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LEGISLAÇÃO

E ROTINA
TRABALHISTA E
PREVIDENCIÁRIA

Maytê Ribeiro
Tamura Meleto
Barboza
Legislação previdenciária:
benefícios, auxílios
e aposentadoria
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as normas que regem a legislação previdenciária brasileira.


 Analisar as hipóteses de aposentadoria, pensão, salário-família e
salário-maternidade.
 Explicar os casos de concessão de auxílio-doença, acidente e benefício
assistencial.

Introdução
O sistema previdenciário brasileiro é contributivo, o que significa que
os benefícios previdenciários são voltados aos que contribuem com a
previdência social (segurados) e aos seus respectivos dependentes. Tais
contribuições são compulsórias — isto é, se uma pessoa exercer ativi-
dade lícita, ela deve contribuir com o sistema previdenciário por vontade
própria ou mesmo contra a sua vontade, uma vez que não se trata de
um instituto facultativo. Nesse sistema, existem inclusive categorias de
segurados e dependentes, que analisaremos em maiores detalhes ao
longo deste estudo.
Neste capítulo, estudaremos sobre as normas que regem a legislação
previdenciária brasileira. Também analisaremos as hipóteses de concessão
de aposentadoria, pensão, salário-família e salário-maternidade, e verifica-
remos em quais casos é possível receber auxílio-doença, auxílio-acidente
e benefício assistencial.
2 Legislação previdenciária: benefícios, auxílios e aposentadoria

Legislação previdenciária brasileira


No Brasil, a previdência social se originou a partir da Lei Eloy Chaves,
ou Decreto nº. 4.682, de 24 de janeiro de 1923, que instituiu as Caixas de
Aposentadoria e Pensão (CAPs) para os empregados ferroviários. A título de
curiosidade, o próprio Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) comemora
o aniversário da previdência nessa data, 24 de janeiro, como forma de ho-
menagear a legislação mencionada. Enfim, após a instituição das CAPs para
os ferroviários, outras classes profissionais criaram as suas próprias, que na
década de 1930 foram reunidas para formar os Institutos de Aposentadoria e
Pensão (IAPs), processo que durou até meados da década de 1950. Em 1967,
todos os IAPs foram unificados e passaram a integrar o Instituto Nacional da
Previdência Social (INPS).
Desde o surgimento da previdência social no Brasil, em 1923, as Cons-
tituições que se seguiram dispuseram sobre o tema, algumas de forma mais
aprofundada do que outras, contudo foi somente com o advento da Constituição
Federal de 1988 que chegamos a uma grande conquista: a criação da seguri-
dade social, configurada pela junção de três importantíssimas áreas: saúde
pública, previdência social e assistência social (KERTZMAN, 2015). Portanto,
até alcançarmos o modelo atual de previdência social, o País percorreu uma
longa trajetória. A previdência social tem a função de possibilitar aos seus
contribuintes e respectivos dependentes que possam viver uma vida digna,
não luxuosa, porém com a garantia de contar com o mínimo necessário para
viver com distinção.
É importante destacarmos que, em 1990, por meio da Lei nº. 8.029, de 12
de abril desse ano, houve a fusão do Instituto de Administração Financeira
da Previdência e Assistência Social (IAPAS) com o INPS, fundando assim a
autarquia federal INSS, órgão responsável pela gestão do plano de benefícios
e serviços do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Antigamente, o
INSS também possuía a função de fiscalização e cobrança, atribuições hoje
relativas à Secretaria da Receita Federal do Brasil (AMADO, 2016a).
Com relação ao RGPS, Amado (2016a, p. 81) afirma que:

Trata-se do maior plano previdenciário brasileiro, pois engloba cerca de 50


milhões de segurados, visando cobrir vários riscos sociais, tais como velhice,
invalidez, doença, maternidade, prisão, acidente e morte. O RGPS não visa
manter o status social dos beneficiários, e sim conceder a cobertura necessária
para a manutenção de uma vida digna, pois há um teto para o pagamento
dos benefícios no valor de R$ 4.663, 75 (valor atualizado para 2015), que só
poderá ser ultrapassado em hipóteses excepcionais a serem vistas. Em regra, a
Legislação previdenciária: benefícios, auxílios e aposentadoria 3

filiação ao Regime Geral é obrigatória para todas as pessoas que desenvolvam


atividade remunerada no Brasil, exceto para os servidores públicos efetivos e
militares cobertos por regime previdenciário próprio, podendo as pessoas que
não trabalhem se filiar como segurados facultativos, permissivo que atende
ao Princípio da Universalidade de Cobertura e do Atendimento.

