções
do Congresso diversas delas se voltavam para o implento das ativi- Almeida, Marta de Perspectivas sanitárias e representações médicas
nos congressos médicos latino-americanos (1901-1913). Horizon-
dades e instituições de pesquisa em Portugal, como por exemplo:
tes, Bragança Paulista, v. 21, 2003: 37-47.
o incentivo aos estudos sobre câncer, as propostas de criação de
uma estação de estudos biológicos, de organização da Sociedade Almeida, Marta de Circuito aberto: idéias e intercâmbios médico-
Portuguesa de Ciências Naturais, entre outras. Após a realização do científicos na América Latina nos primórdios do século XX. História.
Congresso, por todo seu empenho na realização do evento e pelo Ciência Saúde. Manguinhos, v.13 (3), 2006: 733-757.
sucesso alcançado, a comunidade médica portuguesa, organizou Corrêa, Mariza Antropólogas & antropologia. Belo Horizonte: Ed.
uma homenagem a Miguel Bombarda. E as assinaturas de mulheres UFMG.2003.
que constam de tal homenagem são as das doutoras feministas.
Doel, Ronald. E.; Hofoffmann, Dieter and Krementsov, Nikolai. Na-
Estas considerações rapidamente apresentadas nesse texto tional States and International Science: A Comparative History of
mais do que conclusões, sugerem pistas para a continuidade da pes- International Science Congresses in Hitler’s Germany, Stalin’s Russia
quisa. Esses cruzamentos não só de nomes, sobrenomes, mas tam- and Cold War United States. Osiris, v. 20, 2005: 49-76.
bém de temáticas, de metáforas, de práticas efetivas reunidas nesses
diversos congressos podem ser um um vasto campo para investigar Fleck, Ludwik (1935) La génesis y el desarrollo de un hecho científi-
co. Alianza Editorial. Madrid, 1986.
as relações e em que medida é possível estabelecê-las, entre os con-
gressos científicos e os congressos feministas das primeiras décadas Jordanova, Ludmilla, Sexual Visions: Images of Gender in Science and
do século, que reuniam mulheres que se profissionalizavam nas ci- Medicine between the Eighteenth and Twentieth Centuries. The Uni-
ências e emprestavam sua autoridade científica aos congressos fe- versity of Wisconsin Press. Madison. 1989.
ministas, nos quais sua autoridade política se firmava. Lopes, Maria Margaret Sobre convenções em torno de argumentos de
autoridade. Cadernos Pagu, Campinas, v.27, 2006: 35-61.
Nunes, Maria de Fátima The History of Science in Portugal (1930-
NOTAS 1940): The sphere of action of a scientific community. e-JPH, vol. 2,
112 1 International Congress of Science Portugal 1880-1950. ICSc.Pt:1880-1950. CEHF- n. 2, Winter 2004. 113
Ci. Coordenação profa.dra. Maria de Fatima Nunes.
Castro, Zília Osório de e Esteves, João. Dicionário no Feminino (sé-
2 A literatura sobre essas feministas e suas participações especialmente nos movimentos culos XIX-XX). Lisboa: Livros Horizonte, 2005.
republicanos é bastante vasta, e pode ser acompanhada, entre diversos outrostraba-
lhos, nas pesquisas e publicações como Faces de Eva, da Universidade Nova de Lisboa, Pina, Madalena Esperança Traços da Medicina na Azulejaria de Lis-
nos livros de João Esteves Mulheres e republicanismo: 1908-1928 - Comissão para a boa. Casa de Cambra, 2010.
Cidadania e Igualdade de Género/ Fio de Ariana Lisboa 2008; nos diversos trabalhos
de Isabel Lousada e Teresa Joaquim O género da memória : a questão da visibilidade. Pina Cabral, João de “O limiar dos afetos: algumas considerações so-
Lisboa. 2008. Em teses recentes como a de Célia Rosa Batista Costa. O Conselho Na-
bre nomeação e a constituição social de pessoas”. Texto apresentado
cional das Mulheres Portuguesas (1914-1947) Dissertação de mestrado em Estudo
sobre as Mulheres. Universidade Nova de Lisboa, 2007. como Aula Inaugural do Programa de Pós-Graduação em Antropolo-
gia Social da UNICAMP (Universidade de Campinas), Abril de 2005
(draft).
5
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and Law in the United States, 1867-1973. Berkeley: University of Cali-
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Robic, Marie-Claire, Rössler, Mechtild et UNESCO Sirens within the LEER Y ESCRIBIR EN LENGUA MATERNA: ANÁLISIS DEL USO DEL
IGU – an analysis of the role of women at Intrenational Geographical ESPAÑOL EN LA COMUNIDAD CIENTÍFICA INTERNACIONAL
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Atlantic World. Cambridge. Harvard University Press. 2004.
Söderqvist, Thomas, Silverstein, Arthur M. Participation in Scientific Me- Introducción
etings: A New Prosopographical Approach to the Disciplinary History of
Science – The Case of Immunology, 1951-1972. Social Studies of Scien- Hace 30 años que tengo costumbre de consultar cotidianamente bases
ce, v.24 (3), 1994: 513-548. de datos bibliográficas y dirigir trabajos bibliométricos de médicos y
estudiantes, en tanto que profesora de historia, metodología y docu-
Stearn, William T. The Natural History Museum at South Kensington. mentación científica. Así es que conozco del uso del español en la cien-
Heinemann Ltd. British Museum (Natrual History), London. 1981.
cia, mejor dicho, del abandono del uso del español de la ciencia: de la
sustitución gradual del maravilloso español de Marañón o los herma-
nos Cajal -qué hermosura de lengua la de estos hijos de Antonia Cajal
y el cirujano Justo Ramón- por el inglés. Pues nunca he dejado que los
estudiantes dejaran de observar el idioma en que se escribe la ciencia.
Esta ponencia no presenta los resultados de un proyecto de investiga-
ción al uso, de análisis sistemático y acabado del tema, como ha sido
mi costumbre en estos congresos, sino resultados de las observaciones
114 115
y análisis parciales que he realizado para responder a ciertas preguntas
concretas en el curso de mis interrogaciones, todavía no bien formali-
zadas, sobre el estilo científico y la diferencia sexual.
Agradezco de corazón a Maria Jesús Santesmases, científica ti-
tular del CSIC de Madrid, que me invitara en octubre de 2007 a un
Simposio sobre el tema -Pensar la ciencia en Español-, porque me per-
mitió hacer públicas algunas reflexiones y deseos, además de ciertos
datos de situación pertinentes en aquel evento1. Entonces defendí,
creo que por primera vez en mi vida, el valor del uso del español en la
ciencia (atreverse fue posible, incluso loable). Lo hice mientras daba
a conocer, no las penurias del español, sino las iniciativas institucio-
nales diversas y no siempre coincidentes de promoción del espa- que me ha obligado a releer muchas de las lecturas claves de mis
ñol2; y lo hice justificándolo por la experiencia vital de mi persona últimos 15 años de las clásicas del feminismo de la diferencia sexual,
y mi posición política, ética, lugar de nacimiento (el país vasco de buscando mi razón. ¿Es solo un problema cultural, económico, de
Navarra) y dedicación profesional, como he hecho ahora. Lo que justicia, nacional? ¿Solo es un problema de política científica? Es
no sabía entonces es que esa colocación del sujeto de conocimiento por esto que añadí sin miramientos la etiqueta de “lengua mater-
–o sea, yo- no era real, verdadera del todo. Ha sido después, en el na” al español en el título del resumen que decidí hace casi un año.
contexto de otra investigación sobre el desequilibrio de hombres y Ahora, sin embargo, debo avisarles de que ofrezco balbuceos: pen-
mujeres en la dirección de las revistas biomédicas españolas3 y la samientos todavía crudos, sin cocer, pero creo que al menos son
sospecha de que el estilo de escritura científica está tan alejado del no descarnados sino incardinados. Se trata, pues, de un ejercicio de
estilo de escritura femenino, que he vuelto a revisar con esa otra búsqueda de sentido (y de palabras para decir) de lo que significa
mirada –femenina libre- este problema y aquel simposio del CSIC. para las mujeres científicas –a diferencia de los hombres- usar el in-
Aquel simposio, de hace más de dos años, en el que una ponen- glés renunciando a leer y escribir en español, su lengua materna (y,
te, una mujer célebre y excelente que todas estimamos, como es la especialmente, a quienes trabajamos en el campo de los estudios de
bióloga Margarita Salas, no encontró más valor que el sentimental género en ciencia y tecnología).
y pedagógico para el uso del español en la ciencia, porque siendo
la ciencia universal no podemos sustraernos a la obligación de leer Apostar por el despliegue del español, también en la ciencia
y escribir en su lengua franca, el inglés, diría ella. Pese a las revuel- En el contexto actual de las sociedades de la información, una opi-
tas del pensamiento, voluntad política y erudición, tampoco Javier nión muy extendida sobre el español, que viene a renovar y quizá
Echeverría -una autoridad en estudios sociales de la ciencia- encon- sustituir a la clásica del “patrimonio cultural” es la que afirma que
tró poderosas razones para promover sin riesgos el uso del español, el español es un “activo económico”, una materia prima sobre la
demasiado conmovido -me parecía a mí- por el poder del poder que podemos crear valor, construir riqueza, aumentar la influencia
tecnocientífico. Otros ponentes mostraron otras caras del proble- de nuestros países y mejorar el bienestar de sus habitantes. Porque
ma, más vinculadas casi siempre a prácticas concretas mostrando la nuestro idioma, que es el cuarto del mundo en cuanto al número de
dificultad de tomar decisiones desde la instituciones, fueran revis- hablantes y el segundo en el de negocios, dispone de unas buenas
tas u organismos gubernamentales de diversos países iberoameri- condiciones de expansión en este momento histórico: incremen-
116 117
canos. El discurso menos torturado de todo aquel día de 2007 creo to constante del peso de la lengua española en muchos países y al-
que fue el de un colega mexicano filósofo y escritor, Carlos López gunos importantes; crecimiento económico de iberoamérica por
Beltrán, que usa en sus relatos escenarios de producción científica, encima de la media internacional; aumento del desarrollo social y
contribuyendo con su español a la divulgación y educación científi- extensión de la tecnología a los hogares; expansión de los mercados
ca. Y si cuento todo esto es para decir que sobre el tema hay mucho de la información. Sin embargo, la imagen global de la situación
escrito, y que la mejor síntesis que conozco hoy es la recientísima actual, resultado de numerosos estudios e informes, es negativa.
monografía de 2009 que recomiendo vivamente: El español. Lengua Como se afirma en la citada monografía, los países que hablamos
para la ciencia y la tecnología, editado por el Instituto Cervantes y la español compartimos, más que otra cosa, carencias: 1) poco peso
editorial Santillana4. en el concierto mundial de la informática y comunicaciones, con
Pero quizá no hallé entonces -ni hallo todavía- satisfacción fuerte dependencia del exterior; 2) escaso nivel de acceso a los ser-
intelectual y moral a este problema central de todo sistema I+D+i, vicios e infraestructuras de telecomunicaciones; 3) desigual nivel
educativo, y con las humanidades en retroceso; 4) ausencia de cul- ción (la norteamericana base de datos de citas ISI-WOS tiene tres
tura técnica de la población (vg. el 58% de los españoles no navega tipos de sesgos (idiomáticos, políticos y científicos) que limitan se-
por internet); 5) desequilibrios territoriales, desempleo; 6) escaso riamente su eficacia y produce efectos perversos. En la comunidad
o desigual desarrollo de materiales lingüísticos básicos (dicciona- científica, escribir en español (o cualquier otra lengua que no sea el
rios, gramáticas, corpus lexicográficos, etc. ); 7) gran dependencia inglés) y pertenecer a las ciencias humanas y sociales es un factor
tecnológica y una crónica insuficiencia de recursos para la investi- de riesgo de la promoción profesional, institucional, además de un
gación y el desarrollo; 8) escasa conciencia de la relevancia econó- atentado grave a la identidad nacional. Entre las medidas propues-
mica del idioma. tas por Vise hallan las siguientes: 1) valorar la calidad de las revis-
Casi todos los países han emprendido más o menos ambicio- tas independientemente de los índices ISI: 2) promover y valorar
sos o modestos planes de relanzamiento del uso del español, que las revistas publicadas en español, independientemente del país
comprenden muy distintos ámbitos de actuación, incluso en el es- productor; 3) creación y valoración de indicadores de actividades
pecífico campo de la ciencia y tecnología5, bien sea en docencia, científicas de hispanohablantes; 4) creación de un índice interna-
investigación, divulgación, difusión y creación de redes. Como afir- cional de publicaciones de prestigio en español; 5) fomentar la pu-
ma Verónica Vivanco, “hace cincuenta año nadie hubiera augurado blicación original en español de los resultados de la investigación.
una evolución tan positiva y acelerada de nuestro idioma en el con- Pero, en coherencia y sumisión a la realidad debo decir que
texto internacional. El español era, por entonces, una lengua que la ciencia –ese conocimiento de lo real que tiene el mayor poder
no se exportaba y, en consecuencia, no se estudiaba como segundo social y económico- tiene un lenguaje universal caracterizado por
idioma. La creación del Instituto Cervantes, en 1991, ha significado las palabras técnicas que nombran esa realidad oculta al común de
una política firme y coordinada de expansión lingüística de nuestra los mortales: terminología propia o tecnicismos (lengua específica,
lengua”6. En Europa somos la quinta lengua, por detrás de alema- dirán los lingüistas) que se cuentan por millones en cada rama del
nes, ingleses, franceses e italianos, pero el español es la de mayor saber o especialidad profesional, y una sintaxis que es propia de la
crecimiento a corto plazo porque sus hablantes nativos crecen por lengua en que se habla o escribe de ciencia, lo que facilita el arraigo
encima de los del francés, inglés y ruso. Como es sabido, el índice de una lengua franca para la ciencia. También debo decir que a lo
de impacto de un idioma, que mide su relevancia internacional, no largo de la historia de la humanidad, la ciencia ha sido pensada y
es el número de hablantes nativos, sino la demografía exterior que escrita originariamente en una sola lengua: en la lengua dominante.
118 119
depende del índice de hablantes, del estado de la economía y de la Y que esta lengua dominante en la ciencia, lo era del país cultural o
ciencia. políticamente dominante (en muchas ocasiones “la lengua del im-
La ultima de las 20 acciones programadas de promoción del perio” y creada artificialmente, aunque también tenemos ejemplos
uso del español en ciencia y tecnología se refiere a los índices de ca- del desdoblamiento lingüístico del imperio: uso predominante de
lidad de la investigación. Coincide plenamente en su espíritu, y casi una u otra lengua según la actividad, por ejemplo: negocios, política
en su formulación, con mis opiniones personales sostenidas en mis o administración en latín; ciencia, filosofía o medicina en griego), y
clases desde hace casi 30 años o en foros críticos más bien margina- que siempre ha habido una intensa actividad traductora con diccio-
les. Por ello siento personalmente satisfacción y confianza, aún en narios mono y multilingües y controversias científicas acerca del va-
plena crisis económica, de escucharlo o leerlo en las instituciones lor del internacionalismo y el nacionalismo, prevaleciendo siempre
o medios con poder, con “poder de hacer”. Sostiene esta tesis que -que sepamos- el internacionalismo nada purista7. Como decimos
el principal instrumento de evaluación de la calidad de la investiga- los historiadores, nada hay tan mestizo como el saber científico. La
lengua franca de la ciencia ha ido cambiado. Sucesivamente se ha tuvo éxito el alemán, el de la Alemania humboltiana y los institutos
pensado y escrito originariamente de ciencia en griego (siglos VI a universitarios de investigación. En resumen, del mismo modo que
C-s.VIII d C), árabe (VIII-XIII), latín (XIII-XIX), parcialmente en ahora el inglés, nuestros médicos antiguos debían presentar un cer-
las lenguas vernáculas o nacionales europeas: español (XVI-XVII), tificado de estudios universitarios en latín hasta mediados del siglo
italiano (XVII_XVIII), francés (XIX1, alemán (XX2-XX1) y, ahora, XIX, de sus estudios de francés o alemán durante buena parte de la
desde la segunda guerra mundial, en inglés. Desde esta perspectiva segunda mitad del siglo XIX y primera mitad del siglo XX.
histórica, es predecible que la siguiente lengua franca de la ciencia ¿Qué sentido tiene, pues, reivindicar la lengua nacional hoy?
sea la lengua del país o cultura dominante a nivel global y, en este Desde esta perspectiva política y cultural, el Instituto Cervantes, las
sentido, demasiados indicadores desde hace tiempo apuntan a Chi- Reales Academias de la lengua española (creada en el siglo XVIII),
na más que a iberoamérica. No obstante, muchas personas creen la FECYT en España y organismos similares en otros países de
que merece la pena apostar por el despliegue del español. Un sim- América Latina dedican una energía y unos presupuestos econó-
ple punto de vista ecologista, de mero desarrollo cultural sostenible micos a este menester. Tras un silencio de décadas, creo que hay
lo avalaría. No está en extinción, sino que es la lengua o “especie un resurgimiento de la defensa del español de uso también en la
idiomática” de más de 46 millones de personas de Estados Unidos ciencia, y no sólo en el comercio o los negocios, no sólo en la lite-
de Norteamérica (USA), de otros 42 millones de Europeos y unos ratura y el cine o el mundo de las letras. Los datos cuantitativos del
360 millones en el centro y sur de América. Y sus expectativas de uso del español en Estados Unidos (42 millones), el incremento de
multiplicación biológica son altas. la población hispano parlante en el mundo en total unos 440 millo-
Para otros muchos y muchas, reclamar el uso del español sig- nes) hasta ser la tercera o segunda lengua más hablada del mundo,
nifica reducir la ciencia al espacio doméstico, al nacional, significa lo justifican.
minusvalorarla apartándola del ámbito internacional, al que de na- Pero para mi hay otra cuestión; la cuestión ahora es ya otra:
tural pertenece. Significa aislar la ciencia del circuito mundial que ¿qué aporta el hecho de que esta lengua nacional sea la lengua ma-
es su lugar natural, se dice. terna? ¿Reivindicar el español desde el Instituto Cervantes o desde
En todas las épocas ha habido movimientos de reclamo de el FECYT, es lo mismo que hacerlo desde la red o comunidad de
uso de los idiomas nacionales en la ciencia. En nuestra tradición, la investigadoras y estudiosas de género, desde la perspectiva femi-
edición en catalán o castellano de tantas ediciones renacentistas fue nista?
120 121
toda una aportación a la cultura hispana, cuando el imperio español
era el mayor del orbe, cuando la ciencia se pensó y escribió en espa- El estilo científico desde la diferencia sexual: ¿lengua materna o
ñol. Pero el mismo impulso en pleno siglo XVIII de defensa del cas- lengua nacional?
tellano -una época especialmente comprometida con la expansión Muchas teóricas del feminismo han defendido y practicado una
geográfica de la ciencia a toda Europa y América y en lo social, más doble misión intelectual (que algunas consideran incompatibles)
allá de las élites y hasta llegar a los burgueses comerciantes, artesa- como es criticar la construcción de la feminidad según el modelo
nos, militares, etc.- suele considerarse patético. En plena ilustración opresivo y devaluador característico del patriarcado y, al mismo
se hizo un auténtico esfuerzo por verter al castellano/español la nova tiempo, convertir las tradiciones culturales y las modalidades cog-
scienza. Pero el casticismo no tuvo éxito. Poco después se olvidaría nitivas de las mujeres en una fuente de afirmación positiva de otros
tal pretensión, mientras el francés tuvo éxito al asumir su condición valores. Al plantearlo así, el pensamiento feminista de la diferencia
de idioma franco vinculado al enorme poder napoleónico, y luego sexual ha establecido una conexión entre la política y la epistemolo-
gía, como términos de un proceso que construye también al sujeto los conocimientos teóricos. Para la teoría feminista –como para
en cuanto agente material y simbólico.8 la historia crítica de la ciencia que practico profesionalmente- la
En esta posición late la propuesta de un empoderamiento única manera coherente de hacer aportaciones teóricas generales
de la subjetividad femenina. La noción central que sustenta este consiste en tomar conciencia de que uno está realmente localiza-
proyecto es la experiencia de las mujeres en la vida real. Adriane do en algún lugar específico(aquí uno equivale a uno y una).
Rich, por ejemplo, lo teorizó con la idea de “política de localiza- En el marco conceptual feminista el sitio primario de lo-
ción” y otras filósofas e historiadoras académicas con la del “co- calización del sujeto es el cuerpo. El sujeto ya no es una entidad
nocimiento situado”; una alternativa teórica exitosa -en el campo abstracta sino material, una entidad encarnada o corporeizada.
de los estudios sociales de la ciencia- al mito de la universalidad, Pero el cuerpo no es una entidad natural sino una entidad cultu-
objetividad y neutralidad del conocimiento científico que se teo- ral, codificada socialmente. El “cuerpo”, como afirma Rosi Brai-
rizaba desde el neopositivismo del empirismo lógico. La subje- dotti, lejos de ser una noción esencialista constituye el lugar de
tividad femenina y la subjetividad masculina se han constituido intersección de lo biológico, lo social y lo lingüístico, esto es, del
en un problema científico, también en la ciencia. La política de la lenguaje entendido como el sistema simbólico fundamental de
localización, la práctica del “desde sí”, la exigencia del encuadre una cultura. Las teorías feministas de la diferencia sexual obligan
espacio-temporal del sujeto cognoscente (o, incluso, la exigencia a reconsiderar las propias estructuras conceptuales de las ciencias
de la experiencia y necesidad como condiciones del saber) signi- biológicas, a discutir los elementos del determinismo físico o psí-
fica haber aceptado que el pensamiento, el proceso teórico no es quico del discurso científico, pero también a refutar la idea de la
abstracto, universalizado, objetivo o indiferente, sino que está si- neutralidad de la ciencia señalando el papel importante desem-
tuado en la contingencia de la propia experiencia y que, como tal, peñado por el lenguaje en la elaboración de los sistemas de co-
es un ejercicio necesariamente parcial. La propia visión intelec- nocimiento. La cuestión feminista femenina es, entonces, de qué
tual –llámese paradigma, marco conceptual o estilo científico- no manera afirmar la diferencia sexual no como el otro, el otro polo
es una actividad mental des-incardinada sino estrechamente vin- de una oposición binaria convenientemente dispuesta para sos-
culada con el lugar de la propia enunciación, con el “desde donde tener una sistema de poder, sino, en todo caso, el proceso activo
uno realmente está hablando”, de modo que su universalización de potenciar la diferencia que la mujer establece en la cultura y la
es posible y éticamente aceptable cuando se produce un consenso sociedad. La mujer ya no es “diferente de” sino “diferente para”
122 123
real (“simpatía”). Como es obvio, no estoy hablando de relativis- poner en práctica nuevos valores.
mo sino de la máxima objetividad concebible en nuestra época En ese proyecto no está solo el feminismo. Frente al univer-
postmoderna, la que deriva de asumir la determinación de la sub- salismo, que alude al hábito que consiste en tomar lo masculino
jetividad y el valor de la intersubjetividad en la génesis del conoci- (blanco occidental) como representante de lo humano, el pensa-
miento científico, y no sólo en las ciencias humanas o sociales sino miento crítico actual ha refutado esta representación inadecuada
también en las de la naturaleza y la salud. La defensa feminista de del sujeto, y presta su voz y autoriza a hablar a los sujetos pertene-
“los saberes situados”, por citar a Dona Haraway o Sandra Har- cientes a las minorías simbólicas, los que fueron definidos como
ding, choca con la generalidad abstracta del sujeto patriarcal de la diferentes.
ciencia normal. Lo que está en juego no es la oposición entre lo Por ello, hoy podemos hablar de crisis del sujeto, de crisis
singular o específico y lo universal. Se trata más bien de dos mane- de la racionalidad del sujeto masculino. Se trata de una crisis no
ras radicalmente diferentes de concebir la posibilidad de legitimar en el sentido nihilista de pérdida de valores, sino de apertura a
nuevas posibilidades, a nuevas potencialidades. Las mujeres pien- res al viejo sistema? ¿qué teorías y representaciones de sí mismas
san y pensaron desde tiempos inmemoriales, pero desde el femi- yuxtapondrán a las teorías y representaciones clásicas?
nismo no solo piensan más sino que piensan acerca de lo piensan: Si la emancipación significa adaptarse a las normas, criterios
han adquirido un nivel metateórico (reflexivo) que les permite y valores de una sociedad que durante centurias estuvo domina-
clasificar y canonizar sus propias ideas. Lo que está en juego en el da por los hombres, aceptando sin cuestionar los mismos valores
feminismo es redefinir qué significa ser parte de la civilización, de materiales y simbólicos que los del grupo dominante, entonces la
todo cuanto significa pensar. Las feministas han propuesto que la emancipación no basta. Debemos librarnos de la idea simplista
racionalidad no constituye la totalidad de la razón y que la razón de que podemos compensar siglos de exclusión y descalificación
no abarca la totalidad –y ni siquiera lo mejor- de la capacidad padecidos por las mujeres con una rápida integración laboral en
humana de pensar. La teoría feminista constituye la crítica al po- el sistema científico-tecnológico, auspiciado por el Estado, en
der en el discurso y como discurso, y el esfuerzo activo por crear las instituciones y sistemas de representación simbólicos. Incor-
otras formas de pensamiento, es decir, el compromiso con el pro- porar a las mujeres, permitiéndoles ocupar unos pocos asientos
ceso de aprender a pensar de modo diferente. Como dice Brai- sobrantes en los clubs previamente segregacionistas no basta. Es
dotti “la feminista es una pensadora crítica que desvela y somete preciso que las recién llegadas puedan redefinir, y estén habilita-
a juicio las modalidades del poder y la dominación implícita en das para ello, las reglas del juego a fin de establecer la diferencia y
todo discurso teórico, incluso el suyo. Empero, es también una lograr que dicha diferencia se perciba concretamente.”
pensadora creativa en la medida en que produce nuevas formas Por eso se dice que el proyecto feminista, que es un pro-
de representación y definición del sujeto femenino” (Braidotti: yecto de redefinir la subjetividad femenina en términos de dife-
39). Podríamos decir que la cuestión de la diferencia sexual re- rencia sexual, tiene una dimensión epistemológica pero también
sulta históricamente apremiante, y que si las mujeres dejan de ética, al centrarse en los valores alternativos que las mujeres pue-
estar confinadas en el eterno “otro” y ganan el derecho a hablar, den aportar. Lo que se busca respecto a las mujeres es su integra-
teorizar, a votar, a ir a la universidad y el sistema científico y tec- ción en la comunidad científica pero conservando la diferencia:
nológico, entonces solo es cuestión de tiempo el desterrar la vie- que sean miembros de primera clase de esta comunidad política,
ja imagen de la Mujer que se creó sin consultar la experiencia de social e intelectual y que aún mantengan viva la memoria his-
las mujeres de la vida real y reemplazarla por una más adecuada tórica de donde vienen y lo que les costó. Estar situadas en la
124 125
(Braidotti:19). comunidad científica conscientes de su linaje, de su genealogía
y la tradición de civilización para la vida es imprescindible. Por-
La integración de las mujeres al sistema científico-tecnológico que lo que sustenta el proceso de devenir “sujeto” es la voluntad
(y el pensamiento femenino sobre el sistema científico) de saber, el deseo de decir, el deseo de hablar, de pensar, de re-
Después de siglos de actividad masculina segregada, el sistema presentar. Como idearon Clarece Lispector o Christa Wolf, y se
científico se ha vuelto heterosexual o mixto y hoy se proclama ha teorizado desde el psicoanálisis y el feminismo, y han escrito
aceptar de buen grado a las mujeres entre los agentes activos y muchas científicas de laboratorio como Rita Levy o Barbara Mac
cualificados de la vida científica. Las mujeres se han ganado el Klintock), pensar es la manera de sensibilizar la materia, la forma
derecho a un “cuarto propio” (esto es, a un salario) en el mascu- específica de inteligencia de las entidades encarnadas. Pensar es
lino mundo de la ciencia. La cuestión desde hace dos décadas es: un proceso carnal, no mental. El pensar precede al pensamiento
¿qué hacemos con todo esto? ¿qué valores opondrán las muje- racional.9
El lenguaje como instrumento de pensamiento “juntos”, las respuestas de los hombres mostraban un estar juntos
“Es en el lenguaje y no en la anatomía donde mi subjetividad en- más vago, más colectivo e indeterminado. Para ellos, en este juntos,
cuentra una voz, deviene un corpus, es engendrada”. “El lenguaje podría haber a juicio de Irigaray, un defecto de individuación. “Si
cruje bajo el peso de una generalización excesiva; los pronombres la mujer, las mujeres, pierden su identidad femenina en el mixto
personales no pueden sostener la carga interpersonal requerida de ellos o en el genérico de él, los hombres parecen abdicar de su
por el proyecto feminista”. “El sujeto feminista femenino es el sitio personalidad en el colectivo de un social poco indeterminado (uno
donde se interseccionan el deseo subjetivo y la transformación so- + uno +uno reunidos apropósito de y juntándose sin relación entre
cial deliberada: ética, política y epistemología, afirmará Braidotti las personas” (p. 138). La utilización del tiempo pasado es más fre-
(p. 47) relacionando comunidad femenina y poder, con el objetivo cuente en los enunciados de los hombres, por lo menos en lengua
de encontrar la vía de acceso a una forma no logocéntrica de repre- francesa. Su discurso se desarrolla a menudo entre el presente y el
sentar la subjetividad femenina; pensando el poder no sólo como pasado, casi en marcha atrás. Sus certidumbres o sus anclajes se si-
el sitio de las fuerzas visibles, en el que es más identificable por- túan generalmente en el pasado. Esta referencia al tiempo pasado
que es allí donde se despliega (parlamento, iglesias, universidades, puede expresarse por el hecho de recurrir a las definiciones ya exis-
etc.), sino también como una “red invisible de efectos interrelacio- tentes de una verdad, un concepto, una realidad (sic). Las mujeres
nados, una persistente y omnipresente circulación de afectos” (p. producían enunciados más ligados al contexto actual o abiertos al
48) Coincido con ella en que el pensamiento feminista no debe ser futuro. Este uso del futuro manifiesta con frecuencia el deseo de
únicamente estratégico, esto es, la expresión de una voluntad polí- una comunicación, desplazamientos en el espacio y alusión al tiem-
tica, sino ser adecuado en cuanto representación de la experiencia”. po que hará. Este componente cósmico interviene mucho más en el
Este el sentido de la justeza (y no solo justicia) que forma parte de discurso de las mujeres que en el de los hombres. También observó
la agenda feminista.(p.49). Lo que Luisa Muraro, Lia Cigarini, Mi- diferencias en el uso del adverbio tal vez. La mayoría de las muje-
lagros Rivera, Clara Jourdan, Chiara Zamboni y otras muchas han res (64%) usaron el Peut-être para matizar una eventualidad futura,
promovido en el círculo Duoda de Barcelona con sus reflexiones mientras que solo lo usaron así una minoría de hombres (25&).
colectivas y textos escritos sobre las palabras que nombran lo que En ellos el uso del “tal vez” expresaba la incertidumbre relativa a
hacen y viven las mujeres en el mundo del trabajo, por ejemplo10. la índole del objeto, a la intención del otro frente a uno o la duda
En el pionero estudio de Luce Irigaray sobre los usos linguís- respecto de los que ha sido realizado por uno. Un tipo de respuestas
126 127
ticos de hombres y mujeres observó muchas pautas comunes y al- que no encontraron en las mujeres. (¿los dos afuera mañana?). Pos-
gunas diferencias significativas11. Por ejemplo: en las respuestas de teriormente algunas autoras han querido ver patrones diferenciales
las mujeres el acento se ponía más bien en los sujetos, mientras que en los escritos científicos de hombres y mujeres, sin que en mi opi-
en los hombres el acento se ponía más en el predicado, en el objeto nión podamos establecer teorías concluyentes12.
o en el objetivo; la superioridad del masculino se afirmaba clara-
Repensar la lengua materna desde el orden simbólico de la madre
mente en ocasiones, inclusive a través de la intención o las eleccio-
nes, supuestamente femeninas, de las acciones del hombre; la indi- Comparto el descubrimiento de Milagros Rivera y Luisa Muraro
ferencia del hombre frente a la mujer se expresaba explícitamente; de que el orden simbólico de la madre tiene en su base una estruc-
las mujeres seguían utilizando mucho el sujeto personal, aunque en tura que es la relación de la hija con su madre concreta y personal;
un tercio de las respuestas manifestaban dificultades, dudas, mati- una estructura elemental que falta en el patriarcado”, que ha sido
ces peyorativos o transformaciones negativas; ante la consigna del hurtada a la ciencia, al conocimiento de lo real. (ella solía decir
que envidiaba a los hombres porque ellos sí han podido significar Si repaso los títulos de las obras que más amo, las realiza-
su relación con la madre, hacer cultura de ello). Represento este das por las feministas italianas de la diferencia sexual -o sea, ese
problema con una cita tomada de Luce Irigaray: -“ Mamá, ¿puedo compendio de ideas trabajadas durante años que expresa el título
peinarte?”13) Pero la verdad es que la realidad o los fragmentos de un libro- encuentro algo distinto de los títulos normales, algo
de realidad que el orden simbólico de la madre reconoce y nombra, que me atrae irresistiblemente y que me ha llevado a coleccionar
existen en el presente y han existido en el pasado; es decir, que los libros, a releerlos e, incluso, a traducir al español uno de ellos:
no hace falta ni olvidar lo aprendido ni partir de cero para ocupar “Dos para saber dos para curar, el orden simbólico de la madre, auto-
su lugar en la vida”14 (p. IX). Y yo me pregunto si renunciar a esa ridad femenina/autoridad científica, saber que se sabe, lo que quiere
herencia cultural, a ese tejido lingüístico, a esa estructura simbó- una mujer, nombrar el mundo en femenino, traer el mundo al mundo,
lica al entrar en la ciencia, en el santuario de la ciencia (¿cómo de dos en dos, el perfume de la maestra, escupamos sobre Hegel, el
decirlo fielmente en el inglés de la ciencia?) no es una pérdida de final del patriarcado, no crear tener derechos, palabras que usan las
identidad nacional solamente, sino una clave del orden patriarcal, mujeres, el perfume de la maestra”.
consustancial al orden socioeconómico que hoy conocemos (ca- Desde el punto de vista lingüístico, literario, o de estilo
pitalismo globalizado). Cuando pienso en el sistema de microcré- científico, podemos hablar y analizar la escritura, el habla de las
ditos de la India, en la casa de las viudas de Vrindavan, o los cantos mujeres; yo lo hecho en pequeñas dosis y lo aconsejo para apren-
con que acogen y alimentan y sanan a las mujeres africanas más der a hablar desde otro orden de cosas, de otra manera, para decir
jóvenes víctimas de violencia machista y de la miseria sexual (con lo que no se nombra. Desde el punto de punta de su significado,
disfunción endocrina de testosterona), me pregunto qué ciencia retomo la reflexión y las palabras de la filósofa. “Las reglas de la
tendría lugar –qué ciencia se originaría- si trabajáramos nosotras primera lengua que hablamos nacen de la necesidad, a la vez lógica
y ellos desde el reconocimiento de la vida y de la lengua gratuita- y fáctica, de la mediación. Son de hecho, las condiciones que impone
mente recibidas. la madre para que podamos volver a comunicarnos con ella compar-
Pero no es sólo cuestión de reconocimiento del legado ma- tiendo su experiencia del mundo” (el subrayado es mío).
terno, en el mismo sentido que otros como el alimento material o La reglas luego se complican con la intervención de nuevos
el vestido o el afecto. Como científicas nos compromete de otra interlocutores, de nuevas autoridades, de nuevas autoridades, de
manera. (intercalo un relato y una confesión). nuevas experiencias. En particular, la enseñanza escolar de la len-
128 129
Cuenta Luisa Muraro sus reflexiones al escuchar los comen- gua, en la cual las normas estrictamente linguísticas se entrelazan
tarios de un amigo filósofo británico –un auténtico feminista- al con las de la convivencia civil y con imposiciones arbitrarias de
libro Speculum de Luce Irigaray. poder construido (como la prohibición de hablar en dialecto).