Os benefícios previdenciários visam amparar as pessoas em hipótese de riscos sociais,


como em caso de morte, por exemplo. Assim, com exceção dos servidores públicos
efetivos e dos militares abarcados por regime próprio de previdência, todos devem
contribuir com a previdência. Até mesmo quem não trabalha, mas deseja realizar a
sua contribuição pode se filiar se assim desejar.

De acordo com Kertzman (2015), além da Constituição Federal, as leis que


regulam a matéria previdenciária atualmente são as seguintes:

 Lei nº. 8.212, de 24 de julho de 1991 — Plano de Organização e Custeio


da Seguridade Social (PCSS);
 Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991 — Plano de Benefícios da Segu-
ridade Social (PBSS);
 Lei nº. 8.742, de 7 de dezembro de 1993 — Lei Orgânica da Assistência
Social (LOAS);
 Lei nº. 12.618, de 30 de abril de 2012 — Fundação de Previdência Com-
plementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (FUNPRESP).

Quanto à Constituição, os artigos que fazem menção à previdência social


de forma específica são o art. 6º, que elenca a previdência social como direito
social previsto constitucionalmente, e os arts. 201 e 202, que abordam a pre-
vidência social e a previdência privada, respectivamente. Posto isso, vejamos
quais são os benefícios previdenciários existentes no sistema brasileiro, quem
são os seus destinatários e as hipóteses de concessão.

Benefícios previdenciários
Como já aprendemos na seção anterior, os benefícios previdenciários visam
cobrir riscos sociais, amparando as pessoas que se tornam vulneráveis ao
4 Legislação previdenciária: benefícios, auxílios e aposentadoria

se depararem com qualquer uma das situações descritas pelo art. 201 da
Constituição Federal de 1988.
Assim versa o referido artigo:

Art. 201 A previdência social será organizada sob a forma de regime geral,
de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
I — cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
II — proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III — proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV — salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados
de baixa renda;
V — pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou com-
panheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º (BRASIL, 1988, do-
cumento on-line).

Portanto, os eventos aos quais a previdência social se destina a atender


por meio dos seus benefícios e serviços são os descritos acima: doença, in-
validez, morte, idade avançada, maternidade, desemprego involuntário, além
da concessão de salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos
segurados que possuem baixa renda e a pensão por morte ao cônjuge ou
dependente dos segurados.
Compreendida a finalidade dos benefícios previdenciários, consideremos
quais são eles. Como benefícios do RGPS, podemos citar os seguintes:

 aposentadoria, que se subdivide em aposentadoria por invalidez, por


idade, por tempo de contribuição e especial;
 auxílios, que podem ser auxílio-doença, auxílio-acidente ou
auxílio-reclusão;
 salários, que referem o salário-família ou o salário-maternidade;
 pensão por morte.

A esse respeito, vale explicitarmos que existem benefícios específicos aos


segurados e benefícios específicos aos dependentes, como a pensão por morte
e o auxílio-reclusão, especificamente destinados aos dependentes, sendo os
demais para os próprios segurados. Além de todos esses benefícios previden-
ciários, a previdência social também disponibiliza dois tipos de serviços: o
serviço social e a reabilitação profissional.
Também é válido destacarmos que, embora o art. 201, III, da Constituição
mencione a proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário,
Legislação previdenciária: benefícios, auxílios e aposentadoria 5

o seguro-desemprego, pago aos que involuntariamente deixam de estar em-


pregados, não é pago pela previdência social. O seguro-desemprego realmente
possui natureza previdenciária, tanto que consta no artigo que analisamos
anteriormente, porém, por razões políticas, esse benefício foi excluído de
maneira expressa pelo art. 9º, § 1º, da Lei nº. 8.213/1991. Atualmente, ele não
é pago pela previdência social, mas pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Antes da investigação acerca de cada um dos benefícios, todavia, necessitamos
esclarecer que o segurado que faz jus a tais benefícios pode ser obrigatório
ou facultativo, de forma que:

Os segurados obrigatórios são os maiores de 16 anos, salvo na condição de


aprendiz (que se permite o início das atividades a partir dos 14), que exercem
qualquer tipo de atividade remunerada lícita que os vinculem, obrigato-
riamente, ao sistema previdenciário. Os segurados obrigatórios atendem
ao princípio constitucional da compulsoriedade do sistema previdenciário.
Como bem ilustramos no primeiro capítulo, caso a inclusão dos segurados
dependesse de ato volitivo, o sistema deixaria de captar diversas pessoas que
por ele não optariam por falta de recursos suficientes para atender a todas as
suas necessidades, deixando, então, a previdência social relegada ao segundo
plano. [...] O segurado facultativo é o que, mesmo não estando vinculado
obrigatoriamente à previdência social, por não exercer atividade remunerada,
opta pela sua inclusão no sistema protetivo. Ele deve ter, no mínimo, 16 anos.
O segurado facultativo foi criado para atender ao princípio constitucional da
universalidade da cobertura e do atendimento, pois, desta forma, até mesmo
os que não trabalham podem optar pela sua inclusão no sistema previdenciário
(KERTZMAN, 2015, p. 94).

Dessa maneira, podemos depreender que, uma vez que a pessoa exerça ati-
vidade lícita remunerada, ela deverá contribuir com o INSS, pois a sua filiação
é obrigatória. Os facultativos, ainda que não possuam qualquer vínculo que
os obrigue a se filiarem ao sistema previdenciário, poderão fazê-lo se assim
desejarem, pois nesse caso, como o próprio nome sugere, trata-se de um ato
facultativo. Insta salientarmos que existem cinco categorias de segurados
obrigatórios: empregado, empregado doméstico, contribuinte individual,
trabalhador avulso e segurado especial.
Outro conceito essencial quando discutimos os benefícios do RGPS diz
respeito ao que denominamos carência. Afinal, o que é isso?

Com o intuito de resguardar o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema, bem


como prevenir a ocorrência de fraudes, a concessão de alguns benefícios previ-
denciários depende do prévio pagamento de um número mínimo contribuições
6 Legislação previdenciária: benefícios, auxílios e aposentadoria

previdenciárias em dia, o que se intitula de carência. A definição legal de carên-


cia, conforme capitulado no artigo 24, da Lei 8.213/91, é posta como o número
mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça
jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses
de suas competências. Todavia, esse conceito legal é incompleto, pois ainda será
preciso que as contribuições previdenciárias sejam pagas tempestivamente para
fins de carência, sendo imprestáveis as recolhidas com atraso. Ou seja, a carência
se realizará não apenas como o pagamento das contribuições previdenciárias,
mas também com o seu recolhimento em dia (AMADO, 2016b, p. 345).