- Comentaba él: “novedoso, tal vez válido, pero el lenguaje Otro tanto puede decirse de las reglas del intercambio en el seno
es insoportable, dictatorial, carece de ética de la comunicación”. de las clases profesionales, de las tradiciones de pensamiento y de
- Reflexiona y relata ella: “Comencé a reflexionar entonces la sociedad en general: también estas reglas son una amalgama de
sobre la proxa filosófica de los anglosajones, que ya encontraba instancias deformes, de reglas necesarias con otras supuestamen-
extrañamente opaca y rebuscada, comparada con su literatura y su te tales que, en cambio, son convencionales e imposiciones más o
poesía: ¿lengua materna todavía viva en el arte, y en cambio muer- menos arbitrarias”.
ta y embalsamada cuando se trataba de demostrar la verdad? ¿qui- El intercambio lingüístico no es reductible al intercambio
zá por la sustitución por otra autoridad, otro orden simbólico?” entre hablantes; siempre es también intercambio entre palabra
y experiencia. Y este es su origen permanente y la fuente de su Porque yo concibo la escritura, y la escritura científica también,
originalidad: “La palabra separada de su matriz, se seca. Mengua como una obra terapéutica. Creo que el orden simbólico que la
el intercambio entre palabra y contexto, el recurso a las definiciones lengua materna sabe hacer tiene el poder o capacidad de man-
aplana el significado de las palabras, los criterios de juicio se hacen tener unidos el cuerpo y la palabra, la experiencia y el lenguaje.
uniformes, desaparece la gestualidad, al igual que toda expresión no Y digo terapéutico en el sentido expresado por muchas colegas
verbal del pensamiento” De este modo, el mundo decible en virtud profesionales sanitarias con quienes lo he aprendido (en la red
de la lengua materna es sustiuido por el mundo de la experiencia de mujeres profesionales de la salud), gracias a filósofas y psicoa-
convenida, decible según las reglas convencionales. No sostengo que nalistas e historiadoras de que “cuando el cuerpo de las mujeres
el primero sea más bello y rico que el segundo; a veces ocurre lo con- enferma, con frecuencia es porque sus necesidades simbólicas,
trario. Pero aquel está en correspondencia con la lengua viva y puede que son distintas de las de los hombres, no son escuchadas, ni en-
desarrollarse por ´si mismo, mientras que éste es fijo y solo cambia tendidas ni atendidas”. Pues, como suele decir Milagros Rivera
cuando se tiene el poder de manipular sus reglas” (p. 78-79). “cuando las palabras no coinciden con las cosas, con aquello que
También comparto con esta corriente filosófica el rechazo deseas, se produce un gran malestar en el cuerpo”, como dice la
y el temor por la artificioso de la filosofía postmodernista que gente: ”tantas veces enferma el cuerpo porque sufre el alma”.
relaciono con “el pensar de ciencia y tecnología en su inglés” (de Debiendo escribir en otra lengua, debiendo leer en otra
ellas y ellos) Reconozco que no comprendo a Judith Butler en el lengua, acabamos pensando en otra lengua, en colisión o distan-
sentido neto de la palabra: no comprender intelectualmente; no cia infinita con nuestra lengua materna y cotidiana. Poder pensar
me dice nada, me paraliza. Y reconocerlo me granjea antipatías, y crear el mundo en la lengua materna y no dejar de ser científicas
pero eso es lo real en mí y ahora. Creo que la sustitución de la es un sueño (mío y de muchas). Para que se realice es necesario
lengua materna –esa mediación necesaria de la palabra que co- aumentar el prestigio de la lengua materna, para dejar de sentir
munica experiencia- por una lengua convencional lleva a olvidar vergüenza por no ser angloparlantes. Habría que traer al mundo
que la mediación –los signos linguísticos- está en relación nece- de la ciencia el orden simbólico de la madre. Y otra anécdota. La
saria con un inmediato”. Comparto las palabras de Luisa Mura- médica de cabecera de mi hija adolescente a quien acompañé la
ro: “La conciencia de la mediación necesaria, que caracteriza a semana pasada en su visita (que es una profesional muy buena),
nuestra cultura, ha desembocado en un régimen de mediación al resumir un diagnóstico certero (en mi opinión) se me discul-
130 131
tal que en virtud del cual se pretende que aquello de lo cual ha- pó por no haber leído la bibliografía inglesa sobre el problema,
blamos supuestamente ya no es el mundo de la experiencia, sino pues -me dijo, con su sonrisa de justificación- “-es que yo no leo
del mundo de palabras, es decir, de mediaciones ya establecidas, inglés” (!justificarse ella que solo tiene oficialmente 10 minutos
y este régimen es la máscara más reciente del poder constituido, de consulta para cada paciente! aun me duele) Yo le dije, “-¿sa-
su máscara postmoderna”. Creo, como Milagros Rivera, que la bes que al próximo congreso llevo una ponencia para defender el
felicidad consiste en eso, en tocar la realidad. uso del español?” Se le iluminaron sus vivos y perspicaces ojos. Y
Porque el mundo en que puede despuntar, desarrollarse y ante su sorpresa me ví justificándome con los DATOS:... pues es
tener sentido la vida, es un círculo de cuerpo y alma. Porque en el que hay 440 millones, está aumentando las revistas de impacto
mundo desprovisto de simbólico solo existe ciega repetición; en en español... En fin, todo un spot publicitario con los datos de
el mundo de lo simbólico convencional solamente tiene lugar lo situación de la ciencia en lengua materna (que tenía preparados
previsible. Porque el convencionalismo no hace orden simbólico. para uds. y que presento a continuación). Como un homenaje a
la práctica profesional sanitaria cotidiana de tantas médicas de Venezuela 3 - 3 0.60 5 1 4
familia de habla hispana. Colombia 1 1 2 - - - -
Cuba 1 - 1 1 1 - 1
Uso del español en el ámbito de la ciencia de impacto interna-
Ecuador 1 - 1 1 1 - 1
cional: ISI-WOS
Costa Rica 1 - 1 1 1 - 1
¿Está aumentando el uso y el prestigio del español como lengua Uruguay 1 - 1 + - - -
científica en la comunidad científica internacional? Para contestar a
Portugal - 1 1 + - - -
esta pregunta he analizado el idioma de las revistas más prestigiosas
101 32 132 1.80 73 11 62
o de alto factor de impacto que son -aunque pueda discutirse este
criterio- las registradas en la base de datos JCR (Journal Citation Re- Elaboración propia. Fuente: ISI - JCR (Science edition, Social Science edi-
tion): 2008, 1998.
ports) del Institute for Scientific Information- y lo he hecho compara-
do los datos del momento actual con los de una década antes, años
2008 y 1998. En el entorno europeo y mundial más relevante, el crecimien-
La comparación de los datos revela que el número de revistas to ha sido menos intenso, salvo en el caso de China y España, que
de los países hispano parlantes ha aumentado globalmente, pasan- han vivido un crecimiento extraordinario, no observándose más
do de 73 revistas en 1998 a las 132 indexadas diez años después. cambios significativos en la dirección o ritmo de países o grupos de
Ese incremento ha sido mayor en el campo de las ciencias huma- ellos que denoten una política científica determinada. Encontramos
nas y sociales (donde casi se ha han triplicado las revistas, 11 y 32) una tasa de crecimiento medio muy inferior a la hispana (1.80, es
que en las de la naturaleza y tecnología, donde no se ha llegado ni decir, un 80%), pero las distancias entre países siguen aumentando,
a duplicar el número de revistas de países iberoamericanos (62 en como sabemos, porque el crecimiento es proporcional al tamaño
1998 y 101 en 2008), como puede verse en la gráfica adjunta. La adquirido previamente. En la siguiente tabla se ofrecen los datos
distribución de países productores del mayor número de revistas de cada país y tipo de ciencia, así el valor numérico del crecimiento
son, por este orden; los siguientes: España, Brasil, México, Chile y (expresado en forma de razón o ratio del cambio en el que 1= se
Argentina, como se refleja en la siguiente tabla. mantiene el tamaño; 2= se duplica su tamaño):
132 Tabla 2. Evolución del Nº de revistas de impacto de varios países según el 133
Tabla 1. Distribución por países productores de las revistas de alto factor de
tipo de ciencia.
impacto.
2008 2008 Total Creci- Total 1998 1998
2008 2008 Total Creci- Total 1998 1998
SCI SSCI 2008 miento 1998 SSCI SCI
SCI SyAH 2008 miento 1998 SSyAH SCI
2008:1998
2008:1998
España 37 16 5215 2.08 25 3 22 Francia 150 22 172 0.91 188 23 165
México 12 6 18 2.00 9 4 5 Inglaterra 1.423 486 1809 1,32 1361 325 1036
134 en que parecía preferirse la etiqueta de revista de lengua inglesa, Costa Rica - - - - - 1 135
inclusive para las que seguían siendo predominantemente o casi ex- Uruguay - 1 - 1
clusivamente de lengua española (como fue el caso de Medicina Clí- Portugal 1 - - - -
nica de Barcelona). Por ejemplo, estaban así catalogadas 18 de las Total 7 20 5 34 26 41
22 españolas revistas (incluidas las que nunca pasaron a publicarse Elaboración propia. Fuente: ISI-JCR : 2008.
en inglés, aunque integraron artículos en ese idioma), y 13 de las 17
brasileñas, pero lo más destacado es que hace diez años ninguna de En números absolutos vemos que el español iguala al inglés
las revistas españolas figuraba como de lengua española, y ninguna entre las revistas españolas, pero no hay evidencias –en esta ven-
de las brasileñas como de lengua portuguesa. tana de la excelencia y de predominio de las ciencias experimenta-
El análisis del idioma de publicación de cada una de las 100 les- de una política de promoción de su lengua materna, ni en este
revistas de países iberoamericanos seleccionados por la famosa país europeo ni en ningún otro de los americanos16. La compara-
base de datos norteamericana del Institutte for Scientific Informa-
ción con otros países europeos, especialmente Francia e Italia, que comparativamente los hechos, hemos establecido como valor de
representan dos tradiciones de política cultural y nacional casi to- cambio el del español en 2008, lo cual nos permite decir que: 1)
talmente opuestas, indica que la política de promoción del “patri- hay doble de artículos circulantes en francés y alemán que en es-
monio cultural” que es la lengua (o habría de decir “matrimonio” pañol; 2) que el español y portugués se usa mucho más (el triple)
cultural) es un factor relevante de la visibilidad de la lengua mater- que el italiano, ruso o japonés (llama la atención el italiano, pues el
na. La siguiente gráfica retrata el distinto lugar que ocupa la lengua numero de revistas es alto y su peso científico parece considerable)
materna en los países del contorno europeo y misma tradición de En tercer lugar, la comparación con los datos de 1998, explica este y
promoción de sus lenguas vernáculas en sustitución del latín, la an- otros hechos: que el italiano cedió su lugar al inglés en esta década,
tigua lengua franca17 y de las lenguas de países emergentes del siglo que el portugués es el idioma emergente de la última década, segui-
XX. El número de artículos registrados por ISI en sus tres bases Arts do del español y el chino; y que otros idiomas mantiene su fuerte
and Humanities, Sociales Sciences Citation Index y Sciencie Citation presencia, sin cambios en su producción o sus hábitos de lectura/
index se ofrece en la tabla siguiente. escritura científica (fr, ger). La mejora de la difusión científica en
otros idiomas distintos del inglés se halla relacionado con una polí-
Tabla 4. Análisis comparado de la evolución del uso del español y otras
lenguas maternas distintas del inglés en la producción científica de alto
tica comercial en un mundo globalizado de aumento de las publica-
factor de impacto. ciones y la diversidad de lenguas de la base de ISI-Thompson, con
la capacidad y necesidad de difusión que tienen las grandes distri-
LENGUA Nº artículos Ratio Nº artículos Tasa de creci-
buidoras como Elsevier o Science Direct, con las ediciones electró-
publicados X / español publicados miento
2008 1998 2008:1998 nicas que proporcionan casi todas las revistas, y con la costumbre
establecida universalmente de acompañar toda publicación con un
Alemán 25.346 2.00 24.363 1.04
resumen en inglés; un resumen que cada vez es mejor, más extenso
Francés 22.470 1.77 25.441 0.88
y protocolizado permitiendo realizar una excelente selección de la
Español 12.682 1.00 5.942 2.13
información requerida, de modo que muchas veces se sustituye sin
Portugués 7.233 0.57 877 8.24
problemas la lectura atenta del texto completo por su resumen en
Chino 7.131 0.56 1.979 3.60
inglés. Hoy puede defenderse, desde el punto de vista de su ren-
Italiano 4.530 0.35 4.471 1.03 tabilidad científica y económica, el uso de lenguas nacionales en
136 Ruso 3.922 0.30 10.074 0.38 137
producción científica destinada al consumo extradoméstico o de
Japonés 1.867 0.14 2.894 0.64 circulación internacional.
Elaboración propia. Fuente: ISI-WOS (SCI, SSCI, AHCI), 2008, 1998. El estudio de la lengua en la que se “escribe” la nueva cien-
cia (investigación) debe completarse con el estudio de la lengua en
De los datos presentados podemos subrayar tres aspectos. que se “lee” la nueva ciencia. Eso quiere decir que la lengua debiera
En primer lugar, que después del inglés, el idioma más utilizado en estar incluida entre los parámetros de variables de análisis de los
la producción científica es el alemán, seguido del francés; y que en patrones de uso o consumo de la ciencia en la comunidad científica
tercer y cuarto lugar por el número de artículos relevantes se hallan internacional. Pero no es así. No lo es porque la principal fuente
nuestras lenguas maternas: el español y portugués. A cierta distan- de información de las citas, la norteamericana ISI-WOS no incluye
cia según su tamaño se halla la producción científica relevante en este ítem entre los campos de selección accesibles al gran público,
ruso, chino y japonés. En segundo lugar, y para resumir y medir como puede observarse en la siguiente figura. Ello explica proba-
blemente por qué el excelente trabajo de la “Red Iberoamericana de números absolutos del nºde artículos en italiano, alemán, y fran-
Indicadores de Ciencia y Tecnología” (RICYT), creado en 1994, cés. En el conjunto destaca la emergencia del español, como pude
no lo ha incluido entre sus 47 indicadores, como puede apreciarse apreciarse en la tabla.
en la siguiente tabla18.
Tabla 5. Evolución del nº de artículos de medicina según idiomas registra-
La edición durante algunos años del índice nacional de ci- dos en PubMed: 1970-2010.
tas de las publicaciones españolas (IMECITAS) evidenció el uso
habitual de las revistas no incluidas en el índice de ISI justifican- Lengua Total artí- 2000-09 1990-99 1980-89 1970-79 Habi-
culos tantes
do su continuidad y la moderación de una política de excelencia
Inglés 15.371.221 5.785.256 3.761.236 2.512.921 1.627.312
y dependencia internacional, pero no aportó resultados concretos
sobre la tasa de trabajos publicados en español citados en ellos. Las Francés 643.348 89.754 93.922 111.859 127.279
observaciones escolares que desde 1987-88 vienen realizando mis Italiano 287.405 19.662 31.389 48.280 45.814
estudiantes de Medicina en Zaragoza ponen de manifiesto que el Alemán 775.943 80.866 103.394 140.149 194.855
porcentaje de cita en español en revistas españolas es muy bajo, Es- 265.665 66.590 54.928 43.895 32.669
pañol
tanto en las de alto factor de impacto como en las no indexadas o
Portu- 69.729 20.143 10.563 8.840 9.768
rechazadas por ISI o PubMed (es decir de bajo nivel de interna- gués
cionalización o consumo doméstico, como suele decirse utilizando
terminología mercantil). En términos generales, se sitúa entre el La producción científica de medicina por países nos mues-
5% y el 10%, según las especialidades. Lo cual viene a indicarnos tra los principales productores, que son España, Brasil, México,
que los autores y autoras estamos realizando una selección de los Portugal, Argentina, con más de 20.000 artículos (promedio de
trabajos consultados o leídos que merecen ser citados que implica 2000/año), seguidos a distancia de 8000 o menos por Chile, Co-
una promoción y reconocimiento de los artículos escritos en len- lombia, Venezuela y Cuba.
gua inglesa que gozan de mayor prestigio, reproduciendo y magni- El análisis del porcentaje de trabajos publicados en len-
ficando, así, el circuito del desvalimiento de la lengua materna que, gua materna (español o portugués) no muestra correspondencia
si se usa, no deja huella. positiva con el tamaño de la ciencia de estos países, como puede
138 Lengua materna y ciencia en profesiones populares: el caso de observarse en la siguiente tabla que revela que sólo el 4,3% de la 139
la medicina producción firmada por instituciones brasileñas se escribe en por-
tugués; o que el 90% de la producción médica argentina se escribe
En el conjunto de las ramas del saber, el mayor uso de la lenguas ma- (y se lee) en inglés u otros idiomas, mientras que la producción
terna corresponde a las ciencias de la vida y del entorno y tradición española editada en español solo representa el 15% de su produc-
cultural, especialmente la medicina (por ejemplo, lo son 20 de las ción. Como sabemos, un alto porcentaje de esa producción no se
37 revistas ISI españolas y 6 de las 28 brasileñas). En esta segunda publica en revistas de sus respectivos países sino en las revistas
parte, he centrado centrado el análisis en el campo de la medicina anglosajonas (británicas, canadienses, suecas y estadounidenses).
revisando la base de datos bibliográfica más popular en el mundo, Estos datos no dejan lugar a dudas acerca del proceso histórico en
que es de acceso libre y gratuito a través de internet: PubMed. el que estamos inmersos: a mayor tamaño o dedicación científica,
Se observa un incremento sostenido de los artículos pro- mayor grado de internacionalización y mayor pérdida de uso de
ducidos inglés, español y portugués y una reducción también en la lengua materna. Asimismo lo indica el estudio del nº de revis-
tas (14) que muestra un porcentaje bajo de revistas catalogadas como se muestra en la gráfica: descontadas las inglesas (4.500), ve-
como multilingües. mos que las españolas, portuguesas e italianas conforman un tercio
del conjunto, mientras los otros dos tercios los conforman las revis-
Tabla 6. Distribución de los artículos en español por países y porcentaje de
uso de lengua materna.
tas médicas francesas y las alemanas.
PAÍS Artíc./país Artíc./lengua Nº revistas Artíc./lengua Tabla 7. Distribución del nº de revistas y artículos por paises e idioma de
2000-2009 materna Registro materna publicación.
1970-2010 total 2000-2009
PAÍS Artículos por Artículos en len- % de uso de
1960-2010
país 2000-2009 gua materna lengua materna
España 133.559 25.798 345 21.363 2000-2009 por país
Brasil 88.118 4.181 309 3.848 Colombia 3.608 1.054 29,21
México 31.103 8.159 157 4.495 Cuba 2.637 724 27,45
Portugal 21.198 812 70 754 Venezuela 3.199 788 26,63
Argentina 19.559 3.710 156 1.932 Costa Rica 811 215 26,51
Chile 8.808 4.713 66 2.230 Chile 8.808 2.230 25,31
Colombia 3.608 1.184 60 1.054 Perú 1.171 240 20,49
Venezuela 3.199 1.343 36 788 El Salvador 66 12 18,18
Cuba 2.637 1.246 48 724 España 133.559 21.363 15,99
Uruguay 1.641 197 29 121 México 31.103 4.495 14,45
Perú 1.171 387 47 240 Bolivia 153 19 12,41
Costa Rica 811 374 13 215 Argentina 19.559 1.932 9,87
Ecuador 613 92 11 54 Ecuador 613 54 8,80
Panamá 511 193 9 26 Nicaragua 103 9 8,73
Paraguay 406 28 3 23 Uruguay 1.641 121 7,37
Bolivia 153 36 7 19 República 35 2 5,71
140 141
Nicaragua 103 14 2 9 Dominicana
El Salvador 66 14 6 12 Paraguay 406 23 5,66
República 35 14 16 2 Panamá 511 26 4,89
Dominicana Brasil 88.118 3.848 4,36
Portugal 21.198 754 3,55
El estudio de las revistas muestra un crecimiento progresi-
vo del nº de revistas indexadas hasta conformar las 1.117 revistas En este panorama, ciertamente desesperanzador de la pro-
editadas en español registradas desde 1960 en Medline/Pubmed, ducción científico médica relativa en la lenguas maternas de nues-
de las que la mayoría corresponden a los principales productores: tro entorno latinoamericano en el campo de las ciencias de la sa-
de de Chile (66), Colombia (60), Cuca (48) y Perú (47). La pro- lud, además de otras importantes iniciativas de cambio de la pauta
porción de revistas en español es, sin embargo, “relativamente baja” cultural de las décadas anteriores que he resumido al principio, se
ha producido un hecho que significa una verdadera apuesta por está la información completa o no, ni siquiera si se ha incluido o no
el arraigo del español científico. Se trata del macroproyecto de la tal o cual término, faltando enlaces o definiciones que solo pueden
versión española del vocabulario de indexación o codificación de la detectar quienes tenemos costumbre arraigada de usar la versión
información científica de PubMed/Medline que conforma un the- original inglesa y/o la necesidad de analizarlo y enseñarlo.
saurus o red semántica de sus más de 35.000 términos. El famoso, Como era de esperar, este proyecto internacional (vinculado
autorizado y refernte mundial en terminología científico médica a otro similar europeo de edición multilingüe y nivel e Atención
MeSH (Medical Subject Headings) ya tiene su versión hispana: el Primaria que no ha tenido el éxito debido), delata en su estilo de es-
DeCS (Descriptores de Ciencias de la Salud), que sigue crecien- critura su dependencia del “english”. Al leer muchas de sus entradas
do y mejorando su calidad desde 2004, liderado por IBECS como y definiciones una tiene la impresión de que se les haya olvidado
puede verse en la imagen. Es un ejemplo de otro frente de acción a su lengua cuando traducen del inglés; lo mismo me sucede al leer
favor de la lengua materna. artículos científicos en español, que parece que sus autores hayan
aprendido de la materia biomédica directamente desde el inglés,
Tabla 8: Distribución por grandes idiomas de las revistas registradas en
PubMed (2010).
como si hubieran borrado de su memoria personal cómo se decía
-se dice- eso en su idioma, en su lengua materna. Como si no tuvié-
ramos linaje, genealogía, y fuéramos huérfanos recién nacidos a la
ciencia o la medicina.
Creo que tienen razón las sabias feministas de la diferencia
sexual que tanto advierten sobre los límites de lo legal y formal o
institucional y nos invitan a poner la mirada en la creación de sim-
bólico, de significado. Me parece que cuando entramos a “la iglesia
de la ciencia”, hombres y mujeres, perdemos la cabeza, nos des-
pojamos de nuestras voces con las que pensamos y conformamos
la conciencia, con las voces que hablamos cotidianamente (y con
nuestros pacientes, alumnos o colegas) y, de ese modo, constreñi-
dos o, mejor dicho, “vendidos” o enajenados nos expresamos tra-
142 143
duciendo, no desde el orden simbólico de la madre y de la cultura
El DeCS es un instrumento científico que facilita el trabajo del lugar (popular en el sentido gramsciano), sino desde el orden
en nuestro orden simbólico. Permite acceder desde la lengua ma- simbólico (masculino) de la ciencia, que es un engranaje del orden
terna a esa imprescindible fuente de información que es PubMed, social imperial (global) y mercantilizado, que no está regido por las
y es utilizada no sólo para la creación de nueva ciencia (investiga- relaciones personales y las necesidades humanas sino por el desa-
ción) sino para la resolución de problemas profesionales cotidia- rrollo del consumo, incluido el consumo de la industria farmacéuti-
nos: diagnósticos, pronósticos y tratamientos). El thesaurus DeCS ca o biotecnológica. Cuando los científicos y las científicas trabajan,
es un instrumento muy utilizado según las especialidades (más en piensan, leen y escriben de ciencia tan alejados de sí, de la vida y sus
salud pública o medicina legal que en microbiología) y que yo re- necesidades resultan menos perceptibles esos intereses espurios de
comiendo con precaución, porque está en pleno desarrollo y no se la ciencia. Con la lengua franca de la ciencia perdemos libertad (y
advierte bien de ello: no se indica en cada término de los 35.000, si temple) y quizá no ganamos conocimiento, pues sin las palabras
que aprendimos de la madre (o la que en su lugar) perdemos la mez, Verónica Vivanco Cervero. El español. lengua para la ciencia y la tecnología. pre-
sente y perspectivas de futuro. Madrid, Santillana -Instituto Cervantes, 2009.
sonrisa y la malicia que necesitamos para que las palabras nombren
las cosas que conocemos. 5 Las acciones propuestas para la difusión internacional de la investigación en lengua
española son: 1) Intensificación de la docencia del español en C y T; 2) Intensifi-
Como conclusión práctica, en el sentido más institucional, cación y obligatoriedad de los cursos de español aplicado a la ciencia y tecnología
propongo que se adopte una medida política científica muy fácil para los alumnos Erasmus en España; 3) Formación de estudiantes extranjeros en
como es incluir el idioma de la publicación entre los parámetros las universidades españolas; 4) Organización de talleres periódicos de escritura téc-
nica en países hispanoparlantes y no hispanoparlantes; 5) Organización de talleres
analizados en informes bibliométricos periódicos que suele gene- audiovisuales con soporte en Red; 6) Creación de cursos de español científico y
rar cada país de nuestro entrono iberoamericano. Creo que es fá- técnico con soporte audiovisual; 7) creación de escenarios de trabajo informales en
cil añadirlo cuando observo el enorme esfuerzo desarrollado por entornos virtuales; 8) Intensificación de las jornadas sobre divulgación de la ciencia
española e hispana en el extranjero; 9) Intensificación de los congresos científicos
nuestros colegas de la red iberoamericano de ciencia y tecnología, y técnicos que tengan al español como lengua vehicular; 10) Creación de convoca-
responsables de estos indicadores y cuento que han consensuado torias para científicos e ingenieros de titulación reciente pertenecientes a países no
nada menos que 47 indicadores. Añadir un indicador más, el por- hispanohablantes; 11) creación de convocatorias de proyectos científicos y técni-
cos que tengan el español como lengua vehicular para redes de trabajo entre países
centaje de la producción científica en la lengua materna (español hispanohablantes y no hispanohablantes; 12) Fomento de la industria de la lengua;
o portugués) y lengua de la ciencia (inglés) en cada país y campo 13) Explotación de bases de datos científicas regionales, nacionales y extranjeras;
científico19. 14) Intensificación de las publicaciones científicas y técnicas en lengua española
por parte de editores, asociaciones y fundaciones; 15) Fomento de la presencia
de libros científicos y técnicos publicados en español en bibliotecas de pasases no
hispanohablantes; 16) Fomento del español de negocios aplicado a la ciencia; 17)
NOTAS Creación de una agencia de prensa científica hispánica; 18) Creación de una revista
Erasmus de ciencias y tecnología para europeos en España; 19) Creación de una re-
1 Organizado por el Instituto de Filosofía del CSIC de Madrid y desarrollado el día 9 de
vista Erasmus de ciencia y tecnología para estudiantes españoles y extranjeros fuera
octubre de 2007, puede verse el programa y su contexto en: http://www.pensarenes-
de España; 20) Creación de nuevos índices de calidad de la investigación. Véase El
pan-ol.es/martes9_act02.htm.
español. lengua para la ciencia y la tecnología, Madrid, Santillana, 2009, pp. 110-134.
2 En mi ponencia que titulé “¡pensar la ciencia en español!. Español vs. english: batallas
7 Vivanco Cervero, Verónica. Vías de actuación para el fomento y la difusión del es-
sensatas e insensatas”, el conjunto de las actividades que personalmente había obser-
pañol científico y técnico. En: El español. lengua para la ciencia y la tecnología, Madrid,
vado en el campo de la biomedicina fueron presentadas en orden temporal como las
Santillana, 2009, pp. 110-134.
horas de un reloj de saetas: 1) evaluación de revistas según idioma, 2) ediciones en
inglés y español de algunas revistas, 3) fomentar que las bases de datos bibliográ- 7 Miqueo, Consuelo. Evolución histórica de los diccionarios. Archivos de la Facultad de
144 ficas indexen más revisar en español; 4) traducir más textos científicos al español; Medicina de Zaragoza 41 (1):81-85, 2001. 145
5) mejorar la distribución de revistas electrónicas en español (Scielo, Rebiun, Latin-
8 Braidoti, Rosi, “El sujeto en el feminismo”, En: Feminismo, diferencia sexual y subjetivi-
dex); 6) versión al español de lenguajes de codificación, thesaurus o buscadores de
dad nómade. Barcelona, Gedisa, 2004. pp. 9-31. La literatura específica que ha desarro-
información; 7) becas; 8) enseñar en español; 9) promover congresos internacionales
llado esta idea es muy extensa. En mi caso concreto, desde la lectura del No creas tener
en español; 10) promover la coordinación española de proyectos internacionales; 11
derechos, de varias autoras del círculo de la Librería de Mujeres de Milán (Madrid, horas
otros.
y horas, 1991) y Nombrar el mundo en femenino de Milagros Rivera (Barcelona, Ica-
3 Miqueo Consuelo, Concha Germán Bes, Teresa Fernández Turrado y Mª José Barral ria, 1995), he practicado el “partir de sí” en todos mis escritos científicos desde aquel
Morán. Disparidad de género en los órganos de dirección de las revistas biomédicas es- inicial y comprometido en que ponderaba esta corriente filosófica y política. Véase:
pañolas (2007). Madrid, Instituto de la Mujer (edición PDF) accesible en: http:// Miqueo, Consuelo. Contrastar experiencias: diversidad de modelos para las científicas.
www.inmujer.migualdad.es/mujer/mujeres/estud_inves/Miqueo.pdf. Véase sobre el Una mesa redonda. En: Barral MJ et al. (eds.) Interacciones ciencia y género. Discursos y
mismo tema y autoras la monografía Ellas también cuentan. Científicas de los comités de prácticas científicas de mujeres. Barcelona, Icaria, 1999, pp. 291-298.
revistas del area de salud. Zaragoza, Prensas Universitarias.de Zaragoza (en prensa).
9 Braidotti, Rosi. Sobre el sujeto feminista femenino o desde el “si mismo.mujer” hasta el
4 Arias-Salgado Rosby, María José, Montaña Cámara Hurtado, Begoña Granadino “otro “ mujer. En: Feminismo, diferencia sexual y subjetividad nómade. Barcelona, Gedisa,
Goenechea, Jose Antonio López Cerezo, Daniel Martín Mayorga, Luis Plaza Gó- 2004. pp. 33-54.
10 Véase el capítulo “Lengua materna, lengua de empresa”. Barbieri, Punuchia, Lia A, Miguel-Dasit A, González de Dios J, De Granda Orive JJ. Español frente a inglés
Cigarini, Vanna Chiarabini, Serena Fuart, Silvia Motta, Oriella Savoldi, Chirstiane como idioma de publicación y factor de impacto de neurología. Neurología 2007;
Vaugeois. En: Palabras que usan las mujeres. Madrid, Horas y horas, 2008, pp. 17- 22(1): 19-26.
21.
18 Los informes periódicos de la entidad son de obligada consulta para conocer los
11 Luce Irigaray. Sexes et genres à travers les langues. Paris, Grasset, 1990. Pueden verse indicadores de cada país y conocer el proceso de consenso llevado a cabo en el que
algunos de estos ejemplos en la versión española de Luce Irigaray. Amo a ti. Bosque- destaca el Acuerdo de Lisboa.
jo de una felicidad en la historia. Barcelona, Icaria, 1994, pp. 119-140.
19 La Red de Indicadores de Ciencia y Tecnología -Iberoamericana e Interamericana-
12 Ha sido muy citado el pionero y relevante artículo, publicado en la prestigiosa (RICYT), nació en 1994 y desde entonces ha organizado seis congresos internacio-
Science hace casi veinte años, por Marcia Barinaga: Is there a “female style” in scien- nales y numerosos jornadas ypaneles de expertos para lograr los consensos y datos
ce? Science 1993; 260:384-391. En nuestro ultimo estudio comprobamos que la necesarios. Su base de datos es ineludible. Véase la sección de indicadores biblimé-
mayoría de las mujeres no estaba de acuerdo con la caracterización dicotómica del tricos accesible en su página web institucional, donde puede observarse el valor que
estilo de escritura científico que sometimos a valoración mediante encuesta dirigida la entidad otorga al idioma español o portugues de estos países. http://www.ricyt.
a la Red española de mujeres profesionales de la salud. La idea de que “el estilo de org/index.php?option=com_content&view=article&id=149&Itemid=3.
los artículos científicos se adapta mejor al estilo de comunicación masculina que a
la femenina” es una opinión con la que manifestaron máximo acuerdo el 42,62%.
La idea de que “el estilo de comunicación científica masculina se caracteriza por ser
escrito, informativo, objetivo, cuantitativo y analítico” produjo máximo o bastante
acuerdo (63%), mientras que algo menos de la mitad compartía la idea de que “el
estilo de comunicación científica femenina se caracteriza por ser oral, comprensivo,
explicativo, empático y holista”. Véase: http://www.inmujer.migualdad.es/mujer/
mujeres/estud_inves/Miqueo.pdf.
13 Luce Irigaray: Amo a tí. Bosquejo de una felicidad en la historia. Barcelona, Icaria, 1994,
p. 114.
14 Luisa Muraro. El orden simbólico de la madre. Madrid, Horas y Horas, 1994, p. IX.
15 Una de las revistas españolas (Dynamis) se halla incluida en las dos ediciones (cien-
cias y ciencias sociales), lo que es un caso excepcional que debe interpretarse como
un defecto de clasificación de una reciente incorporación a la base, que como cri-
terio de adscripción de las revistas de áreas interdisciplinares como es la historia y
filosofía de la ciencia.
16 Entre las iniciativas más relevantes de promoción del español y de promoción del
146 internacionalismo de la ciencia española debemos citar las siguientes: centralización 147
desde la FECYT del contrato de acceso a la propia bases de datos con presupuesto
millonario, creación de SCIELO, un portal de difusión electrónica gratuita de revis-
tas biomédicas, financiación de la edición bilingüe de revistas, determinación de los
criterios de calidad de las revistas y correlación con los criterios de evaluación de
los investigadores, organización de reuniones de expertos y simposios sobre el tema
del español, promoción de la divulgación científica en español y acceso a internet.
Para una visión de la estrategia global remitimos a Vivanco Cerbero, 2009, pp. 110-
134).
17 Los estudios históricos sobre el uso del latín y emergencia de las lenguas vernácu-
las son muy nuerosos. Podemos citar la síntesis mas reciente y de amplia difusión,
como es el Bertha Gutiérrez, así como los resultados de algunos tipo sobre el facror
de riesgo que significa el uso del español para alcanzar el deseado imacto científico.
Véase el erespecto: Aleixandre-Benavent R, Valderrama-Zurián JC, Alonso-Arroyo
6
MUJERES PIONERAS EN LA CIENCIA ARGENTINA
Diana Maffía
Introducción
La ciencia moderna llega a la Argentina a través de los jesuitas, produ-
ciendo una relación extraña entre la educación formal religiosa y los
centros laicos que comienzan a florecer fuera de las universidades y
escuelas1. De cualquier modo, las ideas revolucionarias políticas que
acompañaban la difusión de nuevas ideas científicas no alcanzan a in-
corporar a las mujeres al saber y a la ciudadanía. Pero rastrear estos
datos es enormemente difícil.
Como señala Alicia Palermo2, los pocos datos disponibles en
nuestro país sobre la participación universitaria según sexo se inicia
en las primeras décadas del siglo XX con datos no comparables entre
universidades (CUADRO 1).
Sólo a partir de 1941 se cuenta con registros acerca de matrícu-
la y titulación universitaria según sexo y carrera.
A partir del análisis de los datos disponibles, Palermo distingue
149
cuatro períodos diferenciados en cuanto a la participación de las mu-
jeres en los estudios universitarios. El primero va desde que se crea la
primera universidad - en 1613, el Colegio Jesuítico, que en 1622 se
transformó en la Universidad de Córdoba- hasta principios del siglo
XX y se caracteriza por la ausencia de mujeres en los estudios univer-
sitarios, salvo unas pocas pioneras que obtuvieron su título fines del
siglo XIX (como veremos, a partir de1889).
El segundo período se extiende desde principios del siglo XX
hasta la primera mitad de la década del sesenta y se caracteriza por
un incremento paulatino pero constante de la participación femeni-
na en los estudios universitarios, de modo tal que si en el quinquenio
1900-1905 sólo el 0,79% de los títulos universitarios de todas las uni- una leve tendencia a aumentar. Según el último Censo de estudian-
versidades nacionales fueron otorgados a mujeres, en el quinquenio tes de Universidades Nacionales (1994), las mujeres constituyen
1961-1965, los valores porcentuales habían aumentado al 28,20%. el 52,2 % de los esudiantes a nivel nacional, quedando un grupo
Una característica importante de la participación femenina de esta reducido de carreras no feminizadas. 3
etapa fue la concentración de las mujeres en carreras consideradas
“típicamente femeninas” (ciencias de la educación, letras, ramas me- Médicas: Cecilia Grierson
nores de las ciencias médicas, etc.). Sin duda, la obtención de su doctorado en medicina en 1889 con-
CUADRO 1 – Cuadro Títulos otorgados a varones y mujeres en todas las vierte a Cecilia Grierson en el paradigma de las mujeres pioneras en
carreras de las universidades nacionales. Posición relativa por quinquenio. la ciencia argentina (FIGURA 1).
Valores absolutos; Valores relativos.
FIGURA 1 – Cecilia Grierson en 1894.
Período Varones Mujeres Total Varones Mujeres
1900/05 1367 11 1378 99,21 0,79
1906/10 1783 25 1808 98,62 1,38
1911/15 2860 122 2982 95,91 4,09
1916/20 4401 418 4819 91,33 8,67
1921/25 6948 825 7773 89,39 10,61
1926/30 7505 807 8312 90,30 9,70
1931/35 8680 999 9679 89,68 10,32
1936/40 11055 1771 12926 86,20 13,80
1941/45 15196 2824 18020 84,33 15,67
1946/50 18720 3747 22467 83,33 16,67
1951/55 21421 5763 27184 75,85 24,15
1956/60 27475 8752 36227 75,85 24,15
La doctora Grierson nació en Buenos Aires en 1859. Fue pio-
1961/65 27796 11705 41501 71,80 28,20 nera en la Argentina de su época, no sólo por su dedicación a la cien-
150 151
Fuente: Evolución de la mujer en las profesiones liberales en Argentina. cia sino también como activista feminista por su abnegado trabajo
Ofi cina Nacional de la Mujer,. Ministerio de Trabajo. 1970. Citado por Ma- en la lucha por los derechos de la mujer. Cuando la ciencia era por
glie y Frinchaboy, 1988.
más de 100 años solo un universo masculino, soportó un ambiente
El tercer período abarca desde mediados de los sesenta hasta angustiante y de burlas por parte de sus compañeros en la Facultad
mediados de los ochenta y en él se produce un incremento más mar- de Medicina de la Universidad de Buenos Aires.
cado, ya que sólo en dos décadas la participación de las mujeres en Había tenido una precursora de trágico fin: Elida Pazos, pri-
la universidad aumenta del 30% al 50%, es decir, llega a igualar a la mera mujer farmacéutica universitaria, que luego de recibir ese titu-
masculina. Este incremento está acompañado de una diversificación lo quiso seguir Medicina y no se lo permitieron. Debió presentar un
de las opciones de carreras por parte de las mujeres. recurso de amparo en la justicia y así consiguió cursar hasta quinto
Finalmente el cuarto período se caracteriza por una relativa año de medicina en la Universidad. Casi al final de su carrera, la tu-
estabilización de la participación femenina universitaria, aunque con berculosis termina prematuramente con su vida.4
A Cecilia Grierson no le prohiben el ingreso, pero para disua- Grierson viajó 3 veces a Europa. Al regreso del primer via-
dirla le agregan como condición pedagógica, junto a su título acadé- je funda el Consejo Nacional de Mujeres (1900) y la Asociación
mico (que pocas mujeres poseían) cinco niveles de lengua latina. De- Obstétrica Nacional (en 1901). Trajo también conocimientos
bió preparar y dar libres esos exámenes en un colegio que prohibía la con los que introdujo la kinesiología en las aulas de la Facultad
incorporación de mujeres, y así en 1883 logró entrar a la Facultad. de Medicina.
Mucho antes, cuando era poco más que una adolescente, Ce- Su obra médica más ambiciosa, Cuidado de los Enfermos
cilia Grierson fundó, en la Escuela Normal de Maestras (en la que yo (1912) estaba en proceso de revisión cuando cayó enferma de
misma me recibí en 1970, siendo todavía una “escuela de señoritas”) cáncer de útero, un mal que había atendido por años en los que
una biblioteca de más de 300 volúmenes a la que llamó “El estímulo trabajó en el servicio de ginecología. Murió el 10 de abril de 1934,
argentino”. Y antes aún, de niña y junto a su madre, en la Provincia a los 74 años (FIGURA 3).5
de Entre Ríos donde pasó su infancia, daba clases de lectura y mate-
máticas a chicos analfabetos en una escuela rural. Cecilia Grierson fi- FIGURA 3 – Cecilia Grierson.
naliza su doctorado y, en 1889, presta el juramento hipocrático como
doctora y cirujana. En 1892 funda la Sociedad Argentina de Primeros
Auxilios. Mientras desarrolla su carrera, funda también la Cruz Roja
Argentina y la Escuela de Enfermeras (FIGURA 2).
FIGURA 2 – C. Grierson tomando exámen de Escuela de Enfermería.
Mujeres astrónomas
152 153
Argentina fue pionera en el desarrollo de la astronomía. Fue el pri-
mer país de Latinoamérica con telescopios y observatorios propios.
Como es previsible, las primeras mujeres pueden encontrarse en la
institución pionera, el Observatorio Nacional Argentino, fundado
en 1871. En un comienzo los empleados del Observatorio Nacional
fueron todos hombres: el director, el Dr. Benjamin Gould, y cuatro
ayudantes. Mary A. Quincy Adams, esposa del director, era la úni-
Participó del Primer Congreso Feminista Internacional, que ca mujer que junto a sus hijos vivía en los predios del observatorio
tuvo lugar en Buenos Aires para el centenario de la independencia en (FIGURA 4).
1910. Precisamente en mayo próximo tendremos el Segundo Con- Había nacido el 27 de agosto de 1834 en EE.UU. Mujer muy
greso Feminista Internacional, y evocaremos su figura. instruida, simpatizó e influyó mucho en el trabajo del Dr. Gould.
FIGURA 4 – Mary A. Quincy Adams de Gould. Cuando en 1885 el Dr. Gould renuncia a la dirección del
Observatorio Nacional, asume la misma su discípulo el Dr. John
Thome.Pocos meses más tarde Thome desposa a Frances Angeline
Wall (FIGURA 6).
FIGURA 6 – Frances Angelina Wall. A la izquierda junto a su esposo J.
Thome en 1885 en oportunidad de su casamiento.
158 159
Mujeres químicas:
En 1896 se creó en Argentina la carrera para acceder al título de
Doctor en Química. En 1901 egresa el primer graduado. La pri-
mera mujer en obtener el título de Doctora en Química en la Fa-
cultad de Ciencias Exactas fue Delfina Molina y Vedia, en1906.
En un libro escrito en su madurez, A redrotiempo, rememora: “Re-
cuerdo mi estreno como alumna universitaria como si fuese ayer.
Me destinaron una pequeña pieza que daba al Museo de Historia Delfina era sobrina del primer ingeniero egresado en 1870,
Natural, donde pasaba los recreos librándome del contacto con la Luis Huergo, que fue decano de la Facultad de Ciencias Exactas,
muchachada”(FIGURA 13). Físicas y Naturales.
Delfina ingresó en la carrera de química aunque estaba inte- mayor número de bases permanentes y temporarias y refugios, en
resada en el arte, y buscaba vincularlos en el pensamiento abstrac- el mundo.
to. Ella había elegido filosofía, pero en una reunión social un pro- Un ámbito inusual para el trabajo femenino es el de las biólogas
fesor de química la convenció de estudiar ciencias. Hizo la carrera que participaron de una campaña a la Antártida (FIGURA 15).
en tres años, y adelantando materias se fue a Francia a estudiar
FIGURA 15
pintura durante un año y medio. Luego de graduarse se dedicó a
la enseñanza, la filosofía y el arte (FIGURA 14).
FIGURA 14 – Olga Hanelo, Syma
Hosen y Ana Baidembaum (1937).
La siguieron María Jiménez de Abeledo, egresada a fines de En 1968 por primera vez pudieron incorporarse a la expedición
la década del 1920 y fallecida a los 103 años, y Ana Baidembaum mujeres, y las pioneras fueron Elena Martínez Fuentes, especialista en
y María Olga Hanelo que egresaron en 1937. A las tres se les hizo molúsculos y autoridad consagrada internacionalmente en biología;
un homenaje en el Programa de Historia de la Ciencia de la Uni- Irene María Bernasconi, la más destacada especialista de equinoder-
160 161
versidad de Buenos Aires.7 mos del país en esas fechas, ganadora del premio Eduardo L. Holmberg
en 1940, Carmen Pujal, profesora de ciencias naturales y especialista
Pioneras en la Antártida en algas rojas y María Adela Caría, experta en bacteriología marina.
En 1904 se fundó la primera base antártica permanente en el mun- El 7 de noviembre de 1968 zarparon a bordo del Transporte
do. Es argentina y continúa hasta el presente.Además, en 1951 se ARA “Bahía Aguirre”, formando parte de la Campaña Antártica 1968-
creó el Instituto Antártico Argentino. Fue la primera institución 1969. Su destino fue la Base Naval Melchior, habilitada periódicamen-
científica especializada del mundo; desarrolló un sistema de ba- te para estudios de biología marina ordenados por el Servicio de Hi-
ses, refugios y apoyo logístico. Las Campañas Antárticas cuentan drografía Naval (FIGURA 16).8
con el acompañamiento del Ministerio de Defensa, por tratarse de Allí realizaron investigaciones durante todo el verano en una
un lugar estratégico geopoliticamente. En lo que hace a la infraes- memorable aventura científica, en un lugar, prácticamente de dominio
tructura en la Antártida, hoy la Argentina es el país que posee el masculino y donde actualmente resulta difícil vivir.
FIGURA 16 – Las investigadoras en La Antártida en 1968. torio de Investigaciones Sensoriales (LIS), en la Universidad de
Buenos Aires (UBA) (FIGURA 17).
FIGURA 17 – Miguelina Guirao.
Introducción
La recuperación de los nombres, trayectorias y contribuciones
de las mujeres como académicas en la universidad, en la cien-
cia y la tecnología, ha sido trabajo de investigación en diversas
partes del mundo, y en particular ha sido parte del proyecto más
amplio de los estudios feministas que buscan transformar a la
ciencia y eliminar el androcentismo aún presente en estas activi-
dades. Lograr el reconocimiento de los aportes de las mujeres a
las distintas áreas del conocimiento, muchas veces atribuidos a
los hombres o registrados como anónimos, ha sido fundamental
mediante el desarrollo de estas iniciativas.
El análisis de la literatura en el tema1, muestra varios enfo-
ques o aproximaciones para abordar la historia de las mujeres en 169
la ciencia como campo de estudios, y se observa una diversidad
de trabajos que abordan desde los primeros hallazgos e inventos
de mujeres como Hypathia y sus aportaciones a la astronomía
y las matemáticas en el siglo IV o María la Profetisa en el siglo
XII2, hasta los descubrimientos más recientes de investigadoras
como Bárbara McClintock sobre los mecanismos de la transpo-
sición genética3, o las investigaciones de Rosalind Franklin so-
bre la estructura del DNA4.
La primera aproximación dentro de la historia de las mu-
jeres en la ciencia, analiza la incorporación y participación fe-
menina en las instituciones donde se ha practicado esta activi- Antecedentes
dad, abordando la historia del acceso limitado y los obstáculos En Iberoamérica, se realizan cada vez más trabajos con estas pers-
que han tenido las mujeres a la producción científica oficial y el pectivas, como puede verse en las publicaciones que se han elabo-
lugar que ocupan en instituciones como las universidades, las rado a partir de los congresos de Género, Ciencia y Tecnología7.
sociedades y las organizaciones científicas. Una segunda aproxi- Con la idea de contribuir a estos estudios y conocer más acerca
mación se refiere a la recuperación de los logros de aquellas mu- del trabajo de las académicas mediante la combinación de datos
jeres cuyas contribuciones científicas han sido eliminadas de las cuantitativos con resultados cualitativos, recientemente se han
corrientes principales de la historia de la ciencia, mediante tra- desarrollado estudios en México, que desde distintas perspectivas
bajos biográficos que incluyen a mujeres dedicadas a la ciencia y visiones, han trabajado las biografías y los logros de las mujeres
y ponen el énfasis en su interés por el conocimiento científico y pioneras que se han dedicado a la docencia y a las ciencias en dis-
en las barreras por las que tienen que pasar para participar en la tintas universidades del país8.
ciencia. La tercera aproximación, muy relacionada con la ante- En la Universidad Nacional Autónoma de México
rior, aborda la enseñanza de la ciencia a partir del conocimiento (UNAM), se han realizado tesis y proyectos de investigación que
biográfico de mujeres científicas, destacando la importancia de abordan tanto la historia de la incorporación de las mujeres a la
enseñar ciencia vinculando los procesos de construcción del co- educación superior y las ciencias9, como las trayectorias y contri-
nocimiento con las personas que hicieron esas aportaciones5. La buciones de las académicas, a través de entrevistas e historias de
cuarta aproximación se refiere a las tareas que han realizado las vida10. Los resultados obtenidos en estos estudios han permitido
mujeres desde el nivel de ayudantes de laboratorio, hasta el de entender la condición de género de las académicas y proponer
investigadoras principales y sus aportaciones. Se describe y sis- modelos de referencia que incluyan a las académicas pioneras y
tematiza su producción académica, la organización de espacios sus contribuciones, que reconozcan su autoridad, que las integren
académicos propios, los proyectos surgidos por iniciativas de en una tradición que se transmita a las alumnas y alumnos y que
las mujeres, las nuevas publicaciones, y los números especiales permita nuevas actitudes del personal docente ante estos hechos.
dedicados a sus investigaciones, así como la participación de las El trabajo que aquí presentamos, es parte de esos estudios,
mujeres en seminarios, grupos de estudio, asociaciones, congre- y se enmarca dentro de las aproximaciones mencionadas ante-
sos, revistas y editoriales. riormente, ya que describe la historia del acceso limitado y poco
170 171
El eje de todas estas aproximaciones, es la incorporación reconocido que han tenido las mujeres y el lugar que ocupan en la
de la perspectiva de género dentro de la historia de la ciencia, UNAM; recupera los logros y contribuciones científicas median-
considerándola como un campo del conocimiento, ya que cuan- te trabajos biográficos; aborda la enseñanza de la ciencia a partir
do surgió la historia de la ciencia como disciplina que estudiaba del conocimiento de figuras científicas femeninas vinculando los
las relaciones entre la ciencia y la sociedad en las décadas de procesos de construcción del conocimiento; así como las tareas
1920 y 1930, no se consideró el papel de las mujeres, pues sólo que han realizado, sistematizando su producción. Presentamos
se incluían aspectos como la religión, la clase social y la edad6. las trayectorias y proyecto de vida de 10 destacadas académicas,
La importancia que tiene el análisis de género, es que recupera pioneras en sus respectivas disciplinas, que se han distinguido por
para la historia el trabajo de mujeres olvidadas, y al mismo tiem- hacer aportaciones notables en diferentes áreas del conocimien-
po muestra los factores culturales que incluso en la actualidad to, recuperando así la memoria histórica de estas mujeres en la
dificultan su acceso a la investigación científica y tecnológica. UNAM.
Objetivos tura y posgrado, las expectativas y percepciones de estas fases de
Con el propósito de generar referentes a seguir por docentes y estu- la educación, así como las relaciones afectivas establecidas en esos
diantes, encaminados a lograr la equidad entre hombres y mujeres periodos; y la trayectoria académica profesional, que incluía la eta-
en la universidad, se hacen visibles las trayectorias y contribuciones pa como académica, las relaciones sentimentales de esas etapas y el
de las académicas de distintas áreas del conocimiento en la UNAM. proyecto de vida personal elegido. Asimismo, se incluyó la percep-
Se analizan y discuten los mecanismos institucionales e individua- ción de una conciencia de género o de discriminación a lo largo de
les que favorecen o dificultan su presencia, representación y recono- sus trayectorias.
cimiento; y se difunden las aportaciones de estas académicas en los A partir de los criterios de selección establecidos, se hizo el
distintos campos del conocimiento, contribuyendo así a eliminar contacto con cada académica para programar las entrevistas, y se
los estereotipos de género prevalecientes aún en la comunidad uni- les solicitó el curriculum vitae extenso, en el que se consideraron
versitaria y en la sociedad. los principales rubros de las actividades de investigación, docencia
y difusión, así como los nombramientos y cargos académicos; las
Procedimiento becas, reconocimientos y premios. Con el guión de entrevista pre-
Con la finalidad de analizar los mecanismos y políticas instituciona- viamente elaborado y probado, se realizaron las citas y las visitas
les de ingreso, permanencia, promoción, reconocimiento y posicio- a las entrevistadas, que se grabaron en audio y video en distintos
namiento actual de las académicas en la UNAM, se realizó el acopio escenarios (cubículos, laboratorios, estudios y casas particulares).
de materiales bibliográficos y de estadísticas, así como la búsqueda Asimismo, se solicitó a las académicas fotos, videos, y documentos,
y recopilación de material en archivos fotográficos, institucionales como material necesario para la inclusión y óptima edición de los
y personales. materiales. La videograbación de las entrevistas permitió estructu-
La recuperación de los nombres, trayectorias y contribucio- rar posteriormente un video de cada académica, dejando así una
nes de las mujeres académicas pioneras en la Universidad, se abor- memoria histórica de estas destacadas mujeres.
dó mediante la utilización de entrevistas no-estructuradas como Características de las académicas entrevistadas
herramienta metodológica, poniendo el énfasis en el cruce de tra-
yectorias académicas con vidas cotidianas. En cada entrevista se ex- En la investigación participaron diez académicas de la UNAM, cu-
172 ploraron las distintas etapas de la carrera académica vinculándola yas edades fluctuaban, al momento de hacer las entrevistas, entre 56 173
con la historia personal y esta información se relacionó con el aná- y 80 años de edad (dos nacieron a finales de los veintes, cuatro na-
lisis del Currículo vitae completo y actualizado de cada académica cieron en la década de los treinta, cuatro en la década de los cuaren-
entrevistada, elaborando cuadros de información que se combina- ta y una en la década de los cincuenta). Todas tienen los más altos
ron con las categorías de análisis de cada entrevista. nombramientos en la UNAM en distintos campos del conocimien-
La elaboración del guión de la entrevista, se desarrolló con to, y actualmente están activas: tres pertenecen a las ciencias natura-
base en estudios anteriores11, considerando los objetivos de la in- les (química), una es de ciencias exactas (física), una de ingeniería,
vestigación y el marco teórico en el que se sustenta, así como en tres de ciencias sociales (sociología, antropología y psicología), y
los rubros o categorías previamente identificadas, es decir, los da- dos de humanidades (letras y geografía).
tos socioeconómicos y la familia de origen; la formación escolar Estas académicas son mexicanas, destacadas profesoras e in-
que comprendía primaria, secundaria y preparatoria; la formación vestigadoras, con amplia y productiva trayectoria desde hace dé-
universitaria, en la que se contemplaban los estudios de licencia- cadas y se han distinguido por haber hecho importantes contribu-
ciones e innovaciones que han incidido en el enriquecimiento de menor a mayor A, B, y C. Para determinar estas categorías y niveles,
las ciencias de donde proceden. Han dejado huella a través de las se considera la formación académica y los grados obtenidos; la labor
múltiples publicaciones que han producido, y también de manera docente y de investigación; los antecedentes académicos y profesio-
importante y consistente han formado a estudiantes de diferentes nales; labor de difusión cultural; labor académico-administrativa;
generaciones que se han incorporado a grupos de investigación a antigüedad en la UNAM; y la intervención en la formación de per-
cargo de ellas, o han creado nuevos grupos con excelentes resulta- sonal académico.
dos. Tienen el nombramiento más alto que otorga la UNAM y la El total del personal académico en la UNAM en 2008 fue
categoría más alta en estímulos al personal académico (PRIDE); de 34,835. De ese total, 11,731 son de carrera (es decir el 33.7%),
así como reconocimientos dentro y fuera de la universidad, y los y abarca las siguientes figuras de plazas: Investigador/a titular o
niveles más altos en el sistema nacional de investigadores (SNI). asociada/o, con categorías A, B y C; Profesor/a titular o asociada/o
Las características y criterios de selección de las académicas con categorías A, B y C; Técnicas/os auxiliar, asociada/o o titular,
de esta investigación, fueron las siguientes: con categorías A, B y C.
Resulta pertinente aclarar que el nombramiento, figura y
• Nacionalidad mexicana categoría más alta que se puede asignar al personal académico en
• Mayores de 55 años de edad
• Doctorado la UNAM, es la de Investigador/a o Profesor/a Titular C tiempo
• Plaza de tiempo completo como profesoras o investigadoras titulares completo, con igual salario.
• Definitividad (implica antigüedad) El porcentaje de las mujeres dentro del personal académico
• Participación en el Programa de Estímulos a la Productividad de la
de la UNAM durante el periodo 1999 a 2008 no ha variado mucho,
UNAM (PRIDE)
• Integrante del Sistema Nacional de Investigadores (SNI) observándose un incremento únicamente de 39 a 42%.
• Contribución al campo de conocimiento en el que trabajan
• Reconocimientos y premios internacionales, nacionales y de la UNAM Personal académico en la UNAM por sexo, 1999-2008.
• Desempeño de cargos de responsabilidad y dirección, y en órganos
colegiados (comisiones evaluadoras y dictaminadoras) Año Hombres % Mujeres % Total
• Proyectos dirigidos y financiados 1999 18,706 69% 12,062 39% 30,768
• Proyectos colectivos y/o internacionales 2000 17,941 61% 11,589 39% 29,530
174 Pertenecer a las siguientes áreas del conocimiento: 2001 18,369 60% 12,004 40% 30,373 175
I. Ciencias de la vida, ciencias químicas y de la salud 2002 19,051 60% 12,510 40% 31,561
II. Ciencias físico-matemáticas 2003 19,183 60% 12,687 40% 31,870
III. Ciencias sociales y ciencias de la conducta
IV. Humanidades 2004 19,409 60% 13,089 40% 32,498
V. Ingenierías y tecnologías 2005 19,489 59% 13,326 41% 32,815
2006 19,601 59% 13,655 41% 33,256
Nombramientos del personal académico y ubicación de las 2007 20,075 59% 14,144 41% 34,219
académicas 2008 20,251 58% 14,584 42% 34,835
En la UNAM, el nombramiento de profesora o investigadora de ca- Fuente: Dirección General de Planeación, UNAM. Base de datos, 2008. http://www.es-
Historias de vida y trayectorias académicas En otros 4 casos, la familia no contaba con recursos eco-
nómicos pero apreciaba la educación como vía de movilidad so-
A partir de las entrevistas realizadas, a continuación se muestran cial, así como las capacidades intelectuales de sus hijas.
las trayectorias familiares y profesionales de las académicas, com-
binándolas con sus currículo vitae, y se ilustran con algunos testi- “haber decidido estudiar una carrera universitaria fue algo que siempre se
nos inculcó por mis padres”.
monios.
“Cuando dije: quiero ser secretaria, mi madre montó en cólera y dijo de nin- “tuve que ir a una preparatoria de hombres, pues no había para mujeres en esa
guna manera, de ninguna manera, te vas a la universidad porque tu tienes una ciudad”.
gran inteligencia”.
“no me iban a dejar entrar a la Universidad pues tenia 16 años y anduve pre-
“En esa época tú sabías que teniendo una carrera, podías mejorar económica- guntando cómo le hacía para poder entrar acá a la Universidad; decía háganme
mente, socialmente, todo. Entonces tú tenías un aliciente…”. un examen a ver si puedo entrar. En aquel tiempo no había exámenes, había las
contradicciones de la edad… …entonces dije: están mis calificaciones, traigo
buenas calificaciones, bueno por fin yo creo que por cansancio me dejaron en-
En dos casos, hubo cierta resistencia para que ingresaran a la trar”.
universidad porque se pensaba que era mejor que estudiaran alguna
carrera u oficio corto como modista o decoración, pero su insisten- La inclinación por la carrera de investigación puede originarse
cia, inteligencia y aplicación en el estudio, convenció a sus familias. o fortalecerse por la influencia favorable de maestros y maestras:
“…mi papá me decía, si te vas a casar, para qué quieres estudiar, como estaba “… la figura que más me marcó, era una mujer, nunca supe si inglesa o mexica-
en la universidad femenina, había varias carreras cortas, entonces me decía, na, con un inglés perfectamente británico y ella fue una maestra que despertó
estudia decoración de interiores, estudia para laboratorista y yo le decía, por en mi la pasión por el idioma, pero una pasión verdaderamente desmedida que
qué voy a ser laboratorista, si puedo ser química…”. fue lo que luego me salvó porque, como no pude estudiar medicina, no quedé
frustrada porque pude estudiar letras inglesas”.
“…un médico que era amigo de él, muy amigo le dijo: no es posible que sigas
teniendo a esta chica en la casa, ella tiene deseos de estudiar, entonces entré “ya habiendo salido de la facultad tenía que hacer mi tesis, ahí también me en-
como al año y medio como estudiante oyente, y presenté todas las asignaturas contré con un profesor magnifico…, me dio una beca que me permitió hacer
a título de suficiencia, y bueno ya después me seguí con mucho gusto toda la una tesis interesante”.
carrera”.
Durante la carrera académica, la mitad de las académicas “yo tenía el compromiso de que nos habían invitado a formarnos fuera del país
para ser profesores de calidad… en esa época la gente entraba con una gran
entrevistadas se dedicaban exclusivamente a sus estudios univer- facilidad a dar clases, no había tanta gente preparada, ni tantas restricciones y
sitarios, sólo un caso tenía además trabajo familiar y doméstico competencia como ahora”.
porque como mencionamos anteriormente, primero se casó y
tuvo descendientes y luego entró a la universidad; las otras cua- 3. Trayectoria académica
tro académicas sí desempeñaban trabajos adicionales comple- Como hemos visto anteriormente, en la UNAM el nombramiento
mentarios como docencia o trabajo en laboratorio para mejorar de profesora o investigadora de carrera de tiempo completo, que es
la situación económica de la familia, sobre todo en el caso de el que tienen las académicas entrevistadas, es un nombramiento que
180 aquellas cuyos padres fallecieron muy jóvenes o no vivieron con se adquiere por concurso y tiene dos categorías, asociada y titular, 181
ellas: que a su vez tienen tres niveles: A, B, y C, siendo este último el máxi-
“Yo estrené las prepas. Había ésta posibilidad de que le dieran a una clases
mo nivel que se puede alcanzar. La mayoría de las entrevistadas se
a pesar de que no tenía el título. No sólo no tenía el título, estaba empe- incorporó a la universidad con horas de asignatura o con una plaza
zando la carrera”. “… y en la facultad, lo mismo. Era el momento en que de ayudante o asociada y fueron obteniendo promoción cada tres o
empezaba a crecer letras inglesas, pues me dieron clases luego luego”.
cuatro años de acuerdo con la reglamentación universitaria:
“… empecé a dar clases desde antes de terminar la carrera, … un profesor
“…empecé a dar clases en la Facultad como profesora de asignatura por horas,
me dijo: necesito una ayudante en el laboratorio de química inorgánica y
porque en aquel entonces yo ya tenía un bebé y tuve mi segundo hijo en esa
le dije yo no se nada de eso y me dijo pues así aprendes…”.
etapa”.
“era el primero o el segundo año de la carrera y se presentó la posibilidad
“cuando yo entro casi en el primer año, no recuerdo si era el primero o el se-
de concursar siendo yo estudiante, por una plaza de ayudante de maes-
gundo...se presenta la posibilidad de concursar, siendo yo estudiante de la ca-
tro… y le entré”.
rrera, por una plaza de ayudante de maestro…”.
“entré a trabajar al instituto como ayudanate de investigador y tengo plaza desde “Fui nombrada de la Junta de Gobierno, no sé por qué, la verdad fue una cosa
que estaba en la facultad… y de ahí fui promoviéndome poco a poco. Pero pri- que yo nunca me esperé…” “… la Junta de Gobierno es una cosa muy espe-
mero estuve medio tiempo, cuando mis hijas estuvieron chiquitas”. cial, realmente es uno de los grandes honores que he tenido yo en toda mi
vida”.
El acceso al primer puesto estable como profesora o investiga- “En mi entrevista ante la Junta de Gobierno, me preguntaron si yo creía que
dora de carrera se produce muy rápido una vez obtenido el doctora- siendo mujer la iba a poder hacer como Directora de Facultad… yo les dije
do; en los 10 casos estudiados, se consiguió entre los 30 y 40 años, y que sí podía ser directora…”.
“dar clases me encanta, me gusta mucho la interacción con los jóvenes, trans- “la satisfacción máxima fue cuando me dieron el emeritazgo, me sentí muy
mitirles lo que hago, el gusto por la materia, interactuar con ellos es mantenerse apreciada, muy querida en la universidad”.
joven”.
“el día que se hizo la celebración de mi emeritazgo, para mi fue muy signifi-
“además de mis actividades de investigación, yo diría que la docencia es proba- cativo no sólo que se le diera a una mujer, con lo que se sigue manteniendo
blemente mi mayor fortaleza, si me preguntan qué es lo que mejor hago, digo la cuota del diez por ciento de los eméritos que hay en toda la universidad,
que es dar clase, a pesar de que los alumnos cuando están bajo mi tutela, se pero más importante me pareció que jamás se le había dado a nadie de letras
quejan, porque soy exigente”. modernas”.
“me gusta, disfruto dar clases y mejorar y cambiar nuevos libros, mi disciplina Todas consideran que han logrado el reconocimiento de la
me lo exige, no me puedo quedar atrás”.
comunidad a la que pertenecen. Se sienten muy satisfechas y rea-
182 lizadas con su trabajo y son conscientes de que ser académicas les 183
Son integrantes de comisiones evaluadoras, dictaminadoras y
da una posición de independencia, autonomía y libertad que no
de arbitraje de proyectos y publicaciones, y han recibido reconoci-
tendrían si no se hubieran dedicado a la academia, además de a su
miento y premios a su labor. Cuando han tenido cargos de responsa-
familia:
bilidad, varias de ellas piensan que son distinciones y triunfos que las
han enriquecido, otras piensan que es un “servicio” que ellas hacen “fue un logro muy importante, es un reconocimiento del gremio, ese premio
para retribuir lo que la universidad les ha brindado: fue muy importante”.
“estar en la administración es mi contribución a la universidad por todo lo que “… mis ingresos son muy razonable, me siento muy independiente y muy
me ha dado”. bien”.
“participar en comisiones se vuelve como una obligación, parte de nuestra res- “he recibido mucho más de lo que yo esperaba de mi formación, creo que he
ponsabilidad es hacer todas esas actividades”. recibido muchísimo porque trabajo en lo que me gusta, cosa que no todo mun-
do puede tener esa suerte”.
“Soy una persona muy afortunada de estar en esta Universidad, a la cual le debo “en la decisión de tener a éste hijo mío, supe desde siempre que tener un hijo
todo lo que soy y a esta Facultad de la que he tenido los mayores retos y la que significaba ya nunca poder volver a trabajar ni a la profundidad, ni con el rit-
me ha dado posibilidad de estar en otros lugares y tener ánimo para hacerlo, mo que había trabajado antes y no me importó”.
porque tiene sus grandes potencialidades…”.
“mi carrera ha sido ya de casada… en el momento que inicié el doctorado “como mi esposo se dedicó a la administración en la universidad, conocía mi
dije, sí esto es lo que yo quiero hacer, entonces asumo la responsabilidad”. trabajo y no había conflicto ni competencia, al contrario, siempre me apoyó y
me apoya hasta la fecha”.
“para mí era muy claro que sí quería tener familia y no sentía que eso me iba
a impedir hacer una carrera de investigación; sí por supuesto implicó mu- “Pues mira, yo creo que la verdad a la larga siempre sucede, sobre todo si traba-
cho de mí, o sea, organización, ingeniármelas, los famosos cursos de verano, jas en áreas muy afines, tan parecidas, pues sí hay competencia”.
cómo te las vas arreglando, pero la verdad es que era parte del asunto, por
supuesto que nunca hubiera dejado mi familia, ahora te puedo decir que al “Mi esposo era un hombre muy activo, muy dinámico estaba en la iniciativa
mirar hacia atrás, fue lo mejor que pude haber hecho, tener mi familia y tener privada... teníamos visiones diferentes de la vida, y el cambio más significativo
mi carrera”. se dio cuando me nombraron como Directora…”.
Como mencionamos, una de las académicas que tuvo des- Sin embargo, en sus estudios profesionales algunas de ellas
cendencia, tuvo a su hijo después de su doctorado al cumplir 40 no estuvieron exentas de comentarios desalentadores por estar en
años, y otras tres no tuvieron descendencia. En estos últimos 4 ca- la universidad:
sos, es interesante notar la decisión consciente de las académicas,
“Él me decía: para qué estudias? ya sabes mucho….. yo estudiaba con senti-
que actuaron como las mujeres de las siguientes generaciones en mientos de culpa, porque sentía que descuidaba a mis hijos…
cuanto a la opción por la descendencia y la edad de maternidad,
lo que hace suponer que la trayectoria académica puede modificar En las primeras sesiones de las entrevistas, expresan que la
las pautas familiares y maternales tradicionales en comparación con buena formación y el éxito se da independientemente del sexo. Se
sus contemporáneas: sienten libres de discriminación, pero tienen conciencia de que en
otros ámbitos puede existir:
“Cuando me embaracé ya tenía los cuarenta cumplidos. De hecho nació mi
hijo y a los tres meses cumplí los cuarenta y uno… dije: no quiero el paquete “Yo pienso que si la gente hace el esfuerzo, es igual que sea hombre o que sea
completo, marido y esas cosas no, yo quería un bebé”. mujer. El chiste es que se prepare, que estudie y que trate de hacer las cosas
bien. No hay diferencia”.
“con respecto a si me hubiera gustado tener hijos, hubo momentos, pero muy
breves yo diría, realmente nunca sentí que los necesitaba… nunca tuve en “Yo llegué a una universidad recién fundada como universidad técnica en Ale-
mente: es que yo quiero tener un hijo”. mania, y resulta que yo fui la primera mujer en graduarme, así que salí en el
periódico, porque era la primera mujer que salía del doctorado en ingeniería.
“sobre tener hijos, pensé que ya habría tiempo para eso, y se fue el tiempo;
Y había pocas mujeres estudiando en ese momento. Parece que las sociedades
creo que he llenado esos huecos con muchas otras actividades, además del
muy desarrolladas también son sexistas en esos campos”.
aspecto académico, también me gusta mucho el arte, pinto acuarela, óleo y
he tenido muchas exposiciones de pintura, me gusta escribir cuentos, en fin,
tengo otras actividades que me agradan”. Sin embargo, es interesante destacar que en varios casos la
conciencia de discriminación por ser mujeres se fue construyendo
5. Sensibilidad de género a través de la retrospectiva que realizaban al repasar su vida durante
El grupo entrevistado, pertenece a una generación de mujeres que las entrevistas. Es decir, la entrevista per se contribuyó a la toma de
en el curso de su formación científica, así como en sus trayectorias, conciencia sobre su condición de género, y específicamente sobre su
no han tenido la oportunidad de reflexionar o identificar tratos des- situación en relación al sexismo en la institución académica, lo que
186 iguales hacia ellas: al inicio de las entrevistas no identificaban, como ocurre al señalar 187
algunos obstáculos que han vivido para ocupar puestos de dirección
“mi experiencia es que siempre hemos sido parejas las mujeres y los hom-
bres, yo nunca he sentido que los hombres nos hayan tratado menos a las y aprecian ventajas de los hombres para obtenerlos:
mujeres…”.
“Me dieron la jefatura de división… me consta que no me la iban a dar a mí; se
“yo nunca sentí una discriminación de ninguna manera ni en mis estudios la iban a dar a un profesor, que no pudo tomarla porque era jubilado”.
aquí, ni en mis estudios en Inglaterra”.
“Participé dos años en la evaluación de los premios de la Academia de Inves-
“ser mujer no implicó trabas, al contrario, yo me siento muy afortunada de tigación Científica. Entonces, como que parece ridículo, porque nunca he te-
haber tenido las posibilidades que he tenido aquí y en ningún momento he nido el premio de la Academia de la Investigación Científica, sin embargo me
sentido que el hecho de ser mujer me haya detenido, las circunstancias pro- nombran para que yo evalúe, para que yo juzgue…”.
pias de una familia sí, en un momento dado no avanzaba yo a la velocidad que
a mí me hubiera gustado”. “Las mujeres llegamos a puestos de responsabilidad, pero no a puestos de po-
der, esa es la realidad”.
Además, en relación con lo anterior, aprecian diferencias en- cerlas, sino también para que la comunidad académica y estudiantil
tre hombres y mujeres en el trabajo científico, señalando que ellos tenga un referente o modelo que pueda ser retomado en su queha-
dedican más tiempo a las tareas de investigación, mientras que ellas cer universitario diario. Cuando hablamos de generar modelos, nos
tienen que compartir su tiempo entre el trabajo y la familia. Un referimos a que tradicionalmente las figuras a seguir han sido los
aspecto de gran importancia es la incompatibilidad de la vida y cos- hombres, porque históricamente es lo que se difunde, se publica, se
tumbres familiares con las exigencias del trabajo de investigación: enseña y por lo tanto es de quienes se habla, producto de un siste-
ma androcéntrico que todavía está presente en las sociedades, por
“las mujeres hacen más de lo que se puede porque siguen haciendo su labor
como profesionales pero también otras labores familiares que los hombres lo que se conocen pocas figuras de mujeres. Estas académicas han
no tienen”. sido capaces de romper o superar los estereotipos y roles de géne-
“Sentía que iba muy despacito porque la carrera de investigación siempre me
ro que históricamente se han asignado a las mujeres y son ejemplo
ha gustado y además con la familia a veces sentía que estaba en una banda sin a seguir, ya que han tenido una participación activa y han hecho
fin, que corre, corre y corre y no llegaba muy lejos…”. aportaciones en alguna de las áreas del conocimiento, incluyendo
“…regresaba a trabajar como a las 7 de la noche, ya que les había dado de
las matemáticas, que tradicionalmente se h considerado un campo
cenar a mis hijos, los había bañado y los dejaba dormidos”. masculino; es decir, son mujeres académicas que ya forman parte
importante de la historia de la UNAM.
Sobre el tema de los obstáculos y estrategias para llegar a las Los resultados obtenidos permiten conocer mejor la histo-
posiciones que actualmente tienen, las entrevistadas se centraron ria de las académicas universitarias, sus hábitos e intereses, su vida
en las cualidades o habilidades personales, la capacidad y el gusto social, profesional y familiar, y la dedicación e interés que mantie-
por el trabajo, por crear e innovar, perseverancia y redes familiares, nen a lo largo de su trayectoria que es muy distinta a los de la vida
de amistades y colegas, una buena parte de ellas siempre tuvieron doméstica, que las normas sociales y los estereotipos han asignado
la posibilidad de tener a alguien a cargo del cuidado de sus descen- tradicionalmente, ya que algunas experiencias de las entrevistadas,
dientes y del trabajo doméstico: revelan que se trasladan consignas y prejuicios sociales de género a
la institución científica. Su trabajo académico y docente, el conoci-
“Aprendí muy bien a decir en todos los comités: pues fíjense que tal vez tenga
un compromiso a las diez de la mañana y no pueda ir a la junta, y no tenía que miento científico y experimental o teórico que han difundido a tra-
decir que era la fiesta de fin de curso de mi hijo”. vés de su labor cotidiana, son su principal aportación social como
188 189
mujeres productoras de cambios por su comportamiento cotidiano
“algunas personas piensan que es un vicio el trabajar, pues yo creo que es un
placer, cuando te gusta es un verdadero placer hacerlo”. tanto en el hogar, como en sus puestos de trabajo.
Nos interesó entrevistar a las pioneras en la UNAM, con la
“he tenido gente que me ha ayudado con el cuidado de mis hijos, tuve a una
señora que trabajaba con nosotros desde soltera, era como una tía, quería mu-
idea de explorar el medio en el que se produjeron las carreras de
cho a mis hijos”. investigación y docencia de ese grupo de académicas universitarias,
para obtener claves sobre los factores que intervinieron en el proce-
“tuvimos la enorme ventaja de que mi mamá y mi suegra siempre nos ayuda-
ron con los niños cuando nosotros teníamos que irnos a trabajar”.
so social de profesionalización de mujeres en la academia universi-
taria en México.
Reflexión Final El grupo seleccionado pertenece a una comunidad académi-
Con esta investigación, dejamos memoria de las académicas de dis- ca que se formó y desarrolló en México principalmente dentro de
tintas áreas del conocimiento para no sólo visibilizarlas y recono- la UNAM, en un periodo que va desde fines de los años cuarenta, a
principios de los setenta, que accedió a la formación en el extran- con beca en el extranjero, y la mayoría hizo el doctorado ya con
jero a partir de los años sesenta, y que obtuvo un cierto reconoci- pareja y descendientes.
miento académico, nacional e internacional, a partir de los años En lo que se refiere al estado civil y la descendencia, es im-
setenta. En relación a las condiciones que hacen posible el acceso portante destacar que ninguna de las entrevistadas se planteó el
a la promoción profesional y a puestos superiores en el escalafón escenario de dejar su carrera laboral y dedicarse únicamente a la
académicos, en México las académicas estudiadas consiguieron el crianza de sus descendientes. Lo que se relaciona con la condición
primer puesto estable antes de cumplir los 30 años y el nombra- socioeconómica de estas académicas y las facilidades de apoyo do-
miento máximo de Titular C lo lograron todas después de los 40 méstico, que les permitieron la conciliación profesón-maternidad,
años. Las académicas entrevistadas de mayor edad, son del grupo ya que existía un apoyo variable y relativo de sus parejas.
académico que cuenta con el mayor respeto y que han logrado Aunque las entrevistadas son académicas que cuentan con
reconocimientos adicionales socio-académicos. Hay consenso en la categoría y nivel más alto que se puede obtener en la UNAM, los
la comunidad universitaria y académica del país hacia ellas, entre resultados muestran que existe una tensión continua en el bino-
hombres y mujeres, sobre su trabajo, sus aportes a la ciencia, y mio familia-trabajo, ya que el estar casadas con académicos, puede
sobre su capacidad de difusión activa de conocimiento experto en abrirles las puertas del sistema, o generar competencia y afectar
cada una de las áreas del conocimiento en las que se especializa- el reconocimiento y logros dentro de la comunidad. El papel de
ron, en las que se formaron y han formado a sus estudiantes. la pareja en el avance profesional de las académicas, se vive como
La procedencia social de la mayoría de las académicas en- importante a la vez que como barrera ante el avance académico,
trevistadas, era de clase media y media alta, con acceso a la cultura por lo que este aspecto es un tema que requiere mayor estudio y
y con intereses en la educación y la formación profesional de sus análisis.
descendientes. Son mujeres con incentivos intelectuales y afecti- Todas consideran que han logrado el reconocimiento de la
vos desde la infancia, cuyo acceso a la educación superior y a la in- comunidad a la que pertenecen. Se sienten muy satisfechas y rea-
vestigación fue posible por pertenecer a familias que compartían lizadas con su trabajo y son conscientes de que ser académicas les
intereses culturales e intelectuales que fomentaron en sus hijas, da una posición de independencia, autonomía y libertad que no
en una época en que esto no era habitual. tendrían si no se hubieran dedicado a la academia, además de a su
Además del gusto por el conocimiento, la mayoría de las familia.
190 191
entrevistadas tuvieron influencia favorable de maestros y maes- Las entrevistadas pertenece a una generación de mujeres
tros, así como un alto rendimiento y mayores opciones para con- que en el curso de su formación científica no han tenido la opor-
tinuar su formación, rompiendo con los estereotipos de género tunidad de reflexionar o identificar tratos desiguales hacia ellas. La
acordes con la época, que les imponían una serie de restriccio- conciencia de discriminación por ser mujeres se fue construyendo
nes. Decidieron estudiar su carrera aunque no fuera lo esperado a través de la retrospectiva que realizaban al repasar su vida duran-
y apropiado para las mujeres, ya que la presencia femenina en la te las entrevistas. Es decir, la entrevista per se contribuyó a la toma
universidad no era lo común en la época en la que ellas estudia- de conciencia sobre su condición de género y específicamente so-
ron, esto se observa de manera más evidente en el caso de las bre su situación en relación al sexismo en la institución académica,
dos académicas que se incorporaron a física e ingeniería, por ser lo que al inicio de las entrevistas no identificaban, como ocurre al
campos muy masculinos, donde era mucho menos esperado su señalar algunos obstáculos que han vivido para ocupar puestos de
ingreso. Todas menos una realizaron los estudios de posgrado dirección y aprecian ventajas de los hombres para obtenerlos.