Logo, carência é o número mínimo de contribuições previdenciárias que


o segurado deve ter em dia para que possa receber determinado benefício.
Ressaltamos que as contribuições recolhidas em atraso não contam para efeito
de carência, mas apenas de contribuição. Para que se contabilize uma prestação
como carência para a concessão de determinado benefício, a prestação deve
ter sido paga em dia.
A partir daqui, refletiremos sobre o conceito de cada um dos benefícios, as
suas hipóteses de incidência e se há ou não carência para o seu recebimento. Nesse
sentido, o primeiro benefício a ser indagado é a aposentadoria por invalidez.
Segundo Kertzman (2015), a aposentadoria por invalidez visa amparar
o segurado que foi considerado incapaz para o trabalho e não pode ser reabi-
litado para uma atividade que lhe garanta subsistência. Ela será paga durante
o período em que a pessoa permanecer nessa condição, esteja ela recebendo
o auxílio-doença ou não, e o benefício será concedido ao segurado após a sua
submissão a exame médico-pericial oferecido pela previdência social para
que se comprove a sua verdadeira incapacidade. Portanto, o requisito para
a concessão da aposentadoria por invalidez é a incapacidade permanente
para exercer trabalho ou atividade habitual e a carência para que o segurado
possa receber tal aposentadoria é de 12 contribuições mensais ou, no caso de
acidentes e certas doenças específicas, nenhuma.
Os empregados começam a receber no 31º dia de afastamento da sua ati-
vidade, desde que a requeiram até o 45º dia, ou, então, a partir da data do
requerimento se acaso decorrerem mais de 45 dias entre o afastamento e o
requerimento. Os demais segurados começarão a receber o benefício a partir
do dia em que se inicie a incapacidade, desde que requeiram até o 30º dia. Se
passar de 30 dias, a partir da data do requerimento, o pagamento da aposenta-
doria por invalidez também pode ser suspenso ou cessado. Ele será suspenso
se o segurado deixar de ir à perícia médica que o INSS faz periodicamente
ou a alguma convocação específica e será cessado quando desaparecer a
incapacidade ou o aposentado regressar espontaneamente à sua atividade
(KERTZMAN, 2015).
Legislação previdenciária: benefícios, auxílios e aposentadoria 7

No tangente à aposentadoria por idade, Amado (2016a) explica que, desde


que os requisitos estabelecidos em lei sejam preenchidos, ela é prevista para todas
as categorias de segurados do RGPS. Geralmente, é paga ao segurado homem
que possui 65 anos ou à segurada mulher com 60 anos de idade. A carência
necessária para a sua concessão é de 180 contribuições mensais pagas em dia.

A Constituição Federal prevê a redução de 5 anos para os trabalhadores rurais, homens e


mulheres, que exerçam funções em regime de economia familiar. Para melhor ilustrarmos,
podemos citar o produtor rural, o garimpeiro e também o pescador artesanal como indi-
víduos que se encaixam nessa legislação. Portanto, homens e mulheres nessas condições
podem se aposentar com 60 e 55 anos de idade, respectivamente. Nos termos da Lei
Complementar nº. 142, de 8 de maio de 2013, os deficientes também fazem jus a tal redução
de idade no que tange a esse tipo de aposentadoria, sob a condição de comprovação da
deficiência no período de carência correspondente a 15 anos (AMADO, 2016a).

Assim, é possível verificar que o requisito para a obtenção do benefício


é a idade avançada, conforme citamos anteriormente, e se destina a todos
os segurados que o preencham. Kertzman (2015) ensina que o empregado
doméstico começará a percebê-lo a partir da data do desligamento do seu
emprego se for requerido até 90 dias após esse fato, sendo que, vencido esse
prazo, será considerada a data do requerimento. Os demais segurados terão
o início do pagamento efetuado somente a partir do requerimento. Uma vez
preenchidos todos os requisitos, não existem motivos que ensejam a suspen-
são desse tipo de aposentadoria, que terá o seu pagamento finalizado apenas
com o falecimento do segurado. Enfim, a aposentadoria por idade pode ser
entendida como uma alternativa às pessoas que não se aposentarão por tempo
de contribuição, próximo tópico a ser analisado nesse capítulo.
No que se refere à aposentadoria por tempo de contribuição, Kertzman
(2015, p. 376) informa que:

[...] a Emenda 20/98 extinguiu a aposentadoria por tempo de serviço e criou a


aposentadoria por tempo de contribuição, acabando com a chamada contagem
fictícia de tempo de serviço, como ocorria com as licenças contadas em dobro,
por exemplo. A aposentadoria por tempo de contribuição é o benefício devido
a todos os segurados, exceto o especial que não contribua como contribuinte
individual, que tiver contribuído durante 35 anos, se homem, ou 30 anos, se
8 Legislação previdenciária: benefícios, auxílios e aposentadoria

mulher. Essas idades serão reduzidas em cinco anos para o professor que com-
prove, exclusivamente, tempo de efetivo exercício das funções de magistério na
educação infantil e no ensino fundamental ou no ensino médio, fazendo jus à
aposentadoria após 30 anos de contribuição, se homem, ou 25 anos, se mulher.