Consideramos que esta investigación contribuye a llenar un riales Curriculares”. En: Ortiz Gómez Teresa y Becerra Conde Gloria (eds.). Mujeres
de Ciencias. Universidad de Granada, España, 1996: 107-124; Solsona Nuria y Ale-
vacío en la UNAM, al dar cuenta y dejar una memoria histórica au- many M. Carme. “Estudiantes Hoy, Científicas del Futuro”. En: Ortiz Gómez Teresa
diovisual de estas académicas pioneras, para que las generaciones y Becerra Conde Gloria (Eds.). Mujeres de Ciencias. Universidad de Granada, España.
actuales y las que vienen, tengan la oportunidad de conocer de una 1996: 97-106; Rubio Herráez Esther. “Nuevos Horizontes en la Educación Científi-
ca”. En: Barral Ma. José, Magallón Carmen, Miqueo Consuelo, y Sánchez Ma. Dolores.
forma más cercana y lúdica, a través de la voz, las exclamaciones, los (Eds.). Interacciones Ciencia y Género. Discursos y Prácticas Científicas de Mujeres. Icaria
ademanes, sus deseos, fantasías, expectativas y su presencia física, el Antrazyt. Barcelona, España.1999:209-232.
legado que dejan con sus testimonios, entusiasmo y compromiso, 6 Scott Wallach Joan. “El Género: una categoría útil para el análisis histórico”. En: Ame-
que al ser difundidos entre estudiantes y docentes son fuente de lany James y Nash Mary. Historia y Género: las mujeres en la Europa moderna y contem-
energía, motivación y ejemplo, tanto a nivel académico como de poránea. Ediciones Alfons el Magnanim. Valencia. 1990.
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plena participación de las mujeres en las universidades es una tarea México, 2005; Miqueo Consuelo, Barral Ma. José y Magallón Carmen (Eds). Estudios
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de mentalidad que se están produciendo desde las mujeres y las
consecuencias que esto tiene. Se requiere la mirada crítica hacia 8 Mujeres Científicas de Nuevo León. Colección Mujeres y Poder. Instituto Estatal de las
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las mujeres en las universidades. Anteriormente los grupos
TOVAR, Aurora. Mujeres Mexicanas. Compilación Biográfica de 1500
de ciencia eran integrados tradicionalmente por hombres
mexicanas (s. XVI a inicios del XX). México: DEMAC, 1996.
tal como anhelaba Titchener, psicólogo estadounidense en
1904, el cual decía que: “Durante muchos años quería un club
experimental, sin oficialismos, los hombres moviéndose de un
lado a otro, portando aparatos, el laboratorio anfitrión para
trabajar, sin mujeres, que se pudiera fumar, lleno de críticas y
196 197
discusiones totalmente francas (…)”1.
Transgrediendo estos anhelos presenciamos hoy en cien-
cias grupos de hombres y mujeres e incluso con predominio de
estas últimas. Sin embargo, esto no es un hecho consumado
de modo lineal y pacífico.
sin que ignoremos las agudas transformaciones pro-
ducidas desde las últimas décadas del siglo XX, tanto en las
concepciones como en las prácticas en las sociedades contem-
poráneas, incluida Cuba, podemos afirmar que las relaciones
de poder de género están aquí, ahora, a veces explícitas, otras
solapadas, pero aquí.
La irrupción masiva de las mujeres en ciencias ha sido y ¿Qué reconocimientos han tenido por parte de la comunidad
es un proceso con tensiones y contradicciones en medio de lo científica, universitaria y/o de la sociedad?
cual emergen, en no pocas ocasiones, con afán de reciclarse, las Todas han tenido o tienen actualmente responsabilidades
exclusiones y discriminaciones que a lo largo de toda la histo- significativas en el campo académico. Una de ellas es fundadora y
ria ha promovido en nuestras sociedades la cultura patriarcal. directora desde hace 20 años de un Centro de Estudios de la UH.
¿Donde evidenciamos estos puntos de tensión y contra- Otras poseen responsabilidades tales como: presidentas de Tribu-
dicción en el contexto de este avance presencial de las mujeres nales Nacionales de Grados Científicos, de categorías docentes,
en ciencias? coordinan maestrías, presiden Comité Académico de Doctorado,
Esta interrogante nos conduce a otras que podrían abor- sociedades científicas nacionales o integran Comités de Sociedades
darse a través de los resultados de investigaciones realizadas Científicas Internacionales, Miembro de la academia de ciencias y
en este sentido incluidos los propios testimonios de mujeres han sido decanas, directoras de institutos de investigaciones y Rec-
que han sido precursoras en sus disciplinas en Cuba. tora una de ellas.
En cuanto a estas últimas hemos entrevistado a 5 de “Ser mujer es lo que yo he sido, feliz, he podido construir de-
ellas, 3 Filosofía entre 70 – 80 años, 1 Físico-Química 84 años terminados mundos, familiar, personal, ser una persona querida, yo
y una de Lengua y Literatura Hispanoamericana, 58 años. To- he trabajado por los demás, aunque esto me diera satisfacciones e
das laborando activamente en la Universidad de La Habana, ingratitudes, pero siento que trabajo para los demás, prefiero dar
doctoras en ciencias particulares y dos de ellas con el 2do Doc- antes que me den, entregar antes que recibir, entregar lo que tengo”
torado en Ciencias. Todas han recibido reconocimientos especiales tanto nacio-
nales como internacionales, premios que otorga la Universidad de
¿Qué hizo a las mujeres interesarse en la academia?
La Habana, la Academia de Ciencias, premio por la obra de toda
Un aspecto interesante a destacar y que se reitera en otras in- la vida, profesoras de mérito o han sido electas figuras destacadas
vestigaciones es que todas estas mujeres constituyen las pri- en las disciplinas en las cuales se desempeñan a nivel nacional e in-
meras universitarias en sus familias que a su vez poseían una ternacional.
situación económica favorable sin restricciones económicas. Sin embargo, esta no es la realidad que predomina pues si
198
Estudiaron en escuelas privadas. Sin embargo, sus padres no apreciamos como se comportan estos reconocimientos por el que- 199
poseían elevados niveles de instrucción aunque sí una determi- hacer científico en el país a lo largo de 26 años observamos que el
nada cultura y noción de la significación de los estudios en el progreso en la presencia de mujeres es ínfimo si lo comparamos
desarrollo personal y para la inserción social. A partir de aquí con el reconocimiento recibido por sus colegas hombres.
se convirtieron en factores propulsores para que ellas se moti- Uno de los reconocimientos de mayor prestigio que otorga
varan y se orientaran hacia estudios superiores. A veces ambos el MES es la Orden Carlos J. Finlay al mérito científico. Al analizar
padres y en ocasiones de modo especial la figura paterna. las condecoraciones concedidas desde 1981 hasta el 2007 se obser-
“El amor por el estudio y la necesidad de estudiar, como va un marcado predominio masculino ya que de las 155 Órdenes
un déficit que ellos tenían. Tengo grandes ejemplos de historias entregadas, sólo 52 han sido otorgadas a mujeres.3
de mi vida con lo que me inculcaron del sentido de la honesti- Asimismo, los reconocimientos otorgados por la Academia
dad y un profesional tiene que ser preparado y honesto. Ellos de Ciencias a varones y mujeres. 2007 se comportan de la siguiente
han sido definitorios en mi manera de ver el mundo, de vivir”2 forma.
Orden Carlos J. Finlay, al Mérito Científico, MES, por sexo. Carl Jung (1928) afirmaba que: “Nadie puede soslayar el
Años Seleccionados. hecho de que al seguir una vocación masculina, estudiar y trabajar
como un hombre, la mujer esta haciendo algo que no corresponde
del todo con su naturaleza femenina, sino que le es directamente
perjudicial. La psicología femenina se funda en el principio de Eros,
el gran ligador, entregador, mientras que una antiquísima sabidu-
ría, ha adscrito el Logos al hombre como su principal rector” 5.
Hoy comprendemos que la dicotomía jerárquica de género
y el androcentrismo derivado se convierte en obstáculo para que
mujeres sigan carreras “científicas” ya que esto sale del marco de
Fuente: Elaborado a partir de datos ofrecidos por la Dirección de
las expectativas sociales y de ellas mismas, pues las cualidades ne-
Ciencia y Técnica del MES, 2008
cesarias para las “ciencias” desde una determinada noción de lo
que es ciencia son las masculinas lo cual genera en ellas una ten-
sión identitaria género – profesión a partir de que subsiste en el
imaginario social nociones sexistas y androcéntricas con respecto
a las ciencias.
Algunas académicas de Ciencias Sociales que han sido suje-
tos en nuestras investigaciones refieren6 :
(…) las mujeres nos movemos mejor en un tipo de discurso
y de mensaje más emotivo-simbólico y los hombres como en un tipo
de lenguaje más demostrable (…) He visto más preponderancia
en los hombres de la tendencia a la metodología cuantitativa más
de corte positivista, conozco muchos profesionales hombres en el
mundo que su estilo de investigación tiene más que ver con acer-
Fuente: Elaborado a partir de información ofrecida por la Dirección de Ciencias de car las ciencias sociales a las “ciencias duras”, investigaciones muy
200 201
la Academia de Ciencias de Cuba, febrero 2008.4 de tablas, muy de gráficos, cuantificable, medible, observable, de
buscar siempre el tema de los métodos que te lleven a la máxima
No existe una correspondencia entre la paridad presencial de racionalidad, a la máxima demostración.
mujeres y hombres en las ciencias y el insuficiente reconocimiento (…) para llegar a ser una mujer académica de Ciencias So-
que reciben las mismas. Las que hemos entrevistado constituyen ex- ciales en la Academia de Ciencias cuesta más trabajo porque la
cepciones que justamente están integrando los ínfimos porcientos de mayoría de ese conjunto son hombres y más vinculados a lo que se
representación femenina. ha denominado las “ciencias duras”, no se visualiza una académica
¿Por qué hay ciencias más representadas por mujeres y otras de las mal llamadas “ciencias blandas” (…) como una académica,
por hombres? ¿La insuficiente presencia aún de hombres en cien- intelectual, creo que hay como una especie de mirada no como a
cias y profesiones tradicionalmente femeninas indica perpetuidad las “grandes científicas”, salvo estas que están vinculadas con las
de la cultura patriarcal? ¿Es la ciencia hasta hoy androcéntrica? vacunas, con estas cosas que sí tienen un producto concreto.
Se produce una doble discriminación, por desempeñarse en “La historia, la cultura, la música, todo esto puede considerar-
ciencias sociales y por la condición de género. se como resultado científico o aportes y pienso que estas cosas a veces
Veamos algunos datos: se subvaloran y se constriñe la ciencia exclusivamente a las cuestiones
tecnológicas, a los aportes inmediatos, a lo que se aplica enseguida que
Mujeres y Educación
da resultados económicos. En esto he tratado de mantener una bata-
INDICADORES 1976/77 2000/01 2008/09 lla para darle el lugar que merecen otros tipos de conocimientos… la
Graduadas - Educación Superior por ramas de la ciencia (%)
historia, la literatura, la lingüística, la demografía, la psicología son
conocimientos tan valiosos como cualquier otro. En eventos interna-
Ciencias Técnicas 17,6 20,7 36,8 cionales los científicos exactos y naturales claman por un vínculo más
Pedagogía 50,0 79,2 70,4 estrecho con las ciencias sociales porque reconocen que sin esta otra
Ciencias Sociales 32,6 59,2 71,8 parte de las ciencias es muy difícil dar soluciones reales a los proble-
y Humanísticas
mas de una disciplina concreta”.
Ciencias Económicas 60,3 57,0 73,1
Para muchas mujeres que poseen lugares destacados en las
Ciencias Médicas 47,3 74,8 81,4 ciencias esto ha sido al costo de asumir valores androcéntricos y
Fuente: Publicación digital ONE: La población cubana 2009. de ser centro de prejuicios homofóbicos de las propias congéne-
res. Dice una académica de Ciencias Sociales al comentar acerca
Se aprecia así una segregación horizontal: mujeres y hombres de la visión en la sociedad de las mujeres científicas: (…) es una
concentrados respectivamente en profesiones diferentes. Como mujer virilizada que ha tenido que asumir muchas posturas y actitu-
tendencia, hombres en ciencias exactas e ingenierías y mujeres en des competitivas y rivalidades con los hombres, y por lo general esas
ciencias sociales y humanísticas. mujeres se han hecho más toscas, más viriles, he oído opiniones así
A su vez, las ciencias y sus resultados poseen un sesgo sexis- como que más viradas del “otro bando” desde el punto de vista de su
ta: orientación sexual.
“Los productos de las ciencias sociales no son tan visibles, pal- El paradigma de lo que es “ciencia” sigue siendo el mismo,
pables, a veces cuesta trabajo que se visualicen. Esto es un problema se sigue privilegiando una noción positivista de la ciencia o el este-
que atraviesa mucho la situación de género porque la mayoría de las reotipo de ciencias “duras”. Solo se trata de que las mujeres habiten
202 203
personas de las ciencias sociales o las ciencias mal llamadas “blan- este espacio que se conserva tal cual y no una transformación per-
das” son eminentemente mujeres. Para alcanzar un premio en la sonal y social. Lo social se conserva, en lo personal nos adaptamos
Academia de Ciencias que tenga que ver con las Ciencias Sociales a a lo social ya existente e “inmutable”. Anida aquí la perpetuidad de
veces cuesta más que un premio en Ciencias Experimentales donde tú la cultura patriarcal más aún si no se redimensionan las nociones
traes un producto o un resultado o ahorras grandes sumas de dinero de género y lo que se legitima como ciencia. La causa está pues en
al país, por ahí hay un sesgo de género en esta situación de ser mujer el androcentrismo de la ciencia, en los sistemas educativos y en la
académica.” propia sociedad.
“Los resultados no se consideran igual por la inmediatez de las Aunque las polémicas desde las dicotomías suenen estériles
ciencias naturales y exactas, por eso se les apoya más, sin embargo y vacías, aunque lo diferente (y no por ello desigual o inferior) se
tengo ejemplos en que los avances y resultados de las ciencias sociales imponga cada vez más como una necesidad de la construcción de
visualizan consecuencias que develan lo erróneo de ciertas políticas”. saberes contemporáneos, lo cierto es que en el imaginario social y
académico, subsiste aún el fantasma de la ciencia asociada a lo me-
dible, observable, constatable, es decir, a “lo masculino” como va-
lor. Prevalece la ideología patriarcal allí donde la noción de ciencia,
su concepción, diseño y dirección se sigue articulando desde una
interpretación androcéntrica de la sociedad y de la ciencia como lo
racional y objetivo.
Otras interrogantes: ¿Por qué las mujeres no avanzan con
la misma celeridad que los hombres en el perfeccionamiento de su
saber? ¿Por qué son menos cuando aumentan las exigencias que
acreditan el saber? ¿Por qué están en minoría cuando observamos
los espacios de poder en el ámbito académico? ¿Cómo explicar estos
hechos cuando existe paridad presencial de mujeres y hombres en
las universidades y en el quehacer científico en Cuba?
El Ministerio de Educación Superior (SES) dentro del Siste-
ma de Ciencia, Tecnología e Innovación tiene un peso decisivo en Fuente: Publicación digital ONE: La población cubana 2009.
la producción de conocimientos. Por solo citar un ejemplo, el MES
produce el 50,4% de los artículos cubanos publicados en la Web of
Science (García, Arencibia, Sánchez, 2007).
Al analizar la distribución jerárquica y ocupacional al interior
del Sistema, continúan presentándose brechas significativas de gé-
nero. Por ejemplo, de los 17 Centros de Educación Superior sólo
cinco son dirigidos por mujeres Rectoras. Además, de los 15 Cen-
tro de investigación del MES, solo uno es dirigido por una mujer7.
Veamos otros datos:
Concepto 2008
Universitaria 63
204 205
Mujeres graduadas - educación superior 68
Mujeres profesionales y técnicos 66 ¿Existe hoy una brecha de género en la educación y en el acceso a
Mujeres dirigentes 39
las tecnologías?
A pesar de los avances en paridad presencial entre mujeres y
Diputadas-XI legislatura de la Asamblea Nacional del 43
Poder Popular (2007-2012)
hombres en las ciencias y tecnologías, existe una segregación ho-
rizontal (ciencias con más presencia de mujeres y otras con más
Fuente: Publicación digital ONE: La población cubana 2009.
A
NOTAS
Introducción
En este artículo queremos dar a conocer un proyecto de investi-
gación cuyo nombre coincide con el título: “Mujeres que dejan
huella: interacción entre experiencia vital y contribución a la cien-
cia”2, describiendo el diseño, planteamiento y método utilizado
(planteamiento y método que consideramos pueden resultar de
interés para la realización de estudios similares por parte de cole-
gas de otros lugares), y aportando un resumen de los resultados
obtenidos.
En el proyecto se analizan las interacciones entre la expe-
riencia vital y la carrera profesional en el ámbito científico. Se tra-
232 ta de un estudio cualitativo, que se ha basado en la recogida de 233
datos acerca de la trayectoria vital y profesional de científicas de
principios del siglo XX y actuales en el marco geográfico de Es-
paña. En él hemos utilizado una muestra reducida, estudiada en
profundidad en relación con una serie de aspectos predefinidos
para permitir la comparación.
Partiendo de que la experiencia académica, profesional
y vital de un hombre y una mujer tienen rasgos diferenciales, la
pregunta que planteamos es en qué sentido y en qué aspectos
afecta a la producción científica la creciente presencia de mujeres
constatada en el último siglo. Enlazando los dos supuestos, que
la pertenencia a un sexo influye en la trayectoria profesional, y que 2) Completar nuestras bases de datos, incorporando aque-
ésta influye en la producción científica, nuestra hipótesis de parti- llas científicas que conocemos por nuestra actividad docente
da es la siguiente: “La experiencia marcada por la pertenencia a un o investigadora.
sexo (supuestos, estereotipos, expectativas y roles sociales asigna- 3) Analizar el trabajo científico y la trayectoria vital de las
dos) influye en la propia carrera científica y en las contribuciones científicas de la muestra (del ámbito español y en las áreas de
que se hacen a la ciencia”. Entendiendo la ciencia como un proceso fisicoquímica, biología, neurociencias y psicología).
colectivo en el que se entrelazan las diferentes contribuciones indi-
viduales, podemos deducir que el devenir de una disciplina cientí- 4) Estrechar lazos y colaborar en la construcción de la red de
fica en la que trabajan mujeres y hombres se verá afectado por las investigadoras españolas que trabajan sobre científicas.
diferencias sexuales. La validación de esta hipótesis tendría como
Junto a ellos, planteamos los siguientes objetivos, más espe-
consecuencia el cuestionamiento de los principios positivistas de
cíficos, aplicados al análisis de los datos obtenidos de las científicas
objetividad y neutralidad de la ciencia, según los cuales las personas
de la muestra:
que hacen ciencia, sus características y recorrido vital, no afectarían
a los resultados de la misma. a) qué factores influyen en su elección de campo de estudios,
La amplia formulación de la hipótesis, que incluye términos en el tipo de preguntas que guían sus investigaciones.
poco definidos, como “influye” y “contribuciones”, hacía necesa-
b) qué cambios introduce la participación de las mujeres en
ria una mayor acotación, que pasamos a explicitar. Interpretamos
la ciencia institucionalizada.
que “influye” quiere decir que pueden encontrarse rasgos en las tra-
yectorias científicas que se explican por la pertenencia a uno u otro c) qué aporta el trabajo científico a las mujeres que lo reali-
sexo. En cuanto a “contribuciones”, puede entenderse de manera zan y al resto de las mujeres.
fuerte, como sería el hecho de que las aportaciones de las científicas d) qué aporta la participación de las mujeres y la incorpora-
incluyeran nuevos temas o enfoques a una disciplina dada –como ción de la experiencia femenina al desarrollo de la ciencia.
ha sucedido a menudo en la historia de la ciencia-, o de manera
débil, como aportaciones a su campo dentro de los paradigmas y e) qué cambios están pendientes todavía, es decir, qué aspec-
líneas de investigación existentes. tos de la organización de la actividad científica responden ex-
234 clusivamente a las necesidades o la experiencia que ha venido 235
Objetivos del estudio siendo categorizada como general pero que es masculina.
Nuestra estrategia ha sido dejar abierta la interpretación amplia para
dar cabida a los hallazgos que pudieran venir del estudio detallado Selección de la muestra
de los diferentes casos individuales, si bien concretamos una serie
En el estudio se incluyeron dos tipos de científicas muy diferentes:
de objetivos. Los cuatro primeros tienen un carácter general:
aquéllas que estudiaron y comenzaron sus trayectorias profesio-
1) Dar continuidad a los trabajos de recuperación de la vida nales en el primer tercio del siglo XX, y otro grupo que comenzó
y contribuciones de científicas españolas en los dos últimos después de los años 50 y han seguido ejerciendo hasta principios
siglos que algunas de nosotras hemos llevado a cabo (Maga- del XXI. Concretamente, hemos profundizado en cinco casos de
llón, 1998; Delgado, 2006). mujeres de la primera categoría y nueve de científicas actuales.
Las científicas de principios de siglo se eligieron entre las Lda. Fa- Lda. Fa- 1ª Doctora Investigado- Publicacio-
que destacaron en su momento en los campos disciplinares de cultad de cultad de española en ra en el INFQ nes como
física, química y ciencias naturales. Los cinco casos seleccionados Ciencias Ciencias Física estudiante y
de Madrid, de Madrid, como cura-
para este proyecto se añaden a los que habían sido estudiados con pensionada pensionada tor de Arte
anterioridad por algunas de nosotras (estudios prosopográficos y JAE JAE
de trayectorias individuales incluidos en publicaciones anteriores
de Magallón y Delgado). La reconstrucción de sus trayectorias vita- b) Científicas actuales
les (muchas veces incompleta) se ha realizado fundamentalmente Nombre Especialidad Centro de trabajo
a partir de documentos históricos y científicos, si bien en algunos
TERESA RODRIGO Física de partículas CERN, Ginebra
casos la información ha podido ser complementada gracias a los ANORO Instituto de Física
contactos con sus familiares y amigos. de Cantabria
Las científicas actuales fueron seleccionadas a partir de nues- ROCIO FERNANDEZ Psicología, evaluación UAM Facultad de
tra propia experiencia en diferentes campos científicos (fisicoquí- BALLESTEROS y envejecimiento Psicología, Madrid
mica, biología, neurociencias, psicología): elegimos a las autoras PAOLA BOVOLENTA Neurobiología CSIC Centro Ramón y
de trabajos que habíamos utilizado en nuestras investigaciones y NICOLAU Cajal , Madrid
docencia, nombres que habíamos citado en nuestros trabajos de MAXIMINA MONZON Neurobiología Facultad de Medicina,
investigación, científicas que habíamos conocido por su especial MAYOR U. de Las Palmas de
relevancia en su campo; es decir, que fueron seleccionadas por ser Gran Canaria
una referencia profesional para nosotras. Todas ellas son científicas Mª JOSEFA YZUEL Óptica, Fotoelectró- Facultad de Físicas de
de éxito. El estudio de sus trayectorias profesionales se ha realizado GIMÉNEZ nica la UAB, Barcelona
con su colaboración, que desde aquí agradecemos, ya que se ha ba- BERTA GONZALEZ Neurobiología Facultad de Medicina
sado fundamentalmente en los datos que nos han proporcionado a DE MINGO de la UAB, Barcelona
través de entrevistas y cuestionarios, que iluminaron los que pue- VICTORIA SAU Psicología diferencial. Universidad de
den extraerse de sus currículos y de su producción científica. Teoría feminista Barcelona
El cuadro siguiente resume los datos principales de las cien- CARMEN BASIL Psicología evolutiva. Facultad Psicología de
236 237
tíficas estudiadas. ALMIRALL Comunicación la UB, Barcelona
aumentativa
a) Científicas del primer tercio del siglo XX ESPERANZA Neuroanatomía Facultad de Medicina
BENGOECHEA de Oviedo
Genoveva Dina Felisa Mar- Josefa Carmen
Gail Gallo Scheinkin tín Bravo González Gómez-
Madrid, Odessa, San Sebasti- Aguado Moreno
Metodología
1896-¿? 1898 – Egip- án, 1998 Albuñuelas Madrid, Con las científicas ya desaparecidas, las de principios del siglo XX, se
to 1933 (Granada), 1914 – NY
utilizaron las técnicas historiográficas al uso: consulta de archivos, ex-
1907-1955 2008
pedientes académicos, rastreo de revistas de su disciplina, memorias
Ciencias Ciencias Física Química Ciencias de las sociedades científicas a las que pertenecieron, acercamiento y
Naturales Naturales Naturales y
Arte
conversaciones con sus familiares, y fuentes secundarias de la época.
A las científicas vivas estudiadas les realizamos “entrevistas en bien porque han sido mencionados por la mayoría, convirtiéndose
profundidad” semi-estructuradas, enviándoles previamente un guión en rasgos comunes de las distintas historias de vida. A continuación
de los temas a tratar. Con ellas obtuvimos información acerca de su se aporta un resumen para cada uno de los objetivos:
vida personal (familiar, social, otras actividades) y de su vida profesio-
nal: campo de trabajo, estancias de formación en laboratorios y otros - Factores que han influido en su elección de campo de estudios y
centros, dirección de equipos de investigación, reconocimientos ob- en el tipo de preguntas que guían sus investigaciones.
tenidos, calidad de sus publicaciones y participación en comités de Encontramos que estos factores fueron: a) influencias fami-
revistas especializadas, sociedades científicas y profesionales, organi- liares, b) la novedad y actualidad del campo, y c) algunos mento-
zación y comités científicos de congresos, comisiones de expertos, y ras/es que les ofrecieron opciones para seguir.
difusión y transmisión del conocimiento científico (participación en
manuales académicos, artículos de revista, capítulos de libros y libros - Cambios que introduce la participación de las mujeres en la
de divulgación científica), así como de la presencia de mujeres en su ciencia institucionalizada.
medio. En cuanto a la organización del trabajo científico, ellas se
Además de las entrevistas, cada una de ellas nos aportó su CV incorporaron a las estructuras y usos existentes sin cuestionarlas.
actualizado, con el que hemos podido completar los datos de su vida Existe más o menos actitud crítica hacia las estructuras de trabajo
profesional. Con todo ello, se elaboró un documento de registro de científico, en función del campo de investigación, y también en fun-
cada una de las entrevistadas, recogiendo los campos considerados ción de tener o no pareja masculina en el mismo campo.
significativos y viables para los objetivos propuestos, así como infor-
mación de sus opiniones y valoraciones sobre la ciencia, la promoción - Qué aporta el trabajo científico a las mujeres que lo realizan y
profesional o el desarrollo de su actividad personal y profesional. al resto de las mujeres.
Las entrevistas fueron grabadas en audio y en vídeo, teniendo Les aporta una gran satisfacción personal, son mujeres que
las grabaciones una duración promedio de hora y media por entrevis- se sienten orgullosas de su vida profesional. Esta satisfacción puede
tada. Estas grabaciones, junto con las fotografías recopiladas, nos han servir de motivación para otras mujeres y crear genealogía. Han he-
permitido iniciar la constitución de un archivo digital sobre el tema. cho aumentar la presencia de mujeres en su campo, incorporándo-
En este archivo se han incluido asimismo imágenes de las científicas las en sus equipos en una proporción mayor de la habitual.
238 239
de la primera mitad del siglo XX, obtenidas a través de intensa bús-
queda en archivos públicos y privados. Se ha constatado la escasez de - Qué aporta la participación de las mujeres y la incorporación
fuentes disponibles y la falta de archivos que recopilen las memorias de la experiencia femenina al desarrollo de la ciencia.
de las científicas pioneras, habiendo logrado las imágenes especial- Todas están de acuerdo en que la participación de las mu-
mente a través de las familias y amistades. jeres mejora la ciencia de una forma general. Paradójicamente, la
mayoría cree en la neutralidad de la ciencia.
Algunos rasgos compartidos
En las entrevistas realizadas a las científicas actuales se analizaron - Cambios pendientes todavía, en particular aspectos de la orga-
los aspectos previstos en relación con los objetivos específicos. En nización de la actividad científica que responden exclusivamente
el conjunto de las entrevistas resaltan ciertos rasgos, bien porque a las necesidades o la experiencia masculina pretendidamente
ellas mismas los han subrayado como importantes en su carrera, o universal.
Las solteras tuvieron obstáculos para desarrollar su carrera. Las Las pioneras incluidas en este estudio dejaron inconclusas sus carre-
casadas han recibido apoyo de sus maridos, generalmente científicos, ras científicas, muchas veces directamente por la guerra, pero otras a
que siempre avanzaron en sus carreras antes que ellas. Han compati- causa del matrimonio o de la falta de oportunidades debida a sus roles
bilizado, en doble jornada, la crianza con la profesión, pero han teni- sociales.
do importante ayuda familiar (del marido y/o madres, padres u otros El estudio realizado evidencia, pues, lo que puede ser consi-
parientes). Todas han sido reconocidas más tarde que los hombres. derado una primera conclusión: el contraste entre las científicas de
Otros rasgos que pueden extraerse de las entrevistas son los principios del siglo XX y aquellas que comenzaron en los años 50 y
siguientes: posteriores, en las que ya se constata que han podido llevar a cabo un
desarrollo completo de sus carreras profesionales.
- Las solteras afirman que la dedicación a la ciencia absorbe su Comparando las trayectorias de científicas españolas del pri-
vida. Las casadas han integrado la vida familiar en su actividad mer tercio del siglo XX con las de científicas actuales, podemos cons-
científica. tatar que las condiciones de igualdad legal en el acceso a la educación,
- Todas han sido reconocidas más tarde que los hombres, sus así como el cambio en las expectativas sociales y en la socialización
compañeros. de ambos sexos, han favorecido la participación de las mujeres en la
ciencia. Los obstáculos que para las primeras llegaron a ser, en mu-
- Todas recibieron apoyo e impulso familiar para hacer estu-
chos casos, insuperables, han sido menores para las que iniciaron sus
dios superiores.
estudios universitarios cincuenta años después. La principal diferen-
- Todas comparten el empeño, gusto y dedicación completa a cia la encontramos en el peso de las cargas familiares, y en particular
la ciencia y la investigación. del matrimonio, que en las primeras determinó su alejamiento de la
- Todas las entrevistadas consideran que han alcanzado el ciencia, mientras que se ha minimizado en las segundas, sin que esto
máximo nivel profesional. signifique que las científicas actuales no se resientan con este proble-
ma.
En la muestra de científicas actuales se observa una cierta mini-
Cambios en el tiempo mización del asunto doméstico (mantenimiento de la casa, cuidado
En relación con las científicas de principios del siglo XX, un primer de los hijos, ...), de forma que no aparece como problema diario a
240 241
resultado evidente es que la Guerra Civil significó para ellas, como resolver. La vida diaria se organiza girando en torno a la profesional,
para el resto de la sociedad, un punto de inflexión que para la mayoría las tareas domésticas apenas aparecen, y en el caso de las que tienen
supondría la ruptura de su carrera profesional. No obstante, esto no hijos e hijas a su cargo, la responsabilidad se comparte con la pare-
les sucedió a todas sus coetáneas: otros trabajos (Alcalá y Magallón, ja, y se reciben ayudas de otros familiares y externas. A ello ayuda el
2009) han mostrado algunos casos de mujeres que continuaron su hecho de que los maridos compartan en muchos casos los mismos
trayectoria investigadora tras la guerra, en particular las que tenían intereses profesionales, e incluso formen parte del mismo equipo de
una ideología similar a la del nuevo régimen dictatorial o colabora- investigación.
ron con él. Si bien los efectos de la guerra y de la dictadura tuvieron
repercusiones en todas las trayectorias científicas, en el caso de las Valoración general
mujeres las directrices políticas de la época franquista tuvieron unas Siendo este un proyecto limitado a una serie de casos, no era nues-
consecuencias añadidas a las que soportaron sus coetáneos varones. tra pretensión obtener unos resultados generalizables a todas las
científicas o a todas las ciencias. Sin embargo, consideramos que mucho, pues aunque realizan largas jornadas de trabajo no parecen
los casos estudiados proporcionan pruebas suficientes para afir- nunca cansadas. Les contraría, sin embargo, tener que dedicar una
mar que el sexo de las personas que se dedican a la ciencia no es parte de su tiempo a otras actividades (a veces tareas de gestión,
indiferente, ni en relación con las trayectorias profesionales, ni en otras de docencia o divulgación) que les aparten de la investigación
cuanto a las contribuciones científicas. que están realizando. Tras escuchar a estas científicas, es fácil com-
En relación con nuestra pregunta inicial, nuestra conclusión prender la frustración de aquellas que por diversas causas tuvieron
es contundente en cuanto a que la pertenencia al sexo femenino que dejar inacabadas sus investigaciones y dedicar su tiempo a otras
influye en la trayectoria profesional dentro de la investigación tareas, como ocurrió en los casos de las pioneras estudiadas.
científica, y podemos afirmar que existen interacciones entre la En cuanto al hecho de haber decantado su vida hacia la prácti-
vida de una mujer y su producción científica. En cuanto al tipo de ca de la ciencia, constatamos que la familia ha jugado un papel deci-
interacciones, la respuesta obtenida ha sido plural y heterogénea: sivo: han tenido el apoyo y la comprensión de su padre/madre para
la vida y características de cada una de las mujeres científicas es estudiar y para elegir su carrera. La sensación de excepcionalidad
única e irrepetible, y existen múltiples formas de solucionar los se transmite solamente en las más antiguas, a pesar de que las más
problemas comunes. Sin embargo, del estudio se desprende que jóvenes estudiaron en clases en las que las chicas no representaban
existen unas condiciones de partida que favorecen el desarrollo más de un tercio del alumnado. También ha sido determinante la
de la carrera científica. Estos resultados nos reafirman en el inte- posibilidad de ampliar estudios en otros países, ya fuera con apoyo
rés por estudiar las biografías y trayectorias vitales como fuente familiar o gracias a las políticas de becas y subvenciones.
de conocimiento, y en particular como base para la elaboración En los relatos de las científicas entrevistadas destaca la impor-
de políticas encaminadas a impulsar la producción científica. tancia que han tenido las relaciones personales en el inicio y afianza-
Puesto que las científicas actuales investigadas son todas miento de sus trayectorias profesionales. Destaca el reconocimien-
ellas profesionales de éxito, puede decirse que sus circunstancias to explícito de las redes de relaciones que les han dado apoyo, tanto
vitales, los factores que nos han explicado acerca de sus vidas, si en los aspectos más vitales (lugar de residencia, idioma) como en
no son causa del éxito (nuestro estudio no es de causa-efecto) sí los estrictamente profesionales, que contrasta con la impresión de
que correlacionan con él: son factores que acompañan al éxito. self made man que transmiten otros relatos autobiográficos al uso.
De ahí su interés. Estos factores son: la legalidad y expectativas En concordancia, se manifiesta un esfuerzo por la prolongación de
242 243
sociales (mentalidad debida al contexto), la actitud de la familia estas redes hacia quienes empiezan actualmente sus carreras cientí-
(padre-madre), la salida al extranjero, la elección de una pareja ficas. La huella que estas científicas dejan no es pues solamente en
científica, el apoyo constante familiar en la vida cotidiana, y el ha- el ámbito de la producción científica directa, sino también en el del
berse dedicado a una ciencia o una rama de la ciencia novedosa. sostenimiento y engrandecimiento de la comunidad científica.
En relación con muchos de estos aspectos, las regularidades ex- También hemos constatado que se cumple lo que indican
traídas de las entrevistas realizadas configuran unos rasgos que, otros estudios históricos: que hay mayor probabilidad de que una
de acuerdo con los datos de que disponemos, muy posiblemente mujer científica destaque en un campo nuevo, donde se da una
compartirían las científicas de principios del siglo XX. menor competencia. En los casos estudiados: la rama de la óp-
En todas las científicas entrevistadas destaca su pasión por tica de Yzuel, el enfoque de la física de partículas de Rodrigo, el
la investigación, el enorme deseo de dedicar su tiempo a algo que estudio del envejecimiento de Fernández, o el estudio dentro de
les gusta y les satisface enormemente. Un tiempo que les cunde la neurociencia del papel de las células de la glía de Monzón, Gon-
zález de Mingo y Bovolenta, son avances en áreas de novedad, no BIBLIOGRAFÍA
son estudios clásicos. Lo mismo puede decirse de los estudios de
biología en los que participaron Genoveva Gail, Dina Scheinkin y ALCALÁ, Paloma. A ras de suelo. Situación de las mujeres en las institu-
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Un resultado inesperado de nuestro trabajo es que todas
las científicas entrevistadas se han sentido reconocidas por haber _____; MAGALLÓN, Carmen. Avances, rupturas y retrocesos: mujeres
sido seleccionadas para este estudio. En algunos casos, el hecho en las ciencias experimentales en España (1907-2005). In: PABLOS, Ana
de haber sido entrevistadas ha transcendido a la prensa y ha teni- Romero de; SANTESMASES, María Jesús (Eds.). Cien años de política
do repercusiones positivas en su medio laboral. científica en España. Bilbao: Fundación BBVA, 2008. p. 141-169.
Finalmente, queremos reiterar que los rasgos comunes en- _____; BORDONS, María; CORTÁZAR, Maria Luisa García de; et al.
contrados constituyen solamente pinceladas de vidas todas ellas Mujer y ciencia: La situación de las mujeres investigadoras en el siste-
más complejas, ya que la riqueza de cada trayectoria de vida es ma español de ciencia y tecnología. Madrid: Fundación Española para la
singular e irreducible a categorías cerradas. Ciencia y la Tecnología (FECYT), 2005.
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248 nes, 2000. 249
1. Preliminares
El género es uno de los pilares más vertebradores de todos los siste-
mas sociales. A escala individual, el género determina también todo
un modo de vivir la existencia humana, de tal manera que dentro de
un mismo sistema social podríamos decir que existe una cultura de
la masculinidad y una cultura de lo femenino.
En la actualidad, una vez quebradas las pautas tan marcadas
sobre el ciclo vital de hombres y mujeres en la sociedad tradicional,
uno de los problemas centrales que afectan a la configuración de la
estructura de la personalidad en las sociedades industriales y urba-
nas es el de la identidad.
Si ha habido un ámbito en el cual el gran cambio social ex-
perimentado en el mundo occidental en tantos aspectos, tras la Se- 251
gunda Guerra Mundial, que pueda calificarse de enorme, éste es el
relativo a la vida de las mujeres.
El proceso no está, ni muchos menos, agotado. Estamos ante
una identidad femenina fragmentada. De tal modo que en la socie-
dad actual se pueden contemplar a mujeres pioneras en distintos
moldes de vida social (vr.gr.: las primeras políticas, senadoras, etc.)
junto a las profesionales establecidas, las profesionales «juniors»
y, asimismo, mujeres con existencias bajo moldes precapitalistas y
«quasi» feudales.
Por conveniencias de espacio, no expondremos aquí en ex-
tenso el modelo teórico interpretativo en el cual hemos efectuado
el siguiente diagnóstico: se está produciendo un proceso de acultura- Criticamos a esa respuesta sencilla del sentido común en lo
ción de las mujeres desde el viejo modelo cultural femenino («el ama que etiquetamos como “el efecto temporal”. El factor tiempo “per
de casa») hasta el nuevo modelo cultural femenino («las profesio- se” no cambiará las cosas. Debe ser ayudado y corregido por con-
nales»). Por ello, todo cuanto se analice en este campo debería llevar troles y medidas “ad hoc”. Ello por las siguientes evidencias: 1ª) el
el rótulo «atención arenas movedizas». Tal es la sensación y realidad grado de desarrollo de un país y su trayectoria sociohistórica, no
de estar nosotras mismas inmersas y siendo protagonistas de este in- correlacionan con el grado de poder de sus mujeres, no guardan
tenso cambio social. una proporción lógica. En este sentido, el “ranking” al respecto, en-
Si la situación social de las mujeres en la actualidad es frag- tre países con sociedades avanzadas no refleja grandes diferencias
mentada, asimismo lo son los móviles por los que se ha llegado a ella: como cabría esperar. 2ª) El flujo de nuevo capital humano femenino
la resistencia de las mujeres a la femineidad convencional ha sido un que aporta efectivos formados iguales a los masculinos, refleja, pa-
arma de cambio (Evans: 1998) pero también el Mercado, la mera radójicamente, no llegar a logros profesionales proporcionalmente
modernización sin más autoconsciencia, ha sido otra vía de producir igualados o equilibrados con el éxito que alcancen los hombres. 3ª)
mujeres alejadas de la dinámica social tradicional impuesta al género La carrera profesional que deben seguir hombres y mujeres está di-
femenino. señada en principio en abstracto, pero, de hecho, desde la lógica
Este acelerado cambio social por género ha tenido y tiene su y necesidades masculinas, las cuales perjudican a las mujeres y, en
traducción en el plano del pensamiento y de la producción del co- conjunto, a la sociedad. No tiene en cuenta el hecho de la materni-
nocimiento que se ha visto forzado a afrontar todo ello súbitamente. dad que es un asunto personal pero también social (vr.gr.: como ha
Así, desde unas Ciencias Sociales, en general, ciegas a todo análisis demostrado la imponente bajada de la natalidad española). 4ª) El
por género, que tenían entronizada la clase social como explicación mero “efecto temporal” no evitará la clara división del trabajo por
«quasi» total de unos sistemas sociales pensados (por puro andro- género que se advierte en la realidad: los efectivos femeninos se in-
centrismo) como asexuados bajo la égida del universal Hombre / corporarían bajo moldes de género al mercado profesional.
Humanidad, se ha pasado a unas Ciencias Sociales en las cuales se Todo lo anterior demuestra la necesidad de una especie de
considera imprescindible o ineludible el análisis de género. “intervenciones quirúrgicas de género” que sobrepasen y potencien
Todo ello ha originado una nueva literatura especializada, su- el que llamamos crítica e irónicamente el efecto temporal.
mamente vital y brillante, pero, asimismo, un magma de tópicos que
252 1.2. El halo de la domesticidad 253
se arrastran cual bola de nieve, engrosando los escritos sociológicos,
una vez tras otra sin ser revisados. Destacaremos sólo los siguientes Las responsabilidades familiares, «cargas» u obligaciones, como
«ad exemplum». se las quiera llamar, se comportan como puntos ciegos, sumideros,
que indefectiblemente se adjudican a todas las mujeres, reificándo-
1.1. El llamado efecto temporal las en una arquetípica y ya inexistente condición femenina. Y no
La respuesta espontánea y común en nuestras sociedades avanzadas, digamos, cuán distante queda dicha «condición» si estamos obser-
al problema de la escasez de mujeres en las esferas del poder, es: el vando a elites femeninas (García de León: 1982). Hay una especie
tiempo lo remediará. Los datos demuestran que no es así. Hay un de perspectiva victimista que esencializa la condición femenina (vr.
cierto estancamiento en muchas áreas científicas y el ritmo temporal gr.: cuestionarios a mujeres profesionales que casi exclusivamente
de incorporación de las mujeres a puestos de responsabilidad profe- les preguntan por hijos, servicio doméstico, etc., y no tanto sobre
sional es lento y está lejos de alcanzar la deseable paridad de género. el trabajo). Funcionan dichos análisis según moldes mentales de la
ideología dominante: mujer igual a cargas familiares. Contra ello, tual) y romper las falsas imágenes provocadas por la gran afluencia
el análisis sociológico deberá cribar lo que denominamos el efecto de universitarias: pensar que la Universidad es ya un universo con-
halo de la domesticidad, un obstáculo al conocimiento en el análisis quistado para la igualdad. Por el contrario, esa gran clientela feme-
por género. Mejor, pensar en cargas familiares según clases socia- nina de la institución (a diferencia de la menor clientela femenina
les. Al límite, tener cargas familiares es no tener profesión, ser ama de sindicatos y partidos) subraya la injusta e injustificada razón de
de casa (hay quienes quieren considerarla una profesión) y, mucho la existencia de un poder académico-androcéntrico. Así pues, viven-
menos, tener una profesión de elite, como las mujeres profesionales ciamos una Universidad contradictoria y paradójica por razón del
que nos ocupan. Éstas se liberan de las llamadas «cargas» en el no género, es decir, feminizada pero no feminista.
inspirado lenguaje estadístico, por un doble flanco de condiciones Trazar la homología entre el campo político y el campo aca-
especiales: o bien son solteras sin hijos y/o bien son mujeres con un démico podría ser de un gran valor heurístico por múltiples razo-
alto nivel social que desplaza las llamadas cargas a agentes especiali- nes, entre las que se encuentran las siguientes: 1ª) El denominador
zados: empleadas del hogar, colegios, etc. Todo evidencia que para común que reflejan las elites femeninas en sus datos biográficos,
profundizar en el conocimiento habría que construir tipologías fe- en sus ventajas y obstáculos para su acceso a los puestos de poder,
meninas, incluso dentro de un mismo campo profesional. más allá de las singularidades del campo: Vid. Bourdieu y su teoría
de los campos. 2ª) La ya mencionada acumulación de conocimien-
2. Una comparación relevante: políticas y científicas to en el campo político, sobre el tema de Género y Poder, dada la
La revisión de todas las esferas de la vida social y de cada una de impuesta primacía temporal de los problemas de las mujeres pro-
sus instituciones es un objetivo socialmente compartido tanto por fesionales en él.
mujeres como por hombres progresistas. Es el campo de la política Todo parece indicar que la institución universitaria no hu-
en el que primeramente se abrió el fuego. Primacía que responde a biera sido impelida a compartir su poder con las mujeres que en
razones inherentes a la lógica de dicho campo, o lo que es igual, a la ella trabajan, ni mucho menos haberse propuesto este reto delibe-
necesidad de representación y legitimidad ante un electorado com- radamente y “per se”, cosa que hubiera podido hacer acorde con su
puesto en su mitad por mujeres y, en general, respondiendo a nece- pretendido talante liberal.
sidades de funcionamiento del “establishment”. Dada esta dinámica Parece como si la institución (el poder académico) hubiera
temprana en el campo político, ya tenemos construida una pequeña vivido agazapado y en silencio, sin plantearse ninguna existencia
254 255
historia y, subsecuentemente, ya contamos con un “corpus” teóri- a este respecto, y asimismo sin serle planteado ningún cuestiona-
co de calidad, pujante y en continua actividad creativa, al igual que miento. Por decirlo expresivamente: letargo por arriba y letargo
continuo y acelerado es el cambio de la realidad social. De ahí que por abajo, es decir, desde las bases o usuarios/as de la Institución.
a nuevos actores sociales, nuevos temas de investigación social, es Ninguna exigencia, ninguna petición de cuota (qué gran hetero-
decir, la estrecha relación y revitalización entre la construcción de la doxia hubiera sido plantear la cuota académica, al igual que en su
realidad social y la construcción de la producción intelectual. día se elaboró la política compensatoria que supone la cuota po-
Es en este sentido que proponemos la revisión de la institu- lítica). Calma chicha en la mar académica, dicho sea en el argot
ción universitaria, ya que es una de las instituciones con un poder marino. Se había conseguido tanto: sólo se hablaba del irresistible
androcéntrico más persistente, en sorprendente paradoja con su ascenso de las mujeres universitarias. Mientras el poder académico
llamado talante liberal. De ahí que la crítica sea obligada. Se trataría, permanecía, y permanece, casi incólume a cualquier reparto por
una vez más, de investigar a la contra (el “quid” del oficio intelec- género, aunque fuera guardando una cierta desproporción en los
porcentajes entre hombres y mujeres con cargos académicos, dada Es en este sentido que proponemos la revisión de la institu-
la trayectoria histórica de la universidad al respecto. ción universitaria, ya que es una de las instituciones con un poder
androcéntrico de lo más persistente, en sorprendente paradoja con
2.1. Una comparación interesante: datos internacionales su llamado talante liberal. De ahí que la crítica sea obligada. Se tra-
Sólo un breve apunte: las élites profesionales femeninas reúnen taría de romper las falsas imágenes provocadas por la gran afluencia
un elenco de características que forman un denominador común, de universitarias: pensar que la Universidad es ya un universo con-
dicho en términos generales; de este hecho hemos realizado múl- quistado para la igualdad. Por el contrario, esa gran clientela feme-
tiples comprobaciones, tanto a nivel internacional, como a nivel nina de la institución (a diferencia de la menor clientela femenina
de los distintos sectores de actividad en que pueden destacar1. No de sindicatos y partidos) subraya la injusta e injustificada razón de
nos detenemos ha analizarlos aquí (por falta de espacio) y remi- la existencia de un poder académico-androcéntrico. Así pues, viven-
timos a la bibliografía especializada, incluida al final. Sólo indicar ciamos una Universidad contradictoria y paradójica por razón del
lo siguiente: a través de dos flancos le vienen estas características género, es decir, feminizada pero no feminista. Igualmente esta re-
comunes (que llaman la atención observar similares en las más visión y crítica es aplicable a las instituciones científicas.
diversas latitudes geográficas y socio-históricas)primero, son ca-
racterísticas “per se”, por su condición de élites y apoyadas en el 4. Profundizando el conocimiento. Las aportaciones del enfo-
poder y su férrea reproducción social; segundo, son características que biográfico
ligadas al sistema patriarcal que es un universal y por tanto, iguala
a estas élites femeninas, hace similares sus peculiares estructuras 4.1. ¿Quiénes son? Una visión al pasado
familiares, como destacaremos en este texto al hablar de sus datos Toda anomalía debe ser explicada. De este modo se procede en el
biográficos. terreno científico, ya sea en el campo de la medicina, de la bioquími-
ca, de la física o en cualquier otro que se vea concernido. En nuestro
3. El poder académico y científico como poderes androcén- caso, tratamos de explicar, desde las Ciencias Sociales, la anomalía
tricos histórica y social que significa el caso de las primeras élites profesio-
Dejando a un lado matices, se puede afirmar que respecto a un nales femeninas. Sin embargo, estas mujeres, aun siendo pioneras y
256 equilibrado reparto del poder entre hombres y mujeres académi- minorías, se han producido en tal número, y sobre todo apuntalan- 257
cos y/o científicos (es decir la Universidad o el campo de la In- do tal tendencia social a un incremento de futuro que no pueden ser
vestigación) ambos ámbitos el universitario y el científico, se com- catalogadas como “excepciones”.
portan de igual manera. De tal modo que igualmente podríamos Estudiamos a mujeres profesionales, cuyas edades están
decir poder académico = poder androcéntrico que poder científico comprendidas entre los cincuenta y setenta años y cuya actividad
= poder androcéntrico, y en suma, en ambas instituciones destaca profesional se ha desarrollado plenamente desde los años ochen-
la existencia de un poder ejercido y controlado casi en solitario por ta, siendo significativo desde el punto de vista histórico que sean
los hombres y, lo que no es menos importante, desde su particular la primera rectora, las primeras catedráticas de su especialidad, las
perspectiva masculina de la realidad. Veamos la evidencia de los primeras académicas de su área de conocimiento, etc.
datos: tanto catedráticas como profesoras de universidad, la más En suma, hemos hablado de anomalía, la pregunta obligada
alta jerarquía que las mujeres pueden alcanzar en sus respectivas sería: ¿qué era lo normal? ¿la norma? Pues bien, las élites profesio-
instituciones, están prácticamente igualadas en su escasez. nales femeninas son anomalías porque lo normal en la sociedad pa-
triarcal en que nacieron, se socializaron y han forjado sus carreras Nuestro diagnóstico es el siguiente: para que una mujer pu-
profesionales, era la mujer no profesional, o dicho de otro modo, la diera abrirse camino hacia una profesión superior en cualquier
mujer profesionalizada en las tareas familiares: el ama de casa. Y en sociedad tradicional patriarcal se tuvo que producir un significati-
otro plano de lo real, la norma eran las mujeres sin poder (profe- vo proceso de sobreselección social, más intenso que la selección
sional). Esta dialéctica entre norma-anomalía, o si se prefiere en- social que muestra toda biografía de élite (y, en concreto, las de
tre lo general y la excepción, tal vez explique, como telón de fondo nuestro elenco de hombres periodistas y catedráticos de universi-
histórico, aspectos de su condición de élite, su mérito y su demérito, dad que veremos en sus respectivos capítulos). Ello en el terreno
en términos de estructura, no aludimos aquí a personas ni a psico- de lo social. Pero la fortaleza de la negación de un mundo profe-
logías individuales. sional a las mujeres fue tal, que provocó, además de la mencionada
El enfoque biográfico es una aproximación emergente para el sobreselección para que dichas mujeres pudieran alcanzar el éxito
estudio de la realidad social, pese a su dificultad, debida, entre otros en sus profesiones, el siguiente hecho: que fuese una sobreselección
factores, a este nuevo fenómeno: “el cambio radical de los procesos muy cualificada, es decir, familias no sólo con riqueza, sino fami-
de individualización de las biografías. Las historias personales son lias ricas y cultas. Por si todo ello no bastase (y no bastaba dada la
cada vez más difíciles de tipificar. Los individuos siguen hoy cami- fortaleza del patriarcado) debieron contar con padres muy especia-
nos que no se dejan captar en ninguna de las categorías tradiciona- les: padres no solo singulares por su riqueza (económica y social)
les”. Esta puede ser una de las dificultades actuales del tratamiento y por su riqueza cultural, sino padres sobre todo singulares por su
de los materiales biográficos, pero que encierra, a su vez, una de las sensibilidad hacia las mujeres, padres liberales y hasta “feministas”
razones de su uso creciente: la ruptura del curso biográfico tradicio- (“avant la lettre”). Unos lo fueron por principios, otros inicialmente
nal, molde vital férreamente trazado para todos los estratos sociales forzados por un significativo destino familiar: ser patriarcas de so-
y, dentro de ellos, para sus hombres y mujeres, con el consiguiente roridades, es decir, familias que no tuvieron primogénito, familias
rechazo social y punición a la desviación de dicho molde. con una especial composición femenina, de tal manera que el padre
Los materiales biográficos de las élites profesionales fe- se vio obligado por las circunstancias a pensar en los destinos de
meninas que aquí trabajamos, tienen, además del interés de todo sus hijas, o a trasladar de buen o mal grado el diseño profesional del
material de estudio, la importancia añadida de ser vidas en transi- “heredero” que no tuvo, a sus hijas.
ción, es decir, cursos vitales con un componente tradicional fuerte Se ha teorizado largamente sobre los capitales social, econó-
258 259
(componente de pasado) presto a ser alterado, cambiado, por un mico, simbólico, cultural y escolar de las personas, pero no se suele
componente nuevo y de cara al futuro. Nuestras mujeres, objeto de hablar de un hecho esencial para su funcionamiento como persona
estudio, son mujeres en transición. Ellas mismas manifiestan tener adulta: el suelo psíquico sobre el que ha crecido, o lo que podría-
consciencia de su propia coyuntura histórica. Veámoslo en estas mos llamar su capital afectivo. Sin embargo, este “input” es funda-
declaraciones: mental en cualquier biografía, y se pone claramente de manifiesto
en las de nuestras entrevistadas como una importante socialización
“Somos una generación puente. Estamos en el momento de hacer cua-
tro cosas a la vez. No podemos ser débiles” (Catedrática, 55 años). en patrones profesionales para las hijas primogénitas y/o únicas en
las familias sin descendencia masculina.
“Somos un modelo. Cuando yo estudié en EE.UU. ya existían tres generaciones de Es asimismo destacable que, en muchos casos, sus familias
mujeres académicas. Ahora nosotras somos las donadoras del saber” (Catedráti-
ca, 53 años). componen una especie de matriarcado, o lo que es igual, padres que
no tienen hijos varones, o bien, que ellas son las primogénitas, po-
sición muy significativa en la constelación de hermanos/as como nospreciando toda consideración de género y lejos de toda cons-
ha sido puesto de manifiesto por diversas investigaciones. De este ciencia histórica. Asimismo, tendencia de esas mujeres a no ahorrar
modo, son fácticamente, muchas de ellas, las herederas, con un des- a las otras mujeres los esfuerzos que ellas mismas han tenido que
tino socioprofesional que se ha cargado de la energía de un padre desplegar para llegar al puesto de responsabilidad donde están, in-
que no ha tenido hijo varón en quien depositarla. cluyendo también la tendencia a sacar gloria y beneficio del hecho
de ser tan pocas las de su sexo, en su ámbito. Por último, tendencia
4.2. ¿Qué hacen? Una visión de presente de estas mujeres a disociarse de su sexo y a no ser solidarias con los
“Tenemos una identidad provisoria”. Parte sustancial del poder es problemas de la mayoría de las mujeres.
poder (en esta deliberada redundancia) controlar cómo los demás Las mujeres solidarias, por oposición a la anterior categoría,
nos ven, y esto se nos escapa a las mujeres, no lo dominamos. Aún tendrían consciencia histórica de su identidad de género y conver-
pesa mucho el género: tal vez ser estimada como una posible “presa tirían su privilegio (v. gr.: ser una mujer profesional de élite) no en
sexual”, o simplemente, ser vista como una hembra2. crear y aumentar la distancia social, sino justamente en lo opuesto:
Más allá de toda “moralina”, en la arena pública actual hay el gozo de poder tener y por tanto poder repartir, estar en condicio-
mujeres con una clara reluctancia hacia el poder y otras decididas nes de ayudar. Un privilegio es para dar, sitúa en el deber social de
a entrar en él. En ambos casos, las razones y los discursos han sido dar, podrían pensar desde esta postura.
ampliamente sopesados y sometidos a reflexión y análisis. Preguntas relevantes podrían ser las siguientes: ¿Hay un lide-
Las primeras, las que se muestran distantes hacia el poder, o razgo femenino en la actualidad? ¿Cuáles son las condiciones de ese
más exactamente, a un poder con reglas “tramposas” en tanto que liderazgo para existir? ¿Cómo se pueden ayudar las mujeres?
desequilibradas para las mujeres (como hemos visto con las redes De cara a medidas y, en general, de cara a promover cambios
informales y la irresponsabilidad masculina hacia la familia) pue- sociales, sería de interés evaluar qué papel social están jugando las
den tener dos posturas: la denuncia explícita, o bien lo que es más élites y, concretamente, las élites femeninas respecto a la elimina-
común, la no participación, denuncia tácita, que tiene visos de pasi- ción de la discriminación de género. ¿Están deliberadamente ayu-
vidad pero sobre todo es fruto de un sabio realismo ante unas reglas dando a acelerar un cambio social? ¿Obstaculizan dicho cambio
del juego en las que ellas no han participado. Un motivo más para para mantener la distinción y/o el elitismo? ¿Están en sus posicio-
tildar al juego del poder tramposo por motivos de género, aparte de nes como un peso muerto, inerme, simplemente haciendo núme-
260 261
otros motivos sobradamente conocidos y más allá del género. ro? ¿Ejercen un liderazgo social o se comportan con el más craso
En el otro extremo, las mujeres que se introducen en el juego individualismo? ¿Las otras mujeres apoyan su liderazgo, lo recono-
del poder (aun a riesgo de esquematizar) pueden tener dos pos- cen en caso de tenerlo, o bien, obstaculizan, si pueden, su posición
turas: o bien estar bajo el llamado “síndrome de la abeja reina”, y preeminente? Estas cuestiones relevantes tendrían tal entidad pro-
vivir su condición de élite desde el elitismo y la distancia, o bien una pia para ser el punto de partida de una nueva investigación.
postura solidaria, consciente de la opresión femenina y del esfuerzo En síntesis, como indicábamos al inicio, hay que tratar de
colectivo por erradicarla. Veámoslas. estar más allá de todo maniqueísmo o simplificación. El grado de
Las abejas reinas, o una forma de etiquetar a algunas muje- complejidad del cambio social por género hace que rápidamente
res que han alcanzado ciertas posiciones en áreas tradicionalmente las categorías de trabajo (v. gr.: mujeres profesionales) queden
dominadas por los hombres, que muestran las tendencias a sentir como categorías muy generales. La creciente especialización de la
que lo han hecho individualmente y por sus propios méritos, me- realidad de las mujeres, fragmenta la condición femenina y especia-
liza asimismo los Estudios de Género que sobre ella versan, requi- servicios de bienestar. En contraste, los hombres parlamentarios
riendo la construcción de tipologías femeninas, incluso dentro de pasaban más tiempo en actividades de partido, especialmente en
un mismo campo (vr.gr.: las mujeres políticas). Todo ello adobado reuniones informales con otros miembros y en las reuniones del
con la celeridad de un cambio social imponente. grupo parlamentario. Además, los hombres pasaban más tiempo
en debates mientras que las mujeres preferían el trabajo en co-
4.2.1. Obstáculos externos misiones especiales. Así pues, reuniones informales, debates, o
(a) El ceremonial masculino o el juego de lo serio. similares, es decir, el estilo y lugares clásicos de la masculinidad.
Tantos siglos de ágora, foro o casino son difíciles de olvidar por el
Numerosas investigaciones están recogiendo la queja de las mu-
inconsciente histórico varonil.
jeres profesionales sobre el dispendio de tiempo de sus colegas
Sumamente aclaratoria de estos aspectos que estamos ana-
varones en reuniones interminables en las que subyace velada-
lizando es la didáctica obra de V. Camps (1998) que resume los
mente, no la eficacia, sino la lucha simbólica, de ver quién dice la
siguientes tres rasgos arquetípicos del comportamiento masculi-
última palabra o pone la última coma, por poner un ejemplo, ya
no en el campo de los partidos políticos, pero, a nuestro juicio,
que el juego del «hacha de silex» ha periclitado. Igual dispendio
extrapolables a toda organización con hegemonía masculina, y
de tiempo (o ganancia de tiempo en su carrera al poder) hacen los
qué duda cabe, a las empresas en general, como indican una y otra
hombres en la «política de pasillos», «restaurantes», etc. desde
vez nuestras entrevistadas. Los mencionados tres rasgos son: “or-
la óptica femenina. Tal vez, autoexculpados en su mayor parte de
ganizacionismo” (perderse en la organización que es una forma
las responsabilidades de la vida familiar y doméstica.
de perderse en el mundo) “formalismo” (el discurso hueco, las
Glosemos estos extremos importantes y, cada vez, más
reuniones interminables) y “la media verdad”.
puestos en evidencia con algunos ejemplos de otros campos,
En dichos extremos, abundan las críticas de las participan-
concretamente el de la política. M. Aubry (ex-ministra francesa)
tes de un grupo de discusión de alta cualificación (incluye medios
señalaba: «En la política como en el resto de esferas las muje-
de comunicación) al igual que parte de los sujetos de nuestra in-
res molestan porque dicen lo que piensan más fácilmente y más
vestigación. De ahí que sea de interés incluir esta cita. Sus opinio-
directamente. En un medio en que la gente pasa mucho tiempo
nes trascienden las características de su empleo para cuestionar la
divagando, eludiendo las cosas, mejorando las relaciones entre
organización del trabajo, provista de una racionalidad del tiempo
262 unos y otros, es verdad que las mujeres molestan porque no du- 263
despilfarradora: “Como no hay otros tiempos en los que pensar, las
dan en plantear los debates mientras que los hombres dudan ha-
reuniones se extienden a lo largo del día, ellos no saben en qué emplear
cerlo para no crear oposición». Asimismo, P. Norris analizó las
su ocio”. Su crítica, como expone Murillo: “proviene de las formas
actividades parlamentarias de hombres y mujeres de la Cámara de
y condiciones que adopta el mercado de trabajo. La sujeción a
Comunes británica, encontrando grandes diferencias de género
una jornada intensiva ofrece el asidero a dos juicios de valor com-
respecto a las tareas que consideraban principales en su calidad de
plementarios. Por una parte, el miedo a travestirse en una cade-
miembro del Parlamento: las parlamentarias británicas dedicaban
na de semejanzas con el prototipo de varón trabajador, cuando
bastantes más horas al trabajo relacionado directamente con los
disponer de otros modelos de gratificación (la vida familiar o las
electores o con su circunscripción y, además, se daba un contras-
aficiones personales) implica desprenderse de una identificación
te muy grande en las horas dedicadas a casos concretos, ayudan-
con la cultura de la competitividad y el ejercicio de la profesión.
do en problemas individuales como vivienda, servicios sociales y
Horizonte predominante en la actividad viril. Y, por otro lado, en
ningún momento el grupo dejar de reconocer las contrapartidas: política y social a través de la cuota tácita que practican los partidos
el ejercicio de la autonomía que conlleva un empleo muy bien re- políticos que introducen a mujeres en los más altos puestos sin re-
munerado”. currir a la denominada discriminación positiva, a la que son refrac-
Abundando en lo anterior, podríamos decir que el ceremo- tarios, aunque de hecho la practiquen.
nial masculino, implícito en el juego del poder cuyos actores por Hay normas sociales no escritas pero tan poderosas como si
excelencia son los hombres, es visto desde la visión de género de lo estuvieran. En la sociedad rural, por ejemplo, la hora de “la parti-
las “outsiders” y dominadas, las mujeres, no tanto ya como el rey en da” (de cartas, de dominó, etc.) eran, y aún hoy son, horas mascu-
camisa, sino como “el poder en camisa” y cualquiera de sus rituales linas con sus respectivos espacio y tiempo circunscritos, no trans-
y boatos como juegos de artificio en los cuales de lo que se trata au- gredidos por las mujeres. Ese no compartir y no transgredir parece
ténticamente, más allá de la apariencia, es de afianzar exclusivamen- seguir existiendo aún en los ámbitos más racionalistas e igualitarios
te la identidad masculina, la cual básicamente se confirma y tiene como pudiera ser a primera vista el mundo de la Universidad.
sus asideros más firmes en la lucha y la competencia. Pasamos a dar Por último, nos parece casi deliciosa la candidez con la que
cuenta de algunas muestras de estas luchas. expresa esta alta profesional del periodismo, la persistencia de uni-
(b) El efecto de “el viejo club de los muchachos” versos masculinos aparte, que desde luego están más acá y más allá
del carácter amistoso, lo traspasan (lo “trufan” casi podríamos de-
El sistema de poder informal es el poder que se mueve en la sombra y cir) con intereses profesionales, políticos, académicos, o de cual-
se complementa con unos poderosos mecanismos, los cuales obtie- quier índole, pero a fin de cuentas intereses, no mero altruismo o
nen su fortaleza de ser la mayor de las veces inconscientes, propios simple amistad:
del androcentrismo y de sus prácticas anexas en nuestra cultura. “Hombre, yo creo que de todas formas sí que influye que los hom-
“The Old Boys Club” es una expresiva etiqueta del feminis- bres se reúnen entre hombres y están más confiados”.
mo anglosajón, para denunciar la sistemática recurrencia masculina Es en esa zona-atmósfera del “estar más a gusto”, “estar más
a recurrir (valga la redundancia) a hombres, antiguos conocidos, confiados”, en la que se introducen las discriminaciones ocultas más
para repartir entre ellos nombramientos, cargos, en suma, poder. sofisticadas, en muchos casos inconscientes. Se producen contra la
De esa forma han sido evidenciados, criticados y sacados a la luz mujer “quasi” sistemáticamente y contra los hombres no poderosos
dichos mecanismos en los que la antigua amistad masculina acude por otros motivos. Ese “estar más a gusto”, es muy humano, pero
264 por norma al viejo amigo, en nuestro caso, al amigo del bachillera- 265
para la amistad, no para ponerse en el desfiladero de transgredir las
to, al compañero del Colegio Mayor, Residencia u otros espacios normas de igualdad entre hombres y mujeres que nuestras socieda-
sociales para cooptarlo y repartir con él parcelas de poder. Son me- des se han otorgado a sí mismas.
canismos “humanos demasiado humanos”, basados en una realidad
de un mundo segregado de hombres y mujeres que no obedece ya (c) La situación de tribunal: una situación desigualitaria y desfavo-
a las pautas de la sociedad actual, por lo cual ha sido necesario esa rable para las candidatas femeninas en general
especie de intervención quirúrgica que ha sido la “cuota” y en la ac- Situándonos en un nivel crítico hacia la institución universitaria, es
tualidad lo es “la paridad”, medidas de discriminación positiva, para obligado citar el excelente ensayo titulado significativamente «La
que realmente tome cuerpo también en los aspectos de género esta tribu universitaria»3. En él, A. Nieto analiza (y con gran conoci-
nueva sociedad creada. “Sexismo igual a democracia imperfecta”, miento de causa, puesto que es un personaje que ha vivido de lleno
se ha escrito. O bien ha sido necesario ganar mucho en sensibilidad el poder académico) la universidad (en este caso la española, pero
creemos que generalizable a otros ámbitos), su carácter «quasi» nos están igualados, no obstante, los hombres siguen obteniendo
feudal, reinos de taifas en permanente guerra de banderías. Es muy las mayores y mejores ventajas profesionales, los mejores pues-
difícil, obviamente, a alguien que viva como un sujeto autónomo, tos de dichos círculos, y las mujeres sean en ellos élites discrimi-
libre de grupos, prosperar en ella. En suma, habría que criticar po- nadas. Por ejemplo, ante unas pruebas profesionales (oposición
líticamente y también desde el feminismo (por intereses de polí- a cátedra) un hombre llevará sus conocimientos + el excedente
tica feminista) el estado, podríamos decir, de no modernidad, de de valoración masculina que lo dota de autoridad, y una mujer,
irracionalidad que preside la institución en sus más altos niveles de por contra, llevará un déficit de valoración + una ilegitimidad his-
cara al reparto y ejercicio del poder. Este estado de irracionalidad tórica en esa práctica. El excedente de valoración masculina que
de la universidad es doblemente perjudicial para las mujeres. Como ha acumulado el candidato hipotético (por el mero hecho de ser
regla general, podemos decir que a las mujeres les favorece la trans- un hombre) y, sin embargo, le falta a la candidata, funciona en
parencia, por lo siguiente: la falta de transparencia es doblemente varias vertientes: 1ª) la diferencial socialización masculina, ya le
perjudicial como mujeres (género) y como dominadas (sujetos sin ha ido proporcionando desde la infancia esa valoración superior
poder). Es decir, en un campo con grandes dosis de poder, las mu- y subsecuente autoridad; 2ª) cualquier tribunal profesional está
jeres, al no tener poder por lo general, por tanto no van a tener la compuesto casi en su totalidad por hombres, produciéndose así
posibilidad de influenciar o intervenir en el comercio de favores que una afinidad de pautas culturales entre examinado y examinado-
obtener una cátedra conlleva o puede conllevar. res; y 3ª) el hecho de ser varón el candidato, le dota «per se» de
Los hombres, como tales hombres, no pagan tanto precio autoridad, lo acrisola en su rol, mientras que la situación novedo-
como la mujer en el escenario universitario. En primer lugar, por- sa que constituye una mujer en situación de examen profesional,
que están socializados en la brega de la dureza de la lucha por el en el mejor de los casos, produce curiosidad, sorpresa, duda, que
poder; en segundo lugar, porque tienen el apoyo de una sociedad incluso a veces puede jugar a su favor por el valor que se le puede
patriarcal, y, en tercer lugar, porque por definición los hombres acordar a lo exótico, pero, sin embargo no produce una situación
suelen reunir más poder que las mujeres, las cuales suelen tener un neutra o el automatismo de autoridad que crea por sí misma la
poder o influencia indirecta (ser la mujer de ..., la cuñada de ... etc.). violencia simbólica que acompaña a la masculinidad.
Por tanto, la negociación femenina para obtener poder es mediada La ruptura del criterio meritocrático (igualdad, objetividad,
y, en suma, más débil. En nuestra opinión, aquí radica el “quid” de etc.) parece producirse en el ámbito universitario, y muy espe-
266 267
una de las más importantes desventajas femeninas: la falta de poder cialmente en las pruebas que suponen las oposiciones a cátedra, a
o su posesión en menor grado. Es decir, enfatizamos que se trata de juzgar por los bajísimos porcentajes de: 1º) mujeres que llegan a
un problema de poder, y no tanto de un problema de socialización, tal tipo de oposición, y 2º) por los bajísimos porcentajes de logro
argumento sumamente empleado y que, aún siendo cierto, es débil en ellas.
y remite la causa a la infancia, dando la sensación de un cierto fata- La meritocracia implica un discurso y juego social desde
lismo. Socializarse en la competitividad, y hasta en la agresividad, es la perspectiva de la dominación, ampliamente criticado por una
factible. Tener o poder es difícil, choca frontalmente con las cons- literatura sociológica ya clásica. Ahora bien, aun admitiéndola,
tricciones del mundo social, o de lo real en general. es un juego social que quiebra significativamente en el ámbito
Pongamos un ejemplo relativo a las reglas del juego académi- universitario, por su “clanismo”, o lo que es igual un poder con
co mencionado. Habría que explicar cómo en círculos de alta cua- rasgos “quasi” feudales (vasallaje incluido). Prueba de ello es que
lificación profesional, donde los «curricula» masculinos y femeni- en ámbitos donde las oposiciones guardan unas reglas y contro-
les racionales y asépticos a grupos de presión, las mujeres triunfan. (b) Virtudes femeninas / irresponsabilidad masculina
En las oposiciones en que sólo se trata de ser “buenas y brillantes Hay más factores que influyen en ese ejercicio desigualitario del po-
estudiantes” (esfuerzo, trabajo, mérito) las mujeres se presentan y der por género: la desventaja femenina se convierte abusivamente en
triunfa, mientras que en oposiciones donde priman las relaciones de correlativa ventaja masculina. De esa injusta asimetría da cuenta ese
poder (por excelencia, las oposiciones a cátedra de universidad) las reconocer, por parte de hombres profesionales (sin embargo no ha-
mujeres ni se presentan, o se presenta el reducido número de las éli- ciéndose más problema) las carreras truncadas de sus mujeres. Más
tes femeninas, es decir, una forma más de desigualdad (frente a hom- allá de psicologías personales y sin “moralina”, es fácilmente aquila-
bres y mujeres) y una discriminación para ellas mismas y, por último, table los “inputs” que el sistema patriarcal ha otorgado a las carreras
claro exponente de una discriminación general por género, ya que la profesionales de nuestras élites profesionales masculinas, y específi-
inmensa mayoría de mujeres no reúnen esa condición de élite y sus camente los “inputs” que sus mujeres “voluntariamente”, es decir, si-
minoritarios “inputs” biográficos. guiendo las reglas socializadoras del sistema, les han proporcionado.
4.2.2. Obstáculos internos En síntesis, la sociedad patriarcal ofrece a los hombres por
propia definición de lo que es tal sociedad, unas coordenadas exce-
(a) La lucidez de las excluidas lentemente ventajosas para desenvolverse en el ejercicio del poder,
Volvamos de nuevo al anterior testimonio citado y su descripción- las cuales son diametralmente desfavorables para las mujeres. Las
vivencia del ejercicio del poder por parte de los hombres de su profe- condiciones de género en relación al poder son el cóncavo y convexo
sión. Sobre este eje del poder, la mirada femenina se comporta como de una superficie: donde hay un rasgo se produce indisolublemente
la mirada de «el Otro», como si perteneciera a otra cultura, de ahí otro igual pero de signo distinto. Así, en los últimos testimonios de
que todo parece indicar, dicho con la archiconocida frase: “las muje- los profesionales que hemos dado, hombres favorecidos por sus es-
res han visto al rey en camisa”. Y lo que es más: se han decepcionado. posas, la ocupación a la familia por parte de la mujer, supone una gran
Es la mirada limpia e inteligente, que da la distancia de quienes no ventaja para el hombre y asimismo una gran desventaja para la mujer
están en el juego. Y, al tiempo, es la mirada torpe de las no iniciadas. que lo hace, desde la perspectiva de la trayectoria profesional.
La lucidez de las excluidas, al menos entre las mujeres profesio- Virtudes femeninas versus irresponsabilidad masculina, e in-
nales que tienen constantemente el elemento masculino comparativo cluso desfachatez masculina, podría decirse, sin faltar a la realidad de
268 en su práctica laboral cotidiana, ha puesto de manifiesto recurrente- los hechos, pero no es nuestro deseo o estilo caer en una especie de 269
mente cómo la masculinidad “per se”, en un mínimo contexto pro- “fundamentalismo feminista”, sabemos que la realidad social y hu-
fesional donde ello sea posible, goza de unos privilegios meramente mana es muy compleja. Un pensamiento en blanco y negro (como
simbólicos (injustamente diferenciales y en detrimento de los de las cualquier fundamentalismo lo es) poco matizado, se mueve entre
mujeres, aunque sólo sea porque afecta a un mundo de recursos y ambos polos, cuando lo que más abunda en la realidad es el inmen-
puestos escasos) como simbólico es también el ceremonial con los so continuum de la banda de los grises. Tras esta metáfora cromática
que la masculinidad los hace valer. Veámoslo de una forma palmaria podríamos interrogarnos: ¿virtudes femeninas? A veces incapacidad,
en el testimonio de esta mujer profesional: frustración, etc. En cualquier caso, conductas las de las esposas-espo-
sas, por así llamarlas, que no han puesto en práctica sus estudios ni
“Sí, sí, yo creo que un hombre mediocre tiene bastantes más posibilidades de éxito
que una mujer dedicada a lo que hace, con igual o doble de competencia profesional”
ejercido profesionalmente, coherentes con el viejo molde patriarcal
(Catedrática, 41 años). de relación matrimonial. De otro modo, estaríamos simplificando un
complejo modelo cultural.