Nessa situação, o requisito para a concessão do benefício é o tempo de


contribuição e não mais o tempo de serviço. O tempo necessário de contri-
buição para que se possa requerer esse benefício é 35 anos para os homens
e 30 anos para as mulheres. Assim como na aposentadoria por idade, há a
possibilidade de redução de 5 anos nesse tempo, entretanto em relação a
professores, homens e mulheres, que deverão contar com 30 e 25 anos de
contribuição, respectivamente.
Segundo Amado (2016a), para que os professores possam ter direito à
redução de 5 anos no tempo de contribuição para a sua aposentadoria, é
necessário que o tempo contabilizado tenha sido exercido de forma exclusiva
no magistério, ou seja, em sala de aula. Todavia, a partir da Lei nº. 11.301,
de 10 de maio de 2006, também poderão se beneficiar desse prazo menor os
professores de ensino infantil, fundamental ou médio que atuam na direção,
coordenação ou como assessores pedagógicos.
Da mesma forma que sucede na aposentadoria por idade, se cumpridos
todos os requisitos legais, não há causas de suspensão do benefício em questão.
Portanto, apenas o falecimento do segurado fará com que o recebimento cesse.
A aposentadoria especial, por sua vez, é o tipo que possibilita o recebi-
mento do benefício mediante menor período trabalhado pelos empregados
expostos a agentes nocivos. A explicação para a existência desse instituto é
justamente a exposição a agentes nocivos (químicos, físicos ou biológicos) e,
portanto, altamente prejudiciais à saúde e à integridade física de uma pessoa.

A aposentadoria especial será devida ao segurado empregado, trabalhador


avulso e contribuinte individual, este somente quando cooperado filiado à
cooperativa de trabalho ou de produção, que tenha trabalhado durante 15, 20
ou 25 anos, conforme o caso, sujeito a condições especiais que prejudiquem
a saúde ou a integridade física. Percebe-se que os segurados que têm direito a
esta modalidade de aposentadoria são, justamente, os que, de alguma forma,
geram contribuição para o seu custeio (KERTZMAN, 2015, p. 385).

Podemos perceber que existem níveis de prejudicialidade (10, 20 e 25


anos), o que significa que quanto menos tempo de trabalho é exigido, maior
é o grau de perigo relacionado à exposição, afetando ainda mais a saúde e a
integridade física do segurado. Contudo, como o segurado pode comprovar
a insalubridade decorrente da exposição a agentes nocivos? Amado (2016a)
Legislação previdenciária: benefícios, auxílios e aposentadoria 9

elucida que, a partir de 1º de janeiro de 2004, por meio da IN INSS DC 95/2003,


foi instituído o Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), que nada mais é
que um formulário utilizado pela previdência social com diversos registros da
atividade do trabalhador, como registros ambientais, monitoração biológica,
dados administrativos que devem estar sempre atualizados e abarcar todas
as funções exercidas pela pessoa, devendo esse documento ser fornecido ao
trabalhador no momento da rescisão contratual.
Os beneficiários da aposentadoria especial são os segurados empregados,
trabalhadores avulsos e contribuintes individuais filiados à cooperativa de
trabalho e produção. A carência é de 180 contribuições e o benefício pode ser
suspenso se o aposentado retornar à atividade profissional com exposição a
agentes nocivos. Como nos demais tipos de aposentadoria, a cessação ocorre
com a morte do segurado (KERTZMAN, 2015). Afinal, não é contra a lógico
que uma pessoa requeira a sua aposentadoria especial em decorrência da
exposição a agentes nocivos que prejudicam a sua saúde e, posteriormente,
após receber o benefício, ela reingresse no trabalho sob as mesmas condições
insalubres que ensejaram a sua aposentadoria. Como forma de coibir tal ati-
tude, a previdência social suspende o pagamento ao segurado que agir assim,
podendo ele inclusive perder o seu benefício por esse motivo.
Sobre os salários, existem dois tipos: o salário-família e o salário-mater-
nidade. O salário-maternidade é um benefício pago à segurada durante o
período de 120 dias. Como requisitos para o seu recebimento, consideram-se as
hipóteses de parto, adoção, aborto e morte do segurado. Os seus beneficiários
são todos os segurados, inclusive homens, em contexto de adoção ou então
morte da mãe da criança. Não há carência para empregados, empregados
domésticos ou trabalhadores avulsos, embora haja a exigência mínima de 10
contribuições no caso dos contribuintes individuais e facultativos, bem como
para os segurados especiais, que devem comprovar o exercício de atividade
rural nos últimos 10 meses. Cumpridos os requisitos, não há hipótese que enseja
a suspensão do benefício, que é cessado 120 dias após o parto ou adoção e 2
semanas após o aborto, desde que não seja criminoso (KERTZMAN, 2015).
Em relação ao salário-família, vejamos o que escreve Amado (2016a, p. 263):