(c) Las tentaciones de las élites femeninas discurre el fenómeno del poder, en una sociedad que vive bajo la
Más allá de psicologías personales, la difícil posición estructural de hegemonía del Homo Oeconomicus.
las élites profesionales femeninas viene dada por los siguientes he- Comencemos a responder a la pregunta que nos hemos he-
chos: Primero, por ser unas pioneras, lo cual las sitúa en el plano de cho sobre cómo articulan los hombres el poder. En primer lugar, los
ser mujeres en un mundo de hombres (estamos visualizando el tema hombres articulan el poder por un hecho rotundo, por una cuestión
en sentido horizontal). En segundo lugar (visualizándolo en sentido “de facto”: porque lo tienen. En efecto, y por expresarlo al modo
vertical) las sitúa en la cúspide, en una posición de privilegio con res- “shakesperiano”: tener poder o no tener poder, ésta es la cuestión.
pecto al resto de mujeres, la base. Y respecto a este extremo, por definición de lo que es una sociedad
Por dicha estructura, las tentaciones psicológicas a las que las patriarcal, las mujeres no tienen poder o lo tienen en menor medi-
élites profesionales femeninas están abocadas, son a sentirse-pen- da, casi siempre de modo indirecto.
sarse como mejores y distintas. Por otra parte, sus tentaciones fác- Podríamos matizar, no han tenido poder ni lo tienen aún en
ticas (en el plano de actitudes y hechos) son las siguientes: 1ª) un la esfera de la vida pública (por expresa prohibición las mujeres no
cierto travestismo: mimetizarse física y mentalmente con los moldes estaban en lo público en la sociedad franquista, por ejemplo). Aho-
dominantes y/o al uso de ejercer la profesión y el poder, los cuales ra bien, este circunscribirnos a decir la vida pública es una conce-
son masculinos por excelencia. 2ª) Falta de sensibilidad histórica a sión un tanto vidriosa al tópico esgrimido “ad nauseam” en el dis-
la trayectoria de un movimiento de mujeres que ha creado unas con- curso social común: “pero en casa, mandan las mujeres”, que es una
quistas y una situación social favorable para que ellas mismas hayan forma de salirse por la tangente y que nada resuelve sobre el tema
podido acceder al poder4. En síntesis, el no feminismo, es una tenta- del poder.
ción y, de hecho, una característica que se advierte en bastantes élites En segundo lugar, los hombres una vez que tienen el poder,
femeninas, algunas de sus claves pueden encontrarse en el tratamien- deben mantenerlo y reproducirlo, ambas operaciones por defini-
to biográfico que hemos realizado sobre ellas. 3ª) El individualismo ción de lo que es la naturaleza del poder. En suma, esas son sus
que podría expresarse en estos términos: a mí me ha costado mucho características ineludibles para que no pase a convertirse en un no
llegar, la que valga que lo demuestre. poder. En efecto, el poder tiene una naturaleza ensimismada, po-
Dicho individualismo meritocrático, junto con las otras ten- dríamos decir, ya que su naturaleza es mantenerse. De este modo,
taciones, les dificultaría la comprensión del problema de la discrimi- el poder se aliena en sí mismo. No se trata de tener poder para algo
270 271
nación de género, obstaculizaría el aunar fuerzas y plantear medidas sino tener poder por el propio hecho de tener poder. Asimismo,
contra ella y, por último, dichas tentaciones (tendencias) no propi- otra condición intrínseca del poder es su carácter abrasivo, todo lo
ciarían el ser solidarias con el resto de las mujeres. quiere, necesita todo recurso para mantenerse frente a los muchos
que no tienen poder y desearían apropiárselo, en el obligado marco
5. El poder: una asignatura pendiente de las mujeres de la escasez que es toda sociedad humana. Pero, además, el poder
también es abrasivo (engullidor/destructor) de manera acorde con
Cómo articulan los hombres el poder (el taylorismo masculino) el signo de los tiempos actuales: el narcisismo como carácter so-
Trabajo, productividad, especialización, etc., son las características cial dominante. De este modo, contemplamos en la escena social,
del hombre occidental contemporáneo que hemos querido resumir grandes egos. Hoy, las figuras públicas no se conforman con ser una
bajo el enunciado del “taylorismo” masculino. Ellas están entro- cosa, están ahítas de dualidades, de fama, v. gr.: presentadora y li-
nizadas en su mentalidad y son cauces por los que generalmente terata, señora de y novelista, político y novelista. En el tiempo anti-
guo, se era notario o médico de por vida. Hoy en la era de Narciso men” y de las vanguardias más actuales, todo ello batiéndose en la
se quiere ser bidimensional o tridimensional si se puede. Dobletes marmita de un cambio social acelerado.
maravillosos, dualidades omnipotentes, divinas, pero casi imposi-
bles del ser humano y que cuando se dan producen maravilla, son la Cómo no articulan las mujeres el poder (el mestizaje femenino)
excepción insólita no la regla social (o al menos, dicho de un modo En las mujeres profesionales se produce una significativa dualidad,
más suave, estilo social) a la que se tiende hoy en día, lo cual no es entroncada directamente con graves problemas de la identidad de
incompatible con la consabida hiperespecialización del sistema. género hoy, y que refleja la tensión que sufre dicha identidad entre
En suma, volviendo al comienzo, los hombres pueden articu- ser mujer-mujer y ser profesional-profesional, por decirlo humorís-
lar el poder teniéndolo (e implicándose en los condicionantes más ticamente. Tensión que el hombre profesional, más que nada ente
alienantes de su naturaleza que acabamos de nombrar). Es esta una profesional a secas, se ha ahorrado históricamente en una única elec-
cuestión meridiana, para cualquier clase de poder. Los hombres, ción: me pongo el terno gris o el mono azul, según el caso, y presto
una vez que lo tienen, se saben desenvolver en él a través de un uso a trabajar. Parte del estrés (y de la sobreselección social que también
ilimitado de tiempo en la vida profesional: ingentes cantidades de a estos efectos se le exige a la mujer profesional) viene de mano de
trabajo, más el conocido cultivo de redes profesionales amistosas, esta especie de esquizofrenia femenina socialmente impuesta que
más la consuetudinaria irresponsabilidad masculina respecto a lo por nombrarla en forma coloquial podría exponerse bajo la forma
doméstico-familiar. El paradigma masculino se encarna en horizon- de este singular imperativo categórico: “tener que ser la más mona y
tes vitales cerrados, homogéneos e inmóviles sobre el eje profesio- tener que dar la mejor conferencia”, por ejemplo. No hay que buscar
nal. Sin entrar en valoraciones éticas, dicho paradigma es absoluta- mucho, la arena pública está llena de “profesionales-cortesanas”, o
mente ventajoso, adecuado y coherente con la vida profesional y el de la mujer “cortesana-profesional”, como también pudiera llamar-
logro de poder. Supone un ahorro total de tiempo, recursos y ener- se. No estamos hablando en términos morales, sino imparcialmente
gía, alejándose sistemáticamente de todo lo que se aparte de dicho tratando de analizar ese plus, esa alienación de género que la socie-
eje profesional. Contrariamente, el poder es la asignatura pendien- dad patriarcal inflinge a las mujeres profesionales, o lo que es igual,
te para las mujeres, en primer lugar, lograrlo pero también saber ellas mismas se autoinflingen por haber interiorizado la dominación
desenvolverse en él. A ello, se opone una cultura femenina situada patriarcal. ¿Qué hombre profesional podría hacer tal “dispendio-in-
en las antípodas del paradigma masculino que acabamos de trazar. versión necesaria” (por ende, no dispendio) en peluquería, gimna-
272 273
Muestra esa cultura femenina horizontes vitales abiertos, identida- sio, salón de estética, conseguir un guardarropa adecuado y variado,
des cambiantes y fragmentadas (como veremos) que no tienen un además de llevar las relaciones sociales de la familia (hablar por te-
eje unidireccional en el trabajo, por tanto y aquí también sin entrar léfono, como es sabido es cosa de mujeres) tratar con el servicio do-
en valoraciones, las fugas de tiempo, recursos y energía son moneda méstico, ídem con los colegios de los hijos, etc. etc., es decir, todo lo
corriente. En síntesis, la vida del hombre profesional y de poder es que compone el universo arquetípico de una mujer profesional hoy.
taylorista, está regida por códigos radicalmente productivistas. La Todo ello, por si fuera poco, lo hacen algunas profesionales subidas
vida de las mujeres profesionales actuales es una vida mestiza, es a unos zapatos puntiagudos de tacón.
decir, con aportes culturales diversos y curiosamente amalgamados De este problema, en absoluto irrelevante, se han hecho
y, para más complejidad aún, articulados en un ensamblaje hiper- eco muchos analistas de la vida social. Veamos el problema en la
cambiante. El mestizaje profesional femenino aúna hoy elementos siguiente cita, extensa pero creemos que oportuna: “El efecto más
de la cultura masculina, del mundo femenino, del “Antiguo Régi- contraproducente de la obsesión femenina por su imagen es el re-
ducir sus oportunidades de emancipación laboral o profesional, tión de grado y no de cualidad: de Armani a la modesta peluquería
que exigirían una más completa dedicación al trabajo intelectual o de barrio. La necesidad de imagen es una de las más fuertes etique-
productivo. Se trata de uno de los dilemas más acuciantes que se le tas del Yin, por así llamarlo (y esto más allá de todo esencialismo
presentan a la mujer moderna, dada la contradicción que le obliga sobre “la Mujer”). Porque el asunto número uno de las mujeres
a tener que elegir entre emanciparse por medio del amor (y de la hoy por hoy, sigue siendo el amor. Y para conseguirlo una de las
imagen ficticia que se pone al servicio ritual de éste) o emanciparse armas más eficaces es una buena imagen como reza la publicidad
a través del trabajo. (…) Pero esta duplicidad vital tiene un coste más clásica. Bien que esta imagen pueda adoptar la practicidad del
muy elevado, que impone un doble precio a pagar. Por un lado, en confort deportivo, o racionalizarse “ajournándose” a otros modos
el ámbito de la esfera pública, surge una fuerte contradicción entre y espacios sociales. Ello no cambia el código. Por ello, renunciar a
la imagen femenina, fundada en la representación ritual de la in- ella es como pedir a una gacela que no salte o a un leopardo que no
madurez y la minoría de edad, y la competencia profesional que se cace. Juzgar este asunto como un juego pueril es posiblemente una
espera de las mujeres modernas. El racionalismo eficiente y la pro- percepción androcéntrica del problema. Pero lo dicho sobre la ima-
ductividad técnica que se exigen en todas las profesiones resulta en gen femenina es un tema importante de molde cultural pero no el
buena medida incompatible con el ocioso ritualismo de la imagen factor primordial por el que las mujeres tienen un “techo de cristal”
femenina, que descalifica a sus portadoras con el estigma de inútiles (obstáculo invisible para ocupar puestos, poder, etc.). Son los me-
muñecas pintadas, a las que no se puede confiar ninguna responsa- canismos androcéntricos de poder descritos, no la imagen, los que
bilidad. De ahí el techo de cristal, que cierra el paso de las mujeres desposeen a las mujeres. Así pues, efectivamente hay que acercarse
hacia los cargos responsables y dirigentes. ¿Por qué se empeñan las a la imagen femenina con la distancia aséptica del antropólogo que
mujeres en compaginar su forzada imagen femenina con el trabajo va a descubrir pautas culturales nunca vistas, de una “racionalidad
profesional, cuando resultan tan claramente contradictorios e in- arbitraria”, pero a fin de cuentas racionales e inteligibles para el ob-
compatibles? Se trata probablemente de un efecto derivado de la jetivo vital femenino por excelencia: obtener amor.
inercia histórica”. ¿Y por qué el amor no es el problema número uno masculino,
Siendo el debate uno de los rasgos más definitorios de los y por tanto el tema de la imagen no le compete de un modo radical?
temas de género en la actualidad, hagamos un breve disenso res- Porque la acción es el “leit-motiv” hecho naturaleza histórica en los
pecto a ese diagnóstico sobre la condición femenina actual, de ese hombres. La rigidez masculina (su super-ego) es la espoleta fun-
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agudo y brillante ensayo. Sintetizadamente, y en primer lugar, no damental para la acción y casi siempre dirigida a dominar y obte-
se trata de un dilema -como se indica- que hipotéticamente podría ner poder. En contraposición, esa especie de posibilismo femenino
resolver el problema hacia uno u otro extremo. Se trata (por de- es el caldo esencial para el cultivo y mantenimiento de la vida, casi
cirlo en un juego de palabras) de un único lema: ser todo, es de- siempre dirigido a dar y obtener amor.
cir, ser mujer profesional, por la reluctancia femenina a la lógica del En síntesis, podríamos trazar el siguiente esquema de opues-
productivismo de mercado, unidireccional, que exigiría ser a secas tos con todos los matices que acabamos de tratar sobre las históri-
una profesional. En segundo término, la imagen femenina, el adorno cas masculinidad y femineidad de nuestras sociedades: 1º) “Taylo-
por decirlo en un término más amplio, es, hoy por hoy, uno de los rismo” o “workaholismo”, es decir, adicción al trabajo, por parte de
códigos culturales que más impregnan la femineidad. Es ineludible, los hombres, de una forma monolítica u homogénea (compartida
no es algo externo a la femineidad, es un factor constitutivo que generalmente por todos los hombres) y unidireccional, sin fisuras,
incluso ni queda obstaculizado por las diferencias de clase. Es cues- fragmentaciones o vacilaciones, sino el trabajo como valor por an-
tonomasia. Mestizaje, dualidad, fragmentación vital femeninas, en rabia, les chirría: “pero esta tía ¿a qué viene?, encima presume de que tiene hijos
estupendos y de que, bueno, si no gana, pues bueno, tiene otras cosas que hacer”
clara contraposición a todo lo anterior, bien que ésta sea de hecho y para ellos es, entonces eso de que: “bueno, mataos vosotros si queréis”, tenemos
o bien que funcione sólo como cuestión de mentalidad, ideológi- mucho las mujeres ¿no?, tenemos como otras muchas alternativas, entonces seguro
ca. 2ª) Especialización masculina (profesionalización a ultranza). que eso no, no les gusta, no ...” (Catedrática, 52 años, Área de Ciencias Sociales).
Diversidad femenina. Se puede ser profesional, pero también mu-
chas otras cosas, ya sean en el plano real, en el plano mental o en el Tal vez habría que promediar e hibridar esas tendencias que
plano del deseo y del imaginario. 3º) Rigidez masculina (esa vida actúan como tensiones estructurales de la masculinidad y la femi-
de trabajo unidireccionalmente especializada que acabamos de es- neidad, es decir, la tendencia a que el amor sea la tensión femenina
quematizar, además apoyada por un rotundo super-ego masculino. por excelencia y la acción-trabajo la auténtica tensión masculina.
Posibilismo femenino, en las antípodas de todo lo anterior y abaste- Asimismo, promediar las siguientes dicotomías: el poder, un asun-
ciendo la necesidad de diversidad y flexibilidad que por definición to y un gueto de la masculinidad; la domesticidad, un asunto y gue-
necesita la vida como tal vida para sobrevivir. Todo ello lejos del to de la femineidad.
espíritu tanático al que pueden abocar las características opuestas Respondiendo a nuestra cuestión inicial sobre cómo las mu-
de la masculinidad. jeres no articulan el poder, podríamos decir “mutatis mutandi” e
Hasta tal punto esas diferencias de género son importantes inversamente al caso masculino: no lo articulan porque no tienen
que podríamos decir, en un cierto nivel que las mujeres carecen poder que articular. Y ello es una cuestión meridiana, “de facto”.
de super-ego, o tienen otro sistema normativo, siendo este aspec- Pero hay más. Ya hemos apuntado los obstáculos que esa naturale-
to una de las divergencias más notables entre hombres y mujeres. za femenina construida históricamente opone al poder, dificultan-
Divergencia que se pone de manifiesto claramente y traspasa sus do su obtención y ejercicio, y en cualquier caso no mostrando el
relaciones sociales. Observemos cómo nuestras élites profesiona- alto grado de especialización masculina en obtenerlo y ejercitarlo.
les traducen en palabras expresivas su relación con el trabajo y el Es como si en una misma competición corrieran atletas de élite (los
poder: hombres) y atletas en fase de entrenamiento (las mujeres). Nun-
ca mejor dicho: entrenamiento histórico. El público sabría que la
“Por supuesto el trabajo a los hombres nos da identidad, pero además te da estatus, carrera no está igualada, que no debe tener las mismas normas.
además da estatus familiar, es decir, el estatus de la familia es el estatus del hombre, De ahí, la necesidad de esa especie de intervenciones quirúrgicas
en general, luego esto está cambiando, eh ..., eh, y luego además el trabajo te da
276 estatus personal interfamiliar: un hombre sin trabajo es una mierda (...) porque que son las medidas de discriminación positiva para las mujeres. 277
hay componentes en el trabajo masculino que no los tiene el trabajo femenino y yo Siguiendo con el símil, para que haya más atletas femeninas (can-
creo que la mujer tiene en gran parte interiorizada, yo creo, vamos a ver: sensacio- tidad) y para allanarles la meta (cualidad: lograr poder) en una ca-
nes que tengo yo de la vida, tengo sensaciones muy distintas, por ejemplo, tengo la
sensación de que la mujer es menos agresiva, menos trepa ¿eh? en su carrera eh ... rrera “tramposa”, en la que correrían en desventaja, ¿qué habría que
profesional” (Catedrático, 57 años, Área de Ciencias Sociales). hacer? ¿Participar en este juego trucado a favor de los hombres que
es el poder actual, teñido de todos los impedimentos ventajistas de
Oigamos la versión femenina de la relación de género con el la cultura masculina que lo ha forjado, rechazarlo frontalmente y
trabajo y el poder: seguir con la consuetudinaria división sexual de la vida, o bien en-
“Para los hombres el ganar en unas elecciones a un cargo académico es cuestión trar en el juego del poder para cambiarlo, transformándolo aún a
de vida o muerte y para una mujer no, para mí no es vida o muerte, yo si pierdo costa de alienarse en él, pero explicitando, al menos, otras reglas del
me llevo un disgusto, pero tengo una vida llena, completa y ellos lo detectan, ellos juego? Podríamos responder que es demasiado grave lo que arries-
detectan que para ti no es cuestión de vida o muerte, entonces les da muchísima
gamos con los modos del poder actual para dejarlo sólo en manos hombres como por mujeres. De ahí que tanto ellos, pero también
de los hombres. ellas, mantengan conductas contradictorias, sin embargo, inteligibles
desde este plano general.
6. Medidas Algo parece indicar que en esta fase inicial de ajuste-desajuste, se
6.1. Científicas, no heroínas (normalizar la anomalía) detectara entre los resquicios del proceso de cambio social de las mu-
Son muchos los problemas de género que hemos examinado en torno jeres, un rumor soterrado que murmurase de este modo: “mi mente
a las relaciones de las mujeres y los hombres con el poder y son ade- está con la Razón, mi corazón pertenece al Patriarcado”. De ahí, la nos-
más muy matizados y complejos. Ante el entramado que componen, talgia del viejo modelo que tan sabiamente explota la moda y la publi-
una pregunta clásica sería la siguiente: ¿qué es lo que permanece y cidad. Nostalgia, tal vez insalvable en una generación, la cual provoca
qué es lo que cambia? ¿Qué hay de enquistamiento y qué de avance? una especie de esquizofrenia, cierta escisión entre lo viejo y lo nuevo,
Lo que cambia es de tal importancia y extensión que lógica- en las mujeres. Hay tantos matices que no se tienen en cuenta, tantas
mente la resistencia y la tentación a permanecer de los viejos moldes cosas que no se dicen. Los problemas de género son, hoy por hoy,
de relación con la realidad, es enorme. Se trata nada más ni nada me- cualquier cosa menos sencillos.
nos del cambio del modelo de la relación más genuina y primigenia 6.2 Feminizar el poder: el efecto masa crítica
con la realidad: la relación entre hombres y mujeres, tradicionalmen-
te como relación de dominación que se pretende cambiar por una re- En el campo científico, se habla del efecto de una masa crítica para
lación de igualdad, sin perder además la diferencia, la singularidad de indicar que tiene que haber suficiente número de individuos para que
sus actores. Arduo problema. Vivimos y protagonizamos, hombres y un colectivo pueda reproducirse y mantenerse en unas condiciones
mujeres, este imponente cambio social de normalizar lo que es una en las que pueden darse elementos adversos. En efecto, dicho con-
anomalía histórica: la presencia de mujeres y su igualdad social de cepto de la masa crítica es aplicable al colectivo élites femeninas. En
rango y cometidos en la arena pública. Estamos inmersos en el hecho tanto que anomalía sociohistórica, este colectivo debe alcanzar la
de normalizar históricamente, en el aquí y ahora de nuestro estadio suficiente masa crítica (número de efectivos) para defenderse, repro-
civilizatorio, dicho proceso de género. Y la “máquina social” chirría, ducirse y crecer. Sus dos obstáculos serían los siguientes (además de
sus engranajes acusan el golpe de lo nuevo. Avance y retroceso, co- producirse en el marco general de una sociedad androcéntrica): en
278 herencia y contradicción componen el paisaje cotidiano de quienes primer lugar, los que hemos expuesto bajo el “efecto temporal”, de tal 279
observamos tal fenómeno social y, al tiempo, estamos igualmente manera que aquí, en este apartado (“mutatis mutandi”) también po-
transformándonos y en cambio con él. dríamos hablar de los efectos de la masa crítica y de algo más; y, en se-
Pues bien, hay mucho de cierto en la denuncia de la domina- gundo lugar, los obstáculos derivados de las “tentaciones” de las élites
ción masculina y su monopolio sobre el poder, hay mucho de cierto femeninas. Tentaciones, y más que tentaciones a veces, actuaciones,
en los gravámenes y juego desigualitario que ésta impone a las mu- que se sitúan en las antípodas de lograr poder formar una masa crítica
jeres. Pero, ya situados en el plano general e histórico que acabamos (es decir, el suficiente número de mujeres para dejar de ser minoría y
de enunciar y desde una amplia visión de conjunto, vemos que es un crecer). Tentaciones que chocan frontalmente con la promoción de
modelo social de relaciones de género el que se resquebraja, el que dicha masa, o la zancadillean a veces.
tiene que adaptarse a nuevas situaciones, es un modelo tradicional, Hablar de masa crítica de mujeres también podría ser utiliza-
tremendamente consolidado, en el que estaban muy hechas pau- do en otra vertiente: la visión nueva de las mujeres que en calidad
tas de conducta y modos diferenciales de vida, sostenidas tanto por de recién llegadas, incontaminadas aún, se comporten como una
auténtica “masa crítica” hacia las viejas mañas del poder, le den dicadores expresando si la maquinaria patriarcal, el núcleo duro
nueva sabia y nuevos temas y un nuevo saber hacer. de la masculinidad que es el poder, permanece intacta y qué es lo
que cambia y a qué precio diferencial para las mujeres.
6.3 Construir conciencia social y autoconsciencia (las élites En segundo lugar (no por ello menos importante) apa-
profesionales femeninas como test social) rece el nivel de la imagen. Las élites femeninas constituyen un
En el plano de lo social, las élites profesionales femeninas pre- tema pertinaz de la imaginería popular y, antes que nada, del tra-
sentan una vertiente de estudio importante: son objetos pri- tamiento que los “massmedia” gustan dar a las relaciones entre
vilegiados donde van a parar toda clase de juicios, prejuicios y hombres y mujeres. A veces, faltando a la objetividad, éstos so-
estereotipos sociales. Son en gran parte una creación del pensa- bredimensionan los datos, sobreexcitan la información, podría
miento ajeno, mucho más allá del grado de poder sustantivo que decirse, para aguijonear la curiosidad del lector, y frecuentemen-
alcancen o no. En este sentido, las élites profesionales femeninas te, ofrecen una información sesgada y sexista de cuanta noticia
funcionan como excelentes tests sociales, y ello en distintos nive- concierne a las mujeres. Probablemente la causa de ello radique
les de la realidad que pasamos a explicitar. en el vigor que aún tienen los estereotipos sobre la identidad de
En primer lugar, en el plano de lo real, las élites femeninas género. En este caso, la mujer sigue siendo “lo esencialmente
están funcionando como tests a los Gobiernos y partidos políti- otro” que escribiera Antonio Machado. Pensamos que bastante
cos (o como tests a cualquier área del quehacer social, incluida de lo que acabamos de apuntar subyace en los patrones domi-
la ciencia): qué composición tiene el ejecutivo, por ejemplo, qué nantes del tratamiento informativo sobre los hechos que pro-
número de candidatas y en qué puestos las presentan en las listas tagonizan las mujeres. Al ser dichos patrones informativos una
electorales, qué liderazgo femenino promueve y en qué sectores, parcela más del poder masculino, ese Otro que la mujer pasa a
qué políticas sociales lleva a cabo de cara a las mujeres, qué pre- ser, en suma, una construcción de la mirada masculina.
supuestos destina a ello, etc. etc. Más allá de “testar” actuaciones En tercer lugar, y por último, las élites profesionales feme-
políticas concretas, las élites femeninas profesionales se pueden ninas, mujeres en minoría, como tal minoría podrían autoadmi-
comportar como una especie de sociotest general en relación al nistrarse (por decirlo en lenguaje psicológico) con cierta perio-
grado de transformación de la maquinaria del poder de cara al dicidad este singular test en que las constituye la sociedad. La
tema de género (ya sea este poder político, empresarial, acadé- tarea no es difícil, dado su escaso número. Deberían preguntarse
280 281
mico, etc.). Tal sociotest podría funcionar hipotéticamente de la cómo las ve la sociedad, someter su imagen pública a control, por
manera siguiente: a) qué cantidad de requisitos y de qué natura- bien propio y bien colectivo de las mujeres, depurando cuánto es
leza se les exige para ocupar la parcela de poder a las mujeres que sesgo de los Medios (denunciando) y cuánto no. Todo ello en el
componen las élites profesionales femeninas. b) Qué se les da a plano de la imagen pública. En el plano de los hechos, ¿por qué
cambio. Ver si se produce un intercambio igual o desigualitario no preguntarse cómo está funcionando esta minoría que con-
entre requisitos y desempeño o cargo, o lo que es igual si guar- forman? ¿Qué tipo de liderazgo está ejerciendo? ¿Qué proximi-
dan ambos una correcta proporcionalidad. c) Cómo y con qué dad o lejanía, qué entendimiento tienen respecto al resto de las
rigor se las examina y (probablemente por ello) en qué situacio- mujeres? Preguntas reflexivas sobre su propio protagonismo, en
nes conflictivas y de riesgo se las sitúa. Todo ello, además, en el suma, un test social autoadministrado por y en el colectivo de las
marco comparativo de lo masculino/lo femenino. Las respuestas propias élites femeninas.
a cada una de esas preguntas pueden convertirse en buenos in-
6.4. Otras medidas: objetivamente las que existen y la excelencia del trabajo que
realizan.
• dar visibilidad a las mujeres científicas (publicaciones)
4. Publicaciones canónicas (que constituyen un canon o mo-
• crear redes y lobbies de mujeres delo del tratamiento del problema) como son el caso del nú-
• intervenciones institucionales (los observatorios de la desigual- mero monográfico de la revista Arbor (julio-agosto 2002) y
dad) el libro Nosotras, las biocientíficas (editado por L’Oréal) junto
con la gran labor de agitación del problema de discrimina-
• la cuota académica/la cuota científica)
ción de género por los “mass-media” (incluida la red de in-
7. A modo de conclusión: nueve claves de un problema ternet5) son medidas enormemente eficaces y de gran reper-
cusión social para enfrentar los problemas señalados en los
Son muchos los datos y matices que hemos ido recogiendo y seña-
dos apartados anteriores. Hasta tal punto creemos que dichas
lando, pero sobre ellos se impone esta especie de corolario: la dis-
publicaciones son positivas para visibilizar a las científicas y
criminación de las mujeres académicas y científicas tiene muchas y
a los problemas de género que a modo de recomendación
diversas causas concretas pero un solo origen: la división del trabajo
creemos sería muy conveniente instituir una especie de serie
y de los roles de género en una sociedad patriarcal, la cual proyecta
bajo el mismo esquema de “Nosotras, las físicas”, “Nosotras,
su sombra sobre toda actividad humana.
las químicas”, etc.
Efectivamente, el problema central (o el problema tomado
desde su raíz) es la pervivencia de una sociedad patriarcal en una 5. Pese al movimiento emergente (y especie de clamor social)
sociedad en transición hacia otro modelo social. Desde las Ciencias que hay respecto al problema de las escasas mujeres en cien-
Sociales ya se comienza a hablar de la sociedad postpatriarcal. Vea- cia, se percibe un cierto retraso en la consciencia del proble-
mos estas nueve claves de un problema: ma de discriminación de género en este campo, incluso por
parte de las propias mujeres. De este modo, podemos afirmar
1. Estamos en presencia de un campo social restrictivo para que la denuncia del problema está mucho más avanzada en el
las mujeres en sus jerarquías altas. De ahí que hablemos de área de las Ciencias Sociales y Humanidades, y en el ámbito
mujeres en minoría. universitario más que en las llamadas ciencias “duras”.
282 283
2. Una vez evidenciado lo anterior, hay que salir al paso de
Tal vez el trabajo en un ámbito tan enormemente masculino,
los tópicos sociales al uso y los efectos perversos que generan.
lleva a un tal proceso de adaptación de las mujeres a una concepción
Básicamente se producen de este modo: pasar de pensar
androcéntrica de la vida y de la ciencia (adaptación obligada para
en una minoría de mujeres (las académicas y científicas) a
sobrevivir en él) que dificulta el nacimiento de una autoconsciencia
ignorarla y/o negarla, con lo cual aún se agrava más el pro-
del problema de discriminación de género. Asimismo el carácter
blema. O bien el “opuesto complementario (dicho al modo
puro, neutro, ensimismado que tradicionalmente se le ha otorgado
de Bachelard): crear el efecto de hiperrepresentación, tan ca-
a la Ciencia, provoca (o puede provocar) una especie de “ceguera
racterístico de áreas inéditas para las mujeres, exagerando su
social”, y frecuentemente un alejamiento de las cuestiones de ac-
presencia y/o poder.
tualidad o de moda en el medio en que viven, y, especialmente, de
3. Dar la justa visibilidad social a las mujeres científicas, se- las cuestiones de género.
ría el modo de reconocer equilibradamente (sin tópicos) y
6. Por lo que se acaba de exponer, trabajar con el enfoque plus extra a la masculinidad “per se”, bien que sean mecanis-
biográfico (y las historias de vida) es especialmente recomen- mos no deliberados, inconscientes, los que hagan surgir esta
dable para este colectivo. La negación frecuente que hacen discriminación (vr.gr.: como los descritos bajo el efecto de
muchas mujeres (y hombres) de no haber sido discrimina- “Old Boys Club”). Analizar el binomio Género y Producción
das, o de no conocer ningún tipo de discriminación por ra- de Conocimiento puede ser en un área sofisticada de inves-
zón del sexo en el campo científico, se ve de otro modo a la tigación a proponer a seguir.
luz del análisis biográfico. Frecuentemente se advierte otra 9. El fenómeno de sobreselección que sufren las mujeres científi-
interpretación de los curricula masculinos y femeninos, y se cas (sobreselección social, hiperesfuerzo, carreras doblemen-
ven las estructuras discriminantes . Este es uno de los efectos te difíciles que las de sus homólogos masculinos, en muchos
muy positivos de lo que llamamos reflexividad en Ciencias casos, por no hablar de las desigualitarias cargas familiares,
Sociales: la virtud transformadora del propio proceso de in- etc.) producen el efecto social que hemos denominado “élites
vestigación. discriminadas” (García de León: 1994) es decir, una sofisti-
7. La comparación entre las élites profesionales femeninas en cada forma de discriminación por arriba que además, “sensu
el campo político y dichas élites en el campo académico-cien- contrario”, es un excelente indicador para observar que im-
tífico, arroja un balance mucho más favorable para las muje- portante número de mujeres van a quedar de antemano ex-
res políticas. La sensibilización del problema entre ellas es cluidas del campo científico o relegadas a las categorías más
mucho mayor, así como el respaldo de un electorado sensibi- bajas, por no estar en condiciones de pasar la frontera de esa
lizado socialmente hacia uno de los temas etiquetados como injusta sobreselección social por el mero hecho de ser una
“políticamente correctos”: la no discriminación por razón mujer.
del sexo. De tal manera, que podríamos decir (según nuestra
opinión) que está más madura la situación en términos so- NOTAS
ciales para que se produzca una presidenta del gobierno, que
1 Deseo dar noticia aquí del excelente trabajo que han realizado las Dras. Norma Bláz-
para lograr una rectora de una antigua y gran universidad. quez y Olga Bustos a través de unas entrevistas especializadas en vídeo a mujeres
pioneras de la investigación científica mexicana, buscando su visibilidad social y no
8. El enfoque de “Género y Poder” es esencial para estudiar
284 olvido .Cuando esos vídeos tienen además consciencia feminista se constituyen en 285
la situación de las mujeres en el campo científico. La desagre- vídeos doblemente armados, pues contienen reflexividad y ciencia al tiempo, los cua-
gación de las estadísticas por género (curiosamente hecho les como legado a las generaciones de relevo, portan una doble arma: la ciencia “per
se”, más la conciencia de género de toda una generación de mujeres, sus obstáculos
relativamente reciente) es fundamental para denunciar las
sociales, problemas de discriminación, etc. Toda una arqueología del saber y del poder
jerarquías masculinas de poder, y observar la exclusión de las feminista para el futuro (por decirlo con un cierto sabor foucaultiano).La profesora
mujeres de casi toda instancia de poder y/o decisión. Espe- Yolanda Agudo (UNED) ha realizado el visionado y análisis exhaustivo de ellos.
cialmente discriminadora es la composición de los tribuna- 2 Carmen Iglesias (conferencia, Madrid, 15-XI-01). Iglesias es una pionera de la pre-
les, compuestos mayoritariamente por hombres que sesgan sencia femenina en esferas tradicionalmente masculinas, como Académica, amén de
otros relevantes cargos públicos.
androcéntricamente los resultados de los concursos y dan
prevalencia a la promoción de candidatos masculinos. La de- 3 A. Nieto: La tribu universitaria, Ed. Tecnos.
nuncia del tema tribunales es casi un denominador común y 4 Vid. lo tratado sobre el “síndrome de la abeja reina”.
unánime por parte de las científicas. En ellos se concede un 5 Simplemente en una búsqueda rápida en Internet aparecen concernientes con nues-
tro tema de estudio, algunas de estas noticias: “We need more female evaluators!”. 2/ COCKBURN, C. In the way of woman: Men’s resistance to sex equality
Message to the Women in Science Unit. in organizations. London: Macmillan Education LTD, 1991.
CORTÁZAR, Maria García de; LEÓN, Maria A. García de; ULLATE, M.
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que dirijo, Cartografías del cuerpo: Biopolíticas de la ciencia y la tecno-
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logía” y que está financiado por el PN I+D+I, ref. FFI 2009-07138-
WITZ, A. Professions and Patriarchy. New York: Routledge, 1992. FISO. En él pretendemos analizar desde una perspectiva de Ciencia,
Tecnología y Sociedad (CTS) las ciencias y tecnologías del cuerpo,
interrogándonos sobre el estatuto que los cuerpos ocupan y desem-
peñan en las prácticas científicas. A través del estudio de determina-
das tecnologías (tecnologías terapéutico-reproductivas, tecnologías
de asignación y reasignación de sexo y tecnologías de mejora y re-
forzamiento de los cuerpos) pretendemos plantear cómo se repre-
sentan los cuerpos sexuados, y en particular los de las mujeres, qué
papel desempeñan en la tarea científica, y cómo sus cuerpos se con-
vierten en receptores y proveedores privilegiados de biomateriales
290 para esas tecnologías, al tiempo que resultados, de los procesos y 291
relaciones promovidos por éstas.La perspectiva adoptada es la del
campo inter- y multidisciplinar de los estudios de ciencia, tecnología
y sociedad (CTS) y de ciencia, tecnología y género (CTG), desde los
que se abordan los supuestos y valores socioculturales presentes en
la elaboración, aplicación y justificación de estas biotecnologías.
Los estudios de Ciencia, Tecnología y Sociedad (CTS)
adoptan un abordaje, por un lado, multidisciplinar, porque en él
intervienen disciplinas tan diversas como la historia, la filosofía, la
economía, la sociología o la política de la ciencia, así como la teoría
feminista; pero, por otro lado, es un campo transdisciplinar, porque
no se trata tan sólo de estudiar la ciencia -o la tecnología- desde
cada una de esas disciplinas: el uso de todas ellas, produce una visión Las biociencias y las biotecnologías se han convertido en las
más ajustada y completa de la ciencia. Este tipo de enfoques tiene, tecnociencias por excelencia de los últimos años. Es por ello que
al menos, seis características: es antiesencialista acerca de la ciencia, han recibido una especial atención, tanto en los estudios generales
mantiene un compromiso no explicativo con las prácticas científicas, sobre ciencia y tecnología como en los estudios específicos de géne-
postula el carácter material, local y discursivo del conocimiento cien- ro. Su papel es fundamental en nuestras sociedades, especialmente
tífico, hace gran hincapié en la apertura cultural de la ciencia, aboga si tenemos en cuenta que éstas toman el cuerpo como objetivo con-
por la subversión de las concepciones de la ciencia que afirman su creto de estas prácticas tecnológicas. Su capacidad creciente para
neutralidad valorativa y mantiene su compromiso con la crítica epis- comprender y manipular, su relevancia económica y su influencia
témica y política desde dentro de la cultura de la ciencia. Igualmen- sobre la forma en la que entendemos y aplicamos los conceptos de
te nuestra perspectiva coincide con el esfuerzo de varias propuestas género, de salud y enfermedad, o de identidad hacen de ellas obje-
que relacionan la objetividad con prácticas científicas democráticas tos preferentes del estudio de las relaciones entre las tecnociencias
(Irwin, 1995; Reid y Traweek, eds., 2000; Romero Bachiller y García y la sociedad. En particular, las investigaciones, interpretaciones e
Dauder, 2002; Pérez Sedeño, 2008), en el sentido de que la demo- intervenciones tecnocientíficas sobre los cuerpos son ahora centra-
cratización del conocimiento y de las prácticas científicas es necesaria les para el estudio social y el análisis de la ciencia y la tecnología.
para un incremento de la objetividad: ya sea generando espacios de El objetivo de esta mesa es el de reflexionar sobre estos temas
“democracia cognitiva” que atiendan a la inclusión de todos los acto- y el de ofrecer las aportaciones más recientes entorno a los asuntos
res y perspectivas socialmente relevantes, mediante el uso de la crítica de ciencia, tecnología y cuerpo. Por todo ello se abordan:
intersubjetiva (Longino, 1990, 2002), ya sea privilegiando epistemo- Los cuerpos como objetos de la investigación biomédica: los ses-
lógicamente el punto de vista de los grupos marginados (Harding, gos racistas y sexistas en la investigación primaria en ciencia y tec-
1991), o buscando las articulaciones precarias, contingentes y parcia- nología, especialmente en las disciplinas biomédicas.
les entre las múltiples posiciones subyugadas (Haraway, 1995). El cuerpo que se hace: performatividad del cuerpo dentro de la
En el contexto de los estudios CTS se han desarrollado con actividad médica y tecnológica. Los cuerpos que se reclaman como
fuerza líneas de investigación que exploran las intersecciones de la sujetos activos y no como objetos de conocimiento dentro de la
ciencia y la tecnología con el género. Los estudios de “ciencia, tecno- lógica de la biomedicina. Apuesta por la ruptura de las dos lógicas
logía y género” (CTG) se ocupan de examinar desde diversas disci- activa/pasiva a través de una crítica de la lógica de la elección frente
292 293
plinas y perspectivas las relaciones existentes entre el sistema sexo/ a una investigación en la lógica del cuidado.
género y las ciencias y las tecnologías. Los enfoques más actuales en Tecnologías del género y medios de comunicación. La represen-
CTG subrayan la coproducción frente a la proyección de valores de tación de los cuerpos femeninos y masculinos en los medios de co-
género sobre los productos de la ciencia. Esto es, el orden social y el municación. La maternidad como summun de la feminidad a la vez
orden tecnocientífico se coproducen mutuamente (Anderson, 2003; que espacio liminal por excelencia.