Cuida-se de benefício previdenciário que não visa substituir a remuneração


dos segurados, mas apenas complementar as despesas domésticas com os
filhos menores de 14 anos de idade ou inválidos de qualquer idade. Ou seja, é
benefício de segurado pago em razão ela existência dos referidos dependentes,
na respectiva proporção. Também será devido o benefício se o segurado pos-
suir como dependente um enteado ou tutelado menor de 14 anos ou inválido,
pois equiparados a filho, sendo necessária a comprovação de dependência
10 Legislação previdenciária: benefícios, auxílios e aposentadoria

econômica que não é presumida, na forma do artigo 16, §2o, da Lei 8.213/91.
[...] Mas não basta ser segurado empregado, empregado doméstico, trabalhador
avulso ou aposentado (observada à espécie de aposentadoria ou idade mínima)
e ter filhos ou equiparados menores ele 14 anos ou inválidos ele qualquer idade
para a percepção do salário-família. Por força da Emenda 20/1998, apenas
os segurados enquadrados como baixa renda perceberão o salário-família,
a teor da nova redação do inciso IV, do artigo 201, da Constituição Federal.

Portanto, o salário-família não é concedido a todo e qualquer segurado,


pois não objetiva substituir a renda familiar, mas sim complementá-la. Ainda
conforme Amado (2016a), apenas os segurados que se enquadrem na condição
considerada como baixa renda poderão receber o salário-família, desde que
tenham filhos menores de 14 anos ou inválidos de qualquer idade. Do mesmo
modo, nem todos os segurados podem requerer tal benefício, mas apenas
empregados, trabalhadores avulsos, aposentados por invalidez ou por idade,
aposentados do sexo masculino que possuam idade superior a 65 anos, ou,
se do sexo feminino, superior a 60 anos. Os empregados domésticos também
não desfrutavam desse benefício, mas, a partir da Lei Complementar nº. 150,
de 1º de junho de 2015, que regulamentou a Emenda Constitucional nº. 72, de
2 de abril de 2013, essa classe de trabalhadores garantiu o direito.
No que se refere à pensão por morte, trata-se de um benefício concedido
aos dependentes dos segurados em função do falecimento deles. Para que não
se vejam desamparados com a morte dos que lhe sustentavam, a previdência
social paga concede tal benefício aos dependentes, que se classificam em
três categorias. A seguinte ordem prioritária dessa classificação prevista pela
legislação vigente é a seguinte:

 a primeira delas, constituída pelo cônjuge, companheira ou companheiro e


pelo(a) filho(a) não emancipado(a), de qualquer condição, menor de 21 anos,
inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne relativa
ou absolutamente incapaz, desde que assim seja declarado judicialmente;
 a segunda classe é composta pelos pais;
 finalmente, a terceira classe é formada pelo irmão ou irmã não
emancipado(a), de qualquer condição, menor de 21 anos, inválido ou
que possua deficiência intelectual ou mental que o torne incapaz, ab-
soluta ou relativamente, devendo ser assim declarado judicialmente,
conforme divulgação do INSS em 2017.