Longino, 2002; Mol, 2002) en complejos entramados de influencias Diana Maffía en su trabajo “Tecnología y control social de los
mutuas. Las ideas preconcebidas acerca de sexos y géneros, sus pro- cuerpos sexuados” se centra en cómo las diferencias visibles entre
piedades y relaciones condicionan de formas diversas los productos los cuerpos (la genitalidad, el color, los rasgos étnicos y otros) han
y procesos de las biociencias y biotecnologías y éstas, a su vez, con- sido el soporte material de la desigualdad política. El extraordinario
tribuyen a reforzar o modelar los cuerpos y sus significados sociales avance que la ciencia y la tecnología han aportado a la reproduc-
y de género. ción control y preservación de la vida, pero tiene su contrapartida
cuando en su aplicación se producen algunos estancamientos y re- públicas y elevar a rango de ley la iniciativa ya existente sobre el
trocesos ideológicos. Por eso, Diana nos lleva a reflexionar sobre la tema en México.
conciliación necesaria entre igualdad y diferencia, en especial en las Como se puede ver, todos los trabajos abordan los cuerpos
diferencias de género con base en los cuerpos, en casos complejos diferentes, de diferentes maneras y perspectivas, aunque con el de-
como la intersexualidad. ¿Cómo construir ciudadanía en cuerpos nominador común de moverse en el terreno de los estudios CTG y
tutelados por la ciencia, que construye violentamente la verdad de usar la teoría feminista como teoría crítica. Manifiestan la necesidad
su sexo? Las paradojas que se producen en niñxs o adultxs que no de no abordar la diferencia como un problema en sí mismo que debe
pueden decidir sobre sus propios cuerpos señala, como indica Dia- ser eliminado o corregido a través de procesos normativos de estan-
na Maffía, dónde está el problema: no en la tecnología y la ciencia, darización y homogeneización, bien sea en las prácticas médicas en
sino en la autoridad que detentan quienes deciden el uso terapéuti- forma de protocolos o en los propios cuerpos en forma de patolo-
co de determinadas tecnologías. gías, anormalidades, desviaciones, etc. También señalan la exigen-
El trabajo de Silvia García Dauder, “Tecnologías, cuerpos cia de gestionar las diferencias y las tensiones entre los diferentes
sexuados y diferencias” se centra en el análisis del “cuerpo múlti- elementos y actores implicados, dentro y fuera de la medicina, los
ple”, que no parte de una idea prefijada de lo que un cuerpo es y conflictos y contradicciones, y su coordinación. Y, también insisten
cuáles son sus fronteras, sino de los muchos cuerpos producidos y per- en atender a las diferencias corporales y encarnadas, constituidas
formados por diferentes prácticas bio-médicas y las conexiones parcia- como marcas socialmente relevantes y jerarquizadas, producto de
les entre ellos. En especial, Silvia se centra en los cuerpos sexuados desigualdades estructurales y de procesos de normalización y ex-
de las tecnologías biomédicas en intersección con las tecnologías clusión. Los procesos médicos y tecnológicos son reconstituidos y
de la comunicación, como mediadoras en la producción de discursos, reconstruidos a través de prácticas sociales concretas, a la vez que
cuerpos y subjetivivades en torno a la intersexualidad y, por tanto, en afectan a estas mismas, dándose un proceso de co-producción. Di-
los ideales reguladores sexo/género. Para ello escoge como caso de chos procesos extienden la jurisdicción médica y de la salud a áreas
estudio la evolución y utilización de los tests de verificación de gé- anteriormente no medicalizadas – tales como las ideas estéticas de
nero en el deporte olímpico, en concreto tal y como aparece en la los cuerpos, la alimentación como vehículo de cura o prevención
prensa deportiva. de enfermedades y promotor del bienestar, etc. En este contexto,
Finalmente, Olga Bustos en “Dictadura del cuerpo, publici- la comercialización de la salud aparece como fundamentalmente
294 295
dad, género y trastornos alimentarios” también incide en cómo los constitutiva de estas nuevas prácticas biomédicas que convierte a
medios de comunicación, en concreto a través de la publicidad, tra- los ciudadanos y ciudadanas en pre-pacientes perpetuos.
tan los cuerpos sexuados. Históricamente ha habido una dictadu- Todo ello sin olvidar que la gestión bio-médica está relacio-
ra sobre los cuerpos, en especial los de las mujeres, que se traduce nada también con relaciones de poder y dominación y con proce-
también en varios tipos de violencia. Estas diferencias quedan evi- sos de identidad, subjetivación y resistencia. Por todo ello es nece-
denciadas en los media, específicamente en la publicidad, donde se sario resistirse a la autoridad de ‘los expertos’, generando autoridad
sigue fomentando el culto a la hiper-delgadez, que resulta de lo más sobre las propias percepciones e identidades y apropiándonos de-
antidemocrático, incidiendo asimismo en los trastornos alimenta- mocráticamente de la ciencia y la tecnología, de sus aplicaciones y
rios como bulimia y anorexia. La discusión en el trabajo de Olga efectos. Sólo con una auténtica democratización podremos crear
se centra en la importancia de formar audiencias críticas hacia los políticas públicas científico-tecnológicas que favorezcan la igual-
media, en la necesidad de formular y llevar a la práctica políticas dad y la equidad, respetando las diferencias.
13
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320 portivas no sólo regulaban el diagnóstico del sexo en el deporte, 5 “La ganadora de una plata en los Juegos Asiáticos es descalificada por dudas sobre su 321
sexo e intenta suicidarse”. El Mundo, 13-09-2007.
sino también qué tipo de intervenciones médicas debe pasar una
mujer con un cuerpo intersexuado para poder competir. Con ello, 6 “Edinanci Silva, la judoca con la fuerza de un hombre”. Cadenaser.com, 14-08-2008.
la cirugía y el tratamiento hormonal se imponen como rituales que 7 “Esther San Miguel se queda a las puertas del bronce”. Subtítulo: “Una campeona her-
devuelven legitimidad al sexo/género de la deportista al anular mafrodita”. El País 14-08-2008.
la “ventaja”. El precio a pagar para poder competir es someter el 8 Por ejemplo, “El sexo no es sólo una Y”. El País, 25-08-2009; o “Polémica por el sexo
de Semenya. La atleta que no podía entrar al baño de chicas”. El Mundo 23-08-2009.
cuerpo a tratamientos quirúrgicos y hormonales de normalización
sexual para que el dualismo sexual en el deporte no se desestabili- 9 “La reivindicación de Caster Semenya. La atleta surafricana posa para una revista para
desmentir las críticas sobre su feminidad.” El País, 09-09-2009.
ce.
10 “El sexo no es sólo una Y”. El País, 25-08-2009.
Por último, hemos analizado cómo se produce la vigilancia
del dualismo de sexo/género en la prensa deportiva a partir de no- 11 “La reivindicación de Caster Semenya. La atleta surafricana posa para una revista para
desmentir las críticas sobre su feminidad.” El País, 09-09-2009.
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DICTADURA DEL CUERPO, PUBLICIDAD, GÉNERO Y
TRASTORNOS ALIMENTARIOS1
Olga Bustos-Romero
Introdução
A concretização de direitos continua sendo um grande desafio
para a sociedade brasileira. As políticas públicas se revelam im-
portantes na busca de efetivação dos direitos fundamentais do ser
humano na medida em que estes exigem ação de um Estado que
deve assumir a sua função social.
A busca pela garantia dos direitos sociais – educação, saú-
de, moradia trabalho, lazer, segurança, previdência social, dentre
outros – exemplifica claramente a necessidade dessa intervenção
estatal para garantir obrigações inerentes a um Estado Democrá-
tico de Direito, no sentido de distribuir as riquezas socialmente e
coletivamente construídas e contribuir para a justiça social.
As políticas públicas, enquanto forma de concretizar direi-
tos, também se mostram essenciais para a redução das desigual-
dades sociais, de todas as formas de preconceito e discriminação 341
e tantas outras manifestações de injustiça social que obstaculizam
a realização da cidadania plena.
Para se atingir esse ideal, tais políticas exigem mecanismos
democráticos de participação nos processos de elaboração, im-
plementação e avaliação e o reconhecimento da necessidade de
se eliminar as desigualdades sociais, dentre as quais destacam-se
as desigualdades de gênero que inviabilizam um projeto de socie-
dade igualitária e justa.
Sejam políticas de Estado ou políticas de um governo, a
inserção da categoria gênero contribuirá para que se construa a
igualdade entre homens e mulheres, essencial para a democracia Reconhece esse direito no âmbito privado quando prevê
e a justiça social. que homens e mulheres têm os mesmos direitos e deveres no âm-
A efetivação da igualdade exige a compreensão de que so- bito familiar: ”os direitos e deveres referentes à sociedade conju-
mos iguais, mas diferentes. Embora pareça paradoxal, o princípio gal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.” (art.
da igualdade exige o reconhecimento da diferença. Destacamos, 226, §5º, da CF de 1988).
nesta perspectiva, que o direito à igualdade nos garante o direito Mas afinal, o que é igualdade? Como interpretar a igualda-
à diferença. de prevista na Constituição Federal?
Mas que igualdade é essa que se define justamente por uma A idéia de igualdade é bastante antiga, como lembra Silva
palavra que parece ser exatamente o seu oposto? Essa é a igualda- (2006), pois Aristóteles já vinculava a idéia de igualdade à de jus-
de de fato e não a meramente formal. Este artigo reflete justamen- tiça, ou seja, igualdade de justiça relativa – princípio que dá para
te como o reconhecimento da diferença faz parte da construção cada um, o que é seu. Perspectiva na qual não seria injusto o tra-
da igualdade social e contribui para que as políticas públicas pos- tamento diferenciado entre escravos e senhores, o que permitia a
sam realizar projetos de justiça social. coexistência da igualdade com situações de injustiça social. Não
é essa igualdade a que assumimos neste trabalho, mas sim a igual-
A igualdade dade que possibilita a justiça social.
A igualdade é formalmente assumida como um dos princípios do Para Norberto Bobbio (1996) o valor da igualdade reside
ordenamento jurídico nacional. Para Moraes (2006), a Constitui- na sua extensão para todos. A idéia é que todos devem ser consi-
ção Federal de 1988 adotou o princípio da igualdade de direitos, derados iguais e tratados como iguais com relação àquelas qua-
prevendo o direito de tratamento idêntico perante a lei. Vedam-se lidades que constituem a essência do ser humano, tais como o
diferenciações arbitrárias e discriminações absurdas, entretanto, livre uso da razão, a capacidade jurídica, a capacidade de possuir,
o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se a dignidade social. Há uma distinção entre a igualdade perante
desigualam é exigência do conceito da justiça. a lei e a igualdade de direitos. A primeira refere-se à exclusão de
De acordo com o artigo 5º da Constituição Federal (CF) qualquer discriminação não justificada, significa o igual gozo, por
de 1988, a igualdade é reconhecida como direito individual: parte dos cidadãos, de direitos fundamentais assegurados. A de
direitos compreende além do direito de ser tratado igual perante
342 Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 343
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a invio-
a lei, também compreende o acesso a todos os direitos fundamen-
labilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro- tais (civis, políticos, etc).
priedade [...]. Um dos pilares do Estado de democracia social é o princí-
pio da igualdade de oportunidades ou de chances ou de ponto de
Afirma ainda que “homens e mulheres são iguais em direi- partida. Assim, deve-se ter como objetivo colocar todos os mem-
tos e obrigações [...]” (art. 5º, inciso I, da CF de 1988) e considera bros de uma determinada sociedade em condições de participar
a igualdade entre homens e mulheres como direito social quando da competição pela vida ou pela conquista do que é mais significa-
proíbe diferenças motivadas por sexo na esfera produtiva: “proi- tivo, a partir de posições iguais. Para colocar indivíduos desiguais
bição de diferença de salário, de exercício de funções e de critério por nascimento nas mesmas condições de partida, pode ser ne-
de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou idade civil” (art. 7º, cessário favorecer alguns(mas), transformando a diferença como
inciso XXX, CF de 1988). instrumento de igualdade pelo simples motivo de que corrige uma
desigualdade anterior. A nova igualdade é resultado da equiparação Deve-se considerar o que permite estabelecer, no caso con-
de duas desigualdades(Bobbio, 1996). creto, em que duas coisas ou duas pessoas devem ser iguais, a fim de
A igualdade entendida como equalização dos diferentes de- que a igualdade entre elas possa ser justa. A igualdade se relaciona
veria ser um ideal permanente da sociedade. Bobbio (1996) desta- com a justiça na chamada regra de justiça: regra segundo a qual se
ca três fontes principais de desigualdades entre os seres humanos: trata os iguais de modo igual e os desiguais de modo desigual. Tal
a raça/etnia, o sexo e a classe social. A equiparação das mulheres regra pressupõe, no entanto, que já tenham sido escolhidos os cri-
aos homens – sociedade familiar, civil, relações econômicas e po- térios de justiça para estabelecer quando duas coisas são considera-
líticas – é um dos sinais seguros da marcha para a equalização dos das equivalentes e duas pessoas consideradas equiparáveis. Como
desiguais. A igualdade é desejável porque a sociedade a considera a regra de justiça não diz qual é o melhor tratamento, mas se limita
justa. A justiça, por sua vez, é considerada como um bem social por a exigir aplicação igual de um determinado tratamento, qualquer
excelência no qual a igualdade é uma condição necessária para a que seja ele, configurando a chamada justiça formal. Ela não leva
harmonia de um sistema que almeja ser considerado como justo. em consideração o conteúdo, podendo uma norma injusta ter sua
Assim, se a justiça é um ideal, a igualdade é um fato cuja esfera de aplicação de forma justa (Bobbio, 1996).
aplicação é a das relações sociais ou dos indivíduos com o grupo A justiça formal, via de regra, não é suficiente para se atingir a
(Bobbio, 1996). justiça social. Todavia, consoante Perelman (1996), ela possibilita
Perelman (1996) destaca que a noção de justiça sempre foi avaliar se um ato é justo no sentido de igualdade de tratamento que
aproximada da noção de igualdade e que a injustiça resultaria do ele reserva a todos os membros de uma mesma categoria essencial.
tratamento desigual de seres diferentes, cujas diferenças seriam ir- A justiça formal é o princípio de ação segundo o qual os seres de
relevantes no caso concreto. uma mesma categoria essencial devem ser tratados da mesma for-
Entretanto, Bobbio (1996) avalia que o termo igualdade é ma. Assim, a igualdade de tratamento na justiça formal nada mais
indeterminado, o que dificulta o estabelecimento do seu significa- é que a aplicação correta de uma regra de justiça concreta que de-
do. Assim, faz-se necessário que se responda a duas perguntas: termina a forma como devem ser tratados todos os membros de
1. Igualdade entre quem? cada categoria essencial. A fórmula da justiça concreta fornecerá o
2. Igualdade em quê? critério que permitirá dizer quando dois seres fazem parte de uma
Neste debate, deve-se considerar também que não há um categoria essencial e indicará a maneira pela qual cada membro des-
344 345
único tipo de justiça. Segundo uma distinção tradicional, de acordo sa categoria, em princípio deve ser tratado.
com Bobbio (1996), ela pode ser comutativa – tem lugar na relação No surgimento das antinomias da justiça e quando a sua apli-
entre as partes (relação bilateral e recíproca). A igualdade pode se cação força a transgressão da justiça formal, prossegue Perelman
apresentar como problema de equivalência de coisas em relações (1996), recorre-se à equidade – considerada a “muleta” da justiça.
de troca, podendo-se falar em justiça retributiva – igualdade entre É o complemento indispensável da justiça formal, sempre que há
o que se dá (ou se faz) e o que recebe (relação entre pagamento e dificuldade para a sua aplicação. A equidade consiste numa tendên-
trabalho, por exemplo). Pode-se falar ainda de justiça distributiva cia oposta a todo formalismo e permite escapar às antinomias da
– tem lugar nas relações entre o todo e as parte, ou vice-versa (re- justiça acarretadas pelo desejo de aplicar simultaneamente várias
lação multilateral e unidirecional). A igualdade se apresenta como regras de justiça incompatíveis.
problema de equiparação de pessoas nas relações de convivência A busca da concretização do ideal e dos princípios da igualda-
(entre cônjuges, entre trabalhador e empregador, por exemplo). de para além da “igualdade perante a lei” traz a necessidade de se in-
cluir o ideal da igualdade real, substancial ou de fato. Igualdade que, objetiva, conforme advertia Platão: “não pode haver justiça
segundo Bobbio (1996), deve ser entendida em relação aos bens sem homens justos”.
materiais ou igualdade econômica, assim diferenciada da igualdade
formal ou jurídica e da igualdade de oportunidades ou social. Para Piovesan (2002), a implementação do direito à igual-
Para Reale (1983), a noção de equidade, segundo a idéia dade faz parte de qualquer projeto democrático, pois democracia
aristotélica, implica uma compreensão melhor da idéia de igualda- significa igualdade (no exercício dos direitos civis, políticos, eco-
de. Ser justo consiste em julgar as coisas segundo o princípio da nômicos, sociais e culturais) e a busca democrática requer o exer-
igualdade. Em certos casos a aplicação rigorosa do Direito pode cício dos direitos humanos elementares. A autora reitera ainda que
significar ato profundamente injusto, o que evidencia que o Direito o direito à igualdade pressupõe o direito à diferença, inspirado na
não é apenas sistema lógico-formal, mas, sobretudo, a apreciação crença de que somos iguais, mas diferentes.
estimativa ou axiológica da conduta. Assim, é necessário que a jus- Essa discussão inicial sobre justiça e igualdade permite ava-
tiça se ajuste à vida. Este ajuste é o que se chama de equidade: liar que a igualdade entre homens e mulheres na lei é algo neces-
sário, entretanto a igualdade real é a que se busca enquanto ideal
É o princípio da igualdade ajustada à especificidade do caso que legitima as de justiça. A igualdade entre os gêneros deve ser considerada não
normas da equidade. Na sua essência, a equidade é a justiça bem aplicada, ou
seja, prudentemente aplicada ao caso. A equidade, no fundo, é, repetimos, o
apenas na justiça formal, mas sobretudo na busca da justiça social.
momento dinâmico da concreção da justiça em suas múltiplas formas. Daí,
inspirando-se nessa definição romana do que jus est ars aequi et boni, ter um (Des)Igualdade de gênero
jurista italiano proposto a expressão “equobuono” para mostrar a indissocia-
bilidade dos dois aspectos essenciais à plena compreensão do Direito (Reale, A concretização da justiça social e do direito à igualdade entre ho-
1983, p. 125). mens e mulheres, em um país – como o Brasil – em que ainda se
fazem presentes profundas desigualdades de gênero, consiste em
Cada época histórica tem sua idéia de justiça, dependente um grande desafio.
dos valores dominantes na sociedade. Na história da teoria da justi- As desigualdades entre homens e mulheres resultam de uma
ça, destacam-se, segundo Reale (1983) três tendências: construção sociocultural secular, não sendo respaldado nas dife-
renças biológicas da natureza, mas sendo consideradas naturais
1. Subjetiva: uma virtude ou hábito tal com expresso nos
num sistema de sujeição, dominação e poder.
346 enunciados dos jurisconsultos romanos, inspirados na tra- 347
Para Campos (2009), gênero é um conceito que contribui
dição voluntarista e nas lições da Filosofia estóica: vontade
para a desconstrução dessa naturalização e difere do conceito de
constante e perpétua de dar a cada um o que é seu.
sexo. Este último é definido, por Lima (2007), como as diferenças
2. Objetiva: com o predomínio das concepções naturalistas, biológicas entre os corpos de homens e mulheres e gênero refere-
a justiça passou a ser vista como realização da ordem social se às construções históricas, culturais, sociais feitas sobre esses cor-
justa, resultante das exigências transpessoais imanentes ao pos.
processo do viver coletivo. Os estudos de gênero buscaram estabelecer a distinção entre
3. Subjetiva e objetiva: a justiça é complementarmente sub- sexo biológico e a construção social do masculino e do feminino.
jetiva e objetiva, envolvendo em sua dialeticidade o ser hu- As perspectivas de gênero não negaram as diferenças biológicas, no
mano e a ordem justa que ele instaura. Compreende, dessa entanto consideraram que a partir delas são construídas outras di-
forma, que não há como separar a compreensão subjetiva do ferenças que fazem parte das relações de poder entre homens e mu-
lheres. Neste sentido, Scott (1995) define gênero como elemento Estruturas de dominação, conforme lembra a autora, não
constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas se transformam meramente por legislações. Embora elas sejam
entre os sexos e uma forma primária de dar significado às relações de de extrema relevância, permitindo que se possa recorrer à justi-
poder, implicando em quatro elementos que se inter-relacionam: ça quando da ocorrência de práticas discriminatórias ou mesmo
inibi-las pela prevenção ou possibilidade punitiva. Além disso,
1) Os símbolos culturalmente disponíveis que evocam re- Saffioti (1987) ainda defende que a mulher deve ter, em relação à
presentações frequentemente contraditórias. justiça um tratamento diferenciado, haja vista, as particularidades
2) Os conceitos normativos que expressam interpretações que sem esse tratamento impediriam a efetivação da igualdade de
dos significados dos símbolos que tentam limitar e conter direitos:
suas possibilidades metafóricas.
Parece clara a necessidade de um Direito desigual no tratamento de seres
3) A noção de fixidez e a natureza do debate ou da represen- humanos socialmente desiguais, com o objetivo de eliminar, ou pelo menos
reduzir, as desigualdades. [...] Tome-se, por exemplo, a questão da violência
tação que leva à aparência de uma permanência atemporal na masculina contra a mulher. Dada sua formação de macho, o homem julga-
representação binária de gênero. se no direito de espancar sua mulher. Esta educada que foi para submeter-se
aos desejos masculinos, toma este ‘destino’ como natural. A criação das De-
4) A identidade subjetiva que coloca a necessidade de exa- legacias de Polícia de Defesa da Mulher resultou desta idéia de que pessoas
minar as formas pelas quais as identidades de gênero são consideradas desiguais pela sociedade não devem ser tratadas pelas mes-
mas leis. As delegacias especializadas no atendimento das mulheres vítimas
construídas e relacionar seus achados com toda uma série
de violência criaram condições para que estas vítimas denunciassem seus
de atividades, de organizações e representações sociais his- algozes. [...] Numa delegacia especializada, onde só trabalham mulheres,
toricamente específicas. o ambiente é de solidariedade para com as vítimas, ao contrário do que
ocorre nas delegacias comuns. Nestas, as vítimas, já grandemente fragili-
Os conceitos normativos aparecem expressos em doutrinas zadas pela violência sofrida, são objeto de chacotas com base na crença de
que ‘mulher gosta de apanhar’ ou ‘mulher que apanha agiu incorretamente’.
religiosas, educativas, científicas, políticas e jurídicas e tomam a (Saffioti, 1987, P. 79-80).
forma típica de oposição binária fixa que afirma de maneira ca-
tegórica e inequívoca o significado do homem e da mulher, do Piovesan (2002) apresenta alguns desafios para a integra-
masculino e do feminino (Scott, 1995). ção das perspectivas de gênero na doutrina brasileira. O Brasil tem
348 Saffioti (1987) alerta que a sociedade não está dividida en- nas leis e códigos normativos as principais fontes jurídicas (siste- 349
tre homens dominadores de um lado e mulheres subordinadas de ma civil law). A ordem jurídica brasileira revela tensões e conflitos
outro, pois há homens que dominam outros homens, mulheres valorativos, coexistindo instrumentos jurídicos contemporâneos
que dominam outras mulheres e mulheres que dominam homens. (Constituição Federal de 1988 e instrumentos internacionais de
Ou seja, o patriarcado – sistema que garantiria a subordinação da direitos humanos) e diplomas legais de um remoto passado (Có-
mulher ao homem – não é o único princípio estruturador da so- digo Penal de 1940). Essa tensão atinge um elevado grau no que
ciedade. No entanto, a supremacia masculina perpassa todas as se refere à condição jurídica da mulher. A partir da Constituição
classes sociais. Uma mulher que, em decorrência de sua posição Federal de 1988 e com base nos tratados e declarações interna-
social e riqueza, pode dominar muitos homens e muitas mulhe- cionais de proteção aos direitos das mulheres faz-se necessário a
res, ainda assim é possível que se sujeite ao jugo de um homem, construção de um novo paradigma que incorpore a perspectiva de
seja pai, companheiro, esposo ou namorado. gênero, contribuindo para fomentar uma cultura de proteção aos
direitos das mulheres e para implementar os avanços constitucio- separação das mulheres em relação aos homens, considera-
nais e internacionais que consagram a democracia e a igualdade dos como fonte de sua opressão.
em relação aos gêneros. 5) Feminismo a partir da multiplicidade de identidades
A reflexão sobre direitos das mulheres e a construção da femininas (etnia, nacionalidade, orientação sexual, etc):
igualdade entre homens e mulheres não pode ser dissociada de constituído a partir das numerosas identidades pelas quais
um importante movimento social: o Movimento Feminista. as mulheres se identificam no movimento, como por exem-
O movimento feminista, considerado a partir de suas prá- plo: feminismo negro, feminismo brasileiro, etc.
ticas, discursos e teorias é bastante diverso. Consoante Manuel
Castells (1999), a força desse movimento reside na sua diversi- 6) Feminismo Pragmático: constituem uma ampla corren-
dade e no seu poder de adaptação às demandas sociais. O autor te de lutas feministas, incluindo inclusive movimentos de
propõe uma tipologia, que embora reducionista, ajuda a perceber mulheres que não se consideram feministas, mas que em,
diferenças e semelhanças: ação coletiva, lutam pela sobrevivência e dignidade.
1) Feminismo como extensão do movimento pelos direitos A extensão, a diversidade e a flexibilidade desse movimento
humanos e que tem como ponto central a defesa dos direi- apontam que os problemas que envolvem as mulheres são igual-
tos da mulher, tendo como premissa a igualdade de direitos mente amplos e diversos. Entretanto, essa característica propor-
entre homens e mulheres. Pode se apresentar como liberal ciona que reivindicações as mais diversas sejam assumidas pelo
ou socialista. Embora divirjam em suas táticas, linguagem, movimento, contribuindo para ampliar a luta, particularmente
análise das raízes do patriarcalismo e possibilidade de refor- no sentido de conquistar direitos para as mulheres e construir a
mar o capitalismo, ambas incluem os direitos econômicos igualdade real. Tal movimento apresenta questões e críticas ne-
e o de ter ou não filhos entre os direitos da mulher e têm cessárias e que deveriam fazer parte das preocupações da socieda-
como meta final a igualdade. de e não apenas das mulheres.
Kymlicka (2006) analisa algumas das críticas feministas so-
2) Feminismo cultural (feminismo da diferença): afirmam bre a maneira como as políticas dominantes atendem (ou não)
a diferença entre homens e mulheres e que somente pode- os interesses e preocupações das mulheres. A primeira refere-se
350
rão construir sua identidade e encontrar seus próprios ca- à descrição da discriminação sexual “neutra quanto ao gênero”. 351
minhos a partir da construção de sua própria comunidade As democracias liberais, a partir da aceitação de que as mulheres
para permitir a conscientização e reconstruir a personali- devem ser vistas como seres “livres e iguais”, adotaram progressi-
dade. vamente estatutos antidiscriminação com objetivo de assegurar
3) Feminismo essencialista: proclama as diferenças es- igual acesso à educação, ao emprego, ao cargo público, etc. Tais
senciais em relação ao homem, enraizada na biologia e na estatutos por si só não têm o poder de propiciar igualdade, pois
história, assim como na superioridade moral e cultural da o trabalho, por exemplo, foi definido sob o pressuposto de que
feminilidade como modo de vida. seria preenchido por homens que tivessem mulheres em casa as-
4) Movimento lesbiano: tem como principal “adversário” sumindo as responsabilidades do âmbito doméstico. Estar livre
a heterossexualidade e encontra no movimento gay um po- dessas responsabilidades é relevante para grande parte das pro-
tencial aliado. O lesbianismo é considerado como forma de fissões, pois suas definições já levaram em consideração o sexo de
quem desempenharia a função. Para o autor, a subordinação das dentro da família, supondo ser um domínio essencialmente natu-
mulheres não é uma questão de diferenciação irracional com base ral e que a unidade familiar natural é a encabeçada por um homem
no sexo, mas de supremacia masculina, sob a qual as diferenças com mulheres executando o serviço doméstico e reprodutor não
de gênero são relevantes para a distribuição desigual de benefí- remunerado. A negligência da família esteve presente até mesmo
cios. Como o problema é a dominação, a solução é a presença de em parte do feminismo liberal que aceitou a divisão entre esferas
poder. pública e privada e escolheu buscar a igualdade primariamente
A dominação masculina e a desigualdade de gênero, segun- no domínio público. Deve-se levar em consideração que mesmo
do Kymlicka (2006), tornam desnecessária a discriminação arbi- que homens e mulheres compartilhem o trabalho doméstico não
trária contra a mulher porque poucas serão as que terão condições remunerado ainda assim o sexismo poderia estar presente na ava-
de competir por um emprego, seja pela divisão sexual do trabalho liação dos trabalhos se ainda permanecesse a desvalorização do
que a manteve no âmbito privado, dependência econômica ou di- trabalho feminino. Como a desvalorização do trabalho domésti-
ficuldades para qualificar-se. A subordinação das mulheres, pros- co está ligada à desvalorização mais ampla do trabalho feminino,
segue o autor, é uma questão de supremacia masculina a partir da parte da luta por maior respeito às mulheres envolverá maior res-
qual as diferenças de gênero são tornadas relevantes para a distri- peito à sua contribuição à família (Kymlicka, 2006).
buição de benefícios para desvantagem sistemática das mulheres. A família, para Kymlicka (2006) é um lócus importante
Como o problema é de dominação, a igualdade requer poder. A para a luta por igualdade sexual, sendo consenso entre as femi-
partir de um poder igual não se criaria sistemas que definam tra- nistas que a luta pela igualdade deve ir além da esfera pública,
balhos “masculinos” como superiores aos “femininos. atingindo os padrões do trabalho doméstico e a desvalorização
Kymlicka (2006) questiona ainda se a aceitação da abor- das mulheres na esfera privada. A nítida divisão entre a esfera do-
dagem da dominação exigiria mudanças nas teorias da justiça? méstica e o domínio público acarreta a invisibilidade pública das
Muitas feministas argumentam que os teóricos da “corrente mas- mulheres. Uma corrente importante na desvalorização do traba-
culina” interpretam a igualdade de maneira que são incapazes de lho das mulheres, particularmente no parto e criação dos filhos é
reconhecer a subordinação das mulheres. Argumentam ainda que a idéia de que é meramente natural, uma questão antes de instin-
a luta contra a subordinação de gênero exige abandonar a própria to biológico do que de conhecimento cultural. A eliminação da
idéia de interpretar a justiça em termos de igualdade e que melhor desigualdade de gênero requer além da distribuição do trabalho
352 353
seria uma política de autonomia do que de igualdade, pois a luta doméstico, também a ruptura na nítida distinção entre público e
pela igualdade pressupõe na aceitação de padrões dados, já a luta doméstico. Faz-se necessário encontrar formas de integrar vida
por autonomia implica o direito de rejeitar tais padrões e criar no- pública e maternidade/paternidade, em vez de segregar a criação
vos. Nesse sentido, se incorporarmos a autonomia como parte da dos filhos a uma esfera separada.
igualdade, esta passa a significar que os indivíduos têm igual valor Pode-se verificar que as diferenças de gênero são constru-
e que não significa ser como os homens tal como são hoje. ídas de inúmeras formas e nas várias esferas sociais. Neste sen-
Para o autor, a abordagem da dominação aplicada à igual- tido, cabe destaque à divisão sexual do trabalho como elemento
dade sexual traz como questão central a distribuição desigual do relevante nesta construção. Tal divisão tradicionalmente atribuiu
trabalho doméstico e a relação entre responsabilidade de família e às mulheres, responsabilidade do âmbito familiar e aos homens,
responsabilidade do local de trabalho, questão que constitui a se- atividades da esfera produtiva, sendo esperado deles o papel de
gunda crítica. Os teóricos da justiça costumam a ignorar relações provedor familiar. Essa divisão – forma básica de divisão sexual
do trabalho – tem reflexos sobre a vida de homens e mulheres, sua sexualidade quanto sobre as decisões amplas das comunidades
pois esses papéis sociais também se associam a relações de poder (Teles, 2006).
desiguais entre os gêneros. Os princípios da divisão sexual do trabalho afetam as condi-
Para Hirata e Kergoat (2007), com o impulso do movimen- ções objetivas de vida das mulheres, contribuindo para a reprodu-
to feminista na década de 1970, surgiu uma onda de trabalhos que ção das desigualdades de gênero. Sobre essa questão, o Relatório
assentaram a base teórica do conceito de divisão sexual do tra- do Fórum Econômico Mundial, divulgado em 12 de novembro
balho. Com a tomada de consciência de opressão ficou evidente de 2008, compara as condições entre os dois sexos em 130 paí-
que uma enorme massa de trabalho é feita gratuitamente pelas ses (92% da população mundial) e revela que o Brasil detém um
mulheres – atividades invisíveis, desvalorizadas e sem reconheci- péssimo resultado – 73ª posição. Os critérios para análise foram a
mento, realizadas para outros em nome da natureza, do amor e do participação econômica e oportunidades, acesso à educação, saú-
dever materno. Para as autoras, as análises que abordam trabalho de e poder político. Embora haja destaque no fato de que o país
doméstico como atividade de trabalho tanto quanto o trabalho apareça como uma das 24 nações que conseguiram acabar com a
profissional, permitiram considerar “simultaneamente” as ativi- diferença entre homens e mulheres na área de educação (resultado
dades desenvolvidas na esfera doméstica e na esfera profissional, do aumento do número de matrículas femininas na educação pri-
abrindo caminho para se pensar em termos de “divisão sexual do mária), o Brasil tem o seu pior desempenho – 110º posição – no
trabalho”, definido por: que se refere à participação das mulheres na política (Gazeta do
Povo, 2008).
forma de divisão do trabalho social decorrente de relações sociais entre se-
xos; mais do que isso, é um fator prioritário para a sobrevivência da relação O que se refere ao trabalho considerado produtivo, o merca-
social entre os sexos. Essa forma é modulada histórica e socialmente. Tem do de trabalho permanece apresentando preconceitos de gênero,
como característica a designação prioritária dos homens à esfera produtiva tratando homens e mulheres de forma diferenciada, exigindo que
e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apropriação pelos
homens de funções com maior valor social adicionado (políticos, religio- as políticas públicas nessa área considerem tais diferenças e gerem
sos, militares, etc) (Hirata e Kergoat, 2007, p.599). ações que possibilitassem a construção da igualdade de fato.
Embora muito se tenha alterado nas relações sociais de gê-
Para Hirata e Kergoat (2007), essa maneira particular de nero, particularmente a partir da luta do movimento feminista, não
divisão social do trabalho se organiza a partir de dois princípios: é incomum que a força física, a racionalidade e a liderança sejam
354 355
ainda consideradas como atributos masculinos e, a sensibilidade, a
1) Princípio da separação – existem trabalhos para homens
paciência e a delicadeza como características femininas.
e trabalho para mulheres;
A atual divisão sexual do trabalho traz inúmeras consequên-
2) Princípio hierárquico – o trabalho dos homens tem cias, dentre as quais destacamos:
maior valor do que o trabalho das mulheres.
• a segregação do trabalho feminino, alocando as mulheres
A divisão sexual do trabalho se encontra no centro do poder em atividades e setores associados ao feminino, particular-
que os homens exercem sobre as mulheres, pois essa divisão criou mente em profissões associadas ao cuidado;
condições objetivas para desenvolver desigualdades, pois excluiu
• a desvalorização das atividades consideradas “femininas”
as mulheres de espaços de poder, isolando-as das esferas de deci-
com salários menores e menor prestígio social dessas pro-
sões fundamentais e tirando-lhes o poder político tanto sobre a
fissões;
• a dupla ou tripla jornada de trabalho das mulheres, pois Políticas públicas: um caminho para construir a igualdade de
mesmo assumindo atividades da esfera “produtiva”, perma- gênero
necem sendo vistas como as responsáveis pelas atividades Segundo SILVEIRA (2003), o combate das desigualdades de gênero
do âmbito doméstico (cuidado); pressupõe práticas de cidadania para que a justiça de gênero se con-
• a continuidade da precarização de grande parte do traba- cretize, sobretudo pela responsabilidade do Estado de redistribuir
lho feminino - trabalho sem vínculo formal, pouca mobili- riqueza, poder, entre regiões, classes, raças e etnias, entre mulheres e
dade na carreira, trabalho temporário, etc.; homens etc.
Esta responsabilidade estatal inclui a implementação de políti-
• o trabalho feminino ainda percebido como complemen-
cas públicas que necessariamente devem incluir a categoria gênero.
tação de renda familiar;
Para Bandeira (2005), as políticas públicas podem ser consi-
• as doenças ocupacionais permanecem afetando grande deradas de gênero, quando consideram a diversidade dos processos
número de mulheres; de socialização de homens e de mulheres, cujas conseqüências se fa-
zem presentes, ao longo da vida, nas relações individual e coletiva;
Todas estas questões contribuem para que perdure um pro-
considerem ainda a natureza dos conflitos e das negociações que são
cesso de feminização da pobreza que, no entanto, afeta homens e
produzidos nas relações interpessoais, que se estabelecem entre ho-
mulheres. Reverter esse processo exige que o Estado adote polí-
mens e mulheres e internamente entre homens ou entre mulheres.
ticas que incorporem a perspectiva de gênero e busquem a cons-
A igualdade de gênero, segundo Bandeira (2005), rompe com
truir a igualdade.
um universo restrito do não reconhecimento, da diferença, para ca-
Para que essa construção seja possível, deve-se considerar
minhar em direção à eqüidade, da emancipação e do pertencimento.
as diferenças socialmente construídas entre homens e mulheres e
As mulheres emergem e passam a estar presentes na vida cotidiana,
as desigualdades de gênero delas decorrentes, o que contribuirá
nas relações de trabalho e nas formas de inserção no mundo político,
para reduzir a distância entre a igualdade formalmente assegurada
portanto, em um novo campo de possibilidades capazes de vencer a
e a igualdade real a ser construída. Neste sentido, Amini Haddad
desigualdade.
Campos e Lindinalva Rodrigues Corrêa apontam que:
Para que uma política pública possa “vencer a desigualdade”,
356 para que ocorra a efetivação da equidade social e de gênero, torna-se ne- faz-se necessário que ela também contribua para a promoção da auto- 357
cessário conciliar o princípio universalista da igualdade com o reconheci- nomia e do empoderamento das mulheres. Se historicamente as mu-
mento das necessidades específicas de grupos historicamente excluídos e
culturalmente discriminados (Campos e Corrêa, 2009, p. 115).
lheres participaram de uma estrutura social patriarcal que corrobora-
va que elas permanecessem sob domínio (mesmo que parcialmente)
Pois, conforme apresentam as autoras, como resultado da do poder masculino (do pai, do marido, do filho, de instituições com
incorporação da categoria gênero, verifica-se que nenhuma socie- valores patriarcais, do chefe, etc.), a busca da igualdade deve superar
dade trata igualmente homens e mulheres e que dados referentes esse domínio e assegurar que as mulheres possam decidir sobre suas
às desigualdades de gênero colaboram, por exemplo, para a con- vidas e sejam sujeitos de sua própria história. Isto contribuirá para
textualização da violência contra as mulheres na esfera nacional o pleno desenvolvimento feminino e possibilitará que as mulheres
(Campos e Corrêa, 2009). possam participar e usufruir do desenvolvimento social, econômico
e político do país – desenvolvimento que, sem dúvida, tiveram con-
tribuição significativa.
O processo de empoderamento das mulheres deve conside- nesse plano será um passo importante para a cidadania das mulhe-
rar que o poder não é algo centrado apenas no Estado, mas também res e uma demonstração evidente de que caminhamos para uma
envolve e se opera nas relações pessoais, familiares e institucionais. sociedade com justiça social.
Envolve a compreensão da construção social e histórica que possi- Uma sociedade que pretende ser igualitária deve privilegiar
bilitou a aceitação social da “subordinação” feminina, bem como a a partilha do poder. Embora as mulheres sejam mais da metade do
análise das formas de exercício e partilha de poder, buscando me- eleitorado do país, quando se considera a representação feminina
canismos que possibilitem que as mulheres participem e decidam no Congresso Nacional verificamos que a democracia brasileira
sobre as mudanças sociais que contribuam para a justiça social. ainda é frágil: em 2010, o Congresso Nacional tinha 44 deputadas
Dentre tais mecanismos destacamos a implementação de po- federais de um total de 513 (aproximadamente 10%) e 12 senado-
líticas públicas que visem a construção da igualdade de gênero e a ras de um total de 81 (aproximadamente 15%).
efetivação dos direitos humanos das mulheres: vida sem violência, No campo político, uma grande conquista no campo da de-
exercício dos direitos sexuais e reprodutivos, autonomia financeira mocracia foi a eleição da primeira presidenta do Brasil. A eleição de
, direito ao trabalho digno e com remuneração justa e a efetiva par- Dilma Rousseff é um fato de grande relevância, contribuindo para
ticipação política. derrubar barreiras e preconceitos em relação à participação femini-
Considerando que a vida é um direito fundamental para na no poder. Um país que elege uma mulher para o mais alto cargo
todo ser humano, o Estado deve por meio de suas políticas garantir executivo, no mínimo venceu parte das discriminações arbitrárias
a efetividade desse direito, o que pressupõe que outras garantias e de gênero.
direitos individuais e sociais devem ser concretizados. Políticas que Uma maior participação feminina nas esferas de poder esta-
visem assegurar o direito à educação, saúde, segurança, alimenta- tal acarretaria alterações nas formas de governar? Pode ser que sim,
ção, seguridade social, meio ambiente saudável, condições dignas pois se existe uma construção social diferenciada para o feminino e
de vida, dentre outros, consistem em condição sine qua non para para o masculino, esta diferença estará expressa na forma de fazer
a garantia de uma vida plena. A Lei Maria da Penha exemplifica a política, no processo legislativo e nas maneiras de pensar e elaborar
busca pelo direito à vida das mulheres, pressupondo que essa vivên- as políticas públicas. Se homens e mulheres participam no espaço
cia deve ser sem qualquer tipo de violência, seja física, emocional, político de forma igualitária é mais provável que a “agenda” políti-
psicológica, patrimonial, etc. ca insira diferentes percepções, colaborando para que as políticas
358 359
Consideramos importante destacar o Plano Nacional de públicas incorporem distintas demandas e possibilitem ações mais
Políticas para as Mulheres (PNPM) como um importante instru- eficazes para solucionar os inúmeros problemas sociais que ainda
mento para a construção e consolidação da igualdade de gênero. afetam o nosso país.
Com objetivo de reverter o padrão de desigualdade entre homens A partir dessa percepção, não queremos assumir o essencia-
e mulheres, suas ações são orientadas a partir de princípios como lismo, acreditando que mulheres possam fazer política melhor do
a igualdade e respeito à diversidade, a equidade, a autonomia das que os homens, pois pensamos que sem consciência de gênero, par-
mulheres, a laicidade do Estado, a universalidade das políticas, a ticipação e organização das mulheres, a presença feminina nos es-
justiça social, a transparência dos atos públicos e a participação e paços políticos poderá não gerar força suficiente para modificar as
controle social. O II Plano é organizado em onze capítulos que tra- relações de poder vigentes neste espaço, havendo inclusive a pos-
zem temas prioritários levantados pelas mulheres que participaram sibilidade de que as mulheres façam política de uma forma muito
de seu processo de construção. A consolidação das ações propostas próxima da masculina.
No entanto, não há dúvida que todos(as) perdem com uma realidade social. Assim, tais ações devem estar comprometidas com
baixa participação feminina no âmbito político. A democracia exige projetos de construção da igualdade e da justiça social, exigindo
que haja representação política de todos os setores da sociedade e que elas sejam direcionadas para prevenir e coibir qualquer tipo de
se mais da metade da população não está suficientemente repre- violência, preconceito e discriminação, seja de gênero, etnia, diver-
sentada no parlamento, por exemplo, não há como se falar em de- sidade sexual e classe social ou qualquer outra forma de lesão aos
mocracia. Se metade da população não fica de fora dos processos direitos fundamentais do ser humano.
decisórios, quem perde é a sociedade. Políticas afirmativas que vi-
sam ampliar a participação política das mulheres, além de ser uma
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
forma de construir a igualdade de gênero, é sobretudo uma forma
de democratizar o país. BANDEIRA, Lourdes. Fortalecimento da Secretaria Especial de Po-
No âmbito reprodutivo, a efetivação de políticas públicas que líticas para as Mulheres – avançar na transversalidade da perspectiva de
estimulem a paternidade responsável é mais do que uma forma de Gênero nas Políticas Públicas. Brasília: CEPAL, SPM, 2005. Disponível
dividir responsabilidades, consiste em alteração nas relações de po- em: <http://200.130.7.5/spmu/docs/integra_publ_lourdes_bandeira.
der na educação e cuidado com filhos(as) e uma maneira de cons- pdf> Acesso em: 15 dez. 2010.
truir a igualdade no âmbito familiar. Da mesma forma, políticas que BOBBIO, Norberto. Igualdade e Liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro,
estimulem uma maior participação masculina nas tarefas da esfera 1996.
doméstica, contribuem para relações familiares mais igualitárias e
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Dis-
solidárias, alterando valores e modificando padrões educacionais
ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
das futuras gerações. constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 12 out. 2008.
As políticas públicas além de interferir sobre as formas de di-
visão sexual do trabalho na esfera pública e privada, deve também CAMPOS, Amini H.; CORRÊA, Lindinalva R. Direitos humanos das
procurar alterar as relações do mundo do trabalho. Não se quer di- mulheres. Curitiba: Juruá, 2009.
vidir responsabilidades femininas no âmbito doméstico para que CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra,
isto se reverta em maior tempo para exploração do trabalho das 1999.
mulheres. A busca de condições dignas de trabalho com redução
360 HIRATA, Helena; KERGOAT, Danièle. Novas configurações da divisão 361
da jornada de trabalho deve ser também objetivo das políticas pú- sexual do trabalho. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 132, p.
blicas, pois permitiria que homens e mulheres pudessem partilhar 595-609, set./dez. 2007.
atividades do âmbito familiar sem sobrecarga de trabalho, tendo
como conseqüência a melhoria da qualidade de vida de todos(as). KYMLICKA, Will. Filosofia política contemporânea: uma introdução.
São Paulo: Martins Fontes, 2006.
A partir dessas reflexões podemos perceber que o âmbito de
discussão das políticas públicas é bastante amplo e que gênero é LIMA, Daniel et al. Homens pelo fim da violência contra a mulher:
uma categoria que deveria fazer parte dessa reflexão. As políticas educação para a ação. Recife: Instituto Papai, Promundo e White Ribbon
públicas, enquanto ação estatal direcionadas a concretizar direitos e Campign, 2007.
efetivar a cidadania deve levar em consideração a construção social MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas,
do masculino e do feminino, as relações de poder entre homens e 2006.
mulheres, questionando as desigualdades e buscando transformar a
17
PERELMAN, Chaïm. Ética e Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional in-
ternacional. São Paulo: Max Limonad, 2002.
LAS MUJERES CUBANAS: EXPERIENCIAS DE 50 AÑOS DE POLÍTI-
QUESTÃO de gênero: situação das brasileiras é das piores na AL. Gazeta CAS DE EQUIDAD, CIENCIA Y TECNOLOGÍA, BARRERAS Y DESAFÍOS
do Povo, Curitiba, 13 nov. 2008. Disponível em: <http://portal.rpc.com.
br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=827522> Acesso Lilliam Alvarez Díaz
em: 07 nov 2008. Mayda Alvarez
Son las españolas, las chilenas, las costarricenses y las cuba- • Guetto del collar rosado
nas, las de mayor esperanza de vida. En tasa de alfabetización las Este término se utiliza para expresar el fenómeno de las carreras y
cubanas tenemos casi 100%. profesiones a donde acuden más las mujeres. Así por ejemplo: las
Son las argentinas, las costarricenses y las cubanas las de mujeres son la gran mayoría de las enfermeras, de las maestras, li-
mayor presencia en los Parlamentos. Sólo 8 países iberoamerica- cenciadas en ciencias sociales. Profesiones que requieren una vo-
nos, contando a Portugal, tiene Índice de Desarrollo Humano, cación de servicio y entrega a los demás. Estas carreras se van con-
IDH alto, de 21 que somos. Los 13 restantes clasifican con IDH virtiendo en un guetto, en una especie de refugio donde las mujeres
medio o bajo. se sienten seguras, altamente valoradas y felicitadas, todas luciendo
con orgullo “el collar rosado”, tipo Barbie.
• Efecto tijera base, en sus departamentos e instituciones, ellas saben que existen
Este concepto toma su nombre por la forma del gráfico clásico y esa los niveles de decisión, los pueden observar cuando miran hacia
“tijera” ha persistido por décadas. Siempre se observa que al entrar arriba, a través de un techo de cristal que las deja ver pero al inten-
en las universidades los por cientos de muchachas y muchachos re- tar subir, chocan con esa barrera transparente, pero infranqueable.
sultan mas o menos iguales, en unas carreras entran más mujeres, Y no acceden a puestos de poder por diferentes razones: porque no
en otras más hombres, pero no es perceptible como promedio la son propuestas, porque ellas mismas no lo desean, o porque obser-
diferencia. Sin embargo, al avanzar en la carrera universitaria ya en van a otras mujeres que sí han llegado al poder, pero éstas no re-
el por ciento de graduados se comienzan a separar las cifras, y lo presentan para ellas modelos a seguir, etc. Últimamente se maneja
mismo ocurre en los estudios de posgrado: entran cifras similares también el termino “paredes de cristal” para significar que tampoco
y luego se gradúan mas hombres que mujeres, y en el avance de nos atrevemos a cruzar hacia otros espacios de igual nivel, pero con
las carreras profesionales, sean en el acceso a categorías docentes, otros horizontes o posibles ventajas de desarrollo, muy relacionado
como a categorías y grados científicos, dominan los hombres y los con el siguiente.
porcentajes se diferencian mas mientras mas alto es el nivel profe-
• El piso pegajoso
sional. Este comportamiento es muy similar ¡en todos los países del
mundo!, incluida la Unión Europea. Evidentemente la “tijera”, es Continuando con el fenómeno de las barreras para acceder a pues-
producto de la maternidad y del abandono de la carrera o del pos- tos de dirección o de poder, las mujeres en general, se ven “pegadas
grado por la obligación de cuidar a los hijos o a los abuelos u otras al piso”, se sienten atadas a la familia, a los hijos, los abuelos, a la
múltiples razones. cotidianeidad. La sociedad misma las obliga a desempeñarse como
buena esposa, buena madre, buena con sus hermanos, en el cuidado
• Efecto pipeta de los ancianos, buena ama de casa y además buena profesional, casi
Se trata también del avance limitado de las mujeres una vez gradua- ¡la supermujer!. Siente entonces que el tiempo no le alcanza para
das, hacia la obtención de grados científicos como maestrías, doc- también ser líder y ocupar puestos de alta responsabilidad y direc-
torados, posdoctorados, o a su crecimiento con categorías docentes ción por lo tanto se queda “pegada” a su lugar, en la base.
en sus universidades o como científicas en los diferentes sistemas
• Las escaleras resbaladizas
370 nacionales de investigadores de nuestros países. Así se compara con 371
una pipeta, llena de mujeres graduadas, de licenciadas, ingenieras, En este concepto se define a las mujeres que si están interesadas en
médicas, y pero donde sólo algunas, por cuenta gotas, siguen avan- ocupar puestos de poder, pero que se encuentran, al tratar de as-
zando en sus profesiones, como docentes o como científicas. cender, disímiles escalones resbaladizos, desde el primero, cuando
ningún jefe inmediato la valora para un puesto de mayor jerarquía,
• El techo de cristal hasta los resbalones producto de sus errores y su falta de experien-
Este concepto de utiliza para ilustrar el acceso de las mujeres a car- cia de dirección, (los que son más tomados en cuenta que los co-
gos de poder o lo que se denomina también empoderamiento, el metidos por los hombres ), hasta las zancadillas, a veces objetivas,
cual se aplica a las mujeres para llegar a todos los ámbitos y esferas otras veces muy sutiles y subjetivas, que sumadas, van impidien-
de poder: político, gubernamental, ministerial, territorial, organiza- do su ascenso a posiciones de liderazgo. Se trata de un proceso de
cional, institucional y empresarial. Describe que las mujeres en la aprendizaje donde las barreras y obstáculos las hacen resbalar. Tam-
bién se describen como escaleras movedizas.
• El círculo de terciopelo • De la cúspide a las planicies
Es muy nuevo y bastante ilustrativo del fenómeno que se da a partir ¡Esta metáfora la aprendimos en Curitiba! Se refiere precisamente,
de considerar para los diferentes espacios del organigrama o plantilla a lo que estamos intentando abordar en esta ponencia. Una vez que
de las instituciones a las mujeres sólo como jefes de los departamen- alcanzamos el conocimiento, estudiamos los fenómenos aconteci-
tos o direcciones aparentemente más cómodos, más confortables. dos en torno a la vida y el desarrollo de las mujeres en las ciencias,
Los hombres que toman estas decisiones valoran el asunto de la for- se nos revelan y los ponemos en palabras, conceptos, cifras, quedan
ma siguiente : -vamos a colocarla a ella aquí así se sentirá más cómoda, demostradas las barreras y obstáculos existentes, es nuestro deber “
estará presionada, es que queremos cuidarla porque es una persona valio- volver a las planicies “, a la sociedad, compartir y transmitir lo apren-
sa para la organización. dido, lo vivido, para así volver a nutrir a la población, plasmar cono-
-No queremos darle un cargo o posición duros, donde tenga que cimientos, para volver a transformar teorías, conceptos, aplicando,
enfrentarse a gente o tareas difíciles-. Nos colocan en esos espacios mu- como ya sabemos, el ciclo del método científico dialéctico.
llidos, suaves, de terciopelo y en el fondo se trata de la existencia de Y aquí se encuentran algunas mujeres, que llegaron a cargos
una duda sobre las reales capacidades y fortalezas de las mujeres. de decisión y luego, ni reconocen, ni se acuerdan, (o no quieren acor-
darse) de los problemas y obstáculos de género que tuvieron que
• La niña buena vencer o las circunstancias que las llevaron a “las cúspides” o puestos
Este fenómeno esta siendo objeto de estudio y es bien importante. Se de poder.
refiere a la educación, con un terrible y subliminal sesgo de género, de
las niñas para que sean buenas, saquen notas excelentes, hagan una 4. El caso muy particular de Cuba
carrera, inclusive como científicas, ¡inclusive las mal llamadas cien- Desde los primeros años fue el objetivo principal de la dirección de
cias duras!, doctoras destacadas, para que sean respetadas y queridas, la naciente Revolución lograr la incorporación de las mujeres a todas
pero nunca transgresoras. Nunca tan valientes que defiendan sus po- las actividades de la vida socio-económica del país y darle las mismas
siciones y espacios con firmeza, y lleguen a enfrentarse fuertemente oportunidades de superación y empleo, y junto a ello la creación de
a situaciones injustas. Por eso se escucha a menudo decir: Yo no creo múltiples facilidades para la educación de los hijos. En 1960 se funda
en eso del género, pero lo que importa es ser competitiva y tener un la Federación de Mujeres Cubanas por iniciativa de las propias mu-
372 buen currículo académico. jeres para participar activamente en todos los procesos de cambio. 373
El liderazgo, el prestigio y la visión clara de la compañera Vilma Es-
• La “supermujer” pín Guillois está ligada indisolublemente a los logros de las mujeres
El término quiere representar el proceso que hemos experimentado cubanas en todos los ámbitos del desarrollo económico de este país.
las mujeres, con nuestras luchas y nuestro activismo, para alcanzar la Antes del triunfo de la Revolución, en Cuba sólo un pequeño
liberación, las conquistas personales y sociales, aprender a compartir por ciento de personas podía estudiar carreras universitarias de per-
tareas y obligaciones con los hombres, pero a costa de sentir una sen- fil científico-técnico. A su vez, quienes lo hacían pertenecían, por lo
sación de sobreexigencia, carga con el consabido riesgo psicológico general, a las altas capas de la burguesía cubana, dado lo costoso que
y físico con riesgo de padecer enfermedades. Somos liberadas, pero resultaba para las familias cubanas mantener un hijo o hija estudian-
estamos sobrecargadas, esclavizadas con dos o tres jornadas laborales do en la Universidad.
diarias. En el campo tecnológico estaban ausentes también las facili-
dades necesarias para la experimentación y la investigación. La de-
pendencia tecnológica implicaba, no sólo la importación de tecnolo- En los llamados Polos Científicos productivos, segmento del
gía, sino también la importación de expertos, consejeros, profesores sistema de ciencia cubano, que ha demostrado su capacidad para el
o el adiestramiento en el extranjero de determinados profesionales trabajo cooperado entre los centros de investigación, de educación,
cubanos claves, rara vez estos eran mujeres. de producción y de servicios en función de resolver los problemas
El futuro de la mayoría de los graduados, especialmente de las más cruciales vinculados con el desarrollo económico y social del
mujeres y sobre todo de aquellas que estudiaban ciencias naturales y país y los territorios: 48,16% del total de trabajadores que los inte-
exactas , así como las ciencias sociales solo podían aspirar a docentes gran son mujeres.
en los Institutos de Segunda Enseñanza o en las Universidades. En En las últimas elecciones para Miembros Plenos de la Acade-
cambio, la mayor parte de los hombres estudiaban medicina, leyes mia de Ciencia de Cuba, hemos constituido 30,8% de su membre-
o las distintas áreas de las carreras de Ingeniería y Arquitectura, lo sía, cuestión con la que aún no estamos satisfechas, pero que toma
que les proporcionaba empleo asegurándoles retribuciones salaria- distancia, en positivo, de la situación de otras academias como ya
les más estimulantes. vimos.
La Federación de Mujeres Cubanas jugó un papel decisivo en
la recuperación de la dignidad de la mujer cubana, en su incorpora- 5. Conclusiones y recomendaciones
ción a las aulas, a la capacitación, así se propició su acceso pleno a la En el mundo de hoy, son aún frecuentes las manifestaciones de dis-
vida laboral a la par del hombre; creó los Círculos Infantiles y las Es- criminación contra las mujeres, además de la pobreza y el hambre
cuelas con régimen de Semi-internado promovió la aprobación de que afectan principalmente a las mujeres, la violencia se hace cada
la Ley de Maternidad y el Código de la familia, que sin duda alguna vez más visible en todo el mundo. A ello se añaden las enfermedades
fueron pasos que coadyuvaron a lograr este empeño. y la “feminización del SIDA”. Este es el panorama, en pleno siglo
Imposible hablar de la incorporación de las mujeres a la Cien- XXI y todavía hay más. Una distinguida intelectual de Jamaica, hace
cia sin esas medidas: primero alfabetizarlas, después abrir amplias poco decía: “las mujeres aún somos consideradas ciudadanas de se-
oportunidades de empleo y educación, sin discriminación de nin- gunda o de tercera clase, pero sí se nos reconoce que podemos edu-
gún tipo, mediante la creación de infraestructuras y con el corres- car y formar hijos de primera clase para ser ministros, catedráticos,
pondiente amparo jurídico. científicos, hombres de negocio, útiles a sus pueblos”.
Hoy día, en muchos sectores y en particular en el sector de las Otras investigaciones reportan que si además de ser mujer
374 375
ciencias, hemos alcanzado importantes logros. científica eres latina, indígena, mulata, mestiza o tu piel es de color
En el año 2010, esa tenacidad, esa constancia y ese esfuerzo oscuro, entonces, para aspirar a ocupar una misma posición, tienes
ya es una realidad con impresionantes cifras e indicadores que ha- que demostrar 3 ó 4 veces mas de las condiciones estándares que se
blan por si mismos. Hoy somos 51,2% del total de trabajadores en el le exigen a un hombre. En muchos países el salario es menor aun-
Sistema de Ciencia e Innovación y 48,5% de los investigadores con que sea igual el puesto de trabajo e incluso se llega a adjudicarle otro
categoría científica. nombre al cargo de igual contenido del que ocupa un hombre, solo
Las mujeres somos 65,5% de toda la fuerza científica y téc- para que sea ocupado por una mujer y pagarle menos.
nica que tiene el país. La Reserva Científica está constituida en La presencia y participación de las mujeres en la Ciencia se
60,4% por mujeres jóvenes recién egresadas de nuestras universi- considera necesaria condición para elaborar nuevas propuestas no
dades, lo cual augura el incremento y sostenibilidad del papel de sólo de la Ciencia, sino del mundo en su conjunto. Una mayor par-
la mujer en este importante sector. ticipación de mujeres en el quehacer científico fortalece la comple-
titud de la Ciencia, en la medida en que implica la aceptación de DURAN, Maria Ángeles et al. La cuenta satélite del trabajo no remune-
nuevos enfoques y el surgimiento de nuevas interrogantes. rado en la comunidad de Madrid. Encuesta CSIC. [S.l.]: Editora la suma
Si fallamos en motivar y animar a las mujeres, al igual que de todos, 2006.
los hombres a desarrollar carreras científicas y tecnológicas, nuestra GRAF, Norma Blázquez. Prólogo a la edición mexicana de Antropólogas,
región perderá una parte sustancial de su potencial. politólogos y sociólogas. 2009.
La participación de la mujer en todas las esferas de la sociedad
LEÓN, Maria Antonia García de; FIGARES, Maria Dolores F. Antropó-
es muy importante y contribuirá a diseñar el futuro.
logas, politólogos y sociólogas. Género, Biografía y Ciencias sociales.
La influencia de los “modelos de rol” es crucial y nuestro acti- [S.l.]: Plaza y Valdés, 2009.
vismo será la única manera de “corregir” el futuro.
PASTRANA, Sergio. Estudio sobre composición de las membresías de
las Academias de Ciencias del mundo. La Habana: Comunicación pri-
vada, 2008.
Agradecimientos: A Eulalia, Mari Lires, Diana, Sylvia, Marilia, Maris- PÉREZ SEDEÑO, Eulalia. Las mujeres en el Sistema de Ciencia y Tec-
tela, Nanci, Lourdes, Norma, Olga, en fin todas, por los gratificantes y nología. Estudios de casos. España: OEI, 2001.
fructíferos debates y esfuerzos y resultados en promover el avance de las RIUS, Lourdes Fernández. Género y mujeres académicas: ¿Hasta dón-
mujeres de ciencia en Iberoamérica. de la equidad? La Habana: Facultad de Psicología, Universidad de La Ha-
bana, 2007.
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minismo. [S.l.]: Garamon Ltda, 2002.
ALVAREZ, Lilliam. Ser Mujer científica ¿O morir en el intento? La Ha-
bana: Editora Academia, La Habana, 2010. TWAS News Letter, v. 21, n. 2, 2009.
Gráfico 5
SC Pedro Guilherme Do martelo das Escola de Ensino Ensino Médio: o Conteúdo das Redações Premiadas
Ramos feiticeiras aos Médio Professor
corredores da UNI- Henrique da Silva Vencedores e Vencedoras Nacionais
BAN: A hipocrisia Fontes O conteúdo das redações escolhidas pode significar um bom fio
midiática
analítico para a compreensão da questão de gênero no meio edu-
cacional. Os estudantes do Ensino Médio são jovens entre 15 e 18
394 A Comissão Julgadora selecionou apenas oito redações na 395
anos que estão fechando um ciclo de suas vidas e ingressando na
Etapa Unidade da Federação. O quadro abaixo discrimina por
vida adulta com uma carga de valores estabelecidos, o que elas e eles
ordem alfabética os estudantes agraciadas/os por estado, nome da
pensam de ser mulher ou homem, qual o entendimento das discri-
escola e título da redação.
minações que permanecem marcando os dois papéis: o masculino e
5º Edição do Prêmio – Melhores redações, segundo a unidade da feminino. As três redações premiadas na etapa nacional foram uma
federação. escrita por rapaz e as outras duas por duas moças. A redação escri-
Unidade da Candidatas (os) Título da Redação Escola ta pelo rapaz discutia a discriminação que acompanha uma esco-
Federação lha profissional feita por uma menina fora do estereótipo feminino.
MG Adnilson Brás da Memórias de uma Universidade Fe- Afinal as tecnologias e máquinas são “coisas” dos homens e passar
Silva Santana mulher na condu- deral de Viçosa nas provas de admissão num Curso Técnico de Mecânica e cursá-lo
ção da vida com brilho, isto não é tarefa esperada de uma menina/moça. Os ar-
gumentos utilizados foram a história da Segunda Guerra Mundial era que houvesse mérito nos trabalhos. Das oito redações sele-
e a forma como o conflito botou o estereótipo dos papéis de cabe- cionadas são cinco foram escritas por rapazes e três por meninas/
ça para baixo ao convocar as mulheres para o mercado de trabalho moças.
em lugares tipicamente masculinos. Inocentemente usa o exce- As redações masculinas abordaram o tema da liberdade de
lente desempenho escolar da menina/moça para desmistificar os escolha da profissão e do jeito de viver livre de preconceitos e dis-
preconceitos de há carreiras masculinas e femininas. criminação retorna na redação mineira que discute o problema,
As escritas femininas fizeram trajetórias diferentes, uma ex- mas a liberdade de escolha da personagem só se concretiza quando
plorou a técnica de diário para relatar as agruras de um homem ela entra na maturidade aos 28 anos. É o sonho tardio de viver sem
que se sente como mulher. A história deste personagem é narrada discriminações. Do sertão pernambucano o jovem faz uma sínte-
através de um álbum de fotografias que sua mãe lhe presenteia no se da história das mulheres e dos diversos papéis vividos por elas
dia de sua cirurgia de mudança de sexo. A outra redação através do período colonial a atualidade para concluir pelo fio condutor da
da personagem Capitu do romance Som Casmurro de Machado exclusão e submissão. Mas, elas estão presentes no folclore, na li-
de Assis discute a condição feminina. Utiliza como veiculo desta teratura, na cultura popular, na fabricação de utensílios domésticos
reflexão as mulheres retratadas em algumas obras literárias na- e artesanais, apesar da violência doméstica, da exploração em redes
cionais para denunciar o patriarcado. Por que estas mulheres re- de prostituição e de terem levado anos para que seus agressores pa-
tratadas por estes escritores são ou submissas ou manipuladoras. gassem por seus crimes.
Para finalmente nesta mistura entre ficção e realidade indagar a A redação potiguar faz uma metáfora com o dia em que as
respeito da liberdade que as “mulheres de carne e osso” têm de mulheres sumiram do planeta. Muitas teorias foram elaboradas
não serem restritas “a tudo o que se escreve sobre elas” e pede que para explicar tal fenômeno: teriam sido abduzidas? Será a revolta
estas aproveitem a liberdade para se valorizarem como pessoas. das amazonas? Com o desaparecimento delas os homens passaram
As vencedoras com uma menção honrosa foi de uma moça a admirar os trabalhos que elas faziam e ditos femininos, e a valo-
e um rapaz, ela sonha com uma vida igualitária em que homens e rizá-los, entretanto, falsamente, pois o único interesse que tinham
mulheres vivam seus sonhos sem rotulações e discriminações. Ele era que elas voltassem. Termina com a negação do amor e pelo não
a partir do caso Geyse Arruda da Unibam/SP discute a hipocrisia retorno das mulheres ao planeta.
da mídia no tratamento da atitude persecutória do corpo discente Escrevendo um diário é uma redação que tem como perso-
396 397
explicada pela formação patriarcal da sociedade e faz um paralelo nagem uma das mulheres trabalhadoras que morreram queimadas
entre este episódio e a perseguição as bruxas nos séculos XVI e dentro de uma fábrica, em Nova York. A narradora é a mulher que
XVII. Conclui afirmando a necessidade que a sociedade tem de conta sua história através de um diário e no final ela pede às mulhe-
repensar seus valores e a forma como eles são reproduzidos so- res que ainda estão vivas que continuem preenchendo as páginas
cialmente. em branco do seu diário. Como se este diário fosse um relato da
vida de todas elas.
Vencedores e Vencedoras Estaduais Este redação denuncia a violência doméstica contra a mu-
Nesta etapa foram escolhidas pela Comissão Julgadora oito reda- lheres, Maria era apenas uma criança quando foi violentada pelo
ções uma por cada unidade da federação: Bahia, Maranhão, Minas pai, sua mãe a enviou para a casa de sua tia para que ela pudesse
Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Nor- ter uma vida melhor. Ao chegar à casa da tia Maria presenciou a
te e São Paulo. O critério para a seleção na unidade da federação violência com que o marido de sua tia a tratava. Maria ao refletir so-
bre a forma com que as mulheres eram tratadas concluiu que para da Lei Maria da Penha – “O que queres tu mulher? Manifestações de
que isso houvesse um fim ela teria que estudar para poder mudar Gênero no Debate de Constitucionalidade da Lei Maria da Penha”
essa realidade. Trabalhou como empregada doméstica durante o de autoria de Luciana Santos Silva4 e o outro artigo premiado faz
dia e no período da noite estudava e ao se diplomar no curso de uma abordagem original na discussão sobre as representações so-
Direito voltou a sua cidade e lá conseguiu que fosse construída ciais sobre a mulher na sociedade chinesa “Mirem-se no exemplo
uma delegacia da mulher e depois ela veio a ser tornar a delegada daquelas mulheres...chinesas! (representações sociais, alteridade e gê-
na sua cidade natal. nero” de autoria de João Gilberto da Silva Carvalho.5
As redações femininas abordam o tema da discriminação Estes temas são atuais e significativos na perspectiva femi-
e desigualdade. Seja pela procura de uma nova sociedade onde nista e de gênero a luta contra a violência doméstica organizou
as mulheres não precisem ser bonitas, inteligentes, educadas, as mulheres no mundo inteiro e também no Brasil teve grande
além de saberem fazer todos os afazeres domésticos, mas, usan- impacto desde os anos 1970 com os assassinatos de mulheres pe-
do as metáforas musicais e as compositoras e cantoras de Chiqui- los seus maridos e companheiros, chegando a própria temática à
nha Gonzaga, Carmem Miranda, Maysa, Rita Lee e Cássia Eller mídia com o seriado de estrondoso sucesso Quem Ama Não Mata
anunciarem as mudanças da música e da vida. A terceira redação na TV Globo. A promulgação da Lei 11.340/2006, também cha-
baseia-se nas frases: “apesar de tudo que fizemos, ainda somos os mada de Lei Maria da Penha,6 tem como objetivo prevenir e com-
mesmos e vivemos como nossos pais”, a autora discute a apatia da bater a violência contra a mulher no âmbito doméstico e intrafa-
geração atual diante das conquistas realizadas pelas mulheres que miliar, provoca desde então um intenso debate no meio jurídico
antecederam esta geração e finaliza afirmando que para que não no que diz respeito a sua adequação aos preceitos da Constituição
chorem Marias e Clarisses é necessário que se continuem a luta Federal. A partir de fontes documentais formadas por peças pro-
pela igualdade. cessuais e artigos analisa a constitucionalidade da “Lei Maria da
Penha”, conclui de o campo jurídico reflete por um lado à preser-
Ensino Superior: Artigos Premiados e seu Conteúdo vação de valores patriarcais, como por outro o reconhecimento de
Para a comunidade universitária o Prêmio Construindo a Igualda- as mulheres são sujeitos de direitos em igualdade com os homens.
de de Gênero foi criando ao longo de suas sucessivas edições várias Portanto, a polarização ancora-se na tradição e na modernidade
modalidades, assim o desenho atual foi implantado em 2009, infe- engendrada pela luta das mulheres.
398 399
lizmente não foi possível fazer um estudo completo do Prêmio e O outro artigo analisa a partir das generalizações estig-
fez-se um recorte apenas para a edição de 2009 que está concluída. matizantes sobre a mulher chinesa – mulher exótica, submissa,
misteriosa – feitas pelo Ocidente até o lugar que ela ocupa nas
Categoria Mestre e Estudante de Doutorado etnias e tradições distintas que marcam a sociedade chinesa. O
Nesta categoria depois da pré-seleção restaram 123 artigos que enorme sucesso da expansão da economia da China nos últimos
correspondiam a 79% do total de artigos inscritos. A Comissão vinte anos coloca esta sociedade no topo das nações mais impor-
selecionou dois artigos como os melhores e estes foram de uma tantes do mundo e um olhar de gênero para o imaginário criado
mulher e de um homem. Assim, as mulheres respondiam por 79% pelo Ocidente para entender a China. O artigo faz uma grande
dos artigos inscritos, mas repartiram pela metade o Prêmio. Estes contribuição aos estudos de gênero pela utilização de elementos
artigos foram produzidos em universidades paulistas e cariocas, da teoria das representações sociais articulada aos conceitos de
um analisa o enfoque de gênero no debate da constitucionalidade imaginário para refletir sobre esta civilização.
Categoria Graduado, Especialista e Estudante de Mestrado ções estereotipadas sobre gênero e sexualidade que há permane-
Nesta categoria, teve-se 283 inscrições, sendo que 75% foram femi- cem simbolicamente nas relações sociais atuais.
ninas e 25% masculinas. No processo de pré-seleção restaram 147 Vencedor de uma menção honrosa teve-se o artigo “Por que o
artigos que corresponderam a 52% dos trabalhos enviados. A Co- trabalho doméstico não é considerado trabalho? Questionamentos Fe-
missão Julgadora selecionou dois artigos e concedeu uma menção ministas no Brasil e na Argentina” de autoria de Soraia Carolina de
honrosa. Novamente foram uma mulher e um homem premiados e Mello, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).9
a menção honrosa foi concedida a um artigo de autoria feminina.
Categoria Estudantes de Graduação
A temática dos artigos premiados foram da ciência política,
da análise literária a economia feminista. O artigo “Discursos Femi- Esta categoria recebeu 217 artigos e estes tinham 69% de autoria
ninos: Um estudo Sobre a Relação entre mulheres e corrupção”, de Ana feminina para 31% de autores masculinos; na comunidade acadê-
Luiza Melo Aranha7 da Universidade Federal de Minas Gerais. O mica foi a maior participação masculina, como estes são estudantes
artigo discute a sub-representação feminina das mulheres brasilei- mais jovens talvez isto sinalize um avanço no meio masculino dos
ras na política. Na mais atual do que esta discussão, visto que apesar estudos de gênero. Na pré-seleção ficaram 176 artigos o que corres-
da mudança na legislação eleitoral feita em 2009 para as eleições de ponde a 65% do total de trabalhos inscritos. Foram premiados dois
2010 nada mudou com relação a participação feminina no cená- artigos e a Comissão concedeu uma menção honrosa. Os artigos
rio político parlamentar nacional e estadual. A grande vitória foi à premiados foram ambos de autoria masculina e trataram de temas
eleição da primeira mulher para a Presidência da República que se relacionados à sexualidade e a menção honrosa foi para uma mulher
espera contribuirá para um avanço das mulheres no espaço políti- com um artigo sobre a imagem feminina na mídia.
co. A pesquisa busca pistas que explique esta ausência e através de O artigo “As Aparências e os Gêneros: Uma Analise da Indu-
entrevistas com mulheres candidatas a deputada estadual e fede- mentária das Drag Queens”, de Emerson Roberto de Araújo Pessoa,
ral em Minas Gerais e como resultados destas conversas e a ênfase da Universidade Estadual de Maringá (UEM),10 analisa o papel da
dada pelas mulheres candidatas de que o sexo era menos corrupto a indumentária na transformação e caracterização dos corpos mas-
pesquisa incorporou este tema nas suas análises. O artigo premiado culinos e femininos, busca entender a articulação entre corpo e gê-
tem como fio condutor esta relação entre gênero, política e corrup- nero por meio das narrativas orais e visuais dos “sujeitos que viven-
400 ção. ciam a transformação do corpo ...conformando aparências de drag 401
O outro artigo premiado intitulou-se “As Personagens Femi- queens”. Conclui afirmando que as narrativas das drag mostra que
ninas em Macunaíma: Sexualidade e Gênero no Modernismo Pós – se pode ser masculino e feminino e que por isso as drag intrigam,
1922” de autoria de André Luiz Ferreira Cozze do Instituto Federal inquietam e incomodam a sociedade.
de Educação, Ciências e Tecnologia do Pará (IFPA)8 graduado em O outro artigo premiado “Gênero e Sexualidade na Escola de
História o autor a partir do contexto histórico da primeira Repú- Surdos” de autoria de Pedro Henrique Witchs, da Universidade do
blica discute a obra de Mário de Andrade para demonstrar que o Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).11 O autor discute a partir de
folclore é um tema chave explicar a diversidade das relações sociais sua experiência num grupo de pesquisa sobre educação de surdos
brasileiras. Escolheu como fio condutor de sua análise o livro Ma- o ensino de biologia na Escola de Surdos a normalização de gêne-
cunaíma para analisar a questão de gênero na sociedade. Nesta obra ro e sexualidade que o Currículo Escolar imprime ao ensino de jo-
Mario de Andrade faz uma “vasta alegorização do feminino amea- vens. Este artigo faz uma análise particular a respeito da sexualidade
çador”. A obra é um libelo antifeminista, moldado por representa- numa escola de surdos e conclui que esta não difere de qualquer
outra instituição social na tentativa de normalizar as identidades de Gráfico 7
gênero e sexualidade. Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero, Escola
Promotora da Igualdade de Gênero, projetos
A menção honrosa foi concedida ao artigo “Ser Mulher nas concorrentes, 5º Edição, 2009.
Revistas: “Um Estudo Sobre Cultura Jovem, Gênero, Mídia e Educa-
ção” de Pâmela Caroline Stocker, do Centro Universitário Feevale
(FEEVALE).12
para permanecer como uma tradição no sistema educacional e de 8 Esta pesquisa foi orientada pela Professora Ana Paula Palheta Santana do Instituto
Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Pará, o texto completo está publicado
pesquisa do Brasil. em SPM/PR, 5º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero – Redações, Artigos
O Prêmio a cada ano elevou a participação da comunidade Científicos e Projetos Pedagógicos Premiados (2010).
educacional e acadêmica, com uma massiva participação feminina 9 O trabalho foi orientado pela Professora Cristina Scheibe Wolff, da Universidade Fe-
em todas as suas categorias. No entanto, a avaliação dos/as estu- deral de Santa Catarina, os artigos premiados com menção honrosa não são publica-
dantes agraciados/as apresenta um recorte nuançado quando esta dos no livro do Prêmio.
10 Orientado pela professora Ivana Guilherme Simili da mesma Universidade, texto
completo está publicado em SPM/PR, 5º Prêmio Construindo a Igualdade de Gêne-
ro – Redações, Artigos Científicos e Projetos Pedagógicos Premiados (2010).
11 Este artigo foi orientado pela professora Maura Corcini Lopes da mesma universi-
dade, texto completo está publicado em SPM/PR, 5º Prêmio Construindo a Igual- CONCLUSÃO
dade de Gênero – Redações, Artigos Científicos e Projetos Pedagógicos Premiados ESTUDOS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E GÊNERO:
(2010). ROMPENDO PARADIGMAS?
12 A pesquisa foi orientada pela professora Sarai Patrícia Schmidt da mesma instituição.
Marília Gomes de Carvalho
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 Estas “mulheres” aqui referidas são aquelas que se pautam nos padrões da sociedade
ocidental, branca, letrada, cristã, colonizadora. Não se pode esquecer que há muitas
outras mulheres que não estão incluídas neste modelo. Haraway, 2000, chama atenção
para o fato de que quando se fala de mulheres cientistas o padrão é o acima citado,
porém há mulheres colonizadas, como as negras, chicanas, indígenas, além de outras,
que nem sempre estão incluídas no mundo da ciência.
2 Casagrande et al. 2005.
3 Schienbinger, 2001.
4 Haraway, 2000, Shienbinger, 2001, Pérez Sedeño, 2007.
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