Essas categorias são definidas por ordem de prioridade, sendo que uma exclui
a outra. Dessa forma, os dependentes pertencentes à primeira classe e desfrutam
Legislação previdenciária: benefícios, auxílios e aposentadoria 11

de preferência em relação aos demais. Os dependentes da segunda classe só


receberão o benefício se não houver nenhum da primeira e assim sucessivamente.
Outro benefício pago aos dependentes dos segurados é o auxílio-reclusão.

O auxílio-reclusão é devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos de-
pendentes do segurado de baixa renda recolhido à prisão que não receber remune-
ração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, aposentadoria ou abono
de permanência em serviço (benefício já extinto) (KERTZMAN, 2015, p. 441).

Nesse ponto dos nossos estudos, resta a análise de dois auxílios: o auxílio-do-
ença e o auxílio-acidente, que geram muita confusão entre si. O auxílio-doença
é conferido ao segurado quando incapacitado para a sua atividade habitual ou
trabalho e a carência necessária para o seu recebimento é de 12 contribuições
mensais. Porém, existem algumas doenças específicas que não exigem carência
alguma, assim como nos casos de acidentes. Ademais, o auxílio-doença pode
ter o seu pagamento suspenso se o segurado não comparecer às perícias mé-
dicas que ocorrem periodicamente a cargo do INSS. A cessação, por sua vez,
ocorrerá quando findar a incapacidade do segurado ou o auxílio se converter
em aposentadoria por invalidez ou em auxílio-acidente (KERTZMAN, 2015).
A respeito do auxílio-acidente:

É o único benefício previdenciário com natureza exclusivamente indenizatória,


não se destinando a substituir a remuneração do segurado, e sim servir de
acréscimo aos seus rendimentos, em decorrência ele um infortúnio que reduziu
a sua capacidade laborativa. Com efeito, será concedido ao segurado quando,
após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza,
resultarem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho
que habitualmente exercia ou mesmo impossibilidade de desempenho dessa
atividade, uma vez possível a reabilitação profissional para outra que garanta
a subsistência do segurado (AMADO, 2016a, p. 272).

O auxílio-acidente serve, portanto, como complemento à renda do segurado


e não possui o intuito de substituí-la, visto que a sua natureza é indenizatória.
Como requisito para a sua concessão, deve haver a presença de algum acidente
qualquer natureza que tenha reduzido a capacidade do segurado para o trabalho.
Para Kertzman (2015), não há carência para o recebimento desse benefício,
que será pago a partir do primeiro dia da cessação do auxílio-doença que o
tenha antecipado. O pagamento será suspenso caso a mesma doença que o
originou volte a acometer o segurado e a cessação se dá com a aposentadoria
ou o falecimento do segurado que recebe o auxílio.
12 Legislação previdenciária: benefícios, auxílios e aposentadoria

O INSS ainda prevê benefício assistencial ao idoso e à pessoa com de-


ficiência. Esse benefício garante um salário mínimo mensal à pessoa com
deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção nem de tê-la provida pela sua família. Para ter
direito, é necessário que a renda por pessoa do grupo familiar seja menor do
que 1/4 do salário-mínimo vigente. Por se tratar de um benefício assistencial,
não é necessário ter contribuído ao INSS para ter direito. No entanto, esse
benefício não paga 13º salário e não deixa pensão por morte.

AMADO, F. Direito Previdenciário. 4. ed. Salvador: JusPodivm, 2016a.


AMADO, F. Direito Previdenciário. 7. ed. Salvador: JusPodivm, 2016b.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 5 de
outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituição.htm>. Acesso em: 26 jun. 2018.
KERTZMAN, I. Curso prático de Direito Previdenciário. 12. ed. Salvador: JusPodivm, 2015.

Leituras recomendadas
BRASIL. Decreto-lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis do Traba-
lho. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 9 ago. 1943. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em:
26 jun. 2018.
BRASIL. Instituto Nacional do Seguro Social. Dependentes. 12 maio 2017. Disponível
em: <https://www.inss.gov.br/orientacoes/dependentes/>. Acesso em: 26 jun. 2018.
BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 26 jun. 2018.

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